Suínos / Peixes
Presidente da Aspe elenca desafios e oportunidades para o desenvolvimento da suinocultura em Pernambuco
Recém empossado, Valmir Luiz de Moraes enfatiza a necessidade de incentivos do setor público e da implementação de uma estrutura mais robusta para o desenvolvimento da cadeia suinícola.
Quinto maior produtor de suínos da região Nordeste do Brasil, Pernambuco possui um plantel de 181 mil matrizes e um rebanho superior a 923 mil animais, conforme informações da Pesquisa da Pecuária Municipal, divulgada em setembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, o desenvolvimento da atividade esbarra na escassez de água, sanidade animal, baixo consumo, custos elevados de transporte para a aquisição de grãos, falta de políticas públicas e de investimento em infraestrutura e de tecnologia nas granjas.
Recém empossado como presidente da Associação dos Suinocultores de Pernambuco (Aspe), Valmir Luiz de Moraes enfatiza a necessidade de incentivos do setor público e da implementação de uma estrutura mais robusta para o desenvolvimento da cadeia suinícola. Ele afirma que há poucos ou nenhum fiscal agropecuário da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro) atuando na fiscalização da entrada de animais de outras regiões do país no estado pernambucano, situação que gera insegurança para a atividade, uma vez que pode comprometer a sanidade do rebanho e o preço de venda destes suínos é muito abaixo do praticado no mercado. “Nós temos um custo de produção mais alto que outras regiões do país, pois pagamos mais caro pelo milho e pela soja, e ainda temos que comprar a água, então além de muitas vezes não sabermos a origem destes animais ainda enfrentamos uma concorrência desleal”, aponta Moraes, que também é produtor na cidade de São Bento do Una, PE. Com uma propriedade de 70 hectares, possui uma granja com 110 matrizes suínas, podendo ampliar para até 200 fêmeas, e uma unidade produtora com galinhas caipiras de postura, nos sistema de gaiola e livre de gaiola, além da criação de gado.
Sistema de produção de Pernambuco
O estado de Pernambuco possui aproximadamente 70 granjas automatizadas, enquanto nos sistemas de subsistência, orgânico e livre existe uma enorme quantidade de unidades produtoras, tendo em vista que praticamente toda propriedade rural em Pernambuco tem uma criação de suínos, com crescimento acelerado nos municípios que integram a bacia leiteira no Agreste Meridional e no Sertão do Araripe. “Os produtores desta região produzem muito queijo como o coalho e diversificam a produção com a criação de suínos, destinando o soro do queijo para misturar na ração e assim melhorar a nutrição dos animais”, informa.
De acordo com o presidente da Aspe, os animais vivos são vendidos em sua grande maioria em feiras livres ou para abatedouros municipais e estaduais dentro do estado e em número menor são comercializados para Alagoas, Maranhão, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte.
Consumo interno da carne suína em Pernambuco
Um dos grandes desafios, segundo Moraes, que precisam ser superados pelo setor para alavancar o crescimento da atividade é o aumento no consumo de carne suína. “Ainda existe aquela visão distorcida que a carne suína faz mal à saúde, mas aos poucos, com campanhas informativas, estamos conseguindo desmitificar alguns tabus que a população tem em relação a carne suína e o consumo interno está aumentando. Não temos dados do quanto é consumido per capita, mas notamos uma procura maior pela carne suína nos últimos anos, o que nos mostra que temos um potencial enorme de crescimento em Pernambuco”, evidencia.
