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Avicultura

Autocontrole tem reduzido condenações de aves em abatedouros

Os resultados da vigilância e controle da produção devem proporcionar ganhos à saúde pública, dar segurança ao serviço de inspeção, garantir leis de comércio internacional e compartilhar responsabilidades com a indústria.

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O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é o órgão oficial que controla toda a cadeia de produção do país, promovendo uma fiscalização integrada da alimentação animal, registro de medicamentos, da cadeia produtiva até a comercialização do produto final (das granjas ao abate), coleta de amostras e análises oficiais, além de fazer a inspeção permanente e periódica.

“O controle de todos os perigos, desde uma contaminação física, cruzada, química ou biológica até o produto final, para garantir a comercialização, está sujeito a regulamentação dos serviços vinculados à Secretaria de Defesa Agropecuária/Mapa. O Brasil é o único país em que um mesmo órgão controla toda a cadeia produtiva”, destacou a médica-veterinária, pesquisadora e docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Liris Kindlein, no início de sua palestra sobre os sistemas de inspeção através de autocontrole e principais condenações em matadouros, que integrou o Simpósio “Conceito de ponta a ponta” durante a Latin American Scientific Conference (PSA Latam) – Conferência Científica Latino-Americana de Ciência Avícola, realizada recentemente em Foz do Iguaçu, PR.

Médica-veterinária, pesquisadora e docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Liris Kindlein, durante palestra no Simpósio “Conceito de ponta a ponta” na PSA Latam 2022: “É preciso entender as variáveis para correlacionar estratégias que visem uma melhor qualidade de carcaça” – Foto: Jaqueline Galvao/OP Rural

O sistema de integração no Brasil foi implantado na década de 60 para viabilizar o controle da produção em cadeia e oportunizar a parceria entre criadores e abatedouros. Através da cadeia produtiva integrada, Liris explica que é possível fazer a inter-relação com a qualidade e as condenações de carcaças. “Há uma relação muito grande entre o fator de condenação e a identificação de qual ponto da cadeia está fazendo o produtor perder a produtividade do rebanho no fim do ciclo de terminação, é preciso entender as variáveis para correlacionar estratégias que visem uma melhor qualidade de carcaça”, expõe a especialista.

Conforme a médica-veterinária, o serviço oficial possui responsabilidade total sobre a inspeção nas plantas frigoríficas, ficando a cargo das empresas a contratação de profissionais para atuar nas áreas de controle de qualidade ou de autocontrole do processo de produção. “Os auditores fiscais agropecuários verificam o cumprimento às normas específicas de trânsito de animais, avaliam a documentação sanitária dos lotes de aves a serem abatidas e os exames clínicos desses animais”, menciona Liris, acrescentando que nas linhas de inspeção o processo de fiscalização sanitária consiste em vistoriar 100% das carcaças e vísceras em três linhas: inspeção interna da carcaça, inspeção de vísceras e inspeção externa da carcaça, respeitando o tempo mínimo de dois segundos/ave.

Início do controle sanitário

Antes de 1900, predominava a criação campestre, sem nenhum controle sanitário. Em 1904 o médico-veterinário Robert Von Ostertag publicou o Manual de Inspeção de Carnes, recomendando que a fiscalização fosse feita com base no levantamento das lesões comuns a humanos e animais e a busca ativa visual de lesões ou alterações nos animais (post mortem), que em desconformidade as aves deveriam ser removidas do consumo.

A partir de então houve uma mudança no perfil zoonótico de doenças parasitárias e bacterianas, passando a criação a ter um acompanhamento veterinário, avanços em melhoramento genético, nutrição balanceada e controle sanitário da cadeia primária, além da implantação de um programa de biosseguridade e de rastreabilidade. “A rastreabilidade permite fazer o acompanhamento dos produtos desde a sua origem com vistas a adotar um plano de ação com as medidas preventivas e corretivas cabíveis”, frisou Liris.

Modernização do programa de autocontrole

Após consulta pública para modernização do programa de autocontrole para adesão dos abatedouros frigoríficos registrados junto ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa ao Sistema de Inspeção com base em risco aplicável a frangos de corte, a proposta foi aprovada e a partir de janeiro de 2023 os estabelecimentos avaliados como aptos pelo DIPOA serão incluídos numa lista de estabelecimentos sujeitos a inspeção com base em risco. A norma estabelece ainda que a inclusão na lista será compulsória a partir de 31 de dezembro de 2028. “A Portaria SDA nº 561 não é para matrizes, poedeiras, nem aves de outras espécies, é específica para frangos de corte confinados em sistema integrado ou de integração cooperativista, que já tem um controle de saúde animal. A portaria oficial deve ser publicada em breve”, salienta Liris.

Além do Brasil, diversos países modernizaram seus sistemas de inspeção sanitária de carnes com base em risco nos últimos anos, entre eles Canadá (2013/2018), Austrália (2017), Estados Unidos (2018) e países do continente europeu (2014).

Nas últimas três décadas se tornou evidente para as organizações governamentais e internacionais como o Codex Alimentarius (FAO/OMS) que os procedimentos que serviram a mais de um século à saúde pública e animal necessitavam de revisão substancial. “É essencial que quaisquer alterações nos sistemas existentes de inspeção se baseiem em princípios científicos sólidos de higiene da carne e análise de risco, e não sejam indevidamente influenciados por questões externas”, pontua a pesquisadora.

