Colunistas Opinião
Transformação digital é o caminho para o agronegócio
Usar essas ferramentas para monitorar a saúde das culturas, fazer previsões de rendimento e gerenciar os insumos reduz o desperdício e o impacto ambiental.

Além de garantir a rentabilidade de suas operações, o agronegócio tem outra grande responsabilidade, em escala global: garantir a segurança alimentar para um mundo que, segundo a ONU, precisará de 70% a mais de alimentos até 2050 para suprir a demanda de 9,6 bilhões de habitantes do planeta.
Para responder a esse desafio, é essencial continuar investindo em tecnologias que promovam mais eficiência e produtividade, sempre levando em conta a sustentabilidade e os impactos ambientais.
O agronegócio brasileiro está em franco crescimento. Segundo o IPEA, o setor teve superávit comercial de US$ 123 milhões até novembro de 2022, 37% a mais que no mesmo período em 2021. Esse resultado se deve em grande parte à aplicação de soluções inovadoras, como automação, análise de dados, sensoriamento, sistemas de gestão e inteligência artificial. Um estudo da Embrapa mostra que cerca de 84% dos produtores agrícolas brasileiros já adotam algum tipo de tecnologia digital em sua produção.
Usar essas ferramentas para monitorar a saúde das culturas, fazer previsões de rendimento e gerenciar os insumos reduz o desperdício e o impacto ambiental. Mapas de produtividade, imagens áreas ou de satélite e sistemas de georreferenciamento permitem planejar, monitorar e gerenciar o dia a dia, garantindo prazos de entrega, estimativas e qualidade do produto. Além disso, dados gerados por essas soluções fornecem insights valiosos para maximizar a produção e a lucratividade.
Os dados são um importante ativo para a agropecuária. Ao usar a análise preditiva para projetar possíveis cenários para a tomada de decisão, o agricultor pode prever o comportamento do clima, da umidade, da temperatura e da fertilidade do solo, reduzindo custos e proporcionando o desenvolvimento mais rápido da lavoura.
As tecnologias digitais também são importantes para suprir a falta de mão de obra, pois está cada vez mais difícil encontrar profissionais que aceitem trabalhar no campo. Com a automação, equipamentos autônomos podem realizar operações e atividades, que antes necessitavam de muitas pessoas, com mais eficiência e menos perdas.
Mas o uso da automação vai além de plantar e colher. Com Inteligência Artificial, drones fazem varreduras nas lavouras identificando ervas daninhas e mapeando plantas doentes antes que a contaminação se espalhe. Na pecuária, alimentadores e bebedouros automatizados garantem que os animais recebam a quantidade certa de ração e água. E sistemas de climatização autônomos mantêm a temperatura ideal no sistema de confinamento, sem necessidade de ação humana.
Pesquisa da Mckinsey & Company aponta que o Brasil ocupa o terceiro lugar na aplicação de tecnologia no agronegócio, atrás da Europa e da América do Norte. Por outro lado, o país lidera quando se trata do uso de hardware para agricultura de precisão e de tecnologias relacionadas à sustentabilidade. Ou seja, o setor tem evoluído e colhido benefícios substanciais.
A cada ano, o Brasil se consolida entre os maiores produtores de alimentos do mundo, e os investimentos em tecnologia são primordiais para manter esse avanço – sempre com eficiência e sustentabilidade.

Colunistas Opinião
As biossoluções e as transformações possíveis na agricultura brasileira
A crescente demanda por alimentos coloca pressão sobre a agricultura para aumentar a produção.

