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Suínos / Peixes

Rentabilidade na suinocultura: apostar no menor desempenho é a melhor saída?

Os cereais representam mais de 55% do custo de produção de suínos e as etapas de maior consumo são as fases de engorda dos animais (recria e terminação), que concentram 75% dos custos totais para alimentar os animais em todo o ciclo.

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Fotos: Divulgação/Agroceres PIC

Um dos fatores que tem movido grandes mudanças na suinocultura tem sido a redução da rentabilidade, ocasionada pela dinâmica de preços da carne versus custos de produção. A relação entre os dois indicadores vem se estreitando ao longo do tempo e fazendo com que alguns produtores abandonem a atividade.

Logicamente existe uma série de outros fatores que também impactam a atividade, como as enfermidades e pressão social pela sustentabilidade ambiental da atividade. Por outro lado, o crescimento da demanda mundial por proteína animal é contínuo e impulsiona a produção de carnes e outros alimentos.

Parte da redução das margens se deve ao aumento da oferta de produto, sem que ocorra aumento proporcional do consumo. As razões para ambos os fenômenos são diversas e variam de região para região, porém, o fato é que a suinocultura é afetada pela redução do preço pago pela carne.

A internacionalização da oferta de cereais e a alta demanda mundial por esses alimentos básicos nos últimos anos, vêm impactando fortemente os custos de produção. A relação oferta/demanda dos cereais é inversa e pressiona os preços das commodities para cima, impulsionado o custo de produção e comprometendo a rentabilidade da atividade.

Recria e Terminação

Os cereais representam mais de 55% do custo de produção de suínos e as etapas de maior consumo são as fases de engorda dos animais (recria e terminação), que concentram 75% dos custos totais para alimentar os animais em todo o ciclo.

No gráfico 1 apresentamos a distribuição dos custos percentuais da atividade suinícola, calculada com base em uma granja de 1000 matrizes, abatendo animais com aproximadamente 120 kg.

No gráfico 2 trazemos um exemplo da distribuição percentual dos custos por fase de produção, tendo como base dos cálculos, uma granja com 1000 matrizes, abatendo animais com aproximadamente 120 kg.

Nesse cenário, reduzir os custos alimentares na fase de engorda, seja através da melhoria da conversão alimentar ou através da adaptação da dieta com ingredientes menos pressionados pela demanda global, é o grande desafio da suinocultura atual. Porém, diferentemente dos ruminantes, os animais monogástricos como suínos e aves não se alimentam eficientemente de ingredientes alternativos, ficando dependentes, na grande maioria dos mercados, da oferta de milho e farelo de soja.

A indústria suinícola tem utilizado uma série de estratégias para aumentar a eficiência de produção e manter a atividade em patamares positivos de rentabilidade. Mas quais fatores podem interferir na dinâmica de custos da suinocultura, com vistas à fase de terminação?

Estratégia alimentar

O suíno tem características de consumo alimentar que podem variar conforme as condições fisiológicas, ambientais e de grupos, como por exemplo no caso de machos castrados, que consomem mais alimento que as fêmeas e os machos inteiros, devido à baixa concentração de hormônios esteroides nos animais castrados. Num alojamento de sexos mistos, se os animais não forem tratados com atenção a essa característica, mas com dietas formuladas em níveis intermediários às exigências das fêmeas e dos machos castrados, haverá uma perda significativa de nutrientes.

A maior capacidade de consumo demonstrada pelos animais castrados e a redução do efeito anabólico dos hormônios sexuais sobre os tecidos de crescimento deles, são a combinação fisiológica que proporciona a pior distribuição do ganho tecidual no final do ciclo de produção. Esses animais apresentam taxas de ganho de tecido gorduroso bastante superior à dos animais não castrados, tanto machos como fêmeas.

O controle de curvas de alimentação por fase de produção e categoria de animal pode ser uma ferramenta muito eficaz para evitar os desperdícios de ração, ou nutrientes.

