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Avicultura Alerta a avicultores

Mudança de paradigma: Ameaça da Influenza aviária agora alcança aves locais

Se antes o foco de combate à doença estava principalmente nas aves migratórias, a palestra do pesquisador Oliveiro Caetano durante o Dia do Avicultor O Presente Rural, em 24 de agosto, trouxe uma nova perspectiva.

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Foto: Bing

Se antes o foco de combate à Influenza Aviária estava principalmente nas aves migratórias, a palestra do pesquisador Oliveiro Caetano durante o Dia do Avicultor O Presente Rural, em 24 de agosto, trouxe uma nova perspectiva. Para cerca de 200 avicultores do Oeste do Paraná, Caetano alertou para uma mudança de paradigma. Os cuidados agora se expandem para as aves da fauna brasileira, que já hospedam o vírus. A chegada do subtipo H5N1 ao Brasil trouxe consigo a versatilidade de transmissão entre diferentes hospedeiros, causando apreensão tanto nas aves domésticas quanto nas aves e mamíferos silvestres. Essa disseminação, antes restrita a aves migratórias, agora afeta também espécies locais, como corujas e gaviões.

Oliveiro Caetano, professor doutor em Medicina Veterinária na área de Patologia Animal – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Oliveiro Caetano é professor doutor em Medicina Veterinária na área de Patologia Animal e responsável pelo setor de Doença das Aves, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É também membro do Comitê de Sanidade Avícola de Minas Gerais (Coesa). Oliveiro Caetano é pesquisador integrado em uma rede internacional que inclui especialistas do Brasil, Reino Unido, Dinamarca e Estados Unidos dedicados a estudar diferentes aspectos da epidemiologia, patogenia e controle das salmoneloses aviárias.

O pesquisador alertou sobre o subtipo H5N1, responsável por afetar cerca de 60 milhões de aves nos Estados Unidos. Para ele, esse vírus especificamente apresenta versatilidade na transmissão entre diferentes hospedeiros, o que gera grandes preocupações entre autoridades sanitárias. “Nos Estados Unidos causou doenças não só em aves domésticas, mas em várias espécies de aves e mamíferos silvestres. O vírus tem versatilidade de transmissão entre hospedeiros um pouco diferente do que a gente conhecia, é um vírus que brinca, que pula de animal, e isso causou bastante medo nas autoridades. A gente tinha medo que essas aves que saem da América do Norte pudessem trazer esse vírus para o Brasil e o vírus chegou”, menciono o pesquisador.

Com a mudança no cenário epidemiológico do Brasil, o avicultor precisa estar atento também às aves silvestres. O pesquisador entende que a transmissão por contato direto é mais difícil, mas que formas indiretas de transmissão podem atingir os planteis brasileiros com o vírus circulando em aves típicas do país. “Entre os focos registrados no Brasil, alguns são em aves de fauna local. Não é mais a ave migratória, é coruja, é gavião, que faz parte do Brasil e não faz migração. Essa questão de ave migratória a gente pode esquecer, o vírus está circulando em aves locais também. A maioria dos aviários tem proteção, o contato direto com outros animais é menos provável, mas de forma indireta pode acontecer, como água ou ração contaminados, fômites, pessoas, equipamentos usados no interior dos galpões, pragas, como insetos, moscas e roedores, que podem visitar um local com um animal infectado com IA e levar o vírus para o aviário”, alertou Caetano.

O pesquisador também destacou a viabilidade do vírus no Brasil. De acordo com ele, nas condições brasileiras o vírus vive de quatro a cinco dias no esterco (em temperaturas baixas, como na América do Norte, pode resistir até 60 dias no esterco), 24 horas em superfícies de metal ou plástico e em torno de 8 horas em roupas.

