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Vão máximo do piso em granjas brasileiras ultrapassa limites recomendados e compromete bem-estar animal, aponta médico-veterinário

Especialista diz que não existe um piso ideal, pois cada aspecto positivo pode trazer um aspecto negativo. Porém, ele recomenda que é preciso avaliar a realidade de cada fase para fazer a melhor escolha.

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Foto: Shutterstock

A escolha do piso ideal para suínos não possui uma resposta definitiva, uma vez que depende de diversos fatores e circunstâncias, assim como cada tipo de piso apresenta vantagens e desvantagens em diferentes situações e fases do sistema de produção. Além disso, fatores como clima, umidade, nutrição e genética também devem ser levados em consideração. Quem chama atenção para esses aspectos é o médico-veterinário e mestre em Ciência Animal, Tom Kramer, que foi um dos palestrantes do 17º Encontro Regional da Abraves/PR, realizado em meados de março, em Toledo, PR.

De acordo com um estudo realizado pela Universidade Estadual de Iowa, nos Estados Unidos, foi constatado que cerca de 29% das mortes ou eliminações de suínos no plantel ocorrem devido a problemas locomotores, especificamente relacionados à claudicação. Em outro levantamento realizado em 2007, os problemas locomotores e a claudicação foram responsáveis por cerca de 30% das ocorrências de problemas no plantel de criação de suínos. Contudo, passados quase 20 anos, a suinocultura ainda enfrenta essa mesma realidade. “Isso sugere que há algo que não estamos fazendo corretamente para lidar com esse problema. É fundamental avaliar as práticas de manejo e a nutrição dos animais, bem como as condições de alojamento, a fim de identificar possíveis causas dessas ocorrências e implementar medidas para preveni-las”, menciona o médico-veterinário.

Médico-veterinário e mestre em Ciência Animal, Ton Kramer – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Ao analisar a realidade brasileira, com base em um levantamento realizado há quase 10 anos, constatou-se que 65% das porcas apresentavam algum grau de claudicação. Em uma amostra de mais de 60 mil fêmeas, avaliadas em 36 granjas, foi identificado que a prevalência de claudicação variava entre 43% e 83%. “Esses dados demonstram que a claudicação é um problema relevante e frequente na suinocultura brasileira, que pode afetar a saúde e o bem-estar dos animais e, consequentemente, a rentabilidade da produção”, revela Kramer.

Além de escolher um tipo de piso adequado, é fundamental considerar o design da instalação, a qualidade construtiva, a manutenção das instalações e a condição dos animais que ocupam esse ambiente. Entre os aspectos que devem ser considerados para definir o piso ideal, destacam-se a durabilidade, a facilidade de limpeza e higienização, o conforto térmico e biomecânico dos animais, a redução dos problemas locomotores e a prevenção de lesões. “É importante buscar informações especializadas para avaliar e selecionar o tipo de piso que melhor se adequa às necessidades da produção, garantindo a qualidade e a eficiência do sistema de produção”, frisa Kramer.

Aspectos anatômicos

O casco dos suínos é composto por uma unha lateral e uma unha medial, e a distribuição do peso nos membros é dividida igualmente, com cerca de 50% do peso nos membros anteriores e 50% nos membros posteriores. Nos membros anteriores, o peso é dividido entre os dois dígitos do casco do suíno, já nos membros posteriores a unha lateral suporta uma carga maior, correspondendo a 78% do peso do membro, ou seja, um quarto do peso total do animal está concentrado na unha lateral. “Compreender o tipo de piso, dimensionamento e design é essencial, uma vez que eles estão diretamente relacionados com a distribuição do peso sobre a superfície. A pressão exercida pelo animal é calculada a partir da divisão do peso pela área em que está apoiado ou exerce esforço. Por isso, a escolha do piso adequado pode contribuir para evitar problemas de locomoção e desconforto nos suínos, além de garantir a saúde e o bem-estar desses animais”, expõe.

