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Substâncias presentes nos alimentos funcionais

Há uma estreita associação entre a forma como nos alimentamos e a nossa saúde. Alimentos refinados e ultraprocessados sofrem sérias restrições, devidos às perturbações metabólicas, bioquímicas e fisiológicas que causam.

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Foto: Gilson Abreu

Alimentos funcionais são aqueles que, além de nutrir, são benéficos à saúde e não estimulam ou ativam substâncias que danifiquem o metabolismo de quem os ingere. Sem a pretensão de esgotar o assunto, alinhavamos a seguir alguns exemplos de substâncias contidas em alimentos funcionais e suas propriedades medicinais.

Os terpenos são substâncias encontradas em frutas, soja e outros grãos. São antioxidantes, protegendo os lipídios e os fluídos corporais dos radicais livres (oxigênio reativo, hidroxilas, peróxidos e radicais superóxidos). Estudos médicos demonstraram a eficiência de terpenos na redução dos riscos de câncer de mama, pulmão, cólon, estômago, próstata, pâncreas, fígado e pele, entre outros.

Quando ocorre uma mutação em um gene oncógeno (causador de câncer), as células sintetizam uma proteína com fisiologia anormal, que pode se constituir em um fator de crescimento, ou interferir na atividade de uma enzima promotora do crescimento celular, que sedividem agressiva e anormalmente, formando o tumor. As reações químicas envolvidas com o crescimento celular são reguladas por enzimas e a ação anticancerígena dos terpenos ocorre pela redução da atividade dessas enzimas, evitando a proliferação desordenada das células.

Os terpenos mais conhecidos pertencem são os carotenoides e limonoides. Os carotenoides estão presentes em alimentos com pigmentação amarela, laranja ou vermelha (tomate, abóbora, pimentão, laranja). Seus principais representantes são os carotenos, precursores da vitamina A e o licopeno. Os limonoides (δ-limoneno, pineno, eucaliptol) se encontram nas cascas de frutas cítricas, protegendo o tecido pulmonar, prevenindo determinados tipos de câncer e fortalecendo o sistema imunológico. O álcool perílico (encontrado em cerejas) tem estrutura química parecida com o limoneno, possuindo atividade anticancerígena cinco vezes mais potente que este composto.

O arroz “Golden Rice” possui elevado teor de β-caroteno, auxiliando no combate à cegueira por deficiência de vitamina A. Crianças que ingerem uma quantidade adequada de vitamina A previnem doenças como a xeroftalmia (dessecamento dos dutos lacrimais) e querotomálacia (ulceração da córnea).

Fenóis

Os fenóis são antioxidantes encontrados em vegetais de cor roxa, azul ou violeta (uvas, cerejas e berinjelas). Possuem atividade anti-inflamatória, previnem a aglomeração de plaquetas sanguíneas e neutralizam a ação de radicais livres ganismo. Protegem o DNA e os lipídios, interrompendo processos potencialmente carcinogênicos. Os chás verdes, ricos em polifenóis, ajudam na prevenção de certos tipos de tumores e doenças cardíacas.

Entre os fenóis, encontramos os flavonoides como flavonas e isoflavonas, presentes na soja e em produtos dela derivados, bem como em frutos cítricos e outros alimentos. A camomila é rica em apigenina, com efeito analgésico. A ação de compostos como a diosmina e a hesperitina, presentes nos frutos cítricos, favorece a atuação da vitamina C no organismo.

Os flavonoides possuem propriedades antialérgicas, antinflamatórias, melhoram a ação do sistema imunológico, regulam a pressão arterial, protegem o sistema vascular, em especial os vasos de menor calibre.

Existem certos tumores que estimulam a acumulação de compostos conhecidos como poliaminas, os quais contribuem para a proliferação descontrolada de células. Os flavonoides inibem a produção dessas poliaminas, mitigando a proliferação celular anormal.

As isoflavonas são abundantes na soja, e bloqueiam enzimas que promovem crescimentos tumorais. A genisteína e a daidzeína atuam como hormônios (fito-estrógenos) e vêm sendo utilizados na reposição hormonal de mulheres em pré e pós-menopausa. As isoflavonas se ligam aos β-receptores hormonais, que são diferentes dos principais receptores dos estrógenos (α-receptores).