Até árvore frutífera é problema

Dia do Avicultor O Presente Rural reuniu cerca de 200 avicultores do Oeste do Paraná – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Para evitar a entrada nas granjas brasileiras, o pesquisador elencou medidas de biosseguridade fundamentais, incluindo a restrição de entrada de pessoas e veículos, arcos de desinfecção efetivos, a necessidade de higienização frequente das mãos, desinfecção de equipamentos e fômites que entram nos aviários, manutenção do entorno limpo e até mesmo evitar o plantio de árvores frutíferas próximas aos aviários. “Tem que botar em prática aquilo que vem sendo falado há muito tempo. É um vírus nada demais em termos de resistência ao meio ambiente, é fácil de inativar ele, a gente tem isso a nosso favor. Precisamos restringir entrada de pessoas e veículos, colocar arco de desinfecção que realmente funcione e que seja efetivo, exigir banho e fornecer roupa para quem for receber visitante. Aquela granja que tem trabalhadores que não moram na granja ou que eventualmente vão visitar o vizinho ou um parente no fim de semana, exigir, quando voltar, que tome banho e faça a troca da roupa, pois ele pode sem querer levar o vírus para o aviário. Lavar a mão toda vez que entrar no aviário é um hábito importante para prevenção desses vírus e de outras doenças. Em frango, quase nenhuma granja se preocupa com a vestimenta, mas é importante. Colocar um pedilúvio que realmente funcione. É muito comum a gente fazer visitas. Quando a gente chega no aviário, ganha um propé, um saquinho. Quando chega no fim da visita ele tá todo rasgado. Se tiver alguma coisa na botina ele vai entrar e transmitir a doença para o lote. Manter o entorno limpo, sem entulhos, manter a água clorada com no mínimo 3 ppm e não usar águas superficiais, como de lagoas ou rios, manter os silos íntegros, sem vazamento de ração para atrair aves para o entorno do aviário e até não plantar árvores frutíferas, porque muitas aves silvestres vêm se alimentar dessas frutas e podem transmitir doenças”, apontou o palestrante. “O ideal é ter barracões sem atrativos, como silos bem fechados, isolados por cerca, com pedrisco no chão”, sustenta.

Produção de ovos gera mais preocupação

Em regiões onde há uma grande concentração de animais os riscos são ainda maiores, alertou o pesquisador. “Temos um medo muito grande com as regiões produtoras de ovos. As regiões de postura condensam muitas granjas em uma área muito pequena. Você tem um manejo sanitário excelente, com alto nível de tecnificação, e o vizinho de cerca tem um barracão de postura caindo aos pedaços sem nenhum controle sanitário. Na região de Bastos (SP), por exemplo, são mais de 20 milhões de galinhas em um raio pequeno. Se der um surto, uma quantidade muito grande de aves terá que ser abatida”, aponta o pesquisador. “O produtor de frango tem mais distanciamento, apesar de algumas regiões mais adensadas, o que garante uma situação muito melhor que a postura”, mencionou.

Perigos

A mudança no cenário epidemiológico também foi destacada pelo especialista. Ele ressaltou que aves migratórias ou silvestres, globalização e mercados com diferentes espécies de animais podem contribuir para a disseminação desse vírus. Além disso, ele alertou para a mutação frequente do vírus, que pode ocorrer de forma espontânea e até mesmo misturar o material genético de animais doentes com outros vírus. No Brasil temos poucos mercados de animais vivos, mas na Ásia é muito comum. Lá tem porco, coelho, mamífero silvestre, galinha, pato, tudo misturado, em uma quantidade muito grande. Esses lugares são caldeirões para o surgimento de vírus de alta patogenicidade”, apontou. “Esse vírus muta muito fácil. Pode sofrer mutações espontâneas e ainda tem propriedade de infectar animais que estão doentes com outros vírus e misturar o material genético dos dois”, ampliou, destacando que “alguns hospedeiros trazem mais medo, pois têm mais capacidade de desenvolver infecção e podem ajudar a gerar esses vírus mais agressivos. “Um deles é o suíno e o outro é o peru”.

