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Airton Spies traz olhar profundo sobre presente e futuro da cadeia de leite no Brasil

À medida que o setor cresce, várias tendências moldam a forma como o leite é produzido, processado, distribuído e consumido no país.

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Foto: Ari Dias/AEN-PR

Com uma vasta geografia e recursos naturais abundantes, o Brasil possui condições favoráveis para se destacar cada vez mais na produção de leite. Historicamente, a região Sul do país tem desempenhado um papel de destaque nesse setor, com suas terras férteis e clima propício para a pecuária leiteira, no entanto, o futuro do leite brasileiro transborda as fronteiras dos estados sulistas, com diferentes regiões do país explorando seu potencial e contribuindo para o crescimento e a diversificação da indústria leiteira, com destaque para o insuperável estado de Minas Gerais.

À medida que a cadeia cresce, várias tendências moldam a forma como o leite é produzido, processado, distribuído e consumido no país. O aumento da conscientização dos consumidores sobre a origem e a qualidade dos alimentos também tem impulsionado a demanda por produtos lácteos mais saudáveis, sustentáveis e inovadores, uma vez que os consumidores estão cada vez mais interessados em saber sobre as práticas de produção, bem-estar animal, rastreabilidade e impacto ambiental da indústria do leite.

Além disso, a tecnologia desempenha um papel crucial na transformação do setor leiteiro. Desde a aplicação de sistemas de monitoramento e gestão em tempo real nas fazendas até a automação de processos industriais, a tecnologia está otimizando a eficiência da produção, melhorando a qualidade e segurança dos produtos e permitindo a adoção de práticas mais sustentáveis.

No entanto, à medida que o setor vislumbra um futuro promissor no Brasil, também enfrenta desafios significativos. Questões como mudanças climáticas, escassez de recursos naturais, volatilidade dos preços, concorrência global e a necessidade de garantir a rentabilidade dos produtores. Neste contexto, o engenheiro agrônomo, coordenador geral da Aliança Láctea Sul-Brasileira e consultor da Spiesagro, Airton Spies, afirma que explorar o futuro do leite no Brasil envolve analisar as oportunidades emergentes, as tendências tecnológicas, as demandas dos consumidores e as estratégias adotadas pelos diversos atores do setor.

Região  Sul

Engenheiro agrônomo, coordenador geral da Aliança Láctea Sul-Brasileira e consultor da Spiesagro, Airton Spies – Foto: Divulgação

O profissional enfatiza que a produção de leite na região Sul do Brasil está se expandindo além da média nacional, impulsionada pelo uso crescente de tecnologias avançadas que aprimoram a produtividade e a qualidade do leite. “Estamos testemunhando uma transformação no setor, uma revolução silenciosa, que está rompendo com o modelo tradicional de produção de leite para consumo familiar e venda de excedentes, migrando para um modelo no qual os produtores se especializam e o leite se torna sua principal ou única atividade econômica. Isso resulta em uma maior escala de produção e uma diminuição no número de produtores”, analisa.

Conforme Spies, os produtores de médio e grande porte estão aumentando sua escala de produção e profissionalizando suas operações, seguindo o exemplo de outras cadeias de produção animal. “Estima-se que nos últimos oito anos mais de 50% dos produtores de leite deixaram a atividade nos três estados da região Sul”, estima o coordenador geral da Aliança Láctea Sul-Brasileira.

No setor de laticínios também ocorre uma mudança significativa, com a concentração da produção em um número menor de empresas. Gradualmente, o setor está se organizando para aumentar a eficiência da logística de coleta e investir no desenvolvimento da capacidade de seus fornecedores de leite. “Tudo isso contribui para tornar o setor mais competitivo em relação a outras regiões do país”, comenta o engenheiro agrônomo.

