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Uniformidade é a chave para o sucesso do rebanho leiteiro

Aumentar a IMS especialmente em vacas de alta produção é de extrema importância principalmente nas primeiras semanas após o parto para que estas produzam mais leite durante toda a lactação

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Artigo escrito por Leandro Cecato de Oliveira, médico veterinário, especialista em Produção de Ruminantes e gerente Técnico de Ruminantes da Tectron

Antes de discutirmos como melhorar a ingestão de matéria seca (IMS) em gado leiteiro devemos perguntar: "Por que isso é importante?". A produção de leite e seus componentes pagam as contas em uma fazenda leiteira. Portanto, aumentar a IMS especialmente em vacas de alta produção é de extrema importância principalmente nas primeiras semanas após o parto para que estas produzam mais leite durante toda a lactação.

A regulação fisiológica da ingestão de alimentos é realizada por duas áreas do hipotálamo, onde se localizam os centros da fome e da saciedade. Quando o animal demonstra apetite, por exemplo, o centro da fome é ativado e o centro da saciedade é inibido. Por outro lado, à medida que o animal se alimenta, o centro da saciedade vai inibindo o centro da fome. As informações que chegam ao hipotálamo chegam de diferentes formas ou sinais. Os principais são os sinais quimiostáticos e os de distensão ou repleção do trato digestivo.

As vacas leiteiras atingem a IMS máxima entre 10 a 13 semanas após o parto. Neste momento ela deverá consumir aproximadamente 4% do peso corporal. Em grande parte deste período ela estará em balanço energético negativo (BEN). Maximizar a IMS durante início da lactação pode mitigar a extensão do BEN, permitindo aumentar a produção, melhorar a reprodução e a saúde dos animais. As vacas de maior produção são muitas vezes as mais suscetíveis a doenças metabólicas e fisiológicas durante esse período. Um período de tempo adequado para os animais se alimentarem é fundamental para maximizar a IMS.

Um estudo feito por Bach e colaboradores (2008) apontou que fatores não relacionados à dieta foram responsáveis por 56% da variação na produção de leite entre 47 rebanhos que foram alimentados com a mesma TMR. A disponibilidade de dieta foi um dos principais fatores nas diferenças entre essas fazendas. As baias por vaca foram mencionadas como outro fator importante.

Horário de alimentação consistente

As vacas são animais que gostam de rotina, especialmente no que se refere ao seu alimento diário. Mudanças nos horários de alimentação, principalmente atrasos, normalmente refletem negativamente no volume de leite do tanque. Quando os horários de alimentação não são consistentes, a quantidade de sobras e IMS irão variar.

Distribuição da TMR ao longo do cocho

Uma maneira de garantir uma melhor IMS é com uma TMR mais consistente. Diminuir as variações que ocorrem no fornecimento da dieta proporciona um alimento mais uniforme para as vacas, sem mudanças no conteúdo de nutrientes. Monitorar frequentemente a qualidade da mistura do vagão e consequente distribuição no cocho são medidas que asseguram uma TMR mais consistente.

O uso do separador de partículas da Penn State (PSPS) é uma boa ferramenta para monitorar tanto a variação dentro do lote quanto entre os lotes, referente ao tamanho de partículas das TMRs, permitindo uma avaliação imediata na fazenda.

Sobras de alimentos pesados versus estimados

Vemos uma gama de práticas de gerenciamento para determinar as quantidades de sobras de alimentos retirados e, por fim, os níveis de IMS. Algumas fazendas não retiram as sobras da dieta do dia anterior, mas sim despejam o alimento fresco sobre o antigo, enquanto outras fazendas pesam ou estimam “no olho” as sobras retiradas de cada lote e ajustam a quantidade de alimento ofertado para a próxima carga. A maioria das fazendas está em algum ponto entre estes dois extremos.