Análise de pontos críticos de controle

O programa de Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) abrange uma abordagem sistematizada e estruturada de identificação de perigos e da probabilidade da sua ocorrência em todas as etapas da produção, através da definição de sete medidas de controle: análise dos perigos e medidas preventivas; identificação dos pontos críticos de controle; estabelecimento dos limites críticos; estabelecimento dos procedimentos de monitorização; estabelecimento de ações corretivas; estabelecimento dos procedimentos de verificação e estabelecimento dos procedimentos de registros.

A origem deste sistema está relacionada à Nasa e à necessidade de fornecimento de alimentos seguros aos astronautas. O sistema foi desenvolvido pela empresa norte-americana Pillsbury em 1960 e, a partir de 1971, começou a ser utilizado pela indústria alimentícia.

Entre as décadas de 80 e 90, organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Codex Alimentarius passaram a recomendar o sistema APPCC para as indústrias de alimentos. No Brasil foi introduzido em 1990 pela Secretaria de Pesca do Mapa e, em 1993, os ministérios da Agricultura e da Saúde tinham portarias exigindo o uso deste sistema, mesma época em que países importadores de pescados e carnes começaram a exigir a implantação do sistema APPCC nas indústrias exportadoras.

Em um estudo de avaliação quantitativa dos riscos, conduzido por várias instituições de pesquisa em conjunto com o Mapa, os pesquisadores buscaram responder quais são os riscos biológicos aos seres humanos pelo consumo da carne de frango produzido pelo sistema intensivo/industrial no Brasil. “Buscamos evidências científicas disponíveis para traduzir em forma de probabilidade e auxiliar na criação de regras e decisões. A começar que nas embalagens da carne de frango é obrigatório informar que o produto não deve ser consumido cru, além de aproximadamente 96% dos frangos produzidos no Brasil são congelados, o que mitiga vários fatores que poderiam causar a contaminação da carne e chegar ao ser humano, como o Campylobacter, agente epidemiológico que tem um surto mundialmente, entretanto no alimento congelado esse microrganismo não sobrevive”, informa Liris, uma das pesquisadoras envolvida no trabalho.

Dentre os perigos identificados na análise de risco em uma classificação de ameaça de contaminação na carne de frango, medida em níveis baixíssimo, baixo, médio, alto e altíssimo risco, foram encontradas entre as principais bactérias a Campylobacter jejuni e a Salmonella não tifoide, seguida da Clostridium difficile e Staphylococcus aureus. A partir destes agentes encontrados, o estudo buscou responder qual a relação desses perigos encontrados com alterações perceptíveis nas linhas de inspeção post mortem.

A docente da UFRGS frisou que a maioria dos perigos encontrados de altíssimo a baixíssimo risco estão relacionados ao conteúdo do trato gastrointestinal, visto que essas bactérias estão presentes no intestino, sendo preciso diminuir a carga microbiana para chegar ao abatedouro. “Quando uma carcaça entra no frigorífico ela tem em torno de nove a 10 unidades formadoras de colônias por grama (UFC/g) de bactérias na contagem geral. Na esteira, o frango pendurado passa pelo processo de escaldagem – que é uma água com muita matéria orgânica, segue para uma depenadeira, equipamento com bastante informação de microfilme e que se não estiver bem higienizado também aumenta a contagem de UFC/g, devendo em seguida mitigar os UFCs/g dentro dos processos no abatedouro para garantir a eficiência do produto final, a fim de chegar ao consumidor com risco zero de contaminação por Salmonella. É certo que se a carne de frango não passasse pelo processo de congelamento e não houvesse um controle na forma de consumo teríamos muitos mais surtos ao redor do mundo, por isso é importante fazer o autocontrole e a qualidade da matéria-prima que está chegando no mercado, bem como a vigilância sanitária deve ser constante”, evidencia Liris.

Problema de qualidade da carcaça

Outra preocupação da cadeia elencada pela profissional diz respeito ao processo inflamatório causado por Staphylococcus aureus. De acordo com ela, doenças como artrites, aerosaculitis e dermatites, por exemplo, apresentam um processo de inflamação, no entanto a cadeia condena esses casos como de lesão cutânea. “Estamos trabalhando em conjunto com a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) e o Mapa para que uma lesão cutânea, como arranhão e pele rasgada, não sejam mais considerados como um problema de qualidade da carcaça, porque não é um problema de controle sanitário, para ser precisaria estar inflamado. Qualquer uma destas doenças está sendo reavaliada para que se mantenha apenas aquelas que visivelmente têm correlação com os agentes patogênicos encontrados na carne pelo estudo”, aponta Liris.

Em auditorias periódicas nas plantas frigoríficas, os auditores fiscais agropecuários do Mapa avaliam em torno de 60 carcaças pré-chiller para verificar possíveis processos inflamatórios, em havendo uma carcaça com inflamação isso representa que cerca de 98% tem risco de inflamação.

E as carcaças/partes/vísceras sem alteração visível têm potencial menor de carrear o perigo até o consumidor? Para responder esse questionamento, foi realizado um projeto em três fábricas de processamento, nos quais foram coletadas 1.774 carcaças de lotes positivados para análise de Salmonella. “Não encontramos presença significativa de enterobactérias para Salmonella, nos levando a concluir que o controle da contaminação fecal visível depois que ela acontece é inefetivo, mesmo perfil de ocorrência de contaminação”, afirma Liris, ampliando: “Não é porque estou vendo fezes que tem presença de Salmonella, hoje até já conseguimos trabalhar para diminuir a Salmonella na flora microbiota, porque temos floras competitivas, ou seja, estava sendo colocado fora um produto que não precisaria. A partir deste resultado, a legislação brasileira autorizou a indústria a lavar a carcaça em qualquer ponto do processamento, desde que contabilize quantas contaminações tinha, porque é necessário fazer o autocontrole para saber as deficiências ao longo processo”.

