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Avicultura

Sustentabilidade com iminência da Influenza aviária é cuidar da saúde dos planteis, destaca diretora da ABPA

Boas práticas de manejo sanitário asseguram a produtividade das aves de postura nas granjas brasileiras.

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Foto: Giuliano De Luca/OP Rural

A sustentabilidade aplicada ao setor de ovos é um pilar importante para garantir a continuidade e o desenvolvimento da avicultura de postura a longo prazo, por meio da adoção de práticas sustentáveis e da garantia da saúde e do bem-estar das aves. Isso contribui para a produção de ovos de qualidade, com menor impacto ambiental e maior segurança alimentar para os consumidores.

Boas práticas de manejo sanitário para prevenir e controlar doenças, programa rígido de biosseguridade, alimentação equilibrada, o acesso a água limpa e fresca, espaço suficiente para que elas possam se movimentar e se alimentar adequadamente, além de condições ambientais adequadas, como temperatura, umidade, luminosidade e ventilação asseguram a produtividade das aves de postura nas granjas brasileiras.

Assim como a sustentabilidade na avicultura de postura também envolve a adoção de práticas que visem à redução do impacto ambiental da produção de ovos, que pode ser feito por meio da redução do uso de recursos naturais, como água e energia, e da minimização da geração de resíduos e poluentes.

Diretora técnica da Associação Brasileira de Nutrição Animal (ABPA), Sula Alve – Foto: Mario Castello

Sobre a sustentabilidade aplicada ao setor de ovos, a saúde animal como pilar primordial para a sustentação do setor e a iminência da Influenza aviária, a diretora técnica da Associação Brasileira de Nutrição Animal (ABPA), Sula Alves, concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, que você confere abaixo.

O Presente Rural – Qual a importância da sustentabilidade e da ambiência na produção de ovos de consumo?

Sula Alves – A ambiência, assim como a sustentabilidade, vai muito além do conforto térmico em si, diz respeito a um aspecto social e também econômico. Quando pensamos em ambiente, na questão de sustentabilidade para produção de ovos de consumo, nos remete ao bem-estar animal e na forma como a produção é vista pelo consumidor, inclusive a avicultura de postura foi, de certo modo, uma vanguardista das instruções acerca de bem-estar animal ao trazer para dentro do setor a importância da cadeia avícola se atentar para o bem-estar das aves, adotando uma nova abordagem nos processos produtivos.

A avicultura quando comparada com outras atividades agropecuárias é uma atividade de baixo impacto ambiental em decorrência da sua eficiência produtiva, uma vez que adota maior controle sanitário sobre a produção, realiza o monitoramento da qualidade da água, a iluminação e a ventilação das granjas, adota programas de biosseguridade e automação dos processos, o que tem contribuído para o aumento dos coeficientes de produção da atividade avícola.

Outra questão está relacionada há uma necessidade de modernização dos galpões, que muitas vezes é impulsionada pelo mercado consumidor, porém a modernização para a eficácia da produção não necessariamente passa pela demanda do consumidor, mas, sim, diz respeito a tecnificação para o aumento dos coeficientes de produção, que, por sua vez, também melhoram a sustentabilidade do negócio e contribuem para a própria evolução da avicultura ao aprimorar índices zootécnicos e aumentar sua eficiência produtiva, o que demonstra o caráter de sustentabilidade do avanço tecnológico da nossa atividade, porque se hoje se produz mais ovos por poedeira/ano é em função de uma eficiência zootécnica da produção.

E muitas vezes pensamos em tecnificação e na mecanização de processos, na adoção de sistemas modernos, mas não podemos esquecer que a modernização começa pela própria genética avícola, que tem evoluído cada vez mais ao longo das últimas décadas, com índices zootécnicos mais eficientes, resultando em maior produtividade, isso também é pensar em sustentabilidade, em como eu consigo produzir alimentos com menor necessidade de recursos, menor quantidade de input para produzir um produto cada vez mais acessível, que mantém a sua qualidade nutricional. O ovo é um dos mais completos alimentos em termos nutricionais e também um dos produtos mais democráticos.

O Presente Rural – Como a adoção de práticas sustentáveis impacta a produção de ovos de consumo no Brasil?

Sula Alves – Já temos alguns benchmarks de empresas que adotam práticas ambientais e produtivas em questões relacionadas ao bem-estar animal, independente de obrigações legais. A indústria tem avançado muito com seu compromisso em ser mais sustentável e isso logicamente tem impulsionado uma indústria que antes tinha um nicho muito pequeno e agora cada vez mais está alcançando espaço de mercado, ao passo que o consumidor também percebe o valor agregado destes produtos.

Existem muitos ganhos quando uma empresa tem melhoria nos processos, redução de perdas ou desperdício na produção e utilização de uma cadeia de ciclo fechado, uma vez que por estarem tecnificando a sua produção, por exemplo, conseguem ter mais eficiência no aproveitamento de resíduos e geram renda com isso. A exemplo de uma produção de ovos em que a empresa utiliza o esterco das galinhas para fertilização do solo e isso é uma prática altamente sustentável. Qual indústria consegue praticamente fechar sua cadeia com aproveitamento de tudo como a gente constata na avicultura de postura? Então isso impacta muito positivamente a escala de um produto, por ter uma simplicidade e uma acessibilidade tão grande como é o caso do ovo em todos os aspectos.

O Presente Rural – Quais são os principais aspectos ambientais que devem ser considerados na avicultura de postura?

