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Suínos / Peixes Artigo

Políticas e ações para o desenvolvimento da aquicultura e da pesca

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Foto: Arquivo/OP Rural

Em um ano de eleições onde iremos eleger o presidente da República, governadores, deputados e senadores, é, sem dúvida, um momento privilegiado para fazer o debate em torno de estratégias e políticas para o desenvolvimento da aquicultura e pesca visando consolidar o Brasil como um grande produtor mundial de pescado, que é a nossa vocação. Políticas e ações com visão de longo prazo, estruturantes e estimuladoras de investimentos em modelos sustentáveis e competitivos e capazes de gerar milhares de oportunidades de trabalho, emprego, renda e riqueza para o país são estratégicas necessárias para o setor.

A FAO, recentemente, no Ano Internacional da Pesca Artesanal e da Aquicultura, ao publicar o documento “O Estado Atual da Pesca e Aquicultura no Mundo”, lançou uma ação de caráter estratégica chamada de “Transformação Azul: Uma Visão para Transformar Sistemas Aquáticos Alimentares”. Tal ação parte da visão de que o desafio de alimentar uma população mundial crescente sem esgotar os recursos naturais é cada vez maior e que os sistemas de alimentação aquática são cada vez mais importantes por seu potencial de fornecer alimentos que melhor atendem as necessidades alimentares nutritivas da humanidade. Destaca que 3,2 bilhões de pessoas sofrem de fome ou têm acesso severamente limitado a uma alimentação adequada. E estabelece como meta para 2050 proporcionar um aumento de 25% no consumo de alimentos aquáticos a nível global. Ou seja, um aumento de 5kg/hab/ano, o que significa perspectivas reais de mercado no longo prazo.

O pescado é hoje a proteína de origem animal mais consumida e comercializada no mundo. Segundo dados da FAO (SOFIA 2022), o consumo atual é de 20,2 kg/hab/ano e o valor em exportações é de U$$ 150 bilhões, 49% do valor total de todas as proteínas de origem animal exportadas. Da década de 1960 a 2018, enquanto a população cresceu 1,6% ao ano, o consumo de pescados cresceu 3,1%, praticamente o dobro do aumento da população, enquanto que o consumo outras carnes cresceu 2,3% ao ano. A projeção da FAO para as próximas décadas é a de que o consumo continuará crescendo em função do aumento da população, da renda, da busca por proteínas mais saudáveis e uma maior diversificação nos hábitos alimentares. Para 2030, a FAO projeta um consumo de 21,5 kg/hab/ano e a necessidade adicional de mais 28 milhões de toneladas ao ano para atender à crescente demanda.

Por outro lado, quando analisamos as tendências de crescimento da produção mundial de pescado, três conclusões ficam evidentes: A primeira é a de que nas últimas três décadas foi a aquicultura que supriu a demanda mundial por pescado, com crescimento exponencial, chegando a 82 milhões de toneladas em 2018 e sendo responsável por 51% do consumo humano. A segunda é a de que na próxima década a pesca manter-se-á nos níveis atuais de produção e a aquicultura crescerá 31%, mantendo seu papel de grande responsável pelo suprimento da demanda mundial. E a terceira é a de que o Sudeste Asiático, que atualmente produz 88% da aquicultura mundial, passará por um processo de redução do seu ritmo de crescimento em relação à década passada, em função de limites geográficos, disponibilidade de água e maior regulação ambiental, abrindo grandes oportunidades para países como o Brasil, que reúne condições naturais únicas para a atividade aquícola e com potencial de produzir acima de 20 milhões de toneladas ano, segundo a FAO.

Neste contexto, as oportunidades em termos de produção e de geração de trabalho, emprego, renda e divisas para o país são gigantescas e o mundo precisará do Brasil para o fornecimento desta proteína nas próximas décadas. O Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo (13% do total mundial), 8.500 km de costa marítima, 4,5 milhões de km2 de zona econômica exclusiva, clima favorável, espécies nobres, matéria prima para produção de ração, a experiência de outras cadeias de carnes e um contingente de profissionais, pesquisadores e pessoas que vivem da atividade, que o colocam entre os países com as melhores condições de produção de pescados.

