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Suplementação múltipla na dieta reduz pela metade idade de abate

Trabalhando com estratégias suplementares para alcançar ganhos elevados, Universidade pesquisa suplementação que diminui para 18 meses a idade de abate, metade da média nacional, segundo estudo

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Produzir mais em menos tempo. Esse é o objetivo dos pecuaristas de todo o mundo. E adotar tecnologias ou formas de manejo que permitam isso faz com que a atividade cresça e mais produtores passem a apostar no gado de corte. Alunos e professores da Universidade Estadual Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Marechal Cândido Rondon, têm trabalhado para criar novilhos que estejam prontos mais novos para o abate. Com uma unidade experimental no município de Entre Rios do Oeste, os pesquisadores estão agora no segundo lote da produção destes novilhos precoces em pastagem. De acordo com a média nacional, o tempo de abate cai pela metade, segundo os estudiosos.

O professor doutor da Unioeste, zootecnista Eriton Valente, que coordena o projeto, explica que a questão do precoce está relacionada à idade em que o animal vai ser abatido. “Embora isso não haja um consenso, até que idade é precoce, temos aqui que o nosso objetivo é que os animais atinjam o abate em torno dos 18 meses”, explica. Para ele, isso já é uma evolução muito grande, considerando que hoje a média de abate do Brasil é de 36 meses. “Conseguimos reduzir bastante esse tempo”, afirma.

Valente comenta que a produção de animais precoces é o objetivo de diversos produtores, que buscam maior rentabilidade na propriedade, produzir mais na mesma área, ter rotatividade, conseguir que o investimento retorne mais cedo, além de oferecer ao consumidor final uma carne de melhor qualidade. “O principal fator relacionado à qualidade da carne é a idade de abate do animal. Então, conseguir fazer com que ele seja abatido mais jovem vai produzir uma carne de melhor qualidade, principalmente em termos de maciez, que é uma das características que o produtor mais deseja”, conta.

Pastagem

Para alcançar esse objetivo, o professor explica que é necessária uma série de manejos que devem ser realizada pelo pecuarista. “E todos devem estar relacionados a um bom planejamento, porque esses manejos estão relacionados a uma preparação prévia. Começando desde a pastagem, que embora o objetivo final é a produção animal, se não tivermos uma idealização, todo um projeto de como vamos desenvolver ao longo da vida deste animal, atuar sobre a produção de alimento dele, não vamos conseguir essa resposta final”, antecipa.

O professor explica que o que é preconizado na unidade experimental para que esta produção precoce dê certo são os cuidados em relação ao manejo de pastagem. “Estamos em uma região de solo bastante fértil, mas temos que tomar cuidado para que isso realmente se reflita em uma maior produção de pastagem, que vai ser, consequentemente, de alimento do animal. É bem comum a gente ver propriedades em que este manejo acaba sendo deficiente”, comenta. Para Valente, esse manejo exige bastante cuidado com a maneira de trabalhar em determinadas épocas do ano. “No verão temos que ter cuidados diferentes do que temos no inverno. No verão temos condições mais favoráveis para o crescimento da planta, então ela vai produzir muito mais. Mas, se eu quero produzir um animal jovem eu não posso pensar somente em produzir quantidade, mas também preciso pensar em produzir qualidade”, diz.

O professor comenta que dessa forma será feito o manejo dessa pastagem para que ela tenha o máximo de qualidade possível no verão. “Então, eu não posso deixar, por exemplo, ela crescer demais. Porque quando chega o inverno a situação é diferente, e o grande desafio é ter alimento disponível. E para conseguir este alimento também tenho que ter trabalhado ainda no verão”, conta. Ele afirma que dessa forma, em determinadas épocas do verão é preciso preconizar uma maneira de deixar uma reserva de alimento para estes animais. E nesse sentido, Valente diz que é preciso ainda tomar cuidado para que este alimento que vai ser utilizado no inverno não tenho baixa qualidade. “Embora não será a mesma (qualidade do alimento) do verão, não podemos deixar cair muito”, argumenta.