Sula Alves – Devem ser considerados aspectos desde da ambiência de produção – uma vez que só consegue ter eficiência produtiva quando se oferece o mínimo de conforto para o animal -, que incluem ventilação, temperatura e iluminação, assim como os aspectos ambientais da estrutura do galpão também exigem atenção, deve ser todo vedado e telado para evitar a entrada de outros animais. Então não tem como você desconsiderar o cuidado, embora não esteja diretamente ligado à eficiência produtiva vai trazer retorno.

A ambiência, conforto térmico e bem-estar dos animais tem se evoluído muito nos últimos anos. Outro ponto muito importante gira em torno de eficiência energética, que não deixa de ser importante também na cadeia produtiva. Hoje têm muitas granjas evoluindo não só na parte de produção, mas na parte estrutural como sala de ovos, com sistema de luz através da geração de energia limpa, gerada por painéis solares, o que contribui na redução do consumo energético da propriedade. Não se consegue produzir de forma eficiente se tem perdas e desperdícios e isso vai permear por toda a cadeia.

O Presente Rural – Quais são os sistemas de produção que garantem melhor eficiência produtiva na avicultura de postura?

Sula Alves – O animal responde diretamente pelo conforto térmico e ambiental, então não há como o avicultor investir em sistemas produtivos que vão zelar pelo conforto e o bem-estar dos animais e não ter retorno produtivo. Contudo, caso o produtor verifique baixa eficiência produtiva do seu plantel possivelmente os índices zootécnicos das aves devem ter sido afetados pela qualidade do ambiente em que elas estão. Ao longo dos últimos anos, a ambiência evoluiu muito, tanto na qualidade do meio quanto da criação animal até a arquitetura da instalação, o tipo de material que é utilizado e o atendimento das necessidades fisiológicas das aves, fatores esses que, com a modernização do sistema produtivo, tem tido cada vez mais atenção.

Modelos de gaiolas mais modernos, ou mesmo em outros sistemas de criação livre de gaiolas, tem se priorizado esse ambiente mais social atrelado ao conforto dos animais, no entanto é preciso destacar que quando falamos de sustentabilidade não podemos deixar de pensar na parte da sanidade, principalmente no atual momento que a nossa avicultura vive, na iminência da Influenza aviária (IA), com vários países vizinhos enfrentando uma crise em decorrência da doença, percebemos o quanto tem se buscado priorizar as questões sanitárias confinando as aves.

Em relação aos animais criados soltos, que muitas vezes se entende terem melhor condição de bem-estar, não necessariamente, porque o risco da criação de aves soltas no atual momento é muito maior, então é preciso priorizar a saúde dessas aves evitando sua exposição, o que também está ligado ao bem-estar do animal.

A criação de sistemas alternativos merece uma atenção nestes momentos. Então, o que você vai priorizar para o animal, ainda mais neste contexto de IA, há uma necessidade de colocar em escala de priorização o que é preciso oferecer para este animal em função do ambiente em que ele vive, para que possa ter um retorno o mais positivo possível.
Neste momento de iminência da IA é preciso pensar que o risco para a saúde animal também é aspecto do bem-estar, sendo que as galinhas criadas em ambiente aberto correm um risco mais alto de contágio, por isso, é necessário cuidar dessa parte, pois a parte da ambiência também envolve você avaliar a exposição do animal e as necessidades que ele tem naquele momento.

O Presente Rural – Quais são os principais desafios enfrentados na busca pela sustentabilidade na produção de aves de postura?

Sula Alves – A criação de aves em sistemas com acesso ao ar livre é considerada mais sustentável, entretanto, o que muitas vezes existe hoje é uma avaliação um tanto limitada sobre o que de fato é sustentável para aquela produção. Logicamente que têm alguns nichos de mercado, com produtos diferenciados, que têm essa pegada de maior sustentabilidade, no sentido amplo de dizer que se tem preocupação com a parte ambiental e também o entendimento de que é uma exigência do consumidor, mas existe uma barreira que talvez seja aquilo que hoje ainda é colocado como de interesse do consumidor e a forma como isso é traduzido em atitude de compra.

Muitos produtores, não só de ovos, colocam que muitas vezes não há um retorno sobre o que tem sido investido para entregar as práticas sustentáveis de produção e que são colocadas como prioridades ou como de valor agregado para aquela produção, o que encarece o sistema produtivo, situação que desencoraja o produtor a adotar porque o retorno é mais demorado e muitas vezes acaba que o consumidor não entende o valor daquele produto, do porque tem um custo mais alto, então o que precisa ter é além de conscientização que o consumidor tenha condições de pagar por aquele produto que, com certeza, tem um valor de mercado maior porque ele exigiu um investimento maior.

Então, talvez isso seja um dos empecilhos para se adotar práticas mais sustentáveis na produção, e isso não é uma particularidade do produtor brasileiro.

De maneira geral, o relato das indústrias é que não há uma clareza ou um retorno imediato do investimento e isso gera um empecilho, porque é preciso pensar no custo-benefício do sistema produtivo mais sustentável. Por outro lado, têm empresas avançando bastante com produtos de mercado, existe alguns nichos, mas ainda não é a realidade de todos os consumidores, então acaba não sendo uma realidade também de todos os produtores.

O Presente Rural – E como a utilização de tecnologias sustentáveis pode reduzir os impactos ambientais na produção de ovos?

