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Suínos / Peixes

Três décadas estudando doenças prepararam a suinocultura para os próximos desafios

Para entender o atual panorama destas enfermidades, seus desafios, pesquisas realizadas e em andamento, além de iniciativas no setor para monitorar, prevenir e controlar essas doenças no rebanho suíno, o Jornal O Presente Rural conversou com a médica-veterinária e pesquisadora em Sanidade na Embrapa, Janice Zanella. Confira!

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Fotos: Shutterstock

Há uma grande quantidade de doenças que afetam a saúde humana e animal espalhadas pelos quatro cantos do planeta. Algumas já são velhas conhecidas, outras estão surgindo e ainda existem aquelas enfermidades que já estavam controladas, mas retornaram fazendo novas vítimas. Essas doenças são classificadas de acordo com seu comportamento epidemiológico, podendo ser emergentes ou reemergentes.

A doença emergente é definida como aquela causada por um patógeno novo que é reconhecido ou sofreu mutação recente, e a reemergente que já ocorreu anteriormente e agora demonstra um aumento na incidência ou expansão na área geográfica, tipo de hospedeiro ou vetor.

Quando as patologias se referem a zoonoses – doenças compartilhadas entre seres humanos e animais – é preciso se atentar para três aspectos: 1) hospedeiro: sendo ele humano, animal (doméstico ou silvestre) ou mesmo o vetor (morcego, roedor, artrópode, dentre outros); 2) patógeno: vírus, bactérias, parasitas; 3) ambiente: terrestre ou aquático e a interação entre esses atores.

Médica-veterinária e pesquisadora em Sanidade Animal da Embrapa, Janice Zanella: “É importante que as instituições e os países ajam com transparência, apoiando iniciativas de pesquisa e controle de doenças” – Foto: Divulgação

Para entender o atual panorama destas enfermidades na suinocultura, seus desafios, pesquisas realizadas e em andamento, além de iniciativas no setor para monitorar, prevenir e controlar essas doenças no rebanho suíno, o Jornal O Presente Rural conversou com a médica-veterinária e pesquisadora em Sanidade Animal na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Janice Zanella, que palestra sobre as lições apreendidas ao longo de 30 anos de prática e pesquisa sobre doenças emergentes e reermergentes de suínos no Pork Expo & Congresso Internacional de Suinocultura, que acontece nos dias 26 e 27 de outubro, em Foz do Iguaçu, PR.

De acordo com ela, as zoonoses emergentes surgem em todos continentes, apesar de existirem hotspots que influenciam e de certa forma agilizam a evolução dos agentes patogênicos e sua emergência como doença. “Os hotspots mais comuns são em territórios com elevada biodiversidade, como o cinturão tropical do globo. Dezenas de fatores têm sido elencados como aceleradores de emergência das zoonoses emergentes, mas o principal é a expansão da população humana, ou seja, mais hospedeiros para os patógenos zoonóticos infectarem e neles evoluírem, propagando assim para os demais seres vivos”, pontua.

Outros fatores são a urbanização, invasão de novas fronteiras, alteração das práticas de manejo de criação animal, interação com animais (e vetores) silvestres, mudanças no meio ambiente e aquisição pelos patógenos de novos fatores de virulência estão entre os principais. “As cidades estão crescendo, invadindo novos habitats, as pessoas estão morando mais próximas de regiões antes não habitadas e os cursos dos rios estão mudando. Isso faz com que vírus e bactérias que estavam restritos a determinadas regiões se desloquem”, explica Janice, acrescentando: “O fato das pessoas viajarem mais, da nossa comida cruzar fronteiras internacionais, faz com que facilite a difusão de agentes patogênicos, além de estarmos envelhecendo mais, o que propicia a diminuição da imunidade, fazendo com que fiquemos mais suscetíveis a doenças. Isso sem contar com a evolução natural dos patógenos”.

A mudança do clima também é apontada por Janice como motivo para a evolução de patógenos. Isso porque o aquecimento global e as alterações ecológicas facilitadas pelo uso da terra têm modificado os hotspots. Em resumo, a maioria dos fatores são impostos pela interferência humana e o desequilíbrio.