Tipo da construção

Ao decidir o tipo de construção ou design para uma instalação destinada à criação de suínos, é fundamental levar em conta o dimensionamento apropriado para a fase dos animais que serão alojados. Ao considerar as diferenças entre os padrões, o americano prioriza a redução da mão de obra, tornando mais fácil a limpeza e manejo dos animais, em contrapartida, o modelo europeu enfatiza o bem-estar animal, procurando oferecer condições de vida mais adequadas para os suínos.

Embora os produtores brasileiros afirmem construir suas granjas com pisos adequados para os leitões, a realidade encontrada nas unidades produtivas é diferente. Com frequência, Kramer diz que é possível observar os animais apoiando suas duas unhas centrais no meio dos orifícios presentes no piso ripado da creche. “Infelizmente, muitos produtores ignoram essa situação, mas é importante destacar que as consequências podem ser graves para a saúde e bem-estar dos animais, comprometendo sua qualidade de vida e produtividade futura”, salienta.

Segundo Kramer, é comum encontrar em granjas a situação em que os leitões em crescimento, ao chegarem na fase de recria ou terminação, são submetidos a uma lâmina d’água que, embora apresente vantagens, pode causar lesões na linha branca dos cascos, como rachaduras laterais. “Essa lesão é a mais frequente encontrada em animais abatidos nos frigoríficos e pode levar à eliminação precoce de leitoas jovens e fêmeas de primeira e segunda gestação. É importante que os produtores estejam atentos a esses aspectos e promovam medidas preventivas para evitar tais problemas na criação de suínos”, pontua o médico-veterinário.

Espaço vazio do piso

Em um estudo de 1984, foi investigado o impacto da relação entre o espaço vazio e a parte sólida no piso ripado na ocorrência de lesões nos suínos. O estudo avaliou o peso corporal dos animais de zero a 140 quilos e determinou que o máximo aceitável para o espaço vazio seria de 30%, especialmente para os animais adultos, e que 70% do piso deveria ser sólido. Kramer destaca que esse estudo não considerou fatores como umidade, presença de dejetos e abrasividade do piso.

No entanto, a prática no campo revela que o piso ripado cilíndrico, comum em maternidades, tem uma superfície de apoio de apenas 10%, enquanto o espaço vazado é de 90%, ultrapassando o máximo de vazio recomendado. Já nas instalações de piso de ferro ou tri-bar, esse vazio aponta uma relação de um para um, aparentemente, 50% de superfície de apoio e 50% de espaço vazado, o que também não é ideal para as leitoas, pois elas podem prender suas unhas nos vãos. Já o piso ripado de plástico oferece apoio de 55%, o de ferro fundido 60% e o de concreto 83%. “É importante considerar essas proporções ao escolher o tipo de piso para os animais, pois a migração para um piso de concreto pode não resolver completamente o problema”, salienta Kramer.

Ao considerar o dimensionamento das estruturas, o profissional lembra que é importante levar em conta a largura das unhas em cada fase dos suínos. Quanto mais jovem o animal, mais estreita é a unha, e quanto mais velho, mais larga. “O vão máximo do piso deve ser um pouco menor do que a largura da unha do animal. Nos Estados Unidos, o padrão é de uma polegada, ou seja, cerca de dois centímetros e meio, o que pode ser aceitável para um animal adulto, mas não seria adequado para uma leitoa em desenvolvimento”, menciona.

Considerando o bem-estar e as diferentes necessidades de cada espécie de suíno, é preciso levar em consideração, quando se trata da escolha do piso, que existem duas questões distintas: a primeira é o apoio do animal sobre o piso e a segunda é a limpeza da instalação, que está relacionada com a permeabilidade do piso. “Para exemplificar, vamos considerar um piso ripado de concreto que siga o padrão americano de 2,5 centímetros de vão de 10,5 centímetros de superfície de apoio, totalizando 13 centímetros. Se imaginarmos um piso ripado que cubra 100% da baia, teremos uma permeabilidade de 19%. Porém, se considerar um piso ripado de 50%, a permeabilidade da instalação diminui para 9,5%. Isso afeta a forma como os resíduos se movem na instalação e, consequentemente, a sua limpeza. A permeabilidade é um fator crucial a ser considerado na manutenção da higiene do ambiente”, frisa Kramer.

