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Em 2021, PIB cresce em todas as 27 unidades da federação
A Agropecuária, principalmente o cultivo de soja, contribuiu para o resultado de 2021 dos estados de maior expansão: Rio Grande do Sul (9,3%), Tocantins (9,2%), Roraima (8,4%).

Em 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil atingiu R$ 9 trilhões, com aumento de 4,8% em volume, após a queda observada em 2020, motivada sobretudo pelos efeitos da pandemia de Covid-19. Entre os três grupos de atividades, a Agropecuária ficou estável em volume (4,2% em 2020), enquanto a Indústria cresceu 5,0% (-3,0% em 2020) e os Serviços, 4,8% (-3,7% em 2020).
Todas as 27 Unidades da Federação apresentaram crescimento em volume do PIB: o Rio Grande do Sul registrou a maior variação, 9,3%, seguido por Tocantins, 9,2%, e Roraima, 8,4%. Essas são informações das Contas Regionais 2021, elaboradas pelo IBGE em parceria com os órgãos estaduais de estatística, secretarias estaduais de Governo e Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
“Entre os cinco primeiros colocados, temos dois estados da Região Sul e três da Região Norte. Já os três estados com menor crescimento são do Centro-Oeste”, destaca Alessandra Poça, gerente de Contas Regionais do IBGE.
Em 14 UFs os resultados positivos foram acima da média nacional
Em 14 UFs, os resultados foram acima da média nacional (4,8%). “Essas 14 UFs representam 30% do PIB e cresceram, em média, 6,8%”, analisa a gerente. Os maiores aumentos em volume ocorreram no Rio Grande do Sul (9,3%), Tocantins (9,2%), Roraima (8,4%), Santa Catarina (6,8%) e Acre (6,7%). A Agropecuária, principalmente o cultivo de soja, contribuiu para o resultado de 2021 nestes estados, exceto em Santa Catarina, onde esta atividade variou 0,5%.
Além da Agropecuária, no Rio Grande do Sul, o resultado das Indústrias de transformação influenciou o desempenho, sobretudo fabricação de máquinas e equipamentos. No Tocantins, a Construção também contribuiu com crescimento de 22,6%. Já em Roraima e Acre ainda contribuíram as atividades de Construção, Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas e Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social para o resultado de 2021.
Em Santa Catarina, a quarta maior variação em volume do PIB, o resultado deveu-se ao desempenho de Indústrias de transformação, principalmente confecção de artigos do vestuário e acessórios, fabricação de máquinas e equipamentos e fabricação de peças e acessórios para veículos automotores.
As outras 13 UFs cresceram abaixo da média, foram eles: Ceará, Rondônia, São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe, Pará, Paraná, Bahia, Distrito Federal, Pernambuco, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Os três estados da Região Centro-Oeste tiveram seus resultados influenciados pelo resultado negativo em volume da Agropecuária. “Mas o crescimento em volume dos serviços compensou a forte queda em volume da Agropecuária em 2021”, esclarece Poça.
Todas as cinco regiões registram alta no PIB
Todas as cinco Grandes Regiões registraram crescimento em volume em 2021. A Região Sul teve a maior variação, 6,5%, devido ao desempenho do Rio Grande do Sul. A Região Centro-Oeste apresentou a menor variação, devido aos fracos desempenhos na Agropecuária de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, que apareceram nas três últimas posições em termos de crescimento em volume.
Na Região Sudeste, a alta em volume foi de 4,8%, mesma taxa verificada no Brasil, sendo as elevações de São Paulo (4,7%) e Rio de Janeiro (4,4%) inferiores à média nacional, enquanto Espírito Santo e Minas Gerais, cresceram 6,0% e 5,7%; respectivamente. A Região Norte teve aumento de 5,2%, apenas em Rondônia (4,7%) e no Pará (4,0%), o resultado foi inferior à média nacional. A variação média do Nordeste foi de 4,3%, com Alagoas registrando o maior desempenho em termos de acréscimo em volume (6,3%), enquanto Pernambuco obteve a menor taxa (3,0%).