No último século, emergiram ou reemergiram dezenas de doenças infecciosas ou parasitárias, dentre elas Covid-19, Ebola, Dengue, Chikungunya, Zika, Febre Amarela, Tuberculose, Sars, Mers, Sarampo, Varíola, HIV-Aids, gripes (Influenzas humanas, aviárias ou suína), parasitoses (tripanossomíases), sendo que mais de 75% delas são originárias através de agentes microbianos de animais.

De acordo com os órgãos de saúde, estima-se que no mundo surjam cinco doenças humanas emergentes a cada ano. E pesquisadores também preveem que poderá haver uma pandemia a cada 10 anos. “As pandemias matam mais do que guerras mundiais”, constata Janice.

Desafios na suinocultura

Garantir a sanidade dos rebanhos suínos é um dos maiores desafios da cadeia, que vive em estado de alerta constante em razão dos eventos sanitários registrados nos últimos anos ao redor do globo, particularmente a ocorrência da Diarreia Epidêmica dos Suínos (PED), nos Estados Unidos (EUA); a Peste Suína Africana, com maior incidência na Europa, Ásia e Caribe; além da infecção pelo Senecavírus A no Brasil e nos EUA. “Esse panorama alerta o setor para a necessidade de se desenvolver mecanismos mais ágeis de monitoramento, detecção, controle e erradicação de enfermidades emergentes na suinocultura. Um dos fatores mais importantes é a inter-relação da produção, porque nunca estivemos tão conectados como agora”, menciona a pesquisadora.

Essa estrutura de produção moderna e complexa proporciona a transferência e transporte de animais e insumos entre os mais diversos locais do planeta, sendo que, somente no Brasil, cerca de 350 mil suínos são transferidos diariamente. Paralelo a isso, a modernização nas operações, maior tecnologia empregada, granjas cada vez maiores e, consequentemente, com alto capital empregado, além da interligação de todos elos da cadeia, elevam consideravelmente o risco econômico da atividade.

Aumento da emergência de patógenos

Patógenos causadores de doenças, sendo elas endêmicas, emergentes ou reemergentes sempre vão causar preocupações e perdas, seja no desempenho do animal ou causando mortalidades. Todavia, o que tem chamado atenção é o aumento significativo de patógenos, principalmente os zoonóticos, com notificações em todos os continentes. “Mesmo com toda tecnologia e altos custos investidos em medicações e vacinas, existem dificuldades em se produzir suínos intensivamente sem a utilização de antibióticos em determinadas fases, o que pode acarretar na resistência de patógenos aos antimicrobianos. Isso sem mencionar falhas vacinais devido ao surgimento de variantes”, expõe a pesquisadora.

De acordo com Janice, nas últimas décadas a maioria dos patógenos emergentes já ocorriam nas criações suinícolas de forma equilibrada, porém acabaram adquirindo fatores de virulência importantes para manifestações de síndromes patológicas, antes desconhecidas. É assim que muitos genótipos patogênicos de diversos agentes infecciosos surgiram e poderão continuar surgindo (ver tabela 1).

Tabela 1 – Relação de vírus e das doenças que causam nos suínos. Fonte: Embrapa

Agentes virais

Entre os agentes virais de maior importância, Janice destaca os vírus da Influenza A (H1N1pdm), Circovírus suíno tipo 2 (PCV2), Seneca Valley Vírus (SVV) ou Senecavírus A, vírus da Diarreia Epidêmica dos Suínos (PEDV), vírus da Síndrome Reprodutiva e Respiratória dos Suínos (PRRSV) e Peste Suína Africana.

Outros agentes como o Enterovírus suíno, Sapelovírus suíno (PSV), Kobuvírus suíno (PKBV) e vírus Torque teno sus suíno (TTSuV), Porcine bocavirus (PBoV), Porcine toroviruses (PToV), e Porcine lymphotropic herpesviruses (PLHV), vírus da Hepatite E dos suínos (swine HEV) e o Sapovírus Suíno (porcine SaV) que, embora a importância clínica ainda não esteja clara, estão presentes em lesões ou acompanhados em quadros clínicos com outros agentes.