Para alcançar estes resultados, o professor comenta que utiliza algumas estratégias para que o animal venha a ter uma quantidade de alimento adequada no período de inverno. “É muito comum que esta qualidade mínima ainda não seja o suficiente para manter esses animais com taxas mais elevadas. E é o que nós trabalhamos aqui, utilizando estratégias suplementares, buscando ganhos elevados”, explica. Valente conta que na unidade experimental é trabalhado com os animais uma linha chamada de suplementação múltipla. “Então, tentamos, seja no verão ou inverno, além de conseguir explorar ao máximo a pastagem, tentar ainda trabalhar a dieta para que esse ganho dos animais ainda seja mais elevado”, conta.

O professor conta que trabalham então com a suplementação mineral e energética proteica para os animais. “Esses tipos de suplementação juntas é o que chamamos de suplementação múltipla. Então, conseguimos corrigir o desbalanço de pasto, deficiências e também complementar a dieta. Com isso, conseguimos manter ganhos elevado o ano inteiro”, afirma.

Produção

Este é o segundo ano em que a Universidade está fazendo as pesquisas com este tipo de manejo e suplementação para conseguir alcançar os resultados esperados na unidade experimental. O primeiro lote feito, que produziu de outubro de 2016 a abril de 2017, foi trabalhado com animais nelore. Eram 26 animais, que renderam uma produção em torno de mil quilos por hectare, de ganho por animal. “Medimos somente eles vivos, no abate perde um pouco deste valor”, explica Valente.

Neste segundo lote, a produção é com 36 animais do cruzamento de nelore com angus. “Optamos por esta raça pelo fato desse cruzamento ter um potencial genético um pouco maior”, justifica o professor. De acordo com ele, o que a Universidade busca é conseguir animais que tenham potencial de ganho maior para que seja possível trabalhar, do ponto de vista nutricional, atingindo metas ainda maiores. “No lote anterior já conseguimos ganhos bastante elevados, mesmo sendo nosso primeiro ano de funcionamento. E com este segundo lote iniciamos com genética melhor e ainda tentando explorar de forma ainda melhor o pasto para conseguir ganhos ainda maiores”, comenta.

Adubação e Manejo

Porém, Valente comenta que a quantidade de animais em que o produtor pode trabalhar nesta forma de manejo vai depender de quanto ele está disposto a investir, principalmente em termos de adubação. “Eu consigo aumentar a produção do pasto por manejo, mas também por adubação e mais ainda se fizer os dois de maneira adequada. Somente com manejo correto eu consigo aumentar, e muito, a minha produção. Se associo o uso de alguns adubos ainda consigo aumentar mais. Ajustando os dois, tenho um aumento muito grande”, afirma.

O professor conta que também passarão a trabalhar, para garantir melhor ganhos, com o sistema de pastejo rotacionado, sendo um pouco mais intensivo. “Antes trabalhávamos com sistema de pastejo em lotação contínua, que era manter os animais sempre na mesma área. Agora vamos trabalhar com ele mudando de área, no sistema de pastejo rotacionado. Somente por fazer isso, já vamos conseguir aumentar bastante a nossa capacidade produtiva”, conta.

Pesquisas

Para cuidar desta produção e manejo há um técnico da Universidade. Porém, a parte da pesquisa é feita por alunos da graduação e, principalmente, pós-graduação, de mestrado e doutorado. “Conduzimos toda a área que trabalhamos com pesquisa. Temos vários grupos, áreas divididas em diversas subáreas, para que possamos fazer diferentes testes”, explica. O professor ainda acrescenta que, atualmente, o principal ponto de pesquisa é na área de suplementação múltipla, porque o objetivo da unidade experimental é acelerar o ganho de peso do animal e, consequentemente, a produtividade dele em todas as épocas do ano, não somente nas mais favoráveis. “Somente assim vamos conseguir que o animal seja abatido jovem. Não podemos nos dar ao luxo de aceitar ganhos mais elevados quando a época é mais favorável, e em um período menos favorável o animal ter ganhos mais baixos ou perda de peso”, argumenta Valente.

