Colunistas
Ser ou não ser sustentável não se discute. Como ser um país com marca sustentável? Eis a questão!
A Europa tem avançado em regulações sobre a produção de alimentos, a tendência é que alimentos que venham de fora sigam o mesmo nível de compromisso climático.

Ao contrário da frase histórica do imperador Júlio Cesar no ano 63 a.C: “a mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta”, com a tecnologia e rastreabilidade que palmilha todo planeta sob satélites numa mega indústria algorítmica, a batalha pela sustentabilidade e mudança climática faz dessa questão dominante na civilização contemporânea, a sustentabilidade, o inverso de Júlio César: sustentabilidade não basta parecer, precisa ser.
O parlamento europeu aprovou o “Carbon Border Adjustment Mechanism – CBAM”, um certificado que objetiva equalizar os preços do carbono pago por produtos europeus com outros produtos importados de fora da Europa. Essa regra vai obrigar as empresas que importam produtos do exterior a pagar a diferença entre o preço do carbono no exterior versus o preço autorizado do carbono pelo sistema de emissões de comércio da União Europeia. Em inglês EU – ETS.
A lei e nova regra a ser iniciada em outubro de 2023, em total concordância e compliance da Organização Mundial de Comércio, terá no período de transição o objetivo de obrigar as empresas importadoras a fornecer relatórios.
O escopo dos CBAM’s começa com itens sabidamente muito poluidores como ferro, aço, cimento, alumínio, fertilizantes, eletricidade e produtos deles derivados, são as emissões indiretas.
Conversei com Daniel Vargas, coordenador do Observatório da Bioeconomia da FGV sobre os CBAM’s. Ele me disse: “não afeta o agro agora, porém a tendência é que a regra seja expandida para outros setores e deve chegar ao agro. Há pressão para incluir o agro no CBAM, liderado pela Alemanha. A Europa tem avançado em regulações sobre a produção de alimentos, a tendência é que alimentos que venham de fora sigam o mesmo nível de compromisso climático”.
Conversando com líderes do agro sustentável brasileiro, fica a pergunta: quais serão as métricas para avaliação desse modelo? Como será essa régua de avaliação criada? Quem as irá definir?
Estamos participando como protagonistas dessa inevitável questão. Precisamos de uma diplomacia da sustentabilidade e da mudança climática protagonista doravante nos fóruns de discussão internacionais, pois “quem parte e reparte fica com a melhor parte”.
Portanto, o “cerco aperta”, como também registra Roberto Rodrigues, coordenador da FGV-Agro. Nossos inimigos maiores são: 1 – O crime da grilagem de terras, contrabando, o ambiente ilegal; 2 – Negacionistas da sustentabilidade; 3 – “Comicídios” – comícios manipuladores populistas associando o tema a perda da soberania nacional com manchas ideológicas ultrapassadas; 4 – Ausência de um planejamento estratégico de estado para a prosperidade das populações do bioma amazônico com dignidade humana e impacto positivo no PIB do país; 5 – Ações de comunicação ética das iniciativas avançadas que o país já sabe e já realiza. Falta percepção das realidades sustentáveis positivas do país.
Precisamos de um metaverso do Brasil sustentável, pois como Raul Seixas canta na sua música Prelúdio, “sonho que se sonha só é só sonho, sonho que se sonha junto é realidade”, mas, cuidado, vale também para pesadelos, o oposto.
Ser ou não ser sustentável não se discute, como ser um país com marca sustentável, eis a questão.
Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Anuário do Agronegócio Brasileiro.

Colunistas Opinião
As biossoluções e as transformações possíveis na agricultura brasileira
A crescente demanda por alimentos coloca pressão sobre a agricultura para aumentar a produção.