Pesar as sobras em vez de estimá-las nos dará um resultado mais consistente tanto para medir a IMS como para ajustar a próxima carga do vagão. Como consequência, os cálculos de consumo de matéria seca são mais precisos, o que ajuda com outros indicadores de desempenho da fazenda, como a receita sobre os custos de alimentação e a eficiência alimentar. O objetivo não é deixar as vacas sem alimento, mas gerenciar os níveis de sobras retirados para maximizar a eficiência geral da utilização da TMR. Monitorar com frequência a matéria seca da silagem e dos alimentos úmidos contribuirá para a acurácia nos ajustes das cargas.

As sobras têm a mesma aparência e cheiro da dieta ofertada?

Vacas leiteiras são muito boas na separação de partículas de forragem longas. Consideramos que houve seleção de cocho se ao avaliar as sobras com a PSPS os níveis diminuem em 10 unidades no compartimento inferior e aumentam em 10 unidades na peneira superior em relação à dieta ofertada. Cortar a silagem de milho mais longa durante a ensilagem ou adicionar líquidos à TMR pode ajudar a reduzir a seleção. Se as sobras apresentam temperatura elevada e odor mais forte, pode ser um indicativo que o alimento está fermentando no cocho, refletindo um mau gerenciamento de sobras.

Estresse Térmico

A reação fisiológica mais imediata ao estresse térmico é a redução no consumo de alimentos. É uma estratégia do organismo para diminuir o metabolismo basal e manter a temperatura corporal constante. A redução no consumo de alimentos é tanto maior quanto mais intenso for o estresse. Consequentemente à diminuição na ingestão de alimentos, ocorre redução na produção e nos constituintes do leite.

Alguns pesquisadores relatam que o maior volume de leite produzido por uma vaca acontece quando esta está deitada descansando. O estresse por calor também afeta o tempo de descanso de vacas leiteiras. Nas horas mais quentes do dia, elas preferem ficar em pé ao invés de se deitarem, reduzindo a frequência de alimentação durante as horas mais quentes e aumentando a frequência nas primeiras horas da manhã quando a temperatura é menor.

Diminuição do consumo relacionado ao estresse

Ao longo da vida, o animal leiteiro é submetido a múltiplas condições de estresse. Estresse agudo em períodos de transição: desmame, manejos, transporte, enfermidades, etc. E estresse crônico relacionado com o ambiente: hierarquização, competição, manejo diário, densidade, alta produção, calor, ruído, etc.

De modo geral, os estímulos ambientais percebidos como estressores envolvem o feixe corticotrófico, o sistema nervoso simpático e a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Os mecanismos de sobrevivência preparam o corpo para fugir e lutar, implicando negativamente no consumo e produtividade.

As mudanças metabólicas durante o estresse são dependentes da relação entre sistema endócrino, sistema imune e estado nutricional dos animais. O estresse afeta a disponibilidade de nutrientes por regular diretamente o trato gastrointestinal, apetite, atividade e o sistema endócrino. A disponibilidade de nutrientes e o sistema endócrino regulam o sistema imune. A interação entre o sistema endócrino e o sistema imune regula a repartição de nutrientes de acordo com as necessidades da resposta ao estresse.

Outros fatores que interferem no consumo de matéria seca

O estágio da lactação influencia a IMS. Os lotes de alta produção, recém-paridas e pré-parto, podem ter muito movimento de entrada e saída de vacas, o que pode levar a muitos enfrentamentos por dominância (animais “novatos” no lote normalmente serão submissos e ficarão por último para comer).

Quantidade de camas e espaço de cocho por vaca são fatores que aliados com a dominância social podem interferir com grande peso no consumo. Quando as vacas têm pouco espaço de cocho e poucas camas para deitar haverá dominância entre elas. As vacas submissas ficarão por último para comer. Estes animais estarão muito estressados e diminuirão o consumo de matéria seca.

Empurrar ou reorganizar o trato estimula os animais a virem no cocho. Observamos IMS e produção de leite melhorada em fazendas que começaram a empurrar o trato com maior regularidade ao longo do dia. Fornecer tratos adicionais entre as ordenhas também pode estimular as vacas a consumir mais alimento, além de ser um estímulo visual as vacas têm um alimento mais novo ou fresco à disposição.

