Conectado com
VOZ DO COOP

Suínos / Peixes

Teste genômico aprimora criação do pirarucu

Nova ferramenta aprimora gestão, uso, seleção e melhoramento genético de matrizes dessa espécie de peixe, de forma simples e prática. Solução também abrange tecnologias para tilápia, tambaqui, camarão e truta.

Publicado em

em

Tecnologia traz soluções para os processos de gestão, uso, seleção e melhoramento genético de matrizes do pirarucu - Fotos: Simone Oliveira Yokoyama

Já está disponível para os aquicultores brasileiros o ArapaimaPLUS, mais uma ferramenta da família AquaPLUS, desenvolvida pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF). A plataforma, que oferece soluções genômicas para tilápia, camarão cinza, truta e tambaqui (veja mais detalhes em quadro abaixo), passa a abranger também o pirarucu (Arapaima gigas), especialmente para produção em cativeiro. A nova tecnologia traz soluções para os processos de gestão, uso, seleção e melhoramento genético de matrizes dessa espécie de peixe, prezando pela simplicidade, praticidade, baixo custo de adoção e alto retorno no investimento por parte do público-alvo.

O pesquisador Alexandre Caetano, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do ArapaimaPLUS, explica que, na prática, trata-se de um teste genômico útil para análises de paternidade, parentesco, identificação individual e variabilidade genética para o pirarucu, que pode ser aplicado ao gerenciamento genealógico de plantéis de reprodutores utilizados na piscicultura para reproduzir a espécie.

Segundo Caetano, “a solução oferece todas as aplicações básicas que as outras ferramentas têm – como manejo genético e análise genética de reprodutores –, mas também tem potencial para dar suporte aos processos de rastreabilidade e monitoramento de populações selvagens e produtos da pesca”.

O pesquisador pontua ainda que, por uma série de fatores, a produção de pirarucu em cativeiro ainda não “decolou” no Brasil. Desafios técnicos básicos relacionados à reprodução e ao manejo do animal ainda persistem. “A tilápia (Oreochromis niloticus), por exemplo, a espécie mais criada em cativeiro no País, se reproduz sozinha, com menos de um ano de idade”, comenta. Mas espécies nativas, como o pirarucu e o tambaqui (Colossoma macropomum), não se reproduzem com facilidade em cativeiro e são necessários anos até que atinjam a idade reprodutiva.

Obstáculos
No caso do pirarucu, ainda não existe protocolo estabelecido para a indução hormonal e a retirada manual dos gametas, como é feito com muitas das espécies nativas. Desse modo, é preciso colocar o casal de peixes no tanque para que eles se reproduzam naturalmente. “A questão é que, na natureza, os pirarucus machos disputam território. Por isso, cada casal precisa ser colocado em um tanque diferente, o que exige muito espaço. Se colocar dois casais em um mesmo tanque, eles vão lutar pelo espaço. Imagine dois peixes de 250 quilos brigando entre si”, observa Caetano.

Outro aspecto que dificulta a reprodução em cativeiro é que, na maior parte dos peixes, a fêmea desova todos os óvulos de uma vez, e eles são fecundados pelo macho. Já a fêmea do pirarucu vai soltando os óvulos em lotes, que vão sendo fertilizados aos poucos. Com as análises realizadas utilizando o ArapaimaPLUS, a equipe da Embrapa fornece orientações para o produtor otimizar a formação dos casais, evitando o acasalamento entre animais de parentesco próximo e as perdas decorrentes, gerando, portanto, animais de alto potencial produtivo.

Foto: Siglia Souza

O segundo fator complicador na criação desse peixe em cativeiro no Brasil está relacionado às flutuações de preços no mercado. “Em condições normais, a extração da espécie pela pesca consegue abastecer o mercado a preços competitivos. Por isso, para o produtor de pirarucu em cativeiro, em um ano de pesca boa, o valor de venda no mercado fica abaixo do custo de produção”, assinala o pesquisador. A espécie ocorre na Bacia Amazônica, que é uma área muito extensa, e também na região do Araguaia/Tocantins. “Apenas nos anos em que a pesca não é tão boa, em função de algum evento climático, é que vale a pena produzir na região”, explica.

