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Qualidade e sanidade da cama de aviário

Má qualidade de cama e manejo inadequado podem ser causas de doenças infectocontagiosas, gerar aumento dos custos de produção, condenações de carcaças, entre outros problemas

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Artigo escrito por Evilásio Pontes de Melo, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Vetscience

A cama de aviário tem uma série de funções importantes, tais como ser altamente absorvente, favorecendo a retenção da água das excretas; diluir as excretas, reduzindo o contato das aves com esta fonte de contaminação; isolar as aves, especialmente quando jovens, do frio induzido pelo piso; proteger as aves do contato com uma superfície dura e desconfortável. Por isto, a escolha de um material adequado para a cama é fundamental.

Uma má qualidade de cama e um manejo inadequado podem ser as causas da emergência de doenças infectocontagiosas, como também gerar aumento dos custos de produção devido ao aumento de refugos, condenações de carcaças, necessidades de tratamentos terapêuticos, baixo desempenho zootécnico e aumento de riscos para veiculação de patógenos para o consumidor. A presença de bactérias na cama é inevitável, embora a ocorrência de espécies bacterianas possa ser ligeiramente diferente quando se analisa caso a caso, gerando camas com uma grande variedade de organismos e com uma concentração alta de bactérias viáveis. A umidade está entre os fatores mais importantes sobre a qualidade da cama. Os fatores que afetam a umidade da cama são temperatura, ventilação, bebedouros, nebulizadores e sistemas de resfriamento evaporativo mal regulados, excesso de sal na dieta.

Cuidados com a cama

Com o aumento do número de aves/m2, o consumo de água aumenta e a deterioração da cama pode ser antecipada, quando sua altura convencional é mantida. Assim, para lotes criados no inverno a cama deve ter 10 ou mais cm de espessura por causa da alta umidade. Para o verão, a espessura deve ser de pelo menos 15cm quando as densidades são de 14 ou mais aves/m2.

A reutilização da cama não pode ser feita sem levar em consideração a presença de bactérias oriundas do lote anterior. A substituição sumária da cama a cada lote teria um grande impacto sobre o ambiente natural e no custo de produção. Há, portanto, a necessidade de esforços por parte da avicultura organizada para reduzir os impactos negativos da reutilização da cama, sem, porém, aumentar demasiadamente os custos de produção e a utilização de madeira, como aconteceria com a substituição da cama a cada lote.

Além da carga microbiológica, a cama reutilizada pode liberar produtos químicos, como a amônia, que são potencialmente nocivos às aves. Os tratamentos mais utilizados no Brasil são a fermentação e a adição de cal hidratada na cama. A fermentação da cama dentro do galpão é utilizada como uma forma de permitir que bactérias termófilas inativem os patógenos, sobretudo as Enterobactérias. A cama fica amontoada durante o período de vazio da instalação, em torno de 10 a 12 dias.

Entre os problemas decorrentes da presença de bactérias em altas concentrações podem surgir contaminações ao ambiente natural, infecções nos frangos e maior contaminação do trato digestório por bactérias indesejáveis, resultando em maior contaminação dos produtos oriundos do abatedouro. A presença frequente de patógenos na cama, especialmente da família das Enterobactérias como (Salmonellas spp, Escherichia coli) e bactérias zoonóticas (Salmonellas spp, E. Coli e Campilobacter spp) como em geral, é o que gera preocupações com respeito a possíveis problemas causados no lote de frangos e eventualmente na saúde do consumidor.

É importante considerar que a fermentação da cama não destrói substâncias químicas como inseticidas, herbicidas, antibióticos e quimioterápicos, micotoxinas e toxina botulínica, portanto quando da suspeita de intoxicações, a cama deve ser descartada. Na reutilização de cama devemos considerar que o intervalo entre lotes deva ser superior a 10 dias, ideal 14 dias.