Por sua vez, Spies enaltece que as principais oportunidades do setor residem na expansão do mercado externo para produtos lácteos brasileiros. Embora a região Sul já seja responsável por 40% do leite industrializado do país, sua população consumidora representa apenas 15% do total do Brasil. “Para aumentar ainda mais a produção é crucial conquistar novos mercados, inclusive em regiões distantes. No entanto existem grandes desafios, entre os quais a necessidade de reduzir o custo de produção, resolvendo os gargalos que o setor enfrenta e que resultam em custos médios finais 20% mais elevados dos produtos em relação aos custos dos lácteos nos principais países exportadores”, expõe Spies.

Para lidar com esses desafios, os governadores e líderes da região sulista estabeleceram a Aliança Láctea Sul-Brasileira em 2014. Essa aliança é um fórum permanente que reúne o setor público e privado com o objetivo de resolver problemas comuns e aproveitar as oportunidades, por meio de uma estratégia conjunta delineada no Plano de Eficiência e Competitividade para o setor de leite.

Tendências 

A perspectiva para a produção de leite na região Sul é a continuação do processo de transformação estrutural e tecnológica que já está em andamento. Isso vai levar à modernização do setor e à sua maior competitividade, inclusive no mercado global. “Os efeitos dessa transformação incluem a eliminação de ineficiências na cadeia de produção e a fabricação de produtos lácteos que possuem os três atributos essenciais para competir no mercado internacional: alta qualidade, baixo custo e eficiência logística/industrial”, menciona Spies.

Produção nacional x produção sulista

Em relação a produção total de leite produzido no Brasil, Spies diz que tem se mantido estagnada nos últimos nove anos, tanto em termos de volume total produzido, que se mantém em 34 bilhões de litros por ano, como na produção de leite industrializado, que estagnou em 25 bilhões de litros/ano. “Na verdade, houve até mesmo uma redução de 5,1% em 2022 quando comparado com o ano anterior. No entanto, na região Sul, a produção de leite continua a crescer impulsionada pela revolução tecnológica e organizacional que o setor tem implementado.

Essa tendência é particularmente evidente na região formada pelo Noroeste gaúcho, Oeste catarinense e Sudoeste paranaense, que representa a área com a maior concentração desse novo cluster de produção de leite no Brasil. Além disso, a mesorregião do Centro Oriental do Paraná se destaca pela produção de leite com o uso de tecnologia de ponta e um cooperativismo sólido, tornando-se a nova referência para a produção competitiva de leite no país”, destaca.

Inovações

O engenheiro agrônomo ressalta que novas tecnologias são apresentadas e incorporadas a todo momento na cadeia produtiva do leite. No nível de produção a campo, existem avanços que aprimoram a produtividade, a qualidade e humanizam o trabalho dos produtores. A melhoria genética do rebanho, o desenvolvimento de novas variedades de plantas forrageiras, o uso de máquinas mais adequadas para a produção de alimentos, o manejo do gado, a ordenha e o resfriamento do leite, bem como tecnologias que melhoram a sanidade e o bem-estar animal, são apenas alguns exemplos. “Inovações para aprimorar a gestão do negócio e monitorar animais, máquinas e pastagens por meio de inteligência artificial, agricultura de precisão e ordenha automatizada estão se tornando realidade no campo. Esses avanços contribuem para melhorar a eficiência e os resultados, seja na produção baseada em pastagens ou em sistemas de confinamento, como compost barn ou free stall”, avalia o consultor.

No setor industrial, Spies evidencia melhorias no transporte do leite, com caminhões adequados que controlam e mantêm a qualidade do leite ao longo de todo o percurso e que estão impactando a cadeia produtiva. “Essas mudanças estão acontecendo com tanta velocidade, que no curto e médio prazo, não haverá mais espaço para quem não adotar os novos padrões tecnológicos. A régua vai subir para todos”, enaltece.

Iniciativas e políticas públicas 

Existem várias iniciativas e políticas públicas que podem ser implementadas para apoiar o crescimento e a sustentabilidade da produção de leite na região Sul. Spies enfatiza que uma das principais missões dos governos é garantir um ambiente macroeconômico estável, promovendo um crescimento seguro e livre da economia. “Isso impulsiona investimentos, gera mais empregos, melhora a renda da população e, consequentemente, aumenta o consumo de produtos lácteos, que está estagnado no Brasil em 165 litros por habitante/ano há quase uma década, devido à alta elasticidade-renda desses produtos”, pondera Spies.