Nicho
Um aspecto positivo, segundo Caetano, é que o pirarucu pode crescer até 10 quilos no primeiro ano de vida. “Não tem outra espécie de peixe que se equipare.” Além disso, alguns produtores já conseguem produzir alevinos de pirarucu em cativeiro, e outros resolveram a questão das oscilações de preço instalando-se em locais próximos aos mercados consumidores. O pesquisador cita o caso de um produtor na região de Jundiaí, São Paulo, que apesar de não conseguir fazer a reprodução, traz os alevinos de outra região.

“Ele enfrenta uma complicação a mais, pois os animais não suportam o frio do inverno na região. Por isso, é preciso fazer tudo em estufas, em sistemas que chamamos de ‘fechados’. Em compensação, consegue colocar um produto de altíssima qualidade em um mercado bem valorizado, que é São Paulo, onde há alta gastronomia, hotéis etc. É um nicho interessante. Independentemente da pesca, ele está ali, ao lado do mercado consumidor, e consegue ser competitivo com um produto fresquíssimo”, afirma Caetano, lembrando que os produtores da Região Norte sofrem mais com as oscilações de mercado.

Ferramenta também serve para monitoramento e rastreabilidade
Além de auxiliar no desenvolvimento da piscicultura, como as demais ferramentas da família AquaPLUS, o ArapaimaPLUS traz outras possibilidades de uso. Uma delas é o monitoramento de populações selvagens de pirarucu. A tecnologia conseguiu corroborar, por exemplo, um fato que já estava descrito na literatura: a variabilidade genética existente entre populações de pirarucu que vivem em diferentes pontos das bacias hidrográficas onde a espécie ocorre naturalmente.

“Na calha do Amazonas, a diferença genética do pirarucu que vive na cabeceira com relação ao que vive na foz é maior do que entre o boi taurino e o boi zebuíno, que são consideradas subespécies do ponto de vista taxonômico. No Araguaia/Tocantins é mais diverso ainda, geneticamente falando, apesar de todas as populações serem consideradas da mesma espécie”, diz Caetano.

A ferramenta também permite monitorar o escape de peixes na piscicultura, e como isso pode afetar as populações nativas. Na criação de peixes, é possível misturar materiais genéticos que não se encontrariam na natureza. “Se um produtor de Manaus traz matrizes de Belém ou do Acre, e dentro da piscicultura esses animais se reproduzirem, vão fazer uma reprodução que jamais ocorreria de forma natural”, afirma o pesquisador. Caso esses alevinos escapem, poderão posteriormente se reproduzir com os peixes selvagens do local. Isso não traz prejuízos econômicos para o produtor, mas pode contaminar geneticamente as populações locais. “As consequências potenciais desse escape ainda não estão mensuradas, principalmente em espécies selvagens”, explica Caetano. De acordo com ele, o ArapaimaPLUS pode ser utilizado por órgãos ambientais, organizações não governamentais ou certificadoras para monitorar essa questão.

Além disso, é possível incorporar a ferramenta ao processo de rastreabilidade, como um mecanismo de comprovação genética de origem dos produtos. “Na Amazônia, existem reservas extrativistas que comercializam o pirarucu pescado no local. Mas depois que o peixe é processado, mesmo que seja rastreado, não tem como comprovar geneticamente a origem do produto. O ArapaimaPLUS oferece uma ferramenta prática para validar geneticamente esse rastreamento”, esclarece o pesquisador, destacando que a tecnologia poderá abrir um novo capítulo no processo de rastreabilidade de peixes, ao indicar com precisão de onde veio cada animal.

Escape leva pirarucu ao RioTietê
O escape de pisciculturas já gerou situações curiosas, como o caso dos pirarucus pescados no Rio Tietê, em São Paulo, bem longe da área de ocorrência natural da espécie. “Nesse caso, o prejuízo é menor, uma vez que os animais, até onde se sabe, não conseguem se reproduzir na região, por falta dos gatilhos ambientais necessários, e acabam sendo capturados. Mas até lá, eles atuam como predadores que podem afetar a cadeia alimentar do local”, esclarece Caetano.