Do ponto de vista estratégico, investir na produção de pescado não é apenas importante do ponto de vista econômico, mas também sob aspectos relacionados às preocupações com a saúde e a sustentabilidade, que são muito importantes no longo prazo. O primeiro é o fato do pescado ser a proteína mais saudável entre todas as proteínas de origem animal; segundo, o processo de produção aquícola é o mais sustentável entre todas as carnes, porque é a que tem a melhor conversão alimentar, ou seja, menos alimento consumido para produzir 1 kg de proteína; terceiro, é a que tem a maior produção por hectare, e quarto, é a que gera o menor nível de emissões de gases de efeito estufa. Além do fato, de pouco concorrer por terra com outras culturas e criações, pois ocupa áreas alagadas em propriedades, reservatórios de hidrelétricas e costa marítima.

E para ilustrar a importância estratégica de investir na produção de pescado, basta considerar casos concretos de países vizinhos que investem na aquicultura como é o caso do Equador e do Chile. O Equador, um país com dimensão territorial menor que o estado do Maranhão (283.560 km2 e 331.983 km2 respectivamente), produziu em 2021, um milhão de toneladas de camarões, exportando 842 mil toneladas no valor de U$$ 5,08 bilhões. Já o Chile, que desenvolveu a indústria do salmão, em 2021, exportou 723 mil toneladas de salmão e truta em valores de U$$ 5,189 bilhões, para mais de 70 países.

Ou seja, investir na aquicultura e pesca é estratégico para o país porque oferece uma infinidade de oportunidades. O Brasil reúne as condições para se transformar em um dos maiores produtores e exportadores mundiais de pescado. Basta o setor público e privado alinharem expectativas, políticas e ações estruturantes e criar um ambiente seguro para os negócios e estímulos aos investimentos no setor.

A aquicultura cresce e a cadeia do pescado vai se consolidando

A pesca e aquicultura, cada qual com um papel relevante do ponto de vista econômico e social, vivem realidades e dinâmicas distintas. A pesca tem sua produção estagnada a mais de 20 anos, enfrenta sérios limites de estoques, restrições cada vez maiores à captura, frota com idade avançada, dificuldades de mão de obra especializada, gestão deficiente e políticas públicas insuficientes em apoio ao setor.

Este quadro tem gerado enormes dificuldades para o setor de pesca e fragilizado a indústria de processamento, que tem recorrido cada vez mais à matéria prima oriunda da aquicultura e às importações para manter em funcionamento suas plantas industriais. Além disso, esta situação também tem deixado milhares de pescadores e trabalhadores cada vez mais vulneráveis.

Já a aquicultura tem se constituído no polo dinâmico da cadeia de pescado e crescido a patamares superiores à média mundial. O destaque é para a piscicultura que, segundo o Anuário da Peixe BR, nos últimos 8 anos cresceu 45,3% na produção, passando de 578.800 toneladas em 2014 para 841 mil toneladas em 2021, sendo a tilápia a cadeia que efetivamente se consolidou, crescendo a patamares médios de 10% ao ano e sendo responsável por 63,5% da produção de peixes no Brasil. Atualmente o Brasil é o quarto maior produtor mundial de tilápia, atrás apenas da China, Indonésia e Egito.

Este crescimento na produção de tilápia foi resultado principalmente de avanços no ambiente regulatório, maior acesso ao crédito, desenvolvimento de um pacote tecnológico nas áreas de nutrição, genética, sanidade e equipamentos e da entrada de grandes players no setor como as cooperativas do Sul do Brasil, empresas já consolidadas em outras cadeias de carnes e investidores nos mais diferentes elos da cadeia produtiva. Ao mesmo tempo, os piscicultores têm profissionalizado cada vez mais sua produção com adoção de novas tecnologias, capacitação e novas práticas de manejo.

No caso dos peixes amazônicos, o processo de desenvolvimento se encontra em fase de evolução.  O destaque fica por conta dos peixes redondos, especialmente o Tambaqui, além de outros em menor escala como o pintado e pirarucu, cuja produção vem crescendo, mas ainda não consolidou um pacote tecnológico e nem atingiu a maturidade da cadeia.