Além disso, novos vírus emergentes, como Pestivírus suíno atípico (APPV), PCV-3, PCV-4, SADS-CoV, Influenza D e outros com distribuição regional ou mundial constituem um novo desafio para a Medicina Veterinária.

Baseado no que tem surgido na cadeia produtiva, Janice diz que as doenças emergentes podem ser classificadas em três categorias. A primeira se refere aos patógenos suínos endêmicos que mudam em patogenicidade ou forma de transmissão. “Alterações na virulência tanto por rearranjo, recombinação ou mutação de vírus suínos, principalmente os vírus de RNA e DNA de fita simples que têm uma alta taxa de mutação (10-4/10-5 nucleotídeos por ciclo de replicação), facilitam sua adaptação à resposta imune inata. Exemplos relevantes são HP PRRSV (PRRSV de alta patogenicidade), Influenza A H1N1pdm09 (vírus da Influenza pandêmico) e PEDV”, revela.

A segunda está relacionada à patógenos não-suídeos que entram nas populações de suínos e a terceira diz respeito aos agentes zoonóticos não patogênicos que adentram nas populações de suínos. “A transmissão interespécies significa a infecção de agente potencialmente patogênico em um novo hospedeiro, como a Influenza A entre aves migratórias aquáticas e seres humanos. Os morcegos são a fonte do vírus Nipah e da Síndrome da Diarreia Aguda Suína (SADS coronavírus). Trabalhos recentes têm encontrado PCV-3 suíno com alta homologia com PCV-1 de morcegos”, relata Janice.

Por um longo período de tempo, os vírus estiveram presentes como infecções subclínicas e foram descobertos com o desenvolvimento de técnicas metagenômicas, de sequenciamento de última geração ou fatores exógenos -ligados ao estímulo, ao ambiente e à cultura. “Vírus como PCV3, PCV-4, SADS-CoV e LINDA (novo pestivírus causador de tremor congênito conhecido como agente neurodegenerativo indutor de agitação) foram caracterizados por estas técnicas”, menciona.

Conforme a médica-veterinária, os drivers ou impulsionadores de emergência de patógenos em populações de suínos podem ser devidos a dois fatores. O primeiro é probabilístico, ou seja, a ameaça sempre esteve presente e o surgimento é simplesmente uma questão de tempo. O segundo fator, que geralmente se discute mais, e é muito difícil de comprovar, é a mudança da ecologia destes patógenos.

Riscos de doenças na suinocultura

Doenças animais causam enorme impacto econômico, social ou ambiental para a produção. A perda de mercados para os produtos de origem animal é uma realidade quando a saúde pública está em jogo devido a uma zoonose. “Os governos precisam ter a responsabilidade em prevenção e preparo, em vigilância e resposta, em biossegurança e controle da infecção, além do tratamento das doenças infecciosas, que começa entendendo os fatores importantes para emergência de patógenos, evitando o impacto desta emergência e conectando as autoridades locais, regionais, governamentais e mundiais. É de suma importância esse preparo”, enfatiza Janice.

Desta forma, a pesquisadora salienta a importância de investir no conceito saúde única, vigilância epidemiológica, estudo de evolução de patógenos com potencial zoonótico, desenvolvimento de plataformas de vacinas, antivirais, antimicrobianos de última geração e demais ciências são fundamentais para a atenção rápida da saúde. “Vidas humanas, saúde animal e equilíbrio do planeta estão em jogo”, sintetiza.

A médica-veterinária ressalta que a melhor chance de erradicar ou conter uma doença nova ou reemergente é quando ela surge, uma vez que a detecção precoce, a notificação e o compartilhamento de informações e agentes patogênicos com países e com a comunidade internacional é ponto chave para a pronta resposta em nível nacional e global. “A contingência de doenças emergentes requer o compromisso de todas as instâncias de governo e das organizações internacionais”, pontua.

Mitigação das doenças emergentes

O futuro do agronegócio depende da mitigação das doenças emergentes, principalmente as zoonoses, no entanto a vigilância e a mitigação de riscos custam caro.

