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A chuva lava…o fertilizante repõe!
Toda atividade agrícola esgota o solo exportando os nutrientes na forma de alimento para os seres humanos. Renovar a fertilidade do solo é, portanto, essencial para garantir a segurança alimentar a longo prazo.
Consideramos um solo mais fértil quando possui nutrientes em quantidades suficientes e em formas minerais que podem ser assimiladas pelas plantas. Quando crescem, as plantas retiram os nutrientes de que necessitam do solo e, portanto, esgotam-no. Por outro lado, quando as plantas morrem, elas são decompostas e permitem que os nutrientes retornem ao solo e se tornem disponíveis novamente. É, portanto, um processo cíclico de reciclagem de nutrientes.
No entanto, esse ciclo é aberto e um solo pode ganhar ou perder nutrientes. Por exemplo, a água da chuva pode se infiltrar no solo e levar certos nutrientes consigo para os lençóis freáticos e cursos d’água, isso é chamado de lixiviação ou drenagem. Alguns solos são mais sensíveis a essa perda do que outros, como é o caso dos solos arenosos.
Por exemplo, uma área agrícola sendo explorada por uma plantação de milho, durante seu crescimento a planta retira nutrientes do solo e os utiliza para construir seus diversos órgãos: grãos, folhas, ramos, raízes. Quando os grãos de milho são colhidos, os nutrientes ali acumulados são exportados, deixando o solo mais pobre em nutrientes, o que acaba levando, aos poucos, ao esgotamento dos nutrientes e a atividade agrícola torna-se comprometida. Assim, é muito importante renovar a fertilidade dos solos cultivados, independente do sistema agrícola implantado.
Ao longo da história, vários métodos de renovação da fertilidade do solo foram usados e muitos deles são lentos e levam longos anos para a restituição dos nutrientes perdidos. Mas, a técnica que tem obtido mais sucesso é o uso de fertilizantes.
O uso do termo fertilizante é usado aqui para qualquer matéria externa trazida ao solo para fornecer nutrientes às plantas. Este material pode ser o fertilizante orgânico, os quais contêm proporções muito variáveis de nutrientes, porém não estão em formas imediatamente disponíveis às plantas.
Ao contrário dos fertilizantes orgânicos, podemos contar com a adição dos nutrientes que já estão na forma mineral, neste caso estamos falando dos fertilizantes minerais. Estes têm a vantagem de serem mais concentrados e assimilados diretamente pelas plantas. Os fertilizantes minerais são muitas vezes misturas dos três nutrientes mais importantes (porque são mais frequentemente limitados nos solos): nitrogênio, fósforo e potássio – os conhecidos fertilizantes “NPK”.
Neste momento, você deve estar se perguntando por que não devolvemos apenas os nutrientes que foram retirados pela produção de alimentos?
Para melhor entender essa questão, precisamos compreender que os nutrientes não são retirados do solo somente por meio da exportação ocasionada pela colheita dos produtos agrícolas, mas podem ser facilmente transportados para os rios e lagos por meio de escoamento e lixiviação, ou seja, é a perda de nutrientes por drenagem no perfil do solo. Assim, a alta incidência de chuvas fortes e em grande volume, conforme tem acontecido nesses últimos meses, podem diminuir a disponibilidade de alguns nutrientes para as plantas, principalmente o nitrogênio.
Uma das formas de reduzir as perdas é adaptar a dose de nutrientes e a época de fornecimento do fertilizante ao crescimento da planta e a sua capacidade de absorção. A adubação bem calibrada irá limitar o risco de perdas dos nutrientes. Isso permitirá oferecer maior eficiência ao processo da adubação, não necessitando repor os nutrientes perdidos.
Toda atividade agrícola esgota o solo exportando os nutrientes na forma de alimento para os seres humanos. Renovar a fertilidade do solo é, portanto, essencial para garantir a segurança alimentar a longo prazo. Hoje, nosso sistema alimentar é caracterizado pelo gerenciamento linear de nutrientes.
Os nutrientes são trazidos para as lavouras principalmente na forma de fertilizantes minerais, os quais são transferidos para nosso corpo e, posteriormente, excretados na forma de urina e fezes. Esses excrementos são tratados como poluentes a serem eliminados.
Enfim, não voltam para repor as retiradas ocorridas nas lavouras. Um caminho óbvio para a resiliência do sistema consiste, portanto, em tentar fazer a ciclagem de nutrientes, como na maioria dos ecossistemas. Nossa esperança é que nossos resíduos se tornem recursos nutricionais novamente.
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Sucessão familiar no agro: como atrair os jovens para o campo?
É fundamental que os jovens vejam o campo como um espaço onde tradição e inovação se complementam e coexistem de forma harmoniosa.