No caso específico de silagens, o teor de matéria seca (MS) tem grande influência sobre o consumo. Teores de 30 a 35% de MS propiciam uma maior ingestão pelos bovinos. Monitorar a MS da silagem com frequência é um indicador muito importante para ajustes nas dietas e cargas dos vagões misturadores.

Aditivos nutricionais

Existem aditivos nutricionais e sensoriais compostos por moléculas aromáticas específicas selecionadas por sua capacidade de impactar o sistema nervoso, reduzindo a mensagem de estresse. Estas moléculas têm efeito direto sobre a liberação de GABA, que tem efeito ansiolítico. Elas também atuam no sistema serotonina-dopamina, que estimula a mensagem do apetite, regulando o consumo voluntário de alimento. Como consequência teríamos animais menos estressados, havendo menos enfrentamentos por dominância social, consumo maior e regular de alimento mesmo nos horários mais quentes, maior frequência de idas ao cocho durante o dia e vacas mais acomodadas durante a noite.

Considerações

Muitos de nós já ouvimos falar: “o leite entra pela boca da vaca”. Não medir esforços para diminuir os estímulos estressores para as vacas leiteiras com certeza influenciará não só em consumo, como em uma melhor imunidade, produtividade e taxas reprodutivas. Fornecer conforto térmico, um bom lugar para a vaca deitar, alimento de qualidade, sempre disponível e um manejo nutricional adequado auxiliam o animal quanto a isso. Muitas vezes isso envolve investimentos em infraestrutura. Utilizar aditivos nutricionais que diminuem o estresse e regularizam o consumo de alimento é uma opção viável econômica e zootecnicamente.

Mais informações você encontra na edição de Bovinos, Grãos e Máquinas de agosto/setembro de 2017 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Veto à carne nas Olimpíadas: punição ou preservação?

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada

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Letícia Moreira - Nutricionista - Foto e texto: Assessoria

*Por Letícia Moreira

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 se aproximam e uma notícia recente tem gerado polêmica no mundo esportivo: a decisão do comitê organizador de reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Segundo o Comitê, o objetivo é limitar as emissões de CO2 decorrentes das refeições, diminuindo pela metade a pegada de carbono em comparação a edições anteriores.

No entanto, essa abordagem é uma medida nutricionalmente desequilibrada e prejudicial aos atletas, que precisam de um aporte nutricional adequado para o alto desempenho.

Diante desse cenário, é importante analisar a evolução histórica da alimentação de atletas e o papel da carne em suas dietas, bem como as perspectivas atuais sobre o tema.

Desde a antiguidade, a alimentação dos atletas tem sido motivo de debate e controvérsia. De acordo com o relato do historiador Philostratos, no início, os atletas confiavam em seus treinadores para garantir que suas necessidades nutricionais fossem atendidas. No entanto, com o tempo, os médicos assumiram o controle e os primeiros especialistas em medicina esportiva começaram a surgir.

Nesse contexto, dois importantes médicos da época, Celsus e Galeno, consideravam o consumo de proteína animal a forma mais nutritiva de nutrição para os atletas. Ambos concordavam que a carne era um alimento “forte” e nutritivo, essencial para os atletas. Galeno chegou a afirmar que a carne era o alimento mais nutritivo de todos, sendo visível nos próprios atletas o impacto positivo dessa proteína.

Outras fontes proteicas, como aves e peixes, também eram consideradas importantes.

Essa visão histórica sobre a relevância da carne na dieta de atletas encontra eco nos dias de hoje. Um exemplo notável é o caso do atleta brasileiro Alessandro Medeiros, que se tornou conhecido mundialmente por alcançar grandes feitos esportivos seguindo uma dieta exclusivamente carnívora, ou seja, à base de carne.

Medeiros, com mais de 30 anos de dedicação ao esporte, desenvolveu habilidades físicas e mentais excepcionais, conquistando colocações de destaque em ultramaratonas e eventos de resistência, como o Mundial de Ultraman na ilha de Kona no Hawaii. Sua história mostra o impacto positivo que uma alimentação adequada, focada em proteínas e gorduras animais, pode ter no desempenho atlético.

