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Frimesa cria estratégias para contratar e reter milhares de novos trabalhadores
A empresa inaugurou recentemente um dos maiores frigoríficos de suínos da América Latina em Assis Chateaubriand, PR, com projeção de abate de 15 mil suínos/dia até 2028
Com uma trajetória de 45 anos no mercado brasileiro de alimentos, a Frimesa Cooperativa Central é reconhecida por sua expertise na industrialização de carne suína e derivados de leite, oferecendo uma gama de produtos de valor agregado ao mercado nacional e internacional. Composta pela união entre as cooperativas agroindustriais Copagril, Lar, C.Vale, Copacol e Primato, a Frimesa exerce um impacto significativo no mercado de trabalho. Suas operações abrangem diversas unidades, incluindo um frigorífico em Medianeira, PR, uma fábrica de queijos e um frigorífico em Marechal Cândido Rondon, PR, e uma unidade fabril de produtos refrigerados em Matelândia, PR. Essas instalações combinadas geram mais de nove mil empregos diretos e envolvem outras 20 mil pessoas em toda a cadeia produtiva, proporcionando valiosas oportunidades de trabalho para a região Oeste do Paraná.
Mil funcionários de uma só vez
Neste contexto, a Frimesa inaugurou recentemente um dos maiores frigoríficos de suínos da América Latina em Assis Chateaubriand, PR, com projeção de abate de 15 mil suínos/dia até 2028. Diante da necessidade de contratar mais de mil funcionários na etapa inicial da produção, a cooperativa desenvolveu estratégias e processos de seleção para garantir a contratação de profissionais qualificados, estabelecendo parcerias com a Agência do Trabalhador de Assis Chateaubriand e outras cidades vizinhas, que já possuem um banco de currículos cadastrados. “Essa colaboração facilitou o processo de recrutamento, pois permitiu acessar uma base de currículos já cadastrados”, afirma a gerente de Gestão de Pessoas da Frimesa, Elisa Fredo.
Além disso, a cooperativa adquiriu uma plataforma de admissão 100% digital, na qual os candidatos preenchem todas as informações de inscrição e anexam documentos por meio de um aplicativo, utilizando assinatura eletrônica. “Essa abordagem agiliza o processo e evita que os candidatos tenham que se deslocar até a Frimesa durante as diversas etapas de recrutamento. Para facilitar o deslocamento dos colaboradores, a Frimesa também disponibiliza transporte”, ressalta Elisa.
De acordo com ela, a primeira etapa de contratação em Assis Chateaubriand foi concluída com relativa facilidade graças à demanda reprimida de pessoas previamente cadastradas, bem como do aproveitamento de trabalhadores da construção civil que ajudaram na obra da unidade frigorífica e parcialmente migraram para a indústria. No fim de maio, o frigorífico em Assis Chateaubriand já contava com aproximadamente mil funcionários.
A unidade entrou em operação em meados de março e até final de junho a estimativa é a unidade esteja abatendo cinco mil cabeças/dia. Para isso, as cooperativas filiadas à Frimesa possuem um plano de expansão gradual, com um cronograma para aumentar a produção. “Algumas cooperativas estão construindo granjas para a produção de leitões desmamados, enquanto outras estão investindo em iniciadores e produtores, contribuindo para além de aumentar a oferta também gerar mais empregos no campo. Com isso, até dezembro, teremos capacidade para processar 7,5 mil cabeças por dia de suínos terminados. Essa é a meta que pretendíamos alcançar na primeira etapa, que, inicialmente, estava prevista para 2025. Estamos antecipando em dois anos o cumprimento da primeira fase, que corresponde a 50% da capacidade da unidade”, destaca o presidente da Frimesa, Elias José Zydek.
Parceria
À medida que o frigorífico alcançar sua capacidade total em 2032, estima-se que a Frimesa irá gerar cerca de 8,5 mil empregos diretos somente na unidade. Para lidar com essa demanda de mão-de-obra ao longo dos próximos anos, a cooperativa estabeleceu uma parceria com o Instituto Federal do Paraná (IFPR), campus de Assis Chateaubriand, com o objetivo de oferecer cursos de aprendizagem aos jovens, que inicialmente serão contratados pela Frimesa como jovens aprendizes e, posteriormente, poderão ser efetivados em diferentes setores, com foco especial na área de manutenção, onde receberão qualificação.
Além disso, a cooperativa planeja contratar estagiários do IFPR, principalmente em áreas técnicas. “Para garantir que os colaboradores estejam sempre qualificados e preparados para as demandas, serão disponibilizados programas de qualificação industrial, inovação, liderança, entre outros, de forma continuada. Também serão oferecidos subsídios para cursos de graduação e pós-graduação, para que tenhamos sempre profissionais qualificados e preparados para as nossas demandas”, pontua a gerente de Gestão de Pessoas.
