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Suínos / Peixes

Saiba como a Aurora Coop pretende dobrar de faturamento em 10 anos

Presidente da cooperativa, Neivor Canton diz que é preciso preparar os seus quadros de cooperados e de colaboradores para fazerem com que a cooperativa seja um instrumento para o desenvolvimento da sociedade.

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Registro da entrevista do programa Voz do Cooperativismo na sede da Aurora Coop, em Chapecó, SC - Foto: O Presente Rural

Com um faturamento de R$ 22,2 bilhões em 2022, a Aurora Coop planeja dobrar a sua produção e faturamento nos próximos dez anos. No 5º episódio da série Voz do Cooperativismo, a equipe de reportagem foi até a sede da cooperativa, em Chapecó, SC, e conversou com o presidente Neivor Canton. Ele falou sobre a história da cooperativa, sobre os planos dessa gigante para se tornar ainda maior no setor de carnes e ponderou sobre as percepções que possui sobre o presente e o futuro do agronegócio no Brasil e no mundo. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

O Presente Rural – Conte um pouco sobre sua trajetória até tornar-se presidente da Aurora Coop e sobre o seu e envolvimento com o cooperativismo.

Presidente da Aurora Coop, Neivor Canton – Foto: O Presente Rural

Neivor Canton – Iniciei a minha trajetória ainda muito jovem, em uma cooperativa singular do grupo Aurora, a Copérdia. Lá eu tive a oportunidade de assumir cargos importantes e tive o privilégio de tomar posse como presidente, sucedendo o grande cooperativista Odacir Zonta. Estive à frente da Copérdia por 12 anos e neste período eu atuei como presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), e da Federação das Cooperativas Agropecuárias (Fecoagro). Essas experiências possibilitaram que eu assumisse, a partir de 2007, funções na diretoria da cooperativa central, que é a Aurora Coop. Nos tempos do grande idealizador do sistema Aurora, o senhor Aury Luiz Bodanese eu já estava contribuindo com o meu trabalho atuando no Conselho de Administração. Entre os cargos de destaque também exerci a função de Secretário do Conselho da Aurora e por meio de todas estas experiência, desde 2020 estou na presidência da Aurora, sucedendo o passado presidente Mário Lanznaster que faleceu, de quem eu era vice-presidente.

O Presente Rural – A Aurora teve início em 1969. Na época, o objetivo era proporcionar melhores condições de vida às famílias de pequenos produtores rurais. Conte-nos um pouco sobre a história da Aurora Coop.

Neivor Canton – A Aurora é uma cooperativa central que integra outras cooperativas. A sua fundação foi há 53 anos, quando oito cooperativas decidiram unir-se para facilitar o processo de industrialização, que teve início com suínos e depois outras atividades foram sendo acrescentadas. O início foi muito bonito, já que mostra o poder da união, porque uma cooperativa apenas não tinha capital e condições de iniciar um processo de industrialização, mas com a cooperação entre várias foi possível iniciar este lindo trabalho. Hoje somos onze filiadas e logo teremos mais cooperativas que vão integrar a nossa central.

O Presente Rural – Observamos que é muita gente envolvida com a Aurora, o senhor pode nos contar qual é o número de colaboradores associados da cooperativa?

Neivor Canton – Quando juntamos todas as cooperativas que são associadas à Aurora nós temos 76 mil produtores rurais cooperados, umas cooperativas com mais pessoas e outras com menos. Mas como nós sempre costumamos dizer, os nossos princípios do sistema cooperativo é o que move todas as cooperativas. Também é importante ressaltar que todas elas têm poder de discussão e de decisão também. Com relação aos colaboradores somos mais de 55 mil funcionários que desempenham as atividades burocráticas da cooperativa. Somente na central Aurora são 42 mil empregos diretos, já os empregos indiretos são milhares espalhados por todo o Brasil.

O Presente Rural – Com relação às regiões de atuação da Aurora, o senhor pode nos dizer em quais lugares a cooperativa tem atuado e se existem planos de expansão da Aurora Coop?

Neivor Canton – Em se tratando de produção, as bases produtivas do campo estão nos três estados do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul, são esses os estados que hospedam as nossas onze cooperativas afiliadas. Neles estão os nossos 76 mil produtores.
Por outro lado, comercialmente falando, a Aurora foi se expandindo ao longo da sua trajetória de pouco mais de meio século e hoje estamos presentes em todas as unidades da federação brasileira, com a comercialização de mais de 850 itens de produtos derivados de suíno, frango, leite, massas e peixe e assim por diante. De todos os produtos que produzimos, de 35% a 40% são exportados para mais de 100 países.

O Presente Rural – Com respeito aos ramos de atuação da Aurora, o senhor poderia fornecer detalhes sobre cada um deles e compartilhar como está o desempenho de cada setor?

Neivor Canton – É claro. O negócio que deu início à existência da Cooperativa Central foi a suinocultura, porque tínhamos muitos produtores pequenos que não tinham para quem entregar sua produção. A área onde a Aurora iniciou suas atividades já era trabalhada por outras grandes empresas do setor, mas os pequenos produtores não tinham espaço para entregar sua produção. Desta maneira, as oito cooperativas juntaram-se e iniciaram a Cooperativa Central abatendo 200 suínos por dia. Hoje abatemos 30 mil suínos ao dia. Então, uma trajetória de meio século permitiu que a atividade da suinocultura se consolidasse entre os pequenos produtores, que também foram crescendo. Hoje nós não diferenciamos os produtores da Aurora pelo tamanho em relação a outros produtores. Esse nivelamento existe, mas eles próprios se nivelaram por conta da competição do mercado, já que a viabilidade da atividade exige escala e uma série de outras situações.

Foto: Divulgação/Aurora

Nossa suinocultura hoje conta com nove plantas que processam suínos diariamente e nós temos algo em torno de 4 mil produtores que entregam os suínos às nossas cooperativas, que fazem chegar até a Aurora. Cada cooperativa tem sua quota diária para entregar nas plantas determinadas, segundo a melhor logística.