O mundo enfrenta uma série de desafios que impactam a vida de milhões de pessoas, entre eles as mudanças climáticas e a necessidade de se produzir cada vez mais alimentos para atender a uma população crescente. Neste contexto, a biotecnologia emerge como uma ferramenta que pode impulsionar a produção agrícola, contribuir para a segurança alimentar e, ao mesmo tempo, reduzir o impacto ambiental. Um estudo recente, intitulado “Estudo do Hectare – Desbloqueando potenciais produtivos no mesmo espaço de terra com biossoluções no país”, lança luz sobre o potencial que as biossoluções têm na cadeia de valor agrícola do Brasil.
A crescente demanda por alimentos coloca pressão sobre a agricultura para aumentar a produção. E as biossoluções (como enzimas e microrganismos) podem contribuir, especialmente em um país como o Brasil, que tem um papel fundamental na produção de alimentos em escala global. As enzimas são proteínas que atuam como catalisadores. Quando uma substância precisa ser transformada em outra, a natureza usa enzimas para acelerar o processo.
O “Estudo do Hectare”, desenvolvido pela Novozymes, considerou duas safras no ano, uma de soja e outra de milho. No modo convencional de produção, sem o uso de biossoluções, um hectare, de acordo com uma produção extraída dos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), consegue produzir soja e milho para alimentar 2.340 frangos até a fase adulta (cerca de um ano) e fornecer óleo de soja para a produção de 746 litros de biodiesel. Se biossoluções forem utilizadas no processo produtivo, é possível alimentar 2.400 frangos por hectare sem alterar a quantidade inicial de ração, e a produção de biodiesel chegaria a 790 litros.
Além disso, a utilização de inoculantes, produtos compostos por grande quantidade de bactérias (as mesmas que já são encontradas no solo), aumentaria a produtividade das lavouras. O milho adicional, por exemplo, poderia ser usado para a produção de 83 litros de etanol à base de amido. A soja proveniente da produção deste hectare poderia ser utilizada para a produção de 224 kg de ração rica em proteínas. Além disso, a utilização de biossoluções no processo gera economia na aplicação de nitrogênio e de fósforo devido ao uso de microrganismos que solubilizam os nutrientes, o que facilita a absorção das plantas tornando-as mais produtivas.
Além de mais produção, a adoção de biossoluções, considerando-se todos esses processos, geraria, por hectare/ano, uma redução total nas emissões de gases do efeito estufa (GEE) de 1 tonelada métrica de dióxido de carbono equivalente.
Em termos de sustentabilidade, o estudo demonstra que as biossoluções representam um exemplo inspirador de como a ciência pode se unir à agricultura para atender às necessidades do nosso planeta. À medida que continuamos a desenvolver e adotar essas tecnologias, estamos um passo mais próximos de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. A aplicação das biossoluções pode ajudar a mitigar as mudanças climáticas (ODS 13), produzir mais energia renovável (ODS 7), combater a fome (ODS 2) e estimular o crescimento econômico (ODS 8).
Enquanto avançamos, é essencial continuar apoiando a pesquisa e a adoção dessas soluções inovadoras. Elas têm o potencial de impactar não apenas o Brasil, mas também o mundo, pois precisamos trabalhar juntos para enfrentar os desafios ambientais e alimentares que temos diante de nós.
Colunistas Opinião
Microcrédito pode ser a chave para Brasil se manter na dianteira da agricultura mundial
A tecnologia agrícola no Brasil avançou rapidamente, superando os desafios climáticos associados à tropicalidade do país e à predominância da caatinga em grande parte de nosso território.

O Brasil é reconhecido e admirado mundialmente por seu potencial na área da agricultura, principalmente por países como Angola, que possui uma caatinga similar a nossa. Por possuir terras férteis, clima favorável e uma biodiversidade ampla, o nosso país é um dos maiores produtores e exportadores de commodities agrícolas do mundo. Além disso, a crescente adoção de tecnologias modernas, como a agricultura de precisão e a biotecnologia, por exemplo, têm impulsionado a produtividade e a eficiência no setor. Mesmo com estes avanços, o país ainda não atingiu nem metade de sua capacidade de produção agrícola.
A tecnologia agrícola no Brasil avançou rapidamente, superando os desafios climáticos associados à tropicalidade do país e à predominância da caatinga em grande parte de nosso território. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realizou estudos para enfrentar esses imprevistos, resultando em descobertas significativas sobre o cultivo em diferentes tipos de solo. Graças a esses avanços, atualmente é possível realizar cultivos de soja mesmo em áreas arenosas.
Esses avanços permitiram que nosso país saísse de apenas um importador para exportador de alimento e conquistasse um polo de tecnologia e inovação agrícola. Hoje, o Brasil continua a desempenhar papel fundamental no fornecimento de alimentos, biocombustíveis e matérias-primas agrícolas para o mercado global, tornando-se um player relevante na economia global. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – (FAO), o Brasil poderá ser responsável por 40% da produção agrícola mundial em 30 anos.
Mas, para ocupar o lugar previsto pela FAO, apenas o avanço de tecnologias que contribuam para produtividade agrícola não é suficiente. Aliado a isso, é necessário ampliar a disponibilidade de microcrédito e o estabelecimento de cooperativas. Gosto de comparar o microcrédito ao sangue e as cooperativas ao coração, pois uma depende da outra. A chave para o sucesso e expansão reside na sinergia entre esses dois componentes, que avançam lado a lado.
No Brasil existe uma enorme quantidade de microprodutores, que produzem apenas o necessário para sobreviver, justamente pela dificuldade em conseguir crédito no mercado que possibilitem a compra de mais sementes e maquinários adequados para a expansão de suas plantações. Outro ponto importante são as cooperativas. Elas são responsáveis pelo acesso aos maquinários e, além disso, têm muito a ensinar, já que são, essencialmente, várias pessoas se unindo com um único objetivo.
No cenário atual, também é possível observarmos uma crescente pressão sobre o setor do agronegócio, impulsionada pela expectativa de produção em consonância com princípios ambientais e sociais. Neste contexto, se destacam empresas e comerciantes que sabem como lidar com as questões relacionadas à inflação e aumento de preços. À medida que a consciência ambiental aumenta globalmente, a demanda por práticas agrícolas sustentáveis se intensifica, colocando o agronegócio em posição crucial na busca por soluções que equilibrem eficiência produtiva com responsabilidade ambiental.
Nos dias de hoje, é de extrema importância a necessidade de aumento de investimentos em inovação agrícola, sustentabilidade e tecnologias eficientes para aumentar a produtividade com redução de danos ao meio ambiente. Atuo em diversos projetos voltados para investimento no segmento e o ESG é um dos pilares que precisa sempre andar em conjunto. Acredito que fomentar, produzir e distribuir são três palavras-chaves que devem estar no radar ao investir nesses projetos. Não é apenas colocar o dinheiro, mas é necessário pensar na cadeia produtiva como um todo. No contexto mais amplo das preocupações globais com a sustentabilidade, a integração dos princípios ESG (Ambiental, Social e de Governança) torna-se cada vez mais crucial.
As empresas do setor agrícola devem adotar medidas que não apenas visam a produtividade e rentabilidade, mas também consideram os impactos ambientais, a promoção de condições de trabalho justas e a transparência nos processos de governança. Dessa forma, não apenas atendem às expectativas da sociedade e dos investidores em relação à responsabilidade corporativa, mas também fortalecem a posição do Brasil no cenário internacional como um líder comprometido com práticas sustentáveis e responsáveis.
Colunistas
Conhecimento e sucessão no campo
Os jovens estão voltando porque o campo vive um novo tempo.