O interesse pelas isoflavonas decorreu da redução dos teores do LDL-colesterol, responsável pela obstrução dos vasos sanguíneos, sem afetar o HDL-colesterol, que possui ação benéfica no organismo. Foi observado que as isoflavonas bloquearam a ação do estradiol, inibindo a carcinogênese mamária, assim como bloquearam a testosterona, reduzindo o risco de câncer de próstata. Outro benefício dos flavonoides é o fortalecimento dos tecidos conectivos do organismo.

Tocoferóis e tocotrienois

São encontrados em sementes e partes verdes das oleaginosas. O α-tocoferol, é encontrado nos cloroplastos enquanto os homólogos β, γ e δ são encontrados no citoplasma celular. Os tocotrienóis demonstraram capacidade de inibição do crescimento de células cancerígenas. Conhecidas como vitamina E, possuem efeito inibitório dos processos oxidativos de lipídios sendo sua única fonte os vegetais que os sintetizam.

Fibras (oligossacarídeos)

As fibras são sustâncias com alto peso molecular, encontradas em grãos (arroz, soja, trigo, aveia). Possuem função importante na regulação do processo digestivo, no sequestro e na excreção de ácidos biliares, na redução do LDL-colesterol e na redução da incidência de câncer colo-retal, impedindo a metástase . A β-glucana, encontrada na aveia, tem ação comprovada na redução do colesterol, diminuindo sua absorção pelo organismo, enquanto a quitosana captura e excreta gorduras, também reduzindo o LDL-colesterol. A linhaça contém lignana, que possui as propriedades de estimular a imunidade e reduzir o LDL-colesterol.

Omega-3 (DHA e EPA)

São ácidos graxos polinsaturados, precursores de substâncias com ação anticoagulante, como prostraglandinas e leucotrienos. São encontrados em atum, salmão, arenque, sardinha e bacalhau, no óleo de canola e, em menores concentrações, no óleo de soja e em castanhas. Existem produtos enriquecidos com os ácidos graxos ômega-3, como leite longa vida, leite em pó e ovos.

Provocam a redução da agregação plaquetária, da pressão sanguínea, da viscosidade do sangue, da hiperplasia vascular e das arritmias cardíacas. Em doses adequadas, aumentam a sobrevida plaquetária e o funcionamento dos beta-receptores cardíacos. Reduzem os níveis de colesterol e de triglicerídios no sangue e possuem efeito anti-inflamatório . O ômega 3 possui atividade oxidante, sendo recomendado consumi-lo associado a antioxidantes, como a vitamina E.

Outros fitoquímicos

Existem outros produtos do metabolismo secundário dos vegetais, presentes nos alimentos, com propriedades úteis. Entre eles, podemos citar os compostos sulfurados como a aliina e a alicina e o sulfeto e bissulfeto de alila, encontrados em alho e cebola. Possuem atividade bactericida e fungicida e, entre os benefícios de sua ingestão, estão a redução do teor de triglicerídios e de colesterol, a redução da pressão arterial, a atividade antiinflamatória e a proteção às enzimas hepáticas.

Também são encontrados compostos nitrogenados como o indol 3-carbinol e o sulforafano, presentes nas crucíferas (couves, repolho, brócolis), que possuem ação anticancerígena e estimulam a produção de determinadas enzimas vitais.

Alimentação e saúde

Há uma estreita associação entre a forma como nos alimentamos e a nossa saúde. Alimentos refinados e ultraprocessados sofrem sérias restrições, devidos às perturbações metabólicas, bioquímicas e fisiológicas que causam.

Estudos demonstraram problemas causados por alimentação inadequada, associada ao sedentarismo, no funcionamento das mitocôndrias. Durante a fosforilação oxidativa normal, de 0,4 a 4,0% de todo o oxigênio consumido é convertido em radicais livres superóxidos, no interior das mitocôndrias. O superóxido é transformado em peróxido de hidrogênio (H2O2) pela enzima superóxido dismutase. O H2O2 é convertido em água pela glutationa peroxidase (uma das principais enzimas antioxidantes do corpo) ou pela peroxirredoxina III.