Tecnologias nas granjas
Quando se trata da implementação de tecnologias nas granjas, Moraes observa que as melhorias são contínuas. Um número crescente de suinocultores está investindo em tecnologias e inovação para melhorar o desempenho e a produtividade das suas granjas. No entanto, a cadeia é composta em grande parte por pequenos produtores, os quais muitas vezes não tem recursos financeiros para mecanizar os seus galpões de produção. “Em Pernambuco, nos deparamos com uma variedade de realidades em nossa cadeia de produção de suínos. Ela engloba pequenos, médios e grandes produtores, muitos dos quais já adotam sistemas avançados de gestão, como os Sistemas S4 e S8, para aprimorar o controle de seus processos produtivos nas granjas. Além disso, esses produtores investem na contratação de zootecnistas, aplicam melhoramento genético, garantem uma nutrição de alta qualidade e implementam práticas rigorosas de manejo sanitário, mudanças essas que têm transformado a criação de suínos na região, melhorando a rentabilidade e a qualidade da carne oferecida no mercado interno”, exalta.
Acesso a água
A disponibilidade de água desempenha um papel crucial na suinocultura em Pernambuco, variando de abundante na Zona da Mata, crítica no Agreste e acessível através de poços artesianos no Sertão. “O preço da água fornecida pela Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento) é de cerca de R$ 10,00 o metro cúbico, onerando o custo a produção dos suinocultores”, menciona.
Essa diversidade de cenários requer estratégias adaptadas para garantir o sucesso da suinocultura em todo o estado. “No Agreste os produtores enfrentam dificuldades em encontrar fontes de água, muitas vezes tendo que buscar água em locais distantes e transportá-la pelas rodovias. Isso acaba encarecendo os custos de produção. É interessante notar que, mesmo com essa escassez de água, São Bento do Una se destaca como o maior produtor de ovos do Nordeste e o quarto maior do Brasil, bem como possui um rebanho superior a 141 mil suínos”, enaltece, ampliando: “Não temos água, mas temos o melhor clima do Nordeste para o desenvolvimento da pecuária”.
Produção própria de ração
Na região Nordeste, o estado de Pernambuco tem a segunda maior estimativa de crescimento da produção, saltando de 220,2 mil para 293,1 mil toneladas, um acréscimo de 33,1% em relação à safra anterior, conforme previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produtividade é a segunda maior na região, com um aumento de 458 kg por hectare para 744 kg por hectare, crescimento de 62,4% entre as safras. O destaque fica com a terceira safra do milho, que tem colheita entre agosto e novembro. A previsão é de aumento na produtividade de 156,1% entre as safras, saindo de 574 kg por hectare em 2021/2022 para 1.470 kg por hectare em 2022/2023. Contudo essa produção não é suficiente para abastecer a cadeia produtiva, que precisa recorrer ao milho do Piauí, Maranhão, Sergipe e região. “Esse grão vem por rodovia e o frete rodoviário hoje está muito caro, aumentando de forma expressiva o custo de produção, deixando apertada as margens de ganho do produtor”, pontua.
Moraes conta que é característica do produtor pernambucano produzir a própria ração dos animais. “Praticamente todos os produtores compram os insumos, como milho, soja, minerais, vitaminas, dentre outros, para produzir a ração para sua granja, reduzindo desta forma os custos com sua produção”, frisa.
Maior frigorífico do Nordeste
A instalação de uma unidade industrial da Masterboi em Canhotinho, PE, trouxe uma nova oportunidade para o desenvolvimento da suinocultura pernambucana. “São abatidos por dia em torno de 300 animais, com estimativa de chegar a 960 suínos/dia, o que falta agora é nós, enquanto associação, organizarmos o setor para atender aos critérios de qualidade para abate na Masterboi, dentre eles genética de qualidade, rendimento de carcaça dos animais, com uma espessura de gordura baixa, trabalhar com rações balanceadas e sanidade. A partir do momento que o produtor atender esses critérios vamos passar a ter um produto de melhor qualidade, que possa ser inserido em todo o estado e na merenda escolar”, salienta Moraes, ampliando: “Vamos buscar ampliar o consumo da carne suína dentro de Pernambuco e como a Masterboi já exporta para 41 países a carne de boi, podemos pegar esse nicho de mercado para eles exportarem a carne suína de Pernambuco, mas para isso precisa haver uma mudança de postura dos produtores para melhorar o status sanitário da cadeia e conquistar a certificação de área livre de Peste Suína Clássica”.