As contaminações gastrointestinal e biliar visíveis devem ser totalmente removidas da carcaça, das partes de carcaça, dos cortes e dos miúdos, antes da entrada no sistema de pré-resfriamento. “A remoção das contaminações pode ser realizada por tratamentos físicos únicos ou cumulativos como a lavagem, o corte e a condenação da área atingida ou outros autorizados pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Desde que especificado no PACV, o tratamento de carcaças visivelmente contaminadas pode ser realizado de forma contínua, na própria linha de inspeção ou fora dela”, menciona Liris.

Condições higiênico-sanitárias

Em relação as estratégias adotadas no sistema de inspeção moderno para garantir as condições higiênico-sanitárias, Liris expressa que é necessário ter um controle microbiológico através de um monitoramento das condições higiênicas-sanitárias do ciclo completo dentro do abatedouro. “Dentro deste monitoramento foi determinado a avaliação de enterobactérias, que é um indicador entérico, usado para controle tanto do processo quanto do produto. No estudo realizado com 1.774 carcaças (coleta de 10 carcaças pós-chiller por turno) foram feitas avaliações de enterobactérias para Salmonella e os resultados obtidos deste estudo auxiliaram os pesquisadores para gerar um limite mínimo aceitável de padrão de performance para controle higiênico-sanitário no processo de abate, que é de 2,3 com base no que dispõe a Instrução Normativa 20, na qual discorre que a prevalência esperada de Salmonella é de 20% na amostragem oficial para o abate de frangos”, expressa a pesquisadora.

O desempenho na planta frigorífica no controle higiênico-sanitário do processo de abate será avaliado com carcaças pós-chiller considerando, em um plano de três classes, todas as médias amostrais, obtidas durante cinco semanas, sendo insatisfatório (indicador acima de 3), tendência a insatisfatório (>20%), aceitável (<20%) e satisfatório (menor que 2,3). “Através deste sistema a empresa frigorífica vai informar ao órgão oficial o quanto está controlando seu processo higiênico-sanitário a respeito de quantas lavagens, quantidade de pessoas no corte, porque o sistema de autocontrole da inspeção permite fazer a inspeção post mortem sob a vigilância oficial para avaliação e classificação, mantendo os registros das alterações, e o monitoramento”, sintetiza.

O controle higiênico do processo de abate compreende lavagem pós-depenagem, evisceração, lavagem alta-pressão e lavagem final.

Alterações no sistema de autocontrole

A pesquisadora destaca que o controle tradicional era feito integralmente pelo Mapa, agora a inspeção post mortem é realizada pela planta frigorífica, que faz a avaliação e a classificação visual das carcaças para identificar a presença ou não de inflamação, bem como também é responsável por efetuar o monitoramento microbiológico, ficando à cargo da fiscalização oficial auditar os processos a fim de verificar se estão em conformidade com as normas sanitárias. “Para que o abatedouro tenha autorização para realizar a inspeção post mortem, o frigorífico precisa elaborar um Programa de Avalição e Classificação de Aves Depenadas, Carcaças e Partes de carcaças e vísceras (PACV)”, adianta Liris, complementando: “Obrigatoriamente hoje é necessário um médico-veterinário na linha de abate, como o oficial não vai ficar na indústria, a empresa tem que contratar um médico-veterinário por turno e capacitar esses profissionais. Serão eles que vão escrever o PACV e vão controlar o que será feito ou não em cada ponto de estação. Espera-se com isso que o frigorífico seja mais eficiente, uma vez que vai ter um volume maior de massa produzida, porque uma vez que conseguir cortar menos e vender um corte com valor agregado, o abatedouro melhora a qualidade e a proficiência mantendo o custo da operação”.

Outra mudança diz respeito a inspeção com base em risco de frangos de cortes, que passa a ser feita por estações: atividades de avaliação e classificação, avaliação pré-abate, avaliação das aves depenadas, carcaça e vísceras correlacionadas, avaliação de carcaças já evisceradas e avaliação após pré-resfriamento. “No sistema de estação as auditorias serão realizadas de forma macro, que compreende o ponto de auditoria de carcaça, partes e vísceras antes do sistema de pré-resfriamento por amostragem, contaminação gastrointestinal e inflamação.  Com essa metodologia serão geradas mais análise de dados e informações, possibilitando a adoção de novas tecnologias, maior eficiência na utilização de máquinas, mão de obra e de insumos, além de maximizar os resultados”, exalta a médica-veterinária.

Projeto piloto

Para entender na prática como as diferentes situações que as empresas propuseram no PACV impactam nos sistemas tradicional e com base em risco de inspeção, foram realizados projetos-piloto em três plantas frigoríficas.

O abatedouro que recebia animais de terceiros perdia 45% dos pacotes de miúdos, com a lavagem reduziu a perda para 15%. Fazendo um comparativo entre dois meses, notou-se um aumento de produção de massa de 0,6% em dois os turnos, de 73,8% de peso total abatido no dia aumentou para 74,1%, além disso obteve 84 toneladas/mês com redução de descarte e coleta de miúdos. Com os cortes padrão obteve um aumento de 63 toneladas/mês.

Em outra empresa da cadeia, o matadouro obteve perda efetiva de 4,94% sobre pesagens feitas no 1º e 2º turno em um período de oito dias e com a modernização reduziu para 1,90%, uma diminuição de 3,02% de perda efetiva de massa. Com a lavagem após eviscerada teve um aproveitamento de 60% do produto que antes era descartado, bem como atingiu um melhor aproveitamento de artrite bilateral e maior rendimento de corte e redução de perda efetiva.

