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Suínos / Peixes

Avanço tecnológico permite maior produtividade e incrementa rentabilidade de produtores de tilápias

A tilapicultura ainda é uma atividade recente em nível de escala industrial, o que faz com que o pacote tecnológico, baseado em genética, nutrição e estrutura precise ser mais desenvolvido.

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Fotos: Divulgação/C.Vale

Os 90 mil metros quadrados de lâmina d’água são a base para a excelente produção de piscicultura da Família Burin, de Palotina, PR, que produz 600 mil tilápias em ciclos de 10 a 12 meses. Integrados a C.Vale, a família aproveita os benefícios que a cooperativa oferece e amplia a produção de tilápias de forma sustentável, segura e com o auxílio de muitas tecnologias.

Rafael (ao lado da mãe), Inês, Edemar e o Renato num dos onze açudes da família em Palotina

Antes, sem a cooperativa, nada tinha segurança. “O início do trabalho não foi fácil. Mesmo que a nossa propriedade era abundante em água logo percebemos que a parte operacional era bastante difícil, pois a ração era fornecida manualmente, sendo uma atividade diária e cansativa. Outra dificuldade era a assistência técnica, pois tínhamos que nos virar para encontrar e também precisávamos tomar empréstimos bancários para comprar a ração. Depois de tudo isso, vinha a maior tarefa: conseguir vender a produção sem levar calotes”, relembra seu Edemar.

Depois, com a integração à C.Vale, o serviço foi ganhando maior profissionalização e também mais segurança, isso porque a cooperativa se responsabiliza com a entrega de alevinos, ração, retirada dos peixes e também oferece a assistência técnica de qualidade. “Não tinha como continuar trabalhando manualmente. Agora o tratador é automático, a gente sabe o dia que vai alojar e quando vai carregar (despesca). Mudou 100% a nossa forma de trabalhar e de ter mais eficiência nos produtos produzidos”, opina.

No interior de um barracão, um gerador de energia assegura que os aeradores funcionem em caso de queda no fornecimento de luz e assim evita prejuízos à atividade que garante 30% da renda da propriedade. Próximo ao enorme motor a diesel, está um painel de controle dos equipamentos e um monitor que mostra imagens de 17 câmeras instaladas nas margens dos tanques, que também podem ser vistas pelo celular. “Hoje precisa ter tecnologia para produzir”, avalia o filho Renato Burin. Ele revela que o alojamento dos peixes é escalonado para facilitar o controle de eventuais doenças e também para que a renda da comercialização entre em intervalos menores de tempo.

Gerente do Departamento de Peixes da C.Vale, Paulo Roberto Poggere

O gerente do Departamento de Peixes da C.Vale, Paulo Roberto Poggere, reforça que o avanço tecnológico tem contribuído significativamente para a produção de tilápias, trazendo aperfeiçoamento na produtividade e renda aos produtores. “As tecnologias aplicadas no dia-a-dia possibilitam melhorias na eficiência produtiva, tornando possível a otimização de recursos naturais disponíveis, bem como a mão-de-obra e insumos para a qualidade da água. Com esses avanços, é possível preservar os recursos naturais e insumos de produção, melhorando a eficiência do processo como um todo”, destaca o gerente.

Eficiência produtiva

Por outro lado, Paulo também enaltece as oportunidades que o mercado da piscicultura possui, pois apesar do avanço tecnológico, a tilapicultura ainda é uma atividade recente em nível de escala industrial, o que faz com que o pacote tecnológico, baseado em genética, nutrição e estrutura precise ser mais desenvolvido. “Acredito que hoje as tecnologias da parte estrutural e de nutrição estão mais desenvolvidas em relação à genética, existem empresas que já estão trabalhando em linhagens melhoradas e específicas para o cultivo de alta performance, o que é uma grande oportunidade de mercado”, indica.

A propriedade da família Burin é exemplo de produção eficiente, como explica o gerente Paulo Roberto Poggere, que é engenheiro de pesca. “A eficiência produtiva é otimizar ao máximo todos os recursos disponíveis, bem como a estrutura física, produzindo ao máximo, respeitando sempre as condições ambientais e o bem-estar animal. No caso da piscicultura ainda temos o pilar essencial de ser beneficiado dos recursos hídricos, mas sempre preservando a sua qualidade e o seu volume, pois esse é o meio de cultivo e sem a água a piscicultura não vive”, reforça.