O gatilho ambiental a que se refere o pesquisador é a migração que os peixes precisam fazer todos os anos para se reproduzir. A maior parte das espécies do Brasil faz a piracema: na época da reprodução, sobem para as cabeceiras dos rios para se reproduzir e depois o material genético ali depositado se dispersa pela bacia hidrográfica. Já com o pirarucu, o processo é diferente. Para se reproduzir, ele migra da calha dos rios para a várzea, na época das águas, e da várzea para a calha, quando o nível da água desce. Diferentemente dos rios amazônicos, o Tietê não oferece essa condição.

Produtores confiantes na nova tecnologia
O presidente-executivo da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR), Francisco Medeiros, destaca que, por motivos diferentes, o pirarucu sempre despertou um interesse muito grande de pescadores, consumidores e produtores. “Mas todos são unânimes em afirmar que esse peixe amazônico encanta pela beleza, pelo tamanho e, principalmente, pelo sabor diferenciado”, assinala.

De acordo com ele, a maior parte da carne de pirarucu que chega ao mercado é oriunda da pesca, hoje bem estruturada com projetos de manejo, o que não impediu o interesse de produtores de peixes para a oportunidade de explorar essa espécie.

Porém, Medeiros confirma que os desafios ainda são grandes. “Ao começar o processo de domesticação, para transformar o pirarucu em um produto da piscicultura com resultados econômicos, encontramos uma série de dificuldades, principalmente relacionadas à alimentação e à reprodução. Por se tratar de uma espécie muito antiga, o sistema reprodutivo é totalmente diferente do de outros peixes”, aponta o presidente-executivo da Peixe BR.

Ele ressalta que muitos produtores não obtiveram sucesso por desconhecer a identidade genética dos animais. “Nesse sentido, a ferramenta ArapaimaPLUS permite a elaboração de um programa reprodutivo capaz de gerar os melhores resultados zootécnicos que a espécie pode proporcionar”, afirma.

Foto: Siglia Souza

Medeiros explica que, diferentemente dos demais peixes amazônicos que são explorados na piscicultura, o pirarucu forma grupos familiares muitos específicos e locais, o que proporciona uma variabilidade genética muito maior do que a encontrada em espécies que fazem migração ou que nadam nos principais rios da região.

“A identificação dessa realidade só foi possível com o ArapaimaPLUS. Agora, com esse conhecimento, devemos trabalhar para a formação de famílias e acasalamentos que proporcionem o melhor resultado zootécnico, sem perder a riqueza genética que esses peixes carregam. Vemos um futuro promissor para a espécie e os negócios”, conclui.

A produtora Simone Oliveira, filha do Sr. Megumi (Pedrinho) Yokoyama, de Rondônia, é uma das que está apostando no ArapaimaPLUS como ferramenta para alavancar a criação de pirarucu. Ela já utiliza o TambaPLUS, com bons resultados, e recentemente, enviou as nadadeiras das matrizes de pirarucu para análise de consanguinidade, em Brasília.

“Nossa expectativa é formar novos casais para acasalamentos, com zero de consanguinidade, para um melhor crescimento e desenvolvimento dos peixes. A ciência e a aquicultura sempre estiveram ligadas, agora mais do que nunca, com as novas tecnologias e pesquisas”, ressalta a produtora.

Futuras soluções para o setor produtivo
O projeto para desenvolvimento do ArapaimaPLUS contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e com a participação dos pesquisadores Michel Yamagishi, do Laboratório Multiusuário de Bioinformática da Embrapa Agricultura Digital (SP), que fez a mineração dos dados públicos para descoberta dos SNPs (polimorfismo de nucleotídeo simples – em inglês, single nucleotide polymorphism), e Patricia Ianella, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Já a validação da ferramenta foi parte do trabalho de mestrado da aluna Aline Campelo, da Universidade de Brasília (UnB), dentro do Programa de Pós-graduação em Ciências Animais.

O ArapaimaPLUS é o sexto produto disponível na família AquaPLUS, que já disponibiliza serviços para tambaqui (Colossoma macropomum): TambaPLUS Parentesco e TambaPLUS Pureza; para o camarão vannamei (Litopenaeus vannamei): VannaPLUS, para a tilápia (Oreochromis niloticus): TilaPLUS; e para a truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss): TrutaPLUS.