O professor expõe que se pensar, por exemplo, no local em que se encontra a unidade experimental, que possui um solo muito fértil e terras valorizadas, a única maneira de competir com outras atividades, conseguindo uma boa remuneração, é fazendo uma pecuária de forma bastante produtiva, utilizando tecnologias que estão disponíveis e sistemas de produção de pastagens para então conseguir ter índices de produtividade altos e, assim, ter também uma rentabilidade interessante.

Bem-Estar Animal

Outra preocupação para alcançar uma produção precoce e com bons rendimento, Valente explica que existe a preocupação com o manejo dos animais, para que seja feito, principalmente, com bem-estar animal. “O manejo que fazemos é para otimizar a mão de obra, mas também nos preocupamos, porque o Brasil é bastante cobrado para isso, com o mínimo estresse do animal, e assim conseguirmos alcançar o bem-estar”, conta o professor. Valente ainda argumenta que uma parte, muitas vezes complicada, é levar o animal até o curral, seja para aplicação de vacina ou controle de parasitas. “Quando esse manejo é feito, é interessante termos estrutura onde este animal não sofra tanto estresse e tenha baixo risco de acidentes e lesões. Por isso, é importante termos estruturas de currais condizentes. E nós investimos numa estrutura anti-estresse”, conta.

A importância de se preocupar com esta questão é por conta do produtor entender que esse sistema também traz resposta em retorno para ele. “Não somente minimiza o estresse do animal, que já é um ganho importante, mas este animal menos estressado, onde o rebanho de forma geral tenha risco menor de estresse, reflete em uma produção maior”, explica Valente. Dessa forma, a produção mais elevada compensa o investimento que o produtor fará para ter um curral que garanta o bem-estar dos seus animais. “Um manejo mal feito traz riscos de acidentes, tanto para os animais quanto para os funcionários. E mesmo que acidentes não aconteçam, um animal estressado vai ficar por vários dias sem se alimentar adequadamente, vai ganhar menos peso e trazer prejuízos ao produtor”, comenta.

Mais informações você encontra na edição de Bovinos, Grãos e Máquinas de agosto/setembro de 2017 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Aliança Láctea Sul Brasileira avança nas ações de promoção do desenvolvimento da cadeia produtiva do leite

Evento reuniu um grupo de especialistas do setor lácteo, representantes das Secretarias de Agricultura dos três estados do Sul, dos Sindicatos das Indústrias de Laticínios e das Federações de Agricultura dos três estados do Sul.

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Objetivo foi atualizar sobre o cenário atual da Aliança Láctea Sul-Brasileira e relatar as ações de cada estado do Sul

Atualizar sobre o cenário atual da Aliança Láctea Sul-Brasileira (ALSB), relatar as ações de cada estado, principalmente sobre a entrada de leite em pó importado do Mercosul e conhecer o diagnóstico do leite no Paraná, feito pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) foram as pautas da reunião ordinária da ALSB promovida nesta quinta-feira (2), na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).

Encontro teve como anfitrião o presidente do Sistema Faesc/Senar e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Zeferino Pedrozo – Fotos: Silvania Cuochinski/MB Comunicação

O encontro teve como anfitrião o presidente do Sistema Faesc/Senar e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Zeferino Pedrozo, e reuniu um grupo de especialistas do setor lácteo, representantes das Secretarias de Agricultura dos três estados do Sul, dos Sindicatos das Indústrias de Laticínios e das Federações de Agricultura dos três estados.

