Conectado com
VOZ DO COOP

Suínos / Peixes

Prolapsos de órgãos pélvicos respondem por 22% da mortalidade de matrizes, aponta pesquisa

Este problema tem um grande impacto na produção de suínos, uma vez que ocorre principalmente no periparto ou imediatamente no pós-parto.

Publicado em

em

Foto: Shutterstock

Os prolapsos de órgãos pélvicos são problemas comuns em matrizes suínas, mas que podem levar a graves consequências para sua saúde e bem-estar, além de comprometer a reprodução e rentabilidade da criação. Ocorrem quando os tecidos que suportam os órgãos pélvicos, como o útero ou a bexiga, são enfraquecidos e não conseguem manter esses órgãos em sua posição normal. Isso pode acontecer devido a diversos fatores, como genética, nutrição inadequada, obesidade, idade avançada, estresse, partos difíceis ou uso excessivo de hormônios.

Os sinais de um prolapso pélvico incluem inchaço ou protrusão dos órgãos pélvicos para fora da vulva, inflamação, sangramento, infecções e dificuldades para defecar ou urinar, causando dor, desconforto e prejudicando a qualidade de vida da matriz suína.

Nos últimos quatro anos, houve um aumento na pesquisa e investigação sobre prolapsos de órgãos pélvicos em matrizes suínas. Os tipos mais comuns são prolapsos retal, vaginal, uterino, retal+uterino e, em alguns casos, de bexiga.

Este problema tem um grande impacto na produção de suínos, uma vez que ocorre principalmente no periparto ou imediatamente no pós-parto. Além disso, há uma variabilidade significativa entre as granjas, o que torna o problema ainda mais desafiador.

De acordo com uma pesquisa da Pig Champ e Agriness, realizada com 203 unidades de produção e 259.292 mil matrizes em 2022, os prolapsos de órgãos pélvicos representaram cerca de 22% das causas de mortalidade das matrizes suínas. “É importante que as causas dessas mortes sejam corretamente identificadas e lançadas no sistema de gestão da granja”, ressaltou o médico-veterinário, mestre em Ciência Animal e presidente da Associação Brasileira de Veterinários Especialistas em Suínos – Regional do Paraná (Abraves/PR), Gefferson Almeida.

Fatores de risco

Em 2019, a Universidade Estadual de Iowa iniciou um estudo sobre prolapsos em matrizes suínas nos Estados Unidos, considerando diversos fatores de risco. Alguns desses fatores foram classificados como de alto risco e destacados, tais como tamanho da granja, protocolo de indução de parto, protocolo de intervenção no parto, comprimento de cauda, higiene e tamanho de partícula.

Outros fatores que podem influenciar na ocorrência de prolapsos em suínos incluem região geográfica, sistema de alojamento em gestação, uso de laxativos e exposição a micotoxinas, status sanitário e surtos sanitários, peso de cobertura de leitoas, nutrição e genética. “Além disso, a qualidade da água, a condição corporal das fêmeas e o score perineal também são fatores importantes a serem considerados para prevenir prolapsos em matrizes suínas”, expõe o mestre em Ciência Animal.

Médico-veterinário, mestre em Ciência Animal e presidente da Abraves/PR, Gefferson Almeida – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Almeida destaca que o tratamento de prolapsos em matrizes suínas é um grande desafio para a cadeia de produção, uma vez que sua causa é multifatorial. “Devido à natureza multifatorial do problema, não existe uma recomendação específica para solucioná-lo, o que faz com que tenhamos que trabalhar com uma série de fatores de riscos, tais como piso, inclinação de piso, consistência de fezes, condição corporal, escore perineal, escore fecal, tempo de gestação, jejum pré-parto, aplicação de cabetocina. O comprimento da cauda também é um fator que deve ser considerado, uma vez que pode ter impacto no prolapso”, afirma.

Estudo

Atualmente está em andamento um estudo em conjunto entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Agroceres PIC que tem como objetivo entender o que está acontecendo na região perineal de matrizes suínas. A pesquisa busca avaliar a composição do tecido na região perineal em animais em que a composição tecidual é considerada normal, aceitável, de provável descarte e descarte para cada tipo de escore, com o intuito de identificar se a saculação é decorrente de lesão de nervo, muscular ou de outras causas.