O ingresso da avicultura foi na sequência, um pouco mais tarde. Hoje também temos nove plantas que processam frangos, com um total de 1,3 milhão de frangos abatidos por dia. Estamos com algumas ampliações em curso que deverão adicionar mais volumes nos próximos meses e anos e os produtores também localizados segundo a melhor logística.

Mais recentemente passamos a processar o leite também como uma alternativa para aqueles produtores que não desejaram continuar na suinocultura, porque na grande região agrícola e especialmente no Leste catarinense, todas as famílias tinham alguma coisa de suíno. Mas como o mercado foi exigindo escala para viabilizar a produção tivemos muitos produtores que preferiram deixar esta atividade, desta maneira, o processamento do leite foi a nossa alternativa, pois a maioria ainda trabalhava com a pecuária leiteira, desta forma, ajudamos na tecnificação desta atividade e hoje nós temos, no Oeste de Santa Catarina, uma grande bacia leiteira, que o sistema cooperativo de fato foi o grande incentivador. Hoje processamos cerca de 1 milhão e 600 mil litros de leite por dia, que são industrializados e comercializados.

São estes três os nossos grandes negócios: suínos, aves e leite. Também começamos a trabalhar com peixe, mas isso está apenas começando, e desta forma ainda não fazemos referência a essa produção.

O Presente Rural – Para onde vai toda essa produção de suínos, frangos e leite?

Neivor Canton – Muito interessante a sua pergunta, o mercado interno é o nosso grande aliado quando falamos em industrialização. O Brasil ainda tem dificuldade de emplacar, em mercados externos, nossos produtos industrializados. De fato, nos países do velho mundo, com sua grande tradição é bastante difícil de alcançar, porém, acreditamos que devagarinho nossos produtos vão passar a ser encontrados em gôndolas nos mercados externos.
No mercado interno temos mais de duzentos milhões de consumidores que consomem volumes extraordinários dos nossos produtos. Já o mercado externo vem absorvendo bastante a nossa produção avícola e constatamos um crescimento extraordinário da avicultura brasileira e que faz com que a gente acredite que dificilmente outros países do mundo terão a competitividade que o Brasil possui no mercado externo.

Com relação ao leite nossa produção é consumida pelo mercado interno, exportamos um pouco de leite em pó, mas é muito pouco.
Desta maneira, podemos dizer que 40% do nosso frango vai para o mercado externo. Algo em torno de 30% do suíno também é exportado. Assim sendo, qualquer plano de crescimento que nós tenhamos nessas duas atividades, suínos e aves, sempre deve ser pensado olhando para o mercado externo.

O Presente Rural – Uma das grandes preocupações de quem produz proteína animal além da questão de custo, é a questão da biosseguridade. Uma das grandes conquistas que o Brasil tem é o status sanitário diferenciado. Como que a Aurora tem trabalhado isso?

Neivor Canton – O Brasil tem sido privado da peste suína africana que já atinge muitos países. A Influenza aviária também está fora dos nossos planteis comerciais. Isso é motivo de orgulho e uma grande conquista para o nosso país. Desta maneira, a questão sanitária tem sido enxergada de forma especial pelos poderes públicos, tanto nos municípios, como nos estados e pelo governo federal. Todos reconhecem a importância social e econômica que a produção do agro tem e por isso, buscam formas e ferramentas para proteger os planteis.

Aqui em Santa Catarina também temos um status diferenciado, porque há muitos anos somos reconhecidos pelo mercado externo como área livre de febre aftosa sem vacinação. Isso possibilita um status bem elevado para o nosso estado. Eu também diria que o Paraná e o Rio Grande do Sul têm o mesmo status, só que ainda não foi reconhecido adequadamente, mas eles já têm dispensado os mesmos cuidados com os plantéis. Prosseguir e progredir esses reconhecimentos é muito importante para o Brasil.

Por outro lado, a nossa fronteira aqui com a América do Sul, com os países sul americanos, nos coloca ainda em algumas dificuldades de cuidar disso de maneira adequada. É preciso continuar investindo, porque este cuidado vale a pena, porque um bom status sanitário fortalece a nossa economia. Os governos sabem do grande retorno financeiro que as nossas produções trazem ao nosso país e desta forma, eles passam gradativamente a serem mais sensíveis e mais atenciosos com os cuidados que são fundamentais. O Brasil, queiramos ou não, mesmo que tenham pessoas que contestem, está caminhando para ser um grande produtor de alimentos para o mundo. E isso ninguém pode desprezar. Isso é oportunidade de nós desenvolvermos nosso país em vários aspectos, porque a riqueza não fica no bolso só de quem exporta, ela se distribui para toda a sociedade.

O Presente Rural – Como a cooperativa tem lidado com temas da atualidade como o ESG, bem-estar animal e a própria questão da tecnologia sendo incorporada no ramo agropecuário?

Neivor Canton – Os tempos são muito desafiadores sob esse aspecto. As atividades produtivas do campo e práticas industriais vêm sempre sendo vigiadas no sentido de que o consumidor cria os seus desejos, as suas vontades e quem produz precisa estar atento.

Contudo, o ESG, eu diria que é uma sigla moderna que vem sendo divulgada há poucos anos, mas que já era utilizada em nosso meio, ou seja, há muito tempo trabalhamos com os pilares do ESG. Nós temos convicção de que há décadas a legislação brasileira tem normatizado de forma muito eficiente em relação aos deveres com o nosso trabalhador, com as boas práticas de campo, cuidado com os tratos dispensados aos animais.

Nossa principal preocupação, que tem movido o sistema Aurora, que são as onze cooperativas e mais a Central, é o princípio de cuidar das pessoas do campo, pois são elas os donos do empreendimento. Cada produtor precisa sentir a segurança de que a sua propriedade rural, que é uma empresa, possui perspectiva de sucessão, de continuidade. E isso tem merecido toda a nossa atenção. Nós nos orgulhamos do que fazemos com o produtor do campo, pois durante mais de duas décadas, os nossos programas de qualidade têm se preocupado em fixar e dar estabilidade aos produtores no campo.