Sudeste e Sul foram as únicas regiões a ganhar participação no PIB do país
Entre 2020 e 2021 houve aumento de participação no PIB na Região Sudeste, (0,4 p.p.), e na Região Sul (0,1 p.p.); e redução nas Regiões Nordeste (0,4 p.p.) e Centro-Oeste (0,1 p.p.); já a Região Norte manteve sua participação.
Na Região Sudeste, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro ganharam participação no período, devido ao aumento de preço nas Indústrias extrativas. Já São Paulo perdeu 1,0 p.p. influenciado pelas Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, além da Agropecuária e Administração, defesa, saúde públicas e seguridade social.
No Sul, os ganhos do Rio Grande do Sul (0,3 p.p.), e de Santa Catarina (0,2 p.p.), responderam pelo avanço da região, pois o Paraná perdeu 0,3 p.p entre 2020 e 2021.
A perda de peso do Nordeste deveu-se ao recuo na participação de oito dos nove estados da região; com exceção de Alagoas, que avançou sua participação no período. Mas apenas para o Estado da Bahia a participação teve recuo de 0,1 p.p., pois nos demais estados, as diferenças de peso no período não foram suficientes para que suas participações recuassem em uma casa decimal.
Já a perda de participação da Região Centro-Oeste deveu-se a perda do Distrito Federal (0,3 p.p.) já que Mato Grosso e Goiás avançaram suas participações, 0,3 p.p. e 0,1 p.p., respectivamente.
A Região Norte manteve sua participação de 6,3% em relação ao PIB do Brasil e apenas Rondônia e Pará apresentaram oscilações. Rondônia perdeu 0,1 p.p., e Pará ganhou 0,1 p.p. com desempenho favorecido pelo aumento em preço do minério de ferro.
Seis UFs trocam de posição, Mato Grosso sobe no ranking pelo segundo ano
Em termos de posição relativa, seis UFs trocaram de posição entre 2020 e 2021. Rio Grande do Sul, que havia caído para a quinta posição em 2020, voltou a ocupar a quarta em 2021, trocando de posição com o Paraná. Mato Grosso, pelo segundo ano consecutivo, avançou mais uma posição e, novamente devido ao ganho relativo da Agropecuária, avançou para a 11ª posição, ultrapassando Pernambuco que caiu para a 12ª. Acre também subiu uma posição, para a 25ª, enquanto o Amapá caiu para a 26ª.
Tocantins é destaque na série 2002-2021 com a maior variação média ao ano
De 2002 a 2021, o PIB em volume do Brasil teve aumento médio de 2,1% ao ano (a.a.). O maior destaque foi Tocantins com variação média de 4,7% a.a., seguido por Mato Grosso (4,5% a.a.), Roraima (4,2% a.a.), Piauí (3,5% a.a.) e Maranhão (3,4% a.a.).
Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro mantiveram-se como as duas UFs de menores aumentos médios na série, 1,6% a.a. e 1,3% a.a., respectivamente.
“No acumulado da série, 18 UFs cresceram acima da média com uma concentração na Região Norte e Centro-Oeste e alguns estados do Nordeste como Paraíba e Alagoas; no Sudeste, encontra-se o Espírito Santo, e no Sul, Santa Catarina. Os demais estados crescem abaixo da média brasileira”, ressalta a gerente.
Em termos de participação no PIB ao longo da série, as Regiões Centro-Oeste e Norte registraram os maiores ganhos relativos entre 2002 e 2021, com avanços de 1,7 p.p. e 1,6 p.p., respectivamente. A única Região a perder participação na série foi a Sudeste (5,1 p.p.), enquanto o ganho de 1,1 p.p. de peso da Região Sul, garantiu um percentual de 17,3%, sua maior participação desde o início da série em 2002.
PIB per capita do DF é de R$ 92,7 mil, 2,2 vezes maior que o nacional
O PIB per capita do Brasil, em 2021, foi de R$ 42.247,52, aumento de 17,6% em valor em relação a 2020 (R$ 35.935,74). O Distrito Federal manteve-se como a UF com o maior PIB per capita brasileiro – R$ 92.732,27, 2,2 vezes maior que o PIB per capita do País. Mato Grosso ocupou a segunda posição, com PIB per capita de R$ 65.426,10, seguido por Santa Catarina, com R$ 58.400,55.