No entanto, quando essas enzimas não podem converter radicais livres de superóxido em H2O com rapidez suficiente (ou quando a geração de superóxido aumenta muito), estes se acumulam nas mitocôndrias, ocasionando dano oxidativo. Nesse caso, as mitocôndrias geram ATP acima da capacidade de consumo das células. Em consequência, os níveis de ATP permanecem altos com pouca rotatividade. Com a baixa demanda de ATP, ocorre uma concentração excessiva de elétrons, gerando radicais livres. Essa elevada concentração excede a capacidade do sistema de defesa antioxidante, oxidando os lipídios nas membranas mitocondriais, ocasionando diversos distúrbios que podem redundar em graves problemas de saúde.

Dieta saudável

O índice glicêmico (ig) foi desenvolvido s para medir como os alimentos que contêm carboidratos afetam o teor de glicose no sangue. O ig usa uma escala de zero a cem, sendo o ig cem a glicose pura. Alimentos com alto ig (geralmente, mais de setenta) são rapidamente digeridos e absorvidos, causando elevações rápidas na taxa de açúcar do sangue, o que, por sua vez, desencadeia um aumento no nível de insulina, o hormônio responsável por tirar a glicose da corrente sanguínea e levá-la para ser usada nas células.

Alimentos com baixo ig (em geral, com valores de um a 55) são digeridos mais lentamente, produzindo aumentos graduais nos níveis de açúcar no sangue e insulina. Alimentos com ig entre 56 e 69 são considerados “médios” e, acima de 70, devem ser evitados.

Em uma dieta saudável, um quarto das calorias provém de vegetais com baixo índice glicêmico, como vegetais sem amido (por exemplo, aspargos, alcachofra, abacate, brócolis, repolho, couve-flor, aipo, pepino, verduras, cogumelos, pimenta, tomate, cebola, espinafre, abóbora-de-verão, abobrinha).

Também inclui o consumo moderado (1% das calorias diárias) de frutos do mar; baixo consumo (menos de 1% das calorias diárias) de carne e derivados; baixo consumo (menos de 1% das calorias diárias) de produtos lácteos; alto consumo de gorduras ômega-3; e alta proporção de gordura monoinsaturada em relação à saturada.

Fonte: Por Décio Luiz Gazzoni, Miguel Alves Pereira Jr. e Guilherme Julião Zocolo

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O triunfo da cooperação

O cooperativismo tem sido a catapulta do desenvolvimento do grande Oeste catarinense e de extensas regiões do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul.

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Presidente da Aurora Coop. Neivor Canton - Foto: Divulgação/Aurora Coop

Há 55 anos, oito cooperativas agropecuárias do grande Oeste catarinense se uniam para a fundação da Cooperativa Central. Esse projeto nasceu do encontro do arrojado e destemido pioneiro do cooperativismo, Aury Luiz Bodanese, que presidia a Cooperativa Mista Agropastoril Chapecó, com Setembrino Zanchet, na época gerente do Banco do Brasil.

Era o final da década de 1960. Aquelas duas lideranças tinham uma visão muito nítida do futuro: tornava-se imperativo para o desenvolvimento regional que o oeste catarinense deixasse de ser simples fornecedor de matéria-prima e passasse a industrializar proteínas animal e vegetal.

O projeto de Bodanese e Zanchet consolidou-se quando, em 15 de abril de 1969, 18 dirigentes representando oito cooperativas formalizaram a criação da Coopercentral. Nessas cinco décadas e meia construímos – a muitas mãos – esse grande complexo de produção de proteína animal chamado Cooperativa Central Aurora Alimentos, notabilizada nos mercados nacional e mundial como Aurora Coop.

Na comemoração do 55º aniversário inauguramos uma moderna e avançada indústria de processamento de carne mediante investimentos de quase 600 milhões de reais. Esse é um eloquente testemunho do triunfo do cooperativismo como ideologia associativista e do modelo de negócio fundado na ética e na sustentabilidade. Faz parte da estratégia para diversificação do nosso portfólio. Busca fortalecer a posição da Aurora Coop no mercado brasileiro e, também, como player global. Porque é fundamental investir na produção e no lançamento de linhas de produtos inovadores, gerando valor para os nossos produtores rurais cooperados, colaboradores, clientes e consumidores, sem esquecer da gestão sustentável da cadeia produtiva.

Atualmente, os números testemunham a nossa condição de terceiro maior grupo brasileiro do segmento de proteína. Nossas plantas industriais processam POR DIA 32 mil suínos, 1,3 milhão de aves e 1,6 milhão de litros de leite. Mas eu não desejo me fixar nos números de nossa expressão econômica, embora eles sejam grandiloquentes. Quero realçar o extraordinário capital humano envolvido nesse universo chamado Sistema Aurora de Produção, que envolve milhares de famílias rurais e os 45.000 trabalhadores nas indústrias e unidades da Aurora Coop.