Oportunidade de crescimento
O presidente da Aspe vislumbra com otimismo o desenvolvimento da suinocultura em Pernambuco, mas, para que o produto pernambucano ganhe mais mercado é preciso investir em sanidade, genética e tecnologias nas granjas. “Precisamos buscar mecanismos que possam ajudar os produtores do estado a controlar e prevenir a Peste Suína Clássica, hoje um grande desafio ao crescimento da suinocultura no Nordeste, para que possamos conquistar a certificação de área livre e assim conseguir explorar outros mercados, que hoje ainda não nos veem com bons olhos. É necessário que todos deem as mãos e busquem juntos soluções para superar esses desafios que impedem um desenvolvimento maior da suinocultura”, ressalta.
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Suínos / Peixes
Apesar dos custos de produção em queda, desafios persistem na suinocultura
Na gestão de uma granja de suínos, o controle de custos desempenha um papel extremamente importante. A médica-veterinária Nicolle Andreassa Wilsek reforça que a gestão financeira e de dados é
essencial para tomar decisões assertivas, gerenciar recursos e garantir uma maior lucratividade para o produtor.
A suinocultura, um dos pilares da agroindústria nacional, enfrenta desafios constantes, entre os quais o custo de produção se destaca como um dos mais significativos. O setor, altamente dependente de fatores como preços de insumos, produtividade e condições de mercado, é fortemente influenciado pelas variações desses elementos. Nesse contexto, o custo de produção afeta a rentabilidade dos produtores e a competitividade do setor no mercado global.
O último ano encerrou com os custos de produção na atividade atingindo a marca de R$ 6,20 por quilo vivo, queda de 23,16% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Central de Inteligência de Aves e Suínos (CIAS) da Embrapa Suínos e Aves.
Santa Catarina, líder nacional na produção de suínos e referência para os cálculos do CIAS, registrou em março uma queda de 1,42% em relação a fevereiro, com o custo de produção por quilo de suíno vivo chegando a R$ 5,61 em sistema de ciclo completo. No acumulado do ano, houve uma redução de -9,52%, fazendo com que o ICPSuíno atingisse 321,12 pontos. Essa diminuição foi impulsionada pelo custo da alimentação dos suínos, que caiu para R$ 4,09, representando 73,33% do custo total.
Composição dos custos de produção
A médica-veterinária e técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, Nicolle Andreassa Wilsek, explica que os custos de produção na suinocultura são compostos por quatro categorias principais: os custos variáveis, que flutuam de acordo com o nível de produção, englobam despesas diretas do produtor e têm o maior impacto nos custos, incluindo genética, produtos veterinários, mão-de-obra, alimentação, transporte, energia e combustíveis, manutenção e conservação, EPIs, seguros, equipamentos, despesas financeiras, administrativas e ambientais; os custos fixos, por outro lado, ocorrem independentemente da produção e incluem depreciação de máquinas, equipamentos e edificações, além de pagamentos de capital investido na atividade; já os custos operacionais são a soma dos custos variáveis e depreciação; enquanto o custo total é a soma dos custos variáveis e fixos, excluindo o custo operacional.
Impacto direto
O preço dos insumos tem um impacto direto no custo de produção, especialmente porque a alimentação representa uma parcela significativa dos custos no setor, variando de 60 a 70%. “O aumento dos preços do milho e da soja tem um impacto imediato no aumento do custo de produção. Esse efeito também se estende a outros tipos de insumos, como energia elétrica, produtos veterinários, EPIs, entre outros”, expõe Nicolle, que tratou sobre o tema no início de abril durante o Inovameat Toledo, que se destaca como um dos principais encontros dedicados à proteína animal no Paraná.
Gestão financeira
Na gestão de uma granja de suínos, o controle de custos desempenha um papel extremamente importante. A médica-veterinária reforça que a gestão financeira e de dados é essencial para tomar decisões assertivas, gerenciar recursos e garantir uma maior lucratividade para o produtor. “É muito importante para obter um retorno maior, para atenuar os gastos desnecessários e para conservar o patrimônio, preconizando a eficiência econômica e financeira da granja”, enfatizou.