Apenas Unidades da Federação do Sudeste, Sul e Centro-Oeste apareceram entre os dez maiores PIB per capita do país. No Centro-Oeste, além da primeira posição ocupada pelo Distrito Federal, Mato Grosso saiu da 11ª para a segunda posição, entre 2002 e 2021. Mato Grosso do Sul ocupou a sétima posição em 2021, avançando uma posição ante 2002, enquanto Goiás caiu da 10ª para a 11ª posição, no mesmo período.
Na Região Sudeste, São Paulo, pela primeira vez na série, não ocupou a segunda posição, alcançando a quarta posição em 2021. O Rio de Janeiro, que iniciou a série na terceira posição, apareceu em quinto em 2021, após ter atingido seu mais baixo patamar em 2020 (sexta posição). Espírito Santo e Minas Gerais ocuparam a nona e décima posições, respectivamente, em 2021.
Participação da remuneração dos empregados recua em todas as regiões
Em 2010, o Sistema de Contas Regionais passou a incorporar a estimativa do PIB pela ótica da renda. Isso tornou possível a análise da distribuição dos rendimentos gerados no processo produtivo em cada uma das Unidades da Federação. Em 2021, quinto ano seguido de queda de participação, a remuneração dos empregados foi equivalente a 39,2% do PIB do país. Foi a primeira vez desde o início da série histórica do indicador, em 2010, que esse rendimento atingiu um nível inferior a 40% do PIB do país.
Desde 2020, o excedente operacional bruto e o rendimento misto bruto, somados, são o principal componente do PIB pela ótica da renda, ultrapassando a remuneração dos empregados em proporção. Esse excedente é a remuneração do capital das empresas, enquanto o rendimento misto tem misturado o rendimento do trabalho e do capital dos autônomos. Em 2021, essa soma representou 45,3% do PIB pela ótica da renda, um aumento de 1,7 p.p. frente ao ano anterior. Já os impostos, líquidos de subsídios, sobre a produção e importação, que também compõem o PIB sob essa ótica, avançaram 1,0 p.p. em participação na mesma comparação, atingindo 15,5%.
A perda de participação da remuneração dos empregados no PIB foi observada em todas as regiões do país, com destaque para o Centro-Oeste, onde essa participação recuou de 43,8%, em 2020, para 40,4%, em 2021, devido ao aumento dos preços das principais commodities agrícolas produzidas em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás e ao aumento da influência da agricultura na região.
Os maiores percentuais desse componente no PIB dos estados foram do Distrito Federal (57,6%), Amapá (53,1%) e Roraima (50%). Isso se explica pela maior participação da atividade de Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social nas economias dessas localidades.
Já as menores participações foram em Mato Grosso (27,0%) e no Pará (28,9%), devido à presença de atividades mais intensivas em capital, como a agropecuária mato-grossense e a extração de minério de ferro paraense.

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El Niño ‘dos extremos’ prejudica planejamento da safra de grãos
Excesso de chuvas no Sul e precipitações abaixo do esperado no Centro-Oeste atrasam a semeadura da soja e podem prejudicar a janela ideal de cultivo de milho safrinha.

As condições climáticas atípicas estão afetando o planejamento da safra de grãos. A incidência do fenômeno El Niño, cuja intensidade atingirá o pico no mês de dezembro, vem provocando eventos climáticos extremos, causando danos em áreas de cultivo na maioria das regiões produtoras.