E no terceiro frigorífico, que é uma cooperativa, com abate de 560 mil aves/dia, conseguiu um aumento de matéria-prima (CMS) ao recuperar 16 mil dorsos/turno/dia (mais massa de CMS antes descartado) e através da lavagem foram recuperadas 760 carcaças inteiras por turno/dia. “O maior ganho deste frigorífico foi com o número de abate diário, que no sistema tradicional era de 560 mil aves/dia, no teste alcançou o volume diário de 598 mil aves abatidas em dois turnos, ou seja, 38 mil frangos a mais processados ao dia com os mesmos custos fixos, o que representa 19 dias extras a menos de trabalho no ano”, exemplificou Liris.

A especialista enfatiza que é de suma importância gerenciar todo processo para alcançar uma maior produtividade e aumento de eficiência da cadeia, fazendo a gestão do ciclo completo durante o abate, porque cada lote tem uma realidade diferente, com isso a empresa ganha maior aproveitamento de proteína animal gerando menor desperdício e diminuição de custos fixos. “O desafio atual dos matadouros é garantir aos consumidores o acesso a produtos de qualidade, íntegros e inócuos à saúde, com perdas mínimas em seu processamento e aumentar a produtividade e lucratividade”, considera Liris.

Segundo a pesquisadora, a responsabilidade pelo controle deve ser dividida entre os produtores – encarregados de ofertar cada vez mais produtos seguros; o governo e as instituições governamentais, que devem fornecer métodos administrativos e regulatórios para garantir a sanidade da produção avícola nacional; e o consumidor, que cada vez mais está atento a forma como a carne de frango é produzida.

A docente da UFRGS reforça que as metas do sistema de inspeção do Brasil consistem em manter e garantir a saúde pública, assegurar a qualidade da carne brasileira, além de identificar na linha de abate os possíveis perigos. “Os resultados da vigilância e controle da produção devem proporcionar ganhos à saúde pública, dar segurança ao serviço de inspeção, garantir leis de comércio internacional e compartilhar responsabilidades com a indústria, visto que ações assertivas refletem uma produção menos ineficiente”, acentua Liris.

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Fonte: O Presente Rural

Avicultura

Especialista aponta desafios e estratégias na nutrição para aumentar imunocompetência em frangos de corte

Estratégias de manejo alimentar, como a formulação de dietas balanceadas e enriquecidas de nutrientes específicos, uso de aditivos alimentares para promover a saúde intestinal, implementação de programas de vacinação e o monitoramento da qualidade da água de bebida são essenciais para fortalecer a imunocompetência em frangos de corte desde a fase inicial.

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Em tempos em que a produção avícola enfrenta desafios complexos, compreender como a nutrição afeta diretamente a capacidade imunológica das aves desde os estágios iniciais pode representar um diferencial significativo para os produtores. As implicações dessas descobertas não apenas podem otimizar os resultados de produção, mas também contribuir para o bem-estar e a saúde das aves, garantindo um setor avícola mais resiliente e sustentável. A imunocompetência nas fases iniciais e sua relação com a nutrição foi tratada pelo médico-veterinário e professor de Vacinologia Veterinária na Universidade Federal do Paraná, Breno Castello Branco Beirão, no 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), evento realizado em meados de abril, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC).

Médico-veterinário e professor de Vacinologia Veterinária na Universidade Federal do Paraná, Breno Castello Branco Beirão: “A qualidade da dieta da matriz afeta a transferência imune pelo ovo, ou seja, há efeitos indiretos da qualidade da dieta da matriz sobre a progênie” – Foto: Divulgação

Durante sua palestra, o profissional tratou sobre os desafios nutricionais, estratégias de manejo alimentar e os impactos na saúde e desempenho das aves, destacando a importância vital dessa abordagem para uma produção avícola resiliente e sustentável. “Uma nutrição adequada desempenha um papel fundamental na saúde e no desempenho das aves de corte, especialmente durante as fases iniciais de crescimento. Além disso, a prevenção de doenças através do fortalecimento do sistema imunológico é essencial para garantir a produtividade e a rentabilidade da produção avícola”, afirmou o docente.

A imunocompetência nos estágios iniciais da vida é um fator determinante que afeta diretamente a saúde e a produtividade das aves de corte. Beirão explica que as aves não nascem com o sistema imunológico totalmente desenvolvido, sendo que ele amadurece gradualmente nos primeiros dias de vida em contato com o ambiente. “Esse período inicial é crítico, pois as aves são mais suscetíveis a invasões por patógenos, exigindo atenção especial dos produtores para garantir sua saúde e bem-estar”, aponta.

Além disso, Beirão diz que é fundamental compreender que se o sistema imunológico for comprometido durante essa fase, seu amadurecimento pode ser prejudicado, resultando em um estado imunológico imaturo, que persistirá ao longo da vida da ave.

Em relação aos nutrientes essenciais para promover a imunocompetência em pintinhos de corte e sua influência na resistência a doenças, Beirão destaca que todos são fundamentais, no entanto, alguns se destacam por sua importância, uma vez que apresentam um impacto significativo na resposta imunológica. “A constituição proteica da dieta é considerada o principal fator, sendo indispensável para o desenvolvimento da imunidade. Sem uma quantidade adequada de proteínas na dieta, a imunidade fica comprometida. Além disso, outros nutrientes desempenham papéis essenciais, como os micronutrientes, incluindo o zinco, e as vitaminas, entre as quais a vitamina A, fundamental para a saúde das mucosas, uma barreira importante contra patógenos”, esclarece.

