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Bovinos / Grãos / Máquinas Nutrição

Dieta de alto concentrado diminui GEEs na pecuária e pode ser mais econômica

A dieta é metabolicamente mais eficiente, produzindo menos metano para cada quilograma de alimento ingerido

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Sérgio Medeiros

Pecuaristas brasileiros têm investido em dietas ricas em grãos e alimentos não fibrosos para bovinos de corte. A pesquisa agropecuária comprova que essa prática, já solidificada nos confinamentos norte-americanos, além de ser mitigadora de gases de efeito estufa (GEEs), traz economia significativa para o produtor. Um dos motivos disso é a melhor conversão alimentar dos animais que recebem a dieta de alto concentrado em comparação aos bovinos alimentados com maior porcentagem de volumoso. Em um rebanho com mil cabeças de gado confinado, o pecuarista pode economizar cerca de R$ 400 mil.

O pesquisador Sérgio Raposo de Medeiros, da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), colocou isso em números. Ele fez a comparação entre uma dieta com 70% de volumoso e outra com apenas 10%. Os animais que receberam a primeira precisariam de dez quilos de volumoso para cada quilo de ganho de peso. Enquanto na dieta de alto concentrado, também chamada de dieta quente, os bovinos necessitariam de metade da quantidade de consumo para cada quilograma de ganho de peso. “Considerando o valor médio das duas dietas como de R$ 0,52 por quilograma (em base seca), a dieta quente seria R$ 2,60 mais barata por quilo de ganho de peso. Em um confinamento com mil cabeças de gado, tendo em vista que cada animal tenha ganhado 150 kg em média, o valor economizado seria de R$ 390 mil”, detalha Raposo.

Menos gases de efeito estufa

Segundo o pesquisador, essa mudança na alimentação dos bovinos confinados, além da eficiência alimentar, frequentemente é mais econômica por arroba de carne e mitigadora de gases de efeito estufa. Isso porque, quando o produtor aumenta a porcentagem de concentrado e diminui a quantidade de fibra, o animal acelera a deposição de gordura e, assim, chega ao ponto de abate mais rapidamente. “Um dos motivos dessa dieta ser metabolicamente mais eficiente é que produz menos metano para cada quilograma ingerido. Todavia, o principal motivo da redução da emissão de GEEs é que o bovino atinge o peso final em um tempo menor”, declara Raposo, que é especialista em nutrição animal.

Em relação ao custo, o pecuarista deve avaliar ainda na fase de planejamento a dieta economicamente mais vantajosa por arroba engordada. O pesquisador alerta que é importante analisar a viabilidade de acordo com as condições de cada propriedade, levando em consideração logística, disponibilidade comercial dos insumos, proximidade dos polos produtores e oferta dos grãos.

Nos últimos anos, contudo, para muitas situações têm prevalecido as dietas de alto concentrado, também chamadas de quentes. “O encarecimento do concentrado e uma grande eficiência na produção de volumoso podem mudar isso, reforçando a ideia que sempre deve se encontrar a dieta para aquele lugar, naquele ano e com os preços e custos das matérias-primas disponíveis”, ressalta o cientista.

Custo operacional reduzido

Outro estímulo à adoção de altas concentrações de grãos também ocorre pela necessidade menor de área para produção de volumoso e custo operacional reduzido ao lidar com a distribuição nos cochos de menores volumes de alimentos. O produtor Marco Antonio Balsalobre confina cerca de 500 animais ao ano e pretende aumentar para mil em até dois anos. Sua propriedade está localizada em São Carlos (SP). Ele utiliza dieta de alto concentrado, com apenas 8% de volumoso.

Segundo Balsalobre, a proporção de volumoso varia de acordo com sua qualidade. A opção por volumosos de baixo valor nutricional necessita de uma dieta de alta proporção de concentrado. O volumoso é apenas fonte de fibra para ruminação. “No meu caso, eu utilizo uma dieta com 8% de volumoso. Utilizo casca de amendoim, como fonte de fibra, apenas”, conta o pecuarista.

A logística no confinamento também é alterada quando o produtor opta pela dieta quente. Balsalobre alerta que, muitas vezes, as operações na fazenda são o ponto crítico da tomada de decisão para viabilizar o confinamento na propriedade. Para ele, não havendo a necessidade de uma área de agricultura e baixos volumes de alimentos para transportar, o operacional da fazenda torna-se mais simples.