Reutilização da cama

Outro importante fator envolvido na disseminação de Salmonella spp. e Clostridium spp. é a cama do aviário, que vem a ser uma cobertura de aproximadamente 5 cm, disposta sobre o piso do galpão, feita a partir de materiais como raspas ou serragem de pinho, eucalipto, madeira de lei, casca de arroz, bagaço de cana, sabugo de milho ou palha. A cama de aviário pode ser renovada a cada ciclo de produção ou reutilizada entre quatro e seis lotes de frangos, quando cada lote fica alojado por aproximadamente 45 dias, assim, de modo geral, a densidade situa-se entre 12 e 15 aves por m2 de aviário.

Para diminuir os custos de produção e o impacto ambiental, um manejo comumente utilizado nas criações de frangos é a reutilização da cama por um período variável de cinco até seis lotes consecutivos. No entanto, o grande problema em relação ao período ou número de lotes de reutilização está mais relacionado ao aspecto sanitário, não sendo recomendável reutilizar a cama quando o lote anterior passou por algum desafio sanitário relevante. Nos casos em que o aviário não passou por um período de desafio sanitário, a reutilização da cama poderá ser realizada desde que o seu tratamento seja adequado a fim de diminuir a população bacteriana presente, inclusive de possíveis bactérias patogênicas.

A abundante microbiota da cama de aviário tem como principal origem a excreta das aves, incluindo bactérias do grupo das Enterobactérias e outras bactérias com potencial zoonótico. A exposição das aves a bactérias indesejáveis através do contato contínuo com a cama contribui para a maior contaminação do trato digestivo e, mesmo quando não causam problemas sanitários a estas, podem contaminar as carcaças pela abertura acidental do inglúvio ou dos intestinos por ocasião do abate, o que caracteriza sua implicação em segurança dos alimentos, caso o produto seja contaminado.

Amônia

No verão, o uso de nebulizadores para arrefecimento da temperatura do ar no interior do galpão pode, quando mal regulado, molhar a cama e causar seu empastamento. No inverno, na tentativa de manter mais alta a temperatura, é comum diminuir muito a ventilação, o que leva ao excesso de umidade e de amônia no interior do galpão.

O gás amônia é incolor e irrita as mucosas não sendo percebido pelo olfato humano em níveis menores que 20 ppm. Sua origem está na decomposição do ácido úrico presente nas excretas das aves e de acordo com o protocolo de boas práticas de criação elaborado pela União Brasileira de Avicultura níveis de 25 ppm são o máximo permitido, sendo que níveis acima ocasionam perdas de peso médio de 90 g. por ave durante as sete semanas de alojamento.

Concentrações de amônia no ar acima de 60 ppm tornam as aves mais suscetíveis a doenças respiratórias, aumentam os riscos de infecções secundárias e afetam os processos fisiológicos de trocas gasosas. O gás ainda causa estresse aos frangos, o que leva à perda de peso e pode acometer a morte das aves. Um valor considerado acima do recomendado, que deve ser inferior a 20 ppm.

pH

Outro fator importante que também regula a volatização da amônia é o pH, que é minimizada com pH abaixo de 7,0. O pH é um indicador de elétrons dissociáveis podendo ser, até certo ponto, manipulado. O pH da cama pode variar desde o levemente ácido (pH 6,0) até francamente alcalino (pH 9,0). O pH da cama pode ser elevado ou reduzido a níveis que dificultam a multiplicação de bactérias. Essa variação da uma capacidade de multiplicação da maioria das bactérias de interesse na produção de frangos de corte, incluindo patógenos como Salmonellas e Campylobacter. No manejo da cama de frango, a diminuição do pH é mais utilizada como método de redução do impacto bacteriano, uma vez que também reduz a volatilização da amônia.

Insetos

Os insetos também são um grande problema para a produção de frangos de corte, uma vez que são vetores de doenças e muitas vezes afetam o desempenho das aves. Certamente o Alphitobius diaperinus, conhecido como cascudinho, é atualmente um dos grandes problemas da avicultura mundial, sendo também conhecido como praga secundária de derivados de grãos armazenados. Adaptou-se muito bem às condições dos aviários, onde se alimenta de ração, fezes e de animais mortos. Este inseto desempenha um papel importante na transmissão de numerosos agentes patogênicos, como vírus, fungos, protozoários e helmintos. Além disso, o besouro pode servir como fonte de infecção para Campylobacter spp., Escherichia coli, Salmonella spp. e várias outras bactérias.