Genética

O gerente da C.Vale defende que o melhoramento genético na tilapicultura é bastante recente e que atualmente existem algumas linhagens consolidadas que oferecem ganhos, mas que já estão defasadas. Entretanto, com o avanço exponencial da atividade estão surgindo empresas focadas no melhoramento, que ofertam linhagens melhoradas geneticamente com o foco em rendimento de carcaça, filé, crescimento e sanidade. “O que eu preciso chamar atenção é que ainda não é possível reunir todos os melhoramentos em apenas uma linhagem, desta maneira, o produtor necessita ter atenção na hora de escolher a sua linhagem para que a mesma consiga atender as especificidades de onde eles estão inseridos, tendo olhar nas estratégias de mercado, atrelando a escolha da genética para atender aos requisitos de produção e de custo”, recomenda.

O engenheiro de pesca reforça ainda as particularidades que os peixes, em especial a tilápia, possuem por conta do clima. “Ainda sobre as linhagens é importante frisar que as tilápias são muito influenciadas com o clima da região onde são produzidas, isso porque elas são pecilotérmicas, ou seja, elas não têm a capacidade de ajustar a temperatura corporal, mas dependem muito do meio ambiente ser propício para o desenvolvimento delas”, explica.

Segurança

A boa estrutura e o manejo cuidadoso dos peixes permitem que a família Burin entregue ao abatedouro da C.Vale tilápias com 950 a 1.000 gramas cada. Renato assegura que a piscicultura deixa uma boa margem de lucro ao integrado. O pai Edemar completa destacando a segurança de operar com a cooperativa. “Dois ou três dias depois que a gente entrega, o dinheiro está na conta”, um contraste com a situação da maioria dos produtores independentes. Além de tilápias a família produz grãos e aves. Edmar acrescenta que a diversificação de atividades viabilizou a permanência no campo. “Se não fosse a C.Vale não estaríamos todos aqui”, avalia. Além de gerar renda aos Burin, a diversificação é responsável por cinco empregos com carteira assinada na propriedade.

Boas práticas

Uma produção eficiente perpassa por um conjunto de medidas que visam garantir a qualidade e a sustentabilidade da produção, bem como a segurança alimentar dos consumidores e o bem-estar dos animais. Essas boas práticas estão relacionadas com o local de cultivo, o manejo alimentar, controle sanitário e o bem-estar animal. “É preciso evidenciar que essa metodologia precisa estar em consonância com a produção. Tendo foco na rentabilidade e produtividade, mas respeitando o bem-estar animal e os recursos naturais, as boas práticas fornecem condições favoráveis para que o peixe possa se desenvolver da melhor forma, preservando os recursos e evitando a poluição desnecessária do meio ambiente”, esclarece o engenheiro de pesca.

Segredo do sucesso

Quem conhece a família Burin enxerga que é por meio do amor ao trabalho dedicado e da preparação técnica que eles obtém o grande sucesso na propriedade. O gerente Paulo confirma que a tilapicultura tem segredo para ser bem sucedida. “Ter conhecimento técnico sobre a importância técnica da ambiência e trabalhar com seriedade e amor é o segredo para uma produção eficiente. Aqueles que trabalham neste ramo precisam estudar e conhecer as particularidades de cada espécie, para possibilitar que os animais tenham condições de expressar o seu melhor potencial de crescimento, pois isso vai possibilitar a preservação do meio ambiente e consequentemente a sustentabilidade de uma excelente produção”, finaliza o gerente Paulo.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor aquícola acesse gratuitamente a edição digital de Aquicultura. Boa leitura!

 

Fonte: O Presente Rural
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Suínos / Peixes

Imunonutrição e oportunidades em aquicultura

As novas tecnologias nutricionais para atender essas e outras demandas já estão disponíveis e felizmente com bons resultados. O aprofundamento no entendimento da imunonutrição nos trará condições de  superarmos esses desafios e irmos em busca da segurança necessária para uma produção sem atropelos e com controle, previsibilidade e garantido retorno sobre o investimento. 

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Foto: Shutterstock

Na última década a aquicultura avançou muito nos sistemas de produção, nos controle sanitário dos plantéis, até porque os modelos antigos de criação (suportados pela antibioticoterapia) já não eram mais sustentáveis. Hoje os protocolos de biosseguridade tendem a ser mais rigorosos e eficientes, e as preocupações com as condições de cultivo baseadas em técnicas mais amigáveis ao meio ambiente como uso de aditivos não antibióticos e com os programas vacinais são amplamente difundidos.

Contudo nos deparamos ainda com surtos de doenças em diversas regiões, com maior ou menor gravidade, e que nos convidam a entender um pouco mais sobre alguns aspectos que possam estar interferindo na saúde animal e devemos buscar alternativas.