Para isso, foram selecionadas oito fêmeas OP3 para passar por necropsia e dissecação da região perineal. “Pudemos observar que na composição desta região ocorre, principalmente, a perda de massa muscular, o que faz com que essa ausência de catabolismo proteico seja preenchida por gordura, que não tem nenhuma função estrutural, o que acarreta em uma fragilidade muito grande dessa região, torna-a mais propensa a prolapsos”, expõe Almeida.

Fisiopatogenia dos prolapsos

Existem várias hipóteses que tentam explicar a fisiopatogenia dos prolapsos em matrizes suínas. Uma das hipóteses é o aumento da demanda energética, que pode levar a um consumo muscular acentuado e consequente atrofia muscular. “A perda da sustentação muscular pode levar à substituição por tecido adiposo, o que fragiliza ainda mais a região perineal”, menciona Almeida.

Outra hipótese é que fatores predisponentes e potencializados, como a presença de micotoxinas e qualidade inadequada de proteína na dieta, além de doenças concomitantes, podem levar a uma maior fragilidade do tecido perineal, tornando-o mais suscetível a prolapsos. “O edema local também pode comprimir vasos sanguíneos, acelerando a atrofia muscular, o que contribui para o agravamento do quadro”, pontua, reforçando: “É importante lembrar que os prolapsos em matrizes suínas são uma condição multifatorial e que a prevenção e tratamento adequados envolvem uma abordagem holística, considerando vários fatores, como a nutrição, manejo, genética e condições sanitárias”.

O profissional também salienta que a lesão do colágeno e da membrana basal é um problema comum em matrizes suínas e pode ser causada pela ação da relaxina/PG2, que levam à degradação do colágeno das fáscias e à perda de sustentação muscular. A função exacerbada da musculatura também pode levar a atrofia e a deposição de gordura, bem como ao edema local, o que pode levar a uma maior compressão e, consequentemente, a prolapsos. “Embora se saiba que a relaxina/PG2 têm um papel importante na fisiopatologia do prolapso em matrizes suínas, ainda não está claro se a maior produção desses hormônios ou uma maior sensibilidade ou número de receptores são os fatores determinantes para a lesão do colágeno e da membrana basal. Além disso, acredita-se que fatores genéticos, bem como a interação simbiótica dos hormônios com micotoxinas, possam influenciar a fisiopatogenia. A metaloproteinase 2 também pode ter um papel importante na lesão do colágeno e da membrana basal, embora mais estudos sejam necessários para compreender completamente seu papel na patologia do prolapso em matrizes suínas”, pondera Almeida.

Fatores que influenciam prolapsos

A investigação com foco nos principais fatores de risco é determinante para a prevenção de prolapsos de órgãos pélvicos em matrizes suínas. Dentre esses fatores de risco, podemos citar o escore corporal, escore perineal, consistência fecal, tamanho de cauda e manejo pré-parto. A composição corporal, com atenção para o uso de fibras e ingestão de água, também pode influenciar no surgimento desses prolapsos. “Embora sejam várias as hipóteses para o surgimento dos prolapsos, não há uma causa específica e nem uma solução única. O manejo adequado e cuidadoso é crucial para prevenir o problema”, aponta o médico-veterinário.

Ele também ressalta que a mortalidade de matrizes está relacionada a diversos fatores, como nutrição, genética, instalações, ambiência, sanidade e manejo, e cada um desses aspectos precisa ser cuidadosamente considerado. “É responsabilidade de todos os profissionais envolvidos na criação de suínos trabalhar em conjunto para minimizar os riscos de prolapsos e garantir a saúde e o bem-estar dos animais”, enfatiza.