E isso tem começado até com programas de auto estima que são levados a essas famílias, porque o campo teve um êxodo rural espantoso há algumas décadas. Dá para se afirmar que hoje nós temos a metade da população rural que já se teve em outros tempos. Muitas famílias deixaram o campo por falta de perspectiva e as cooperativas então tiveram essa visão de trazer, para os produtores rurais, programas de qualidade, fazendo com que os filhos e filhas dos produtores rurais enxergassem nas propriedades uma perspectiva de futuro. Muitos dos jovens que saíram por falta de perspectiva estão retornando para serem gestores de uma propriedade rural e gestores no sentido de ter resultado, já que ninguém fica numa atividade se não tem perspectiva de resultado econômico. E esse resultado acaba trazendo também outras soluções.

Com relação a qualidade de vida nós costumamos definir que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das famílias do campo são sensivelmente melhores do que foram há décadas. Acreditamos que isso é fruto de todo este importante trabalho, juntamente com a tecnologia e outros ingredientes que você fez referência. Então dentro do ESG todas essas práticas são consideradas.

Hoje, o nosso produtor é um verdadeiro gestor da propriedade. Eu costumo dizer que as meninas do campo voltaram a casar com os meninos do campo e pacificou esse lado. É que hoje nós temos empresas rurais, sendo que é muito mais difícil você fazer a gestão, ou seja, administrar uma empresa rural do que uma pequena empresa urbana. Então, um produtor rural hoje é de fato um homem capacitado para ser um empresário.

O Presente Rural – Fale um pouquinho a respeito dos planos de expansão da Aurora para o Paraná.

Neivor Canton – Recentemente ajustamos uma intercooperação com três cooperativas dos Campos Gerais do Paraná. Já noticiamos isso para todo o Brasil e estamos aguardando a aprovação da transação com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Acreditamos que em breve teremos a aprovação e assim esperamos um crescimento do nosso quadro de cooperativas associadas com o ingresso de mais três cooperativas do Paraná no Grupo Aurora.

Esse é um dos muitos projetos importantes que vai elevar a nossa participação no mercado no da suinocultura e avicultura. Mas temos também outros projetos que já foram traçados no nosso planejamento estratégico e que preveem uma continuidade de crescimento adequado à capacidade de consumo e a demanda do consumidor.

Na área da produção de leite que também é uma atividade muito importante para a Aurora nós planejamos continuar a resgatar o compromisso que nós temos com os nossos produtores e aprimorar este negócio.

O Presente Rural – Quais são as perspectivas de crescimento e faturamento para os próximos anos?

Neivor Canton – Encerramos o ano de 2022 com um faturamento de R$ 22,2 bilhões. Entretanto, nossa perspectiva para 2023 não aponta para um crescimento expressivo, conforme os apontamentos do mercado. Atualmente, estamos projetando um aumento moderado na faixa de 6% a 10%. Essa projeção está sujeita a variáveis especialmente as que surgirão nos últimos meses deste ano. Fatores como os preços praticados no mercado podem influenciar nossa receita e permitir ajustes necessários. No entanto, é importante antecipar que, devido às atuais complexidades do mercado, não esperamos que 2023 apresente um crescimento comparável aos anos anteriores.

Para o futuro temos grandes aspirações. Esperamos que com a medida que adicionamos volumes processados em nossas fábricas, acrescentamos novas plantas industriais ou ampliações de plantas que possuímos, bem como a constante utilização de novas máquinas e processos, que possibilitam mais volumes de produção e desta forma, mais produtos vão para o supermercado. Então isso tudo vai contribuindo para um crescimento que nós imaginamos, em nosso planejamento estratégico, num período de dez anos, duplicar o tamanho da nossa Aurora.

O Presente Rural – Falando em relação à tecnologia que tem invadindo o campo de uma forma brutal. Como isso acaba ajudando os cooperados, os produtores do campo?

Neivor Canton – No campo hoje nada mais se faz sem tecnologia, pois a mão de obra está cada dia mais escassa, e a tecnologia é um recurso que vem sendo empregado, seja na lavoura, na forma de manejo ou nos plantéis de suínos, de aves e do leite.

Nós assistimos diariamente uma competição saudável sob esse aspecto e observamos que o produtor está realmente aberto a essas novas práticas. Quando você visita uma granja você fica encantado com as verdadeiras surpresas que você constata. Essas tecnologias também têm sido um fator de motivação, especialmente para o jovem e isso é muito importante por que a renovação é necessária. Temos hoje uma geração de jovens motivados, que buscam a formação universitária inclusive, mas têm o prazer de retornar e agregar o seu trabalho ao empreendimento rural.

Então, eu penso que a tecnologia é o suprassumo e quando iniciamos uma cadeia produtiva auxiliados por ela, estamos melhorando o nosso posicionamento e a competição com os mercados que nós precisamos ter, seja interno ou externo. A tecnologia é imprescindível para a nossa cooperativa e, por isso, nós temos departamentos, áreas e pessoas voltadas diretamente para o aspecto da inovação.

O Presente Rural – Como é a relação da Aurora com os cooperados e colaboradores? Como a cooperativa fomenta o crescimento das pessoas?

Família cooperada da Aurora – Divulgação/Aurora

 Neivor Canton – Nós precisamos ser obedientes no que toca aos princípios de uma cooperativa. Eles estão escritos, são centenários e é preciso que a gente cumpra-os. Nós precisamos ser reconhecidos pela sociedade onde nós estamos inseridos, como empresa preocupada com as comunidades, sendo que toda cooperativa possui o compromisso de estar atenta às necessidades dos cooperados, afinal ela existe para isso. Os cooperados desejam que a cooperativa exista porque eles a utilizam como um meio para alcançar seus objetivos. Desta maneira, a cooperativa não é um fim em si mesma, mas um meio no qual seus cooperados atinjam os objetivos propostos por eles. Isso não pode ser desconectado, mas precisa estar sempre na mente de todos.