Sula Alves – Assim como para qualquer outra atividade a eficiência energética é um dos fatores que pode reduzir o impacto ambiental da atividade, porque a energia é um dos custos que mais impactam a atividade, além de que a adoção de tecnologias mais sustentáveis também reduz custos ao evitar perdas e desperdícios dos insumos usados na produção, dentre outras medidas sanitárias e de biossegurança que vão trazer um maior retorno econômico e uma maior eficiência na produção. Não tem como pontuar exatamente quais aspectos em sustentabilidade e os retornos que isso traria, porque varia muito dentro da valorização de cada produto.

O Presente Rural – Quais são os benefícios econômicos que se tem a partir do momento que se adota práticas sustentáveis na produção de aves de postura?

Sula Alves – Está muito atrelado à valorização que o consumidor vai dar àquele produto com valor agregado e uma produção diferenciada. Desde que o produtor consiga vender o produto com esse valor agregado, mostrando sua diferenciação ao mercado, o que justifica seu valor, é que de fato vai ter um retorno financeiro sobre o emprego sustentável da atividade e é o que vai definir realmente o investimento que vai fazer para manter esse produto diferenciado no mercado, ou seja, os benefícios econômicos serão proporcionais aquilo que se consegue transferir para esse produto.

O que vejo que ainda falta é esclarecer a diferenciação de cada produto para que o consumidor tenha clareza para fazer uma melhor escolha na hora da compra. E isso é um processo de educação do consumidor, a exemplo da trajetória de países europeus que começaram com práticas e sistemas mais alternativos e tiveram as mesmas dificuldades que estamos enfrentando hoje. É preciso informar melhor o consumidor para que ele compreenda essa diferenciação de produto e passe a entender o seu valor agregado, do porquê está pagando mais por determinado produto.

O Presente Rural – Como a comunicação pode influenciar a percepção do consumidor em relação ao consumo de ovos?

Sula Alves – A ampla comunicação associada ao sistema produtivo mais sustentável deve ser o nosso grande diferencial, porque quando tivermos consumidores conscientes sobre a forma de produção e os benefícios de determinado produto vamos estar estimulando o consumo de produtos que ‘conversam’ mais com aquilo que os consumidores valorizam, essa seria uma boa forma de melhoria para todo o processo. O ovo é um produto que saiu da condição de vilão para hoje ser um grande aliado da nutrição humana e isso demorou a acontecer porque justamente havia mito e a falta de conhecimento. Então o ovo é um grande case nosso sobre a necessidade de se trabalhar a educação do consumidor, para que ele não acredite em crendices ou em questões mal informadas, até porque a informação é e sempre será a nossa maior aliada para desmitificar mitos.

É preciso se avaliar muito bem quais melhores meios para se chegar aos consumidores, para que eles entendam o valor de um produto e possam, com este entendimento, privilegiar aqueles produtos que estão investindo em melhores produções e em boas práticas de bem-estar animal.

Tanto a ABPA quanto o Instituto Ovos Brasil têm feito um trabalho de comunicação importante sobre a qualidade do ovo, tirando o estigma sobre o que é o ovo e transformando-o em um produto como ele de fato deve ser visto e valorizado, para então se gerar um senso crítico sobre o produto e, quem sabe, trazer à mesa um equilíbrio para a percepção dos consumidores.

O Presente Rural – Mesmo com tantas notificações em países vizinhos, o Brasil segue livre da Influenza aviária. Até quando isso será possível controlar?

Sula Alves – Não temos como evitar a entrada da Influenza aviária por meio de aves silvestres, que é um dos principais vetores da doença e justamente onde permeia a nossa vulnerabilidade, uma vez que não conseguimos deter a entrada de aves silvestres no país, ou seja, é uma questão que não está necessariamente sob o nosso controle. Entretanto, o que podemos controlar para evitar a entrada da doença em uma criação de subsistência está sendo adotado, com intensificação dos programas de biosseguridade e protocolos rigorosos de sanidade nas unidades de produção e em seu entorno.

Uma vez que a doença entrar no país por aves silvestres sem atingir lotes comerciais não haveria um impacto tão grande para a cadeia produtiva brasileira em relação ao comércio internacional e ao abastecimento interno, cenário diferente se considerarmos em uma escala de produção de subsistência geraria um impacto comercial enorme. Então a gente não tem como garantir, mas é lógico que a biosseguridade é uma ferramenta importante que a gente tem o compromisso de cuidar, não elimina o risco de uma ocorrência, mas mitiga bastante.

Existem medidas de biosseguridade que são muito simples como a higienização de equipamentos, veículos e das instalações, isolamento das granjas e uso de telas para evitar entrada de animais e pessoas estranhas acessando o plantel, medidas mínimas que já adotamos há muito tempo visando qualquer outro tipo de doença visível ou invisível. A questão de trânsito de caminhões, temos tido bastante cuidado. Para onde exportamos aves tomamos o cuidado de não importar animais vivos e nem de países que foram atingidos pela Influenza aviária, bem como existe todo um controle sobre entrada e saída do Brasil de animais. Nós exportamos material genético para a Bolívia, por exemplo, mas existe um protocolo que vem sendo aplicado pelas empresas que circulam com esses caminhões para que esses veículos sejam higienizados em seu retorno, minimizando desta forma o risco de trazer contaminação por essa via.

O Presente Rural – Você tem mais alguma contribuição para fazer referente essa importância sustentabilidade aplicada ao setor de ovos e a saúde animal como pilar primordial pra sustentação do setor?