 Cuidados na alimentação 

Para evitar problemas com os animais, como a acidose ruminal, é recomendado antes de iniciar esse tipo de dieta fazer adaptação no confinamento, aumentando paulatinamente o concentrado, além de manter algum ingrediente que seja fonte de fibra efetiva (volumoso, silagem, cana de açúcar, bagaço de cana in natura, feno de gramíneas, etc.). O especialista diz que, apesar de haver dietas com apenas 7% de forragem, um valor mínimo de fibra que costuma ser seguro para a maioria das situações é 15% da matéria seca da dieta. Valores mais baixos podem ser interessantes economicamente, mas seria ainda mais importante contar com apoio técnico nesses casos.

O pesquisador indica alguns alimentos que possuem uma fermentação mais amigável e substituem fontes de amido, como polpa cítrica, casca de soja e DDG (subproduto da produção de etanol). Ainda, o uso de aditivos é bastante recomendável, uma vez que, além de melhorar a eficiência da dieta, reduz a chance de acidose e outras doenças metabólicas associadas (como timpanismo, quando o gás produzido no rúmen não consegue ser liberado, comprime o pulmão do animal, podendo levá-lo à morte).

Outra recomendação é o fornecimento da dieta em vários momentos do dia. Com essas medidas simples, o pecuarista evita problemas, garantindo bem-estar animal e eficiência do sistema de produção.

Acidose

A acidose é uma doença metabólica que pode levar o animal à morte. Isso ocorre devido à produção exagerada de ácido lático no rúmen. O consumo abrupto de grande quantidade de concentrado provoca fermentação intensa e rápida, desequilibrando o pH do rúmen e levando à acidose. Essa doença ainda predispõe o animal a outros problemas, como laminite, timpanismo e abcessos hepáticos.

É preciso estar atento aos sinais clínicos da acidose, como falta de apetite, diarreia, desidratação, fraqueza e prostração. A intensidade dos sintomas depende da quantidade e do tipo de alimento consumido, além da adaptação à ração feita previamente. A forma subclínica também pode ocorrer. Nesse caso, a variação de consumo de alimentos e redução da produção de carne ou leite são indicadores.

Experimento comprova ganhos na conversão alimentar

Em 2019, 48 animais da raça Nelore receberam a dieta de alto concentrado durante a fase de confinamento na Embrapa Pecuária Sudeste.

Antes do confinamento propriamente dito, os bovinos passaram por uma pré-adaptação ao concentrado durante 15 dias, aumentando-se gradativamente a quantidade do produto. No primeiro dia receberam 90% de silagem e 10% de concentrado e, no 15º dia, 50% de silagem e 50% de concentrado. O procedimento veio da necessidade de os animais ficarem em quarentena, pois vieram de fora da fazenda.

A fase de adaptação da dieta experimental durou mais 15 dias, com 12,45% de bagaço in natura e 87,15% de concentrado. Após esse período, os animais entraram no confinamento experimental. “Não fosse a necessidade de quarentena, esses 15 dias seriam suficientes para a fase de adaptação à dieta”, salienta Raposo.

O pesquisador conta que, um pouco antes do início do experimento, seis animais apresentaram sintomas de acidose ruminal. A dieta foi alterada para conter o problema. Aumentou-se a quantidade de fibra para estimular a ruminação e incluiu-se bicarbonato de sódio com objetivo de aumentar a resistência do rúmen à variação da acidez, além de tratamento veterinário para os animais com sintomas clínicos. As medidas solucionaram o problema.

A acidose não era esperada. Conforme detalha o pesquisador, as dietas para ruminantes são formuladas com base em matéria seca e precisam ser transformadas para matéria original, ou seja, como o alimento se encontra na realidade, contendo água. No cálculo para formulação da dieta, a matéria seca do volumoso usado foi superestimada. Em vez de 12% de fibra, que era a proposta do experimento, a dieta efetivamente fornecida aos animais continha apenas 8,51%.