Para a melhoria da eficiência e da competitividade da produção, o profissional cita as principais políticas públicas que precisam ser implantadas para apoiar o crescimento e a sustentabilidade do setor, entre as quais estão melhoria nas estradas rurais, investimentos em redes de energia trifásica, infraestrutura de conectividade para acesso à internet no campo, defesa agropecuária robusta para proteger os rebanhos e sanear doenças como a brucelose e tuberculose, incentivo à pesquisa e assistência técnica, linhas de crédito customizadas para a produção de leite e especialmente, um programa de incentivo à exportação de lácteos para as indústrias. “É preciso criar um ambiente favorável a investimentos, com crédito e incentivos fiscais, para criar as condições iniciais de competitividade exportadora. O Brasil já tem habilitação para exportar lácteos para dezenas de países, porém o problema é que nossos custos de produção ainda estão acima da média dos principais exportadores”, avalia, salientando: “Superar os gargalos que geram esses custos a mais deve ser a prioridade das políticas públicas e do setor privado. Nesse contexto se inclui a reforma tributária, para proporcionar um tratamento justo e eliminar as assimetrias na tributação que o setor enfrenta. Somente através de esforços conjuntos será possível impulsionar a competitividade e a sustentabilidade da produção de leite no país”.

Desafios e oportunidades para os produtores

Foto: Shutterstock

Atualmente, os produtores de leite no Sul do Brasil enfrentam diversos desafios que afetam sua competitividade e impactam o setor como um todo. O principal desafio reside no alto custo de produção dos lácteos, o que resulta em uma falta de competitividade no mercado externo. Diversos fatores contribuem para esse alto custo, incluindo a baixa produtividade média por vaca e por hectare de terra, a baixa produtividade da mão de obra e a desorganização da logística. “Trabalhamos muito e empregamos uma estrutura fixa muito cara para produzir pouco leite. A produção de leite no Brasil é muito dispersa e heterogênea. A média nacional é de 2.250 litros de leite/vaca/ano, mas na região Sul as vacas já produzem 3.800 litros/ano em média”, compara.

Na prática, o Brasil tem vários “Brasis” quando o assunto é leite, tanto na produção, como no mercado. Enquanto a região Nordeste, com seus nove estados, produz menos da metade do volume total que sua população de 67 milhões de habitantes consome, a região Sul tem uma produção que atende 2,5 vezes o volume que seus 30 milhões de habitantes absorvem. “Por essa razão, as políticas de desenvolvimento do setor devem ser diferenciadas. No Nordeste e demais regiões do Brasil, a produção pode aumentar para abastecer o mercado local e regional, enquanto no Sul temos que preparar a produção para conquistar o mercado internacional”, ressalta, complementando: “Devemos lembrar que o mercado de lácteos no Brasil ainda goza da proteção de uma Tarifa Externa Comum de 28%, que o país impõe aos produtos importados de países que não fazem parte do Mercosul. É importante eliminar as ineficiências que o setor ainda tem e se preparar para poder competir de igual para igual com o mercado”.

O consultor reitera que as oportunidades estão na exportação e no aumento do consumo interno por meio de melhoria da renda per capita da população, resultado do crescimento da economia. Porém o mercado interno está saturado para o poder de compra atual dos consumidores.

A produção nacional atende 97% do consumo interno e o país exporta menos de 0,2% da produção nacional. “A situação de estagnação atual implica em que para um produtor aumentar sua produção outro tem que reduzir ou sair da atividade. Portanto, para ‘furar o teto’ limitado pelo mercado interno, a região Sul precisa organizar e formatar sua produção para rumar para os portos, embarcar nos navios na forma de leite em pó, queijos e manteiga e conquistar os principais mercados importadores do mundo. Existem também oportunidades para exportar produtos diferenciados de maior valor agregado que devemos aproveitar, mas o volume é limitado”, pontua Spies.