A produção de camarão vem retomando seu crescimento após ter enfrentado anos de dificuldades com o damping dos Estados Unidos e uma série de doenças como a NIN e a Mancha Branca. Mas tem aperfeiçoado os sistemas de produção, importado material genético, conquistado o mercado interno e retomado as exportações. É um setor que exige investimentos e que tem enorme potencial, pois é um produto de consumo universal.

A indústria, apesar das dificuldades, vem num processo crescente de investimentos, modernizando processos, aumentando a eficiência e colocando produtos cada vez com melhor qualidade no mercado nacional e internacional e tornando-se cada vez mais competitiva. E é certamente o elo da cadeia que deve merecer muita atenção, com regulação e investimentos para sua modernização e ganho de competitividade, pois é ela o fator decisivo na estratégia de colocar o Brasil como um ator relevante a nível global neste segmento produtivo.

Do ponto de vista de mercado, o consumo interno, após crescimento ao longo de vários anos, estagnou com a crise e gira em torno de 10 kg/hab/ano. De um total estimado de 100 kg/hab/ano de carne consumida pelos brasileiros, 46 kg são de frango, 27 kg de carne bovina, 17 kg de carne suína e 10 kg de pescado. Ou seja, é preciso investir no estímulo ao consumo para elevar este patamar para além dos 10% do consumo total de proteína de origem animal.

Em relação ao mercado externo, a balança comercial de pescado é deficitária, com tendência de redução do déficit. Em 2021 o Brasil importou U$$ 1,2 bilhão e exportou U$$ 395 milhões. O destaque ficou por conta das exportações de lagostas, pargos, atuns e tilápia, esta com aumento de 78%, uma demonstração do dinamismo da cadeia. Um problema pendente e urge de solução é a reabertura das exportações para o União Europeia, restrição imposta desde 2018.

Desafios, estratégias e políticas para o setor

Os desafios a serem superados na pesca e aquicultura são muito conhecidos, no caso da pesca, a gestão dos recursos pesqueiros, pesquisa e monitoramento de estoques, estatística, crédito, melhoria da legislação, investimento em infraestrutura, renovação da frota, regulação, melhoria da renda dos pescadores artesanais, etc. Na aquicultura tais problemas são de ordem regulatória, tributária, de acesso ao crédito, assistência técnica, de investimentos em ciência e tecnologia, modernização da indústria e nos temas de sanidade e biossegurança, etc.

Foto: Divulgação/C. Vale

São problemas que precisam ser enfrentados com políticas estruturantes, visão de longo prazo e a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável do ponto de vista social, econômico e ambiental, inclusivo e competitivo no mercado interno e a nível global, visando  transformar o Brasil em grande produtor mundial de pescados e gerador de trabalho, emprego e renda e vida digna para milhões de brasileiros.

O governo brasileiro deve trabalhar com a visão de que o mundo precisará cada vez mais do Brasil para a produção e oferta mundial de pescado e que a cadeia do pescado no país pode se tornar tão ou mais importante que outras cadeias de carnes. Para isso, é estratégico criar um ambiente de negócios seguro com um conjunto de políticas capazes de estimular investimentos e acelerar o processo de desenvolvimento do setor.

Nesta perspectiva, com base na experiência acumulada e no conhecimento do setor, proponho um conjunto de estratégias e ações que podem nortear as políticas a serem implementadas no país:

1.       Posicionar a Aquicultura e Pesca como uma Política de Estado e ancorá-la a um Plano de Desenvolvimento de longo prazo (Horizonte de pelo menos 20 anos) com base em um modelo de desenvolvimento sustentável, construído e acordado entre o governo e o setor produtivo.

2.       Recriar o Ministério da Pesca e Aquicultura dotando-o de um orçamento robusto e de estrutura com profissionais concursados e de formação multidisciplinar.

3.       Investir em pesquisa e desenvolvimento tecnológico para a aquicultura através da Embrapa Pesca e Aquicultura, dotando-a de recursos financeiros, humanos e tecnológicos e criando, sob sua coordenação, um consócio nacional de instituições e entidades de pesquisa visando unificar as políticas em torno de um plano estratégico para o setor com foco em espécies de maior interesse para o Brasil e objetivos de longo prazo.