“Com esse valor, haveria chance de não ocorrer a acidose. Mesmo assim, o problema ocorreu apenas nos animais mais propensos. Motivo de não ter se manifestado nos outros 42 animais”, conta. Assim que o equívoco foi identificado, a dieta foi corrigida e não houve mais casos de acidose.

Desempenho dos animais

A conversão alimentar obtida pelo experimento no confinamento da Embrapa foi típica de dietas de alto concentrado, com 6,6 kg de matéria seca da dieta para cada quilograma de ganho de peso. Em dietas com alto teor de volumoso (60%-70% de volumoso e 40%-30% de concentrado), uma conversão alimentar típica necessitaria de cerca de dez quilos de matéria seca da dieta para cada quilograma de ganho de peso. Enquanto uma dieta de alto concentrado pode resultar em uma conversão alimentar duas vezes melhor: cinco quilos de matéria seca da dieta para cada quilograma de ganho.

Na tabela abaixo, podem ser comparados dados de simulação de uma dieta de confinamento de alto volumoso (62% de volumoso) e outra com apenas 10% de volumoso (dieta quente). Esses dados foram simulados em computador, considerando o mesmo lote de animais e usando os mesmos ingredientes.

Comparação de dietas de confinamento de baixo e alto teor de inclusão de alimentos concentrados, considerando os mesmos animais e ingredientes.

Fonte: Embrapa Pecuária Sudeste

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Colibacilose em bezerros: importante tipo de diarreia

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível.

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Foto: Divulgação/JÁ Saúde Animal

A saúde intestinal dos bezerros é um aspecto importante na pecuária, afinal impacta diretamente o desenvolvimento e a produtividade desses animais. Dessa forma, a manutenção de um trato gastrointestinal saudável e funcional permite a digestão e a absorção adequadas dos nutrientes. Nesse contexto, entre os principais desafios da criação de bezerros, relacionado à saúde intestinal, está a diarreia, sendo responsável por uma série de prejuízos. O problema é caracterizado por uma grande perda de líquidos e eletrólitos corporais que vão ocasionar desidratação, perda de peso, com possibilidade de evoluir para choque hipovolêmico e morte do animal.

Vários fatores podem ter relação com a ocorrência da diarreia e os agentes etiológicos causadores podem ser diversos, incluindo as bactérias (Escherichia coli, Salmonella sp., Clostridium perfringens), os vírus (rotavírus e coronavírus), protozoários (Eimeria sp. e Cryptosporidium sp.) e as verminoses. Dentre esses, um dos principais no quesito mortalidade é a Escherichia coli, bactéria gram-negativa, que de forma geral é inofensiva. Contudo, quando tipos patogênicos infectam uma população susceptível ou quando há uma somatória de fatores (ambiente, manejo, imunidade) que estimula a proliferação bacteriana ocorre a chamada Colibacilose, termo atribuído a afecções provocadas por E. coli, que consequentemente podem ocasionar quadros de diarreia.

A Colibacilose pode acontecer de três maneiras: septicêmica, enterotoxêmica e entérica. A forma septicêmica se desenvolve quando a bactéria se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, afetando geralmente bezerros que não tiveram uma boa colostragem. Nesse caso, a apresentação da afecção é aguda, variando de 24 a 96 horas, com sinais clínicos como depressão, febre alta, anorexia e taquicardia. Outra forma é a enterotoxêmica, quando a bactéria se prolifera na parte média e posterior do intestino, havendo a liberação de toxina. Nesse caso, os animais apresentam prostração intensa e morrem de endotoxemia. Por fim, existe a forma entérica, conhecida como “curso branco”, caracterizada por sinais como diarreia pastosa abundante, de coloração esbranquiçada ou amarelada, podendo progredir para diarreia aquosa severa, desidratação, acidose metabólica e morte.

Geralmente a ocorrência da Colibacilose é mais frequente em animais mantidos em confinamentos ou muito próximos uns dos outros, além de bezerros com poucos dias de vida. Outros fatores epidemiológicos que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro diarreico são: períodos chuvosos, sistemas de produção inadequados (manejo sanitário, instalações e nutrição ineficazes) e outras enfermidades como as endoparasitoses. A taxa de mortalidade pode variar de 10 a 50% para bovinos de leite criados em sistemas intensivos e de 5 a 15% para bovinos de corte. É importante salientar que ela pode chegar a 60% em propriedades com problemas de manejo.