O mundo enfrenta uma série de desafios que impactam a vida de milhões de pessoas, entre eles as mudanças climáticas e a necessidade de se produzir cada vez mais alimentos para atender a uma população crescente. Neste contexto, a biotecnologia emerge como uma ferramenta que pode impulsionar a produção agrícola, contribuir para a segurança alimentar e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental. Um estudo recente, intitulado “Estudo do Hectare – Desbloqueando potenciais produtivos no mesmo espaço de terra com biossoluções no país”, lança luz sobre o potencial que as biossoluções têm na cadeia de valor agrícola do Brasil.
A crescente demanda por alimentos coloca pressão sobre a agricultura para aumentar a produção. E as biossoluções (como enzimas e microrganismos) podem contribuir, especialmente em um país como o Brasil, que tem um papel fundamental na produção de alimentos em escala global. As enzimas são proteínas que atuam como catalisadores. Quando uma substância precisa ser transformada em outra, a natureza usa enzimas para acelerar o processo.
O “Estudo do Hectare”, desenvolvido pela Novozymes, considerou duas safras no ano, uma de soja e outra de milho. No modo convencional de produção, sem o uso de biossoluções, um hectare, de acordo com uma produção extraída dos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), consegue produzir soja e milho para alimentar 2.340 frangos até a fase adulta (cerca de um ano) e fornecer óleo de soja para a produção de 746 litros de biodiesel. Se biossoluções forem utilizadas no processo produtivo, é possível alimentar 2.400 frangos por hectare sem alterar a quantidade inicial de ração, e a produção de biodiesel chegaria a 790 litros.
Além disso, a utilização de inoculantes, produtos compostos por grande quantidade de bactérias (as mesmas que já são encontradas no solo), aumentaria a produtividade das lavouras. O milho adicional, por exemplo, poderia ser usado para a produção de 83 litros de etanol à base de amido. A soja proveniente da produção deste hectare poderia ser utilizada para a produção de 224 kg de ração rica em proteínas. Além disso, a utilização de biossoluções no processo gera economia na aplicação de nitrogênio e de fósforo devido ao uso de microrganismos que solubilizam os nutrientes, o que facilita a absorção das plantas tornando-as mais produtivas.
Além de mais produção, a adoção de biossoluções, considerando-se todos esses processos, geraria, por hectare/ano, uma redução total nas emissões de gases do efeito estufa (GEE) de 1 tonelada métrica de dióxido de carbono equivalente.
Em termos de sustentabilidade, o estudo demonstra que as biossoluções representam um exemplo inspirador de como a ciência pode se unir à agricultura para atender às necessidades do nosso planeta. À medida que continuamos a desenvolver e adotar essas tecnologias, estamos um passo mais próximos de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. A aplicação das biossoluções pode ajudar a mitigar as mudanças climáticas (ODS 13), produzir mais energia renovável (ODS 7), combater a fome (ODS 2) e estimular o crescimento econômico (ODS 8).
Enquanto avançamos, é essencial continuar apoiando a pesquisa e a adoção dessas soluções inovadoras. Elas têm o potencial de impactar não apenas o Brasil, mas também o mundo, pois precisamos trabalhar juntos para enfrentar os desafios ambientais e alimentares que temos diante de nós.
Colunistas Opinião
Microcrédito pode ser a chave para Brasil se manter na dianteira da agricultura mundial
A tecnologia agrícola no Brasil avançou rapidamente, superando os desafios climáticos associados à tropicalidade do país e à predominância da caatinga em grande parte de nosso território.

O Brasil é reconhecido e admirado mundialmente por seu potencial na área da agricultura, principalmente por países como Angola, que possui uma caatinga similar a nossa. Por possuir terras férteis, clima favorável e uma biodiversidade ampla, o nosso país é um dos maiores produtores e exportadores de commodities agrícolas do mundo. Além disso, a crescente adoção de tecnologias modernas, como a agricultura de precisão e a biotecnologia, por exemplo, têm impulsionado a produtividade e a eficiência no setor. Mesmo com estes avanços, o país ainda não atingiu nem metade de sua capacidade de produção agrícola.
A tecnologia agrícola no Brasil avançou rapidamente, superando os desafios climáticos associados à tropicalidade do país e à predominância da caatinga em grande parte de nosso território. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realizou estudos para enfrentar esses imprevistos, resultando em descobertas significativas sobre o cultivo em diferentes tipos de solo. Graças a esses avanços, atualmente é possível realizar cultivos de soja mesmo em áreas arenosas.
Esses avanços permitiram que nosso país saísse de apenas um importador para exportador de alimento e conquistasse um polo de tecnologia e inovação agrícola. Hoje, o Brasil continua a desempenhar papel fundamental no fornecimento de alimentos, biocombustíveis e matérias-primas agrícolas para o mercado global, tornando-se um player relevante na economia global. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – (FAO), o Brasil poderá ser responsável por 40% da produção agrícola mundial em 30 anos.
Mas, para ocupar o lugar previsto pela FAO, apenas o avanço de tecnologias que contribuam para produtividade agrícola não é suficiente. Aliado a isso, é necessário ampliar a disponibilidade de microcrédito e o estabelecimento de cooperativas. Gosto de comparar o microcrédito ao sangue e as cooperativas ao coração, pois uma depende da outra. A chave para o sucesso e expansão reside na sinergia entre esses dois componentes, que avançam lado a lado.
No Brasil existe uma enorme quantidade de microprodutores, que produzem apenas o necessário para sobreviver, justamente pela dificuldade em conseguir crédito no mercado que possibilitem a compra de mais sementes e maquinários adequados para a expansão de suas plantações. Outro ponto importante são as cooperativas. Elas são responsáveis pelo acesso aos maquinários e, além disso, têm muito a ensinar, já que são, essencialmente, várias pessoas se unindo com um único objetivo.
No cenário atual, também é possível observarmos uma crescente pressão sobre o setor do agronegócio, impulsionada pela expectativa de produção em consonância com princípios ambientais e sociais. Neste contexto, se destacam empresas e comerciantes que sabem como lidar com as questões relacionadas à inflação e aumento de preços. À medida que a consciência ambiental aumenta globalmente, a demanda por práticas agrícolas sustentáveis se intensifica, colocando o agronegócio em posição crucial na busca por soluções que equilibrem eficiência produtiva com responsabilidade ambiental.
Nos dias de hoje, é de extrema importância a necessidade de aumento de investimentos em inovação agrícola, sustentabilidade e tecnologias eficientes para aumentar a produtividade com redução de danos ao meio ambiente. Atuo em diversos projetos voltados para investimento no segmento e o ESG é um dos pilares que precisa sempre andar em conjunto. Acredito que fomentar, produzir e distribuir são três palavras-chaves que devem estar no radar ao investir nesses projetos. Não é apenas colocar o dinheiro, mas é necessário pensar na cadeia produtiva como um todo. No contexto mais amplo das preocupações globais com a sustentabilidade, a integração dos princípios ESG (Ambiental, Social e de Governança) torna-se cada vez mais crucial.
As empresas do setor agrícola devem adotar medidas que não apenas visam a produtividade e rentabilidade, mas também consideram os impactos ambientais, a promoção de condições de trabalho justas e a transparência nos processos de governança. Dessa forma, não apenas atendem às expectativas da sociedade e dos investidores em relação à responsabilidade corporativa, mas também fortalecem a posição do Brasil no cenário internacional como um líder comprometido com práticas sustentáveis e responsáveis.
Colunistas
Conhecimento e sucessão no campo
Os jovens estão voltando porque o campo vive um novo tempo.