A Cooperativa Central Aurora Alimentos pertence a 14 cooperativas filiadas que, juntas, congregam uma extraordinária base produtiva no campo formada por 85.600 famílias rurais, 85% delas tecnicamente classificadas na categoria de agricultura familiar.

O cooperativismo tem sido a catapulta do desenvolvimento do grande Oeste catarinense e de extensas regiões do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. No último triênio, somente a Aurora Coop investiu R$ 2,7 bilhões para a modernização e ampliação das unidades fabris e a aquisição de novas plantas industriais para manter a posição de terceiro maior grupo do setor.

Na área rural trabalhamos para a crescente incorporação de ciência e tecnologia, conferindo ganhos de escala nas propriedades rurais que passaram a ser geridas como verdadeiras empresas, comprometidas com a busca de resultados, em um regime de sustentabilidade e de proteção aos recursos naturais – condição sine qua nom para a perenidade do negócio. Nas nossas fábricas adotamos melhorias contínuas em todos os processos.

Nas regiões onde atuamos – e isso representa mais de 600 municípios brasileiros – as nossas cadeias produtivas da suinocultura industrial, da avicultura industrial e da pecuária leiteira injetaram volumosos recursos, fortalecendo o movimento econômico – e, por extensão, a arrecadação tributária das comunidades locais.

Citarei apenas alguns números de nosso relatório de 2023. No ano passado a geração de ICMS chegou a R$ 2,3 bilhões, o valor adicionado na atividade agropecuária (indireto) foi de R$ 11,6 bilhões e o valor adicionado na atividade industrial e comercial somou R$ 5,3 bilhões. Os investimentos nos colaboradores totalizaram R$ 2,7 bilhões, incluindo salários, encargos, benefícios etc. Isso tudo é dinheiro a irrigar as economias microrregionais.

Mas isso vem sendo feito com grande sacrifício em face das imensas deficiências logísticas e operacionais que enfrentamos nas regiões de produção. Desde os primórdios, o grande oeste ressente-se da insuficiente presença do Estado em várias áreas e, especialmente, na infraestrutura.

As deficiências se fazem sentir nas rodovias, no suprimento de energia elétrica, nos sistemas de água, na ausência de gás para uso industrial, na inexistência de um modal ferroviário, na carência de hospitais públicos etc. Porém, com o braço forte do cooperativismo, a região aprendeu a enfrentar seus problemas e a equacionar seus desafios sem a presença do ente estatal. Contra todos os prognósticos nos tornamos o celeiro do País, erigimos um formidável sistema agroindustrial que se notabilizou no Brasil e no exterior, fazendo com que aqui nascessem e prosperassem alguns dos maiores grupos da indústria de alimentos.

Recentemente, entidades empresariais iniciaram movimento pela construção de ferrovias para assegurar a competitividade do setor e a perpetuação do sistema, uma ligando o oeste de SC com o centro-oeste brasileiro (Ferrovia Norte-Sul) e outra, ligando o oeste com o litoral (Ferrovia Leste-Oeste).

Esse quadro sugere que é hora de a representação política do grande oeste – na Assembleia Legislativa e no Congresso – priorizar a articulação conjunta de propostas coletivas em favor das grandes causas oestinas.

Fonte: Por Neivor Canton, presidente da Aurora Coop
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A revolução das soluções baseadas na natureza

A necessidade das empresas compensarem suas emissões, combinada à garantia de integridade e qualidade dos projetos NBS, deve resultar em um mercado promissor e no provável aumento dos valores dos créditos de carbono, que já proporcionam um retorno atrativo quando comparado a outras atividades econômicas, especialmente a pecuária extensiva em pastagens degradadas.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

“Hell de Janeiro”. A sensação térmica recorde de 62,3ºC registrada em uma estação do Rio de Janeiro durante a terceira onda de calor de 2024 gerou uma série de memes e muito desconforto, para dizer o mínimo. De acordo com um estudo liderado pela UFRJ, 48 mil pessoas morreram por ondas de calor entre 2000 e 2018 no Brasil. No ano passado, nove ondas de calor assolaram o país, num total de 65 dias com temperaturas muito acima da média histórica – até os anos 1990, eram sete dias em média de calor atípico, segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE).