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível. Além disso, é importante realizar a vacinação de fêmeas no pré-parto especialmente por conta da passagem de anticorpos da mãe imunizada para o bezerro, conferindo proteção durante os três primeiros meses de vida.

Para o tratamento recomenda-se a administração de antimicrobianos, sendo a Enrofloxacina um dos mais indicados, além do uso de anti-inflamatórios não esteroidais para o controle da febre, alívio da cólica e para proporcionar conforto ao animal. É importante que seja feita a reposição dos fluidos e eletrólitos pela via oral (em casos iniciais) ou pela via parenteral, pois a desidratação pode levar os bezerros à morte de forma muito rápida.

As referências bibliográficas desse texto podem ser solicitadas à autora pelo e-mail: juliana.melo@jasaudeanimal.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Juliana Melo, médica-veterinária e jornalista na JA Saúde Animal
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Indicador do Boi Gordo Cepea/B3: 30 anos de compromisso com a pecuária brasileira

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Foto: Ana Maio

Há 30 anos, o grupo de pesquisadores que formavam o Cepea já se destacava e foi o escolhido pela então BM&F para o desafio de criar um indicador de preços que substituísse a entrega física usada para a liquidação de contratos futuros de boi gordo.

Era preciso contar com uma instituição que fosse idônea, imparcial no trato das operações de compra e venda, que tivesse conhecimento científico para definir uma metodologia com reconhecimento internacional, familiaridade não só com a pecuária, mas com todo o setor em que este mercado se desenvolve, e ainda agilidade para a entrega diária de um indicador, garantindo sigilo de informação.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O Cepea atende desde então todos esses requisitos. Por 30 anos, independentemente de ocorrências como greve de trabalhadores da USP que impedisse acesso ao campus de Piracicaba, quedas de energia ou da rede telefônica, problemas de saúde dos membros da equipe ou incidentes de qualquer natureza, aconteça o que quer que seja, o Indicador do Boi do Cepea foi e continua sendo elaborado diariamente, com entrega rigorosa às 18h04 à Bolsa.

O Indicador do Boi inicialmente chamado Esalq/BM&F, hoje o Cepea/B3, é o valor oficial do boi no mercado futuro brasileiro e o referencial escolhido por inúmeros agentes, não só da pecuária, como parâmetro confiável de preço para a negociação de contratos particulares. Pela imparcialidade do Cepea e rigor na aplicação da metodologia conhecida pelo mercado, o Indicador do Boi Cepea cumpre o papel de reduzir incertezas e oportunismos no setor.

A liquidação de contratos, que nos anos 1980 e início dos anos 1990 era realizada unicamente por meio da entrega física de animais, estava suscetível a uma série de entraves.  Grande parte dos pecuaristas tinha dificuldades em formar lotes que atendessem a todos os padrões especificados e exigidos pelo contrato. Compradores, por sua vez, alegavam que muitas vezes os lotes não tinham a qualidade esperada.

Essa perda na qualidade constantemente era associada ao transporte do animal até uma das praças para entrega: Araçatuba, Barretos, Presidente Prudente e São Paulo. Determinadas fazendas ficavam bem distantes e os animais perdiam peso. Além disso, as despesas com o transporte dos lotes de boi gordo eram pauta de discussão entre o vendedor e o comprador.

A assimetria de informação entre vendedores e compradores era tamanha que, ocasionalmente, os agentes que negociavam os contratos futuros iam fisicamente às regiões de entrega dos animais – quando não possível, contratavam pessoas para fazer essa verificação –, no intuito de monitorar o processo de chegada e conferência dos lotes. O objetivo era evitar ações oportunistas.

É nesse contexto que, no começo de 1994, a Bolsa suspende momentaneamente as negociações dos contratos futuros do boi gordo e, em maio daquele ano, disponibiliza um novo formato contratual, no qual a entrega de animais deveria ser feita em um único local: Araçatuba. Alguns novos processos foram estabelecidos – como protocolos nas realizações de jejum e pesagem dos animais, entre outros – e árbitros chegaram a ser contratados pela Bolsa, no intuito de resolver as disputas de compradores e vendedores nos momentos de entrega dos lotes.

