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Estagnado, programa de biodiesel compromete campo e indústria
Programa nacional de produção do combustível verde não deslancha como prometido e acaba por impactar a produção de soja, principal matéria-prima.
Crises energéticas costumam ter um efeito devastador sobre a economia. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, onde as rodovias são o principal modal de transporte e, no caso do agro, escoamento da produção, o preço dos combustíveis impacta diretamente as atividades produtivas, encolhendo as margens de lucro, minando a competitividade e ameaçando a sobrevivência do negócio. Do lado do consumo, o efeito é a inflação, por conta da alta dos produtos.
Há décadas, o Brasil busca reduzir a dependência do diesel mineral (de petróleo) apostando no biodiesel, fabricado com óleos de origem vegetal, mais sustentável e menos poluente. Essa trajetória envolve políticas que foram desenhadas para que este setor pudesse se desenvolver com segurança, uma vez que se trata de uma questão estratégica para o desenvolvimento econômico do país. Vale lembrar que a soja é a principal matéria-prima do biodiesel brasileiro, de modo que turbulências nesse segmento têm impacto direto na produção primária e na vida do agricultor.
Um dos pilares dessa política, os percentuais obrigatórios de mistura do biodiesel ao diesel mineral, vinham evoluindo gradativamente, ano a ano, obedecendo à Resolução 16, de 29 de outubro de 2018, do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Em 2022, essa mistura comercializada nas bombas deveria estar na proporção de 14% de biodiesel e 86% de diesel de petróleo, o chamado B14. Porém, isso não ocorreu. O governo federal vem mantendo a mistura em 10% (B10), a despeito dos investimentos realizados pelas usinas de biodiesel para ampliar a oferta deste biocombustível.
“Esse é o pior dos mundos, um desastre para o setor. Os empresários confiaram na publicação do CNPE e investiram (na ampliação da produção) e agora estamos com uma ociosidade maior que 50% (nas indústrias)”, afirma o diretor-superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski.
Mais recentemente, o governo Bolsonaro aventou a possibilidade de importar biodiesel de outros países para tentar reduzir o preço dos combustíveis no mercado interno, que aumentou vertiginosamente, acompanhando as cotações internacionais do petróleo. Para o setor, a proposta é uma “pá de cal” que terminaria por inviabilizar a atividade no país.
“Seria outro desastre. Um avião não cai por conta de um erro só, mas por uma somatória. Estão fazendo o avião do biodiesel cair. Essa situação de importação do biodiesel é uma destruição do setor, pois a indústria brasileira estava preparada para avançar. Estamos diante de um quadro de 10% [na mistura] e escassez de diesel [de petróleo] no país já alertada pela própria ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis]. Mesmo diante de tudo isso, ao invés de intensificar a produção de biodiesel, estão buscando uma solução paliativa, que gera emprego somente em outros países”, observa Tokarski.
Na opinião do deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), presidente da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio), a importação do produto só interessaria aos vizinhos argentinos. “Permitir a importação de biodiesel vai viabilizar a retomada da indústria de biodiesel argentina”, diz. Segundo o parlamentar, a Argentina conta com a tarifa de exportação menor que a do Brasil, o que gera um subsídio efetivo de quase 3%, motivo que teria levado à condenação do país portenho em duas ações antidumping encampadas pelos Estados Unidos e União Europeia.
“Nós, da FPBio, entendemos que uma eventual antecipação da liberação para importação somente pode ocorrer se forem impostas medidas compensatórias contra o subsídio argentino ao biodiesel”, observa Lupion.
Efeito multiplicador
Em março deste ano, representantes do setor do biodiesel e da FPBio se reuniram com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, para apresentar dados e projeções sobre a atividade no Brasil. Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a indústria nacional de biodiesel movimentou R$ 10,5 bilhões em 2021, o que corresponde a 2% da atividade agroindustrial brasileira, além de promover 19 mil empregos. Indiretamente, o setor contribuiu para gerar um PIB de R$ 20,3 bilhões naquele ano, segundo as duas entidades.