Reprodutores

A exemplo de outras espécies, as genéticas de peixes têm evoluído rapidamente, ofertando aos sistemas de produção animais de surpreendente potencial zootécnico. No mesmo sentido, demandas nutricionais dos reprodutores não deveriam apenas visar o controle do ganho de peso do reprodutor e produção de ovos. Reprodutores modernos precisam mais e podem mais.
O vigor e persistência reprodutiva é sempre um objetivo a ser alcançado, contudo a geração de progênie com rusticidade e imunologicamente competentes capazes de enfrentar as adversidades ambientais, de manejo e pressões sanitárias é o principal objetivo a ser alcançado.

Benefícios entregues á progênie podem refletir na planta de processamento, como melhores rendimentos, uniformidade, redução de perdas por gotejamento e ausência de defeitos no filé, dentre outros. Ou seja, tudo começa nos reprodutores.

Apesar disso, na maioria das vezes, por questões logísticas,  as matrizes são alimentadas com dietas de baixo padrão nutricional, perdendo-se a oportunidade de ganhos maiores com investimentos relativamente pequenos. Nessa fase é onde se encontra o maior retorno sob investimento pelo baixo impacto no investimento e alta relevância na produção.

Tecnicamente falando, as dietas de fases finais de criação utilizadas para alimentar as matrizes apresentam mais baixa digestibilidade comparada a uma específica para esse fim, tendo altos teores de fibras e com elevada concentração de fatores anti-nutricionais.

Dentre eles os fitatos, que são potentes quelantes de microminerais como o Zinco, podendo gerar um quadro de subnutrição desse nutriente (além de outros minerais também importantes), acarretando impactos extremamente negativos ao sistema imune, que veremos mais adiante.

O zinco como maestro do sistema imune

É importante considerar que o Zinco é conhecidamente um micronutriente essencial que está envolvido na regulação das respostas imunes inatas e adaptativas. A deficiência de Zinco leva a disfunções imunes mediadas por células, entre outras manifestações; e que tais disfunções levam a deficiência na resposta a infecções das mais diversas.

Devemos lembrar que o Zinco não possui reservas no organismo e sua homeostase rapidamente é alterada dependendo da demanda. Fases de crescimento precoces como larvas e alevinos têm requerimentos mais elevados. Da mesma maneira condições de estresse, como manejos de alto manuseio, podem gerar uma demanda maior pelo nutriente.

O status mineral tem relação direta com índices zootécnicos e clínicos, onde em uma condição ótima têm-se a melhor resposta imune, equanto a depleção severa desses nutrientes pode levar ao quadro clínico detectado a campo, conforme descrito na figura 1.

Dietas modernas e sistema imune

A tendência mundial em nutrição aquática se direciona no sentido de ao mesmo tempo atender requerimentos nutricionais correlacionados a ótimas performances com menores custos, contudo com um ingrediente a mais,  a  sustentabilidade. A retirada de ingredientes de origem animal marinha e surgimento de dietas vegetarianas impactam diretamente no aporte de alguns nutrientes, dentre eles, e novamente, a redução do Zinco  (e também outros como Selênio) como demonstrado na figura 2.

Dietas de baixo valor nutricional, com alto teor de fibras e alta concentração de fatores antinutricionais são as mais desafiadoras quando se discute nutrição micromineral e mais a frente imunonutrição. O potencial do fitato como quelante de minerais é tão relevante que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA), seu efeito inibitório dietético, principalmente na absorção de Zinco, deve ser muito bem mensurado na nutrição humana. Não é a toa que, segundo a OMS, a deficiência de Zinco é quinta maior causa de morbidade e mortalidade humana em países em desenvolvimento.

Em busca das alternativas

De maneira rudimentar e prática, a escassez ou indisponibilidade mineral nas dietas é solucionada com a suplementação de minerais oriundos de diversas fontes inorgânicas, muitas delas com baixo custo, baixa biodisponibilidade e com risco de contaminantes.

Lembremos que fontes minerais são potencialmente carreadores de metais tóxicos (denominados no passado como metais pesados) e dioxinas. Falando em sustentabilidade esse padrão nutricional acaba acarretando maior excreção de minerais no ambiente pelos animais, sobrecarregando o sistema aquático com excesso de nutrientes, elevando as multiplicações microbianas de patógenos ávidos por microminerais como Zinco, Ferro, Cobre, dentre outros.

Apesar disso, há décadas as empresas e produtores têm disponíveis para uso fontes distintas dos tradicionais minerais inorgânicos, são moléculas ligados a componentes  orgânicos, algumas delas com maior biodisponibilidade. Com isso reduzimos a excreção mineral e a piora da qualidade da água de criação. Além disso, suplementos orgânicos oferecem menor risco à segurança alimentar pelo maior controle de contaminantes ao próprio animal.