Além da questão nutricional, explicada acima, neste ano, por meio de uma parceria de trabalho estabelecida com a Connan, empresa de nutrição animal, tive a oportunidade de me aproximar e informar sobre o processo de produção da carne no Brasil, acompanhando mais de perto os movimentos da pecuária.

Esta proximidade me fez conhecer um lado da atividade que é pouco difundida entre a população em geral: os investimentos em tecnologia na produção de animais. Hoje, existem empresas e entidades focadas no desenvolvimento de soluções que garantam a qualidade do produto final, a carne, mas que também ofereçam aos bovinos melhor qualidade de vida e menor emissão de gases, com uma alimentação mais balanceada e proteica.

Além disso, técnicas de manejo que proporcionem a recuperação de pastagens degradadas, adubação qualificada, manejo do pastejo, estratégias de suplementação e dietas adequadas em confinamento são alguns métodos que têm mostrado efeito positivo na mitigação da emissão de gases de efeito estufa da pecuária.

Já há trabalhos que mostram situações em que o carbono sequestrado no solo sob pastagem contribui para um balanço positivo de carbono numa fazenda de produção pecuária, isto é, em que há mais carbono fixado do que emitido.

Não há como negar que a pecuária tem sim uma parcela importante no cenário da emissão de gases de efeito estufa, mas antes de condenar uma atividade de extrema importância para a segurança alimentar mundial, é fato que as autoridades francesas deveriam olhar para outros setores, como os de energia e de transportes, por exemplo, que também são grandes emissores e que crescem ano a ano.

Para um impacto de relevância no cenário da preservação do meio ambiente, entendo que as medidas deveriam levar em conta o todo. De acordo com relatório da organização não governamental Carbon Market Watch (CMW), a organização das Olimpíadas de Paris-2024 só apresentou estratégia robusta de cobertura para 31% de suas emissões de gases de efeito estufa. Os outros 69% não são detalhados suficientemente.

No campo dos transportes, item de maior peso nas estimativas de emissões, a CMW considera satisfatório o plano do comitê para o transporte em Paris, já que mais de 80% das instalações esportivas ficarão a um raio de 10km da Vila Olímpica. Porém, os organizadores não apresentaram algo completo, segundo a ONG, para o transporte de espectadores, atletas e jornalistas para a França.

Diante das evidências históricas e dos casos atuais, é questionável a decisão dos organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris em reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Essa abordagem, além de ser nutricionalmente desequilibrada, ignora o importante papel da pecuária no fornecimento de alimento para o mundo e pode comprometer o desempenho e a saúde dos atletas.

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada. Afinal, a dieta ideal para os atletas olímpicos deve priorizar um ótimo aporte nutricional e o atendimento de suas necessidades específicas, e não apenas uma preocupação ambiental que pode se sobrepor aos interesses da saúde e do desempenho desses esportistas de alto nível.

 

 

Referência: Uma comparação entre as dietas esportivas da Grécia Antiga e da Roma Antiga com as práticas modernas (https://www.omicsonline.org/open-access/a-comparison-of-ancient-greek-and-roman-sports-diets-with-modern-day-practices-2473-6449-1000104.php?aid=69865)

* Nutricionista formada há 18 anos pela Faculdade de Medicina de Itajubá (MG), Letícia Moreira, é especialista em dietas Low Carb, Cetogênica e Carnívora, com foco em emagrecimento e esporte de Endurance. É cofundadora da PRIMAL ENDURANCE e Nutricionista do primeiro Ultraman carnívoro do mundo, Alessandro Medeiros.

Fonte: Assessoria
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Colibacilose em bezerros: importante tipo de diarreia

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível.

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Foto: Divulgação/JÁ Saúde Animal

A saúde intestinal dos bezerros é um aspecto importante na pecuária, afinal impacta diretamente o desenvolvimento e a produtividade desses animais. Dessa forma, a manutenção de um trato gastrointestinal saudável e funcional permite a digestão e a absorção adequadas dos nutrientes. Nesse contexto, entre os principais desafios da criação de bezerros, relacionado à saúde intestinal, está a diarreia, sendo responsável por uma série de prejuízos. O problema é caracterizado por uma grande perda de líquidos e eletrólitos corporais que vão ocasionar desidratação, perda de peso, com possibilidade de evoluir para choque hipovolêmico e morte do animal.