Já atenta aos custos e entraves vindos da liquidação física dos contratos de boi gordo, a Bolsa, ainda em 1993, faz uma experiência inédita para a época: busca uma terceira parte que forneça um indicador de preço do boi gordo do mercado físico do estado de São Paulo. O objetivo era utilizar tal valor como referência para uma iminente liquidação financeira dos contratos futuros do boi gordo negociados na Bolsa.

Feitas algumas apurações, fica estabelecido que o Centro de Pesquisas vinculado à Universidade de São Paulo, o Cepea, que, ressalta-se, já vinha monitorando o mercado pecuário desde 1987, seria o responsável por fornecer à Bolsa o desejado índice.

O compromisso assumido com a cadeia de bovinos de corte brasileira colocou o Cepea, a Esalq e a Universidade de São Paula na vanguarda das pesquisas e como referência de estudos para o setor.

Impulso certeiro ao mercado futuro do boi

De maio de 1994 até quase o encerramento daquele ano, os contratos negociados na Bolsa ainda eram liquidados de forma física, com entrega dos animais em curral único estabelecido em Araçatuba.

Foi em 30 de novembro de 1994, que a então BM&F lança a negociação de um novo contrato, tendo como norma sua liquidação financeira, ou seja, sem a entrega física dos animais. O contrato envolvia ainda 330 arrobas de carne e exigia animais de 450 a 550 quilos, em dólar. As posições em aberto seriam encerradas, então, pela média aritmética simples dos últimos cinco Indicadores do “Boi Gordo Esalq/BM&F” do respectivo mês.

As primeiras negociações futuras com a nova alteração no contrato começaram a ser realizadas em 16 de dezembro de 1994, envolvendo o vencimento Agosto/95. Um total de 207 contratos foram liquidados financeiramente no encerramento de agosto de 1995, ao preço médio de US$ 23,64/arroba, referência oferecida pelo Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&F.

O novo modelo de contrato prevendo a liquidação financeira impulsionou os negócios futuros de boi gordo na Bolsa. Em 1994, haviam sido negociados pouco mais de 5,6 mil contratos de boi gordo na BM&F; no ano seguinte, foram quase 39 mil.

A partir de 1996, os contratos futuros passaram a ter vencimento em todos os meses do ano. A estabilização monetária nacional, obtida com o Plano Real, a abertura comercial e a redução da intervenção do governo na economia alavancaram as negociações de futuros de boi gordo. Assim, o número de contratos negociados já se situava acima de 100 mil em 1996, atingindo patamar superior a 150 mil contratos no ano 2000.

No dia 26 de setembro de 2000, a Bolsa realiza um novo – e muito importante – ajuste no contrato futuro de boi gordo: a cotação da arroba deixa de ser em dólar norte-americano e passa a ser em Reais por arroba. A estabilidade do Real foi o principal motivo para essa alteração.

A cotação do contrato futuro do boi gordo em dólar deixava os operadores do mercado futuro (pecuaristas, intermediários, frigoríficos e outros) suscetíveis à variação cambial. Além disso, a formação do preço do boi gordo tem como fundamentos fatores domésticos, sendo influenciada sobretudo pela oferta e pela demanda. Essa mudança, portanto, permitiu melhor visibilidade aos agentes ativos na Bolsa. O primeiro contrato a ser negociado em Reais foi o de vencimento em Março/2001.

Consolidação e maturidade

O mercado futuro de boi gordo com liquidação financeira se mostrou muito dinâmico entre 2004 e 2014, período de expressivo crescimento no número de contratos. Pode-se dizer que o mercado futuro de boi gordo se consolida nesta década.

Em 2004, foram negociados 225,2 mil contratos futuros de boi gordo, subindo para a casa dos 300 mil nos anos seguintes. Em 2007, já eram mais de 934 mil contratos, atingindo o recorde de 1,6 milhão em 2008.

Entre 2014 e 2018, observa-se certo declínio e, posteriormente, retomada e estabilização no número de contratos em aberto de boi gordo, com alta no último período, devido ao crescimento do mercado pecuário brasileiro. Por outro lado, em termos financeiros, houve expressiva evolução.