Construção

Ao pensar na construção de um ambiente, é importante considerar a qualidade dos materiais e acabamentos utilizados. Esse é um aspecto que pode ser discutido com um engenheiro, mas é recomendado que se siga um padrão mínimo de qualidade para o concreto utilizado na construção e que se leve em consideração aspectos como resistência à compressão, relação máxima água-cimento, consumo mínimo de cimento, cobrimento mínimo para aço e design adequado para pisos e vigas. “O uso de concreto usinado é recomendado para instalações que terão contato com os animais e com os dejetos, pois oferece uma maior durabilidade e resistência, além de uma superfície mais lisa e uniforme, o que facilita a limpeza e reduz o acúmulo de sujeira e bactérias”, afirma o profissional.

Um dos fatores importantes a serem considerados durante a construção da granja é o coeficiente de atrito, que leva em conta a abrasividade e a elasticidade do piso. O ideal é que o coeficiente esteja entre 0,5 e 0,7. “Esse fator afeta de sobremaneira as fêmeas, porque limita sua movimentação para buscar alimento e água e pode levar ao sobrecrescimento das unhas, especialmente considerando as características dos animais atualmente”, reforça o mestre em Saúde Animal.

Kramer salienta que assim como o piso ripado, o piso de ferro fundido também apresenta boas condições de coeficiente de atrito. Já o piso plástico oferece as condições ideais apenas quando está seco. Por outro lado, o piso de ardósia não deve ser considerado, pois não atende aos requisitos de coeficiente de atrito e elasticidade necessários. “Outro aspecto importante a ser considerado no piso é a qualidade dos bordos e a baixa resistência do concreto. Essa condição é muito comum devido à queda de ração do comedouro no piso, que fermenta e produz ácido. Esse ácido reage com o cimento do concreto, expondo a pedra brita, o que só agrava a situação. Além disso, muitas vezes a qualidade do concreto é comprometida devido a economia nos materiais utilizados na construção”, explica.

Primeiros lotes perdidos 

Recentemente tem-se observado que em unidades de produção novas, particularmente em granjas de reprodução, o primeiro lote de porcas é perdido. Mas por que isso ocorre? De acordo com Kramer, os animais desenvolvem o que é conhecido como ‘doença do concreto novo’. Ele explica que o problema está relacionado com a abrasividade excessiva do piso, que desgasta o tecido cornificado associado ao hidróxido de cálcio. Esse desgaste ocorre devido ao pH elevado do concreto, que é causado pela falta de tempo suficiente para a cura adequada do material. “Para diminuir a abrasividade é importante adotar medidas como lavar o piso, usar um raspador metálico e aplicar um banho com barrilha para neutralizar o hidróxido de cálcio. Outra opção é esperar cerca de 30 a 45 dias para que o concreto tenha o tempo necessário de cura antes de introduzir as porcas na instalação”, menciona.

Manutenção

Em um levantamento realizado em 2014, constatou-se que 11% das gaiolas de gestação apresentavam danos, com a melhor granja registrando apenas 2% e a pior com 42%. “As fêmeas que sofrem com dor devido ao piso inadequado ficam preocupadas em se deslocar e acabam perdendo o apetite, o que afeta diretamente o desenvolvimento dos leitões e a produção de colostro”, afirma Kramer, ampliando: “O desenvolvimento de calosidade e bursite é favorecido por pisos escorregadios e úmidos, bem como o ambiente, seleção de marrãs, terminação, genética, manejo e nutrição são fatores que podem interferir na claudicação e outras condições que afetam a locomoção dos animais, não apenas o piso”.