Entendendo essa complexidade e buscando de atender melhor aos requerimentos nutricionais da matrizes, uma pesquisa, trabalhando com minerais complexados em altas doses, obteve respostas positivas utilizando reprodutores de Walking Catfish (Clarias macrocephalus) com bons resultados em diversos índices reprodutivos como produção de ovos, eclodibilidade e qualidade de progênie como demonstrado nos gráficos 1, 2 e 3.


E quantos aos desafios sanitários atuais?

Além  da preocupação com reprodutores, um outro tema não menos importante é a recorrência de surtos de diversos gêneros microbianos como Streptococcus, Francisella e ISKNV a campo. Seus mecanismos de evasão do sistema imune, meios de disseminação, inclusive por transmissão vertical de larvas infectadas por matrizes assintomáticas (portadoras ou albergando o agente no aparelho reprodutivo) está muito bem descrito na literatura.

Aliado a isso a resistência bacteriana a certos antibióticos e a ausência de respostas vacinais a algumas cepas variantes, dificultam a erradicação de doenças, perpetuando-se em algumas regiões e refletindo no surgimento de doenças que até o momento não eram notificadas no Brasil.

Nessa linha, trabalhando com animais desafiados com a bactéria Edwardsiella ictalurii, uma pesquisa encontrou resultados positivos na redução da mortalidade em catfish quando suplementados com Zn complexados com aminoácidos, demonstrando que existe o potencial de melhorar a resposta imune quando o status desse micronutriente está otimizado.

Da mesma maneira uma pesquisa de 2023, utilizando  a mesma molécula,  conseguiu reduzir significativamente a mortalidade de tilápias desafiadas por Streptococcus agalactiae, além disso também comprovou através da elevação na produção de fatores solúveis como lisozima (enzima que representa um  mecanismo inespecífico,  solúvel e potente de defesa, responsável pela lise de paredes de patógenos, principalmente de bactérias G+) frente a dieta controle (0,0146±0,0023 e 0,0099±0,0023 µg/mL de lisozima respectivamente), a melhoria de fatores inatos da imunidade (gráfico 4).

 

Em recente publicação, outro pesquisador também demonstrou a capacidade de modulação da microbiota com elevação de bifidobactérias em contraste com agentes patogênicos a nível intestinal utilizando doses crescentes de Zinco complexado a aminoácidos  com 25%, 50%, 75% e 100%  de substituição frente a um controle negativo, conforme tabela 1.


Enfim, oportunidades

Finalmente podemos observar que a nutrição de animais aquáticos deverá avançar muito nos próximos anos. O entendimento mais abrangente das necessidades dos animais, iniciando pelos reprodutores com o alto potencial zootécnico das genéticas modernas, as questões de sustentabilidade que devem acompanhar a viabilidade econômica, aspectos dietéticos limitantes e constantes desafios sanitários que exigem uma visão mais completa das condições de manejo, bem estar animal e variações inerentes ao processo de produção intensivo sempre estarão presentes.

Por outro lado, as novas tecnologias nutricionais para atender essas e outras demandas já estão disponíveis e felizmente com bons resultados. O aprofundamento no entendimento da imunonutrição nos trará condições de  superarmos esses desafios e irmos em busca da segurança necessária para uma produção sem atropelos e com controle, previsibilidade e garantido retorno sobre o investimento.

As referências bibliográficas estão com os autores. Contato: acimadon@zinpro.com.

 

Fonte: Por: equipe técnica da Zinpro
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Suínos / Peixes

Você sabe quanto custa uma dose de sêmen na suinocultura?

Especialista frisa que valor pode ser diluído ou inflado ao longo de todas as etapas do processo produtivo.

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Fotos: Sarah Nunes

Quanto vale uma dose sêmen na complexa cadeia suinícola brasileira? Essa foi umas das interessantes perguntas que o médico-veterinário mestre em Reprodução Animal e consultor sênior da GBR consultoria, Guilherme Brandt, respondeu durante o painel sobre gestão, tecnologia e bem-estar animal, com o foco na produção, no evento híbrido do Pork Meet Rio Verde. O profissional apresentou a palestra impacto das doses de sêmen no cevado frigorífico e discorreu a respeito da complexidade da cadeia suinícola, enfatizando os efeitos que o sêmen acarreta durante todo esse percurso, desde sua coleta até o momento do abate.