4.       Criar um Instituto de Pesca com a missão de desenvolver pesquisas relacionadas aos recursos pesqueiros e monitoramento de estoques para assegurar as informações necessárias à formulação de políticas para uma gestão eficiente e o desenvolvimento sustentável da pesca. O Instituto pode absorver estruturas de pesquisa dispersas em outros órgãos que estão abandonados ou funcionando precariamente.

5.       Elaborar um pacote de medidas de regulação para dar segurança jurídica ao setor e, assim, criar um ambiente que estimule investimentos. Tal pacote passa pela revisão da lei da pesca, da legislação relacionada ao licenciamento ambiental para a aquicultura e Cessão de Águas da União e de normativas relacionadas a indústria de processamento de pescado.

6.       Implementar um pacote de medidas tributárias visando reduzir o peso dos tributos ao longo da cadeia da aquicultura e da pesca para dar mais competitividade ao setor, como é o caso da isenção de PIS/Cofins sobre a ração obtendo isonomia com frangos e suínos, a redução de IPI sobre a produção de máquinas e equipamentos e a redução de impostos sobre importação de máquinas e equipamentos sem similaridade nacional.

7.       Elevar o volume de recursos para o crédito e melhorar as condições de acesso considerando as necessidades do setor de pesca e aquicultura. No caso da aquicultura, ajustar os níveis de carência e prazos do crédito para custeio conforme o ciclo produtivo   das espécies, reduzir as taxas de juros e facilitar o acesso através da inclusão dos estoques como garantia. No caso da pesca, criar uma linha de crédito específica, de longo prazo, para investimentos na renovação da frota, além da garantia de recursos para o custeio da atividade de captura.

8.       O governo deve definir, em conjunto com o setor, planos específicos para o desenvolvimento e consolidação das cadeias atualmente mais relevantes da aquicultura e que precisam de impulso para sua consolidação com políticas e ações como as cadeias da tilápia, tambaqui, camarão, piscicultura marinha e aquicultura ornamental, visando dar foco, estabelecer metas e resolver gargalos. E da mesma forma nas cadeias mais sensíveis da pesca como é o caso da lagosta, atuns, sardinha e tainha.

9.       Desenvolver, em conjunto com as entidades, uma política específica para a elevação da competitividade da indústria de processamento de pescados, partindo do conceito de que a indústria é um elo estratégico para o desenvolvimento do setor e a concorrência se dá a nível global. Segundo a FAO, 78% do pescado produzido no mundo estão expostos à concorrência internacional. O Plano precisa incluir medidas de ordem regulatória, tributária e de crédito visando à modernização do parque industrial e atração de novos investimentos.

10.   Implementar esforços e ações da diplomacia brasileira objetivando a reabertura das exportações brasileiras de pescado à União Europeia, interrompidas desde 2018.

11.   Implementar uma política robusta de estímulo ao consumo de pescado no país, uma vez que temos mais de 210 milhões de consumidores, investindo em parceria com o setor privado, no fortalecimento da Semana do Pescado e realizando mudanças na legislação objetivando melhorar a dieta da população para uma vida mais saudável. Implementar efetivamente, em parceria com os estados, uma política de compras de pescado para alimentação escolar das mais de 40 milhões de crianças do Programa Nacional de Alimentação Escolar e ampliar as compras institucionais para órgãos como o Exército, Marinha e Aeronáutica.

12.   Investir, em parceria com a APEX, entidades do setor e empresas, em ações que visem promover o pescado brasileiro no mercado internacional, estimular empresas a se habilitarem e melhorar as condições para elevar a competitividade do pescado brasileiro.

13.   Criar um forte programa de apoio ao desenvolvimento do cooperativismo e do associativismo na aquicultura e pesca com instrumentos de apoio como assistência técnica, formação profissional e acesso diferenciado ao crédito, visando um modelo de produção mais inclusivo diante dos crescentes desafios do mercado.

14.   Fortalecer a Câmara Setorial da Produção e Indústria de Pescado como espaço de discussão e proposição de políticas públicas para o desenvolvimento do setor e colocar em funcionamento os Comitês Permanentes de Gestão da Pesca, constituídos por representantes do governo, setor pesqueiro, instituições de pesquisa e sociedade civil, como espaços de discussão e proposição de políticas para a gestão e ordenamento da pesca.