A renda per capita em países populosos como a China e diversas outras nações da Ásia, Oriente Médio, África, América Latina e América Central está melhorando e o consumo de proteínas animais tende a crescer.

A boa notícia para o Brasil é que os principais exportadores de lácteos – Nova Zelândia, União Europeia, Estados Unidos, Austrália, Argentina e Uruguai – têm pouco espaço para aumentar sua produção, muito por conta de pressões ambientais e metas assumidas no Acordo do Clima pela redução de emissões de gases que causam efeito estufa. “Nesse cenário, o Brasil terá espaço para participar ativamente no abastecimento desses mercados, pois temos aqui, mais terra, água, sol e fotossíntese para produção de plantas forrageiras e grãos que as vacas convertem em produtos lácteos. Precisamos converter essa nossa vantagem comparativa em uma vantagem competitiva, aliás, como já fizemos em diversas cadeias do agronegócio brasileiro, inclusive, com o boi de corte”, frisa o profissional.

Sustentabilidade  ambiental e Bem-estar animal

A sustentabilidade ambiental e a preocupação com o bem-estar animal estão tendo um impacto muito grande sobre a cadeia produtiva. Spies ressalta que essas influências resultam do aumento da consciência ambiental da população em geral e são drivers positivos para o setor melhorar seu desempenho e sua imagem. “O consumo consciente e responsável está se espalhando como uma prática normal entre os consumidores, principalmente em mercados mais exigentes. A produção de lácteos feita com degradação de recursos naturais não será tolerada pelo mercado. Práticas de agricultura sustentável, regenerativa, que reduza ou zere as emissões líquidas de carbono ao longo da cadeia produtiva vão ser muito mais valorizadas e agregam valor”, exalta o consultor.

O coordenador geral da Aliança Láctea Sul-Brasileira elenca que a produção atual precisa atender aos princípios do tripé da sustentabilidade – ambiental, econômica e social – e também estar alinhada com a agenda ESG – ambiental, social e governança – para o que as certificações de conformidade serão necessárias. “Investimentos em geração de energia renovável com base em biogás, fotovoltaica e eólica devem ser parte do modelo de produção com sustentabilidade”, assegura, complementando: “Produzir leite submetendo os animais a qualquer tipo de sofrimento ou crueldade é totalmente rechaçado pelo mercado e pelos consumidores, além de ser eticamente deplorável. O setor terá que dar toda a atenção e investir cada vez mais em conforto animal, para gerar as condições de bem-estar animal necessárias. A produção de leite com ‘vacas felizes’ não será um diferencial, mas uma condição para acessar o mercado”, reforça Spies.

Indústrias de laticínios

De outro lado, Spies salienta que as indústrias de laticínios precisam investir no desenvolvimento dos ‘seus fornecedores’. Isso significa estabelecer relações mais fidelizadas, sólidas e duradouras com os produtores de leite. “O setor não pode funcionar na relação informal, baseada no ‘fio do bigode’. Há necessidade de se estabelecer formas de contratualização da produção, para trazer mais segurança para ambos os lados. Só assim teremos mais condições de investir e crescer. A alta ociosidade da capacidade industrial, que na região Sul é estimada em 40%, é nefasta e gera custos que o setor não pode carregar, se quiser competir abertamente com o mercado global”, alerta Spies, ampliando: “Não existe produtor de leite sustentável sem indústria, e não existe indústria viável sem o produtor. É preciso estabelecer parcerias formais, com integração da produção, que vai trazer mais previsibilidade e competitividade para a cadeia produtiva. Sem contratos, não há como exportar, e sem exportação, há pouco espaço para crescer”.