Definitivamente, as mudanças climáticas são a principal ameaça que a humanidade enfrenta. No último ano, a temperatura global esteve muito próxima do 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, marco limite do acordo de Paris, e para que não seja ultrapassado esse limiar as emissões de gases de efeito estufa devem ser reduzidas em 43% até 2030 (em relação a 2019), conforme a ONU. Para atingir essa meta ousada são necessárias diversas estratégias e atores, e contar com o engajamento das empresas para a redução e compensação das suas emissões.

As soluções baseadas na natureza (NBS, na sigla em inglês) podem proporcionar mais de um terço das reduções de emissões necessárias até 2030, de acordo com um estudo da The Nature Conservancy (TNC). É o caso de projetos de conservação e restauração florestal, e de manejo de terras agrícolas. Essas soluções não apenas ajudam a enfrentar as mudanças climáticas, mas também podem melhorar a saúde do solo, conservar e aumentar a biodiversidade e equilibrar o ciclo hidrológico, além de promover o desenvolvimento social de comunidades tradicionais.

Segundo o estudo da TNC, os projetos do tipo REDD+ (Reduções de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação) podem evitar a emissão de aproximadamente 3 GtCO2e (bilhões de toneladas equivalentes de dióxido de carbono) com a conservação de florestas nativas. Enquanto os projetos do tipo ARR (Afforestation, Reforestation and Revegetation) podem remover cerca de 1,6 GtCO2e da atmosfera com a restauração florestal. Já os projetos de ALM (Agricultural Land Management) podem garantir que mais de 5 GtCO2e sejam compensados com a adoção de boas práticas e tecnologias na agricultura e na pecuária. Os recursos financeiros para esses projetos vêm do mercado de carbono, onde empresas e governos do mundo inteiro estão estabelecendo metas de carbono zero (net zero) e regulamentações.

Mas, para que esse mercado atinja todo o seu potencial, é preciso garantir a qualidade e integridade dos créditos de carbono, gerados de acordo com padrões robustos e reconhecidos. Os projetos NBS precisam ter adicionalidade e monitoramento para assegurar o cumprimento de seus objetivos e proporcionar benefícios para o clima, para as comunidades e para a biodiversidade por um período mínimo de 40 anos. Os órgãos certificadores do mercado voluntário de carbono, como a Verra, têm buscado constantemente o aperfeiçoamento de suas metodologias para garantir a consistência dos projetos e a confiança do mercado.

A integridade e qualidade dos projetos estão ligadas à transparência, rastreabilidade e segurança. Tecnologias avançadas, como drones com sensores LiDAR e inteligência artificial, são importantes para aumentar a transparência e acurácia na mensuração do carbono e no monitoramento da biodiversidade e da degradação florestal. Tecnologias sociais, incluindo aplicativos de monitoramento ambiental comunitário e mecanismos de resolução de conflitos e geração de renda, fomentam a gestão colaborativa e a participação ativa em projetos NBS – as ações sociais são essenciais para assegurar a segurança e eficácia dos projetos no longo prazo, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida.

A necessidade das empresas compensarem suas emissões, combinada à garantia de integridade e qualidade dos projetos NBS, deve resultar em um mercado promissor e no provável aumento dos valores dos créditos de carbono, que já proporcionam um retorno atrativo quando comparado a outras atividades econômicas, especialmente a pecuária extensiva em pastagens degradadas. De acordo com um estudo da McKinsey, a demanda pelos créditos aumentará 15 vezes ou mais até 2030 e até 100 vezes até 2050, fazendo esse mercado saltar de US$1 bilhão em 2021 para US$50 a 100 bilhões até o final desta década.

Neste cenário, o Brasil possui uma posição promissora: 15% do potencial global de compensação de carbono por meio de soluções baseadas na natureza concentra-se em seu território, o equivalente a quase 2 GtCO2e – e apenas 1% dessa capacidade é aproveitada atualmente. Para que o país possa se beneficiar desse potencial de crescimento, faz-se necessário também a formação de pessoal capacitado para atender o aumento da demanda. Hoje o mercado já está carente de profissionais tanto na área de desenvolvimento de projetos NBS, quanto na área de auditoria por parte dos órgãos de verificação e validação dos projetos, bem como na área de sustentabilidade dentro das empresas.