De acordo com o documento entregue ao ministro, cada ponto percentual de biodiesel adicional ao diesel comercial gera benefícios valorados em R$ 30 bilhões. Dessa forma, se a mistura atual passasse de 10% (B10) para 14% (B14), o incremento seria da ordem de R$ 120 bilhões na economia brasileira em 12 meses de acordo com estudo realizado em parceria com FPBio, Abiove, Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) e Ubrabio.
Esse cálculo leva em conta fatores sociais (como empregos gerados na cadeia), ambientais (como a redução as emissões de gases causadores do efeito estufa) e de saúde pública, uma vez que a redução nas emissões de poluentes diminui os casos de doenças cardiorrespiratórias. “Considerando os encadeamentos intersetoriais, cada R$ 1 adicional de produção de biodiesel promove a inclusão de outros R$ 4,4 na economia como um todo”, aponta o documento.
Outro dado de destaque refere-se aos benefícios indiretos à cadeia de proteína animal. Cada ponto percentual de biodiesel a mais na mistura representaria maior produção de farelo de soja, coproduto do processo de esmagamento da oleaginosa. De acordo com o estudo, esse volume adicional resultaria em uma redução no custo de produção de cerca de R$ 3,5 bilhões somente para os setores de frango, suínos, ovos e peixes. O impacto no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) seria de menos 0,05%.
“O biodiesel tem que ser olhado diante de uma contabilidade social, econômica, ambiental e de saúde pública, e não somente diesel fóssil versus biodiesel. Em nenhum local do mundo se faz um programa de biocombustível pelo preço, mas pelos benefícios associados”, observa o dirigente da Ubrabio.
Ociosidade
Uma das críticas do setor em relação às políticas governamentais é o “congelamento” em 10% (B10) na mistura, sendo que o parque industrial passou por investimento para dar suporte ao aumento do percentual. Hoje a capacidade instalada é de 12,8 bilhões de litros por ano, diante de uma produção estimada de 6,2 bilhões em 2022, ociosidade de 52%.
Segundo Flavio Negrão, gerente geral do Grupo Potencial, que possui uma unidade de produção de biodiesel localizada no município da Lapa, na Região Metropolitana de Curitiba, houve um movimento por parte das usinas de biodiesel para que o setor estivesse preparado para atender à mistura B14. “O setor se preparou, investiu, mas o B14 não aconteceu”, observa.
Com capacidade de 900 milhões de litros anuais, a empresa é a maior unidade produtora de biodiesel do país. Para chegar neste volume, segundo Negrão, foram feitas três ampliações, sendo a última em 2020 com investimento de R$ 50 milhões.
No caso da Potencial, o óleo de soja corresponde a 75% da matéria-prima usada na produção do biocombustível, sendo que boa parte dos grãos vem de famílias de pequenos produtores, o que confere à atividade um importante caráter social. Em todo Brasil, 74 mil famílias fornecem matéria-prima para essa cadeia, favorecendo o desenvolvimento regional. As empresas que compram essa produção recebem o selo Combustível Social.
A recente quebra da safra de verão ocorrida no Paraná, que reduziu significativamente a disponibilidade de soja, ainda não afetou a operação da Potencial. “Temos estoque, então o impacto dessa quebra ainda não veio”, afirma Negrão. Em relação à ameaça de importação de biodiesel, o gerente da empresa considera uma decisão equivocada. Além das dificuldades operacionais e da questão da qualidade (a especificação do biodiesel brasileiro é uma das mais exigentes do mundo), tentar abastecer um mercado interno já reduzido com biodiesel importado é privilegiar a criação de rendas e empregos em outros países. “Em vez disso o governo brasileiro deveria incentivar a produção interna, com o retorno dos aumentos de mistura previstos em lei. Ainda mais por conta de um cenário internacional em que se avizinha um forte desabastecimento mundial de combustível”, diz Negrão.