Ambiência, instalações e equipamentos

As condições do ambiente de criação também podem interferir no comportamento de consumo dos animais, podendo refletir em consumo inferior aos planos alimentares, ou excessivo, com desperdício de ração.

Por exemplo, a lotação de animais acima da capacidade de alojamento da estrutura, ou galpões com pouca ventilação e baixa qualidade de ar, são fatores que aumentam a desuniformidade dos lotes, reduzindo o desempenho. Afinal, são fatores de estresse que inibem o consumo de ração e reduzem o ganho de peso dos lotes.

Por outro lado, a eficiência de comedouros é um exemplo de estímulo ao consumo e redução do desperdício de ração, que resultam em melhorias no ganho de peso, redução do desperdício e consequente melhora da conversão alimentar. O gráfico 3 demonstra o efeito da lotação das baias e do espaço linear de comedouro por animal sobre o ganho de peso de cevados.

Note que o comportamento de ganho de peso dos animais que são criados em maior espaço é estável, não variando quando se amplia o espaço linear no comedouro (curva em cinza). Já a curva em vermelho representa animais criados com restrição severa de espaço, com necessidade de ampliação máxima do espaço linear do comedouro para atingir consumo satisfatório e aproximar-se do ganho de peso dos animais criados com espaçamento mais adequado.

Níveis nutricionais das dietas

Os níveis de investimento nas dietas também podem determinar o potencial de ganho dos cevados na fase de terminação. Dietas de alta energia podem melhorar o ganho de peso e, dependo do nível de inclusão de fontes energéticas, podem reduzir o consumo, melhorando a conversão alimentar pela elevação do ganho de peso diário e/ou pela redução da ingestão diária de ração.

No gráfico a seguir é possível perceber que, à medida que se eleva a disponibilidade de espaço para os animais, menos energia é necessária na dieta para produzir os melhores ganhos de peso diários.

Entretanto, quando os animais são submetidos a menores espaçamentos de baias, ocorre melhoria do ganho de peso até certo nível de energia metabolizável (3400 Kcal de EM). Porém, não há relação linear de compensação em todos os níveis de redução de espaço, ou seja, há limite de compensação.

O consumo de ração reduziu linearmente à medida que as dietas foram enriquecidas com fontes energéticas. Essa estratégia pode ser uma ferramenta poderosa para reduzir a conversão alimentar de lotes, quando há fontes de energia competitivas em preço.

Da mesma forma que a elevação da energia afeta o consumo de ração, ela também potencializa o ganho de peso dos lotes. O efeito sobre o ganho de peso é quadrático, ou seja, a elevação da energia melhora o ganho de peso até o nível de 3400 kcal de energia metabolizável.

Algumas outras estratégias nutricionais podem ser adotadas durante a fase de terminação para aumentar a rentabilidade do produtor, assim como uma série de aditivos podem ser adicionados à ração para acelerar o ganho de peso, ou reduzir a conversão alimentar.

Muitos aditivos foram vastamente estudados pelas academias científicas e podem ser utilizados com a finalidade de elevar a rentabilidade dos produtores de suínos. Entretanto, cada conjuntura econômica vai determinar o poder de investimento do suinocultor nas dietas da fase de terminação.

Haverá tempos de margens baixas, ou negativas, com custos elevados de ingredientes, quando os produtores poderão optar por reduzir investimentos e produzir próximo do limite dos animais, assumindo perdas de ganho de peso, elevações nas taxas de mortalidade e pioras nas conversão alimentar. Assim como haverá tempos em que os investimentos serão factíveis e a máxima eficiência de crescimento terá retornos econômicos maiores.

Será que apostar no menor desempenho é a melhor saída para situações estreitamento da relação preço de venda/custos de produção? E se optarmos por trabalhar com animais na melhor condição de ganho de peso e conversão alimentar?

As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: priscila.guimaraes@agroceres.com.