Sula Alves – Estamos vivendo um momento muito complexo com a iminência da Influenza aviária, por isso é preciso lembrar que a sustentabilidade ela passa primeiro pela saúde animal, é preciso cada vez mais termos uma abordagem multisetorial, integrada e unificadora do conceito de saúde única na cadeia produtiva brasileira, para que possamos equilibrar e otimizar de forma sustentável a saúde de pessoas, animais e do sistema produtivo e seu entorno. Por sua vez, o conceito de sustentabilidade é uma base que depende de um tripé, que envolve fatores sociais, econômicos e ambientais, que estão atrelados à saúde única.

Este momento de crise sanitária, como estamos vendo em diversos países, tem nos mostrado a importância de termos em nossa cadeia esse equilíbrio. Esse é um recado importante para pensarmos em quais são as prioridades de cada momento, porque é isso que vai dar o caráter sustentável de uma atividade e vai mostrar o quão preparados estamos para enfrentar os desafios que nos são impostos.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse gratuitamente a edição digital Avicultura Corte e Postura. Boa leitura!

 

Fonte: O Presente Rural

Avicultura

Especialista aponta desafios e estratégias na nutrição para aumentar imunocompetência em frangos de corte

Estratégias de manejo alimentar, como a formulação de dietas balanceadas e enriquecidas de nutrientes específicos, uso de aditivos alimentares para promover a saúde intestinal, implementação de programas de vacinação e o monitoramento da qualidade da água de bebida são essenciais para fortalecer a imunocompetência em frangos de corte desde a fase inicial.

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Em tempos em que a produção avícola enfrenta desafios complexos, compreender como a nutrição afeta diretamente a capacidade imunológica das aves desde os estágios iniciais pode representar um diferencial significativo para os produtores. As implicações dessas descobertas não apenas podem otimizar os resultados de produção, mas também contribuir para o bem-estar e a saúde das aves, garantindo um setor avícola mais resiliente e sustentável. A imunocompetência nas fases iniciais e sua relação com a nutrição foi tratada pelo médico-veterinário e professor de Vacinologia Veterinária na Universidade Federal do Paraná, Breno Castello Branco Beirão, no 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), evento realizado em meados de abril, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC).

Médico-veterinário e professor de Vacinologia Veterinária na Universidade Federal do Paraná, Breno Castello Branco Beirão: “A qualidade da dieta da matriz afeta a transferência imune pelo ovo, ou seja, há efeitos indiretos da qualidade da dieta da matriz sobre a progênie” – Foto: Divulgação

Durante sua palestra, o profissional tratou sobre os desafios nutricionais, estratégias de manejo alimentar e os impactos na saúde e desempenho das aves, destacando a importância vital dessa abordagem para uma produção avícola resiliente e sustentável. “Uma nutrição adequada desempenha um papel fundamental na saúde e no desempenho das aves de corte, especialmente durante as fases iniciais de crescimento. Além disso, a prevenção de doenças através do fortalecimento do sistema imunológico é essencial para garantir a produtividade e a rentabilidade da produção avícola”, afirmou o docente.

A imunocompetência nos estágios iniciais da vida é um fator determinante que afeta diretamente a saúde e a produtividade das aves de corte. Beirão explica que as aves não nascem com o sistema imunológico totalmente desenvolvido, sendo que ele amadurece gradualmente nos primeiros dias de vida em contato com o ambiente. “Esse período inicial é crítico, pois as aves são mais suscetíveis a invasões por patógenos, exigindo atenção especial dos produtores para garantir sua saúde e bem-estar”, aponta.

Além disso, Beirão diz que é fundamental compreender que se o sistema imunológico for comprometido durante essa fase, seu amadurecimento pode ser prejudicado, resultando em um estado imunológico imaturo, que persistirá ao longo da vida da ave.

Em relação aos nutrientes essenciais para promover a imunocompetência em pintinhos de corte e sua influência na resistência a doenças, Beirão destaca que todos são fundamentais, no entanto, alguns se destacam por sua importância, uma vez que apresentam um impacto significativo na resposta imunológica. “A constituição proteica da dieta é considerada o principal fator, sendo indispensável para o desenvolvimento da imunidade. Sem uma quantidade adequada de proteínas na dieta, a imunidade fica comprometida. Além disso, outros nutrientes desempenham papéis essenciais, como os micronutrientes, incluindo o zinco, e as vitaminas, entre as quais a vitamina A, fundamental para a saúde das mucosas, uma barreira importante contra patógenos”, esclarece.

Importância da dieta materna

O papel da dieta materna na imunocompetência dos pintinhos de corte durante a fase de incubação e eclosão é de extrema importância. A qualidade e composição da dieta da matriz afetam diretamente o desenvolvimento do sistema imunológico dos pintinhos antes mesmo de eles eclodirem. “Vitaminas, minerais e antioxidantes presentes na dieta da matriz são transferidos para os embriões através dos ovos e desempenham um papel fundamental na formação e maturação do sistema imunológico dos pintinhos. Além disso, a qualidade da dieta da matriz afeta a transferência imune pelo ovo, ou seja, há efeitos indiretos da qualidade da dieta da matriz sobre a progênie”, ressalta.