Vários fatores podem ter relação com a ocorrência da diarreia e os agentes etiológicos causadores podem ser diversos, incluindo as bactérias (Escherichia coli, Salmonella sp., Clostridium perfringens), os vírus (rotavírus e coronavírus), protozoários (Eimeria sp. e Cryptosporidium sp.) e as verminoses. Dentre esses, um dos principais no quesito mortalidade é a Escherichia coli, bactéria gram-negativa, que de forma geral é inofensiva. Contudo, quando tipos patogênicos infectam uma população susceptível ou quando há uma somatória de fatores (ambiente, manejo, imunidade) que estimula a proliferação bacteriana ocorre a chamada Colibacilose, termo atribuído a afecções provocadas por E. coli, que consequentemente podem ocasionar quadros de diarreia.

A Colibacilose pode acontecer de três maneiras: septicêmica, enterotoxêmica e entérica. A forma septicêmica se desenvolve quando a bactéria se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, afetando geralmente bezerros que não tiveram uma boa colostragem. Nesse caso, a apresentação da afecção é aguda, variando de 24 a 96 horas, com sinais clínicos como depressão, febre alta, anorexia e taquicardia. Outra forma é a enterotoxêmica, quando a bactéria se prolifera na parte média e posterior do intestino, havendo a liberação de toxina. Nesse caso, os animais apresentam prostração intensa e morrem de endotoxemia. Por fim, existe a forma entérica, conhecida como “curso branco”, caracterizada por sinais como diarreia pastosa abundante, de coloração esbranquiçada ou amarelada, podendo progredir para diarreia aquosa severa, desidratação, acidose metabólica e morte.

Geralmente a ocorrência da Colibacilose é mais frequente em animais mantidos em confinamentos ou muito próximos uns dos outros, além de bezerros com poucos dias de vida. Outros fatores epidemiológicos que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro diarreico são: períodos chuvosos, sistemas de produção inadequados (manejo sanitário, instalações e nutrição ineficazes) e outras enfermidades como as endoparasitoses. A taxa de mortalidade pode variar de 10 a 50% para bovinos de leite criados em sistemas intensivos e de 5 a 15% para bovinos de corte. É importante salientar que ela pode chegar a 60% em propriedades com problemas de manejo.

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível. Além disso, é importante realizar a vacinação de fêmeas no pré-parto especialmente por conta da passagem de anticorpos da mãe imunizada para o bezerro, conferindo proteção durante os três primeiros meses de vida.

Para o tratamento recomenda-se a administração de antimicrobianos, sendo a Enrofloxacina um dos mais indicados, além do uso de anti-inflamatórios não esteroidais para o controle da febre, alívio da cólica e para proporcionar conforto ao animal. É importante que seja feita a reposição dos fluidos e eletrólitos pela via oral (em casos iniciais) ou pela via parenteral, pois a desidratação pode levar os bezerros à morte de forma muito rápida.

As referências bibliográficas desse texto podem ser solicitadas à autora pelo e-mail: juliana.melo@jasaudeanimal.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Juliana Melo, médica-veterinária e jornalista na JA Saúde Animal
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Indicador do Boi Gordo Cepea/B3: 30 anos de compromisso com a pecuária brasileira

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Foto: Ana Maio

Há 30 anos, o grupo de pesquisadores que formavam o Cepea já se destacava e foi o escolhido pela então BM&F para o desafio de criar um indicador de preços que substituísse a entrega física usada para a liquidação de contratos futuros de boi gordo.