A sucessão familiar no agronegócio tem se tornado um dos grandes desafios para o setor rural, especialmente em um contexto em que os jovens estão cada vez mais imersos em tecnologia e afastados das práticas tradicionais da agricultura. Esse distanciamento ameaça a continuidade das atividades no campo, principalmente em regiões onde o trabalho artesanal, como a delicada colheita de grãos de café, ainda desempenha um papel fundamental para a economia local e a preservação da cultura agrícola.
O grande desafio está em demonstrar que o trabalho rural pode ser sinônimo de oportunidades, crescimento pessoal e profissional, desde que haja um equilíbrio entre inovação tecnológica e respeito aos métodos tradicionais.
Para garantir a continuidade das propriedades rurais e a manutenção da produção, é essencial adotar estratégias que tornem o campo mais atraente para as novas gerações. Investir em tecnologia e inovação é um dos principais caminhos, pois permite modernizar as atividades agrícolas, tornando-as mais eficientes e rentáveis. Além disso, a introdução de práticas sustentáveis e a adoção de modelos de gestão mais profissionalizados podem despertar o interesse dos jovens que buscam alinhamento com causas ambientais e sociais.
Outro fator crucial é a educação e capacitação voltadas para o agronegócio. Oferecer programas de treinamento e especialização em áreas como agroecologia, gestão rural e empreendedorismo pode preparar melhor os jovens para assumir a liderança das propriedades familiares. Incentivos governamentais, como acesso a crédito e políticas de apoio à agricultura familiar, também são fundamentais para facilitar essa transição. Criar um ambiente onde os jovens se sintam valorizados e capazes de inovar é essencial para garantir a sucessão familiar e a sustentabilidade do setor agrícola a longo prazo.
É fundamental que os jovens vejam o campo como um espaço onde tradição e inovação se complementam e coexistem de forma harmoniosa. Integrar tecnologias modernas às práticas agrícolas tradicionais pode não apenas preservar o legado familiar, mas também abrir novas oportunidades de crescimento e desenvolvimento sustentável no setor rural.
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Segurança alimentar na América Latina e Caribe: progresso, desafios e o compromisso de avançar
Somente com um compromisso firme poderemos acabar com a fome e a má nutrição. Sem deixar ninguém para trás.
A última publicação do relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024 (SOFI, na sigla em inglês), lançada em julho passado durante a reunião do G20 no Rio de Janeiro, oferece uma visão detalhada dos avanços e retrocessos na luta contra a fome. Em nível global, embora tenhamos alcançado alguns progressos, persistem desigualdades significativas: enquanto a África continua sendo a região mais afetada, a América Latina apresenta sinais positivos de recuperação, refletindo o impacto dos esforços conjuntos para melhorar a segurança alimentar na região.
O caminho não tem sido fácil. Após a pandemia de COVID-19, nossa região foi uma das mais afetadas pela fome, atingindo em 2021 seu ponto mais alto, com 6,9% da população afetada, enquanto 40,6% enfrentaram insegurança alimentar moderada ou grave. Durante vários anos, observamos como os avanços obtidos no início dos anos 2000 foram rapidamente revertidos.
No entanto, nos últimos dois anos, houve uma diminuição nos níveis de fome, com uma taxa de 6,2% da população, o que representa uma redução de 4,3 milhões de pessoas, impulsionada principalmente pela América do Sul.
Investimentos em programas de proteção social em vários países da região têm sido fundamentais para impulsionar essa recuperação. Através dos sistemas sociais, foi possível responder rapidamente e direcionar os recursos financeiros disponíveis de maneira mais eficaz para as populações mais vulneráveis.
Apesar dos progressos na região, as sub-regiões do Caribe e da América Central continuam a enfrentar desafios no aumento da fome. Não podemos nos permitir retroceder. É fundamental que aprofundemos a análise das visões e estratégias que mostraram resultados positivos para continuar avançando nesse caminho.
A seis meses da Conferência Regional da FAO em Georgetown, Guiana, nos comprometemos a dar respostas tangíveis às prioridades estabelecidas pelos países para transformar os sistemas agroalimentares e alcançar uma Melhor Produção, uma Melhor Nutrição, um Melhor Meio Ambiente e uma Vida Melhor.
Na FAO, iniciamos um processo de reflexão de alto nível junto aos governos para compartilhar experiências de políticas públicas orientadas a garantir a segurança alimentar e nutricional.
Nossa região, assim como o resto do mundo, deve estar preparada para enfrentar riscos crescentes como a mudança climática, conflitos, crises econômicas, entre outros desafios.