A Embrapa também está em fase de validação do desenvolvimento de plataformas para peixes como pirapitinga (Piaractus brachypomus) e pacu (Piaractus mesopotamicus). “Já temos demanda para outras espécies, como matrinxã (Brycon cephalus) e dourado (Salminus brasiliensis). Em princípio, vamos ter tecnologias para todas as espécies de interesse da aquicultura brasileira. Contribuir com o produtor é a nossa bandeira”, finaliza Caetano.

Interessados nos serviços de análise com a ferramenta ArapaimaPLUS, ou com qualquer outra ferramenta da família AquaPLUS, podem entrar em contato pelo telefone +55 (61) 3448-4662 ou pelo e-mail cenargen.sipt@embrapa.br.

Fonte: Assessoria Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Suínos / Peixes

ACCS 65 anos: força e inovação na suinocultura catarinense

Publicado em

em

Presidente Losivanio Luiz de Lorenzi: "Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses" - Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Fundada em 24 de julho de 1959, a ACCS surgiu em um momento determinante para a suinocultura em Santa Catarina. Na década de 1940, o Oeste Catarinense destacou-se na produção de suínos, impulsionado pela chegada de colonos do Rio Grande do Sul. Entre os pioneiros, Attílio Fontana, fundador da Sadia, viu o potencial da região e investiu na criação de suínos, transformando a produção local em um pilar econômico.

Inovação e melhoramento genético

Na virada da década de 1940 para 1950, a ACCS foi pioneira na introdução de práticas de melhoramento genético. Victor Fontana, sobrinho de Attílio, aplicou métodos racionais e técnicos de criação, resultando em ninhadas de leitões saudáveis e precoces. A Sadia distribuiu um fomento experimental, fornecendo matrizes e ração aos produtores que seguiram suas exigências de higiene e instalações, marcando o início de uma revolução na suinocultura.

Expansão e modernização

Nos anos 1960 e 1970, a ACCS ampliou suas atividades, implementando o registro genealógico dos suínos e promovendo a exposição de suínos que incentivavam a melhoria genética. Em 1976, sob a presidência de Paulo Tramontini, a ACCS liderou a criação da primeira central de inseminação artificial de suínos do Brasil, consolidando Santa Catarina como líder na produção de material genético de qualidade.

Evolução estrutural

A Central de Coleta e Difusão Genética da ACCS (CDG-ACCS), localizada na comunidade de Fragosos em Concórdia, representa um marco de inovação e excelência na suinocultura brasileira. Reinaugurada em 2016, a CDG-ACCS foi a primeira do Brasil a operar dentro dos padrões rigorosos de Bem-Estar Animal, incorporando as melhores genéticas do mercado e estabelecendo um alto padrão de sanidade e produtividade.

Com uma produção mensal de aproximadamente 19 mil doses de sêmen, a central não apenas impulsiona a qualidade genética dos rebanhos, mas também garante a sustentabilidade e a competitividade dos suinocultores catarinenses. O reconhecimento da CDG-ACCS como referência em produtividade e sanidade, destacado em reportagens especiais como a do Globo Rural, reforça seu papel na modernização e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina e no Brasil.

Parcerias e crescimento sustentável

Ao longo das décadas, a ACCS tem sido uma força importante na promoção e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina. Parcerias estratégicas com indústrias, cooperativas e entidades governamentais foram fundamentais para o crescimento do setor. A criação da Cooperativa Agroindustrial dos Suinocultores Catarinenses (Coasc) em 2014 exemplifica esse espírito cooperativo, ajudando produtores independentes a obter melhores condições na compra de insumos.

Desafios e superações

A ACCS não se limita a celebrar conquistas, mas também se destaca pelo seu papel de apoio em tempos de crise. A associação esteve presente em momentos de adversidade, mobilizando a classe e chamando a atenção para as necessidades e demandas dos suinocultores. Este espírito de luta e resiliência garante que os suinocultores continuem a desempenhar um papel vital na economia do país.

Uma voz ativa e presente

A ACCS se tornou uma referência, tanto para a imprensa quanto para os suinocultores. Com um site atualizado diariamente e participações ativas em comissões e eventos, a associação promove o diálogo entre produtores e especialistas, sempre inovações buscando e políticas públicas desenvolvidas ao setor.

Celebração e futuro promissor

Ao comemorar 65 anos, a ACCS reafirma seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade do setor. O presidente Losivanio Luiz de Lorenzi destaca a importância de continuar unidos, superando desafios e construir um futuro ainda mais promissor para a suinocultura catarinense. “Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses,” ressalta.