Efeitos de dietas desequilibradas

Dietas desequilibradas ou deficientes em nutrientes essenciais podem ter impactos significativos na saúde das aves, especialmente em termos de imunidade e saúde intestinal. Embora seja verdade que na avicultura comercial os programas de alimentação sejam geralmente bem formulados para atender às necessidades nutricionais das aves, ainda existem situações em que desequilíbrios momentâneos podem ocorrer, especialmente durante períodos de estresse ou desafios imunológicos. “Um sistema imunológico enfraquecido devido à deficiência nutricional pode resultar em uma resposta imune inadequada às infecções, tornando as aves mais propensas a ficarem doentes e a experimentarem taxas mais altas de mortalidade”, expõe o médico-veterinário.

Além disso, dietas deficientes também podem afetar negativamente a saúde intestinal das aves. O intestino é um órgão crucial para a absorção de nutrientes, e qualquer perturbação em sua função pode levar a distúrbios digestivos e redução na absorção de nutrientes. Beirão diz ainda que é essencial garantir que as aves recebam uma dieta equilibrada e adequada em todos os estágios de seu ciclo de vida. “Isso não apenas vai promover a saúde e o bem-estar das aves, mas também vai contribuir para a produtividade e a rentabilidade da produção avícola”, pontua.

Estratégias de manejo alimentar

Estratégias de manejo alimentar, como a formulação de dietas balanceadas e enriquecidas de nutrientes específicos, uso de aditivos alimentares para promover a saúde intestinal, implementação de programas de vacinação e o monitoramento da qualidade da água de bebida são essenciais para fortalecer a imunocompetência em frangos de corte desde a fase inicial.

Os probióticos, por exemplo, são microrganismos benéficos que podem ajudar a restaurar e manter o equilíbrio da microbiota intestinal, contribuindo para uma melhor saúde digestiva e imunológica. Os prebióticos, por sua vez, são substâncias que estimulam o crescimento e a atividade desses probióticos no trato gastrointestinal, promovendo um ambiente intestinal saudável. Ácidos orgânicos e antioxidantes também podem desempenhar papéis importantes na redução da carga bacteriana patogênica e na proteção das células contra danos oxidativos, respectivamente, contribuindo para uma melhor saúde geral das aves.

Além disso, é essencial monitorar e garantir a qualidade da água de bebida fornecida às aves. “A água desempenha funções essenciais na fisiologia das aves e pode afetar diretamente a digestão e a absorção de nutrientes. Água contaminada ou de má qualidade pode comprometer a saúde das aves, tornando-as mais suscetíveis a doenças e prejudicando a eficácia da nutrição fornecida através da dieta”, reforça Beirão.

Desafios nutricionais

Os desafios nutricionais enfrentados durante a fase inicial de crescimento das aves de corte são diversos e podem ter impactos significativos na imunocompetência e no desempenho geral das aves. “Um dos principais desafios é garantir que as aves recebam uma dieta balanceada e de alta qualidade desde o início. Isso envolve fornecer os nutrientes essenciais necessários para um crescimento saudável, bem como evitar deficiências ou excessos que possam comprometer a saúde das aves”, salienta o especialista.

Além disso, garantir a ingestão adequada de nutrientes essenciais é fundamental para promover a imunocompetência das aves. “Deficiências de nutrientes importantes, como vitaminas, minerais e aminoácidos, podem enfraquecer o sistema imunológico das aves, tornando-as mais suscetíveis a doenças e infecções”, menciona o profissional.

Segundo Beirão, outro desafio nutricional importante é lidar com fatores ambientais que podem afetar a ingestão de alimentos e a absorção de nutrientes pelas aves. “Mudanças na temperatura ambiente, estresse térmico, qualidade do ar e outros fatores ambientais podem influenciar o comportamento alimentar das aves e sua capacidade de absorver nutrientes adequadamente”, afirma o médico-veterinário.

Esses desafios nutricionais não apenas representam obstáculos para o crescimento e o desenvolvimento saudável das aves, mas também têm um impacto direto na imunocompetência das aves, tornando-as mais suscetíveis a doenças e comprometendo seu desempenho geral. “É essencial adotar estratégias de manejo alimentar eficazes para enfrentar esses desafios e garantir a saúde e o bem-estar das aves desde as fases iniciais de crescimento. Isso inclui a formulação cuidadosa de dietas balanceadas, o uso estratégico de suplementos nutricionais, o monitoramento regular da saúde das aves e a implementação de medidas para mitigar os efeitos adversos de fatores ambientais sobre a ingestão de alimentos e a absorção de nutrientes”, evidencia.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura

Fonte: O Presente Rural
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Avicultura

Resultados uniformes e consistentes para uma maior eficiência econômica em granjas avícolas

A eficiência alimentar é o principal indicador de performance técnica na produção de aves e suínos. Com os preços da carne e ovos em alta, mas nem sempre compensando os aumentos dos custos com a alimentação, a taxa de conversão alimentar se torna o primeiro indicador a ser melhorado.

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A grande pressão nos preços tem forçado todas as organizações a melhorarem sua eficiência econômica de uma maneira profunda. O mundo da produção animal não está imune a essa limitação, muito pelo contrário. Tanto para a produção de carne de frango, ovos ou carne suína, os custos com a alimentação representam mais de 50% dos custos de produção no campo. Este é o motivo pelo qual é essencial focar na eficiência alimentar.

Porém, na cadeia alimentar, o campo não é a única parte envolvida. Empresas de produção e abatedouros têm suas próprias dificuldades. Ainda que, atualmente, o foco principal seja em custos com energia e mão de obra, estas empresas também têm que gerenciar as oscilações na produção. Na verdade, o número e o peso dos animais no frigorífico nunca alcançam o que foi planejado na logística. Por outro lado, a mortalidade e as variações de manejo na performance de crescimento são fontes de divergências que penalizam os frigoríficos e toda a cadeia de produção.