Guilherme relembrou a importância da suinocultura para o Brasil, expondo que o país possui 2 milhões de fêmeas, é o 4º maior produtor de suínos do mundo, exporta cerca de 1,2 milhão de toneladas por ano e consome aproximadamente 20 quilos per capita ao ano. “Tanto o consumo como a produção de suínos vem aumentando ano após ano. Se considerarmos o número de 2 milhões de fêmeas, nós produzimos 1,5 leitão a cada segundo”, disse.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

O médico-veterinário afirmou que ao buscar responder a pergunta sobre qual é o preço de uma dose de sêmen para a produção de suínos, de forma mais estruturada, seria a busca por manter os indicadores produtivos em níveis de alta performance dos animais, das pessoas, dos processos e dos resultados. “Em termos zootécnicos estamos falando de prolificidade, conversão alimentar, e viabilidade”, enaltece. Brandt mencionou que estas perguntas estão relacionadas ao número de leitões que são produzidos por cada fêmea, com respeito a conversão alimentar e o ganho de peso diário, que também varia conforma o preço dos insumos, principalmente do milho, além da viabilidade e da qualidade final do produto. “Quem produz precisa produzir com viabilidade e com qualidade”, destaca.

Esses apontamentos trazem à tona os desafios que este mercado possui que estão ligados aos aspectos financeiros e que impactam no preço da dose do sêmen, como a importância de baixar o custo de produção, aumentar a eficiência e ampliar o valor agregado do produto final. “Nosso objetivo, em qualquer uma das etapas, é produzir de forma eficiente e que traga renda e lucro para toda a cadeia”, afirma.

O profissional também chamou a atenção sobre a importância de entender que a produção final do leitão não é na entrega dos terminados, mas sim, a carne suína na casa dos consumidores. “A nossa atividade não termina no leitão ou na terminação, o nosso produto deve estar no prato do consumidor”, disse.

Rendimento da carcaça

De acordo com ele, o sêmen pode possibilitar o bom rendimento da carcaça, mas isso vai depender de algumas variáveis. Desta forma, para responder a pergunta sobre qual o impacto das doses de sêmen no terminado? O palestrante reforçou que existem 4 possíveis respostas que devem ser observadas e analisadas.
A primeira é de um impacto nulo. “Isso acontece quando o produtor possui o sêmen correto, faz todo o procedimento, mas fica sem o animal. Pode ser que ele não tenha nascido ou mesmo que tenha morrido”, pontua.

A segunda resposta é o impacto ruim. “Esse fato ocorre quando tenho o animal errado. Na prática, podemos observar que as vezes as genéticas estão misturadas de forma incorreta e estão produzindo animais errados”, sustenta Brandt. A terceira resposta é o impacto bom. “Isso se verifica quando o produtor tem o produto certo no lugar certo, mas é uma produção apenas boa, porque é pouca”, destaca.

A quarta resposta é o impacto ótimo. “Este é o ponto que nós queremos e é quando nós temos um grande número de animais certos. Basicamente são estes os impactos do sêmen no frigorífico e eles fazem muita diferença e existem muitas variáveis que definem qual deles será o maior em cada produção”, evidencia.

Ano do suinocultor inicia em 17 de março

Foto: Shutterstock

O profissional alertou para a importância de os produtores de suínos atentarem-se às datas de produção. Para ele, o ano para o produtor de suíno inicia no dia 17 de março, porque esta data vai impactar na produção do ano seguinte. “A cadeia da produção suína leva cerca de 290 dias para ter o produto final, desta forma, é necessário ter este conhecimento pra conseguir um planejamento efetivo do impacto do sêmen”, observa.

Evolução da reprodução suína

O médico-veterinário também apresentou um panorama de como a reprodução suína vem evoluindo e tornando-se mais eficiente. “Nas década de 70 e 80 a inseminação era experimental no Brasil. Em 1990 inseminávamos com 4 bilhões de espermatozoides, fazíamos 12 doses por fêmea e dava cerca de 12 milhões de terminados. Isso foi evoluindo, em 2000 baixamos para 3 bilhões, em 2010 para 2 bilhões. Esse foi um avanço espetacular, porque baixamos a concentração, mas a produtividade aumentou. Vimos então que a genética começou a ter o valor maior dentro da produção na indústria”, destaca revelando que para 2030 a expectativa dele é trabalhar com menos de 2 bilhões de espermatozoides e produzir 15 mil terminados por macho.

Onde estão as perdas?