De acordo com o monitoramento de safra realizado pela seguradora FF Seguros, embora a semeadura da safra de soja 2023/24 já esteja em torno de 70% da área estimada, o período vem sendo marcado por incertezas. O clima está prejudicando lavouras em várias regiões do Brasil de maneira diversa e o ritmo das operações de campo enfrenta lentidão, se comparado com as safras anteriores. “Temos um cenário de excesso de chuvas no Sul, principalmente em Santa Catarina e Paraná, então os trabalhos de plantio da safra de soja 2023/24 podem ser suspensos em alguns momentos e há preocupações com a necessidade de replantio causado por alagamentos ou erosão. No Centro-Oeste, há uma tendência de temperaturas acima da média e anomalias de chuvas, com precipitações abaixo do normal. De forma geral, o plantio da safra de soja está atrasado”, analisa o superintendente de agronegócios da FF Seguros, Guilherme Frezzarin.
Existe ainda a perspectiva de que o El Niño tenha influência prolongada, com previsão de manutenção do fenômeno até meados do outono de 2024. Dessa forma, a safra seguinte possivelmente será impactada. “Já começamos a mirar para o planejamento do milho safrinha e avaliar de que forma esse atraso no cultivo da soja poderá causar problemas e riscos de perda de janela ideal do plantio de milho, principalmente no Centro-Oeste”, afirma Frezzarin.
Além de alterar o planejamento das atividades de campo e prejudicar lavouras, esse contexto pode alterar a dinâmica de contratações de seguros. O fenômeno atual está sendo chamado de ‘El Niño dos extremos’, sendo comparável ao histórico de intempéries intensas que foi registrado na safra de grãos 2015/16. A elevação dos riscos associados ao clima leva à conscientização sobre o papel do seguro agrícola e impacta na precificação das apólices.
Outra tendência é o fortalecimento de mais alternativas de financiamento de safras. Esse movimento pode reduzir a dependência dos agricultores dos programas de incentivo governamental para o custeio rural, alterando a tradicional calendarização de contratação de seguros.
Além disso, a perspectiva de ocorrência de eventos climáticos com maior frequência e intensidade poderá ameaçar benfeitorias, como danos em silos causados por vendavais, morte de gado em decorrência de queda de raios, entre outros prejuízos possíveis. Dessa forma, outras modalidades de seguro se tornam cada vez mais relevantes.
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Projeto internacional avalia serviços ecossistêmicos do solo no Matopiba
Iniciativa envolve Brasil, Argentina, Colômbia e Uruguai e tem apoio de programa da União Europeia.

A Embrapa está desenvolvendo protocolos para avaliar, modelar, mapear e monitorar os serviços ecossistêmicos do solo em áreas de intensificação sustentável da produção agrícola. No Brasil, a área de estudo será o Matopiba, região de expansão agropecuária formada pelos estados do Tocantins e partes do Maranhão, Piauí e Bahia.
O projeto Soil-ES integra uma iniciativa internacional, com ações equivalentes acontecendo na Argentina, no Uruguai e na Colômbia, com financiamento da União Europeia e parceria de uma instituição de pesquisa da França. Os indicadores e os protocolos serão desenvolvidos e adaptados às condições da América do Sul, com o objetivo de apoiar sistemas de pagamento por serviços ambientais, mercados de carbono e planejamento territorial para uma agricultura sustentável.
À frente do projeto, a pesquisadora Rachel Prado, da Embrapa Solos (RJ), explica que os serviços ecossistêmicos do solo são pouco conhecidos e muitas vezes negligenciados, principalmente na tomada de decisão e nos mecanismos de compensação econômica. Por isso, a iniciativa envolve avaliar, modelar e mapear a regulação climática/sequestro de carbono, o controle à erosão, a regulação de água e o fornecimento de alimentos. “Serão testados métodos relacionados à avaliação da saúde do solo também. Os métodos mais conhecidos e padronizados são para a estimativa do sequestro de carbono e fertilidade do solo. Já os métodos para a estimativa dos demais serviços ecossistêmicos do solo são diversos e alguns deles possuem custos elevados”, detalha.
O objetivo dos pesquisadores é chegar a protocolos padronizados e de baixo custo. O Matopiba foi escolhido para ser uma fronteira de expansão da agricultura brasileira, onde o uso e o manejo do solo e dos recursos demais naturais são cruciais para garantir a sustentabilidade da produção agrícola e a qualidade de vida para todos. “A abordagem dos serviços ecossistêmicos do solo, que evidencia os benefícios que o homem obtém da natureza, parece ser bastante adequada para alertar para a necessidade de sistemas de produção agrícola sustentáveis, como o Sistema Plantio Direto e a integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que levam a uma agricultura de baixo carbono, além de promover paisagens multifuncionais”, argumenta a líder do projeto.