15.   Implementar um sistema moderno de estatística na aquicultura e pesca visando ter dados atualizados e seguros para servirem de base à elaboração de políticas públicas e à tomada de decisões do setor produtivo.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na aquicultura brasileira acesse gratuitamente a versão digital 2ª edição Especial Aquicultura.

Fonte: Por Altemir Gregolin, médico-veterinário, mestre em Desenvolvimento Rural, professor da FGV, consultor, presidente do IFC Brasil e ex-ministro da Pesca.

Suínos / Peixes

Nova edição de Aquicultura explora gargalos, oportunidades e a resistência no Brasil às tilápias supermachos

Periódico traz reportagens sobre os desafios dos piscicultores independentes devido à falta de contratos sólidos com agroindústrias, enfatiza a resistência no Brasil à técnica de produção de tilápias supermachos e apresenta soluções para melhorar a eficiência alimentar na aquicultura, como a edição genômica.

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Um dos obstáculos enfrentados pelos piscicultores independentes é a ausência de contratos bem estabelecidos com agroindústrias ou cooperativas, que garantam a retirada dos peixes no momento certo. Ao contrário do modelo de integração, em que as cooperativas assumem a responsabilidade pela gestão do ciclo produtivo, os produtores independentes ficam à mercê das flutuações do mercado e das decisões das indústrias processadoras.

Na nova edição de Aquicultura do Jornal O Presente Rural, que já está disponível na versão digital no campo Edições Impressas deste portal de notícias, trazemos uma reportagem exclusiva que ilustra vividamente os desafios enfrentados por aqueles que optam por seguir o caminho independente na piscicultura. Quando a indústria falha em realizar a despesca no momento oportuno, os peixes acabam por permanecer nos açudes por períodos prolongados. Embora isso possa resultar em um aumento de peso aparentemente positivo, os impactos negativos sobre a eficiência alimentar e a qualidade da água são profundamente preocupantes.

Torna-se evidente a importância crucial de se estabelecer contratos sólidos e transparentes entre os produtores independentes e as agroindústrias. Esses contratos não apenas oferecem segurança e previsibilidade aos piscicultores, mas também promovem uma relação de parceria sustentável, na qual ambas as partes podem prosperar.

É fundamental que os desafios enfrentados pelos produtores independentes sejam reconhecidos e abordados de forma proativa. Somente através de uma abordagem colaborativa e comprometida, que valorize a transparência, a sustentabilidade e o respeito mútuo, poderemos garantir um futuro próspero para a piscicultura brasileira.

Na capa chamamos atenção para o quanto as tilápias supermachos enfrentam resistência no Brasil. O método de produção já foi implementado com sucesso em países da Europa e Japão, mas falta de pesquisas e inconsistências nos resultados de estudos já feitos no Brasil freiam o desenvolvimento e adoção dessa técnica.

Também trazemos neste periódico reportagens especiais sobre os gargalos e soluções para melhorar a eficiência alimentar, como a edição genômica permite até dobrar produção em apenas uma geração, soluções para a conversão alimentar dos peixes, propriedade no Paraná é reconhecida modelo em sustentabilidade e muito mais.

Há ainda artigos técnicos escritos por profissionais de renome do setor falando sobre manejo, inovação, produtos, bem-estar e as novas tecnologias existentes no mercado. A publicação conta ainda com matérias que trazem novidades das principais e mais importantes empresas do agronegócio nacional e internacional.

O acesso é gratuito e a edição Aquicultura pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Suínos / Peixes

Peixes mais pesados geram prejuízos e desafios a mais nos açudes

Piscicultores de Toledo (PR) contam como têm enfrentado os problemas gerados pelos peixes que ficam mais pesados e mais tempo em produção.

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Foto: Shutterstock

Ao contrário das cadeias de aves e suínos, onde a indústria pode ajustar o alojamento para equilibrar a oferta e demanda de carne, o mercado de peixes opera de forma diferente, especialmente para os produtores independentes. Quando a indústria falha em realizar a despesca no momento adequado, os peixes permanecem nos açudes por períodos prolongados, resultando em um aumento de peso, porém, prejudicando a eficiência alimentar e comprometendo a qualidade da água. Essa situação tem se tornado um grande desafio para o piscicultor Dilseu Giacomini, de Toledo, no Paraná.