Sinais clínicos e impactos

Entre os sinais clínicos, Oliveiro Caetano destacou que “o que realmente chama atenção é a alta mortalidade”, mas há outros sinais clínicos, como perda de apetite, prostração, mudança na coloração das barbelas e cristas, entre outros. Alertou para doenças que podem causar sinais parecidos, como botulismo, doença de Newcastle, salmonela e intoxicações de modo geral. “Não é só Influenza que causa morte aguda, mas na situação em que estamos, qualquer caso suspeito tem que ser notificado para, caso haja confirmação, o serviço oficial fazer uma operação de abafa e não deixar esse vírus se espalhar por outras granjas”, frisou o palestrante.

Os impactos de uma possível entrada nos planteis comerciais incluem, de acordo com o pesquisador, “abate de número elevado de aves, impacto ambiental, interdição da propriedade, restrição ao comércio nacional e internacional de produtos de origem animal, perda de status sanitário, redução do preço da carne do frango e desajuste de toda cadeia produtiva”. “Não dá nem pra prever, mas os impactos econômicos são imensuráveis. O momento é de não baixar a guarda, colocar em prática as medidas de biosseguridade e manter o otimismo. Pode ser que daqui há pouco a gente pare de se preocupar com esse agente, mas no momento é algo que a gente tem que tomar muito cuidado”

Pandemia em humanos

Esse vírus desperta muita preocupação das autoridades pois tem o potencial para se tornar ser responsável por uma nova pandemia entre seres humanos. “Esse vírus desperta preocupação porque muitas das pandemias de influenzas na espécie humana foram causadas por influenza tipo A, como a gripe russa, em 1889, e a gripe espanhola (1918), que matou quase um quarto da população. Desde 1997 tiveram casos de pessoas que ficaram doentes, contraíram o vírus da IA. Se contar com todas as influenzas que infectaram pessoas, são em torno de duas mil mortes, são poucas mortes (em relação a uma pandemia ou mortes por gripe, por exemplo – só a gripe sazonal mata meio milhão de pessoas por ano), mas se esse vírus ficar circulando em várias espécies, e ele vírus tem essa propriedade, pode ser que a gente tenha o surgimento de uma estirpe pandêmica, que cause um surto parecido com as outras pandemias por IA”, destacou.

Por isso, reforçou, “esse vírus é um dos mais vigiados tanto pelas autoridades de saúde humana quanto de saúde animal, pois ele pode dar origem a um vírus pandêmico”.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse acesse gratuitamente a edição digital Avicultura Corte e Postura. Boa leitura!

 

Fonte: O Presente Rural

Avicultura

Resultados uniformes e consistentes para uma maior eficiência econômica em granjas avícolas

A eficiência alimentar é o principal indicador de performance técnica na produção de aves e suínos. Com os preços da carne e ovos em alta, mas nem sempre compensando os aumentos dos custos com a alimentação, a taxa de conversão alimentar se torna o primeiro indicador a ser melhorado.

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Foto: Shutterstock

A grande pressão nos preços tem forçado todas as organizações a melhorarem sua eficiência econômica de uma maneira profunda. O mundo da produção animal não está imune a essa limitação, muito pelo contrário. Tanto para a produção de carne de frango, ovos ou carne suína, os custos com a alimentação representam mais de 50% dos custos de produção no campo. Este é o motivo pelo qual é essencial focar na eficiência alimentar.

Porém, na cadeia alimentar, o campo não é a única parte envolvida. Empresas de produção e abatedouros têm suas próprias dificuldades. Ainda que, atualmente, o foco principal seja em custos com energia e mão de obra, estas empresas também têm que gerenciar as oscilações na produção. Na verdade, o número e o peso dos animais no frigorífico nunca alcançam o que foi planejado na logística. Por outro lado, a mortalidade e as variações de manejo na performance de crescimento são fontes de divergências que penalizam os frigoríficos e toda a cadeia de produção.