Importância da dieta materna

O papel da dieta materna na imunocompetência dos pintinhos de corte durante a fase de incubação e eclosão é de extrema importância. A qualidade e composição da dieta da matriz afetam diretamente o desenvolvimento do sistema imunológico dos pintinhos antes mesmo de eles eclodirem. “Vitaminas, minerais e antioxidantes presentes na dieta da matriz são transferidos para os embriões através dos ovos e desempenham um papel fundamental na formação e maturação do sistema imunológico dos pintinhos. Além disso, a qualidade da dieta da matriz afeta a transferência imune pelo ovo, ou seja, há efeitos indiretos da qualidade da dieta da matriz sobre a progênie”, ressalta.

Efeitos de dietas desequilibradas

Dietas desequilibradas ou deficientes em nutrientes essenciais podem ter impactos significativos na saúde das aves, especialmente em termos de imunidade e saúde intestinal. Embora seja verdade que na avicultura comercial os programas de alimentação sejam geralmente bem formulados para atender às necessidades nutricionais das aves, ainda existem situações em que desequilíbrios momentâneos podem ocorrer, especialmente durante períodos de estresse ou desafios imunológicos. “Um sistema imunológico enfraquecido devido à deficiência nutricional pode resultar em uma resposta imune inadequada às infecções, tornando as aves mais propensas a ficarem doentes e a experimentarem taxas mais altas de mortalidade”, expõe o médico-veterinário.

Além disso, dietas deficientes também podem afetar negativamente a saúde intestinal das aves. O intestino é um órgão crucial para a absorção de nutrientes, e qualquer perturbação em sua função pode levar a distúrbios digestivos e redução na absorção de nutrientes. Beirão diz ainda que é essencial garantir que as aves recebam uma dieta equilibrada e adequada em todos os estágios de seu ciclo de vida. “Isso não apenas vai promover a saúde e o bem-estar das aves, mas também vai contribuir para a produtividade e a rentabilidade da produção avícola”, pontua.

Estratégias de manejo alimentar

Estratégias de manejo alimentar, como a formulação de dietas balanceadas e enriquecidas de nutrientes específicos, uso de aditivos alimentares para promover a saúde intestinal, implementação de programas de vacinação e o monitoramento da qualidade da água de bebida são essenciais para fortalecer a imunocompetência em frangos de corte desde a fase inicial.

Os probióticos, por exemplo, são microrganismos benéficos que podem ajudar a restaurar e manter o equilíbrio da microbiota intestinal, contribuindo para uma melhor saúde digestiva e imunológica. Os prebióticos, por sua vez, são substâncias que estimulam o crescimento e a atividade desses probióticos no trato gastrointestinal, promovendo um ambiente intestinal saudável. Ácidos orgânicos e antioxidantes também podem desempenhar papéis importantes na redução da carga bacteriana patogênica e na proteção das células contra danos oxidativos, respectivamente, contribuindo para uma melhor saúde geral das aves.

Além disso, é essencial monitorar e garantir a qualidade da água de bebida fornecida às aves. “A água desempenha funções essenciais na fisiologia das aves e pode afetar diretamente a digestão e a absorção de nutrientes. Água contaminada ou de má qualidade pode comprometer a saúde das aves, tornando-as mais suscetíveis a doenças e prejudicando a eficácia da nutrição fornecida através da dieta”, reforça Beirão.

Desafios nutricionais

Os desafios nutricionais enfrentados durante a fase inicial de crescimento das aves de corte são diversos e podem ter impactos significativos na imunocompetência e no desempenho geral das aves. “Um dos principais desafios é garantir que as aves recebam uma dieta balanceada e de alta qualidade desde o início. Isso envolve fornecer os nutrientes essenciais necessários para um crescimento saudável, bem como evitar deficiências ou excessos que possam comprometer a saúde das aves”, salienta o especialista.

Além disso, garantir a ingestão adequada de nutrientes essenciais é fundamental para promover a imunocompetência das aves. “Deficiências de nutrientes importantes, como vitaminas, minerais e aminoácidos, podem enfraquecer o sistema imunológico das aves, tornando-as mais suscetíveis a doenças e infecções”, menciona o profissional.

Segundo Beirão, outro desafio nutricional importante é lidar com fatores ambientais que podem afetar a ingestão de alimentos e a absorção de nutrientes pelas aves. “Mudanças na temperatura ambiente, estresse térmico, qualidade do ar e outros fatores ambientais podem influenciar o comportamento alimentar das aves e sua capacidade de absorver nutrientes adequadamente”, afirma o médico-veterinário.

Esses desafios nutricionais não apenas representam obstáculos para o crescimento e o desenvolvimento saudável das aves, mas também têm um impacto direto na imunocompetência das aves, tornando-as mais suscetíveis a doenças e comprometendo seu desempenho geral. “É essencial adotar estratégias de manejo alimentar eficazes para enfrentar esses desafios e garantir a saúde e o bem-estar das aves desde as fases iniciais de crescimento. Isso inclui a formulação cuidadosa de dietas balanceadas, o uso estratégico de suplementos nutricionais, o monitoramento regular da saúde das aves e a implementação de medidas para mitigar os efeitos adversos de fatores ambientais sobre a ingestão de alimentos e a absorção de nutrientes”, evidencia.

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Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Resultados uniformes e consistentes para uma maior eficiência econômica em granjas avícolas

A eficiência alimentar é o principal indicador de performance técnica na produção de aves e suínos. Com os preços da carne e ovos em alta, mas nem sempre compensando os aumentos dos custos com a alimentação, a taxa de conversão alimentar se torna o primeiro indicador a ser melhorado.