A programação foi conduzida pelo coordenador geral da Aliança Láctea, Rodrigo Ramos Rizo, e contou com a participação do presidente do secretário de Agricultura e Pecuária de Santa Catarina, Valdir Colatto, do secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio Grande do Sul, Giovani Feltes, do secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Anacleto Ortigara, do presidente Sistema Farsul, Gedeão Silveira Pereira, do representante do Sistema Faep e presidente da Comissão Nacional de Pecuária do Leite da CNA, Ronei Volpi, do presidente do Sindileite Paraná, Éder Quinto Salvadori Deconsi, do presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins, entre outras lideranças.

Após um momento de solidariedade com a grave situação do Rio Grande do Sul, o presidente Pedrozo agradeceu aos representantes da Aliança Láctea pela participação no evento, comentou sobre a importância do Programa Leite Bom, recém-criado pelo Governo do Estado de Santa Catarina, falou sobre a longa trajetória para conquistar o valioso status sanitário catarinense e realçou o êxito do trabalho da ALSB para cumprir o propósito de atuar de forma conjunta para solucionar os problemas comuns enfrentados pelo setor. Também frisou o quanto o Plano de Desenvolvimento da Competitividade Global do Leite Sul-Brasileiro (PDCGL) é essencial para propor ações que contribuem para um ambiente favorável aos investimentos na ampliação da produção. “Com cooperação será possível aumentar nossa competitividade no mercado global e criar oportunidades para potencializar o setor”.

Rodrigo Ramos Rizo agradeceu a receptividade da Faesc e salientou que a reunião foi fundamental para vencer mais alguns pontos importantes do setor. “O encontro teve um início muito emocional em função do quadro que o Rio Grande do Sul está vivendo neste momento pelas chuvas e enchentes, mas avançamos nas questões que a Aliança Láctea tem se proposto, ou seja, nos dez itens que representam a nossa bíblia no sentido de fortalecermos as exportações e trabalharmos cada vez mais as nossas indústrias para que estejam adequadas ao mercado internacional. Sabemos que os produtores não exportam, ou seja, quem exporta é a indústria, mas somos todos elos de uma cadeia só. Acredito que é possível avançarmos. Também estão de parabéns os representantes do Paraná que elaboraram todo esse trabalho de levantamento de diagnóstico muito bem feito. Além disso, a presença dos secretários de agricultura conosco abrilhantou a reunião trazendo toda a sua bagagem, conhecimento e as ações que cada estado tem feito no sentido de barrar a entrada de leite em pó do Mercosul”.

Leite Bom SC

Valdir Colatto enfatizou as iniciativas desenvolvidas pelo Governo do Estado para fortalecer a cadeia produtiva do leite e, entre as medidas, citou o Leite Bom SC – programa que beneficia direta ou indiretamente os 22,2 mil produtores catarinenses. O pacote garante R$ 300 milhões em apoio ao setor nos próximos três anos. Paralelamente aos investimentos, decreto do governador Jorginho Mello suspende a concessão de qualquer incentivo fiscal para a importação de leite e derivados por Santa Catarina, acabando com a concorrência desleal que vinha prejudicando a produção leiteira catarinense. O pacote se divide em três ações: o decreto, os financiamentos aos produtores e os incentivos fiscais para a indústria leiteira. “Santa Catarina hoje está produzindo hoje cerca de 3,2 bilhões de litros de leite, o que corresponde a 9,3% da produção do Brasil. É um setor importante que precisamos valorizar e proteger para que nossos agricultores possam superar esses momentos difíceis de custo de produção e outros prejuízos”, assinalou Colatto.

Norberto Anacleto Ortigara frisou a importância do encontro para evoluir nas questões que envolvem a cadeia produtiva do leite e ressaltou que Paraná também tem dado passos importantes no sentido de continuar construindo uma política adequada aos interesses brasileiros, especialmente, do Sul do Brasil. Giovani Feltes destacou ações que o Rio Grande do Sul já vem colocando em prática para minimizar os efeitos da importação de leite, principalmente do Mercosul. “Nosso estado já vem há algum tempo tentando proteger, de acordo com suas possibilidades, a cadeia produtiva leiteira”, afirmou.