Hoje, é possível melhorar a situação através de ações em ambas:

A resiliência da economia das propriedades através da eficiência alimentar.
A eficiência econômica através da uniformidade na produção.
A eficiência alimentar para a sustentabilidade econômica das granjas

A eficiência alimentar é o principal indicador de performance técnica na produção de aves e suínos. Com os preços da carne e ovos em alta, mas nem sempre compensando os aumentos dos custos com a alimentação, a taxa de conversão alimentar se torna o primeiro indicador a ser melhorado.

Algumas soluções técnicas com o objetivo de baixar o custo de alimentação rapidamente se mostram limitadas. A performance, ou pelo menos a taxa de consumo de ração, devem ser mantidas para continuar tirando o máximo de proveito dos altos preços da venda dos produtos. Portanto, cada vez que um novo ingrediente é adicionado ou as margens de segurança para exigências nutricionais são reduzidas, uma medida para proteger os resultados deve ser implementada. Aditivos nutricionais à base de óleos essenciais e formulados para performance têm seu papel nessa estratégia, e com baixo investimento.

Uma outra abordagem é a melhoria na produtividade da carne e ovos. Nessa situação, o alvo é reduzir a taxa de conversão alimentar para baixar os custos com a alimentação e/ou produzir mais pelo mesmo preço. Novamente, aditivos formulados com óleos essenciais são relevantes pelo seu investimento acessível e retorno elevado (Figura 1). Este exemplo de resultado consistente foi demonstrado por uma pesquisa através de uma meta-análise baseada em 25 experimentos conduzidos em granjas comerciais de sete países diferentes.

Figura 1 – Aumento na taxa de crescimento e eficiência alimentar de frangos de corte consumindo um blend de extrato de plantas. Blend de extrato de plantas = Dieta Controle + 100 ppm de extrato de plantas.

 

Por fim, o sucesso da operação atualmente reside na uniformidade dos resultados obtidos apesar da diferença entre as granjas. A combinação certa de ativos na dosagem correta se torna uma solução que proporciona resultados uniformes e consistentes em uma variedade de ambientes. Quanto mais completa e sinérgica é a composição, mais efetivo é o produto (Figura 2). Isto foi muito bem descrito em uma meta-análise baseada em artigos publicados sobre a resposta do carvacrol na performance de frangos de corte.

Figura 2 – Associação sinérgica de carvacrol e especiarias potencializam os benefícios e o uso em frangos de corte.

Uniformidade para simplificar o planejamento da produção e melhorar a eficiência econômica

Na dinâmica de organização da produção, a chave para alcançar eficiência econômica reside em um planejamento estruturado: é essencial alinhar o envio de animais para abate que correspondam em número e qualidade às demandas diárias dos frigoríficos. No entanto, a criação de frangos representa um desafio considerável para a exatidão de um planejamento matemático.

O produto capaz de fazer animais de diferentes propriedades atingirem o mesmo peso no mesmo dia ainda não está disponível. Entretanto, aves alimentadas com um blend de extratos sinérgico apresentam um ganho de peso maior e mais uniforme. As divergências de performance observadas entre um lote e outro são de fato menores, assim como as diferenças de planejamento. Simplesmente, reduzindo os atrasos em diferentes propriedades fica fácil ganhar um dia efetivo de produção que, dependendo da situação, pode ser aproveitado para um vazio sanitário mais seguro ou um aumento na produção geral: ganhar um dia de produção por ciclo equivale a um acréscimo de 2% na produção anual.

Esta é a razão pela qual uma linha de agentes naturais à base de extratos de plantas e especiarias é utilizada para aprimorar a eficiência alimentar e reforçar a uniformidade na produção, contribuindo assim para melhorias contínuas na produtividade geral:

  • Lotes mais lucrativos para os produtores: redução de conversão alimentar.
  • Lotes mais homogêneos no frigorífico: diminuição de penalizações aos produtores, melhor performance ao abate.
  • Resultados mais consistentes entre um lote e outro: otimizando o planejamento de produção.

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Fonte: Por Jean-François Gabarrou, gerente Científico Animal Care da Phodé
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Avicultura

Nutrição responde por 60% das emissões de CO₂eq da avicultura

É essencial adotar estratégias que visem reduzir as emissões na produção de ração, como o uso de ingredientes alternativos de baixo impacto ambiental, a otimização da eficiência nutricional e a implementação de tecnologias mais sustentáveis no processo de produção de alimentos para os animais.

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A busca por uma produção animal mais sustentável é uma prioridade global, impulsionada pela necessidade incessante de aumentar a eficiência produtiva ao mesmo tempo em que se reduz o impacto ambiental. Nesse cenário desafiador, o Brasil, reconhecido mundialmente pela sua potência agropecuária, enfrenta uma competição acirrada por inovações e soluções que possam elevar seus padrões de produção animal.