Era preciso contar com uma instituição que fosse idônea, imparcial no trato das operações de compra e venda, que tivesse conhecimento científico para definir uma metodologia com reconhecimento internacional, familiaridade não só com a pecuária, mas com todo o setor em que este mercado se desenvolve, e ainda agilidade para a entrega diária de um indicador, garantindo sigilo de informação.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O Cepea atende desde então todos esses requisitos. Por 30 anos, independentemente de ocorrências como greve de trabalhadores da USP que impedisse acesso ao campus de Piracicaba, quedas de energia ou da rede telefônica, problemas de saúde dos membros da equipe ou incidentes de qualquer natureza, aconteça o que quer que seja, o Indicador do Boi do Cepea foi e continua sendo elaborado diariamente, com entrega rigorosa às 18h04 à Bolsa.

O Indicador do Boi inicialmente chamado Esalq/BM&F, hoje o Cepea/B3, é o valor oficial do boi no mercado futuro brasileiro e o referencial escolhido por inúmeros agentes, não só da pecuária, como parâmetro confiável de preço para a negociação de contratos particulares. Pela imparcialidade do Cepea e rigor na aplicação da metodologia conhecida pelo mercado, o Indicador do Boi Cepea cumpre o papel de reduzir incertezas e oportunismos no setor.

A liquidação de contratos, que nos anos 1980 e início dos anos 1990 era realizada unicamente por meio da entrega física de animais, estava suscetível a uma série de entraves.  Grande parte dos pecuaristas tinha dificuldades em formar lotes que atendessem a todos os padrões especificados e exigidos pelo contrato. Compradores, por sua vez, alegavam que muitas vezes os lotes não tinham a qualidade esperada.

Essa perda na qualidade constantemente era associada ao transporte do animal até uma das praças para entrega: Araçatuba, Barretos, Presidente Prudente e São Paulo. Determinadas fazendas ficavam bem distantes e os animais perdiam peso. Além disso, as despesas com o transporte dos lotes de boi gordo eram pauta de discussão entre o vendedor e o comprador.

A assimetria de informação entre vendedores e compradores era tamanha que, ocasionalmente, os agentes que negociavam os contratos futuros iam fisicamente às regiões de entrega dos animais – quando não possível, contratavam pessoas para fazer essa verificação –, no intuito de monitorar o processo de chegada e conferência dos lotes. O objetivo era evitar ações oportunistas.

É nesse contexto que, no começo de 1994, a Bolsa suspende momentaneamente as negociações dos contratos futuros do boi gordo e, em maio daquele ano, disponibiliza um novo formato contratual, no qual a entrega de animais deveria ser feita em um único local: Araçatuba. Alguns novos processos foram estabelecidos – como protocolos nas realizações de jejum e pesagem dos animais, entre outros – e árbitros chegaram a ser contratados pela Bolsa, no intuito de resolver as disputas de compradores e vendedores nos momentos de entrega dos lotes.

Já atenta aos custos e entraves vindos da liquidação física dos contratos de boi gordo, a Bolsa, ainda em 1993, faz uma experiência inédita para a época: busca uma terceira parte que forneça um indicador de preço do boi gordo do mercado físico do estado de São Paulo. O objetivo era utilizar tal valor como referência para uma iminente liquidação financeira dos contratos futuros do boi gordo negociados na Bolsa.

Feitas algumas apurações, fica estabelecido que o Centro de Pesquisas vinculado à Universidade de São Paulo, o Cepea, que, ressalta-se, já vinha monitorando o mercado pecuário desde 1987, seria o responsável por fornecer à Bolsa o desejado índice.

O compromisso assumido com a cadeia de bovinos de corte brasileira colocou o Cepea, a Esalq e a Universidade de São Paula na vanguarda das pesquisas e como referência de estudos para o setor.

Impulso certeiro ao mercado futuro do boi

De maio de 1994 até quase o encerramento daquele ano, os contratos negociados na Bolsa ainda eram liquidados de forma física, com entrega dos animais em curral único estabelecido em Araçatuba.

Foi em 30 de novembro de 1994, que a então BM&F lança a negociação de um novo contrato, tendo como norma sua liquidação financeira, ou seja, sem a entrega física dos animais. O contrato envolvia ainda 330 arrobas de carne e exigia animais de 450 a 550 quilos, em dólar. As posições em aberto seriam encerradas, então, pela média aritmética simples dos últimos cinco Indicadores do “Boi Gordo Esalq/BM&F” do respectivo mês.