A Aliança Láctea foi constituída como o fórum público-privado para desenvolver e fomentar a implementação de um plano para harmonizar o ambiente produtivo, industrial e comercial dos três estados. Confira os 10 objetivos do Plano de Desenvolvimento da Competitividade Global do Leite Sul-Brasileiro.

  • Produzir leite com alta qualidade, a custo baixo e com organização logística eficiente para ser competitivo no mercado global em relação aos principais exportadores mundiais.
  • Melhorar a eficiência e o desempenho agronômico e zootécnico da produção de leite na região Sul do Brasil, adequando a produção aos princípios da sustentabilidade, ESG e bem-estar animal.
  • Aumentar a escala de produção e reduzir os custos médios por litro de leite produzido e transportado.
  • Melhorar a qualidade e o rendimento industrial do leite, com aumento do percentual de gordura e proteína na sua composição e pagamento por sólidos totais.
  • Melhorar a logística e a infraestrutura nas regiões produtoras de leite com investimentos em estradas, energia trifásica e Internet.
  • Melhorar a organização e governança da cadeia produtiva do leite com estratégias setoriais pré-competitivas, eliminação de assimetrias tributárias, intercooperação visando eficiência na logística e investimentos em marketing e informação geral para aumento consciente do consumo de lácteos.
  • Promover a fidelização do relacionamento comercial entre produtores de leite e indústrias de laticínios por meio de parcerias duradouras.
  • Conquistar e manter a excelência sanitária e biossegurança dos rebanhos com robustos serviços públicos e privados de defesa agropecuária e sanidade.
  • Adequar e harmonizar o serviço de inspeção de produtos de origem animal.
  • Criar mecanismos para estimular indústrias a instalar ou adequar plantas voltadas à exportação de lácteos.

Fonte: Assessoria Aliança Láctea Sul Brasileira
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Veto à carne nas Olimpíadas: punição ou preservação?

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada

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Letícia Moreira - Nutricionista - Foto e texto: Assessoria

*Por Letícia Moreira

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 se aproximam e uma notícia recente tem gerado polêmica no mundo esportivo: a decisão do comitê organizador de reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Segundo o Comitê, o objetivo é limitar as emissões de CO2 decorrentes das refeições, diminuindo pela metade a pegada de carbono em comparação a edições anteriores.

No entanto, essa abordagem é uma medida nutricionalmente desequilibrada e prejudicial aos atletas, que precisam de um aporte nutricional adequado para o alto desempenho.

Diante desse cenário, é importante analisar a evolução histórica da alimentação de atletas e o papel da carne em suas dietas, bem como as perspectivas atuais sobre o tema.

Desde a antiguidade, a alimentação dos atletas tem sido motivo de debate e controvérsia. De acordo com o relato do historiador Philostratos, no início, os atletas confiavam em seus treinadores para garantir que suas necessidades nutricionais fossem atendidas. No entanto, com o tempo, os médicos assumiram o controle e os primeiros especialistas em medicina esportiva começaram a surgir.

Nesse contexto, dois importantes médicos da época, Celsus e Galeno, consideravam o consumo de proteína animal a forma mais nutritiva de nutrição para os atletas. Ambos concordavam que a carne era um alimento “forte” e nutritivo, essencial para os atletas. Galeno chegou a afirmar que a carne era o alimento mais nutritivo de todos, sendo visível nos próprios atletas o impacto positivo dessa proteína.

Outras fontes proteicas, como aves e peixes, também eram consideradas importantes.

Essa visão histórica sobre a relevância da carne na dieta de atletas encontra eco nos dias de hoje. Um exemplo notável é o caso do atleta brasileiro Alessandro Medeiros, que se tornou conhecido mundialmente por alcançar grandes feitos esportivos seguindo uma dieta exclusivamente carnívora, ou seja, à base de carne.