Tokarski, da Ubrabio, faz coro, destacando a conjuntura sensível das políticas nacional e internacional, com o conflito no Mar Negro e a possibilidade de escassez de diesel mineral no cenário global. “O combustível mais caro é o que não temos. Hoje há sinais de um possível desabastecimento do diesel, em um momento em que estamos com as nossas indústrias de biodiesel paradas”, lamenta o dirigente.
Com percentual reduzido, biodiesel deixa de consumir 5,2 milhões de toneladas de soja
Políticas relativas à participação do biodiesel na matriz energética brasileira têm impacto direto no campo, uma vez que a soja é a principal matéria-prima. Desse modo, o congelamento da participação do biocombustível de 10% (B10) no diesel comercial, quando o próprio Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) garantia que em 2022 estaríamos com 14% (B14), traz consequências negativas para produção agrícola.
O óleo de soja responde por 71,4% das matérias primas para produção de biodiesel. Outros óleos vegetais respondem por 17,3% e a gordura animal 11,3%. Essa proporção vem mudando ao longo do tempo, acompanhando a disponibilidade e o preço desses insumos.
“Acredito que a participação da soja [na composição do biodiesel] vai ser cada vez menor no futuro, em função do crescimento e da produção de outras matérias-primas e do crescente custo dessa oleaginosa para a indústria”, observa Luiz Eliezer Ferreira, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.
Segundo ele, se fosse aumentado o percentual do biocombustível na mistura na ordem de 4% (de B10 para o B14), 2,8% viriam do óleo de soja. Esse adicional corresponde a 5,2 milhões de toneladas do grão ou 750 mil toneladas de óleo de soja. “O Brasil, graças a sua tecnologia e expertise em produção de soja, tem condições totais de atender a essa demanda apenas com aumento na produtividade, sem precisar aumentar a área”, completa Eliezer.
O presidente da Comissão Técnica de Cereais, Fibras e Oleaginosas da FAEP e presidente do Sindicato Rural de Maringá, José Borghi, também observa com ressalvas esse movimento do governo federal. “Vejo de uma forma que negativa. A política de energia renovável deveria prevalecer acima de outras questões. Se utilizamos mais biodiesel, é menos petróleo sendo importado. Do jeito que está, acaba desfavorecendo o produtor rural e beneficiando as grandes companhias de petróleo. É um erro”, analisa.
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Cooperados da Copacol recebem orientações de ambiência no verão nas Reuniões da Avicultura
Encontros foram realizados em Jesuítas, Formosa do Oeste, Goioerê, Cafelândia, Jotaesse e Nova Aurora.
Estar atualizado sobre o andamento das atividades na Cooperativa permite ao cooperado ter mais segurança nas ações que desenvolve a campo. Com as Reuniões Semestrais de Avicultura a Copacol tem um momento de troca de informações com o produtor, mantendo-o sempre a par de cada detalhe referente a atividade. “Essa troca é sempre muito positiva. O cooperado sai daqui mais atualizado dos manejos que devem ser feitos na propriedade, além de ter um panorama geral de como está a Cooperativa. Isso é o que sempre buscamos: transparência nas nossas atividades com o produtor e segurança para que ele siga investindo e crescendo”, destaca o diretor-presidente, Valter Pitol.
Os encontros foram realizados em Jesuítas, Formosa do Oeste, Goioerê, Cafelândia, Jotaesse e Nova Aurora. “Esse é um momento muito importante que temos com o nosso cooperado para trocar informações e deixá-lo atualizado. São encontros que ocorrem duas vezes ao ano, quando conversamos com o nosso cooperado sobre as ações da Cooperativa e a respeito da atividade, para que ele possa seguir crescendo e obtendo melhores resultados no campo”, afirma o gerente da Integração de Avicultura, Douglas da Silva.