Desta forma nós buscamos dar condições para que os nossos produtores tenham a perspectiva de que se eles precisam crescer, pois essa é uma condição para sua sobrevivência, já que a escala possibilita e viabilidade econômica dos negócios. Essa é uma das razões de nós projetarmos crescimento, porque individualmente os cooperados precisam crescer e eles precisam ter onde processar a sua produção. E nós temos que dar conta de ir ao mercado provar que produzimos os produtos confiáveis, desejados pelo consumidor e fazermos disso então a viabilidade dos nossos cooperados.

Com relação aos nossos colaboradores eles também merecem serem enquadrados dentro dessas preocupações. Não contratamos pessoas para usá-las. Aqui nós zelamos pelo valores humanos e temos programas de promoção dos nossos colaboradores. Também pensamos em suas famílias, e no seu bem-estar. Acreditamos que não basta pagar o salário, temos que dar a eles uma participação sobre o fruto gerado. Nesse sentido, trabalhamos há bastante tempo com a participação nos resultados da organização para os colaboradores.

Como cooperativa temos uma cadeia longa que começa no produtor e termina no consumidor. Temos a necessidade de estar atentos a todos esses processos, essas áreas, pois todos os elos da corrente precisam estar fortalecidos. E esse é um exercício que desafia a gestão de uma cooperativa.

Digo que, felizmente, vejo com muito bons olhos o crescimento do sistema, pois a maturidade das nossas cooperativas tem alcançado reconhecimento da sociedade. Costumo dizer que o sistema cooperativo é também um dos melhores aliados de qualquer governo bem intencionado, porque o que nós fazemos é desenvolver economicamente as comunidades e o avanço econômico propicia também o progresso social.

O Presente Rural – Quais os principais desafios da Aurora hoje?

Neivor Canton – O desafio principal é você ser uma organização sólida e que olha para a sua perpetuação, pois o mundo dos negócios dá trancos a toda hora. Então você precisa ter organizações bem lideradas, transparentes e que mereçam a confiança da sociedade. Você não pode perder, no entusiasmo, a linha e pensar que tudo é possível, porque logo à frente pode se deparar com situações intransponíveis. Então é comum que você verifique organizações e cooperativas em situações de dificuldades. Isso foi no passado, é no presente, e provavelmente será no futuro. Desse modo, eu penso que as cooperativas brasileiras ganharam muito desde que elas atingiram a sua autogestão, conquistada com a Constituição de 1988, quando o Estado deixou de ter o poder de interferir nas cooperativas, porque o Estado não é um sócio bem-vindo nesse meio. Basta a sua gordura que precisamos reduzir e retirar. Com isso também, as cooperativas passaram a ter uma responsabilidade maior a partir da sua autogestão. Nesse sentido, é preciso preparar os seus quadros de cooperados e de colaboradores para fazer com que a cooperativa seja um instrumento para o desenvolvimento da sociedade. Acredito que estamos cumprindo o nosso papel e esperamos que toda a sociedade possa reconhecer isso.

O Presente Rural – Como a intercooperação se encaixa nesse contexto?

Neivor Canton – Eu diria que a Aurora Coop é um exemplo do intercooperação. Como que um pequeno produtor rural poderia estar colocando o seu produto na mesa do japonês, chinês, ou de um norte americano? É a cooperativa que possibilita isso. Mas em alguns casos, uma cooperativa sozinha, muitas vezes pequena, sem capital, também não tem condições de fazer isso. E a intercooperação é o caminho, porque associando-se a outras cooperativas, fica mais fácil produzir esse resultado.
Estamos presentes em mais 100 países no mundo, com produtos que tiveram origem em pequenas linhas, mas que com o ato de intercooperação conseguiram ser comercializados em muitos lugares. Outra oportunidade que as cooperativas ofertam é o exercício de comprar melhor, de reduzir custos para o produtor, que também precisa se suprir das necessidades para produzir. Se ele for ao mercado comprar sozinho, ele é muitas vezes explorado. Deste modo, eu acredito que a intercooperação ainda é uma ferramenta subutilizada, que precisa ganhar mais força, mais visibilidade e para isso precisamos de dirigentes que entendam que eles são os principais responsáveis de descobrir as formas de intercooperar, porque essa é uma ferramenta poderosa.

O Presente Rural – Quais as oportunidades que a Aurora Coop enxerga hoje para o agro brasileiro?

Neivor Canton – O setor agrícola brasileiro enfrenta desafios significativos em sua relação com o restante do mundo. Não é que o Brasil seja culpado por essas questões, mas sim que alcançamos um nível de desenvolvimento no setor agrícola que pode ser percebido como uma ameaça por outros países que também possuem atividades agrícolas.

Queiramos ou não, o mundo tem seus conflitos e hoje as questões de ordem ambiental, já que se discute há muito tempo o mundo olhando para o Brasil e criando embargos para dificultar o nosso papel de sermos mais e mais competitivos. E essa é a grande questão. Nós não podemos embarcar muitas vezes em conversas que são amplamente divulgadas e que parecem existir conflitos, atribuindo ao Brasil culpas. As culpas são ameaças que outros países sentem em função da competitividade que nós gradativamente adquirimos.

É claro que temos fatores que nos limitam, como a questão de infraestrutura. Também temos custos em nossas atividades que muitos países não têm, pois aboliram isso fruto do seu desenvolvimento. Mas nós vamos superando isso. Ano após ano, nós verificamos as nossas safras crescendo absurdamente. E qual é a explicação? A explicação é que você trabalha, produz, busca alternativas. Aí vem a dificuldade e superamos as dificuldades.

Eu gostaria de poder daqui a 50 anos a gente voltar essa conversa para que a gente pudesse então avaliar o que realmente aconteceu com o agro brasileiro, se nós não fizermos besteiras, bobagens, nós vamos de fato cumprir um papel de alimentar o mundo que precisa tanto. Eu diria que hoje, no mundo, não estamos na metade do caminho da nossa capacidade produtiva. Novas tecnologias virão incorporar áreas hoje improdutivas ao processo de produção, sem desprezo à necessidade de preservarmos. O Brasil realmente é palco desse futuro que está na mão dos homens.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola acesse gratuitamente a edição digital de Suínos. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Suínos

Especialista alerta para pontos críticos e de maior atenção na limpeza e desinfecção

Profissional enaltece a importância destas etapas e reforça que elas podem ser grandes aliadas na prevenção e tratamento de doenças e no controle de pontos críticos da granja.