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A grande pressão nos preços tem forçado todas as organizações a melhorarem sua eficiência econômica de uma maneira profunda. O mundo da produção animal não está imune a essa limitação, muito pelo contrário. Tanto para a produção de carne de frango, ovos ou carne suína, os custos com a alimentação representam mais de 50% dos custos de produção no campo. Este é o motivo pelo qual é essencial focar na eficiência alimentar.

Porém, na cadeia alimentar, o campo não é a única parte envolvida. Empresas de produção e abatedouros têm suas próprias dificuldades. Ainda que, atualmente, o foco principal seja em custos com energia e mão de obra, estas empresas também têm que gerenciar as oscilações na produção. Na verdade, o número e o peso dos animais no frigorífico nunca alcançam o que foi planejado na logística. Por outro lado, a mortalidade e as variações de manejo na performance de crescimento são fontes de divergências que penalizam os frigoríficos e toda a cadeia de produção.

Hoje, é possível melhorar a situação através de ações em ambas:

A resiliência da economia das propriedades através da eficiência alimentar.
A eficiência econômica através da uniformidade na produção.
A eficiência alimentar para a sustentabilidade econômica das granjas

A eficiência alimentar é o principal indicador de performance técnica na produção de aves e suínos. Com os preços da carne e ovos em alta, mas nem sempre compensando os aumentos dos custos com a alimentação, a taxa de conversão alimentar se torna o primeiro indicador a ser melhorado.

Algumas soluções técnicas com o objetivo de baixar o custo de alimentação rapidamente se mostram limitadas. A performance, ou pelo menos a taxa de consumo de ração, devem ser mantidas para continuar tirando o máximo de proveito dos altos preços da venda dos produtos. Portanto, cada vez que um novo ingrediente é adicionado ou as margens de segurança para exigências nutricionais são reduzidas, uma medida para proteger os resultados deve ser implementada. Aditivos nutricionais à base de óleos essenciais e formulados para performance têm seu papel nessa estratégia, e com baixo investimento.

Uma outra abordagem é a melhoria na produtividade da carne e ovos. Nessa situação, o alvo é reduzir a taxa de conversão alimentar para baixar os custos com a alimentação e/ou produzir mais pelo mesmo preço. Novamente, aditivos formulados com óleos essenciais são relevantes pelo seu investimento acessível e retorno elevado (Figura 1). Este exemplo de resultado consistente foi demonstrado por uma pesquisa através de uma meta-análise baseada em 25 experimentos conduzidos em granjas comerciais de sete países diferentes.

Figura 1 – Aumento na taxa de crescimento e eficiência alimentar de frangos de corte consumindo um blend de extrato de plantas. Blend de extrato de plantas = Dieta Controle + 100 ppm de extrato de plantas.

 

Por fim, o sucesso da operação atualmente reside na uniformidade dos resultados obtidos apesar da diferença entre as granjas. A combinação certa de ativos na dosagem correta se torna uma solução que proporciona resultados uniformes e consistentes em uma variedade de ambientes. Quanto mais completa e sinérgica é a composição, mais efetivo é o produto (Figura 2). Isto foi muito bem descrito em uma meta-análise baseada em artigos publicados sobre a resposta do carvacrol na performance de frangos de corte.

Figura 2 – Associação sinérgica de carvacrol e especiarias potencializam os benefícios e o uso em frangos de corte.

Uniformidade para simplificar o planejamento da produção e melhorar a eficiência econômica

Na dinâmica de organização da produção, a chave para alcançar eficiência econômica reside em um planejamento estruturado: é essencial alinhar o envio de animais para abate que correspondam em número e qualidade às demandas diárias dos frigoríficos. No entanto, a criação de frangos representa um desafio considerável para a exatidão de um planejamento matemático.

O produto capaz de fazer animais de diferentes propriedades atingirem o mesmo peso no mesmo dia ainda não está disponível. Entretanto, aves alimentadas com um blend de extratos sinérgico apresentam um ganho de peso maior e mais uniforme. As divergências de performance observadas entre um lote e outro são de fato menores, assim como as diferenças de planejamento. Simplesmente, reduzindo os atrasos em diferentes propriedades fica fácil ganhar um dia efetivo de produção que, dependendo da situação, pode ser aproveitado para um vazio sanitário mais seguro ou um aumento na produção geral: ganhar um dia de produção por ciclo equivale a um acréscimo de 2% na produção anual.

Esta é a razão pela qual uma linha de agentes naturais à base de extratos de plantas e especiarias é utilizada para aprimorar a eficiência alimentar e reforçar a uniformidade na produção, contribuindo assim para melhorias contínuas na produtividade geral:

  • Lotes mais lucrativos para os produtores: redução de conversão alimentar.
  • Lotes mais homogêneos no frigorífico: diminuição de penalizações aos produtores, melhor performance ao abate.
  • Resultados mais consistentes entre um lote e outro: otimizando o planejamento de produção.

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Fonte: Por Jean-François Gabarrou, gerente Científico Animal Care da Phodé
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Avicultura

Nutrição responde por 60% das emissões de CO₂eq da avicultura

É essencial adotar estratégias que visem reduzir as emissões na produção de ração, como o uso de ingredientes alternativos de baixo impacto ambiental, a otimização da eficiência nutricional e a implementação de tecnologias mais sustentáveis no processo de produção de alimentos para os animais.

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A busca por uma produção animal mais sustentável é uma prioridade global, impulsionada pela necessidade incessante de aumentar a eficiência produtiva ao mesmo tempo em que se reduz o impacto ambiental. Nesse cenário desafiador, o Brasil, reconhecido mundialmente pela sua potência agropecuária, enfrenta uma competição acirrada por inovações e soluções que possam elevar seus padrões de produção animal.