Por fim, ao se considerar a escolha do piso, é importante levar em conta aspectos como dimensionamento, tipo, modelo, qualidade construtiva, manutenção e condição do animal. “Não existe um piso ideal, pois cada aspecto positivo pode trazer um aspecto negativo. É preciso avaliar a realidade de cada fase para fazer a melhor escolha. Por exemplo, leitões precisam de um piso menos abrasivo, enquanto o piso ripado de concreto é melhor para as porcas e o piso ripado cilíndrico é o pior. Já o ripado total é prejudicial à saúde e bem-estar dos animais, pois a umidade e os dejetos não são desejados na instalação”, sustenta.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola acesse gratuitamente a edição digital de Suínos. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Suínos

Forte alta do suíno vivo eleva poder de compra frente ao milho pelo 8º mês

Pesquisadores do Cepea explicam que esse cenário decorreu das altas de preços do suíno vivo superiores às verificadas para os principais insumos utilizados na atividade – milho e farelo de soja, comparando-se as médias de agosto e setembro.

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Foto: Ari Dias

O poder de compra de suinocultores paulistas frente ao milho cresceu pelo oitavo mês seguido, conforme apontam levantamentos do Cepea.

Em relação ao farelo de soja, setembro foi o terceiro mês consecutivo de aumento no poder de compra.

Pesquisadores do Cepea explicam que esse cenário decorreu das altas de preços do suíno vivo superiores às verificadas para os principais insumos utilizados na atividade (milho e farelo de soja), comparando-se as médias de agosto e setembro.

Na região SP-5 (Bragança Paulista, Campinas, Piracicaba, São Paulo e Sorocaba), o suíno vivo foi negociado ao valor médio de R$ 8,95/kg em setembro, forte aumento de 5,8% em relação ao de agosto.

Inclusive, este foi o quinto mês seguido de valorização, de acordo com levantamento do Cepea.

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos Em Pato Bragado

Biogás diminui custos de produção e gera renda para suinocultores no interior do Paraná

Sistema instalado na granja da família Fincke solucionou o problema de dejeto dos animais e hoje mantêm a propriedade com a energia de biogás.

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Os Fincke lidam com o suíno na sua fase final e estão transformando a geração de energia na propriedade - Fotos: Roberto Dziura Jr./AEN

Quem vê a propriedade da família Fincke, em Pato Bragado, na região Oeste do Paraná, não imagina a dor de cabeça que eles tinham até pouco tempo atrás. Comandada por Carlito Fincke e os filhos Adilson e Jonas, os 30 alqueires de terra são divididos entre a produção de suínos, principal atividade, e as lavouras de soja e milho.

A suinocultura havia se tornado quase inviável na propriedade, devido aos custos elevados e questões ambientais. Até que eles encontraram uma solução: gerar a própria energia. A história da família Fincke, seus desafios e soluções, é tema da reportagem desta semana da série especial “Paraná, a Energia Verde que Renova o Campo”, produzida pela Agência Estadual de Notícias (AEN) e publicada às terças-feiras.

A família de produtores de Pato Bragado é mais um exemplo cabal do impacto que o apoio do Governo do Estado tem para os produtores e para o meio ambiente. O apoio se dá com programa RenovaPR, que subsidia o custo financeiro dos investimentos em equipamentos como biodigestores e painéis fotovoltaicos, a fim de incentivar e disseminar a energia limpa no campo. “Instalamos biodigestor e, assim, solucionamos o problema de dejeto dos animais, minimizamos o cheiro e as moscas, e estamos ganhando dinheiro, mantendo a propriedade também com a energia de biogás. Foi um salto muito grande nessa parte, além do meio ambiente. Temos que nos preocupar com os gases que a gente está lançando. Temos que ter consciência de ajudar”, afirma Adilson.

A atividade da família na produção de suínos começou com o pai em 2009 e logo cresceu com a entrada dos filhos no negócio, passando de 300 para sete mil suínos, distribuídos em seis granjas. Entretanto, à medida que o número de animais crescia, os problemas também aumentavam.

Os Fincke lidam com o suíno na sua fase final. A Unidade de Terminação (UT), como é denominado esse estágio, é o local em que os porcos chegam com cerca de 60 dias de vida e peso médio de 23 quilos (kg), e permanecem até alcançarem o peso de 120 kg, em um período de 120 dias de alojamento. Dali eles seguem para o frigorífico.