Menos produtores de leite

A redução do número de produtores de leite, por meio da seleção dos mais eficientes, como vem acontecendo, não significa necessariamente que o setor vai empregar menos pessoas. Ao contrário, o número de empregos, renda e oportunidades que o setor vai gerar depende muito mais do volume total de leite que será capaz de produzir, processar e vender. “Teremos menos produtores de leite, mas como a produção utiliza muito trabalho, surgirão milhares de empregos ao longo da cadeia produtiva, de forma que a mudança em curso vai trazer muitos benefícios para o país. O leite é o setor que tem grandes ganhos de eficiência a incorporar e é sim candidato a ser mais uma estrela do agronegócio brasileiro”, exalta.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse gratuitamente a edição digital de Bovinos, Grãos e Máquinas. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

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Inundações no estado gaúcho geram grande preocupação entre agentes do setor pecuário

Mesmo nas regiões que não foram inundadas, os solos estão encharcados, dificultando o manejo dos rebanhos. Entre os frigoríficos, várias unidades consultadas pelo Cepea interromperam atividades por terem sido atingidos pela água ou pela dificuldade de locomoção dos funcionários.

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Foto: Ricardo Stuckert/PR

A exemplo de outros setores, a pecuária bovina de corte do Rio Grande do Sul tem sido impactada pelo maior desastre da história desse estado.

Segundo indicam pesquisadores do Cepea, além de pontes e estradas destruídas, pastagens estão embaixo d’água e animais foram arrastados pela enxurrada.

Mesmo nas regiões que não foram inundadas, os solos estão encharcados, dificultando o manejo dos rebanhos. Pecuaristas consultados pelo Cepea mostram um misto de desespero e desânimo.

Entre os frigoríficos, várias unidades consultadas pelo Cepea interromperam atividades por terem sido atingidos pela água ou pela dificuldade de locomoção dos funcionários. O transporte dos animais e da carne também está comprometido.

Representantes da indústria informam ao Cepea que alguns poucos permanecem ativos apenas para compras, mas sem previsão para os embarques. Feiras e exposições previstas para maio têm sido suspensas.

O segmento de insumos também enfrenta dificuldades de escoar rações e outros itens essenciais para as propriedades rurais.

Diante da gravidade da situação, agentes de todos os elos da pecuária consultados pelo Cepea ainda têm dificuldades de planejar os próximos dias.

Quanto a possíveis impactos desse cenário ao restante do Brasil, pesquisadores do Cepea destacam que, no Rio Grande do Sul, são criadas predominantemente raças europeias, mais adaptadas ao clima frio.

Assim, o gado e a carne desse estado não têm grande circulação em outras regiões, e, por isso, as ocorrências recentes não devem influenciar significativamente as negociações pecuárias do País. Em 2023, pelo porto de Rio Grande (RS), foram exportados 2,9% da carne bovina.

Fonte: Assessoria Cepea
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Chuvas no Rio Grande do Sul prejudicam setor lácteo e podem alterar sazonalidade de preços

Há laticínios que interromperam a produção, seja por danos causados em suas estruturas industriais, falta de energia elétrica ou pela impossibilidade de efetuar a captação do leite cru nas fazendas.

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Fotos: JM Alvarenga

O setor lácteo brasileiro também tem sentido os impactos das enchentes no Rio Grande do Sul. Segundo colaboradores consultados pelo Cepea, na última terça-feira (07), com áreas afetadas em todo o estado e estradas/rodovias interrompidas, a circulação de insumos, do leite cru e dos lácteos vem sendo prejudicada. Além disso, a falta de energia elétrica e de água assolam diversas regiões, refletindo em toda cadeia produtiva. Pesquisadores do Cepea alertam, ainda, que o comportamento sazonal dos preços ao produtor pode ser alterado.

Há laticínios que interromperam a produção, seja por danos causados em suas estruturas industriais, falta de energia elétrica ou pela impossibilidade de efetuar a captação do leite cru nas fazendas.