Oportunidades

Por fim, o presidente da Abraves/PR cita diversas oportunidades para melhorar a eficiência produtiva das fêmeas, incluindo a seleção cuidadosa de matrizes, o cuidado individual com termometria e terapêutica, o manejo da condição corporal, a investigação de causas de morte, a ingestão adequada de água, instalações adequadas e bem mantidas, a capacitação da equipe, a nutrição monitorada e o monitoramento sanitário regular.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola acesse gratuitamente a edição digital de Suínos. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

ACCS 65 anos: força e inovação na suinocultura catarinense

Publicado em

em

Presidente Losivanio Luiz de Lorenzi: "Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses" - Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Fundada em 24 de julho de 1959, a ACCS surgiu em um momento determinante para a suinocultura em Santa Catarina. Na década de 1940, o Oeste Catarinense destacou-se na produção de suínos, impulsionado pela chegada de colonos do Rio Grande do Sul. Entre os pioneiros, Attílio Fontana, fundador da Sadia, viu o potencial da região e investiu na criação de suínos, transformando a produção local em um pilar econômico.

Inovação e melhoramento genético

Na virada da década de 1940 para 1950, a ACCS foi pioneira na introdução de práticas de melhoramento genético. Victor Fontana, sobrinho de Attílio, aplicou métodos racionais e técnicos de criação, resultando em ninhadas de leitões saudáveis e precoces. A Sadia distribuiu um fomento experimental, fornecendo matrizes e ração aos produtores que seguiram suas exigências de higiene e instalações, marcando o início de uma revolução na suinocultura.

Expansão e modernização

Nos anos 1960 e 1970, a ACCS ampliou suas atividades, implementando o registro genealógico dos suínos e promovendo a exposição de suínos que incentivavam a melhoria genética. Em 1976, sob a presidência de Paulo Tramontini, a ACCS liderou a criação da primeira central de inseminação artificial de suínos do Brasil, consolidando Santa Catarina como líder na produção de material genético de qualidade.

Evolução estrutural

A Central de Coleta e Difusão Genética da ACCS (CDG-ACCS), localizada na comunidade de Fragosos em Concórdia, representa um marco de inovação e excelência na suinocultura brasileira. Reinaugurada em 2016, a CDG-ACCS foi a primeira do Brasil a operar dentro dos padrões rigorosos de Bem-Estar Animal, incorporando as melhores genéticas do mercado e estabelecendo um alto padrão de sanidade e produtividade.

Com uma produção mensal de aproximadamente 19 mil doses de sêmen, a central não apenas impulsiona a qualidade genética dos rebanhos, mas também garante a sustentabilidade e a competitividade dos suinocultores catarinenses. O reconhecimento da CDG-ACCS como referência em produtividade e sanidade, destacado em reportagens especiais como a do Globo Rural, reforça seu papel na modernização e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina e no Brasil.

Parcerias e crescimento sustentável

Ao longo das décadas, a ACCS tem sido uma força importante na promoção e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina. Parcerias estratégicas com indústrias, cooperativas e entidades governamentais foram fundamentais para o crescimento do setor. A criação da Cooperativa Agroindustrial dos Suinocultores Catarinenses (Coasc) em 2014 exemplifica esse espírito cooperativo, ajudando produtores independentes a obter melhores condições na compra de insumos.

Desafios e superações

A ACCS não se limita a celebrar conquistas, mas também se destaca pelo seu papel de apoio em tempos de crise. A associação esteve presente em momentos de adversidade, mobilizando a classe e chamando a atenção para as necessidades e demandas dos suinocultores. Este espírito de luta e resiliência garante que os suinocultores continuem a desempenhar um papel vital na economia do país.

Uma voz ativa e presente

A ACCS se tornou uma referência, tanto para a imprensa quanto para os suinocultores. Com um site atualizado diariamente e participações ativas em comissões e eventos, a associação promove o diálogo entre produtores e especialistas, sempre inovações buscando e políticas públicas desenvolvidas ao setor.

Celebração e futuro promissor

Ao comemorar 65 anos, a ACCS reafirma seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade do setor. O presidente Losivanio Luiz de Lorenzi destaca a importância de continuar unidos, superando desafios e construir um futuro ainda mais promissor para a suinocultura catarinense. “Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses,” ressalta.

A trajetória da ACCS é um exemplo de dedicação e sucesso, refletindo a força e a inovação que definem a suinocultura em Santa Catarina. Comemoramos não apenas o passado, mas também as possibilidades ilimitadas do futuro. Parabéns a todos que fazem parte dessa história!