Quanto às estratégias para diminuir os custos de produção na suinocultura, a profissional destaca a importância de identificar os gargalos dentro da granja, isso inclui evitar desperdícios, como de ração, vazamentos de água e a presença de fêmeas improdutivas, entre vários outros fatores que devem estar no radar do produtor.
E da porteira para fora da granja, Nicolle cita a necessidade de pensar na organização industrial, que envolve adequação do peso de abate, adequação de formulações nutricionais e logística de transportes. “Os desafios relacionados ao custo de produção na suinocultura residem na manutenção do equilíbrio entre os gastos e as receitas, o que é alcançado por meio de bons índices zootécnicos, práticas eficientes de gestão e considerações ambientais equilibradas”, evidencia.
A profissional menciona que a suinocultura se beneficia de diversas tecnologias que podem contribuir para diminuir os custos da atividade. “Nas granjas a automação ajuda a reduzir a necessidade de mão de obra, enquanto o uso de energias renováveis, como solar e biodigestor, auxilia na diminuição dos custos com energia elétrica e combustíveis”, relata, acrescentando: “E a escala de produção influência de forma direta os custos na suinocultura, por isso que quanto mais animais produzindo, mais eficiência terá a propriedade e, consequentemente, maior rentabilidade. Além de otimizar logística de transporte, alimentação e demais suprimentos”, aponta.
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Suínos / Peixes No Paraná
Vizinhos compartilham biodigestor para produzir energia limpa da suinocultura
Para viabilizar um sistema de produção de energia limpa, dois produtores de Itaipulândia, no Oeste, decidiram compartilhar um biodigestor e um gerador. Com isso, ambos conseguem baratear contas de luz e ainda manejar os resíduos da produção de maneira ambientalmente responsável.
A cerca que divide as propriedades de José Valdir Genaro e Ari Facioni, em Itaipulândia, no Oeste do Paraná, é uma mera formalidade quando o assunto é sustentabilidade na suinocultura. Para viabilizar um sistema de produção de energia limpa, os produtores decidiram compartilhar um biodigestor e um gerador. Com isso, os dois conseguem baratear suas contas de luz e ainda manejar os resíduos da produção de maneira ambientalmente responsável.
O compartilhamento do sistema também permite que o investimento feito pelos produtores se pague mais rápido, com uma produção diária de energia ainda maior. O modelo também serve de exemplo para pequenos produtores, que individualmente não teriam fôlego financeiro ou volume de dejetos para manter um sistema sozinho.
A história dos produtores é tema da série de reportagens “Paraná, energia verde que renova o campo”, que mostra exemplos de adesão ao programa RenovaPR e ao Banco do Agricultor Paranaense para implantar sistemas de energias sustentáveis em suas propriedades.
“Para o meu vizinho montar o gerador, a quantidade de suínos que ele tinha não seria suficiente para a finalidade que ele tinha imaginado, então ele me convidou para fazer uma parceria, cedendo o esterco dos meus animais para aumentar a capacidade de geração de energia”, explica Ari Facioni.
Com a soma dos dejetos dos 3 mil suínos da propriedade de Genaro e de 1,8 mil da propriedade de Facioni, o gerador instalado por eles produz cerca de 75 kilowatts por hora, funcionando mais de 12 horas por dia. O volume é suficiente para dar independência energética para as duas propriedades de maneira limpa e renovável. “É algo que dá conforto para nós. É uma despesa a menos que nós temos, com perspectiva, inclusive, de render uma renda extra com a venda da energia excedente para a rede”, conta Genaro.
Sistema
A geração de energia a partir dos dejetos e resíduos orgânicos acontece em duas etapas. Na primeira, os restos de ração, fezes, urina e carcaças são depositados em um poço cavado no chão e coberto por uma lona especial, chamado de biodigestor, onde passar por reações químicas que produzem o biogás. Depois, os gases passam por um gerador que os transforma em energia.