O A. diaperinus causa prejuízos na criação de frangos de corte e perdas na condição sanitária da avicultura em todo o mundo. O contato direto do inseto com a cama dos aviários, assim como o hábito desse de se alimentar de aves moribundas e mortas, o faz um veiculador de diversos patógenos aviários. O A. diaperinus causa desvio alimentar com diminuição no desempenho, devido ao comportamento das aves de ciscar principalmente na fase inicial, fazendo com que substituam a ração balanceada por estágios larvais e adultos de A. diaperinus presentes na cama.

Para o controle do A. diaperinus, o habitat deve ser transformado em impróprio à sua proliferação. Práticas como estocar sobra de ração fora do local de criação, limpezas regulares dos silos de ração, retirada imediata de aves mortas, bem como adotar um manejo sanitário de controle desses insetos nos intervalos entre lotes são algumas estratégias e artifícios para minimizar e/ou controlar a ocorrência desses insetos nos aviários.

Considerações finais

Os avicultores e as empresas integradoras devem estar sempre atentos ao mercado consumidor, adequando sua produção às exigências e adaptando-se aos métodos de controle nacionais e internacionais. As condições de sanidade e bem-estar animal devem ser priorizadas para que se tenha um produto de excelente qualidade. Dessa forma, qualquer investimento realizado para manter a qualidade ambiental gera ao produtor bons resultados.

Mais informações você encontra na edição de Aves de abril/maio de 2018 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Monitoramento molecular: a chave para o controle das doenças virais na avicultura

Desenvolvimento contínuo de vacinas e o aprimoramento do diagnóstico molecular são fundamentais para a sustentabilidade da avicultura brasileira.

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Foto: Shutterstock

A avicultura brasileira enfrenta grandes desafios em função de doenças infecciosas que comprometem de forma persistente a saúde das aves e, consequentemente, a segurança sanitária da cadeia avícola. Entre as principais ameaças estão o Reovírus, a Bronquite Infecciosa (IBV) e a Doença de Gumboro (IBDV). A importância do monitoramento molecular para o controle dessas enfermidades foi tratada pelo biólogo e doutor em Genética, Jorge Marchesi, durante o 15º Encontro Mercolab de Avicultura, realizado em setembro na cidade de Cascavel, no Oeste do Paraná.

Com uma ampla diversidade genética, o especialista enfatizou que a variabilidade do Reovírus está associada a problemas como artrite viral e a síndrome da má absorção, gerando impactos expressivos no desempenho produtivo das aves. Para identificar a cepa do vírus, Marchesi citou a importância de fazer a tipificação molecular do Reovírus utilizando o gene sigma para diferenciar as cepas vacinais das cepas de campo. “Compreender as nuances genéticas do Reovírus é muito importante para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e controle para minimizar os danos causados por essas infecções, bem como permite que tenhamos uma resposta mais eficaz para o manejo da doença”, salientou.

O doutor em Genética destacou que a associação dos diferentes Reovírus com infecções por Escherichia coli (E. coli), especificamente a Escherichia coli patogênica aviar (APEC), agrava o quadro clínico das aves afetadas. “Essa interação pode resultar em complicações adicionais, dificultando ainda mais o manejo sanitário nos plantéis”, reforça.

Bronquite Infecciosa

Em relação à linhagem GI-23 da Bronquite Infecciosa (IBV), Marchesi destacou a complexidade do cenário viral no Brasil. Caracterizada por uma alta diversidade genética, a GI-23 representa um dos maiores desafios para os programas de vacinação no país. “As cepas brasileiras do IBV continuam a ser um problema persistente para os avicultores, exigindo um monitoramento constante para rápida tomada de decisões, uma vez que muitas das cepas possuem características que escapam da imunidade conferida pelas vacinas, situação que traz implicações diretas na saúde das aves, contribuindo para o surgimento de lesões graves nas traqueias e rins”, pontua.