Durante quatro meses, os animais crescem, engordam, e com isso vem o obstáculo que acomete todo suinocultor: os dejetos. Adilson,

filho mais velho de Carlito, conta que os três tanques de esterco que existem na propriedade, hoje desativados, não davam conta de todo o material. “Quando chegamos nesses sete mil suínos percebemos que estávamos com problema. Chegamos a pagar para os vizinhos receberem esse dejeto porque não tínhamos o que fazer”, ressalta Adilson. “Fora o problema de carcaças. Às vezes chegávamos a enterrar os animais porque a composteira sempre estava cheia, não dava conta, além dos problemas de cheiro e de moscas”.

Foi então que um familiar deu a ideia. “Um tio chegou para nós e disse: ‘vocês estão perdendo dinheiro, deviam fabricar energia com toda essa matéria-prima’. Aí acendeu uma luz”, lembra o produtor. A luz a qual ele se refere era a produção de biogás, por meio de um biodigestor, resolvendo o problema de dejetos, uma vez que ele é transformado em gás, gerando energia, e o líquido, que também passa por um tratamento, transforma-se em biofertilizante para irrigação da lavoura.

Ideia aprovada pelos filhos, o próximo passo foi convencer o pai, relutante com o custo do investimento. “Quando fui ver o valor, meu pai já botou pedra. ‘Você não vai pegar R$ 700 mil para fazer um biodigestor e se aventurar’. Conversei com uma empresa que deu a ideia de tentarmos pelo RenovaPR, com juro zero”, lembra Adilson. “Deu certo, conseguimos nos enquadrar, convenci meu pai e começamos o projeto.”

RenovaPR

O Paraná Energia Rural Renovável (RenovaPR) foi criado pelo Governo do Estado com o objetivo de incentivar a produção de energia limpa e sustentável no campo. Desde 2021, ano de criação do programa, já foram mais de 26 mil usinas fotovoltaicas e ou de biogás instaladas.

Por meio de subsídio da taxa de juros, via Banco do Agricultor Paranaense, operacionalizado pela Fomento Paraná, o Estado banca parte ou a integralidade dos juros do financiamento para instalação de fontes de energia renováveis, como solar e biogás, no meio rural. É uma forma de baratear o custo da produção e contribuir para a preservação do meio ambiente. Além disso, o aproveitamento de dejetos de animais para produção de biogás, reduz a emissão de gases altamente poluentes no ar ou a contaminação do solo e de lençois freáticos, por exemplo.

O coordenador de Energias Renováveis no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Herlon Almeida, ressalta que o objetivo do Estado é incentivar cada vez mais a instalação de biodigestores como forma de reduzir a emissão de poluentes no ar, gerar energia limpa, reduzir custos para quem produz e ainda acabar com os dejetos, obstáculo que mais afeta os produtores de animais, sejam suínos, bovinos ou aves. “O Governo do Paraná incentiva o biogás mais do que qualquer outra energia renovável porque, ao se fazer biodigestão, é realizado um tratamento, uma adequação ambiental, pois trata dejetos que normalmente impactam o meio ambiente e os transforma em riqueza, que é a energia do biogás, do biometano e, ainda, o digestato, que é o resíduo que sobra após a biodigestão e que pode ser convertido em fertilizante para uso agrícola”, explica Almeida.

Cenário do biogás

De acordo com levantamento do Centro Internacional de Energias Renováveis (Cibiogás), até 2023 eram 404 plantas de biogás instaladas no Paraná, com ampla folga na liderança a nível nacional. De 2022 para 2023, o número de plantas cresceu 54% — antes eram 262. O Estado responde por 29,59% das plantas de biogás no Brasil. Minas Gerais aparece em segundo lugar, com 348 unidades, e Santa Catarina, com 122.

Em termos de produção de biogás, a região Sul produziu 862 milhões de metros cúbicos normal (Nm³), sendo que o Paraná é responsável

por 53,4% desse volume, com 461 milhões de Nm³, crescimento de 20% em relação a 2022.