O superintendente da Divisão Administrativa da Frimesa, Paulo Frandoloso, destaca que, além disso, a cooperativa está colaborando com o plano de expansão e mobilidade do município chateaubriandense, que inclui a implantação de diversos serviços e a construção de moradias. “Essas iniciativas são importantes para atender às necessidades de habitação e atividades sociais decorrentes do aumento da população em Assis Chateaubriand. Já existem iniciativas privadas de lançamento de loteamentos próximos à cidade para suprir a demanda por moradia, o que facilitará e aumentará a migração de pessoas para o município pelas oportunidades de emprego oferecidas pela cooperativa. São iniciativas importantes para atração e retenção dos colaboradores”, enaltece Frandoloso.
Segundo Elisa, haverá um escalonamento de produção progressiva ano após ano e a necessidade de trabalhadores vai acompanhar essa evolução. “Haverá momentos de maior demanda por mão-de-obra, especialmente com a abertura de novos turnos, mas isso está sendo planejado para suprir essa necessidade”, menciona, contando que para ampliar a oferta de trabalhadores, a cooperativa também busca profissionais na microrregião e em municípios no entorno a Assis Chateaubriand, ação essa já realizada nas demais plantas industriais da Frimesa.
Empregos indiretos
Além dos empregos diretos, o frigorífico terá um impacto significativo na região de Assis Chateaubriand, gerando aproximadamente 7,5 mil empregos indiretos. “A Frimesa está empenhada em colaborar com a comunidade local e as autoridades para maximizar os benefícios socioeconômicos dessa expansão, por isso vamos implementar diversas ações sociais, ambientais e educacionais ao longo do tempo, visando beneficiar diretamente a comunidade. Além disso, estão sendo estabelecidos programas de capacitação, em parceria com instituições locais, para preparar a mão-de-obra local e garantir que estejam aptos a aproveitar as oportunidades de emprego geradas pela cooperativa”, adianta Elisa.
A Frimesa também está engajada em participar de reuniões e discussões junto à comunidade local a fim de compreender e atender as demandas do município e da região no seu entorno. “Isso inclui também ouvir os produtores de suínos associados às cooperativas filiadas à central, bem como os motoristas terceirizados envolvidos na logística e distribuição”, expõe Frandoloso, acrescentando: “Essas iniciativas demonstram o compromisso da Frimesa em promover o desenvolvimento socioeconômico local, proporcionando melhores condições de vida e oportunidades de crescimento para a comunidade envolvida”.
Novas contratações
A produção em uma agroindústria como um frigorífico abrange diversas fases e áreas de atuação. Para atender a demanda de funcionários em cada uma dessas etapas, Elisa diz que a cooperativa vai realizar as contratações de forma proporcional às necessidades de cada etapa do processo. “A Frimesa já consolidou a primeira fase, que envolve o suprimento de matéria-prima através dos cooperados. A segunda fase, que inclui o abate, já está em andamento, seguido pelos cortes e industrialização”, informa.
Automação
Como parte de sua estratégia de modernização, a Frimesa adota a automação em suas operações, incluindo o processo de abate, cortes, estocagem e industrialização. Essa incorporação de robôs e tecnologia visa reduzir a dependência de mão-de-obra e melhorar a ergonomia dos processos.
Com a automação, Elisa destaca que se espera alcançar benefícios significativos em termos de eficiência, produtividade e qualidade dos produtos. “Além de otimizar as tarefas, a introdução de processos tecnológicos e a redução da necessidade de mão-de-obra ajudam a aumentar a eficiência operacional. Isso resulta em maior produtividade e agilidade na produção, além de garantir padrões consistentes de qualidade nos produtos finais. A planta da unidade de Assis foi projetada com essa visão em mente, incorporando automação e processos tecnológicos para alcançar esses benefícios”, salienta a gerente de Gestão de Pessoas.
Desenvolvimento profissional
A Frimesa também investe no desenvolvimento profissional e na capacitação de seus funcionários. Dispõe de diversos programas para impulsionar o crescimento e aperfeiçoamento dos trabalhadores como o Programa Conquistar, que oferece oportunidades de início de carreira por meio de projetos como do Jovem Aprendiz, estágio e trainee. Além disso, a cooperativa subsidia a educação formal dos funcionários por meio do projeto de Educação Continuada, que inclui cursos de graduação e pós-graduação.