Para discutir esses desafios e as oportunidades que se avizinham, o presidente da Associação Latino-Americana de Nutrição Animal (Feedlatina), Roberto Ignacio Betancourt, autoridade reconhecida internacionalmente no campo da nutrição animal e da agricultura sustentável, participou do 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), que aconteceu entre os dias 09 e 11 de abril, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC), trazendo à tona questões como a pressão para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, a necessidade de minimizar o desperdício de recursos naturais e o fomento à promoção de práticas agrícolas mais éticas e socialmente responsáveis. “É muito importante estarmos cientes que para crescermos temos que olhar o mercado global de proteína animal, pois o nosso consumo local já é elevado e a população brasileira cresce pouco. É preciso entender que o mercado global está mudando e agora não adianta apenas ter preço e qualidade. Estamos entrando numa nova era, na qual a sustentabilidade e as emissões de carbono podem fechar ou abrir mercados, ou mesmo até impor penalidades”, expõe Betancourt, que também atua como diretor do Departamento do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e representa o Brasil na Federação Internacional da Indústria de Alimentos para Animais.

Presidente da Feedlatina, diretor da Fiesp e representante do Brasil na Federação Internacional da Indústria de Alimentos para Animais, Roberto Ignacio Betancourt: “Apesar das dificuldades, a indústria avícola brasileira vem avançando, conseguindo aliar melhorias ambientais à eficiência econômica” – Divulgação/Feedlatina

Conforme o especialista, a recuperação de pastagens aliada às tecnologias e ganhos de eficiência trazidas pela nutrição animal deverão dar importantes contribuições para uma transformação na produção pecuária no Brasil nos próximos anos, com ganhos em termos de precocidade, lotação e qualidade da carne produzida no país. “O setor já experimenta uma mudança acelerada, impulsionado pelos avanços na geração de energia limpa, melhoramento genético, nutrição de precisão, conhecimento e manipulação da microbiota gastrointestinal, mas é preciso que a tecnologia chegue a todos, inclusive nos pequenos produtores, para que tenhamos um cenário que possa ser considerado de mudança estrutural nos indicadores de produção e produtividade. Os benefícios ambientais serão imensos e teremos o desafio de quantificá-los, incorporando o carbono sequestrado pelas boas práticas de produção na análise de ciclo de vida da carne”, anseia.

De acordo com o palestrante, entre os principais desafios que o Brasil enfrenta na busca por uma produção animal mais sustentável, em comparação com outros países, está a urgência de desvincular o desmatamento ilegal na Amazônia da produção animal. “Somos muito fiscalizados por termos a maior e mais preservada floresta tropical do planeta, o que nos torna alvos de muitas organizações ambientalistas, principalmente das ONGs que atuam na Amazônia, o que acaba influenciando a opinião pública global”, menciona.

À medida que o mundo avalia a sustentabilidade em métricas ligadas à análise do ciclo de vida, Betancourt observa que os números brasileiros são excelentes. No entanto, quando acrescidos das emissões resultantes da mudança no uso da terra ou desmatamento, o país acaba se tornando menos sustentável pela métrica de emissões de CO2 equivalente (CO₂eq). “Combater o desmatamento ilegal é de total interesse do setor produtivo, bem como dissociá-lo da produção formal de carne”, ressalta.

Pressão ambiental x bem-estar animal

Em relação a como a pressão ambiental e as preocupações com o bem-estar animal estão influenciando as práticas de produção da avicultura de corte no Brasil, o presidente da Feedlatina ressalta que o país faz um excelente trabalho na área de bem-estar animal, com o apoio de diversas entidades, institutos de pesquisa, empresas, cooperativas, produtores, governo e academia. “Esse esforço coletivo se reflete em um excelente desempenho na produtividade e sanidade dos animais, o que tem conquistado a confiança da opinião pública e dos consumidores, além de diminuir atritos”, salienta. Contudo, o profissional ressalta que é um trabalho contínuo, que demanda constante atenção e aprimoramento. “É preciso ter clareza de que essa é uma ação permanente, que envolve diálogo com o governo, parlamentares, mas também a necessidade de esclarecimentos junto à opinião pública em geral e aos consumidores em especial. Isso tudo à luz dos melhores indicadores que a academia e os institutos vêm produzindo nesta área. O desafio é grande, mas estamos provavelmente mais preparados para essa agenda do que os nossos concorrentes internacionais”, salienta.

Atualmente, a mesma pressão nacional e global que influencia o bem-estar animal está alcançando as questões ambientais. Enquanto o bem-estar animal está mais restrito a ações dentro das granjas, transporte e frigoríficos, a questão ambiental abrange toda a cadeia de produção, desde o produtor de grãos e matérias-primas para a produção de ração, passando pelo transporte, armazenagem, fontes de energia, impactos climáticos, condições das granjas, tratamento de dejetos, transporte, embalagens, entre outros aspectos. Ou seja, do campo à mesa, toda a cadeia produtiva está envolvida. “Talvez seja por isso que o desafio ambiental é ainda mais complexo, exigindo uma abordagem integrada e holística para lidar com as questões de sustentabilidade em toda a cadeia de produção”, argumenta, enfatizando: “A busca por práticas mais sustentáveis na avicultura de corte no Brasil demanda um esforço conjunto de todos os elos da cadeia, desde os produtores rurais até os consumidores finais, visando promover um sistema de produção mais equilibrado e responsável com o meio ambiente”.