Hoje, é possível melhorar a situação através de ações em ambas:

A resiliência da economia das propriedades através da eficiência alimentar.
A eficiência econômica através da uniformidade na produção.
A eficiência alimentar para a sustentabilidade econômica das granjas

A eficiência alimentar é o principal indicador de performance técnica na produção de aves e suínos. Com os preços da carne e ovos em alta, mas nem sempre compensando os aumentos dos custos com a alimentação, a taxa de conversão alimentar se torna o primeiro indicador a ser melhorado.

Algumas soluções técnicas com o objetivo de baixar o custo de alimentação rapidamente se mostram limitadas. A performance, ou pelo menos a taxa de consumo de ração, devem ser mantidas para continuar tirando o máximo de proveito dos altos preços da venda dos produtos. Portanto, cada vez que um novo ingrediente é adicionado ou as margens de segurança para exigências nutricionais são reduzidas, uma medida para proteger os resultados deve ser implementada. Aditivos nutricionais à base de óleos essenciais e formulados para performance têm seu papel nessa estratégia, e com baixo investimento.

Uma outra abordagem é a melhoria na produtividade da carne e ovos. Nessa situação, o alvo é reduzir a taxa de conversão alimentar para baixar os custos com a alimentação e/ou produzir mais pelo mesmo preço. Novamente, aditivos formulados com óleos essenciais são relevantes pelo seu investimento acessível e retorno elevado (Figura 1). Este exemplo de resultado consistente foi demonstrado por uma pesquisa através de uma meta-análise baseada em 25 experimentos conduzidos em granjas comerciais de sete países diferentes.

Figura 1 – Aumento na taxa de crescimento e eficiência alimentar de frangos de corte consumindo um blend de extrato de plantas. Blend de extrato de plantas = Dieta Controle + 100 ppm de extrato de plantas.

 

Por fim, o sucesso da operação atualmente reside na uniformidade dos resultados obtidos apesar da diferença entre as granjas. A combinação certa de ativos na dosagem correta se torna uma solução que proporciona resultados uniformes e consistentes em uma variedade de ambientes. Quanto mais completa e sinérgica é a composição, mais efetivo é o produto (Figura 2). Isto foi muito bem descrito em uma meta-análise baseada em artigos publicados sobre a resposta do carvacrol na performance de frangos de corte.

Figura 2 – Associação sinérgica de carvacrol e especiarias potencializam os benefícios e o uso em frangos de corte.

Uniformidade para simplificar o planejamento da produção e melhorar a eficiência econômica

Na dinâmica de organização da produção, a chave para alcançar eficiência econômica reside em um planejamento estruturado: é essencial alinhar o envio de animais para abate que correspondam em número e qualidade às demandas diárias dos frigoríficos. No entanto, a criação de frangos representa um desafio considerável para a exatidão de um planejamento matemático.

O produto capaz de fazer animais de diferentes propriedades atingirem o mesmo peso no mesmo dia ainda não está disponível. Entretanto, aves alimentadas com um blend de extratos sinérgico apresentam um ganho de peso maior e mais uniforme. As divergências de performance observadas entre um lote e outro são de fato menores, assim como as diferenças de planejamento. Simplesmente, reduzindo os atrasos em diferentes propriedades fica fácil ganhar um dia efetivo de produção que, dependendo da situação, pode ser aproveitado para um vazio sanitário mais seguro ou um aumento na produção geral: ganhar um dia de produção por ciclo equivale a um acréscimo de 2% na produção anual.

Esta é a razão pela qual uma linha de agentes naturais à base de extratos de plantas e especiarias é utilizada para aprimorar a eficiência alimentar e reforçar a uniformidade na produção, contribuindo assim para melhorias contínuas na produtividade geral:

  • Lotes mais lucrativos para os produtores: redução de conversão alimentar.
  • Lotes mais homogêneos no frigorífico: diminuição de penalizações aos produtores, melhor performance ao abate.
  • Resultados mais consistentes entre um lote e outro: otimizando o planejamento de produção.