Internamente, são desenvolvidos programas de qualificação em áreas como metalmecânica, alimentos e tecnologia da informação, preparando os colaboradores para enfrentar os desafios específicos de cada setor. O Programa Crescer, através da Escola de Formação, junto com os projetos de Recrutamento Interno e Germinando Talentos, impulsiona o crescimento profissional e pessoal dos funcionários, proporcionando o desenvolvimento de competências e habilidades essenciais para a ascensão na carreira. “Essas iniciativas são estratégias poderosas para promover o crescimento e o aprimoramento contínuo dos colaboradores, assegurando que eles estejam preparados para enfrentar os desafios do setor agropecuário e contribuam de forma significativa para o sucesso da cooperativa”, salienta Elisa.
Fortalecimento da cadeia produtiva
Conforme Zydek, o objetivo primordial do novo frigorífico é proporcionar o crescimento da produção de suínos dos produtores cooperados nas filiadas, promovendo a diversificação da renda e a agregação de valor na cadeia produtiva. Com essa nova unidade, a Frimesa passará da atual participação de 6% na produção brasileira de carne suína para 14% até 2030, estabelecendo-se como uma das quatro maiores operadoras do setor no país. Além disso, estima-se que o faturamento da empresa cresça de R$ 5,5 bilhões para R$ 12 bilhões neste período, contribuindo para sua consolidação como referência no setor agroindustrial.
O presidente evidencia que a Frimesa tem como compromisso incorporar os princípios de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental em todas as suas operações, incluindo o novo frigorífico e suas estratégias de contratação e produção. “O projeto Suíno Certificado, que abrange todo o sistema de produção de suínos, é baseado no conceito de sustentabilidade e envolve certificação e auditoria nas áreas de meio ambiente, sanidade, trabalho legal, bem-estar animal, gestão e rastreabilidade. Além disso, o frigorífico foi concebido com práticas sustentáveis, como a geração de biometano e CO2 a partir dos resíduos industriais, coleta de água da chuva, reuso de água, geração de energia solar e reflorestamento para biomassa. A utilização de equipamentos com baixo consumo de energia também é priorizada”, elenca Zydek.
Perspectivas promissoras
Diante do crescimento do setor agroindustrial e da busca crescente por alimentos de qualidade, o futuro do emprego nessa área apresenta perspectivas promissoras. Zydek pontua que existe um aumento na demanda por profissionais técnicos e operadores com conhecimentos em eletrônica, tecnologia da informação e análise de dados, uma vez que os processos estão se tornando cada vez mais robotizados e automatizados, exigindo habilidades técnicas específicas. Além disso, há espaço para crescimento de oportunidades na área de desenvolvimento de produtos e inovações nutricionais.
No entanto, o presidente da Frimesa afirma que um dos principais desafios está em garantir que as pessoas estejam continuamente preparadas, uma vez que a tecnologia avança rapidamente e as demandas dos consumidores estão em constante evolução. “A capacitação e atualização constantes dos profissionais são fundamentais para acompanhar as mudanças tecnológicas e atender as necessidades do mercado”, salienta.
Como fazer parte da Frimesa
Para os trabalhadores em potencial que desejam fazer parte da Frimesa e contribuir com o sucesso da cooperativa, Zydek ressalta que são oferecidas oportunidades para aqueles que buscam segurança e têm o desejo de crescer profissionalmente. “O DNA da Frimesa está expresso na sua cultura, que se baseia na cooperação, sustentabilidade, respeito às pessoas, governança transparente e na busca por fazer o que é certo. Ao ingressar na Frimesa, o profissional terá a chance de se juntar a uma equipe motivada e apaixonada pelo que faz. Valorizamos nossos colaboradores e oferecemos oportunidades de desenvolvimento profissional contínuo, por meio de programas de capacitação, educação continuada e qualificação em diversas áreas. Além disso, proporcionamos um ambiente de trabalho seguro, colaborativo e inclusivo, onde todos têm a oportunidade de crescer e se destacar”, frisa.
Ao se juntar à Frimesa, Zydek destaca que o trabalhador estará fazendo parte de uma cooperativa que tem como missão fornecer alimentos de valor para as pessoas, um compromisso que guia as ações diárias da cooperativa.
A edição Especial de Cooperativismo de O Presente Rural pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Boa leitura!
Notícias
ExpoLeite: reunião com fiscais do Concurso Leiteiro alinha as regras da competição
O evento começará oficialmente no dia 18 de outubro.
Na tarde dessa última sexta-feira (11) foi realizada uma reunião com os estudantes da Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu) que irão atuar como fiscais responsáveis pelo Concurso Leiteiro da ExpoLeite, feira promovida pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) entre os dias 21 e 25 de outubro no Parque Fernando Costa em Uberaba (MG).