Cobrir essas lacunas é essencial para termos condições de descarbonizar a economia, com agricultura e pecuária regenerativas e baseadas na floresta em pé, consolidando o Brasil como uma potência mundial em sustentabilidade. Esta é a revolução das Soluções Baseadas na Natureza.

Fonte: Por Danilo Roberti Alves de Almeida, engenheiro florestal, mestre em Ciências de Florestas Tropicais e doutor em Recursos Florestais.
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Genética: o pilar sustentável da produção animal

casamento entre a excelência genética e a inovação tecnológica não só impulsiona o progresso da pecuária, mas também consolida seu compromisso com a sustentabilidade e responsabilidade ambiental.

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Foto: Divulgação/ABS

A tríade imponente de sanidade, bem-estar e genética não é apenas uma teoria, mas sim a espinha dorsal de toda a produção animal. Esses três pilares não só garantem a eficiência, mas também são a base de uma abordagem verdadeiramente sustentável para a produção animal. Contudo, como a realidade do campo nos lembra incansavelmente, tudo começa com a genética.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Em um cenário em que as discussões sobre sustentabilidade ganham cada vez mais relevância e alcance, a urgência de ações concretas se torna evidente. Diariamente, vemos uma crescente pressão e culpabilização sobre a produção animal em relação aos impactos ambientais, como emissões de gases do efeito estufa e desmatamento. É hora de agir rapidamente, trazendo clareza aos debates por meio de dados concretos relacionados à capacidade da produção animal de ser sustentável, e a genética é o insumo permanente.

No contexto desafiador da produção animal sustentável, a genética se destaca como o alicerce desde o primeiro momento, moldando os anos subsequentes após cada seleção criteriosa. Ao longo de décadas, testemunhamos de perto os avanços tecnológicos no campo do melhoramento genético animal, uma saga de progresso que assegura a continuidade dos alelos favoráveis – as verdadeiras engrenagens que impulsionam a produção animal.

A busca por características que potencializam a eficiência animal está no centro das atenções e é amplamente adotada. Esta abordagem tem permitido a coleta de fenótipos relevantes, evidenciando a capacidade de animais com alto mérito genético em manter padrões elevados de qualidade e desempenho, ao mesmo tempo em que demonstram uma excepcional eficiência na conversão alimentar, no rendimento de carcaça e na redução do tempo de permanência na fazenda. Os pecuaristas contabilizam, ao final, um saldo positivo rastreado e almejado.

Na vanguarda da inovação na pecuária, a implementação estratégica de linhagens terminais nos rebanhos emerge como um exemplo marcante de avanço. Esta abordagem, que capitaliza a complementaridade entre raças e explora a heterose, tem impulsionado de forma notável a eficiência produtiva. Resultados tangíveis são observados na redução substancial do tempo de confinamento dos animais, além de um notável aumento no peso e rendimento da carcaça, bem como na qualidade da carne.

Além disso, destacamos a importância da aplicação de tecnologias de ponta e metodologias inovadoras, como as ômicas, que têm revolucionado o cenário da seleção genética. Este vasto campo promete uma nova era na pesquisa e aplicação, permitindo a identificação e expressão de características altamente desejáveis. Entre elas, destaca-se a atenção aos pilares da sustentabilidade, bem como a compreensão aprofundada da microbiota ruminal, cujo papel crucial na mitigação das emissões de gases do efeito estufa é cada vez mais reconhecido.

Assim, o casamento entre a excelência genética e a inovação tecnológica não só impulsiona o progresso da pecuária, mas também consolida seu compromisso com a sustentabilidade e responsabilidade ambiental.

Em resumo, a manutenção da conexão ciência-indústria-campo é um elemento vital na busca pela produção sustentável, permitindo a produção de animais mais eficientes, saudáveis e adaptados ao meio ambiente, garantindo estabilidade na produção animal e um futuro alimentar seguro e saudável para as gerações futuras.

Nessa jornada, há um setor engajado e com a busca incessante pela excelência genética, pois sabemos que é a partir dela que construímos os fundamentos de um amanhã mais promissor para a produção animal sustentável, sem esquecer de garantir a subsistência da próxima geração de agricultores e pecuaristas.

Fonte: Por Laís Grigoletto, gerente de Serviços Genéticos Corte Latam da ABS.
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