O custo das doenças animais deve ser levado em conta, porque podem ser divididos em custos diretos – impacto imediato na pecuária e na agricultura; e custos indiretos – que incluem a mitigação e esforços para o controle, as perdas no comércio e outra forma de renda; além dos impactos na saúde humana. “Existem dificuldades em estimar os custos de doenças animais globalmente como preços de produtos de origem animal e a produtividade varia enormemente, assim como os custos para financiar monitoramento e controle de doenças”, evidencia Janice, ampliando: “Embora isso faça com que o custo total das doenças animais em uma escala global seja difícil de acessar, pode-se ter uma noção do impacto social e econômico dos surtos. Países como o Brasil, com grande vocação no agronegócio e com o potencial de abastecer e alimentar o mundo, tem de olhar para o futuro e, mais rapidamente, investir e se estruturar para dar essas respostas”.

Impactos das doenças

O agronegócio brasileiro foi responsável por 27,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021. Assim como é para o Brasil, o setor também é essencial para a economia de diversos países. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), muitas vezes a agricultura familiar é a única fonte de proteína para as pessoas.

O Banco Mundial estima que as doenças zoonóticas afetam mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo, causando mais de dois milhões de mortes a cada ano, resultando em surtos com impactos significativos na saúde pública e na economia.

Entre 1997 e 2009, surgiram seis grandes surtos de doenças zoonóticas fatais, que incluem o vírus Nipah na Malásia; a Febre do Nilo Ocidental nos EUA; a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) na Ásia e no Canadá; o vírus da Gripe Aviária Altamente Patogênica (HPAI) na Ásia e na Europa; a Encefalopatia espongiforme bovina (BSE) ou vaca louca nos EUA e no Reino Unido; e a Febre do Vale do Rift na África. “Todas estas doenças originaram ou envolveram a vida selvagem, que custaram à economia global pelo menos US$ 80 bilhões. Se esses surtos tivessem sido evitados, as perdas de US$ 7 bilhões por ano não teriam ocorrido”, aponta Janice.

Nesse cenário, os investimentos necessários para um Sistema de Saúde Única foram estimados entre US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões por ano, ficando substancialmente abaixo da média de US$ 7 bilhões em perdas devido aos seis maiores surtos de doenças zoonóticas entre 1997 e 2009, considerando que nenhum dos surtos das seis doenças evoluiu para uma pandemia.

Desta forma, foi ainda estimado que um investimento anual entre US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões seria necessário para construir e operar sistemas de prevenção e controle eficazes de doenças em países de baixa e média renda. Conforme o Banco Mundial, o sucesso na prevenção do início de pandemias vem com uma taxa de retorno anual esperada de 86%.

Segundo Janice, o impacto da Covid-19 causado pela pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) na saúde humana e na economia mundial ficou acima de US$ 30 trilhões. No entanto, a pesquisadora diz que o impacto da pandemia na cadeia de abastecimento alimentar, especificamente na cadeia da carne, foi inesperado. “A alta incidência de Covid-19 em trabalhadores de frigoríficos evoluiu rapidamente para afetar o bem-estar humano, animal e ambiental em vários países. Isso levou ao fechamento de plantas de processamento devido a surtos, especialmente as indústrias de suínos e aves. A redução do abate de animais resultou em aglomeração nas fazendas, o que levou à redução de ração para os animais, sua eutanásia e descarte inadequado das carcaças. Isso teve impacto no bem-estar animal, na renda do produtor, no abastecimento e na biossegurança”, lamenta.

Em alerta constante

Segundo a pesquisadora, as doenças animais respondem por 20% das perdas nas cadeias de proteína animal. Por isso, a Organização Mundial de Saúde, a Organização Mundial para Saúde Animal e a FAO trabalham arduamente para que os países membros previnam essas enfermidades para garantir o abastecimento de alimentos, manter a renda familiar, a saúde e preservar o futuro. “Uma saúde não é apenas um conceito, mas também uma ação de vigilância e controle que todos os países devem implementar”, salienta Janice.