O cooperado de Iracema do Oeste, Renan Lenk, participa de todas as reuniões. Nelas, ele aprende manejos para fazer a campo e melhorar o desempenho produtivo a cada lote. “Em todos os encontros aprendemos algo novo que podemos aplicar na propriedade para seguirmos crescendo. Além disso, é uma oportunidade que temos de ter uma conversa com a nossa Diretoria e saber o que está sendo feito na Cooperativa. Isso nos dá uma segurança muito grande em seguir investindo”.
Manejo de verão
Em pauta esteve a ambiência para frangos de corte no verão, palestra que foi ministrada pelo supervisor do CTA (Centro de Treinamento Avícola) da Copacol, André Watanabe. “Com as altas temperaturas e períodos de seca que temos enfrentado cada vez com mais frequência, abordamos os principais pontos relacionados a ambiência para diminuir os efeitos dessas temperaturas mais altas dentro do galpão, fazendo com que o produtor consiga manter bons indicadores de desempenho e lucratividade”, explica. Entre os pontos apresentados pelo profissional estiveram a boa qualidade da cama, o desenvolvimento inicial das aves, ventilação, uso assertivo de placas evaporativas, nebulização interna e o comportamento das aves. “São todos itens essenciais que o avicultor deve se atentar diariamente. Viemos de uma série de manejos que devem ser feitos no inverno e agora, com o aumento das temperaturas, as estratégias mudam, então é preciso que o cooperado esteja ciente e seja relembrado do que é preciso ser feito”, afirma Watanabe.
Além da palestra, os cooperados ainda tiveram uma atualização do desenvolvimento da atividade na Cooperativa e uma conversa com a Diretoria Executiva.
Notícias Balança comercial
Exportações do agro brasileiro batem recorde e alcançam US$ 14,19 bilhões em setembro
Setor registrou crescimento de 3,6% em comparação ao mesmo período no ano passado, impulsionado por aumento nas vendas de carnes, açúcar e celulose.
No mês de setembro, as exportações do agronegócio brasileiro atingiram cifra recorde, totalizando US$ 14,19 bilhões em vendas externas, um aumento de 3,6% em comparação ao mesmo período de 2023. Esse resultado positivo da balança comercial foi impulsionado, em grande parte, pelo aumento do volume exportado.
De acordo com a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (SCRI/Mapa), os principais setores exportadores foram o complexo soja, carnes, complexo sucroalcooleiro, produtos florestais, cereais, farinhas e preparações, além do café. Esses seis setores representaram 84,6% da pauta exportadora do agronegócio brasileiro.
Na tarde da última quinta-feira (10), o secretário Luis Rua destacou que o valor recorde de setembro também é resultado da abertura de mercados realizada nos últimos meses para produtos agropecuários brasileiros. “Quando abrimos mercados para uma cadeia produtiva que eventualmente não exporta muito, criamos novas oportunidades e, assim, impulsionamos outros mercados,” afirmou o secretário, durante entrevista para jornalistas na sede do Mapa.
Produtos destaques
As exportações de carnes tiveram grande destaque, com o setor bovino registrando o maior valor exportado pelo Brasil. Em setembro de 2024, as vendas externas de carne bovina alcançaram US$ 1,25 bilhão, um aumento de 29,2% em relação ao mesmo mês do ano anterior. As exportações de carne bovina in natura também atingiram um recorde histórico de volume embarcado, com 251,76 mil toneladas (+29,1%). A China manteve-se como o principal mercado comprador da carne brasileira.
O complexo sucroalcooleiro exportou US$ 1,92 bilhão em setembro de 2024 (+6,4%). O principal produto desse setor foi o açúcar, responsável por quase 95% das vendas externas do complexo. Em setembro de 2024, os embarques de açúcar de cana em bruto atingiram um volume recorde de 3,47 milhões de toneladas (+25,9%) para os meses de setembro.