Foto: Lauro Nogueira Jr
Os estudos estão concentrados nas bacias do alto rio Parnaíba e do rio das Balsas. Essas áreas foram escolhidas pela sua importância no fornecimento de água e relevância na produção agropecuária. “Essa região está nascente do rio Parnaíba, que perpassa e contribui com os usos múltiplos da água de diversos municípios do Maranhão e Piauí”, explica Rachel.
Atuação em três escalas
Os pesquisadores atuam em três escalas diferentes: local, bacia hidrográfica e regional. Na escala local, estão identificando protocolos e indicadores capazes de monitorar impactos da intensificação sustentável da agricultura nos serviços ecossistêmicos do solo. Na escala da bacia hidrográfica e no nível da fazenda, estão construindo um protocolo para o mapeamento integrado dos serviços ecossistêmicos do solo e das práticas relacionadas aos sistemas intensivos.
Para tanto, aplicam-se ferramentas de sensoriamento remoto e modelagem, com o objetivo de apoiar sistemas de pagamento para serviços ambientais e mercados de carbono. Já na escala regional, será desenvolvido e validado um protocolo para o zoneamento dos serviços ecossistêmicos do solo e seu ambiente, visando subsidiar o planejamento sustentável da paisagem rural, com destaque para a agricultura.
Avaliação em áreas de commodities
A Embrapa Cocais (MA) é responsável pelas amostragens do solo para a avaliação dos indicadores de serviços ecossistêmicos do solo, selecionados previamente, em áreas de produção das commodities soja, milho e algodão, portanto, na escala local. O pesquisador Dirceu Klepker, coordenador técnico da Unidade de Execução de Pesquisa (UEP) em Balsas (MA), conduz, com sua equipe, experimentos de longa duração sobre a fertilidade e manejo do solo em áreas experimentais do Matopiba.
Uma das áreas experimentais, localizada em Tasso Fragoso (MA), foi visitada pelos pesquisadores durante a primeira campanha de campo, que ocorreu em outubro de 2023. “O papel da Embrapa Cocais será a aplicação do protocolo de avaliação de serviços ecossistêmicos de solo em escala local. A expectativa é aplicar e validar o protocolo em sistemas de intensificação da produção agrícola, em diferentes solos do bioma Cerrado na área de estudo, mudanças na produção agrícola sustentável no Brasil”, diz Klepker.

Foto: Lauro Nogueira Jr
A intensificação compreende o uso de diferentes sistemas de produção (agrícola, pecuária e florestal) dentro de uma mesma área de forma integrada. “Vamos realizar uma coleta de dados (solo e plantas), em escala local, em áreas em que temos ensaios instalados com diferentes sistemas de produção, onde, além de soja, algodão e milho, temos culturas de cobertura do solo, como braquiária e milheto, ademais da região do cerrado nativo, que será usado como referência”, diz o pesquisador da Embrapa Algodão João Henrique Zonta, que exerce suas atividades na Embrapa Cocais.
A expectativa é que os resultados gerados sejam utilizados como base para mercados de créditos de carbono, além de preservar a qualidade do solo. Os resultados do projeto também poderão ser usados, futuramente, para apoiar políticas públicas de incentivo às boas práticas agrícolas, de acordo com Zonta.
A partir de workshops que ocorrem com a participação de equipes de diferentes países, os indicadores estão sendo consolidados e serão incorporados no protocolo final, sendo também definidos diretrizes para aplicação nas áreas de estudo no Brasil, Argentina, Uruguai e Colômbia. A responsabilidade pela consolidação do protocolo e geração de um índice de serviços ecossistêmicos do solo é da pesquisadora Romina Romaniuk e sua equipe, do Instituto Nacional de Tecnologia e da Agropecuária (Inta).