Além da energia, o sistema garante o manejo adequado dos dejetos dos animais, um dos maiores passivos da suinocultura atualmente. Com os biodigestores, todos os resíduos têm uma destinação ambientalmente correta, dentro da propriedade. “Dar destino para os dejetos e as carcaças era um serviço complicado, quase insalubre, com muita mosca e mau cheiro. Hoje o material é depositado no biodigestor e o manejo é muito mais limpo e fácil”, explica Genaro.
Os processos químicos do sistema também produzem um composto que pode ser devolvido à lavoura ou ao pasto da propriedade como um fertilizante rico em nutrientes. “Os resíduos voltam como um adubo tratado, de boa qualidade, que não queima a terra”, afirma o produtor Ari Facioni.
Sem este processo, o depósito destes dejetos é altamente prejudicial ao meio ambiente. Por causa disso, muitos suinocultores só conseguem aumentar suas produções ao construírem biodigestores nas suas propriedades. “Muitos agricultores não produzem mais porque isso significa dar destinação a mais dejetos. Sem este processo, os dejetos produzem muitos agentes contaminantes. Por outro lado, quando ele passa pelo biodigestor, ele se transforma em um fertilizante natural que deixa de ser agressivo ao meio ambiente”, explica o diretor ambiental da Prefeitura de Itaipulândia, Altair Ruschel.
Apoio
O investimento feito para a instalação de todo o sistema, que também conta com um triturador de carcaças, foi de cerca de R$ 800 mil e contou com o incentivo do Programa Paraná Energia Renovável (RenovaPR), do Governo do Estado.
O empréstimo para a construção do sistema foi feito a juro zero, por meio do Banco do Agricultor Paranaense, como forma de estimular a transformação energética no campo. O programa é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, e conta com recursos financeiros do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE), administrado pela Fomento Paraná.
Ao todo, a subvenção de juros por meio do Governo do Estado para projetos deste tipo já passou de R$ 231 milhões desde 2021. Com este estímulo, já foram investidos mais de R$ 4,2 bilhões em 34 mil projetos de energia renovável em todo o Estado.
Em Itaipulândia, um programa da prefeitura da cidade em parceria com a Itaipu Binacional também oferece subsídio para a instalação dos biodigestores e fornece os geradores em consignação aos suinocultores. “Era uma vontade antiga instalar um sistema destes para gerar energia e dar a destinação para os resíduos da produção. Só assim a gente vai conseguir aumentar a nossa produção. Graças ao subsídio do RenovaPR a gente conseguiu concluir um projeto como este”, diz José Valdir Genaro.
Economia
A produção de suínos para corte é a quinta cultura agropecuária com maior Valor Bruto da Produção (VBP) do Paraná, com R$ 8,45 bilhões movimentados em 2023, de acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral). Este valor representa 4,27% de toda a economia do campo paranaense.
A região Oeste do Paraná, onde fica Itaipulândia, concentra a maior parte desta produção. A cidade é a sétima maior produtora de suínos do Estado, com R$ 246 milhões em VBP a partir da suinocultura. Toledo (R$ 1,25 bilhão), Santa Helena (R$ 560 milhões), Missal (R$ 482 milhões) e Marechal Cândido Rondon (R$ 450 milhões) são as maiores produtoras do Paraná.
Na comparação com outros estados, o Paraná é o segundo maior produtor do Brasil, com 3,1 milhões de suínos abatidos no primeiro trimestre de 2024, segundo dados da Pesquisa Trimestral de Abate de Animais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Santa Catarina lidera a produção nacional, com 4,1 milhões de animais abatidos. Rio Grande do Sul (2,3 milhões) e Minas Gerais (1,4 milhão) e São Paulo (735 mil) completam a lista de cinco maiores produtores do Brasil.