Além disso, o profissional revelou que o potencial de uma dose de sêmen também está relacionado com as perdas dos animais. “Os números mostram que dos 100% dos animais que vão para a granja, apenas 71% estarão no abate, no frigorífico. Ou seja, saímos de uma taxa de possibilidade excelente e então começam as perdas com mortalidade, das mais variadas espécies, e caímos para um número de produto bem aquém do que poderíamos alcançar”, reforça.

É possível melhorar

Ele reivindica que esses números mostram uma grande possibilidade de melhorar a produção de suínos. “A fisiologia e as tecnologias nos permitem melhorar estes números, precisamos trabalhar para isso. Já saímos de 24 leitões por fêmea ao ano para 35, o potencial vem aumentando muito. Por outro lado, precisamos melhorar as nossas perdas por ineficiências”, argumenta.

Brandt diz que o ponto chave para melhorar o desempenho dos números finais da cadeia está na forma com que os produtores gerenciam suas granjas e recomenda que eles deem mais atenção aos animais. “A chegada dos animais, bem como a chegada do sêmen, devem ser promovidas de forma a serem muito rigorosas, para que consigamos melhorar os números. Além disso, é preciso muito cuidado na conservação e em todos os momentos de manejo dos materiais e animais porque esse manuseio pode ter impacto de alta fertilidade, como também não”, observa.

Mapa de cobertura

Outra recomendação pertinente feita pelo profissional é a necessidade de os produtores atentarem-se para o Mapa de Cobertura e fazer a marcação dele com muito rigor. “Devemos entender, gerenciar e não negociar o mapa de cobertura, porque fazemos parte de uma cadeia que é segmentada e cada etapa influencia as etapas seguintes. Desta forma, nossa responsabilidade não é apenas com a parte que nós trabalhamos, mas com toda a cadeia”, enaltece.

Potenciais

Médico-veterinário com mestrado em reprodução animal e consultor sênior da GBR consultoria, Guilherme Brandt

O médico-veterinário ainda disse que o potencial de animais nascidos de uma fêmea pode ser relacionado com o macho e com a qualidade dos espermatozoides, mas que é a fêmea que determina a quantidade de nascidos. “São os oócitos das fêmeas que determinam o número de ovulações que a porca terá e desta forma o potencial de nascidos está relacionado com ela. Ou seja, o sêmen precisa ser muito bem produzido, mas também temos que tratar muito bem a fêmea”, recomenda.

Ele reforçou sobre as melhorias nos indicadores zootécnicos no Brasil. “Estamos melhorando. Há mais de 20 anos eu estudo e venho acompanhando a evolução do número de leitões que são entregues por fêmea, esse número vem crescendo e mostra que estamos conseguindo ser mais eficientes na reprodução”, afirma.

O profissional também apresentou alguns números do levantamento feito pela Agriness que mostram que desde 2008 o leitão está cada vez menor. “Estamos produzindo mais animais, mas os leitões são menores. Desde 2008 a média mostra que ele perdeu 100 gramas. É importante nos atentarmos a esses números para ajustarmos qual é o limite aceitável e bom do peso ao nascer para uma produção que vamos entregar no frigorífico e na casa do consumidor”, evidencia.

Milho

Em relação à influência do milho no potencial das doses de sêmen, o médico-veterinário enfatizou que essa conexão está intrinsecamente ligada à prolificidade. Isso se deve ao fato de que é possível otimizar completamente o potencial reprodutivo das fêmeas, reduzindo ao mesmo tempo o consumo de ração. “Se eu contar com os melhores animais e uma conversão alimentar eficaz, usando a dose correta de sêmen dos melhores machos conseguirei economizar significativamente em termos de consumo de milho. Isso resultará em economia e, quando discutimos os impactos da nutrição na qualidade do sêmen, é essencial considerar o papel fundamental do milho e seu impacto na produção total”, ressaltou.

Doses de sêmen colorida

Brandt também reforçou sobre a importância de os produtores e empregados entenderem sobre como as doses de sêmen devem ser aplicadas. “Eles precisam conhecer os protocolos, ter ciência de quanto vale cada dose, das possibilidades sobre os machos de maior índice genético, pois tudo isso vai ajudar a melhorar a produção”, adverte.
O profissional reforçou a atenção aos detalhes, mesmo que sejam com números muito pequenos, pois quando é pensado em todo o volume da produção final, aquele 1% de melhora na conversão alimentar pode fazer muita diferença no impacto final. “Se o Brasil melhorar 1% nos índices de mortalidade na creche, terminação, matrizes, teremos quase R$ 1 bilhão a mais. Precisamos fazer esta conta”, recomenda.