Os produtos florestais, que incluem celulose, papel, e madeiras e suas obras, também registraram forte desempenho. A celulose foi o único produto do setor a atingir a marca de US$ 1 bilhão em vendas, com US$ 1,04 bilhão exportados, estabelecendo um novo recorde para os meses de setembro. Os mercados mais industrializados foram os principais importadores de celulose.
Outro destaque foi o café verde, com vendas externas que subiram de US$ 573,84 milhões em setembro de 2023 para US$ 1,07 bilhão em setembro de 2024 (+86,6%), cifra recorde para os meses de setembro. O volume embarcado também foi recorde, atingindo 243,1 mil toneladas comercializada.
Resultados de 12 meses (setembro 2023/agosto 2024)
Nos últimos doze meses, entre outubro de 2023 e setembro de 2024, as exportações do agronegócio brasileiro alcançaram a cifra de US$ 166,19 bilhões, o que significou elevação de 1,8% em comparação aos US$ 163,19 bilhões exportados nos doze meses imediatamente anteriores.
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Programa do Governo do Estado vai ampliar em 20% as áreas irrigadas do Paraná
Com investimento de R$ 200 milhões, sendo R$ 150 milhões em créditos facilitados, Governo do Estado pretende ampliar em 20% as áreas de lavoura que contam com sistema de irrigação, atingindo cerca de 205 mil hectares. Em menos de um mês, 151 projetos já foram contratados.
Lançado há pouco mais de um mês pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior, o programa Irriga Paraná está incentivando os produtores rurais a ampliar as áreas irrigadas no Estado, para aumentar a produtividade de suas lavouras. A iniciativa do Governo do Estado vai destinar cerca de R$ 200 milhões para as ações, sendo cerca de R$ 150 milhões em linhas de crédito facilitadas para a implantação de sistemas de irrigação, que garantem mais previsibilidade e renda aos agricultores, sobretudo em regiões que sofrem mais com a irregularidade das chuvas.
A ideia é ampliar o alcance de crédito para os projetos de irrigação nas propriedades rurais, o que já estava previsto desde 2022 pelo Banco do Agricultor Paranaense, operado pela Fomento Paraná. Até o final de agosto, já tinham sido formalizados 151 projetos de irrigação no Estado, que somam em torno de 1.000 hectares de área irrigada. As propostas somam R$ 20,8 milhões em financiamentos, sendo que cerca de R$ 7,6 milhões foram destinados pelo Governo do Estado como subvenção das taxas de juros pelo Banco do Agricultor.
Além das propostas já acatadas, outros 2.500 hectares de áreas estão com projetos em elaboração pelo Instituto de DesenvolvimentoRural do Paraná (IDR-Paraná) e pelas instituições parceiras, que incluem cooperativas e empresas de equipamentos para irrigação. Além disso, o Instituto Água e Terra (IAT) já emitiu, neste ano, 1.474 documentos de outorga de uso da água para fins de irrigação.
A maior parte dos investimentos previstos para o programa será destinada às linhas de crédito de financiamento. Ao todo, R$ 150 milhões serão usados para esse fim, sendo R$ 78 milhões do Banco do Agricultor Paranaense, com subsídio da taxa de juros; R$ 42 milhões pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e R$ 30 milhões via Fundo de Equipamento Agropecuário do Paraná (FEAP), gerido pelo IDR-Paraná.
Outras formas de fomento serão regulamentadas para expandir os projetos. Também está prevista a abertura de uma linha de crédito do BRDE específica, com subvenção dos juros que vão de 7% até 12% ao ano, conforme valor do financiamento, disponíveis durante todo o ano. O governo também vai apoiar a implantação de sistemas irrigados para a agricultura familiar com subvenção direta ao beneficiário final, de até 80% do valor do projeto, limitado a R$ 20 mil.