O monitoramento contínuo das cepas de IBV é uma das principais estratégias de controle da doença defendidas por Marchesi. Segundo ele, o acompanhamento sistemático não apenas fornece dados para a adaptação dos programas vacinais, como também ajuda na tomada de decisões para prevenir surtos e minimizar os impactos econômicos associados à Bronquite Infecciosa. “Diante desses desafios, o setor deve estar atento à evolução do vírus e disposto a ajustar suas abordagens de manejo sanitário para garantir a saúde das aves”, frisa.

Doença Infecciosa da Bursa

Outra patogenicidade tratada pelo especialista foi a Doença Infecciosa da Bursa, causada pelo IBDV (vírus da Doença de Gumboro). Classificado em genogrupos com alta diversidade genética, o vírus está amplamente distribuído no Brasil. “Essa variabilidade genética torna o vírus um desafio para o manejo sanitário, especialmente em relação ao impacto no desempenho dos lotes contaminados”, expõe.

A coinfecção com o vírus da Bronquite Infecciosa agrava ainda mais a situação, pois reduz a resposta imunológica das aves afetadas. “Essa combinação de infecções pode comprometer gravemente as aves, levando a grandes perdas produtivas e econômicas”, ressalta.

Estudos indicam que o IBDV G4, além de afetar o desempenho dos lotes, também interfere na imunidade materna das aves jovens, colocando em risco a saúde de todo o lote. “O que requer um controle rigoroso dos lotes, busca por vacinas mais eficientes para minimizar perdas produtivas e monitoramento da

Biólogo e doutor em Genética, Jorge Marchesi: “Temos que conhecer o que está acontecendo dentro dos aviários para poder combater os patógenos de forma assertiva” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

s cepas de IBDV para tomada de decisões mais assertivas”, reforça.

Uso de ferramentas moleculares

Marchesi frisou que um maior controle dessas doenças está na ampliação do uso de ferramentas moleculares, como o PCR, para monitoramento mais preciso e rápido, além da necessidade de atualizar constantemente os programas vacinais em resposta à evolução genética dos patógenos. “O desenvolvimento contínuo de vacinas e o aprimoramento do diagnóstico molecular são fundamentais para a sustentabilidade da avicultura brasileira”, salientou. “Temos que conhecer o que está acontecendo dentro dos aviários para poder combater os patógenos de forma assertiva. Hoje existem diversas metodologias disponíveis e com um custo acessível para gerar informação para que, a partir destas informações coletadas, possamos tomar decisões que colaboram e contribuem para reduzirmos cada vez a presença destes vírus nas unidades de produção”, complementou.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Especialista revela os principais fatores por trás das falhas no controle da Salmonella na produção avícola

Controle é um dos maiores desafios sanitários enfrentados pela avicultura no Brasil, com implicações diretas na segurança alimentar e na qualidade dos produtos avícolas.

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O controle da Salmonella é um dos maiores desafios sanitários enfrentados pela avicultura no Brasil, com implicações diretas na segurança alimentar e na qualidade dos produtos avícolas. Para mitigar os riscos, a adoção de medidas preventivas em toda a cadeia produtiva é fundamental, e um dos pontos para o sucesso dessa estratégia está na gestão da cama das aves. O manejo adequado da cama é essencial para minimizar a contaminação ambiental, criando barreiras contra a proliferação da bactéria e promovendo a saúde dos lotes.

Além da cama, cada etapa da cadeia produtiva, desde a granja até o processamento final, deve seguir rígidos protocolos de biosseguridade para reduzir a disseminação da Salmonella, assegurando a produção de alimentos seguros e de alta qualidade para o mercado consumidor.