Bruno, Dilseu e Luiz Antônio Giacomini comandam 50 mil metros quadrados de lâminas d’água em Toledo, no Paraná – Fotos: Giuliano De Luca/OP Rural

Giacomini é um dos pioneiros da piscicultura no Oeste paranaense, o maior polo produtor de tilápias do país. Com experiência de 30 anos na produção de tilápias, Giacomini opera oito açudes que totalizam 50 mil metros quadrados de lâmina de água e uma produção anual de 300 toneladas de tilápias.

Diferente do modelo de integração, em que as cooperativas garantem a retirada do peixe no momento certo, produtores independentes que não têm contratos bem estabelecidos com a indústria ficam dependentes da demanda do mercado. Se o consumo cai, a indústria freia o processamento e deixa a tilápia por mais tempo nos açudes dos produtores. “Foi o que aconteceu nessa última quaresma. Foi um período atípico, de baixo consumo. Então travou o mercado e a indústria reduziu sua produção. Consequentemente, o peixe fica mais tempo no açude”, aponta Giacomini.

“O ideal é que o peixe saia do açude com cerca de 700 a 850 gramas, no máximo, o que levaria entre oito a 10 meses, dependendo da época do ano. Mas quando o mercado trava o peixe chega a sair com 1,1 quilo ou 1,2 quilo. Teve vezes que até passou desse peso. Esse cenário nos gera muitos problemas”, aponta o piscicultor. Giacomini explica que apesar de filés maiores serem apreciados pela gastronomia, produzir peixes maiores gera prejuízos para o produtor. “Naturalmente a gente recebe a mais pelo peso do peixe, mas o prejuízo é na produção, com queda na eficiência alimentar (mais ração necessária para ganhar peso) e queda na qualidade do ambiente aquático, que também podem gerar inúmeras doenças”, menciona.

“Um dos maiores problemas é a queda nos níveis de oxigênio da água, explica Bruno Giacomini, que toca a propriedade junto com o pai Dilseu e o irmão Luiz Antônio. “Peixes maiores consomem mais oxigênio. A queda nos níveis de oxigênio é um fator que pode causar algumas doenças, como a estreptococose”, evidencia Bruno.

O aumento do peso sem um correspondente aumento na eficiência alimentar significa que os custos de produção também aumentam. Mais ração é necessária para alimentar os peixes por um período prolongado, o que impacta diretamente nos gastos do produtor. Dilseu explica que, além de reduzir a qualidade do ambiente e ter que lidar com desafios que não seriam necessários para manter ou restabelecer a qualidade da água, a genética da tilápia tem seu melhor momento em conversão alimentar até cerca de 850 gramas. “Quando fica maior do que isso, precisa mais ração para ganhar peso. A eficiência alimentar começa a despencar, o que aumenta os custos de produção”, evidencia o produtor paranaense.

Soluções

Para enfrentar esse desafio, Giacomini tem buscado soluções criativas. Desde ajustes na densidade dos açudes até investimentos em tecnologias de monitoramento da qualidade da água. O objetivo é mitigar os efeitos negativos desse prolongamento do tempo de permanência dos peixes. “Para a questão do oxigênio, temos uma sonda que mede os níveis em tempo integral e liga os aeradores quando os níveis de oxigênio começam a baixar”, destaca Bruno, que acompanha em um aplicativo no smartphone diversos parâmetros do ambiente interno e externo da produção, como temperatura, luminosidade, vento e pressão barométrica. Todas essas métricas auxiliam a sonda a ligar e desligar os aeradores no momento certo.

O custo de produção também aumenta por conta do custo de energia elétrica. Para ligar os aeradores por mais tempo sem ter que deixar seu lucro com a companhia elétrica, Giacomini investiu em um sistema fotovoltaico, que garante boa parte da energia consumida na propriedade rural.