Estiagem – Um dos principais objetivos do Irriga Paraná é ampliar em 20% a área irrigada no Estado, passando dos atuais 170 mil hectares, o que equivale a 3% da área usada para lavoura no Estado, para cerca de 205 mil hectares. A ideia é reduzir as quebras de safra por conta das estiagens, principalmente na região Noroeste, que é uma das que mais sofrem com a falta de chuva
“Por muitos anos, o Paraná não teve problemas de déficit hídrico, tinha chuvas regulares e sempre produziu bem, as estiagens eram eventos raros. Mas vemos os efeitos das mudanças climáticas, com períodos de secas e até de chuvas muito intensas que têm se agravado”, explica o diretor Técnico da Seab, Benno Henrique Doetzer. “Isso tem começado a afetar negativamente a produção do Estado. E temos uma parcela grande de agricultores que dependem dessa produção e têm sua subsistência colocada em risco. Por isso existe essa preocupação do governo em trabalhar não apenas com a irrigação, mas com a segurança hídrica de um modo geral, para garantir a produção, a renda e a segurança alimentar no Estado”.
Além do fomento aos projetos de irrigação, o Estado trabalha também em outras frentes, previstas no Programa de Segurança Hídrica para a Agricultura, instituído por lei estadual no primeiro semestre deste ano. A política busca mitigar os efeitos da escassez hídrica, para se antecipar aos efeitos das mudanças climáticas. É também um passo complementar a outras iniciativas na área, como regulamentação mais simples para o licenciamento ambiental para a reserva de água e a isenção de ICMS para equipamentos de irrigação.
Na área de pesquisa, serão destinados R$ 20 milhões com recursos do Banco do Agricultor, FEAP, Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FERH) e Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti).
Entre os investimentos estão o aprimoramento da gestão dos recursos hídricos em bacias estratégicas, com instalação de radar e estações; o estímulo ao uso de diferentes matrizes energéticas na agricultura irrigada, por meio do RenovaPR; e a promoção da utilização de água para reúso na irrigação, sobretudo em regiões de produção de proteína animal.
Além disso, serão incentivados cursos de capacitação sobre sistemas irrigados sustentáveis. O primeiro, realizado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), teve início em 2022 e envolveu 15 técnicos do IDR-Paraná, e uma segunda turma inicia neste mês envolvendo também profissionais de outros órgãos e da iniciativa privada. O objetivo é aprimorar a assistência técnica na área, incentivando o uso racional da água.
Exemplo – O produtor rural Luis Henrique Escarmanhani tem uma propriedade de 110 alqueires em Alto Paraná, na região Noroeste, cuja maior parcela é destinada à agropecuária. Parte da área, de aproximadamente 23 alqueires, é usada para a produção de soja no verão e pasto no inverno, e passou a contar com um sistema de irrigação por sistema de pivô central, buscando otimizar a criação de gado.
Ele explica que a instalação do sistema levou em conta a topografia do terreno e, apesar do custo, a irrigação teve impacto positivo na produtividade. “Com o que investi na irrigação, eu compraria mais 12 alqueiras de terra, mas improdutivas”, conta ele. “A irrigação traz mais produtividade na área que eu já tenho. O que é importa é a quantidade de matéria verde que tenho para tratar meu gado. No fim, tenho uma produtividade maior em 20 alqueires irrigados do que teria em 50 alqueires sem irrigação”.
Apesar de não ter financiado o projeto pelo Banco do Agricultor Paranaense, Escarmanhani contou com com suporte técnico do IDR-Paraná e apoio do Instituto Água e Terra (IAT) para análise de viabilidade e autorização da outorga para uso da água para irrigação.
“A terra hoje é um bem caríssimo e você precisa otimizar, produzindo cada vez mais, senão ela fica economicamente inviável”, diz o produtor. “Com adubação e umidade adequadas, comparando com outras áreas mais produtivas, ampliaram em 30% a produtividade, porque não passa por carência hídrica. Facilitou até para fazer seguro da lavoura. Quando ela é irrigada, não há qualquer burocracia, porque os riscos são bem menores do que as não irrigadas”, completou.