As primeiras negociações futuras com a nova alteração no contrato começaram a ser realizadas em 16 de dezembro de 1994, envolvendo o vencimento Agosto/95. Um total de 207 contratos foram liquidados financeiramente no encerramento de agosto de 1995, ao preço médio de US$ 23,64/arroba, referência oferecida pelo Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&F.

O novo modelo de contrato prevendo a liquidação financeira impulsionou os negócios futuros de boi gordo na Bolsa. Em 1994, haviam sido negociados pouco mais de 5,6 mil contratos de boi gordo na BM&F; no ano seguinte, foram quase 39 mil.

A partir de 1996, os contratos futuros passaram a ter vencimento em todos os meses do ano. A estabilização monetária nacional, obtida com o Plano Real, a abertura comercial e a redução da intervenção do governo na economia alavancaram as negociações de futuros de boi gordo. Assim, o número de contratos negociados já se situava acima de 100 mil em 1996, atingindo patamar superior a 150 mil contratos no ano 2000.

No dia 26 de setembro de 2000, a Bolsa realiza um novo – e muito importante – ajuste no contrato futuro de boi gordo: a cotação da arroba deixa de ser em dólar norte-americano e passa a ser em Reais por arroba. A estabilidade do Real foi o principal motivo para essa alteração.

A cotação do contrato futuro do boi gordo em dólar deixava os operadores do mercado futuro (pecuaristas, intermediários, frigoríficos e outros) suscetíveis à variação cambial. Além disso, a formação do preço do boi gordo tem como fundamentos fatores domésticos, sendo influenciada sobretudo pela oferta e pela demanda. Essa mudança, portanto, permitiu melhor visibilidade aos agentes ativos na Bolsa. O primeiro contrato a ser negociado em Reais foi o de vencimento em Março/2001.

Consolidação e maturidade

O mercado futuro de boi gordo com liquidação financeira se mostrou muito dinâmico entre 2004 e 2014, período de expressivo crescimento no número de contratos. Pode-se dizer que o mercado futuro de boi gordo se consolida nesta década.

Em 2004, foram negociados 225,2 mil contratos futuros de boi gordo, subindo para a casa dos 300 mil nos anos seguintes. Em 2007, já eram mais de 934 mil contratos, atingindo o recorde de 1,6 milhão em 2008.

Entre 2014 e 2018, observa-se certo declínio e, posteriormente, retomada e estabilização no número de contratos em aberto de boi gordo, com alta no último período, devido ao crescimento do mercado pecuário brasileiro. Por outro lado, em termos financeiros, houve expressiva evolução.

Em 2021, os contratos futuros do boi gordo movimentaram mais de R$ 65,133 bilhões na Bolsa (com opções de compra e venda), sendo 57% acima do ano anterior e o maior da

década.

Importante destacar que, em outubro de 2021, o Indicador Cepea/B3 recebeu o relatório de asseguração de adesão aos princípios da Iosco (“International Organization of Securities Commissions”). O recebimento desse selo atesta que os mais elevados padrões de qualidade e critérios de governança sugeridos pela Organização Internacional são implementados e seguidos pelo Cepea e pela B3 na elaboração e no cálculo do Indicador do boi gordo.

Em 2022, mais um crescimento, e o mercado futuro chegou a movimentar R$ 65,515 bilhões. Em 2023, atingiram 781.145 mil contratos, o maior volume desde 2014, mostrando novamente o aumento do uso da ferramenta. Em valor, 2023 atingiu R$ 69,727 bilhões.

Ao completar três décadas, o Indicador se apresenta com novidades. Em breve, será anunciada uma alteração na forma de cálculo do Indicador e disponibilizado um novo aplicativo para informe de negociações. Com os parceiros certos, o Cepea honra sua raiz Esalq/Universidade de São Paulo e se mantém ano após ano com fonte confiável e imparcial, a serviço da sociedade.

Fonte: Por Alessandra da Paz, gestora da Equipe de Comunicação do Cepea
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