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Fonte: Por Jean-François Gabarrou, gerente Científico Animal Care da Phodé
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Avicultura

Nutrição responde por 60% das emissões de CO₂eq da avicultura

É essencial adotar estratégias que visem reduzir as emissões na produção de ração, como o uso de ingredientes alternativos de baixo impacto ambiental, a otimização da eficiência nutricional e a implementação de tecnologias mais sustentáveis no processo de produção de alimentos para os animais.

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A busca por uma produção animal mais sustentável é uma prioridade global, impulsionada pela necessidade incessante de aumentar a eficiência produtiva ao mesmo tempo em que se reduz o impacto ambiental. Nesse cenário desafiador, o Brasil, reconhecido mundialmente pela sua potência agropecuária, enfrenta uma competição acirrada por inovações e soluções que possam elevar seus padrões de produção animal.

Para discutir esses desafios e as oportunidades que se avizinham, o presidente da Associação Latino-Americana de Nutrição Animal (Feedlatina), Roberto Ignacio Betancourt, autoridade reconhecida internacionalmente no campo da nutrição animal e da agricultura sustentável, participou do 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), que aconteceu entre os dias 09 e 11 de abril, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC), trazendo à tona questões como a pressão para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, a necessidade de minimizar o desperdício de recursos naturais e o fomento à promoção de práticas agrícolas mais éticas e socialmente responsáveis. “É muito importante estarmos cientes que para crescermos temos que olhar o mercado global de proteína animal, pois o nosso consumo local já é elevado e a população brasileira cresce pouco. É preciso entender que o mercado global está mudando e agora não adianta apenas ter preço e qualidade. Estamos entrando numa nova era, na qual a sustentabilidade e as emissões de carbono podem fechar ou abrir mercados, ou mesmo até impor penalidades”, expõe Betancourt, que também atua como diretor do Departamento do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e representa o Brasil na Federação Internacional da Indústria de Alimentos para Animais.

Presidente da Feedlatina, diretor da Fiesp e representante do Brasil na Federação Internacional da Indústria de Alimentos para Animais, Roberto Ignacio Betancourt: “Apesar das dificuldades, a indústria avícola brasileira vem avançando, conseguindo aliar melhorias ambientais à eficiência econômica” – Divulgação/Feedlatina

Conforme o especialista, a recuperação de pastagens aliada às tecnologias e ganhos de eficiência trazidas pela nutrição animal deverão dar importantes contribuições para uma transformação na produção pecuária no Brasil nos próximos anos, com ganhos em termos de precocidade, lotação e qualidade da carne produzida no país. “O setor já experimenta uma mudança acelerada, impulsionado pelos avanços na geração de energia limpa, melhoramento genético, nutrição de precisão, conhecimento e manipulação da microbiota gastrointestinal, mas é preciso que a tecnologia chegue a todos, inclusive nos pequenos produtores, para que tenhamos um cenário que possa ser considerado de mudança estrutural nos indicadores de produção e produtividade. Os benefícios ambientais serão imensos e teremos o desafio de quantificá-los, incorporando o carbono sequestrado pelas boas práticas de produção na análise de ciclo de vida da carne”, anseia.

De acordo com o palestrante, entre os principais desafios que o Brasil enfrenta na busca por uma produção animal mais sustentável, em comparação com outros países, está a urgência de desvincular o desmatamento ilegal na Amazônia da produção animal. “Somos muito fiscalizados por termos a maior e mais preservada floresta tropical do planeta, o que nos torna alvos de muitas organizações ambientalistas, principalmente das ONGs que atuam na Amazônia, o que acaba influenciando a opinião pública global”, menciona.

À medida que o mundo avalia a sustentabilidade em métricas ligadas à análise do ciclo de vida, Betancourt observa que os números brasileiros são excelentes. No entanto, quando acrescidos das emissões resultantes da mudança no uso da terra ou desmatamento, o país acaba se tornando menos sustentável pela métrica de emissões de CO2 equivalente (CO₂eq). “Combater o desmatamento ilegal é de total interesse do setor produtivo, bem como dissociá-lo da produção formal de carne”, ressalta.