Medeiros, com mais de 30 anos de dedicação ao esporte, desenvolveu habilidades físicas e mentais excepcionais, conquistando colocações de destaque em ultramaratonas e eventos de resistência, como o Mundial de Ultraman na ilha de Kona no Hawaii. Sua história mostra o impacto positivo que uma alimentação adequada, focada em proteínas e gorduras animais, pode ter no desempenho atlético.

Além da questão nutricional, explicada acima, neste ano, por meio de uma parceria de trabalho estabelecida com a Connan, empresa de nutrição animal, tive a oportunidade de me aproximar e informar sobre o processo de produção da carne no Brasil, acompanhando mais de perto os movimentos da pecuária.

Esta proximidade me fez conhecer um lado da atividade que é pouco difundida entre a população em geral: os investimentos em tecnologia na produção de animais. Hoje, existem empresas e entidades focadas no desenvolvimento de soluções que garantam a qualidade do produto final, a carne, mas que também ofereçam aos bovinos melhor qualidade de vida e menor emissão de gases, com uma alimentação mais balanceada e proteica.

Além disso, técnicas de manejo que proporcionem a recuperação de pastagens degradadas, adubação qualificada, manejo do pastejo, estratégias de suplementação e dietas adequadas em confinamento são alguns métodos que têm mostrado efeito positivo na mitigação da emissão de gases de efeito estufa da pecuária.

Já há trabalhos que mostram situações em que o carbono sequestrado no solo sob pastagem contribui para um balanço positivo de carbono numa fazenda de produção pecuária, isto é, em que há mais carbono fixado do que emitido.

Não há como negar que a pecuária tem sim uma parcela importante no cenário da emissão de gases de efeito estufa, mas antes de condenar uma atividade de extrema importância para a segurança alimentar mundial, é fato que as autoridades francesas deveriam olhar para outros setores, como os de energia e de transportes, por exemplo, que também são grandes emissores e que crescem ano a ano.

Para um impacto de relevância no cenário da preservação do meio ambiente, entendo que as medidas deveriam levar em conta o todo. De acordo com relatório da organização não governamental Carbon Market Watch (CMW), a organização das Olimpíadas de Paris-2024 só apresentou estratégia robusta de cobertura para 31% de suas emissões de gases de efeito estufa. Os outros 69% não são detalhados suficientemente.

No campo dos transportes, item de maior peso nas estimativas de emissões, a CMW considera satisfatório o plano do comitê para o transporte em Paris, já que mais de 80% das instalações esportivas ficarão a um raio de 10km da Vila Olímpica. Porém, os organizadores não apresentaram algo completo, segundo a ONG, para o transporte de espectadores, atletas e jornalistas para a França.

Diante das evidências históricas e dos casos atuais, é questionável a decisão dos organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris em reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Essa abordagem, além de ser nutricionalmente desequilibrada, ignora o importante papel da pecuária no fornecimento de alimento para o mundo e pode comprometer o desempenho e a saúde dos atletas.

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada. Afinal, a dieta ideal para os atletas olímpicos deve priorizar um ótimo aporte nutricional e o atendimento de suas necessidades específicas, e não apenas uma preocupação ambiental que pode se sobrepor aos interesses da saúde e do desempenho desses esportistas de alto nível.

 

 

Referência: Uma comparação entre as dietas esportivas da Grécia Antiga e da Roma Antiga com as práticas modernas (https://www.omicsonline.org/open-access/a-comparison-of-ancient-greek-and-roman-sports-diets-with-modern-day-practices-2473-6449-1000104.php?aid=69865)

* Nutricionista formada há 18 anos pela Faculdade de Medicina de Itajubá (MG), Letícia Moreira, é especialista em dietas Low Carb, Cetogênica e Carnívora, com foco em emagrecimento e esporte de Endurance. É cofundadora da PRIMAL ENDURANCE e Nutricionista do primeiro Ultraman carnívoro do mundo, Alessandro Medeiros.