A pandemia do novo coronavírus enfatizou a importância que a discussão e a vigilância de doenças emergentes representam para a sociedade científica, especialmente no caso de doenças zoonóticas. “Mesmo no cenário atual de evolução da pesquisa biomédica, sofisticação de metodologias, equipamentos, instalações de última geração e formação de técnicos, as doenças continuam surgindo na natureza e infectando os seres vivos em todos os continentes”, relata a médica-veterinária.

Entre as doenças animais emergentes mais estudadas estão as doenças virais, devido a sua alta ocorrência no último século e sua gravidade. “Vários fatores desencadearam esses fenômenos, mas falhas na biossegurança, biocontenção e desequilíbrio na imunidade da fazenda devem ser ajustados. Os vírus evoluem naturalmente, por mutação, rearranjo ou recombinação, tornando-se mais ou menos virulentos, mais transmissíveis ou não, podendo até desaparecer”, elenca Janice.

Legado para o futuro

Entre as lições apreendidas ao longo das últimas três décadas, Janice pontua que a pesquisa mostrou que a saúde animal está relacionada com a saúde humana, saúde do meio ambiente e todos esses fatores devem estar conectados para poder entender, controlar e evitar o surgimento e o transbordamento de zoonoses e pandemias. “Doenças emergentes e reemergentes são um risco devido a suscetibilidade da população aos novos agentes. Isso se deu com a Influenza pandêmica (gripe A) em 2009, um vírus novo que ao longo dos anos foi adquirindo outros segmentos de vírus de Influenza humana, suína e aviária, um rearranjo triplo”, evidencia a pesquisadora.

“A tecnologia aplicada nas vacinas, antibióticos e epidemiologia molecular evoluiu substancialmente nos últimos 30 anos, a exemplo do que vimos com a pandemia da Covid-19, em que os cientistas do mundo todo se uniram para uma combinação de compartilhamento de informações, de estruturas laboratoriais, insumos, cooperação de especialistas, empresas, países, atuação forte de organizações internacionais para consórcio de vacinas afim de oportunizar que países em desenvolvimento pudessem vacinar suas populações. Ciência se faz com parcerias, com compartilhamento de insumos, conhecimento e laboratórios, transparência e multidisciplinariedade. É importante que as instituições e os países ajam com transparência, apoiando iniciativas de pesquisa e controle de doenças”, frisa a profissional, acrescentando que as pesquisas no setor público devem ser financiadas.

Neste sentido, têm surgido iniciativas com a criação de startups e agtechs voltadas ao agronegócio. São equipes multidisciplinares formadas por pessoas criativas, onde se formam ecossistemas da inovação. “A união de pesquisadores, produtores, empresas inovadoras e financiadores, que se complementam, trazem soluções práticas com investimento privado. A inovação aberta identifica as ‘dores’ do setor com soluções de retorno rápido”, considera Janice.

Criação do OHHLEP

De acordo com Janice, a pandemia de Covid-19 expôs, segundo a pesquisadora, lacunas importantes no conhecimento de cientistas sobre como as doenças zoonóticas se espalham de animais para humanos e como podem surgir e ressurgir com impactos devastadores em todos os setores, enfatizando a necessidade de maior coordenação e colaboração entre setores e agências nacional e internacionais para melhor prevenir, preparar e responder a essas ameaças.

Diante desta necessidade, em novembro de 2020, a Reunião Ministerial da Aliança para o Multilateralismo, realizada no Fórum de Paz de Paris, convocou a Tripartite – FAO, OIE e OMS – e os representantes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para criar um painel de especialistas de alto nível em saúde multidisciplinar, denominado pela sigla em inglês de OHHLEP.

Posteriormente, em fevereiro de 2021, durante a 27ª Reunião Executiva Tripartite, foi definido que o OHHLEP vai auxiliar os países no âmbito da saúde única. Com o apoio dos governos da França e da Alemanha, a iniciativa foi lançada em maio de 2021, com a nomeação de 26 especialistas internacionais, entre eles Janice, para representar uma ampla gama de disciplinas e setores relacionados a políticas relevantes para a saúde única.