Modelagem em escala de bacia hidrográfica
Na escala de bacia hidrográfica, sob responsabilidade da Embrapa Territorial (SP), o objeto de estudo consiste em duas bacias menores, a do rio Marcelino (989 Km²), que fica dentro da bacia do rio Parnaíba, e a do rio Verde (357 Km²), que fica na bacia do rio das Balsas, onde estão os experimentos nas fazendas parceiras da Embrapa (escala local). A seleção das duas bacias foi precedida de um estudo técnico, que levou em conta a extensão do território, a distribuição de registros de imóveis no Cadastro Ambiental Rural (CAR), os tipos de solo presentes e o uso e ocupação das terras.
Durante o trabalho de campo, a equipe percorreu a região pelo interior e bordas das bacias, tomando pontos georreferenciados e observando as características naturais, o estado de conservação do solo e o uso e ocupação das terras. Os pesquisadores Angelo Mansur Mendes e Lauro Nogueira Júnior, junto com o analista Hilton Ferraz da Silveira, da Embrapa Territorial, observaram contrastes no local. Nas áreas planas, no alto das bacias, há trabalhos de grãos altamente tecnificados. Já nos terrenos declivosos, na parte mais baixa, há pequenas propriedades, com pastos sem manejo e pouca produção agrícola. Viram também os processos erosivos que já ocorreram por todos.
Para Nogueira Júnior, as observações de que o grupo de pesquisa foram importantes para compreender os resultados da modelagem para apoio a iniciativas de pagamento por serviços ambientais. Este componente do projeto conta com a expertise de instituições de instituições da França e Uruguai.
Zoneamento dos Serviços Ecossistêmicos do Solo
Também foram obtidas, nos primeiros trabalhos de campo, informações relacionadas aos solos, uso e manejo da terra, às práticas agrícolas e à conservação dos recursos naturais (uso e disponibilidade hídrica, estado de conservação e gestão das unidades de conservação, dentre outros) na escala regional, ao se percorrer mais de 2 mil km na área de estudo no Matopiba. Houve ainda interação com atores e investidores locais-chave para o projeto. Participaram dos trabalhos de campo os pesquisadores da Embrapa Solos Rachel Prado, Elaine Fidalgo, José Francisco Lumbreras e Amaury de Carvalho Filho .
O trabalho na escala regional subsidiará a elaboração de um Zoneamento dos Serviços Ecossistêmicos do Solo. Ele será inspirado nas ferramentas que já vêm sendo utilizadas no Brasil há décadas para ações de planejamento e gestão do território, como o Zoneamento Econômico-Ecológico (ZEE) e o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). Será baseado em informações disponíveis, especialmente provenientes de levantamentos de solos da região e na avaliação da totalidade agrícola das terras, que está sendo evidenciada incluindo a exclusão para sistemas de produção integrados. “Trará ainda informações espacializadas sobre o potencial dos solos da região em provar serviços ecossistêmicos sob diferentes usos e sistemas de produção e manejo”, conta Rachel.
Ela acredita que o novo zoneamento e os protocolos que vêm sendo construídos, de forma integrada, poderão apoiar a regulamentação da Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (Lei nº 14.119), instituída em janeiro de 2022, dentre outras políticas de incentivo aos mecanismos de compensação financeira, voltada para a sustentabilidade da agricultura.
Programa da União Europeia
O projeto “Serviços ecossistêmicos do solo sob intensificação sustentável da agricultura: em busca de mapeamento e monitoramento inovador em múltiplas escalas (Soil-ES)” foi aprovado em um edital de um programa da União Europeia direcionado à cooperação da cooperação internacional na área científica de sustentabilidade dos solos, o Programa Conjunto Europeu Cofund para Gestão de Solos Agrícolas ( EJP Soil ).
Outro projeto liderado pela Embrapa planejado na chamada do EJP Soil é o “C-arouNd: Refinando práticas regenerativas e de conservação do solo para melhorar o sequestro de carbono e reduzir as emissões de gases do efeito estufa”, coordenado pela pesquisadora da Embrapa Arroz e Feijão Mellissa Soler. Outras 12 unidades da Embrapa são parceiras nesse projeto: Acre, Agrobiologia, Clima Temperado, Algodão, Pesca e Aquicultura, Florestas, Milho e Sorgo, Mandioca e Fruticultura, Meio-Norte, Roraima, Semiárido e Solos.