Em um biodigestor, os dejetos animais são decompostos por bactérias em um ambiente sem oxigênio. Durante esse processo, é produzido o biogás, uma mistura de metano e dióxido de carbono, que pode ser utilizado para gerar energia elétrica através de motores a gás. “Todos os projetos que temos têm um retorno sobre o capital investido de cerca de quatro a cinco anos. Para linhas de crédito de seis anos isso significa que, antes de vencer o financiamento, uma vez que ele é 100% financiado para o produtor, ele já recuperou o capital investido”, salienta o coordenador.

O financiamento dos Fincke foi de aproximadamente R$ 700 mil, com prazo de pagamento de dez anos e carência de três. Quando a granja opera com capacidade total de suínos, o biodigestor chega a gerar entre 25 e 30 mil quilowatts/mês, sem contar a energia que é utilizada na propriedade, para bombear o digestato na plantação de soja e milho, rico em nutrientes.

“O dejeto é um problema para todos os produtores de suínos. Não épossível jogar ele diretamente na lavoura, pois dessa forma ele danifica as plantas. E com os tanques todos cheios, não se consegue limpar o chiqueiro. Agora isso mudou”, celebra o suinocultor. “O tratamento do dejeto é outro. Os gases já foram embora, então você não prejudica o meio ambiente e até mesmo a própria lavoura. Você não está jogando um esterco cru, mas sim uma adubação de qualidade”, complementa Adilson. Com isso, os gastos com a compra de adubo também caíram.

Mais renda

Os Fincke decidiram vender a energia produzida pelo biodigestor, em vez de usar na propriedade. “O que sobra eu vendo para uma cooperativa específica de energia”, comenta. Com a comercialização, na casa dos R$ 15 mil mensais, eles conseguem quitar a parcela do financiamento e ainda sobra para pagar a conta de luz da granja, por volta de R$ 3 mil/mês.

Com o retorno, já existem projetos para ampliar a capacidade da granja. Um segundo tanque para digestato está em construção, enquanto que o primeiro permanecerá com o líquido em “descanso”, aumentando seu potencial fertilizador. Os planos também envolvem a quantidade de suínos. “Estamos estudando. Talvez fazer mais mais duas granjas, chegando a dez mil animais. As empresas querem concentrar tudo num só lugar, é mais fácil, mais cômodo para eles”, comentou.

Suínos no Paraná

O Paraná é o segundo maior produtor de suínos do Brasil, com pouco mais de 12 milhões de unidades em 2023 – 21,2% da produção nacional. O Estado fica atrás somente de Santa Catarina (29,5%) e à frente do Rio Grande do Sul (17%). O Valor Bruto da Produção (VBP) da suinocultura foi de R$ 12,5 bilhões em 2023.

De acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), o

Paraná é o terceiro maior exportador do Brasil, com 168 mil toneladas enviadas ao mercado internacional em 2023 e comércio com 75 países. Santa Catarina e Rio Grande do Sul completam o pódio, em primeiro e segundo lugares, respectivamente.

Série

A série de reportagens “Paraná, a Energia Verde que Renova o Campo” está mostrando exemplos de produtores rurais de todo o Estado que aderiram ao programa RenovaPR para implantar sistemas de energias renováveis em suas propriedades. Criado em 2021, o RenovaPR apoia a instalação de unidades de geração distribuída em propriedades rurais paranaenses e, junto ao Banco do Agricultor Paranaense, permite que o produtor invista nesses sistemas com juros reduzidos. Todas as reportagens da série podem ser conferidas neste link.

Fonte: AEN-PR
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Suínos

Paraná desenvolve sistema para fortalecer biosseguridade nas granjas suínas

Médico-veterinário aponta pontos críticos que ameaçam a biosseguridade nas granjas suínas, destacando os principais fatores de risco e as medidas preventivas essenciais para mitigar a introdução e disseminação de patógenos.