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Foto: Giuliano De Luca/OPR

A suinocultura é uma atividade complexa, e a biosseguridade desempenha um papel crucial para manter a saúde dos animais e garantir o sucesso da produção. A médica-veterinária, mestra em Patologia Animal, Thaiane Kasmanas, enaltece nesta matéria a importância da temática “Limpeza, desinfecção e a pirâmide do bom senso”, apresentando contribuições significativas para esta etapa da produção, o que pode contribuir para a evolução e o aprimoramento contínuo da atividade.

De acordo com Thaiane, a limpeza e a desinfecção acabam sendo, no dia-a-dia da granja, atividades bastante operacionais. Ela enalteceu que muitas propriedades já possuem equipes que são responsáveis por fazer este serviço. “Meu objetivo hoje é mostrar a grande importância destas práticas que podem interferir em todo o processo produtivo da suinocultura. É preciso capacitar os profissionais”, recomenda.

Médica-veterinária, mestra em Patologia Animal, Thaiane Kasmanas – Foto: Divulgação/Pork Meet Rio Verde

A médica-veterinária distinguiu dois conceitos que muitas vezes acabam sendo confundidos como se fossem o mesmo: a biosseguridade e a biossegurança. Conforme ela, a biosseguridade são as práticas e medidas que visam minimizar os riscos sanitários em populações animais, já a biossegurança está relacionada com as normas e procedimentos que são realizados com os seres humanos. “Desta forma podemos dizer que a biosseguridade diz respeito aos animais e que ela está sendo melhorada a todo momento. Já a biossegurança, por se tratar de aspectos relacionados à saúde humana, é mais inflexível e muito mais rígida, sendo que muitas vezes uma medida de biossegurança pode ser tornar uma lei”, disse.

A profissional pontuou que embora as duas palavras sejam parecidas, elas possuem conceitos diferentes, enaltecendo que esta abordagem sobre limpeza e desinfecção vai focar o complexo programa de biosseguridade. “É claro que o programa de biosseguridade vai além da limpeza e desinfecção, ele engloba os controles de entrada e saída na granja, bem como auxilia a dificultar a entrada de patógenos, controla o nível de contaminação interna, busca evitar a disseminação de doenças, bem como reduz gastos com tratamento medicamentoso e aumenta a produtividade e qualidade do produto final”, observou.

Segundo Thaiane, a biosseguridade pode ser dividida em três grandes áreas: a bioexclusão, bio-manejo e bio-contenção. “Na bioexclusão temos as ações que a gente usa para prevenir a entrada de um patógeno na granja. No bio-manejo temos os aspectos operacionais padrões, além da implementação de processos para evitar a proliferação de doenças, como a vacinação, a limpeza e desinfecção. Já a bio-contenção é a parte mais complexa, ela precisa estar sempre no radar, já que ela trata do manejo de resíduos, de animais mortos, da composteira, do biodigestor e a própria água de lagoa”, observou.

Ela pontuou que é possível redividir a biosseguridade em três grandes componentes. Físico, químico e lógico. “As barreiras físicas são usadas para sinalizar o que é área limpa, o que é área suja, elas tratam das partes da estrutura. Já o componente químico é a utilização dos detergentes e desinfetantes. E a parte lógica é bastante curioso, porque ela abrange com que o conceito de biosseguridade seja assimilado por todos aqueles que fazem parte da propriedade. Assim, quando acontecer algum evento, todos saberão o que fazer para resolver aquele problema”, recomendou.

De acordo com ela, ter fluxo e estrutura facilita esta gestão, pois promove de forma eficiente e com clareza os procedimentos que devem ser feitos. “Saber o conceito, ter as condições de estrutura necessárias e realizar os procedimentos adequados é o que faz a diferença na biosseguridade”, pontua. Por outro lado, a médica-veterinária também reforçou que a biosseguridade não é só a limpeza e desinfecção e que a nutrição e a sanidade também fazem parte desta importante engrenagem.

Custos menores

A especialista também ressaltou uma notável mudança de perspectiva que tem se desenvolvido ao longo do tempo. Essa mudança está relacionada com a redução da dependência de antibióticos, seja no tratamento ou em doses reduzidas. Em vez disso, a ênfase está sendo colocada na prevenção, com destaque para práticas como vacinação, limpeza e desinfecção. “Essas abordagens emergentes desempenham um papel crucial na redução da necessidade de recorrer a antibióticos, reservando seu uso para situações pontuais. Além disso, essa mudança de abordagem demonstra benefícios econômicos e produtivos substanciais, uma vez que o investimento em limpeza e prevenção é notavelmente menor em comparação com os custos associados ao tratamento com antibióticos”, pontuou.

 

 

Outros pontos

“Todos estes pontos são críticos e merecem atenção. Mas ainda precisamos reforçar que existem pontos críticos que precisam de controle redobrado, como o isolamento, controle de vetores, limpeza e desinfecção, a monitoria da saúde dos animais, a verificação e a validação do sistema com auditoria”, frisou.

Foco na limpeza

A médica-veterinária enalteceu que apesar da etapa da limpeza ser uma ferramenta e um processo operacional, ela impacta diretamente na saúde dos animais. “Esta etapa representa 90% do sucesso, porque nenhum desinfetante consegue atuar em cima de matéria orgânica. Portanto, a ideia é que a gente sempre foque nossos esforços na limpeza e finalize com a cereja do bolo, que é a etapa da desinfecção”, recomendou.

De acordo com ela, o principal objetivo da limpeza é reduzir a pressão de infecção nas granjas, pois ela visa eliminar vírus, bactérias e fungos. “É importante reconhecer que não existe um produto mágico que serve para tudo, mas que é necessário utilizar o conjunto de ferramentas, pois é este conjunto que vai beneficiar a produção”, mencionou.