Janice conta que a primeira ação do grupo foi criar uma definição nova e expandida de saúde única, passando o conceito a significar: uma abordagem integrada e unificadora que visa equilibrar e otimizar de forma sustentável a saúde das pessoas, dos animais e ecossistemas, reconhecendo que são intimamente ligados e interdependentes. “A nova abordagem de saúde única mobiliza múltiplos setores, disciplinas e comunidades em vários níveis da sociedade a trabalharem juntas para promover bem-estar e combater as ameaças à saúde e aos ecossistemas, abordando a necessidade coletiva de água limpa, energia e ar, alimentos seguros e nutritivos, agindo sobre as mudanças climáticas e contribuindo para o desenvolvimento sustentável”, destaca Janice.

O OHHLEP objetiva analisar evidências científicas sobre os fatores que contribuem para o transbordamento e subsequente disseminação de doenças zoonóticas, desenvolver uma estrutura de gerenciamento de risco e uma Teoria de Mudança OH (ToC) para mover saúde única do conceito à prática, bem como propor um sistema de vigilância em saúde única otimizado. “Todos estão comprometidos em usar o conhecimento gerado pelo OHHLEP para melhorar os sistemas visando prevenir, prever, detectar e responder melhor às ameaças globais à saúde em todos os níveis”, afirma Janice.

Estratégia de Saúde Única

A pesquisadora da Embrapa diz que difícil prever o surgimento ou o retorno de epidemias na suinocultura, no entanto o ponto chave na prevenção de zoonoses emergentes é realizar a identificação precoce de patógenos em animais e dar uma resposta rápida antes que a doença se torne uma ameaça para a população humana.

Neste sentido, a Institucionalização da Estratégia de Saúde Única deve ocorrer em diversos setores que atuam na saúde pública, incluindo pesquisa e desenvolvimento, formular estratégias para conter ameaças de doenças estudando seu comportamento (prevenção) e se preparar para desastres e pandemias de acordo com cada situação (preparação). “A resposta rápida inclui o relatório oportuno da doença e a compensação. É fundamental fomentar parcerias com organizações que tenham experiência em monitoramento da fauna, epidemiologia e treinamento de campo, tenham excelente infraestrutura laboratorial, boa comunicação e planejamento nacional. Deve ter o apoio de diferentes setores públicos e privados, uma forte cooperação e financiamento dedicado”, frisa Janice.

Os procedimentos sanitários, fitossanitários e a biossegurança são importantes para todas as atividades humanas, incluindo a saúde e a produção pecuária. Além disso, implementação de protocolos e planos de ação para controle de doenças como avaliação de risco, comunicação e gestão, quarentena de animais importados e realização de vigilância estruturada de doenças e sorovigilância. “Protocolos eficazes de inativação de vírus ou outros agentes por compostagem, ou ainda outros tratamentos, podem reduzir os riscos de transmissão por esterco ou pela água”, aponta Janice.

Conforme a pesquisadora, vários fatores são importantes a serem considerados na transmissão de doenças ou mesmo no surgimento ou reemergência de doenças. No entanto, três aspectos principais devem ser considerados: hospedeiro, agente e ambiente. Diversas ameaças e desafios são impostos à produção de alimentos de origem animal, entre eles a globalização, o que facilitou e intensificou o comércio de alimentos e rações. “Esta liberalização do comércio mundial, embora ofereça muitos benefícios e oportunidades, também apresenta novos riscos”, pontua.

Organizações internacionais como a OIE e a FAO buscam harmonizar os métodos de diagnóstico, detecção, controle e comunicação de doenças a fim de reduzir as perdas. E o serviço veterinário deve incluir vigilância de rotina, investigações de campo, coleta de amostras, investigações epidemiológicas, análise de risco e mapeamento. “É imperativo que essas abordagens existam em todos os níveis – regional, nacional e internacional – para que uma estrutura organizacional esteja em vigor afim de prevenir e controlar melhor os riscos à saúde animal e humana, além do impacto econômico de doenças animais emergentes e transfronteiriças”, reforça Janice.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Suínos e Peixes.

Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

Preços do suíno vivo encerram abril com movimentos distintos

Segundo pesquisadores deste Centro, em Minas Gerais, compradores estiveram mais ativos na aquisição de novos lotes de animais, levando suinocultores daquele estado a reajustarem positivamente os valores. Já em outras praças, as cotações seguiram em queda, pressionadas pela demanda enfraquecida.

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Foto: Ari Dias

Os preços do suíno vivo no mercado independente encerraram abril com movimentos distintos entre as regiões acompanhadas pelo Cepea.

Segundo pesquisadores deste Centro, em Minas Gerais, compradores estiveram mais ativos na aquisição de novos lotes de animais, levando suinocultores daquele estado a reajustarem positivamente os valores.

Já em outras praças, as cotações seguiram em queda, pressionadas pela demanda enfraquecida.

Para a carne, apesar da desvalorização das carcaças, agentes consultados pelo Cepea relataram melhora das vendas no final de abril.

Quanto às exportações, o volume de carne suína embarcado nos 20 primeiros dias úteis de abril já supera o escoado no mês anterior, interrompendo o movimento de queda observado desde fevereiro.

Segundo dados da Secex, são 86,8 mil toneladas do produto in natura enviadas ao exterior na parcial de abril, e, caso esse ritmo se mantenha, o total pode chegar a 95,4 mil toneladas, maior volume até então para este ano.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos / Peixes

Embaixador da Coreia do Sul visita indústrias da C.Vale

Iniciativa pode resultar em novos negócios no segmento carnes da cooperativa

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Visitantes conheceram frigorífico de peixes - Fotos: Assessoria

A C.Vale recebeu, no dia 25 de abril, o embaixador da Coreia do Sul, Lim Ki-mo, e o especialista de negócios da embaixada sul-coreana, Rafael Eojin Kim. Eles conheceram os processos de industrialização de carne de frango, de peixes e da esmagadora de soja, além da disposição dos produtos nos pontos de venda do hipermercado da cooperativa, em Palotina.

O presidente da C.Vale, Alfredo Lang, recepcionou os visitantes e está confiante no incremento das vendas da cooperativa para a Coréia do Sul. “É muito importante receber uma visita dessa envergadura porque amplia os laços comerciais entre os dois países”, pontuou. Também participaram do encontro o CEO da cooperativa, Edio Schreiner, os gerentes Reni Girardi (Divisão Industrial), Fernando Aguiar (Departamento de Comercialização do Complexo Agroindustrial) e gerências de departamentos e indústrias.

O embaixador Lim Ki-Mo disse ter ficado admirado com o tamanho das plantas industriais e a tecnologia do processo de agroindustrialização da cooperativa. “Eu sabia que a C.Vale era grande, mas visitando pessoalmente fiquei impressionado. É incrível”, enfatizou o embaixador, que finalizou a visita cantando em forma de agradecimento pelo acolhimento da direção e funcionários da C.Vale.

 

Fonte: Assessoria CVale
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Suínos / Peixes

Doença do edema em suínos: uma análise detalhada

Diagnóstico da doença pode ser desafiador devido à rápida progressão da condição e à sobreposição de sintomas com outras enfermidades.

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Foto e texto: Assessoria

A doença do edema (DE) é um importante desafio sanitário em nível global na suinocultura. Com alta prevalência a patologia ocasiona perdas econômicas ao setor associadas, principalmente, com a morte súbita de leitões nas fases de creche e recria.

A doença foi descrita pela primeira vez na literatura por Shanks em 1938, na Irlanda do Norte, ao mesmo tempo que Hudson (1938) registrava sua ocorrência na Inglaterra.

Ao pensarmos no controle da enfermidade, a adoção de medidas de manejo adequadas desempenha um papel fundamental na prevenção da disseminação do Escherichia coli, o agente causador da DE.  Desta forma, é essencial reforçar práticas, como o respeito ao período de vazio sanitário durante a troca de lotes, a limpeza e desinfecção regular de todos os equipamentos e baias ocupadas com produtos adequados, e a garantia de que as baias estejam limpas e secas antes da introdução dos animais. Embora possam parecer simples, a aplicação rigorosa dessas ações é indispensável para o sucesso do manejo sanitário.