O objetivo da proposta é avaliar a influência de práticas agrícolas conservacionistas e regenerativas na ciclagem de carbono (C), nitrogênio (N) e fósforos (P) na biodiversidade do solo e nas emissões de gases de efeito estufa, com ênfase nos estoques de carbono do solo e processos que governam a persistência desse elemento químico em experimentos de longa duração.
Cooperação Internacional
Os protocolos desenvolvidos no âmbito do projeto Solo-ES serão validados nas três áreas de estudo definidas: no Pampa argentino e uruguaio, onde predomina a pecuária; em áreas montanhosas da Colômbia, com produção de café; e na região do Matopiba no Brasil, com alimentos de grãos e pecuária. Além da Embrapa, participa do projeto o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta, Argentina); o Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (Centre National de la Recherche Scientifique, CNRS ); a Universidad del Quindío (Colômbia) e o Instituto Nacional de Investigação Agropecuária (Inia, Uruguai). “Cada vez mais se torna importante trabalhar em redes de pesquisa nacionais e internacionais em grandes temas que buscam soluções para os problemas da humanidade”, ressalta Rachel.

Foto: Sam Manhães
Ela chama a atenção para a importância de temas relacionados à manipulação de terras e ao uso inadequado do solo, e aos prejuízos ambientais, sociais e econômicos que esse processo acarreta. “A cooperação e a visão interdisciplinar são essenciais para obter avanços na pesquisa e apoiar decisões mais assertivas”, opina.
Um cientista revelou que, para ampliar os resultados do projeto, está sendo fortalecida uma Rede de Conhecimento sobre Serviços Ecossistêmicos do Solo na América Latina.
O Inia, um dos parceiros no projeto Soil-ES, tem uma longa tradição no estudo da sustentabilidade dos agroecossistemas, particularmente em relação às propriedades do solo. O pesquisador do Inia José Paruelo afirma que o compartilhamento de protocolos de avaliação e estruturas conceituais contribui para o desenvolvimento de visões comuns sobre a sustentabilidade dos sistemas agrícolas na América Latina, promovendo a colaboração Sul-Sul. “A oportunidade de compartilhar experiências e experiências e construir metodologias de conhecimento e tecnologia para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas com colegas da América Latina foi uma grande motivação para participarmos desse projeto conjunto”, relata.
Para Paruelo, as possibilidades de melhorar a sustentabilidade ambiental, social e econômica dos sistemas agrícolas estão diretamente associadas à capacidade de medir resultados. “Ser capaz de chegar a um acordo sobre indicadores e estatísticas no nível regional que descrevam a oferta de serviços ecossistêmicos irá contribuir, sem dúvida, para um melhor registro do desempenho ambiental do setor agrícola Uruguai, e permitir o desenvolvimento de melhores práticas, gestão e políticas públicas”, acredita.
Na Colômbia, serão avaliados os sistemas produtivos dos Andes, historicamente transformados pela produção de café e pela pecuária. Devido à sua geografia complexa, a Paisagem Cultural do Café, declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, possui sistemas que se alternam com áreas onde ainda existem florestas preservadas. “Esse cenário oferece a oportunidade específica de uma comparação entre os solos originais e aqueles transformados, a fim de compreender que tipos de serviços ambientais perdemos e como podem ser restituídos”, disse o professor Hugo Mantilla, da Universidade de Quindió.
Matopiba: alto potencial e contrastes
A expectativa para a produção de soja e milho no Maranhão é de crescimento, entre 3,7% e 5,5% para a safra 2023/2024, podendo chegar de 3 milhões de toneladas a 3,77 milhões de toneladas, respectivamente. As informações estão no 5° Levantamento da Safra de Grãos 2022/2023, divulgado em outubro pela Companhia Nacional de Abastecimento ( Conab ). O aumento de área plantada esperado para a soja no estado é de 3,4% em relação à safra anterior, projetado em 1,1 milhão de hectares. Por outro lado, pesquisadores da Embrapa apontam que contrastes socioeconômicos e de uso de tecnologias são aplicados na região.