A América Latina e o Caribe demonstraram que, com políticas adequadas, podemos avançar e oferecer respostas concretas e sustentáveis. Somente com um compromisso firme poderemos acabar com a fome e a má nutrição. Sem deixar ninguém para trás.
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Recursos hídricos, queimadas e cinzas: a urgência do necessário equilíbrio na busca pela sustentabilidade ambiental
Com a chegada das chuvas, ou mesmo transportada pelo ar, parte desse material atinge carreando uma os recursos hídricos, série de elementos químicos capazes de alterar a qualidade da água, prejudicando seu grau de potabilidade.
A água e o fogo são elementos que não se misturam, mas que se influenciam e podem comprometer significativamente a saúde das pessoas e toda a vida na Terra. A água é um elemento essencial à vida, mas em excesso pode trazer várias consequências negativas, como os episódios de enchentes e alagamentos vistos recentemente no Brasil. O fogo já era manipulado pelos povos primitivos há milhares de anos, e hoje é uma ferramenta fundamental para diversas atividades humanas. Contudo, se utilizado sem o controle necessário ou de formas criminosas, pode também ser extremamente nocivo e perigoso.
Resultados de estudos recentes mostram as interações entre esses dois elementos e, principalmente, as influências negativas do fogo sobre a água no nosso planeta. Vários artigos científicos têm relatado os efeitos das queimadas na redução da quantidade de água disponível, afetando, entre outros aspectos, a umidade do ar. Essas consequências estão amplamente relacionadas às mudanças climáticas e ao aquecimento global propriamente dito.
E sobre a qualidade da água, o que se fala? Pouco. Como o fogo e a água não se misturam, são os resíduos deixados pelo fogo que interagem na água, causando interferências diretas e redução na sua qualidade.
Os impactos das cinzas de incêndios florestais sobre os recursos hídricos têm sido amplamente estudados em regiões temperadas, na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, o tema ganhou relevância no âmbito do projeto de pesquisa “Queimadas e recursos hídricos no Cerrado: efeitos das cinzas sobre aspectos limnológicos e ecotoxicológicos” (2010-2012) e, posteriormente, no “Projeto Cinzas: aspectos motivacionais de uso do fogo e efeitos sobre a água e o solo como subsídios para mitigação dessa prática na agricultura” (2013-2016), ambos liderados pela Embrapa Cerrados (DF) e financiados pelo Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (CNPq).
No entanto, ainda há muitas lacunas a serem preenchidas e várias questões a serem investigadas. O que se sabe é que as queimadas são eventos frequentes e naturais no Cerrado brasileiro, por exemplo, mas a ação humana tem ampliado a sua frequência e gerado diversos problemas ambientais. Além das perdas verificadas após o término do fogo, efeitos não facilmente visíveis também são detectados. As cinzas e a fuligem geradas pelo fogo são compostas por elementos químicos constituintes dos seres vivos queimados (vegetais ou animais) ou mesmo de materiais minerais, que podem ser degradados dependendo da intensidade do fogo.
Com a chegada das chuvas, ou mesmo transportada pelo ar, parte desse material atinge carreando uma os recursos hídricos, série de elementos químicos capazes de alterar a qualidade da água, prejudicando seu grau de potabilidade e, principalmente, a sobrevivência das espécies que habitam os ecossistemas aquáticos. A presença de macronutrientes como potássio, fósforo e nitrogênio, além de micronutrientes como vários metais, é marcante nas cinzas, e as quantidades disponíveis de cada um desses elementos são o aspecto de maior relevância para a determinação das consequências.
Em contato com a água, parte desses compostos se dissolve, alterando diversos parâmetros físico-químicos do meio aquático, entre eles o pH e o oxigênio dissolvido, fatores limitantes para a sobrevivência de algumas espécies. Nesse caso, ambientes com baixa vazão ou fluxo de água, tais como lagos, lagoas e reservatórios, podem ser mais comprometidos.
A contaminação da água subterrânea pelas cinzas também foi estudada, e pode ser um ponto de atenção com relação a distúrbios digestivos em indivíduos que consomem água de poço, ou até mesmo um problema para irrigantes que utilizam essa água, visto que elementos como o cálcio e o magnésio podem prejudicar o funcionamento dos equipamentos de irrigação.
Dados relacionados ao comportamento humano mostram que o uso errôneo do fogo pode e deve ser minimizado, sobretudo com maior envolvimento de órgãos públicos, por meio da promoção de atividades instrucionais e de educação ambiental para as comunidades, além do combate a práticas que podem ser prejudiciais ao ambiente e à saúde humana.
O fato é que o equilíbrio na interação entre água, fogo e ações humanas precisa urgentemente ser reestabelecido, de modo a reduzir os danos observados, garantindo assim a sobrevivência humana e a sustentabilidade ambiental do planeta.