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A biosseguridade nas granjas de suínos tem sido amplamente discutida por todos os elos da cadeia, principalmente diante dos desafios atuais enfrentados pelo setor suinícola. Durante o Congresso de Suinocultores e Avicultores O Presente Rural, realizado em meados de junho em Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná, o médico-veterinário, mestre em Ciências Animais, auditor fiscal agropecuário e gerente de Saúde Animal da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Rafael Gonçalves Dias, trouxe à tona pontos críticos que ameaçam a biosseguridade nas granjas suínas, destacando os principais fatores de risco e as medidas preventivas essenciais para mitigar a introdução e disseminação de patógenos.

Foto: Ari Dias

O profissional enfatiza que a biosseguridade em unidade de produção é essencial para evitar a entrada e a propagação de doenças no rebanho, garantindo a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção suinícola. No Paraná, a Portaria 265, publicada em setembro de 2018, estabelece os itens estruturais que cada granja deve ter, conforme o modo produtivo, para proteger as unidades da disseminação de doenças e agentes infecciosos. Essa normativa define 14 critérios de avaliação para a prevenção externa e 10 para a prevenção interna, que são fundamentais para a manutenção da biosseguridade.

Dias adianta que a Adapar planeja ainda este ano sistematizar essas informações contidas na Portaria 265, mensurando e quantificando a situação atual das granjas paranaenses. “Para isso, será desenvolvido um sistema de informação que vai permitir a coleta de dados de caracterização das granjas de forma organizada e segura, processando-os por meio de um modelo multicritério para obter indicadores de biosseguridade”, antecipa.

Conforme o  médico-veterinário, esse sistema será acessível via aplicativo web, proporcionando uma avaliação detalhada de biosseguridade de propriedade a propriedade. “Serão levantados dados críticos, como a origem dos animais e a presença de cercas de isolamento. Os resultados serão quantificados em níveis que variam de 1 a 5 para origem dos animais e de 1 a 9 para cercas, em escalas de 0 a 100, permitindo uma análise precisa e detalhada”, explica Dias.

Médico-veterinário, mestre em Ciências Animais, auditor fiscal agropecuário e gerente de Saúde Animal da Adapar, Rafael Gonçalves Dias: “O novo sistema de informação vai gerar um dashboard detalhado de cada granja, facilitando a identificação de pontos críticos e a implementação de medidas corretivas” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Os dados coletados serão apresentados por meio de dashboards e mapas, possibilitando avaliar tanto as condições de granjas individuais quanto obter um panorama geral por integração e da região geográfica. “Essa visualização clara e integrada dos dados vai permitir identificar possíveis problemas e criar estratégias eficientes para implantar um plano de biosseguridade. Como resultado, teremos um dashboard detalhado de cada granja, facilitando a identificação de pontos críticos e a implementação de medidas corretivas. Com essas informações, será possível desenvolver e executar planos de biosseguridade personalizados, garantindo a proteção do rebanho e a sustentabilidade da produção suinícola no Paraná”, salienta.

A partir da implementação deste sistema de avaliação da biosseguridade nas granjas paranaenses de suínos, o auditor fiscal agropecuário menciona que a cadeia produtiva deve sofrer um impacto significativo, visto que aquelas propriedades que não terão condição de adequação para produção de suínos devem acabar saindo da atividade. “Não podemos colocar toda a cadeia de suínos em risco em função de uma ou outra propriedade que não tem condição estrutural de criar suínos”, ressalta Dias.

Isolamento da granja contra invasores

O gerente de Saúde Animal da Adapar afirma que entre os itens de biosseguridade mais importantes de uma unidade de produção suinícola devem estar as cercas. “As cercas são essenciais porque, entre os diversos problemas que temos no Brasil, estão os javalis. Precisamos ter essa barreira física para proteger nossas propriedades dos animais de vida livre e até mesmo dos animais domésticos, que podem trazer doenças para dentro do plantel suíno. As cercas blindam a entrada e protegem a criação”, argumenta Dias.