Fonte: Assessoria ACCS
Continue Lendo

Suínos / Peixes

Preços do suíno vivo têm movimentos distintos no Brasil

Aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate. As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês.

Publicado em

em

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Os preços do suíno vivo e da carne vêm apresentando movimentos distintos dentre as regiões acompanhadas pelo Cepea.

Segundo pesquisadores deste Centro, os aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate.

Esse foi o caso dos mercados independentes do suíno vivo nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês, devido ao menor poder de compra da população, ainda conforme explicam pesquisadores do Cepea.

 

Fonte: Assessoria Cepea
Continue Lendo

Suínos / Peixes Nutrição

Especialista aponta desafios e alternativas para melhorar desempenho zootécnico dos suínos

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção.

Publicado em

em

Foto: Shutterstock

A qualidade nutricional dos alimentos não só influencia o desempenho dos animais, mas também afeta diretamente sua capacidade de digestão e absorção de nutrientes, bem como a quantidade de resíduos gerados. Durante o 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado nesta semana no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, essa temática foi abordada pelo mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz.

O especialista vai participar do Painel Novos Desafios na produção de suínos – o que vem por aí?, em que vai tratar sobre “Onde estamos e para onde deveremos ir na área de Nutrição”. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o doutor em Nutrição enfatizou que quanto melhor compreendermos a qualidade dos ingredientes utilizados na formulação dos alimentos para suínos, mais eficiente será a produção dos animais e menores serão os impactos ambientais.

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção. Aborda temas como nutrição de precisão, ingredientes alternativos, redução do uso de antibióticos, nutrigenômica, considerações nutricionais por fase de crescimento, desafios ambientais, estratégias nutricionais para minimizar o estresse térmico e oportunidades para colaboração entre a indústria, academia e o poder público. Confira!

O Presente Rural – Quais são os avanços recentes na nutrição voltada à suinocultura e como essas inovações estão impactando a eficiência alimentar, o crescimento e a saúde dos suínos?

Mário Penz – Quanto mais conhecemos a qualidade dos ingredientes que são empregados na elaboração dos alimentos para os suínos, mais eficiente se torna a produção dos animais e menores são os efeitos poluidores, que podem ser causados pela indevida digestão dos nutrientes e pelo aumento dos dejetos produzidos. Por exemplo, vários nutricionistas calculam as necessidades energéticas dos animais com base nas energias líquidas dos ingredientes, enquanto outros ainda usam energia metabolizável ou, menos comum, energia digestível, ambas menos precisas que a expressão da energia, com base no conhecimento dos valores de energia líquida dos ingredientes.

O Presente Rural – Quais são os principais desafios que os nutricionistas enfrentam atualmente na formulação de dietas para suínos e como estão sendo abordados?

Mário Penz – Continua sendo o conhecimento da real composição dos ingredientes usados nas formulações das dietas para as diferentes fases de produção.

O Presente Rural – Como a nutrição de precisão está sendo aplicada na suinocultura e quais são os benefícios em termos de otimização dos recursos alimentares e redução dos custos de produção?

Mário Penz – Nutrição de precisão tem por objetivo, sempre um pouco paradoxal, oferecer aos animais nutrientes e energia líquida, de acordo com suas necessidades, nas diferentes fases de produção. Quando se lida com nutrição de populações, em diferentes fases de produção, o que se quer chegar é o mais perto do que os animais necessitam, desconsiderando várias diferenças que podem ocorrer por idade, sexo, linhagem, ambiente, propósito de produção, etc. Essa nutrição não obrigatoriamente é “de custo mínimo”.

O Presente Rural – Quais são as tendências emergentes na formulação de dietas para suínos, como a utilização de ingredientes alternativos e a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento?

Mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz: “Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença”. Foto: Divulgação

Mário Penz – Ingrediente alternativo é todo aquele que pode substituir os ingredientes convencionais das dietas, que no Brasil são milho e farelo de soja. Ingredientes como sorgo, milheto, farinhas de origem animal, entre outros, poderão ser empregados, desde que estejam disponíveis em quantidades relevantes, nem que seja por um período específico do ano. Além disso, é importante que se conheça a composição nutricional e energética desses ingredientes, para evitar que tenham seus valores sub ou superestimados. Levando isso em consideração, qualquer oportunidade tem que ser avaliada quanto ao seu custo e ao seu benefício, relacionados com aqueles que o milho e o farelo de soja podem trazer aos animais.

Quanto a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento, esse é um caminho sem volta. Para que não haja perda de desempenho dos animais, os profissionais deverão dar mais atenção aos princípios básicos de saúde animal (saúde intestinal) e menos na mitigação das ações microbianas deletérias. Nesse conjunto de ações, cuidado com a biosseguridade, do ambiente, das dietas empregadas, farão parte dessa nova necessidade de produção.

Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença. Saúde é um processo contínuo, que se mitiga todo o tempo. Doença, mesmo que seja só mitigada pelos promotores de crescimento, sugerem respostas mais rápidas, mas não obrigatoriamente com consistência. Mudar de doença para saúde é algo complexo e que requer mais conhecimento dos profissionais envolvidos na produção de suínos.

O Presente Rural – Como a nutrigenômica e outras tecnologias de ponta estão sendo exploradas para entender melhor as necessidades nutricionais específicas dos suínos e melhorar a saúde intestinal?

Mário Penz – Nutrigenômica é o conhecimento que permite a seleção específica de nutrientes que favorecem a melhor expressão gênica dos animais, permitindo, como consequência, melhor saúde e desempenho dos animais. Esse é outro caminho sem volta, especialmente quando se trata de produzir animais saudáveis e sem o uso de antibióticos. Mas, ainda todo esse conhecimento está pouco apreciado no dia a dia das produções. Entretanto, importantes informações acadêmicas estão disponíveis, que mostram que teremos que olhar o suíno não por fase, mas olhar os resultados finais, desde o início da produção dos reprodutores, que lhes dão origem.

O Presente Rural – Quais são as considerações nutricionais específicas para diferentes fases de crescimento dos suínos, desde a creche até a terminação, e como essas necessidades estão sendo atendidas?

Mário Penz – Lamentavelmente, essa pergunta é extremamente complexa, para que tenha uma resposta simples. Entretanto, tomando o risco da simplificação, os nutricionistas devem estar muito próximos dos técnicos das genéticas, para entender quais são as recomendações por eles oferecidas. Com o tempo, cada profissional vai adaptando seus referenciais, com base na sua experiência e nos resultados práticos de campo. Aqui não tem uma resposta única e a complexidade começa com a identificação que o nutricionista tem com relação ao produto final da produção. Ele está preocupado com o ganho de peso, com a conversão alimentar, com a qualidade da carcaça ou com o menor custo no frigorífico?

O Presente Rural – Quais são os aditivos alimentares desenvolvimentos mais recentemente, como probióticos, prebióticos e enzimas, para promover a saúde intestinal e melhorar o desempenho dos suínos?

Mário Penz – Essa é uma nova era na produção de suínos. Reforço que estamos saindo de uma longa fase, onde os profissionais se preocupavam e se preocupam com eventos sanitários, os mitigando com o uso de antibióticos promotores de crescimento e/ou antibióticos usados de forma preventiva ou terapêutica. Agora estamos entrando na fase da saúde animal, mais complexa, porém inevitável. Muitas são as opções para melhorar a saúde dos animais. Não há um único produto que tenha a chancela de resolver tudo! O técnico deverá ter claro o que está buscando e, com isso olhar as oportunidades disponíveis. De uma maneira geral, tenho me posicionado que nessa nova fase, tudo começa pelo uso de enzimas exógenas, como suplementos indispensáveis. Dietas bem digeridas diminuem a disponibilidade de nutrientes aos microrganismos. Depois, todas as dietas devem ser suplementadas com um antioxidante que tenha ação efetiva, para mitigar processos de oxirredução contínuos dos enterócitos. Enzimas e antioxidantes fazem uma eficiente “dobradinha”. Depois vem os demais aditivos não antibióticos. Aqui o técnico tem que saber o que quer: fortalecer o sistema imune dos animais? A integridade intestinal? A digestibilidade dos nutrientes? Colaborar na regulação da microbiota? São perguntas indispensáveis, pois nessa nova fase não há “receita pronta”. As alternativas serão customizadas, de acordo com as expectativas técnicas esperadas. Para completar, aditivos não antibióticos não estão chegando para melhorar os resultados de granjas que não deem atenção a biosseguridade, ao ambiente, ao bem-estar animal, como sempre pensamos que os antibióticos ajudam ou ajudavam. Essa nova produção animal vem para se empregada em granjas que atendem os princípios básicos de boas práticas de produção e manejo. Ou seja, a mudança de paradigma é grande. Por isso que sempre sugiro que, independente da necessidade de se acomodar a essa nova realidade, o técnico deve começar, com cautela, a entender como produzir nesse novo ambiente tendo parte de seu plantel submetido a essas novas alternativas.