Fonte: Assessoria
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Colibacilose em bezerros: importante tipo de diarreia

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível.

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Foto: Divulgação/JÁ Saúde Animal

A saúde intestinal dos bezerros é um aspecto importante na pecuária, afinal impacta diretamente o desenvolvimento e a produtividade desses animais. Dessa forma, a manutenção de um trato gastrointestinal saudável e funcional permite a digestão e a absorção adequadas dos nutrientes. Nesse contexto, entre os principais desafios da criação de bezerros, relacionado à saúde intestinal, está a diarreia, sendo responsável por uma série de prejuízos. O problema é caracterizado por uma grande perda de líquidos e eletrólitos corporais que vão ocasionar desidratação, perda de peso, com possibilidade de evoluir para choque hipovolêmico e morte do animal.

Vários fatores podem ter relação com a ocorrência da diarreia e os agentes etiológicos causadores podem ser diversos, incluindo as bactérias (Escherichia coli, Salmonella sp., Clostridium perfringens), os vírus (rotavírus e coronavírus), protozoários (Eimeria sp. e Cryptosporidium sp.) e as verminoses. Dentre esses, um dos principais no quesito mortalidade é a Escherichia coli, bactéria gram-negativa, que de forma geral é inofensiva. Contudo, quando tipos patogênicos infectam uma população susceptível ou quando há uma somatória de fatores (ambiente, manejo, imunidade) que estimula a proliferação bacteriana ocorre a chamada Colibacilose, termo atribuído a afecções provocadas por E. coli, que consequentemente podem ocasionar quadros de diarreia.

A Colibacilose pode acontecer de três maneiras: septicêmica, enterotoxêmica e entérica. A forma septicêmica se desenvolve quando a bactéria se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, afetando geralmente bezerros que não tiveram uma boa colostragem. Nesse caso, a apresentação da afecção é aguda, variando de 24 a 96 horas, com sinais clínicos como depressão, febre alta, anorexia e taquicardia. Outra forma é a enterotoxêmica, quando a bactéria se prolifera na parte média e posterior do intestino, havendo a liberação de toxina. Nesse caso, os animais apresentam prostração intensa e morrem de endotoxemia. Por fim, existe a forma entérica, conhecida como “curso branco”, caracterizada por sinais como diarreia pastosa abundante, de coloração esbranquiçada ou amarelada, podendo progredir para diarreia aquosa severa, desidratação, acidose metabólica e morte.

Geralmente a ocorrência da Colibacilose é mais frequente em animais mantidos em confinamentos ou muito próximos uns dos outros, além de bezerros com poucos dias de vida. Outros fatores epidemiológicos que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro diarreico são: períodos chuvosos, sistemas de produção inadequados (manejo sanitário, instalações e nutrição ineficazes) e outras enfermidades como as endoparasitoses. A taxa de mortalidade pode variar de 10 a 50% para bovinos de leite criados em sistemas intensivos e de 5 a 15% para bovinos de corte. É importante salientar que ela pode chegar a 60% em propriedades com problemas de manejo.

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível. Além disso, é importante realizar a vacinação de fêmeas no pré-parto especialmente por conta da passagem de anticorpos da mãe imunizada para o bezerro, conferindo proteção durante os três primeiros meses de vida.

Para o tratamento recomenda-se a administração de antimicrobianos, sendo a Enrofloxacina um dos mais indicados, além do uso de anti-inflamatórios não esteroidais para o controle da febre, alívio da cólica e para proporcionar conforto ao animal. É importante que seja feita a reposição dos fluidos e eletrólitos pela via oral (em casos iniciais) ou pela via parenteral, pois a desidratação pode levar os bezerros à morte de forma muito rápida.

As referências bibliográficas desse texto podem ser solicitadas à autora pelo e-mail: juliana.melo@jasaudeanimal.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Juliana Melo, médica-veterinária e jornalista na JA Saúde Animal
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