O campo vive uma nova realidade. A ciência e tecnologia estão presentes em todas as atividades agrícolas, pecuárias, extrativistas, da fruticultura, da olericultura etc. Todas as atividades do agro foram tecnificadas – e essa foi a condição que o mercado impôs para a busca da eficiência, fulcrada na elevação sustentável da produção e da produtividade.
Alcançar esse estágio foi uma conquista obtida a muitas mãos. Os centros de pesquisa da agricultura tropical brasileira – com acentuado mérito para Embrapa – estão entre os protagonistas desse círculo virtuoso. Mas é preciso acrescentar o papel das cooperativas e suas agroindústrias como difusoras e incorporadoras das novas tecnologias no campo com o inegável apoio do Sistema S, notadamente o Sescoop (aprendizagem do cooperativismo), do Senar (aprendizagem rural) e do Sebrae (micro e pequenas empresas).
Centenas de programas de alto nível foram desenvolvidos diretamente nos estabelecimentos rurais nos últimos 30 anos, com milhares de ações de qualificação e requalificação de produtores e trabalhadores rurais com o apoio e patrocínio das cooperativas, das agroindústrias e do Sistema S. Exemplos marcantes são os programas De Olho na Qualidade, Qualidade Total Rural, Times de Excelência, Suíno Ideal, Franco Ideal e Bem-estar Animal, entre outros que, ao longo do tempo, evoluíram para o Encadeamento Produtivo e estão todos abrigados no guarda-chuva do Programa Propriedade Rural Sustentável Aurora. Ou seja, muito antes de seu surgimento conceitual, a agenda ESG era prática cotidiana dos atores que fazem do agro brasileiro um notável setor de vanguarda. Nesse particular, inclusive, é importante observar que os princípios basilares do cooperativismo universal, desde seu surgimento, continha com outra roupagem o DNA da filosofia ESG
É notório que a crescente incorporação de ciência e tecnologia conferiu ganhos de escala às propriedades rurais que passaram a ser geridas como verdadeiras empresas, comprometidas com a busca de resultados, em um regime de sustentabilidade e de proteção aos recursos naturais – condição sine que nom para a perenidade do negócio.
A conquista desse status trouxe um benfazejo efeito paralelo o qual, em verdade, representa o principal ganho de todos esses esforços: trata-se da presença dos jovens no ambiente rural. Os jovens estão voltando porque o campo vive um novo tempo. Permanecem as ameaças típicas do meio – fenômenos climáticos, doenças, pragas, crises de mercado, escassez de crédito etc. – mas o setor primário da economia modernizou-se e criou novas perspectivas de futuro para as famílias rurais, com evidente elevação da qualidade de vida.
A presença do jovem assegura sucessão nas propriedades rurais, equacionando uma questão que preocupava os formuladores de políticas públicas para o agro. O envelhecimento da população rural e a fuga dos jovens era um processo socioeconômico e demográfico visto, até recentemente, como uma questão dramática para o futuro do agronegócio verde-amarelo. Essa constatação reforça a convicção de que o caminho é persistir nos programas que levam conhecimento produzem efeitos sociais, ambientais e econômicos para o rico e multifacetado universo rural.