Reprodução, maternidade e creche

A médica-veterinária alertou sobre a importância do rigor sanitário ser ainda maior com os animais que participam da reprodução, tanto fêmeas como machos, já que eles são animais de alto valor agregado. No contexto da maternidade, ela apontou um desafio crítico relacionado à temperatura. Enquanto os animais mais velhos requerem ambientes com temperaturas mais baixas, os leitões necessitam de temperaturas mais elevadas. Essa disparidade térmica torna crucial o controle rigoroso da temperatura e a manutenção adequada da higiene do escamoteador. “A superfície do escamoteador, frequentemente feita de materiais porosos, como madeira, papelão ou plástico, apresenta desafios adicionais à limpeza e é suscetível à formação de biofilmes devido à variação de temperatura”, alertou.

Quanto à fase de creche, a especialista destacou que é um período particularmente crítico, exigindo um rigor sanitário extremo devido à introdução de animais jovens em um novo ambiente com diferentes condições. “Essa transição pode desencadear problemas significativos, incluindo episódios frequentes de diarreia, tornando a higiene e o manejo cuidadoso de extrema importância”, recomendou.

Com relação às etapas de crescimento e terminação ela afirmou que o ideal é que elas sejam as fases menos preocupantes. “É claro que isso só vai acontecer se eu tiver tido um manejo eficiente nas fases anteriores, pois assim eu terei menor preocupação nestas fases, já que a tendência é que os animais tenham menor intercorrências”, observou.

Biofilme

A especialista disse que o biolfilme é a primeira barreira física das bactérias contra a ação química e explicou que ele forma-se gradualmente devido a fatores como temperatura e qualidade da água, tornando-se uma película protetora para as bactérias. “Para quebrar esse ciclo, a limpeza adequada é essencial, pois as bactérias também podem criar biofilmes nas tubulações de água, muitas vezes invisíveis. A estratégia para eliminar esses biofilmes envolve uma variação de pH, começando com uma limpeza alcalina para remover gordura e alternando com detergentes ácidos, expondo as bactérias para a ação subsequente do desinfetante”, recomendou.

Além disso, a profissional afirmou que a limpeza com detergentes alcalinos é crucial para a remoção de resíduos de proteínas, gorduras e carboidratos de superfícies, sendo que esses detergentes estão disponíveis em versões com ou sem cloro. Ela também recomendou que o processo de limpeza siga o fluxo de cima para baixo e de cima para frente para evitar a contaminação cruzada de áreas já limpas.

A cereja do bolo: etapa da desinfeção

Após a limpeza tem-se o processo de desinfecção. A médica-veterinária enaltece que a escolha de um desinfetante químico eficaz é crucial. “É muito importante que os produtores evitem adquirir produtos não registrados, pois muitas vezes eles não cumprem o papel de desinfecção de forma adequada. A composição do desinfetante também deve ser criteriosamente avaliada, garantindo a presença dos elementos necessários para sua eficácia. Por outro lado, as formas de aplicação são bastante variadas e o produtor deve escolher aquela que melhor atende as demandas da sua granja”, assegurou.

Outra recomendação importante nesta etapa é o cuidado correto com a secagem adequada das áreas que foram desinfetadas. “Antes de reintroduzir os animais é necessário que tudo esteja bem seco, para garantir que a desinfecção desempenhe um papel fundamental na manutenção da biosseguridade nas instalações, protegendo a saúde dos animais em ambientes de produção”, ponderou.

Salas de reprodução e gestação

A profissional ainda fez um alerta a respeito das salas da reprodução e gestação que geralmente estão sempre ocupadas. “Essas são áreas que nunca estão vazias, por isso a limpeza deve sermpre ser feita no momento em que um animal sai”, pontuou, acrescentando que outro pontpo crucial é a utilização dos EPI´s que são necessários em cada uma destas etapas.

Tecnologia para facilitar e verificar

A profissional finalizou fazendo a recomendação para que os produtores utilizem as tecnologias que estão disponíveis no mercado e que auxiliam na verificação da limpeza realizada. “A leitura de ATP pode auxiliar muito, pois ela faz a detecção de matéria orgânica, isso contribui bastante, porque contribui para melhorar a eficiência, já que é possível fazer isto antes da etapa da desinfecção. Desta maneira, você pode utilizar inúmeras ferramentas que fazem uma varredura da limpeza, e quando o resultado mostra que está tudo certo, aí é só fazer a etapa da desinfecção”, sugeriu.

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Fonte: O Presente Rural
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Suínos / Peixes

Ganho compensatório é viável na suinocultura?

O ganho compensatório na produção de proteína animal é um fenômeno que ocorre quando animais, como gado, suínos ou aves, experimentam um período de restrição alimentar seguido por uma fase de alimentação quando têm acesso à quantidade de alimento que necessitam.

Publicado em

em

Foto: Shutterstock

O ganho compensatório é um conceito complexo que envolve o crescimento acelerado de animais após um período de restrição nutricional, visando recuperar o peso perdido e restabelecer o equilíbrio corporal. Existem estudos que demonstram a existência do ganho compensatório em algumas espécies, como aves e peixes, mas ainda há dilemas e dificuldades em mensurar e estimar o ganho compensatório em suínos.

O ganho compensatório na produção de proteína animal é um fenômeno que ocorre quando animais, como gado, suínos ou aves, experimentam um período de restrição alimentar seguido por uma fase de alimentação quando têm acesso à quantidade de alimento que necessitam. Durante o período de restrição alimentar, os animais recebem uma quantidade insuficiente de alimento ou determinados nutrientes para atender às suas necessidades de crescimento e produção. No entanto, quando a restrição alimentar é encerrada e os animais são alimentados à vontade, eles tendem a crescer e ganhar peso mais rapidamente do que aqueles que sempre foram alimentados adequadamente.

Esse ganho compensatório ocorre devido a várias adaptações fisiológicas que os animais desenvolvem durante o período de restrição alimentar. Durante a restrição, eles podem reduzir o gasto de energia, diminuir o crescimento e utilizar de forma mais eficiente os nutrientes disponíveis. Quando a alimentação é restaurada, essas adaptações permitem que eles absorvam e utilizem os nutrientes de maneira mais eficaz, resultando em um aumento rápido no crescimento e no ganho de peso.