Os javalis representam uma ameaça significativa à biosseguridade das granjas, uma vez que migram facilmente de região e circulam de Norte a Sul do Brasil. Uma das doenças que essa espécie pode transmitir é a Peste Suína Clássica (PSC), colocando em risco a saúde dos suínos e a sustentabilidade da produção. “O novo sistema da Adapar vai permitir a coleta e análise detalhada de dados, facilitando a identificação de problemas e a implementação de estratégias de biosseguridade mais eficazes. Com isso, esperamos melhorar de forma significativa a proteção das granjas paranaenses, garantindo um ambiente seguro e saudável para a criação de suínos”, aponta Dias.

Ameaças à biosseguridade

Um ponto crítico para a biosseguridade nas granjas suínas é a presença de agentes patogênicos. Além da febre aftosa e do Senecavírus A, outras doenças vesiculares que afetam suínos são estomatite vesicular, exantema vesicular e doença vesicular em suínos (SVDV), as quais são consideradas exóticas e não circulam no Brasil. Dias ressalta que a grande ‘dor de cabeça’ do setor reside no Senecavírus A, que tem crescido a incidência da doença nas granjas nos últimos 10 anos. “Por causar lesões vesiculares, os sintomas são facilmente confundidos com febre aftosa, gerando muito estresse no campo”, frisa.

Fotos: Shutterstock

A questão não é exclusiva do Brasil, com a doença diagnosticada em países como os Estados Unidos, onde circula desde 1988; e há relatos recentes no Canadá, China, Nova Zelândia, Austrália, Tailândia, Colômbia e Chile. No Brasil, o Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul relatam casos, mas nenhum em nível comparável ao estado paranaense. “Em 2022, o Paraná atingiu o pico da doença com mais de 1.700 casos”, destaca o médico-veterinário, contando que cerca de 70% dos municípios paranaenses nunca tiveram casos suspeitos da doença, enquanto 30% tiveram casos investigados entre 2005 e 2021. “Os primeiros meses do ano tendem a registrar um aumento nos casos, enquanto os meses mais frios mostram uma tendência de diminuição, uma variabilidade observada nos últimos 10 anos”, menciona Dias.

Desafios e soluções na identificação do Senecavírus A

O médico-veterinário aponta 12 principais desafios na identificação do Senecavírus A na suinocultura paranaense. O primeiro listado são as condições das propriedades, com animais sujos, que dificultam a verificação das lesões, seguido da falta de vistoria prévia por parte dos médicos-veterinários. O terceiro desafio diz respeito as lesões causadas por outros motivos, como traumas, frequentemente confundidas com febre aftosa. O quarto são as notificações infundadas feitas por muitos produtores por receio do serviço de inspeção.

O ponto seguinte está relacionado ao estresse no transporte dos animais, que pode ocasionar lesões, complicando o diagnóstico. O sexto desafio é que enquanto é aguardado a investigação da Adapar, o abate precisa ser interrompido, gerando problemas na estocagem até a obtenção dos resultados laboratoriais, sendo esta a sétima dificuldade encontrada pelo setor.

O oitavo desafio diz respeito às propriedades interditadas que acabam por comprometer as escalas de abate, situação esta atrelada ao nono desafio, que o tempo a mais que ficam nas propriedades podem deixar os animais estressados, podendo provocar o aparecimento de lesões. O décimo desafio está ligado ao tempo de reação da cadeia que, devido ao alto número de notificações, impede que os órgãos de defesa agropecuária, como a Adapar, atendam a todos os casos no tempo desejado.

A logística das amostras até o LFDA-MG é complexa e a vigilância de outras doenças é prejudicada para atender às notificações de Senecavírus A fecham o ranking dos 12 principais desafios na identificação da doença.

Entre as possíveis soluções para minimizar esses obstáculos apontadas por Dias incluem a implementação de intervalos entre lotes, desinfecção e vacinação, além de investimentos em biosseguridade. “Isso envolve edificações teladas e cercadas, ambientes limpos, água e ração de qualidade, trocas de roupas nas áreas limpas e evitar visitas de pessoas e veículos nas granjas”, evidencia, ressaltando: “A cadeia suína deve se preparar cada vez mais para novos desafios sanitários”.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na suinocultura acesse a versão digital de Suínos clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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