Série de reportagens
A série de reportagens “Paraná, energia verde que renova o campo” está mostrando exemplos de produtores rurais de todo o Estado que aderiram ao programa RenovaPR para implantar sistemas de energias sustentáveis em suas propriedades. Criado em 2021, o RenovaPR apoia a instalação de unidades de geração distribuída em propriedades rurais paranaenses e, junto ao Banco do Agricultor Paranaense, permite que o produtor invista nesses sistemas com juros reduzidos. Todas as reportagens da série podem ser conferidas aqui.
Confira o vídeo
Suínos / Peixes
Codigestão de dejetos e plantas: a nova era na produção de biogás
A expansão da produção de biogás por meio da codigestão de dejetos e culturas energéticas em áreas rurais não apenas promove avanços ambientais, mas também traz impactos sociais e econômicos significativos.
Em busca de explorar o potencial de culturas energéticas como o sorgo e o capim elefante combinados com resíduos da produção animal para a produção de biogás, pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves, Embrapa Milho e Sorgo e da Embrapa Gado de Leite apresentaram os primeiros resultados do estudo realizado na Bioköhler Biodigestores durante o Dia de Campo sobre codigestão de culturas energéticas e resíduos da produção animal para produção de biogás, que integrou a programação do Inovameat Toledo, um dos principais eventos dedicados à proteína animal no Paraná, realizado em meados de abril na região Oeste do estado.
Liderada pelo doutor em Química Ambiental e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Airton Kunz, a iniciativa visa avaliar a viabilidade de culturas energéticas na produção sustentável de biogás para validar essa nova abordagem. “A codigestão de resíduos da produção animal com as culturas energéticas representa uma alternativa promissora para melhorar a eficiência da produção de biogás. Essa nova abordagem envolve a mistura de vários resíduos para otimizar a produção de biogás. Ao combinar dejetos suínos, aves ou de bovinos, por exemplo, com culturas energéticas como o sorgo e o capim elefante, podemos alcançar resultados significativos em termos de produção sustentável de energia”, explicou Kunz.
Em comparação com outras formas de produção de biogás, o pesquisador ressalta os benefícios ambientais associados à codigestão de dejetos e culturas energéticas, destacando sua capacidade de conferir maior estabilidade aos processos de geração de biogás. “Isso é fundamental para a implementação bem-sucedida de novos arranjos de produção e utilização do biogás”, afirma.
Desafios técnicos e operacionais
Em relação aos desafios técnicos e operacionais associados ao uso de culturas energéticas na codigestão com dejetos, Kunz destaca a importância de compreender os arranjos produtivos específicos dessas culturas. Ele ressalta a necessidade de considerar as peculiaridades de cada cultura, incluindo seus ciclos de cultivo e colheita, assim como os processos de silagem, para garantir um suprimento consistente desse substrato para a geração de biogás.
Com o uso das culturas energéticas, o pesquisador diz que se busca não apenas melhorar a estabilidade da composição do biogás, mas também dos volumes produzidos em comparação aos processos de monodigestão, que se restringem apenas aos dejetos. “Essa abordagem objetiva aprimorar tanto a qualidade quanto a consistência do biogás gerado. Ao introduzir culturas energéticas na codigestão, espera-se minimizar as variações na composição do biogás e otimizar os volumes produzidos, proporcionando uma fonte de energia mais confiável e previsível”, expõe Kunz.
Impactos sociais e econômicos
A expansão da produção de biogás por meio da codigestão de dejetos e culturas energéticas em áreas rurais não apenas promove avanços ambientais, mas também traz impactos sociais e econômicos significativos. De acordo com Kunz, esse processo impulsiona o desenvolvimento e a criação de empregos, especialmente nas regiões onde as cadeias de produção de proteína animal, como no Sul do Brasil, estão consolidadas, com modelos de integração bem estabelecidos que geram oportunidades de trabalho. “A integração de culturas energéticas e outros resíduos nesse contexto não só diversifica as atividades econômicas, mas também contribui para a geração e agregação de renda”, salienta, frisando: “Essa abordagem não apenas fortalece os elos existentes na cadeia produtiva, mas também abre novas perspectivas para a comunidade rural, promovendo um desenvolvimento mais sustentável e equilibrado”.