Para discutir esses desafios e as oportunidades que se avizinham, o presidente da Associação Latino-Americana de Nutrição Animal (Feedlatina), Roberto Ignacio Betancourt, autoridade reconhecida internacionalmente no campo da nutrição animal e da agricultura sustentável, participou do 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA), que aconteceu entre os dias 09 e 11 de abril, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC), trazendo à tona questões como a pressão para reduzir a emissão de gases de efeito estufa, a necessidade de minimizar o desperdício de recursos naturais e o fomento à promoção de práticas agrícolas mais éticas e socialmente responsáveis. “É muito importante estarmos cientes que para crescermos temos que olhar o mercado global de proteína animal, pois o nosso consumo local já é elevado e a população brasileira cresce pouco. É preciso entender que o mercado global está mudando e agora não adianta apenas ter preço e qualidade. Estamos entrando numa nova era, na qual a sustentabilidade e as emissões de carbono podem fechar ou abrir mercados, ou mesmo até impor penalidades”, expõe Betancourt, que também atua como diretor do Departamento do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e representa o Brasil na Federação Internacional da Indústria de Alimentos para Animais.

Presidente da Feedlatina, diretor da Fiesp e representante do Brasil na Federação Internacional da Indústria de Alimentos para Animais, Roberto Ignacio Betancourt: “Apesar das dificuldades, a indústria avícola brasileira vem avançando, conseguindo aliar melhorias ambientais à eficiência econômica” – Divulgação/Feedlatina

Conforme o especialista, a recuperação de pastagens aliada às tecnologias e ganhos de eficiência trazidas pela nutrição animal deverão dar importantes contribuições para uma transformação na produção pecuária no Brasil nos próximos anos, com ganhos em termos de precocidade, lotação e qualidade da carne produzida no país. “O setor já experimenta uma mudança acelerada, impulsionado pelos avanços na geração de energia limpa, melhoramento genético, nutrição de precisão, conhecimento e manipulação da microbiota gastrointestinal, mas é preciso que a tecnologia chegue a todos, inclusive nos pequenos produtores, para que tenhamos um cenário que possa ser considerado de mudança estrutural nos indicadores de produção e produtividade. Os benefícios ambientais serão imensos e teremos o desafio de quantificá-los, incorporando o carbono sequestrado pelas boas práticas de produção na análise de ciclo de vida da carne”, anseia.

De acordo com o palestrante, entre os principais desafios que o Brasil enfrenta na busca por uma produção animal mais sustentável, em comparação com outros países, está a urgência de desvincular o desmatamento ilegal na Amazônia da produção animal. “Somos muito fiscalizados por termos a maior e mais preservada floresta tropical do planeta, o que nos torna alvos de muitas organizações ambientalistas, principalmente das ONGs que atuam na Amazônia, o que acaba influenciando a opinião pública global”, menciona.

À medida que o mundo avalia a sustentabilidade em métricas ligadas à análise do ciclo de vida, Betancourt observa que os números brasileiros são excelentes. No entanto, quando acrescidos das emissões resultantes da mudança no uso da terra ou desmatamento, o país acaba se tornando menos sustentável pela métrica de emissões de CO2 equivalente (CO₂eq). “Combater o desmatamento ilegal é de total interesse do setor produtivo, bem como dissociá-lo da produção formal de carne”, ressalta.

Pressão ambiental x bem-estar animal

Em relação a como a pressão ambiental e as preocupações com o bem-estar animal estão influenciando as práticas de produção da avicultura de corte no Brasil, o presidente da Feedlatina ressalta que o país faz um excelente trabalho na área de bem-estar animal, com o apoio de diversas entidades, institutos de pesquisa, empresas, cooperativas, produtores, governo e academia. “Esse esforço coletivo se reflete em um excelente desempenho na produtividade e sanidade dos animais, o que tem conquistado a confiança da opinião pública e dos consumidores, além de diminuir atritos”, salienta. Contudo, o profissional ressalta que é um trabalho contínuo, que demanda constante atenção e aprimoramento. “É preciso ter clareza de que essa é uma ação permanente, que envolve diálogo com o governo, parlamentares, mas também a necessidade de esclarecimentos junto à opinião pública em geral e aos consumidores em especial. Isso tudo à luz dos melhores indicadores que a academia e os institutos vêm produzindo nesta área. O desafio é grande, mas estamos provavelmente mais preparados para essa agenda do que os nossos concorrentes internacionais”, salienta.

Atualmente, a mesma pressão nacional e global que influencia o bem-estar animal está alcançando as questões ambientais. Enquanto o bem-estar animal está mais restrito a ações dentro das granjas, transporte e frigoríficos, a questão ambiental abrange toda a cadeia de produção, desde o produtor de grãos e matérias-primas para a produção de ração, passando pelo transporte, armazenagem, fontes de energia, impactos climáticos, condições das granjas, tratamento de dejetos, transporte, embalagens, entre outros aspectos. Ou seja, do campo à mesa, toda a cadeia produtiva está envolvida. “Talvez seja por isso que o desafio ambiental é ainda mais complexo, exigindo uma abordagem integrada e holística para lidar com as questões de sustentabilidade em toda a cadeia de produção”, argumenta, enfatizando: “A busca por práticas mais sustentáveis na avicultura de corte no Brasil demanda um esforço conjunto de todos os elos da cadeia, desde os produtores rurais até os consumidores finais, visando promover um sistema de produção mais equilibrado e responsável com o meio ambiente”.

60% das emissões

Betancourt evidencia que o setor mais crítico na avicultura de corte para as emissões de CO₂eq é a nutrição animal, que contribui com aproximadamente 60% das emissões. “Por isso dependemos da sustentabilidade de nossa agricultura para mitigar esses impactos. O frango recebe as emissões das rações no conceito de ciclo de vida.  É essencial adotar estratégias que visem reduzir as emissões na produção de ração, como o uso de ingredientes alternativos de baixo impacto ambiental, a otimização da eficiência nutricional e a implementação de tecnologias mais sustentáveis no processo de produção de alimentos para os animais”, pontua.