A trajetória da ACCS é um exemplo de dedicação e sucesso, refletindo a força e a inovação que definem a suinocultura em Santa Catarina. Comemoramos não apenas o passado, mas também as possibilidades ilimitadas do futuro. Parabéns a todos que fazem parte dessa história!

Fonte: Assessoria ACCS
Continue Lendo

Suínos / Peixes

Preços do suíno vivo têm movimentos distintos no Brasil

Aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate. As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês.

Publicado em

em

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Os preços do suíno vivo e da carne vêm apresentando movimentos distintos dentre as regiões acompanhadas pelo Cepea.

Segundo pesquisadores deste Centro, os aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate.

Esse foi o caso dos mercados independentes do suíno vivo nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês, devido ao menor poder de compra da população, ainda conforme explicam pesquisadores do Cepea.

 

Fonte: Assessoria Cepea
Continue Lendo

Suínos / Peixes Nutrição

Especialista aponta desafios e alternativas para melhorar desempenho zootécnico dos suínos

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção.

Publicado em

em

Foto: Shutterstock

A qualidade nutricional dos alimentos não só influencia o desempenho dos animais, mas também afeta diretamente sua capacidade de digestão e absorção de nutrientes, bem como a quantidade de resíduos gerados. Durante o 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado nesta semana no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, essa temática foi abordada pelo mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz.

O especialista vai participar do Painel Novos Desafios na produção de suínos – o que vem por aí?, em que vai tratar sobre “Onde estamos e para onde deveremos ir na área de Nutrição”. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o doutor em Nutrição enfatizou que quanto melhor compreendermos a qualidade dos ingredientes utilizados na formulação dos alimentos para suínos, mais eficiente será a produção dos animais e menores serão os impactos ambientais.

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção. Aborda temas como nutrição de precisão, ingredientes alternativos, redução do uso de antibióticos, nutrigenômica, considerações nutricionais por fase de crescimento, desafios ambientais, estratégias nutricionais para minimizar o estresse térmico e oportunidades para colaboração entre a indústria, academia e o poder público. Confira!

O Presente Rural – Quais são os avanços recentes na nutrição voltada à suinocultura e como essas inovações estão impactando a eficiência alimentar, o crescimento e a saúde dos suínos?

Mário Penz – Quanto mais conhecemos a qualidade dos ingredientes que são empregados na elaboração dos alimentos para os suínos, mais eficiente se torna a produção dos animais e menores são os efeitos poluidores, que podem ser causados pela indevida digestão dos nutrientes e pelo aumento dos dejetos produzidos. Por exemplo, vários nutricionistas calculam as necessidades energéticas dos animais com base nas energias líquidas dos ingredientes, enquanto outros ainda usam energia metabolizável ou, menos comum, energia digestível, ambas menos precisas que a expressão da energia, com base no conhecimento dos valores de energia líquida dos ingredientes.

O Presente Rural – Quais são os principais desafios que os nutricionistas enfrentam atualmente na formulação de dietas para suínos e como estão sendo abordados?

Mário Penz – Continua sendo o conhecimento da real composição dos ingredientes usados nas formulações das dietas para as diferentes fases de produção.

O Presente Rural – Como a nutrição de precisão está sendo aplicada na suinocultura e quais são os benefícios em termos de otimização dos recursos alimentares e redução dos custos de produção?

Mário Penz – Nutrição de precisão tem por objetivo, sempre um pouco paradoxal, oferecer aos animais nutrientes e energia líquida, de acordo com suas necessidades, nas diferentes fases de produção. Quando se lida com nutrição de populações, em diferentes fases de produção, o que se quer chegar é o mais perto do que os animais necessitam, desconsiderando várias diferenças que podem ocorrer por idade, sexo, linhagem, ambiente, propósito de produção, etc. Essa nutrição não obrigatoriamente é “de custo mínimo”.

O Presente Rural – Quais são as tendências emergentes na formulação de dietas para suínos, como a utilização de ingredientes alternativos e a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento?

Mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz: “Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença”. Foto: Divulgação

Mário Penz – Ingrediente alternativo é todo aquele que pode substituir os ingredientes convencionais das dietas, que no Brasil são milho e farelo de soja. Ingredientes como sorgo, milheto, farinhas de origem animal, entre outros, poderão ser empregados, desde que estejam disponíveis em quantidades relevantes, nem que seja por um período específico do ano. Além disso, é importante que se conheça a composição nutricional e energética desses ingredientes, para evitar que tenham seus valores sub ou superestimados. Levando isso em consideração, qualquer oportunidade tem que ser avaliada quanto ao seu custo e ao seu benefício, relacionados com aqueles que o milho e o farelo de soja podem trazer aos animais.

Quanto a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento, esse é um caminho sem volta. Para que não haja perda de desempenho dos animais, os profissionais deverão dar mais atenção aos princípios básicos de saúde animal (saúde intestinal) e menos na mitigação das ações microbianas deletérias. Nesse conjunto de ações, cuidado com a biosseguridade, do ambiente, das dietas empregadas, farão parte dessa nova necessidade de produção.

Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença. Saúde é um processo contínuo, que se mitiga todo o tempo. Doença, mesmo que seja só mitigada pelos promotores de crescimento, sugerem respostas mais rápidas, mas não obrigatoriamente com consistência. Mudar de doença para saúde é algo complexo e que requer mais conhecimento dos profissionais envolvidos na produção de suínos.

O Presente Rural – Como a nutrigenômica e outras tecnologias de ponta estão sendo exploradas para entender melhor as necessidades nutricionais específicas dos suínos e melhorar a saúde intestinal?

Mário Penz – Nutrigenômica é o conhecimento que permite a seleção específica de nutrientes que favorecem a melhor expressão gênica dos animais, permitindo, como consequência, melhor saúde e desempenho dos animais. Esse é outro caminho sem volta, especialmente quando se trata de produzir animais saudáveis e sem o uso de antibióticos. Mas, ainda todo esse conhecimento está pouco apreciado no dia a dia das produções. Entretanto, importantes informações acadêmicas estão disponíveis, que mostram que teremos que olhar o suíno não por fase, mas olhar os resultados finais, desde o início da produção dos reprodutores, que lhes dão origem.

O Presente Rural – Quais são as considerações nutricionais específicas para diferentes fases de crescimento dos suínos, desde a creche até a terminação, e como essas necessidades estão sendo atendidas?

Mário Penz – Lamentavelmente, essa pergunta é extremamente complexa, para que tenha uma resposta simples. Entretanto, tomando o risco da simplificação, os nutricionistas devem estar muito próximos dos técnicos das genéticas, para entender quais são as recomendações por eles oferecidas. Com o tempo, cada profissional vai adaptando seus referenciais, com base na sua experiência e nos resultados práticos de campo. Aqui não tem uma resposta única e a complexidade começa com a identificação que o nutricionista tem com relação ao produto final da produção. Ele está preocupado com o ganho de peso, com a conversão alimentar, com a qualidade da carcaça ou com o menor custo no frigorífico?

O Presente Rural – Quais são os aditivos alimentares desenvolvimentos mais recentemente, como probióticos, prebióticos e enzimas, para promover a saúde intestinal e melhorar o desempenho dos suínos?

Mário Penz – Essa é uma nova era na produção de suínos. Reforço que estamos saindo de uma longa fase, onde os profissionais se preocupavam e se preocupam com eventos sanitários, os mitigando com o uso de antibióticos promotores de crescimento e/ou antibióticos usados de forma preventiva ou terapêutica. Agora estamos entrando na fase da saúde animal, mais complexa, porém inevitável. Muitas são as opções para melhorar a saúde dos animais. Não há um único produto que tenha a chancela de resolver tudo! O técnico deverá ter claro o que está buscando e, com isso olhar as oportunidades disponíveis. De uma maneira geral, tenho me posicionado que nessa nova fase, tudo começa pelo uso de enzimas exógenas, como suplementos indispensáveis. Dietas bem digeridas diminuem a disponibilidade de nutrientes aos microrganismos. Depois, todas as dietas devem ser suplementadas com um antioxidante que tenha ação efetiva, para mitigar processos de oxirredução contínuos dos enterócitos. Enzimas e antioxidantes fazem uma eficiente “dobradinha”. Depois vem os demais aditivos não antibióticos. Aqui o técnico tem que saber o que quer: fortalecer o sistema imune dos animais? A integridade intestinal? A digestibilidade dos nutrientes? Colaborar na regulação da microbiota? São perguntas indispensáveis, pois nessa nova fase não há “receita pronta”. As alternativas serão customizadas, de acordo com as expectativas técnicas esperadas. Para completar, aditivos não antibióticos não estão chegando para melhorar os resultados de granjas que não deem atenção a biosseguridade, ao ambiente, ao bem-estar animal, como sempre pensamos que os antibióticos ajudam ou ajudavam. Essa nova produção animal vem para se empregada em granjas que atendem os princípios básicos de boas práticas de produção e manejo. Ou seja, a mudança de paradigma é grande. Por isso que sempre sugiro que, independente da necessidade de se acomodar a essa nova realidade, o técnico deve começar, com cautela, a entender como produzir nesse novo ambiente tendo parte de seu plantel submetido a essas novas alternativas.