Durante o encontro, os fiscais receberam orientações detalhadas sobre os critérios de pesagem, controle da produção e cuidados com o bem-estar animal. A reunião, que foi realizada de forma híbrida, também contou com as participações de representantes da Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL) e da Girolando.
O Concurso Leiteiro da ExpoLeite começa oficialmente no dia 18 de outubro. As pesagens oficiais terão início no dia 20, às 14h, e seguirão até o encerramento do evento no dia 23, também às 14h.
Acesse a programação completa da ExpoLeite 2024, clicando aqui.
Notícias Dia da pecuária
Carne bovina é um dos principais produtos pecuários nas exportações brasileiras
O Brasil é o maior exportador de carne do mundo, segundo maior produtor e terceiro maior consumidor.
A pecuária é um dos pilares do agronegócio brasileiro e, em reconhecimento à sua relevância para a economia e a sociedade, comemora-se nesta segunda-feira (14) o Dia Nacional da Pecuária.
“O Brasil é um país de grande importância na pecuária internacional, exportamos carne bovina para mais 150 países, além de outros produtos do setor que movimentam a economia e agropecuária brasileira”, destacou o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) atua tanto no fomento da cadeia produtiva quanto no incentivo às exportações. Somente com a carne bovina, as vendas alcançaram US$ 1,25 bilhão em setembro deste ano, um aumento de 29,2% em comparação ao mesmo período de 2023.
Segundo a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI/Mapa), o faturamento de setembro é o terceiro maior da história das exportações do setor. As exportações de carne bovina in natura também registraram recorde de volume embarcado, com vendas que somaram US$ 1,14 bilhão, um crescimento de 28,4%.
Em 2023, a produção de carne bovina foi de 9,5 milhões de toneladas, e a expectativa para este ano é de 10,2 milhões de toneladas, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O relatório “Perspectivas para a Agropecuária – Safra 2024/25, volume 12” destaca que o Brasil é o maior exportador, o terceiro maior consumidor mundial e o segundo maior produtor de carne bovina.
O secretário da SCRI, Luis Rua, ressaltou o compromisso do Mapa em ampliar os mercados internacionais para a cadeia produtiva. “Não paramos de trabalhar para fortalecer a cadeia pecuária, garantindo um pecuarista forte, frigoríficos robustos e uma cadeia completa, gerando benefícios sociais e econômicos para o país”, afirmou.
Para que os pecuaristas acessem o mercado externo, é necessário cumprir os requisitos regulamentados pelo Mapa, por meio da
Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA). É imprescindível obter o registro do estabelecimento no Serviço de Inspeção Federal (SIF), que atesta a regularidade sanitária, técnica e legal das instalações e etapas do processo de produção. Após a concessão do registro, a empresa deve solicitar a habilitação para exportar junto ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa/SDA).
De acordo com a Secretaria, atualmente mais de 3.200 estabelecimentos nacionais estão registrados no SIF. Todos os estabelecimentos registrados são habilitados para exportação. Qualquer estabelecimento registrado no Dipoa possui autorização para exportar produtos de origem animal (POA) para países que não exigem habilitação específica. No entanto, alguns países requerem que, além do registro no Dipoa, o estabelecimento tenha uma autorização de exportação concedida pelo país importador, o que chamamos de habilitação.
Outro requisito é o Certificado Zoossanitário Internacional (CZI), que é o documento que expressa o acordo sanitário estabelecido entre autoridades sanitárias de países que realizam, entre si, comércio de animais e material de multiplicação animal. Significa que, ao emitir o documento, a autoridade sanitária do país de origem da mercadoria atesta o cumprimento de todas as condições, chamadas requisitos sanitários, que incluem exigências de saúde e bem-estar animal, demandadas pelo país importador.
Notícias Meio Ambiente
Reposição de estoque do Aquífero Guarani é insuficiente, mostra estudo
Problema causa preocupação em áreas de grande produção agrícola.
Uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Geociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro percebeu que a reposição de águas do Aquífero Guarani está abaixo do necessário para garantir a manutenção da quantidade disponível no reservatório, que se estende por áreas do Sul e Sudeste do país, além de Paraguai, Uruguai e Argentina. O reservatório atende 90 milhões de pessoas, sendo responsável pela manutenção do nível de rios e lagos em algumas áreas do interior paulista durante o período de seca.