Legislação

Apesar do Brasil possuir uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, com instrumentos como o CAR, Código Florestal e regulamento de resíduos, além de uma matriz energética extremamente limpa, Betancourt aponta que o impacto na avicultura brasileira ainda não é totalmente positivo devido à dificuldade em transformar essas regulamentações em métricas ambientais favoráveis ao setor. “Isso se deve, principalmente, à ineficiência e a baixa participação do Brasil nas esferas globais responsáveis por estabelecer as regras desse jogo. O mundo não vai valorizar as nossas reservas florestais espontaneamente, vamos ter que brigar para colocar todo o nosso trabalho ambiental nos números globalmente aceitos”, afirma o diretor da Fiesp.

Obstáculos

O especialista reforça que a sustentabilidade caminha lado a lado com a eficiência e se traduz em ganhos de produtividade e rentabilidade, gerando benefícios para a sociedade em geral. No entanto, o principal

desafio reside na falta de conhecimento e, portanto, de valorização deste trabalho por parte do consumidor. “A regulação internacional é feita de forma a atender aos interesses locais dos grandes reguladores. O caso mais clássico é o da União Europeia, que se propõe ao papel de ‘reguladores do mundo’, mas com o discurso de elevar o patamar da sustentabilidade, impõem regras que, em grande parte dos casos, somente as tecnologias de dentro do bloco podem atender, traduzindo-se em barreiras ao comércio internacional”, frisa.

Enfático, Betancourt afirma que o principal desafio socioeconômico enfrentado pela indústria avícola do Brasil, em relação à sustentabilidade, é financeiro. “Enquanto países mais ricos, como os Estados Unidos e a Europa, podem contar com financiamento público para promover a transição ambiental, com subsídios e linhas de crédito acessíveis, o Brasil não tem situação fiscal favorável para fomentar, via financiamento público, todas as ações necessárias de transição ambiental para reduzir as emissões, uma vez que também há competição por recursos com áreas estratégicas, como saúde e educação”, analisa o especialista, acrescentando.
“O nosso desafio é estruturar mecanismos mais sofisticados de financiamento, mas, em grande parte, devem ser utilizados recursos próprios de empresas e produtores, o que pode limitar a amplitude das ações. É por isso que em conferências climáticas, países em desenvolvimento demandam a efetivação dos compromissos dos países mais ricos para fomentar a transição. O financiamento prometido pelas nações mais ricas para auxiliar nessa transição. Apesar das dificuldades, a indústria avícola brasileira vem avançando, conseguindo aliar melhorias ambientais à eficiência econômica”, garante.

Gestão de resíduos

Quanto às práticas de gestão de resíduos na produção avícola brasileira, Betancourt destaca que o setor vem evoluindo de forma significativa, com o apoio da Embrapa e outras instituições. De acordo com ele, há um histórico de sucesso na utilização de subprodutos, biodigestores, produção de biogás, biofertilizantes e na redução de resíduos. “As empresas integradoras e cooperativas agropecuárias têm desempenhado um papel fundamental na replicação dessas soluções em larga escala. Há muitos exemplos de utilização de cama de frango como substrato para a produção de biogás”, exalta, emendando: “Esses modelos de sucesso demonstram que é possível implementar práticas de gestão de resíduos mais sustentáveis na produção avícola brasileira, contribuindo não apenas para a redução do impacto ambiental, mas também para a eficiência operacional e econômica do setor”.

Sistemas de produção “mais sustentáveis”

Betancourt afirma que o principal obstáculo para a adoção de sistemas de produção mais sustentáveis, como a produção orgânica ou de aves criadas ao ar livre, na avicultura de corte brasileira é o mercado. “À medida que os custos de produção aumentam, é necessário encontrar quem esteja disposto a pagar mais para que a produção seja viável”, sintetiza.

O especialista reforça que é importante não confundir essas alternativas de criação com sustentabilidade, já que muitas vezes podem resultar em um aumento das emissões de CO2 por kg de carne produzida. “O Brasil tem a capacidade de atender a todos os anseios dos consumidores”, afirma.

Outro fator a ser considerado, observado na Europa, foi o aumento do risco de transmissão de doenças, como a Influenza aviária, para aves criadas ao ar livre. “A sanidade do plantel é um aspecto de extrema importância para a sustentabilidade do setor como um todo. Enfrentar esse desafio exige uma abordagem equilibrada, considerando não apenas os aspectos ambientais, mas também os econômicos e de saúde pública”, elenca.

União do setor

Nesta nova era de sustentabilidade, o especialista ressalta a importância da união de todos os elos da cadeia. “Ninguém será capaz de resolver todos os desafios sozinho. Para continuar crescendo no exterior, a avicultura brasileira precisa estar alinhada com a agricultura, nutrição e saúde animal, governo, logística, fontes de energia, indústria de equipamentos, educação das pessoas, centros de pesquisa, organizações trabalhistas e entidades locais e internacionais”, ressalta. “O setor que tem entidades fortes, competentes e atuantes como a ABPA, Sindirações, Sindan, leva muita vantagem. A recente presidência do Ricardo Santin no Conselho Internacional de Aves é motivo de orgulho para todos nós e mostra que estamos no caminho certo”, complementa.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor avícola acesse a versão digital de Avicultura de Corte e Postura clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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