O Presente Rural – Como os desafios ambientais – a redução das emissões de gases de efeito estufa e a sustentabilidade da produção de alimentos – estão moldando a pesquisa em nutrição suína?

Mário Penz – Sustentabilidade é a palavra de ordem. O grande desafio é que a sustentabilidade está baseada em três pilares – econômico/ambiental/social. Com isso, em cada ação temos que olhar como ela afeta um ou mais dos três pilares. O que é certo é que sempre será impossível ter os três pilares sendo atendidos na íntegra. A produção animal sempre buscou a sustentabilidade, mesmo antes do termo ter se consagrado pela Comissão de Bruntland em 1987, que definiu o que seria o Desenvolvimento Sustentável. Por que digo isso? Porque os produtores seguem em suas propriedades em muitos casos por três ou mais gerações. Se não fossem sustentáveis já teriam migrado, como muitos fizeram. Os produtores sempre estão perseguindo, pelos conhecimentos técnicos adquiridos, melhores resultados zootécnicos, representados por melhores conversões alimentares de seus animais. Melhor conversão animal, menos consumo de alimento e água, menor excreção de dejetos, menor poluição do ambiente, especialmente pelo nitrogênio e fósforo excretados. Tudo isso podendo também ser representado pela menor produção de CO₂. Assim, a ciência subsidia os produtores com seus conhecimentos e eles aplicam, para que sigam sendo viáveis economicamente.

O Presente Rural – Quais são as estratégias nutricionais mais eficazes para minimizar o estresse térmico em suínos durante períodos de temperatura extrema?

Foto: Shutterstock

Mário Penz – Não criá-los em temperaturas quentes! A nutrição pode mitigar eventos térmicos de calor, mas são pouco eficientes (reduzir proteína, aumentar a energia por intermédio da inclusão de gordura nas dietas, etc.). O uso de ambiente controlado é uma necessidade indispensável nos novos projetos suinícolas. Além disso, a curto prazo, os animais, nessas condições devem receber água fria, junto com o alimento que consomem. Imaginem uma reprodutora em lactação, que tem que comer algo em torno de 6 a 7 kg de alimento/dia e necessita tomar água com uma temperatura próxima de 15ºC e a ela é oferecida uma água com 30ºC. O que ela vai fazer? Irá comer menos! E, as consequências já sabemos. Assim, resumindo, estresse por elevada temperatura ambiente, primeiro se mitiga com água fria e depois, nos novos projetos, com a construção de galpões climatizados.

O Presente Rural – Quais são as oportunidades futuras para a colaboração entre a indústria de nutrição animal, academia e poder público para impulsionar ainda mais a inovação e o progresso na área de nutrição voltada à suinocultura?

Mário Penz – A tríade indústria, academia e poder público é indispensável se quisermos avançar mais rápido. Cada um dos três segmentos tem a sua responsabilidade. Entretanto, primeiramente cabe a indústria ser clara no que necessita para que a academia se prepare para responder os desafios. Cabe a academia entender que a indústria tem pressa em várias de suas necessidades e se colocar como disponível frente a esses desafios. Ao poder público, favorecer qualquer inciativa pertinente, colaborando com financiamentos e com normas e regulamentos que favoreçam novas descobertas.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo
AJINOMOTO SUÍNOS – 2024

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.