Pressão ambiental x bem-estar animal

Em relação a como a pressão ambiental e as preocupações com o bem-estar animal estão influenciando as práticas de produção da avicultura de corte no Brasil, o presidente da Feedlatina ressalta que o país faz um excelente trabalho na área de bem-estar animal, com o apoio de diversas entidades, institutos de pesquisa, empresas, cooperativas, produtores, governo e academia. “Esse esforço coletivo se reflete em um excelente desempenho na produtividade e sanidade dos animais, o que tem conquistado a confiança da opinião pública e dos consumidores, além de diminuir atritos”, salienta. Contudo, o profissional ressalta que é um trabalho contínuo, que demanda constante atenção e aprimoramento. “É preciso ter clareza de que essa é uma ação permanente, que envolve diálogo com o governo, parlamentares, mas também a necessidade de esclarecimentos junto à opinião pública em geral e aos consumidores em especial. Isso tudo à luz dos melhores indicadores que a academia e os institutos vêm produzindo nesta área. O desafio é grande, mas estamos provavelmente mais preparados para essa agenda do que os nossos concorrentes internacionais”, salienta.

Atualmente, a mesma pressão nacional e global que influencia o bem-estar animal está alcançando as questões ambientais. Enquanto o bem-estar animal está mais restrito a ações dentro das granjas, transporte e frigoríficos, a questão ambiental abrange toda a cadeia de produção, desde o produtor de grãos e matérias-primas para a produção de ração, passando pelo transporte, armazenagem, fontes de energia, impactos climáticos, condições das granjas, tratamento de dejetos, transporte, embalagens, entre outros aspectos. Ou seja, do campo à mesa, toda a cadeia produtiva está envolvida. “Talvez seja por isso que o desafio ambiental é ainda mais complexo, exigindo uma abordagem integrada e holística para lidar com as questões de sustentabilidade em toda a cadeia de produção”, argumenta, enfatizando: “A busca por práticas mais sustentáveis na avicultura de corte no Brasil demanda um esforço conjunto de todos os elos da cadeia, desde os produtores rurais até os consumidores finais, visando promover um sistema de produção mais equilibrado e responsável com o meio ambiente”.

60% das emissões

Betancourt evidencia que o setor mais crítico na avicultura de corte para as emissões de CO₂eq é a nutrição animal, que contribui com aproximadamente 60% das emissões. “Por isso dependemos da sustentabilidade de nossa agricultura para mitigar esses impactos. O frango recebe as emissões das rações no conceito de ciclo de vida.  É essencial adotar estratégias que visem reduzir as emissões na produção de ração, como o uso de ingredientes alternativos de baixo impacto ambiental, a otimização da eficiência nutricional e a implementação de tecnologias mais sustentáveis no processo de produção de alimentos para os animais”, pontua.

Legislação

Apesar do Brasil possuir uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, com instrumentos como o CAR, Código Florestal e regulamento de resíduos, além de uma matriz energética extremamente limpa, Betancourt aponta que o impacto na avicultura brasileira ainda não é totalmente positivo devido à dificuldade em transformar essas regulamentações em métricas ambientais favoráveis ao setor. “Isso se deve, principalmente, à ineficiência e a baixa participação do Brasil nas esferas globais responsáveis por estabelecer as regras desse jogo. O mundo não vai valorizar as nossas reservas florestais espontaneamente, vamos ter que brigar para colocar todo o nosso trabalho ambiental nos números globalmente aceitos”, afirma o diretor da Fiesp.

Obstáculos

O especialista reforça que a sustentabilidade caminha lado a lado com a eficiência e se traduz em ganhos de produtividade e rentabilidade, gerando benefícios para a sociedade em geral. No entanto, o principal

desafio reside na falta de conhecimento e, portanto, de valorização deste trabalho por parte do consumidor. “A regulação internacional é feita de forma a atender aos interesses locais dos grandes reguladores. O caso mais clássico é o da União Europeia, que se propõe ao papel de ‘reguladores do mundo’, mas com o discurso de elevar o patamar da sustentabilidade, impõem regras que, em grande parte dos casos, somente as tecnologias de dentro do bloco podem atender, traduzindo-se em barreiras ao comércio internacional”, frisa.