 

 

Fonte: Por Francisco Alves Pereira, gerente técnico comercial de suínos na Agroceres Multimix

Suínos / Peixes

ACCS 65 anos: força e inovação na suinocultura catarinense

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Presidente Losivanio Luiz de Lorenzi: "Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses" - Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Fundada em 24 de julho de 1959, a ACCS surgiu em um momento determinante para a suinocultura em Santa Catarina. Na década de 1940, o Oeste Catarinense destacou-se na produção de suínos, impulsionado pela chegada de colonos do Rio Grande do Sul. Entre os pioneiros, Attílio Fontana, fundador da Sadia, viu o potencial da região e investiu na criação de suínos, transformando a produção local em um pilar econômico.

Inovação e melhoramento genético

Na virada da década de 1940 para 1950, a ACCS foi pioneira na introdução de práticas de melhoramento genético. Victor Fontana, sobrinho de Attílio, aplicou métodos racionais e técnicos de criação, resultando em ninhadas de leitões saudáveis e precoces. A Sadia distribuiu um fomento experimental, fornecendo matrizes e ração aos produtores que seguiram suas exigências de higiene e instalações, marcando o início de uma revolução na suinocultura.

Expansão e modernização

Nos anos 1960 e 1970, a ACCS ampliou suas atividades, implementando o registro genealógico dos suínos e promovendo a exposição de suínos que incentivavam a melhoria genética. Em 1976, sob a presidência de Paulo Tramontini, a ACCS liderou a criação da primeira central de inseminação artificial de suínos do Brasil, consolidando Santa Catarina como líder na produção de material genético de qualidade.

Evolução estrutural

A Central de Coleta e Difusão Genética da ACCS (CDG-ACCS), localizada na comunidade de Fragosos em Concórdia, representa um marco de inovação e excelência na suinocultura brasileira. Reinaugurada em 2016, a CDG-ACCS foi a primeira do Brasil a operar dentro dos padrões rigorosos de Bem-Estar Animal, incorporando as melhores genéticas do mercado e estabelecendo um alto padrão de sanidade e produtividade.

Com uma produção mensal de aproximadamente 19 mil doses de sêmen, a central não apenas impulsiona a qualidade genética dos rebanhos, mas também garante a sustentabilidade e a competitividade dos suinocultores catarinenses. O reconhecimento da CDG-ACCS como referência em produtividade e sanidade, destacado em reportagens especiais como a do Globo Rural, reforça seu papel na modernização e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina e no Brasil.

Parcerias e crescimento sustentável

Ao longo das décadas, a ACCS tem sido uma força importante na promoção e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina. Parcerias estratégicas com indústrias, cooperativas e entidades governamentais foram fundamentais para o crescimento do setor. A criação da Cooperativa Agroindustrial dos Suinocultores Catarinenses (Coasc) em 2014 exemplifica esse espírito cooperativo, ajudando produtores independentes a obter melhores condições na compra de insumos.

Desafios e superações

A ACCS não se limita a celebrar conquistas, mas também se destaca pelo seu papel de apoio em tempos de crise. A associação esteve presente em momentos de adversidade, mobilizando a classe e chamando a atenção para as necessidades e demandas dos suinocultores. Este espírito de luta e resiliência garante que os suinocultores continuem a desempenhar um papel vital na economia do país.

Uma voz ativa e presente

A ACCS se tornou uma referência, tanto para a imprensa quanto para os suinocultores. Com um site atualizado diariamente e participações ativas em comissões e eventos, a associação promove o diálogo entre produtores e especialistas, sempre inovações buscando e políticas públicas desenvolvidas ao setor.

Celebração e futuro promissor

Ao comemorar 65 anos, a ACCS reafirma seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade do setor. O presidente Losivanio Luiz de Lorenzi destaca a importância de continuar unidos, superando desafios e construir um futuro ainda mais promissor para a suinocultura catarinense. “Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses,” ressalta.

A trajetória da ACCS é um exemplo de dedicação e sucesso, refletindo a força e a inovação que definem a suinocultura em Santa Catarina. Comemoramos não apenas o passado, mas também as possibilidades ilimitadas do futuro. Parabéns a todos que fazem parte dessa história!