Laticínios e cooperativas que ainda mantêm suas atividades relatam esforços em conjunto para conseguir viabilizar a captação de leite cru. Apesar das perdas, buscam alternativas para captar o leite de propriedades menos afetadas e para realizar a distribuição de lácteos. Essas rotas, porém, elevam o custo logístico da operação, conforme apontado pelos agentes de mercado.

A dificuldade de acesso às fazendas prejudica a aquisição sobretudo de ração, com relatos de racionamento e menor produção devido à má alimentação do rebanho. Há, também, relatos de situações mais críticas que resultam em descarte de leite no campo, devido à falta de ração, energia elétrica e combustível.

A falta de energia elétrica impacta sobremaneira o setor: no campo, impede a automação da ordenha e o resfriamento do leite; na indústria, o processamento dos lácteos e sua conservação. Fazendas e laticínios que seguiram operando contaram com geradores e combustível para sua alimentação. A falta desses itens inviabiliza a produção do leite cru e dos lácteos em muitas regiões do estado nesse momento.

O abastecimento de lácteos para os canais de distribuição tem sido bastante prejudicado, principalmente por conta da situação calamitosa de Porto Alegre e da região central do estado. Com isso, há grande dificuldade de escoamento, o que compromete o abastecimento não apenas no Rio Grande do Sul, mas também em outros estados.

Colaboradores do Cepea afirmam que os prejuízos são visivelmente enormes, mas ainda incalculáveis.

Expectativa de preços

Sazonalmente, a produção de leite no Rio Grande do Sul tende a se elevar a partir da metade de abril, de modo que maio, junho e julho são meses em que, normalmente, a oferta sobe, devido às pastagens de inverno – e os preços, consequentemente, caem. Essa janela de produção possibilita que os lácteos do Sul abasteçam outros estados – já que, tipicamente, esse período marca a entressafra no Sudeste e no Centro-Oeste.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Neste ano, contudo, o cenário deve ser diferente ao refletir os problemas causados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Com redução da produção do leite no estado em maio, os preços ao produtor podem se comportar de maneira atípica.

Agentes de mercado consultados pelo Cepea acreditam que as perdas estruturais no campo e nas indústrias podem retardar a recuperação da oferta do leite cru e dos lácteos. Com isso, a perspectiva de preços ao produtor em alta se fortalece para este e para os próximos meses.

Em paralelo, acredita-se que, mesmo com muitas famílias desabrigadas, as compras institucionais de lácteos podem sustentar a demanda. De qualquer maneira, o aumento dos custos logísticos deve ser repassado às cotações dos lácteos.

Entretanto, não se tem, até o momento, uma projeção da intensidade dessas variações nos preços do leite cru e dos lácteos, na medida em que os agentes da cadeia ainda calculam os impactos e prejuízos das enchentes no Rio Grande do Sul. Fonte: Cepea (www.cepea.esalq.usp.br).

Fonte: Assessoria Cepea
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Nova tecnologia produtiva melhora desempenho da pecuária de cria

Animais ganham mais peso quando pastejam na integração lavoura-pecuária e podem ter melhor produção de hormônios sexuais e maior produção de anticorpos em sistemas com árvores. Sistema PPS traz resultados para a fazenda além do ganho de peso e da precocidade sexual do rebanho, abarcando também a sustentabilidade. Recomendação de manejo é feita para cada categoria animal ao longo de todo o ano.

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Sistemas com baixa emissão de carbono ou que neutralizam as emissões favorecem uma produção pecuária mais sustentável - Fotos: Gabriel Farias

Pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) reuniram resultados de mais de 10 anos de estudos com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) em uma recomendação de manejo específica para a pecuária de cria. O Sistema PPS, iniciais de precocidade, produtividade e sustentabilidade, é destinado a fazendas que trabalham com a raça Nelore no Brasil Central. A proposta é a de aproveitar os benefícios da integração lavoura-pecuária (ILP) e dos sistemas silvipastoris conforme a fase de vida do animal.