A toxinfecção característica pela DE é causada pela colonização do intestino delgado dos leitões por cepas da bactéria Escherichia coli produtoras da toxina Shiga2 (Vt2e) e que possuem habilidade de aderência às vilosidades intestinais, sendo uma das principais causas de morbidade e mortalidade em suínos, resultando em perdas econômicas significativas e impactos negativos na indústria suinícola.

Durante a multiplicação da bactéria (E.coli) no trato gastrointestinal dos suínos, a toxina Shiga 2 (Vt2e) é produzida e absorvida pela circulação sistêmica, onde induz a inativação da síntese proteica em células do endotélio vascular do intestino delgado, em tecidos subcutâneos e no encéfalo. A destruição das células endoteliais leva ao aparecimento do edema e de sinais neurotóxicos característicos da doença (HENTON; HUNTER, 1994).

Como resultado, ocorre extravasamento de fluido para os tecidos circundantes, resultando em edema, hemorragia e necrose, especialmente no intestino delgado. Além disso, a toxina pode desencadear uma resposta inflamatória sistêmica, exacerbando ainda mais os danos aos tecidos e órgãos afetados.

Os sinais clínicos da doença do edema em suínos variam em gravidade, mas frequentemente incluem, incoordenação motora com andar cambaleante que evolui para a paralisia de membros, edema de face, com inchaço bem característico das pálpebras, edema abdominal e subcutâneo, fezes sanguinolentas e dificuldade respiratória. O edema abdominal é uma característica marcante da doença, muitas vezes resultando em distensão abdominal pronunciada. Além disso, os suínos afetados podem apresentar sinais neurológicos, como tremores e convulsões, em casos graves.  Em toxinfecções de evolução mais aguda, os animais podem ir a óbito sem apresentar os sinais clínicos da doença, sendo considerado morte súbita.

O diagnóstico da doença do edema em suínos pode ser desafiador devido à rápida progressão da condição e à sobreposição de sintomas com outras doenças. No entanto, exames laboratoriais, como cultura bacteriana do conteúdo intestinal ou de swabs retais podem ajudar a identificar a presença. Quando há alto índices de mortalidade na propriedade, pode se recorrer a técnicas de necropsia, bem como a histopatologia das amostras de tecidos intestinais, sobretudo a identificação do gene da Vt2e via PCR, para o diagnóstico definitivo da doença

O tratamento geralmente envolve a administração de antibióticos, como penicilina ou ampicilina, para combater a infecção bacteriana, juntamente com terapias de suporte, como fluidoterapia e controle da dor.

Embora tenhamos métodos diagnósticos eficientes, o tratamento da doença do edema ainda é um desafio recorrente nas granjas. Sendo assim, prevenir a entrada da doença do edema no rebanho ainda é a melhor opção. Uma dieta rica em fibras, boas práticas de manejo sanitário, evitar situações de estresse logo após o desmame e a prática de vacinação são estratégias eficazes quando se diz respeito à prevenção (Rocha, 2016). Borowski et al. (2002) demonstraram, por exemplo, que duas doses de uma vacina composta por uma bactéria autógena contra E. coli, aplicadas em porcas e em leitões, foram suficientes para obter uma redução da sintomatologia e mortalidade dos animais acometidos.

A doença do edema em suínos representa um desafio significativo para a indústria suinícola, com sérias implicações econômicas e de bem-estar animal. Uma compreensão aprofundada dos mecanismos subjacentes à patogênese da doença, juntamente com a implementação de medidas preventivas e de controle eficazes, é essencial para minimizar sua incidência e impacto. Ao adotar uma abordagem integrada os produtores podem proteger a saúde e o bem-estar dos animais, ao mesmo tempo em que promovem a sustentabilidade e a rentabilidade da indústria suína.

Referências bibliográficas podem ser solicitadas pelo e-mail gisele@assiscomunicacoes.com.br.

Fonte: Por Pedro Filsner, médico-veterinário gerente nacional de Serviços Veterinários de Suínos da Ceva Saúde Animal.
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