Outra medida aplicada pelo produtor para reduzir o impacto do maior tempo de permanência dos peixes no açude foi a redução da densidade. Ele conta que diminuiu o povoamento dos açudes em quase 30%. “Estamos reduzindo de 7 alevinos por metro quadrado para 5 alevinos por metro quadrado. É uma estratégia para reduzir o volume de biomassa quando acontecerem esses travamentos de mercado”, menciona. Ou seja: o piscicultor prefere produzir menos no mesmo espaço a ter que enfrentar os problemas com a biomassa excessiva nos açudes no final da produção.

Em meio aos desafios enfrentados pelo prolongamento do tempo de permanência dos peixes no açude, Dilseu Giacomini, juntamente com sua família, vem implementando soluções criativas e estratégicas para mitigar os impactos negativos e garantir a sustentabilidade de sua produção de tilápias. Desde investimentos em tecnologias de monitoramento da qualidade da água até ajustes na densidade dos açudes, Giacomini tem buscado encontrar o equilíbrio entre a eficiência operacional e a saúde dos peixes.

A adoção de sistemas de monitoramento em tempo real, como a sonda que controla os níveis de oxigênio na água e os aeradores acionados automaticamente, demonstra um compromisso com a inovação e o bem-estar dos animais. Além disso, iniciativas como a instalação de sistemas fotovoltaicos para reduzir os custos de energia elétrica e a redução da densidade nos açudes refletem uma abordagem proativa na busca pela sustentabilidade e eficiência econômica. Diante dos desafios do mercado e das adversidades ambientais, Giacomini e sua família continuam a encontrar soluções resilientes, mantendo-se como uma das referências na piscicultura do Oeste paranaense.

Produtor sugere queda na qualidade da ração

O produtor, com sua vasta experiência de três décadas na tilapicultura, destaca não apenas os desafios decorrentes do prolongamento do tempo de permanência dos peixes nos açudes, mas também aponta para uma questão crucial: a qualidade das rações. Ele observa que, ao longo dos anos, houve uma notável evolução genética das tilápias, resultando em peixes de maior tamanho e potencial de crescimento. No entanto, ele ressalta uma preocupação crescente em relação à qualidade nutricional das rações disponíveis no mercado. Segundo o produtor, essa evolução genética não foi acompanhada por um avanço correspondente na qualidade das rações, e ele sugere que isso pode ser atribuído a uma tendência anterior de alguns produtores em priorizar o preço sobre a eficiência nutricional.

Ele especula que essa dinâmica pode ter levado a uma adaptação da indústria de rações às demandas do mercado, resultando em produtos de qualidade inferior que não atendem adequadamente às necessidades nutricionais dos peixes em seu estágio atual de desenvolvimento genético. “Quando começamos a produção em 1994 a tilápia tinha 300 gramas, não passava disso. A evolução genética foi surpreendente. Por outro lado, percebemos que a área da nutrição retrocedeu. Muito provavelmente porque alguns produtores, no passado, começaram a comprar pelo preço e não pela qualidade. Acho que a indústria se ajustou a essa demanda e se acostumou a oferecer essas rações”, sugere o produtor.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor da piscicultura brasileira acesse a versão digital de Aquicultura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Suínos / Peixes

Dificuldade no transporte do suíno vivo para abate reduz ritmo de negócios no Rio Grande do Sul 

Em 2023, o Rio Grande do Sul foi o terceiro estado com o maior abate de suínos, equivalente a 19,87%, em termos percentuais, sendo 9,2 milhões de cabeças abatidas naquele período.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Levantamento feito pelo Cepea mostra que as enchentes no Rio Grande do Sul vêm dificultando os transportes de suíno vivo para abate, de carnes aos mercados atacadistas e também de insumos utilizados pela atividade.

Como resultado da queda de pontes e destruição de estradas que interligam importantes regiões produtoras, o ritmo de negócios dentro e fora do estado está bastante lento.

Alguns municípios não abrangidos pela pesquisa do Cepea foram atingidos com maior intensidade, com relatos de perda de animais e estragos mais graves.

Em 2023, o Rio Grande do Sul foi o terceiro estado com o maior abate de suínos, equivalente a 19,87%, em termos percentuais, sendo 9,2 milhões de cabeças abatidas naquele período.

Além disso, o estado gaúcho representou 23,1% do total exportado de carne suína no ano passado.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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CBNA – Cong. Tec.

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