Enfático, Betancourt afirma que o principal desafio socioeconômico enfrentado pela indústria avícola do Brasil, em relação à sustentabilidade, é financeiro. “Enquanto países mais ricos, como os Estados Unidos e a Europa, podem contar com financiamento público para promover a transição ambiental, com subsídios e linhas de crédito acessíveis, o Brasil não tem situação fiscal favorável para fomentar, via financiamento público, todas as ações necessárias de transição ambiental para reduzir as emissões, uma vez que também há competição por recursos com áreas estratégicas, como saúde e educação”, analisa o especialista, acrescentando.
“O nosso desafio é estruturar mecanismos mais sofisticados de financiamento, mas, em grande parte, devem ser utilizados recursos próprios de empresas e produtores, o que pode limitar a amplitude das ações. É por isso que em conferências climáticas, países em desenvolvimento demandam a efetivação dos compromissos dos países mais ricos para fomentar a transição. O financiamento prometido pelas nações mais ricas para auxiliar nessa transição. Apesar das dificuldades, a indústria avícola brasileira vem avançando, conseguindo aliar melhorias ambientais à eficiência econômica”, garante.

Gestão de resíduos

Quanto às práticas de gestão de resíduos na produção avícola brasileira, Betancourt destaca que o setor vem evoluindo de forma significativa, com o apoio da Embrapa e outras instituições. De acordo com ele, há um histórico de sucesso na utilização de subprodutos, biodigestores, produção de biogás, biofertilizantes e na redução de resíduos. “As empresas integradoras e cooperativas agropecuárias têm desempenhado um papel fundamental na replicação dessas soluções em larga escala. Há muitos exemplos de utilização de cama de frango como substrato para a produção de biogás”, exalta, emendando: “Esses modelos de sucesso demonstram que é possível implementar práticas de gestão de resíduos mais sustentáveis na produção avícola brasileira, contribuindo não apenas para a redução do impacto ambiental, mas também para a eficiência operacional e econômica do setor”.

Sistemas de produção “mais sustentáveis”

Betancourt afirma que o principal obstáculo para a adoção de sistemas de produção mais sustentáveis, como a produção orgânica ou de aves criadas ao ar livre, na avicultura de corte brasileira é o mercado. “À medida que os custos de produção aumentam, é necessário encontrar quem esteja disposto a pagar mais para que a produção seja viável”, sintetiza.

O especialista reforça que é importante não confundir essas alternativas de criação com sustentabilidade, já que muitas vezes podem resultar em um aumento das emissões de CO2 por kg de carne produzida. “O Brasil tem a capacidade de atender a todos os anseios dos consumidores”, afirma.

Outro fator a ser considerado, observado na Europa, foi o aumento do risco de transmissão de doenças, como a Influenza aviária, para aves criadas ao ar livre. “A sanidade do plantel é um aspecto de extrema importância para a sustentabilidade do setor como um todo. Enfrentar esse desafio exige uma abordagem equilibrada, considerando não apenas os aspectos ambientais, mas também os econômicos e de saúde pública”, elenca.

União do setor

Nesta nova era de sustentabilidade, o especialista ressalta a importância da união de todos os elos da cadeia. “Ninguém será capaz de resolver todos os desafios sozinho. Para continuar crescendo no exterior, a avicultura brasileira precisa estar alinhada com a agricultura, nutrição e saúde animal, governo, logística, fontes de energia, indústria de equipamentos, educação das pessoas, centros de pesquisa, organizações trabalhistas e entidades locais e internacionais”, ressalta. “O setor que tem entidades fortes, competentes e atuantes como a ABPA, Sindirações, Sindan, leva muita vantagem. A recente presidência do Ricardo Santin no Conselho Internacional de Aves é motivo de orgulho para todos nós e mostra que estamos no caminho certo”, complementa.