60% das emissões

Betancourt evidencia que o setor mais crítico na avicultura de corte para as emissões de CO₂eq é a nutrição animal, que contribui com aproximadamente 60% das emissões. “Por isso dependemos da sustentabilidade de nossa agricultura para mitigar esses impactos. O frango recebe as emissões das rações no conceito de ciclo de vida.  É essencial adotar estratégias que visem reduzir as emissões na produção de ração, como o uso de ingredientes alternativos de baixo impacto ambiental, a otimização da eficiência nutricional e a implementação de tecnologias mais sustentáveis no processo de produção de alimentos para os animais”, pontua.

Legislação

Apesar do Brasil possuir uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, com instrumentos como o CAR, Código Florestal e regulamento de resíduos, além de uma matriz energética extremamente limpa, Betancourt aponta que o impacto na avicultura brasileira ainda não é totalmente positivo devido à dificuldade em transformar essas regulamentações em métricas ambientais favoráveis ao setor. “Isso se deve, principalmente, à ineficiência e a baixa participação do Brasil nas esferas globais responsáveis por estabelecer as regras desse jogo. O mundo não vai valorizar as nossas reservas florestais espontaneamente, vamos ter que brigar para colocar todo o nosso trabalho ambiental nos números globalmente aceitos”, afirma o diretor da Fiesp.

Obstáculos

O especialista reforça que a sustentabilidade caminha lado a lado com a eficiência e se traduz em ganhos de produtividade e rentabilidade, gerando benefícios para a sociedade em geral. No entanto, o principal

desafio reside na falta de conhecimento e, portanto, de valorização deste trabalho por parte do consumidor. “A regulação internacional é feita de forma a atender aos interesses locais dos grandes reguladores. O caso mais clássico é o da União Europeia, que se propõe ao papel de ‘reguladores do mundo’, mas com o discurso de elevar o patamar da sustentabilidade, impõem regras que, em grande parte dos casos, somente as tecnologias de dentro do bloco podem atender, traduzindo-se em barreiras ao comércio internacional”, frisa.

Enfático, Betancourt afirma que o principal desafio socioeconômico enfrentado pela indústria avícola do Brasil, em relação à sustentabilidade, é financeiro. “Enquanto países mais ricos, como os Estados Unidos e a Europa, podem contar com financiamento público para promover a transição ambiental, com subsídios e linhas de crédito acessíveis, o Brasil não tem situação fiscal favorável para fomentar, via financiamento público, todas as ações necessárias de transição ambiental para reduzir as emissões, uma vez que também há competição por recursos com áreas estratégicas, como saúde e educação”, analisa o especialista, acrescentando.
“O nosso desafio é estruturar mecanismos mais sofisticados de financiamento, mas, em grande parte, devem ser utilizados recursos próprios de empresas e produtores, o que pode limitar a amplitude das ações. É por isso que em conferências climáticas, países em desenvolvimento demandam a efetivação dos compromissos dos países mais ricos para fomentar a transição. O financiamento prometido pelas nações mais ricas para auxiliar nessa transição. Apesar das dificuldades, a indústria avícola brasileira vem avançando, conseguindo aliar melhorias ambientais à eficiência econômica”, garante.

Gestão de resíduos

Quanto às práticas de gestão de resíduos na produção avícola brasileira, Betancourt destaca que o setor vem evoluindo de forma significativa, com o apoio da Embrapa e outras instituições. De acordo com ele, há um histórico de sucesso na utilização de subprodutos, biodigestores, produção de biogás, biofertilizantes e na redução de resíduos. “As empresas integradoras e cooperativas agropecuárias têm desempenhado um papel fundamental na replicação dessas soluções em larga escala. Há muitos exemplos de utilização de cama de frango como substrato para a produção de biogás”, exalta, emendando: “Esses modelos de sucesso demonstram que é possível implementar práticas de gestão de resíduos mais sustentáveis na produção avícola brasileira, contribuindo não apenas para a redução do impacto ambiental, mas também para a eficiência operacional e econômica do setor”.

Sistemas de produção “mais sustentáveis”

Betancourt afirma que o principal obstáculo para a adoção de sistemas de produção mais sustentáveis, como a produção orgânica ou de aves criadas ao ar livre, na avicultura de corte brasileira é o mercado. “À medida que os custos de produção aumentam, é necessário encontrar quem esteja disposto a pagar mais para que a produção seja viável”, sintetiza.

O especialista reforça que é importante não confundir essas alternativas de criação com sustentabilidade, já que muitas vezes podem resultar em um aumento das emissões de CO2 por kg de carne produzida. “O Brasil tem a capacidade de atender a todos os anseios dos consumidores”, afirma.

Outro fator a ser considerado, observado na Europa, foi o aumento do risco de transmissão de doenças, como a Influenza aviária, para aves criadas ao ar livre. “A sanidade do plantel é um aspecto de extrema importância para a sustentabilidade do setor como um todo. Enfrentar esse desafio exige uma abordagem equilibrada, considerando não apenas os aspectos ambientais, mas também os econômicos e de saúde pública”, elenca.

União do setor

Nesta nova era de sustentabilidade, o especialista ressalta a importância da união de todos os elos da cadeia. “Ninguém será capaz de resolver todos os desafios sozinho. Para continuar crescendo no exterior, a avicultura brasileira precisa estar alinhada com a agricultura, nutrição e saúde animal, governo, logística, fontes de energia, indústria de equipamentos, educação das pessoas, centros de pesquisa, organizações trabalhistas e entidades locais e internacionais”, ressalta. “O setor que tem entidades fortes, competentes e atuantes como a ABPA, Sindirações, Sindan, leva muita vantagem. A recente presidência do Ricardo Santin no Conselho Internacional de Aves é motivo de orgulho para todos nós e mostra que estamos no caminho certo”, complementa.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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