O novo sistema preconiza a rotação do rebanho em diferentes sistemas produtivos, de forma a obter maior ganho de peso na ILP e a ter maior produção hormonal e de anticorpos no sistema com árvores, resultando em precocidade sexual e melhor resposta do sistema imune. Ao mesmo tempo, ao adotar sistemas com baixa emissão de carbono ou que neutralizam as emissões, tem-se uma produção pecuária mais sustentável.

De acordo com o pesquisador Luciano Lopes, a definição da estratégia de manejo do Sistema PPS se baseou em diferentes resultados de pesquisas obtidos nos experimentos de ILPF da Embrapa Agrossilvipastoril. “Esses resultados envolveram comportamento e saúde animal, produtividade e alguns indicadores de precocidade sexual. A partir de então, pudemos perceber que alguns sistemas produtivos são melhores para cada categoria, de acordo com as suas necessidades e com o objetivo do produtor”, explica o pesquisador.

Lopes destaca que o Sistema PPS tem como característica o uso de mais de um sistema produtivo na fazenda. O planejamento deve ser feito de modo a se ter áreas com integração lavoura-pecuária e também áreas com ILPF ou silvipastoril (integração pecuária-floresta: IPF). “Apesar de ser um pouco mais complexo do ponto de vista operacional, esse manejo traz ganhos além do componente animal. A parte ambiental também é beneficiada em termos de dinâmica de carbono, por exemplo”, detalha.

Estratégia de rotação
Quando as matrizes entram na estação de monta precisam ter níveis hormonais mais elevados para que possam ciclar. Ao reduzir o estresse calórico, por meio do acesso à sombra das árvores, tem-se um melhor balanço hormonal. Dessa forma, recomenda-se que esta categoria animal seja levada para áreas com integração pecuária-floresta até que sejam emprenhadas.

Na etapa seguinte, quando o ganho de peso passa a ser importante para o desenvolvimento e o crescimento do feto e para melhoria do escore corporal da vaca, o lote de matrizes é conduzido para a ILP.

 

Próximo ao parto, as vacas retornam ao pasto sombreado, onde poderão reforçar seu sistema imunológico, passando anticorpos para os bezerros. Os partos ocorrem no sistema silvipastoril, proporcionando melhor conforto térmico para os recém-nascidos.

O Sistema PPS traz as recomendações de manejo e rotação dos lotes na fazenda, como as exemplificadas para cada categoria animal. Além das matrizes, há recomendações para vacas de primeira cria, bezerras desmamadas, novilhas em crescimento e animais de cria, engorda e descarte. Todas essas instruções estão em uma publicação da Série Sistemas de Produção lançada pela Embrapa Agrossilvipastoril e disponível para download gratuito aqui.

A publicação também traz orientações sobre o calendário de controle parasitário do rebanho, conforme a categoria e calendário sanitário e sobre a infraestrutura necessária para adoção do Sistema PPS. “O Sistema PPS se baseia nas vantagens que cada modalidade de consórcio oferece. As condições microclimáticas da IPF e os benefícios da ILP para o solo são aqui explorados em sua plenitude, podendo trazer vários outros benefícios além do ganho de peso para fazendas que trabalham com cria e recria e terminação de novilhas a pasto”, relata o pesquisador.

As pesquisas usadas para validar esta recomendação de manejo foram obtidas em experimentos com uso de rebanho Nelore, nas condições climáticas de Mato Grosso; por isso, a

Foto: Mylene Dias

restrição a esta raça. Novos trabalhos precisam ser feitos para que se valide o manejo para outras raças.

A Embrapa Agrossilvipastoril está trabalhando também em uma versão do Sistema PPS com foco no ganho de peso de machos.

Parcerias
As pesquisas que possibilitaram o desenvolvimento do Sistema PPS contaram com uma parceria com o setor produtivo, por meio da Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte), que forneceu o rebanho e parte do custeio durante todas as pesquisas, e da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), que participou durante alguns anos do custeio das despesas de manejo do gado. Também participaram dos trabalhos o pesquisador Fabiano Alvim Barbosa e professores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Fonte: Assessoria Embrapa Agrossilvipastoril 
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