As mudanças não devem param

O médico-veterinário finalizou a palestra reforçando que a suinocultura é uma atividade de intensa mudança e que sempre terá muitos desafios. “É preciso reconhecer que o valor específico de cada dose de sêmen é gigantesco, e é necessário ter muito cuidado com este índice genético, porque não adianta eu investir em um bom índice genético se eu não souber utilizar da melhor forma possível todo o potencial. O produtor precisa sempre lembrar que sempre há espaço para aprender mais e melhorar”.

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Fonte: O Presente Rural
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Suínos / Peixes

Modelagem, inteligência artificial e big data são o futuro da suinocultura, defende médico-veterinário

Profissional enfatiza durante o Pork Meet Rio Verde que estes temas ainda são novos para uma grande parcela dos produtores, mas que vão auxiliar muito os sistemas de produção.

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Foto: Bing

Com uma abordagem focada em tecnologia, o Pork Meet Rio Verde, promovido no dia 28 de setembro, em Rio Verde, GO, pela Agigo, contou com a palestra “Aos suinocultores, o futuro! Uma abordagem sobre modelagem, inteligência artificial e big data”, com o médico-veterinário e mestre em Ciência Animal, Marcino Pereira Junior. O profissional apresentou um panorama sobre como as novas tecnologias podem agregar valor ao setor, trouxe apontamentos sobre o futuro e enalteceu a importância da modernização das ferramentas na era da indústria 4.0.

De forma simples ele explicou que estes três termos estão interligados, pois a modelagem matemática permite a simulação e previsão de resultados com base em dados passados e condições variáveis, enquanto a IA aprimora a capacidade de análise e tomada de decisões, identificando padrões e otimizando processos. Esses dois elementos se beneficiam do big data, que serve como base para a coleta e armazenamento de uma grande quantidade de informações valiosas que, por sua vez, alimentam a modelagem e o aprendizado da IA, promovendo a evolução e a inovação contínuas.

“Mas a pergunta que eu quero responder é o que isso tem a ver com a suinocultura? Minha resposta é simples, num futuro próximo vamos utilizar estas ferramentas para conseguir modelar o acúmulo de informação de uma forma consistente e tratar esta informação para tomada de decisão do dia-a-dia da granja”, observa Marcino.

Modelagem matemática

Médico-veterinário e mestre em Ciência Animal, Marcino Pereira Junior – Foto: Sarah Nunes

Pereira explicou que a modelagem matemática envolve simulações de casos reais a fim de prever o resultado de algo no futuro. “De forma prática, podemos usar a modelagem para prever um resultado próximo, como peso e a conversão alimentar de um suíno. A modelagem pode trazer mais assertividade para o trabalho dos técnicos, extensionistas e produtores. Desta maneira, a modelagem possibilita a produção de um leitão mais tech”, pontua.

O profissional rememorou que a história da modelagem matemática mostra que ela já é estudada há mais de 30 anos na produção de proteína animal, mas que ela não era utilizada porque ela não era eficaz, já que não existiam sistemas que possuíam a capacidade de alcançar o objetivo que havia sido modelado. “A prática do campo não trazia a modelagem que você havia previsto, porque possuem muitas variáveis. Hoje a história é diferente, pois os sistemas evoluíram e o acompanhamento é preciso. Por conta disso, cada vez mais podemos confiar nas modelagens que são feitas no campo, porque com o auxílio de softwares de gestão, elas auxiliam na administração correta da granja”, reforça.

Modelagem creche

O médico-veterinário disse que o setor da creche é um dos mais difíceis de se fazer a modelagem matemática porque a creche herda muitos efeitos de erros da maternidade, o que dificulta a modelagem do animal. “Durante o período de adaptação na creche, cerca de 15 a 20 dias, podemos ter muitos efeitos rebotes de como foi a vivência do suíno na maternidade. Desta forma, esses efeitos podem contribuir para que os animais não consumam os ingredientes necessários, ou não se adaptem de forma correta. Isso pode ocasionar um erro maior do que eu consigo predizer, o que não favorece a modelagem”, explica.

Modelagem na terminação 

De acordo com ele, é na terminação que a modelagem matemática pode ser melhor aproveitada e isso ocorre por dois motivos. O primeiro é que o animal tem efeitos externos muito menores e o segundo é que ele precisa de água e ração. “Neste ciclo ele não tem outras variáveis, desta forma, a modelagem consegue identificar se ele teve algum problema no caminho e dizer o que foi que aconteceu, para que o produtor consiga corrigir este problema, para que no final ele possa entregar um leitão sadio para o abate”, afirma.