O campo vive uma nova realidade. A ciência e tecnologia estão presentes em todas as atividades agrícolas, pecuárias, extrativistas, da fruticultura, da olericultura etc. Todas as atividades do agro foram tecnificadas – e essa foi a condição que o mercado impôs para a busca da eficiência, fulcrada na elevação sustentável da produção e da produtividade.
Alcançar esse estágio foi uma conquista obtida a muitas mãos. Os centros de pesquisa da agricultura tropical brasileira – com acentuado mérito para Embrapa – estão entre os protagonistas desse círculo virtuoso. Mas é preciso acrescentar o papel das cooperativas e suas agroindústrias como difusoras e incorporadoras das novas tecnologias no campo com o inegável apoio do Sistema S, notadamente o Sescoop (aprendizagem do cooperativismo), do Senar (aprendizagem rural) e do Sebrae (micro e pequenas empresas).
Centenas de programas de alto nível foram desenvolvidos diretamente nos estabelecimentos rurais nos últimos 30 anos, com milhares de ações de qualificação e requalificação de produtores e trabalhadores rurais com o apoio e patrocínio das cooperativas, das agroindústrias e do Sistema S. Exemplos marcantes são os programas De Olho na Qualidade, Qualidade Total Rural, Times de Excelência, Suíno Ideal, Franco Ideal e Bem-estar Animal, entre outros que, ao longo do tempo, evoluíram para o Encadeamento Produtivo e estão todos abrigados no guarda-chuva do Programa Propriedade Rural Sustentável Aurora. Ou seja, muito antes de seu surgimento conceitual, a agenda ESG era prática cotidiana dos atores que fazem do agro brasileiro um notável setor de vanguarda. Nesse particular, inclusive, é importante observar que os princípios basilares do cooperativismo universal, desde seu surgimento, continha com outra roupagem o DNA da filosofia ESG
É notório que a crescente incorporação de ciência e tecnologia conferiu ganhos de escala às propriedades rurais que passaram a ser geridas como verdadeiras empresas, comprometidas com a busca de resultados, em um regime de sustentabilidade e de proteção aos recursos naturais – condição sine que nom para a perenidade do negócio.
A conquista desse status trouxe um benfazejo efeito paralelo o qual, em verdade, representa o principal ganho de todos esses esforços: trata-se da presença dos jovens no ambiente rural. Os jovens estão voltando porque o campo vive um novo tempo. Permanecem as ameaças típicas do meio – fenômenos climáticos, doenças, pragas, crises de mercado, escassez de crédito etc. – mas o setor primário da economia modernizou-se e criou novas perspectivas de futuro para as famílias rurais, com evidente elevação da qualidade de vida.
A presença do jovem assegura sucessão nas propriedades rurais, equacionando uma questão que preocupava os formuladores de políticas públicas para o agro. O envelhecimento da população rural e a fuga dos jovens era um processo socioeconômico e demográfico visto, até recentemente, como uma questão dramática para o futuro do agronegócio verde-amarelo. Essa constatação reforça a convicção de que o caminho é persistir nos programas que levam conhecimento produzem efeitos sociais, ambientais e econômicos para o rico e multifacetado universo rural.