“Os processos erosivos têm se intensificado, principalmente nas encostas das chapadas. Desafios também são encontrados em relação à disponibilidade hídrica e ao uso da água, ao abastecimento de alimentos frescos para as cidades, à infraestrutura e outros. Conhecer a dinâmica da região é fundamental para a proposição e validação de métricas e métodos mais eficazes para a avaliação dos serviços ecossistêmicos do solo, nas três escalas e para a sustentabilidade da agropecuária, que deve incluir a conservação ambiental”, explica Rachel.
Colunistas
Conhecimento e sucessão no campo
Os jovens estão voltando porque o campo vive um novo tempo.

O campo vive uma nova realidade. A ciência e tecnologia estão presentes em todas as atividades agrícolas, pecuárias, extrativistas, da fruticultura, da olericultura etc. Todas as atividades do agro foram tecnificadas – e essa foi a condição que o mercado impôs para a busca da eficiência, fulcrada na elevação sustentável da produção e da produtividade.
Alcançar esse estágio foi uma conquista obtida a muitas mãos. Os centros de pesquisa da agricultura tropical brasileira – com acentuado mérito para Embrapa – estão entre os protagonistas desse círculo virtuoso. Mas é preciso acrescentar o papel das cooperativas e suas agroindústrias como difusoras e incorporadoras das novas tecnologias no campo com o inegável apoio do Sistema S, notadamente o Sescoop (aprendizagem do cooperativismo), do Senar (aprendizagem rural) e do Sebrae (micro e pequenas empresas).
Centenas de programas de alto nível foram desenvolvidos diretamente nos estabelecimentos rurais nos últimos 30 anos, com milhares de ações de qualificação e requalificação de produtores e trabalhadores rurais com o apoio e patrocínio das cooperativas, das agroindústrias e do Sistema S. Exemplos marcantes são os programas De Olho na Qualidade, Qualidade Total Rural, Times de Excelência, Suíno Ideal, Franco Ideal e Bem-estar Animal, entre outros que, ao longo do tempo, evoluíram para o Encadeamento Produtivo e estão todos abrigados no guarda-chuva do Programa Propriedade Rural Sustentável Aurora. Ou seja, muito antes de seu surgimento conceitual, a agenda ESG era prática cotidiana dos atores que fazem do agro brasileiro um notável setor de vanguarda. Nesse particular, inclusive, é importante observar que os princípios basilares do cooperativismo universal, desde seu surgimento, continha com outra roupagem o DNA da filosofia ESG
É notório que a crescente incorporação de ciência e tecnologia conferiu ganhos de escala às propriedades rurais que passaram a ser geridas como verdadeiras empresas, comprometidas com a busca de resultados, em um regime de sustentabilidade e de proteção aos recursos naturais – condição sine que nom para a perenidade do negócio.
A conquista desse status trouxe um benfazejo efeito paralelo o qual, em verdade, representa o principal ganho de todos esses esforços: trata-se da presença dos jovens no ambiente rural. Os jovens estão voltando porque o campo vive um novo tempo. Permanecem as ameaças típicas do meio – fenômenos climáticos, doenças, pragas, crises de mercado, escassez de crédito etc. – mas o setor primário da economia modernizou-se e criou novas perspectivas de futuro para as famílias rurais, com evidente elevação da qualidade de vida.
A presença do jovem assegura sucessão nas propriedades rurais, equacionando uma questão que preocupava os formuladores de políticas públicas para o agro. O envelhecimento da população rural e a fuga dos jovens era um processo socioeconômico e demográfico visto, até recentemente, como uma questão dramática para o futuro do agronegócio verde-amarelo. Essa constatação reforça a convicção de que o caminho é persistir nos programas que levam conhecimento produzem efeitos sociais, ambientais e econômicos para o rico e multifacetado universo rural.