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Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Mandato de Ricardo Santin é renovado na presidência da ABPA

Ele também preside o Conselho Mundial da Avicultura, o Conselho de Administração do Instituto Ovos Brasil e da Câmara Setorial de Aves e Suínos do Ministério da Agricultura, além de ocupar a vice-presidência da Associação Latinoamericana de Avicultura.

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Ricardo Santin foi reconduzido ao cargo de presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal - Foto: Divulgação/ABPA

O advogado e mestre em Ciências Políticas, Ricardo Santin, foi reconduzido ao cargo de presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), após realização da Assembleia Geral realizada na quarta-feira (24), ocasião em que foi escolhido o novo Conselho Diretivo da associação.

O novo conselho será comandado por Irineo da Costa Rodrigues, que é diretor-presidente da Lar Cooperativa Agroindustrial há mais de três décadas, assumirá o posto até então ocupado pelo diretor comercial da Aurora Alimentos, Leomar Somensi.

O novo conselho diretivo contará ainda, entre titulares e suplentes com a participação de Neivor Canton, diretor presidente da Aurora Coop, José Carlos Garrote de Souza, presidente conselho de administração da São Salvador Alimentos, Cláudio Almeida Faria, gerente geral da Pif Paf Alimentos, Irani Pamplona Peters, presidente da Pamplona Alimentos, José Roberto Fraga Goulart, diretor-presidente da Alibem, José Mayr Bonassi, Rudolph Foods, Fábio Stumpf, diretor vice-presidente de agro e qualidade da BRF, Marcelo Siegmann, diretor de exportações da Seara, Dilvo Grolli, diretor presidente Coopavel, Bernardo Gallo, diretor geral Cobb-Vantress, Rogério Jacob Kerber, diretor executivo SIPS, Antônio Carlos Vasconcelos Costa, CEO Avivar Alimentos, Dilvo Casagranda, diretor de exportações da Aurora Alimentos, Carlos Zanchetta, Diretor de Operações da Zanchetta Alimentos, Nestor Freiberger, presidente da Agrosul, Cleiton Pamplona Peters, diretor comercial mercado interno da Pamplona Alimentos, Elias Zydek, diretor executivo da Frimesa, Gerson Muller, conselheiro Vibra Agroindustrial, Leonardo Dall’Orto, vice-presidente de mercado internacional e planejamento da BRF, Jerusa Alejarra, Relações Institucionais da JBS, Valter Pitol, diretor-presidente da Copacol, Mauro Aurélio de Almeida, diretor da Hendrix Genetics para o Brasil, José Eduardo dos Santos, presidente da Asgav, Jorge Luiz de Lima, diretor da Acav/Sindicarne, e Roberto Kaefer, presidente do Sindiavipar.

O ex-ministro e ex-presidente da ABPA, Francisco Turra, também foi reconduzido à presidência do Conselho Consultivo da associação, juntamente com os demais membros do conselho: “Agradeço a confiança do novo Conselho da ABPA e do presidente Irineu na continuidade deste trabalho da entidade que, pela união de esforços, tem gerado grandes resultados para a cadeia produtiva. Ao mesmo tempo, faço especial agradecimento a Leomar Somensi, que nos conduziu desde o primeiro dia de existência da associação, superando grandes crises e conquistando vitórias históricas para o nosso setor. O setor todo rende uma especial homenagem à esta inestimável liderança exercida por ele ao longo destes 10 anos”, destaca Ricardo Santin.

Além da presidência da ABPA, Santin é presidente do Conselho Mundial da Avicultura (IPC, sigla em inglês), do Conselho de Administração do Instituto Ovos Brasil e da Câmara Setorial de Aves e Suínos do Ministério da Agricultura, além de vice-presidente da Associação Latinoamericana de Avicultura (ALA).

Fonte: Assessoria ABPA
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