Para compreender a gravidade do problema, é importante conhecer o agente causador. A Salmonella é uma bactéria gram-negativa e apresenta mais de 2,6 mil sorotipos móveis identificados. “Entre os mais críticos para a avicultura estão a S. Typhimurium, sua variante e a S. Enteritidis, que têm alta capacidade de disseminação e são comumente associadas a surtos de doenças em humanos”, explicou o médico-veterinário sanitarista Marcos Antonio Dai Prá durante sua palestra no 15º Encontro Mercolab de Avicultura, realizado em setembro na cidade de Cascavel, no Oeste do Paraná. “Os sorotipos da S. Minnesota e S. Heidelberg são os mais prevalentes em ambientes avícolas e representam uma preocupação constante ao setor”, frisou.

As consequências dessas infecções vão além da saúde animal, afetando diretamente a qualidade dos produtos finais, o que se traduz em perdas financeiras expressivas. “A contaminação por Salmonella impacta a exportação, a reputação dos produtores e gera custos elevados para o controle sanitário”, ressaltou Marcos.

Por outro lado, as Salmonellas imóveis, como S. Pulorum e S. Gallinarum, apresentam apenas dois sorotipos, contudo essas variantes estão relacionadas a graves perdas econômicas, principalmente devido à necessidade de eliminação de plantéis inteiros quando a infecção é detectada, o que compromete diretamente a produção. “O controle eficaz da Salmonella exige uma abordagem integrada, que inclui o monitoramento contínuo das cepas prevalentes, melhorias no manejo da cama e o fortalecimento dos protocolos de biosseguridade em toda a cadeia produtiva”, enfatizou o profissional.

Fatores que levam a falhas nos programas de controle

Médico-veterinário sanitarista, Marcos Antonio Dai Prá: “O controle eficaz da Salmonella exige uma abordagem integrada, que inclui o monitoramento contínuo das cepas prevalentes, melhorias no manejo da cama e o fortalecimento dos protocolos de biosseguridade em toda a cadeia produtiva” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

O especialista menciona que, embora o controle de Salmonella seja essencial para garantir a sanidade na avicultura, muitos programas falham em atingir os resultados esperados. Segundo o médico-veterinário sanitarista, essa falha pode ser atribuída a seis fatores principais: inexistência de um programa de controle estruturado, programas de controle não integrados, ausência de um coordenador para gerir um comitê de controle de Salmonella, interrupções nos programas, a necessidade de investimento contínuo e, por fim, a falta de conhecimento epidemiológico sobre a bactéria

 

A falta de entendimento sobre a complexidade epidemiológica da Salmonella é um dos principais obstáculos. Marcos listou alguns fatores que complicam o controle eficaz da bactéria. O primeiro ponto é que a maioria das Salmonellas tem a capacidade de infectar uma grande variedade de animais e produtos de origem animal, passando a ser uma ameaça constante em várias fases da produção avícola.

A disseminação da bactéria pode ser facilmente transportada dentro de um plantel ou da granja e pode ocorrer de diversas fontes, como reprodutoras, incubatórios, abatedouros, fábricas de ração e até o ambiente de criação.

Além disso, não há tratamentos com antibióticos ou outros procedimentos capazes de eliminar a infecção após a contaminação da ave. “Muitas vezes, as aves permanecem portadoras da bactéria durante toda a vida, liberando a bactéria de forma intermitente e em baixos níveis”, evidenciou.

Outro ponto levantado é a dificuldade no diagnóstico. Em um momento, pode-se isolar a Salmonella em um plantel e, em outro, os testes podem falhar em detectá-la. “A amostragem adequada é fundamental, especialmente no caso de S. Gallinarum e S. Pullorum, que têm eliminação mais constante. Além disso, as aves podem ser infectadas simultaneamente por mais de um sorotipo, o que torna o controle ainda mais complexo”, expôs.

A sorotipificação é um procedimento chave num programa de controle de Salmonella, pois permite identificar as diferentes variedades presentes em um lote. Marcos também frisou que não há boa imunidade cruzada entre os diferentes sorotipos, o que significa que as vacinas disponíveis não são polivalentes e podem ser ineficazes contra todas as variantes presentes.