Em entrevista à Agência Brasil, o pesquisador Didier Gastmans, do Centro de Estudos Ambientais da Unesp Rio Claro, explicou que a pesquisa buscou entender a importância da chuva na entrada de águas novas no aquífero, nas áreas de afloramento (superfície), e que foi possível confirmar esse papel. Ele acompanha o tema desde 2002, em seu doutorado, e todas as pesquisas desde então apontam que os efeitos de superexploração do reservatório são constantes, contínuos e tem piorado com a mudança de distribuição das chuvas na área de afloramento, que alimenta o aquífero. O problema causa preocupação em áreas de grande produção agrícola e população, como Ribeirão Preto, no norte paulista, onde os primeiros efeitos são sentidos desde a década de 1990. “Agora começou a aumentar muito o número de poços e isso começa a dar sinais em diversas regiões do interior”, disse Gastmans.
O geólogo afirmou que os indícios de superexploração estão claros no monitoramento dos poços e do nível dos reservatórios, atingindo aqueles próximos das regiões de afloramento, que têm níveis de dois a três metros mais baixos, em média, mas também os grandes poços de exploração para indústria e agronegócio, nos quais o rebaixamento atinge médias de 60 a 70 metros em dez anos. Nessa dinâmica “a água tem uma determinada profundidade no poço e vai baixando, o que demanda poços mais profundos e bombas mais potentes. Na porção oeste (do estado de São Paulo) a gente fala de grandes produtores e sistemas para abastecimento público. Pequenos produtores já sentem esse impacto em algumas regiões próximas da área de afloramento”, esclareceu.
Esse rebaixamento dos níveis chega, em determinados pontos, a até 100 metros, considerável até para as dimensões do Aquífero, que tem níveis com 450 metros de espessura do reservatório, chegando a até 1 quilômetro de profundidade. A maior parte do consumo do Guarani é para o abastecimento urbano, e ao menos 80% dela se concentram no estado de São Paulo.
Um dos fatores que preocupa no curto prazo é que a chuva nas regiões de superfície, a partir das quais há recarga no aquífero, são muito concentradas, situação na qual apenas uma pequena parcela de chuva infiltra para o subsolo e ocorre um escoamento maior e infiltra menos. Também há impacto do aumento da evaporação nas áreas de superfície, causado pelo aumento da média de temperatura nas regiões.
Gastmans criticou a falta de um conjunto claro de ações por parte dos órgãos públicos, afirmando que a primeira ação necessária é conhecer os usuários. “É necessária a implantação de um sistema de monitoramento em tempo quase real, para conhecer e dimensionar os atendimentos e as políticas de curto e médio prazo”. O segundo é consorciar água subterrânea e água superficial, para usar de maneira integrada de acordo com a disponibilidade sazonal. “Também se faz necessário pensar no planejamento futuro: sempre se fala em desenvolvimento, mas os gestores parecem ignorar que não existe desenvolvimento plenamente sustentável, pois todo desenvolvimento tem um impacto e essas pessoas precisam começar a se antecipar aos problemas”. O pesquisador da Unesp defendeu ainda a necessidade de pensar no uso de águas de melhor qualidade para abastecimento público e de águas de menor qualidade para outros usos, como irrigação de áreas extensas do setor sucroalcooleiro e de cítricos e uso industrial.
Procurada pela reportagem, a Agência de Águas do Estado de São Paulo (SP Águas) informou que monitora todos os estudos relacionados à recarga do Aquífero Guarani e dos demais corpos d’água do estado. Segundo o órgão “a gestão do aquífero é realizada de maneira integrada com outros recursos hídricos, visando garantir o equilíbrio entre as demandas de uso e a preservação ambiental”. A maior parte da captação de água no estado de São Paulo se concentra em fontes superficiais (rios e lagos), sendo a captação em poços profundos, que acessam o Aquífero Guarani, a menor parcela do total dos recursos hídricos. “Toda captação de água no estado está sujeita à outorga, concedida somente após criteriosa análise técnica”.
Origem das águas
A pesquisa conduzida pela Unesp, com o apoio da Fapesp, agência paulista de amparo à pesquisa, usou o monitoramento de isótopos estáveis de hidrogênio e oxigênio como marcadores para identificar a origem das águas que compõem o reservatório, o que permitiu perceber as áreas de superfície que colaboram para a manutenção dos níveis do Aquífero Guarani. Também usaram um processo de datação com isótopos dos gases criptônio e hélio para datar a água de alguns poços, o que permitiu detectar idades variando de 2.600 anos, em Pederneiras, até 127 mil anos em Bebedouro, 230 mil anos em Ribeirão Preto e 720 mil anos no Paraná.
A pesquisa How much rainwater contributes to a spring discharge in the Guarani Aquifer System: insights from stable isotopes and a mass balance model pode ser acessada aqui.