Em 2021, os contratos futuros do boi gordo movimentaram mais de R$ 65,133 bilhões na Bolsa (com opções de compra e venda), sendo 57% acima do ano anterior e o maior da

década.

Importante destacar que, em outubro de 2021, o Indicador Cepea/B3 recebeu o relatório de asseguração de adesão aos princípios da Iosco (“International Organization of Securities Commissions”). O recebimento desse selo atesta que os mais elevados padrões de qualidade e critérios de governança sugeridos pela Organização Internacional são implementados e seguidos pelo Cepea e pela B3 na elaboração e no cálculo do Indicador do boi gordo.

Em 2022, mais um crescimento, e o mercado futuro chegou a movimentar R$ 65,515 bilhões. Em 2023, atingiram 781.145 mil contratos, o maior volume desde 2014, mostrando novamente o aumento do uso da ferramenta. Em valor, 2023 atingiu R$ 69,727 bilhões.

Ao completar três décadas, o Indicador se apresenta com novidades. Em breve, será anunciada uma alteração na forma de cálculo do Indicador e disponibilizado um novo aplicativo para informe de negociações. Com os parceiros certos, o Cepea honra sua raiz Esalq/Universidade de São Paulo e se mantém ano após ano com fonte confiável e imparcial, a serviço da sociedade.

Fonte: Por Alessandra da Paz, gestora da Equipe de Comunicação do Cepea
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Apesar de cinco meses de aumento, preço ao produtor de leite segue abaixo de 2023

Com alta acumulada de 12,9% no primeiro trimestre de 2024, valor ainda está 20,3% abaixo do verificado no mesmo período do ano passado, em termos reais.

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Foto: Ari Dias/AEN

O preço médio do leite captado em março foi de R$ 2,3290/litro na “Média Brasil” do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, 4,1% maior que o do mês anterior, mas 20,3% abaixo do verificado no mesmo período do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de março). Com esse resultado, o preço ao produtor acumula alta real de 12,9% neste primeiro trimestre. Porém, a média dos três primeiros meses deste ano está 21,7% inferior à igual intervalo de 2023.

Esta é a quinta alta mensal consecutiva no preço do leite pago ao produtor, e esse movimento é explicado pela redução da oferta no campo. A limitação da produção, por sua vez, ocorre devido ao clima adverso (seca e calor) e à retração das margens dos pecuaristas no último trimestre do ano passado, que reduziram os investimentos dentro da porteira.

O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea seguiu em queda – o recuo foi de 2,5% de fevereiro para março. No acumulado do primeiro trimestre, a captação diminuiu 7,5%. Esse contexto reforça a disputa entre laticínios e cooperativas por fornecedores para garantir o abastecimento de matéria-prima.

A valorização do leite cru, contudo, não foi repassada na mesma intensidade para o preço dos derivados lácteos. Segundo pesquisas do Cepea, as cotações do leite UHT e do queijo muçarela no atacado do estado de São Paulo subiram 3,9% e 0,3% em março, respectivamente. Agentes de mercado relatam consumo ainda sensível na ponta final da cadeia, de modo que os canais de distribuição pressionam a indústria por valores mais baixos.

Ainda assim, a média dos lácteos no primeiro trimestre de 2024 frente ao mesmo período do ano passado registra queda menor que a verificada para o preço pago ao produtor. De janeiro a março, a baixa real nos valores do UHT e também da muçarela foi de 10,4%.

Ao mesmo tempo, as importações continuam sendo pauta importante para agentes do mercado. Embora as compras externas de lácteos estejam em queda, o volume internalizado neste ano ainda supera o do ano passado. Dados da Secex apontam que, em março, as importações caíram 3,3% frente a fevereiro. Porém, essa quantidade ainda é 14,4% maior que a do mesmo período do ano passado. Considerando-se o primeiro trimestre do ano, as aquisições somaram quase 577,5 milhões de litros em equivalente leite, 10,4% acima do registrado nos três primeiros meses de 2023.

Nesse contexto, a expectativa de agentes de mercado é que o ritmo de valorização do leite ao produtor perca força em abril.

Gráfico 1 – Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2024). Fonte: Cepea-Esalq/USP.

 

 

Fonte: Assessoria Cepea
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