Abordagem em evidência
A adoção da codigestão de dejetos e culturas energéticas para a produção de biogás está ganhando destaque em diversas partes do mundo, com a Europa liderando o caminho. Países como a Alemanha se sobressai, contando com aproximadamente 10 mil plantas de geração de biogás, muitas das quais fundamentadas no uso de culturas energéticas como substrato.
No entanto, o Brasil se diferencia ao adotar uma abordagem adaptada às suas condições tropicais. Aqui, explica o pesquisador, cultivares específicas são desenvolvidas com genética local, dedicadas à geração de biogás. “Esse foco em cultivares adaptadas garante uma eficiência ainda maior no processo de codigestão”, evidencia.
Os pesquisadores brasileiros estão empenhados no desenvolvimento de tecnologias que garantam a eficiência operacional da codigestão, dimensionando cuidadosamente os parâmetros técnicos envolvidos. Isso inclui a determinação precisa da produção de biogás por hectare, a relação ideal entre os materiais dentro dos biodigestores e a quantidade de biogás produzida. “Essa abordagem orientada para a eficiência técnica não apenas impulsiona a inovação no campo da produção de biogás, mas também facilita a adoção dessas tecnologias pelo setor produtivo. A equipe da Embrapa trabalha focada no aprimoramento contínuo desse processo, para posicionar o Brasil como um líder na produção sustentável de biogás, contribuindo desta forma para um futuro energético mais limpo e resiliente”, salienta Kunz.
Na vanguarda
O pesquisador ressalta que a equipe da Embrapa está empenhada em estabelecer arranjos completos para a codigestão de dejetos com culturas energéticas, considerando todos os parâmetros técnicos e as nuances de toda a cadeia produtiva. “Entendemos que este é um processo dinâmico, com espaço para inovação contínua. Uma das áreas-chave de foco da pesquisa é o desenvolvimento de processos de tratamento para aumentar a capacidade de geração de biogás a partir dessas culturas energéticas”, expõe.
Além disso, a Embrapa está conduzindo trabalhos de melhoramento genético de cultivares especificamente voltadas para a produção de biogás. “Este investimento em pesquisa visa otimizar ainda mais o desempenho dessas culturas em termos de produção de biogás”, constata Kunz.
O doutor em Química Ambiental reforça que uma das razões fundamentais para adotar a codigestão de culturas energéticas junto aos dejetos é a complementaridade entre esses materiais. “Enquanto os dejetos líquidos, como dos suínos, têm uma alta concentração de água, em torno de 98%, as culturas energéticas possuem uma porcentagem entre 20 a 27% de matéria seca. Ao combinar esses dois materiais, aumentamos a concentração de sólidos no biodigestor, resultando em processos mais otimizados e maior rendimento na produção de biogás”, sustenta, acrescentando: “Essa abordagem é fundamental para garantir um fornecimento estável de substrato, permitindo o estabelecimento de arranjos para diversos fins, desde a geração de energia elétrica até a produção de biometano, que nada mais é que o biogás purificado, e que está ganhando destaque como uma solução de mobilidade sustentável”.
Para o setor agropecuário, a sustentabilidade dessa operação é especialmente relevante, uam vez que contribui para a redução da dependência de combustíveis fósseis, fortalecendo a competitividade das commodities tanto no mercado nacional como internacional, ao mesmo tempo que o país avança na descarbonização das cadeias de produção animal. “Todos os envolvidos na cadeia compreendem a importância desse movimento e estão comprometidos com seu sucesso, visando um futuro mais sustentável para todos”, exalta Kunz.
A pesquisa da Embrapa representa um importante avanço no setor de energia renovável, oferecendo uma alternativa econômica e ambientalmente sustentável para a produção de biogás. Com a continuidade dos estudos e o apoio de instituições parceiras, espera-se que essa tecnologia contribua significativamente para a transição para um futuro energético mais limpo e eficiente.
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