Enquanto a transmissão vertical clássica ocorre com os sorotipos S. Gallinarum e S. Pullorum, a transmissão de Salmonella da matriz para a progênie geralmente ocorre via contaminação da casca do ovo. “A persistência da bactéria no ambiente também depende da presença de matéria orgânica, o que reforça a necessidade de limpeza rigorosa nas granjas”, reforçou o profissional.

Outro desafio está no número de amostras coletadas para análise, que muitas vezes é insuficiente, levando a falsos negativos. “Resultados negativos nem sempre refletem a realidade, tornando ainda mais difícil garantir que um lote esteja livre da bactéria”, pontua Marcos.

Ferramentas de controle

A tipificação da Salmonella é uma ferramenta indispensável no controle eficaz da bactéria, especialmente diante da grande diversidade de

sorotipos que afetam a avicultura. Marcos explica que existem diferentes métodos de tipificação que são utilizados para identificar a presença e o tipo de Salmonella em plantéis e unidades de produção, cada um com suas vantagens e especificidades.

O esquema de Kauffmann White é um dos métodos tradicionais e amplamente aplicados. Baseado na identificação de antígenos somáticos (O), flagelares (H) e capsulares (Vi), o método utiliza antissoros específicos para detectar as características da bactéria. Embora eficaz, é um processo manual que requer um tempo maior para a obtenção dos resultados.

Com o avanço das tecnologias moleculares, a técnica de microarranjo de DNA tem se tornado uma aliada moderna no combate à Salmonella. “Essa metodologia envolve uma coleção de pontos microscópicos, normalmente preenchidos com DNA, que contêm sondas para moléculas-alvo específicas. Isso permite a identificação automatizada de mais de 300 sorotipos de Salmonella, tornando o processo de tipificação mais ágil e preciso”, destaca Marcos.

Outra tecnologia bastante utilizada é o PCR em tempo real. Este método identifica diferentes sorotipos a partir da análise de DNA, oferecendo resultados rápidos e de alta precisão. Segundo Marcos, o PCR em tempo real é muito empregado em pesquisas sanitárias e está presente em normativas oficiais, pois permite a detecção rápida de sorotipos de importância sanitária. “Esse método tem sido amplamente aceito por sua capacidade de gerar resultados em um tempo consideravelmente menor, o que é muito importante quando estamos lidando com surtos de doenças”, ressalta o especialista.

A tipificação como ferramenta de controle é essencial para garantir a rastreabilidade de toda a cadeia produtiva, proporcionando intervenções mais eficazes e robustas, especialmente no combate à resistência e aderência do sorotipo específico de Salmonella presente. “Esse processo também impulsiona o aprimoramento contínuo em pesquisa e desenvolvimento, permitindo uma avaliação detalhada da eficiência de produtos sanitizantes e aditivos alimentares. Além disso, o controle de qualidade e a segurança alimentar são fortalecidos, pois a identificação precoce da presença de Salmonella, desde a origem no campo até o produto final, viabiliza a implementação de medidas corretivas rápidas, minimizando riscos de contaminação e garantindo a integridade dos alimentos”, salienta.

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Fonte: O Presente Rural
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Evolução da Bronquite Infecciosa desafia vacinação na avicultura moderna

Essa doença causa uma série de problemas que afetam a produtividade e a rentabilidade das granjas.

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Altamente contagiosa, a Bronquite Infecciosa (IBV) é uma doença respiratória que afeta diretamente a produção de aves, trazendo grandes impactos econômicos. Com uma alta taxa de mutação e a capacidade de se recombinar com outras cepas, o vírus permanece uma ameaça persistente, exigindo atenção contínua de produtores e especialistas em sanidade animal.