Modelagem da reprodução

O ciclo da reprodução também é bastante complexo, porque é preciso contar com o desenvolvimento da fêmea, o crescimento do feto, com o líquido amniótico, a recuperação da fêmea da última lactação, bem como é necessário contabilizar a produção de leite que ela vai ter, juntamente com a formação de glândula mamária. “Por conta de todos estes processos, a modelagem pode ser feita, mas ela vai ficando cada vez mais complexa nesta etapa”, pontua.

Big Data

Foto: Shutterstock

Marcino descreveu o big data como um grande banco de dados, que armazena muitas informações importantes e que são pertinentes para a resolução de desafios que estão presentes no dia-a-dia da granja, sendo que ele possibilita também velocidade, volume e variedade de informações. “O big data oferece a capacidade de compilar e armazenar informações significativas, o que vai possibilitar mais eficiência na tomada de decisões na granja”, destaca.
Ele disse os centros acadêmicos estão utilizando o big data e resgatando um grande acúmulo de informação que foram geradas para replicar e melhorar os problemas das granjas. “Hoje observamos que as teorias estão sendo aplicadas e sendo eficientes nas práticas do dia-a-dia da granja”, observou o profissional acrescentando que o big data precisa ser constituído de dados que possam ser traduzidos em conhecimento e que devem estar arquivados de forma organizada e serem acessados com facilidade.

Inteligência Artificial 

Com relação a IA, Marcino pontuou que ela é a responsável por auxiliar o entendimento dos dados que são coletados pelos sistemas, pois ela concentra as informações e possibilita um entendimento daqueles dados. “Na prática, a IA permite também a automação da tomada de decisão com base em dados coletados. Se treinarmos ela de forma eficiente, ela pode ajudar a identificar problemas e fornecer sugestões para melhorias. Ela consegue apontar quais são os nutrientes que podem ajudar a ter melhores resultados, tornando o processo mais eficiente”, exemplifica.

O profissional também discorreu sobre a evolução dessas ferramentas na suinocultura e como elas podem ser aplicadas em diferentes estágios da produção, da reprodução à terminação. “À medida que a genética dos suínos evolui, é essencial manter-se atualizado e aproveitar as novas ferramentas para melhorar a produção. Temos granjas muito grandes, onde é inviável manipular os dados de forma manual, nestes casos a IA pode ser uma grande aliada”, sugere.

Redução da mortalidade

A utilização de IA, modelagem matemática e big data também foi associada à redução da mortalidade na produção de suínos e à otimização da tomada de decisões. Pereira enfatizou que, em um futuro próximo, essas tecnologias devem ser fundamentais na maneira como as granjas são construídas e gerenciadas, permitindo a coleta e a análise mais eficaz de dados para melhorar os resultados da suinocultura.

De acordo com ele, a suinocultura está se adaptando às novas tecnologias, e a integração da IA, big data e modelagem matemática promete aumentar a eficiência, reduzir custos e melhorar a produtividade, criando um futuro mais promissor para o setor. “Um exemplo prático disso é que hoje é possível saber, num tempo de 10 segundos, se eu já tiver a projeção da modelagem matemática de produção, eu posso definir para o produtor qual é o melhor ponto entre a comercialização frente à realidade do preço da ração naquele momento e o custo do cevado de venda daquela semana. Desta forma, eu preciso acompanhar os números e modelar minha granja para que eu consiga ter uma resultado cada vez melhor”, menciona.

Possibilidades

O profissional apresentou algumas ferramentas e aplicativos que podem ser utilizados na produção de suínos, como as câmeras inteligentes – smartcam, que têm a função de passar por cima das baias, calculando o peso dos cevados diariamente e armazenado os dados em softwares, e o sound talks, que é um aplicativo que identifica o aspecto sanitário da granja, indicando o nível de pressão de infecção na parte respiratória dos animais, entre outros.

Maior desafio 

Marcino também enalteceu que o objetivo de todo produtor é manter o nível mais alto de produtividade na granja, salientando que existem ações que podem auxiliar na melhoria da conversão alimentar, bem como na redução da mortalidade. “A IA pode ser uma grande aliada, mas ela não vai trabalhar sozinha. Precisamos de pessoas para gerenciá-la”, aponta.

E qual seria o grande próximo passo da suinocultura? Segundo ele, é a possibilidade de valer-se das informações e tecnologias disponíveis e tomar a melhor decisão de forma rápida e eficiente. “Acredito que, num futuro muito próximo, isso vai moldar como a gente constrói as nossas granjas, porque quanto mais informações relevantes eu tiver da minha propriedade melhor serão as minhas condições de tomada de decisões. Com certeza teremos melhores resultados”, aponta.

 

Fonte: O Presente Rural
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