Mariana Boscato Menegat, médica-veterinária – Foto: Giuliano De Luca/OP Rural

O ganho compensatório é um conceito importante na produção animal, pois permite aos produtores otimizar o uso de recursos, como alimentos, reduzindo os custos de produção. No entanto, é essencial controlar o período de restrição alimentar para evitar efeitos negativos sobre a saúde e o bem-estar dos animais. Além disso, a genética, a idade dos animais e outros fatores podem influenciar a magnitude do ganho compensatório observado em diferentes espécies e sistemas de produção.

Conforme a médica-veterinária, Mariana Boscato Menegat, mestra em Reprodução de Suínos e PhD em Nutrição de Suínos, a restrição alimentar controlada é geralmente implementada por um curto período de tempo, geralmente de semanas, dependendo do objetivo do produtor. Durante esse período, os suínos recebem uma quantidade de alimento que é insuficiente para atender plenamente suas necessidades de crescimento ou recebem dietas mais pobres em algum nutriente, como lisina, proteína bruta ou lipídios, por exemplo. Como resultado, eles podem experimentar uma desaceleração no crescimento e no ganho de peso.

Quando a restrição alimentar é encerrada e os suínos são alimentados à vontade, várias coisas acontecem. A eficiência de conversão alimentar melhora, pois os suínos que passaram pelo período de restrição alimentar tendem a utilizar os nutrientes de forma mais eficiente, transformando a comida consumida em ganho de peso com maior eficácia. Além disso, pode haver maior consumo de alimento, o que contribui para o ganho de peso acelerado.
Com o aumento da ingestão de alimentos e a melhora na eficiência de conversão, os suínos experimentam um rápido crescimento e ganho de peso durante o retorno à fase de alimentação com os nutrientes que necessitam. Isso resulta em um ganho compensatório, permitindo que eles alcancem o peso desejado em menos tempo.

De acordo com ela, o ganho compensatório é vantajoso para os produtores de suínos, pois pode reduzir os custos de produção, incluindo alimentação, e otimizar a produtividade nas fábricas de rações. No entanto, a gestão adequada é fundamental para garantir que os suínos não sofram estresse ou impactos negativos em sua saúde durante o período de restrição alimentar.

Mariana ressalta que é importante observar que a magnitude do ganho compensatório pode variar com base em fatores como a genética dos suínos, a duração da restrição alimentar e a qualidade da alimentação. “Os fatores determinantes para o ganho compensatório são genótipo, estratégia de crescimento durante a restrição, método de limitação nutricional e padrões de restrição e recuperação”, frisou. Portanto, explicou, os produtores devem ajustar estrategicamente seus planos de alimentação para otimizar o ganho compensatório sem comprometer a saúde dos animais.

Na prática 

“Se a gente só olhar para o conceito, parece que todas nossas preces foram atendidas. Será que a gente consegue fazer uma redução de desenvolvimento dos animais e minimizar os custos de produção, mas mesmo assim ganhar em alto desempenho e maximizar a produtividade? Isso seria ideal, mas o ganho compensatório é mais complexo do que isso. No entanto a gente pode utilizar ele, ter benefícios na prática utilizando o conceito de ganho compensatório”, destacou. “Em algumas espécies de aves e peixes o ganho compensatório está não somente bem descrito, mas utilizado na prática. Mas nos suínos ainda existem bastantes dilemas, é difícil de estimar e mensurar o ganho compensatório”, ampliou a palestrante.

A palestrante citou como exemplos pesquisa com dois grupos de suínos, um que teve restrição alimentar e outro que não passou por isso. “Nesse período de restrição é normalmente induzido por restrição nutricional. Durante esse período os animais vão ter crescimento desacelerado em relação aos animais que não tiveram restrição. Assim que a restrição nutricional é removida e os animais voltam a uma dieta nutricionalmente adequada, eles passam por um período de recuperação, quando o crescimento é acelerado em relação aos animais que não tiveram uma restrição prévia”, acentuou. “O mecanismo fisiológico que leva ao ganho compensatório é uma tentativa de tentar recuperar o peso perdido para atingir o peso esperado na idade fisiológica e tentar reestabelecer o reequilíbrio corporal de lipídios e proteína ao qual os animais estão geneticamente predispostos”, explicou a especialista.

Para Mariana, uma das principais atenções dos produtores deve estar no período em que é realizada a restrição. “O estágio de crescimento durante a restrição determina a capacidade do suíno em expressar o ganho compensatório. A restrição deve ser feita no estágio inicial de crescimento, antes do animal atingir a maturidade e antes de atingir seu máximo potencial de deposição proteica”, que ocorre quando o suíno tem entre 70 e 85 quilos, de acordo com a especialista.

“É importante ser uma restrição nutricional moderada, por um período curto, passando por um período mais longo de recuperação, com níveis de lisina atendendo as necessidades dos animais ou acima dessas exigências”, recomenda. “Em síntese, o ganho compensatório é uma limitação nutricional através da formulação da dieta. A restrição deve ser feita no estágio inicial de crescimento, antes da maturidade. A restrição deve ser curta, com níveis moderados de limitação de lisina, e recuperação longa e com níveis adequados de lisina”, reforçou.

A profissional citou ainda importantes aspectos a campo que podem influenciar positiva ou negativamente no ganho compensatório. Entre eles estão a sanidade da fazenda, o espaço de comedouro, a ambiência das instalações, a qualidade da água, a densidade de animais e a variabilidade de peso do plantel.

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Fonte: O Presente Rural
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Suínos / Peixes Artigo

Água: da essência à negligência

A água está presente a todo momento nas granjas, seja na água de bebida dos animais, para limpeza ou nos processos produtivos – na produção da ração, nos frigoríficos, etc.

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Fotos: Divulgação/Crystal Spring

É fato que a água é um dos nutrientes mais importantes, se não o mais importante para os suínos. Atualmente os índices de desperdício de água na produção de suínos no Brasil ainda estão bem aquém do que alguns países na Europa ou América do Norte já atingem. O manejo da água ainda é um tema por muitas vezes negligenciado no dia a dia da produção, seja pela abundância ou ainda pelo baixo custo no Brasil, geralmente não damos a devida atenção a este recurso que é finito e vai se tornar cada vez mais importante nas agendas de sustentabilidade em nossa indústria.