O vírus IBV é caracterizado por sua variabilidade genética e capacidade de evoluir rapidamente. O fenômeno de recombinação entre cepas de campo e vacinas já foi observado, embora a maioria dessas recombinações desapareça rapidamente. Apesar de décadas de uso de vacinas em regiões como Estados Unidos, Europa e partes da Ásia, as cepas recombinadas das vacinas não se tornaram um problema significativo. No entanto, especialistas alertam que o risco de mutações e recombinações ainda é uma preocupação, especialmente em áreas de alta pressão viral.

Imunologista e pesquisador sênior do Instituto Royal GD, na Holanda, Sjaak de Wit: “Em áreas onde várias cepas estão em circulação, a combinação inteligente de diferentes vacinas pode ajudar a ampliar a proteção cruzada” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Segundo o imunologista e pesquisador sênior do Instituto Royal GD, na Holanda, Sjaak de Wit, a diversidade de cepas em circulação no mundo faz com que o controle da doença seja complexo. Ele destaca que cepas como a BR1 (local), Var2 (originária do Oriente Médio) e Q1 (originária da Europa/Ásia) são atualmente predominantes no Brasil. Além disso, a introdução de novas cepas de outras regiões amplia ainda mais os desafios no controle da doença.

Os impactos da Bronquite Infecciosa vão muito além dos prejuízos diretos à saúde das aves. A doença causa uma série de problemas que afetam a produtividade e a rentabilidade das granjas, desde uma queda na ingestão de ração até a redução no crescimento dos animais. “Frangos de corte infectados pelo IBV sofrem de sintomas respiratórios como espirros, roncos e secreção nasal, além de mortes súbitas por sufocamento”, explicou Wit durante sua participação no 15º Encontro Mercolab de Avicultura, realizado no dia 10 de setembro em Cascavel, no Oeste do Paraná, acrescentando: “A síndrome da cabeça inchada e infecções bacterianas secundárias, como as causadas por Escherichia coli e Ornithobacterium rhinotracheale, também agravam o quadro clínico, aumentando as taxas de condenação no abate”.

Em galinhas poedeiras e reprodutoras, o imunologista expõe que o vírus compromete a qualidade dos ovos, resultando em cascas mais frágeis, irregulares ou manchadas, e um aumento de ovos considerados de segunda categoria. Além disso, há uma redução na taxa de eclosão dos ovos, o que compromete a produção de pintinhos. “Infecções severas também podem causar a condição de camadas falsas, em que as aves parecem saudáveis, mas são incapazes de produzir ovos devido a danos irreversíveis no oviduto”, relatou.

A doença, quando combinada com fatores como clima desfavorável ou imunossupressão, pode ser ainda mais devastadora. “A combinação de infecções virais com problemas ambientais e dietas inadequadas também aumenta a gravidade da IBV. Micotoxinas presentes na ração, por exemplo, podem piorar o quadro de aves infectadas, comprometendo ainda mais o desempenho produtivo”, ressalta.

Ferramentas de controle

A vacinação é uma das principais ferramentas para o controle da Bronquite Infecciosa, mas sua aplicação exige cautela e planejamento. De acordo com o imunologista, a eficácia da vacina pode variar dependendo da combinação de cepas utilizadas e das condições do campo. “A recomendação é o uso de vacinas homólogas, que oferecem proteção mais eficaz contra cepas específicas. No entanto, em áreas onde várias cepas estão em circulação, a combinação inteligente de diferentes vacinas pode ajudar a ampliar a proteção cruzada”, salienta.

Além da vacinação, a melhoria das condições de manejo, como ventilação adequada e controle de estresse térmico, também desempenha um papel fundamental na prevenção e mitigação da doença. “A detecção precoce por meio de técnicas de diagnóstico eficazes, como testes de RT-PCR e genotipagem, é essencial para identificar de forma rápida as cepas circulantes e ajustar as estratégias de vacinação”, enfatiza Wit.

O pesquisador menciona que, com o surgimento de novas cepas e a contínua evolução do vírus, o setor precisa investir cada vez mais em tecnologias de diagnóstico, vacinas eficazes e boas práticas de manejo para minimizar os prejuízos e assegurar a sustentabilidade da produção avícola.

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Fonte: O Presente Rural
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