O Presente Rural – Como os desafios ambientais – a redução das emissões de gases de efeito estufa e a sustentabilidade da produção de alimentos – estão moldando a pesquisa em nutrição suína?

Mário Penz – Sustentabilidade é a palavra de ordem. O grande desafio é que a sustentabilidade está baseada em três pilares – econômico/ambiental/social. Com isso, em cada ação temos que olhar como ela afeta um ou mais dos três pilares. O que é certo é que sempre será impossível ter os três pilares sendo atendidos na íntegra. A produção animal sempre buscou a sustentabilidade, mesmo antes do termo ter se consagrado pela Comissão de Bruntland em 1987, que definiu o que seria o Desenvolvimento Sustentável. Por que digo isso? Porque os produtores seguem em suas propriedades em muitos casos por três ou mais gerações. Se não fossem sustentáveis já teriam migrado, como muitos fizeram. Os produtores sempre estão perseguindo, pelos conhecimentos técnicos adquiridos, melhores resultados zootécnicos, representados por melhores conversões alimentares de seus animais. Melhor conversão animal, menos consumo de alimento e água, menor excreção de dejetos, menor poluição do ambiente, especialmente pelo nitrogênio e fósforo excretados. Tudo isso podendo também ser representado pela menor produção de CO₂. Assim, a ciência subsidia os produtores com seus conhecimentos e eles aplicam, para que sigam sendo viáveis economicamente.

O Presente Rural – Quais são as estratégias nutricionais mais eficazes para minimizar o estresse térmico em suínos durante períodos de temperatura extrema?

Foto: Shutterstock

Mário Penz – Não criá-los em temperaturas quentes! A nutrição pode mitigar eventos térmicos de calor, mas são pouco eficientes (reduzir proteína, aumentar a energia por intermédio da inclusão de gordura nas dietas, etc.). O uso de ambiente controlado é uma necessidade indispensável nos novos projetos suinícolas. Além disso, a curto prazo, os animais, nessas condições devem receber água fria, junto com o alimento que consomem. Imaginem uma reprodutora em lactação, que tem que comer algo em torno de 6 a 7 kg de alimento/dia e necessita tomar água com uma temperatura próxima de 15ºC e a ela é oferecida uma água com 30ºC. O que ela vai fazer? Irá comer menos! E, as consequências já sabemos. Assim, resumindo, estresse por elevada temperatura ambiente, primeiro se mitiga com água fria e depois, nos novos projetos, com a construção de galpões climatizados.

O Presente Rural – Quais são as oportunidades futuras para a colaboração entre a indústria de nutrição animal, academia e poder público para impulsionar ainda mais a inovação e o progresso na área de nutrição voltada à suinocultura?

Mário Penz – A tríade indústria, academia e poder público é indispensável se quisermos avançar mais rápido. Cada um dos três segmentos tem a sua responsabilidade. Entretanto, primeiramente cabe a indústria ser clara no que necessita para que a academia se prepare para responder os desafios. Cabe a academia entender que a indústria tem pressa em várias de suas necessidades e se colocar como disponível frente a esses desafios. Ao poder público, favorecer qualquer inciativa pertinente, colaborando com financiamentos e com normas e regulamentos que favoreçam novas descobertas.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo
ABMRA 2024

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.