A água está presente a todo momento nas granjas, seja na água de bebida dos animais, para limpeza ou nos processos produtivos – na produção da ração, nos frigoríficos, etc. Estudos demonstram que o desperdício de água na criação de suínos varia, mas chega a números de até 27 a 52%. A maneira como a água é apresentada aos suínos, a vazão de água nos bebedouros e as diretrizes de manejo em geral têm impactos diretos nestes níveis de perdas. Além disso existe o impacto no custo de remoção/destinação de dejetos. Um estudo realizado pela Embrapa Suínos aponta que a cada mil litros de água adicionados aos dejetos, um custo de R$10,00 a 12,00 é agregado para destinação, um custo de produção, pouco explorado.

Quanta água um suíno precisa?

Ao nascer, a água representa até 80% do peso corporal de um leitão e diminui para aproximadamente 50% em um suíno que atinge o peso de abate de acordo com o estudo publicado em 2019.

Em fase de gestação as fêmeas precisam de 12 a 23 L/dia de água, enquanto que em lactação de 19-40 L/dia. Do nascimento ao desmame os suínos precisam entre 50-350 ml/dia de água. Já pós desmame esta relação muda, pois está diretamente ligada ao consumo e ração, sendo exigida uma relação de 2:1 a 3:1 entre consumo de ração e de água. Vários fatores afetam esta relação de consumo, mas via de regra suínos em crescimento requerem cerca de 2,6 litros de água por kg de ração ingerida.

A composição das dietas é um dos fatores que impactam significativamente as variações de consumo dos animais, dietas com altos níveis de proteínas e sal, por exemplo, causam maior ingestão de água pelos animais. Outro fator é o estresse térmico dos animais. Diversos estudos demonstram correlação direta entre temperaturas, altas ou baixas, e o consumo de água e ração. Um destes estudos realizou uma meta análise que mostra que em condições de 29 a 35°C, observa-se até 270g menos de consumo diário e 57,57g a menos de GPD em relação a suínos criados em ambientes mantidos a 18-25°C.

Quando este valor extrapolado para um período de engorda pode-se perder até 5kg no peso final de abate. Estudos demonstram também que a temperatura da água de bebida impacta diretamente a performance dos animais, sendo temperaturas de 18-20°C as mais adequadas para garantir um adequado consumo.

Manejo de Água na maternidade/lactação

Na lactação um trabalho monitorou a ingestão de água das fêmeas e controlou o desempenho de performance dos leitões. A maior ingestão de água nas primeiras horas pós-parto demonstrou um efeito direto na performance da leitegada, com impactos significativos tanto nos 3 primeiros dias quanto no período subsequente de 7-14 dias. A ingestão de água adequada pelas fêmeas impactou também em um melhor desempenho em consumo de ração. O mesmo trabalho também demonstrou que leitões com maior GPD tem como sua principal fonte de hidratação o leite enquanto que os leitões de menor GPD consomem mais água, devido a busca das fontes de água para evitar a desidratação.

Manejo de Água na fase de creche

O manejo da água é fundamental na creche, especialmente para os leitões recém-desmamados. Um estudo demonstrou que a ingestão de água pode ser até 3,5 vezes maior que o normal quando os suínos em fase de creche enfrentam estresse térmico.

Muitas vezes é difícil garantir que os leitões recém-desmamados procurem água e bebam nos primeiros dias de alojamento. Com o estresse da saída da maternidade, mudança de ambiente, introdução ao grupo na baia, a desidratação é um dos maiores desafios enfrentados por esses leitões.
É necessário que haja bebedouros suficientes com fluxo de água adequado para garantir o acesso dos leitões à água fresca e hidratação. Como recomendação geral, a proporção de bebedouro por leitão na creche é de um para cada 10 a 15 leitões com fluxo recomendado de 300mL a 550mL por minuto, na busca do equilíbrio correto entre ingestão de água e desperdício.

Os eletrólitos, assim como suplementos nutricionais, podem ser administrados para ajudar a manter os suínos hidratados nas primeiras semanas após o desmame. Produtos que fornecem cloreto, sódio, vitaminas, magnésio e acidificantes de pH ajudam a manter o intestino equilibrado, o que mantém os animais saudáveis para beber e comer.

Por fim, deve-se considerar o impacto do tipo de comedouro. A alimentação seco/úmida é uma ótima maneira de garantir que os leitões recém-desmamados comecem a comer assim que cheguem ao crechário. Disponibilizar um bebedouro no comedouro permite que os animais misturem seu próprio alimento, fazendo uma “papa”, o que comprovadamente aumenta a ingestão de água e ração, resulta em um intestino mais saudável e melhora o GPD. Comparado a comedouros secos tradicionais, a melhora da ingesta em um comedouro seco/úmido resulta em um ganho de peso adicional de 1,5 a 3 kg durante a fase de creche com 35% menos desperdício de água. Vale lembrar que o sucesso neste tipo de alimentação está diretamente ligado ao adequado fluxo de água nos bebedouros (vazão) dos comedouros.

Conclusão
A água é essencial em todos os aspectos do crescimento do suíno e desempenha um papel crítico na produção. Garantir o fornecimento adequado de água deve ser foco prioritário do manejo, porém a redução dos desperdícios também é fundamental e será cada vez mais importante no dia a dia das granjas. Existem maneiras excelentes de fornecer água potável aos suínos e equipamentos e protocolos de manejo que visam a redução das perdas. Avalie, pesquise e passe a olhar e avaliar o recurso água como um potencial para melhoria produtiva e de controle de custos em sua granja.

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Fonte: Por: Gefferson Almeida da Silva, médico-veterinário, gerente de Desenvolvimento de Negócios na Crystal Spring e Natalia Rimi Heisterkamp, administradora de empresas, diretora da Crystal Spring
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Evonik 04/2023

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