Fonte: Assessoria ACCS
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Suínos / Peixes

Preços do suíno vivo têm movimentos distintos no Brasil

Aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate. As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Os preços do suíno vivo e da carne vêm apresentando movimentos distintos dentre as regiões acompanhadas pelo Cepea.

Segundo pesquisadores deste Centro, os aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate.

Esse foi o caso dos mercados independentes do suíno vivo nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês, devido ao menor poder de compra da população, ainda conforme explicam pesquisadores do Cepea.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos / Peixes Nutrição

Especialista aponta desafios e alternativas para melhorar desempenho zootécnico dos suínos

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção.

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Foto: Shutterstock

A qualidade nutricional dos alimentos não só influencia o desempenho dos animais, mas também afeta diretamente sua capacidade de digestão e absorção de nutrientes, bem como a quantidade de resíduos gerados. Durante o 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado nesta semana no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, essa temática foi abordada pelo mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz.

O especialista vai participar do Painel Novos Desafios na produção de suínos – o que vem por aí?, em que vai tratar sobre “Onde estamos e para onde deveremos ir na área de Nutrição”. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o doutor em Nutrição enfatizou que quanto melhor compreendermos a qualidade dos ingredientes utilizados na formulação dos alimentos para suínos, mais eficiente será a produção dos animais e menores serão os impactos ambientais.

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção. Aborda temas como nutrição de precisão, ingredientes alternativos, redução do uso de antibióticos, nutrigenômica, considerações nutricionais por fase de crescimento, desafios ambientais, estratégias nutricionais para minimizar o estresse térmico e oportunidades para colaboração entre a indústria, academia e o poder público. Confira!

O Presente Rural – Quais são os avanços recentes na nutrição voltada à suinocultura e como essas inovações estão impactando a eficiência alimentar, o crescimento e a saúde dos suínos?

Mário Penz – Quanto mais conhecemos a qualidade dos ingredientes que são empregados na elaboração dos alimentos para os suínos, mais eficiente se torna a produção dos animais e menores são os efeitos poluidores, que podem ser causados pela indevida digestão dos nutrientes e pelo aumento dos dejetos produzidos. Por exemplo, vários nutricionistas calculam as necessidades energéticas dos animais com base nas energias líquidas dos ingredientes, enquanto outros ainda usam energia metabolizável ou, menos comum, energia digestível, ambas menos precisas que a expressão da energia, com base no conhecimento dos valores de energia líquida dos ingredientes.

O Presente Rural – Quais são os principais desafios que os nutricionistas enfrentam atualmente na formulação de dietas para suínos e como estão sendo abordados?

Mário Penz – Continua sendo o conhecimento da real composição dos ingredientes usados nas formulações das dietas para as diferentes fases de produção.

O Presente Rural – Como a nutrição de precisão está sendo aplicada na suinocultura e quais são os benefícios em termos de otimização dos recursos alimentares e redução dos custos de produção?

Mário Penz – Nutrição de precisão tem por objetivo, sempre um pouco paradoxal, oferecer aos animais nutrientes e energia líquida, de acordo com suas necessidades, nas diferentes fases de produção. Quando se lida com nutrição de populações, em diferentes fases de produção, o que se quer chegar é o mais perto do que os animais necessitam, desconsiderando várias diferenças que podem ocorrer por idade, sexo, linhagem, ambiente, propósito de produção, etc. Essa nutrição não obrigatoriamente é “de custo mínimo”.

O Presente Rural – Quais são as tendências emergentes na formulação de dietas para suínos, como a utilização de ingredientes alternativos e a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento?

Mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz: “Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença”. Foto: Divulgação

Mário Penz – Ingrediente alternativo é todo aquele que pode substituir os ingredientes convencionais das dietas, que no Brasil são milho e farelo de soja. Ingredientes como sorgo, milheto, farinhas de origem animal, entre outros, poderão ser empregados, desde que estejam disponíveis em quantidades relevantes, nem que seja por um período específico do ano. Além disso, é importante que se conheça a composição nutricional e energética desses ingredientes, para evitar que tenham seus valores sub ou superestimados. Levando isso em consideração, qualquer oportunidade tem que ser avaliada quanto ao seu custo e ao seu benefício, relacionados com aqueles que o milho e o farelo de soja podem trazer aos animais.

Quanto a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento, esse é um caminho sem volta. Para que não haja perda de desempenho dos animais, os profissionais deverão dar mais atenção aos princípios básicos de saúde animal (saúde intestinal) e menos na mitigação das ações microbianas deletérias. Nesse conjunto de ações, cuidado com a biosseguridade, do ambiente, das dietas empregadas, farão parte dessa nova necessidade de produção.

Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença. Saúde é um processo contínuo, que se mitiga todo o tempo. Doença, mesmo que seja só mitigada pelos promotores de crescimento, sugerem respostas mais rápidas, mas não obrigatoriamente com consistência. Mudar de doença para saúde é algo complexo e que requer mais conhecimento dos profissionais envolvidos na produção de suínos.

O Presente Rural – Como a nutrigenômica e outras tecnologias de ponta estão sendo exploradas para entender melhor as necessidades nutricionais específicas dos suínos e melhorar a saúde intestinal?

Mário Penz – Nutrigenômica é o conhecimento que permite a seleção específica de nutrientes que favorecem a melhor expressão gênica dos animais, permitindo, como consequência, melhor saúde e desempenho dos animais. Esse é outro caminho sem volta, especialmente quando se trata de produzir animais saudáveis e sem o uso de antibióticos. Mas, ainda todo esse conhecimento está pouco apreciado no dia a dia das produções. Entretanto, importantes informações acadêmicas estão disponíveis, que mostram que teremos que olhar o suíno não por fase, mas olhar os resultados finais, desde o início da produção dos reprodutores, que lhes dão origem.

O Presente Rural – Quais são as considerações nutricionais específicas para diferentes fases de crescimento dos suínos, desde a creche até a terminação, e como essas necessidades estão sendo atendidas?

Mário Penz – Lamentavelmente, essa pergunta é extremamente complexa, para que tenha uma resposta simples. Entretanto, tomando o risco da simplificação, os nutricionistas devem estar muito próximos dos técnicos das genéticas, para entender quais são as recomendações por eles oferecidas. Com o tempo, cada profissional vai adaptando seus referenciais, com base na sua experiência e nos resultados práticos de campo. Aqui não tem uma resposta única e a complexidade começa com a identificação que o nutricionista tem com relação ao produto final da produção. Ele está preocupado com o ganho de peso, com a conversão alimentar, com a qualidade da carcaça ou com o menor custo no frigorífico?

O Presente Rural – Quais são os aditivos alimentares desenvolvimentos mais recentemente, como probióticos, prebióticos e enzimas, para promover a saúde intestinal e melhorar o desempenho dos suínos?

Mário Penz – Essa é uma nova era na produção de suínos. Reforço que estamos saindo de uma longa fase, onde os profissionais se preocupavam e se preocupam com eventos sanitários, os mitigando com o uso de antibióticos promotores de crescimento e/ou antibióticos usados de forma preventiva ou terapêutica. Agora estamos entrando na fase da saúde animal, mais complexa, porém inevitável. Muitas são as opções para melhorar a saúde dos animais. Não há um único produto que tenha a chancela de resolver tudo! O técnico deverá ter claro o que está buscando e, com isso olhar as oportunidades disponíveis. De uma maneira geral, tenho me posicionado que nessa nova fase, tudo começa pelo uso de enzimas exógenas, como suplementos indispensáveis. Dietas bem digeridas diminuem a disponibilidade de nutrientes aos microrganismos. Depois, todas as dietas devem ser suplementadas com um antioxidante que tenha ação efetiva, para mitigar processos de oxirredução contínuos dos enterócitos. Enzimas e antioxidantes fazem uma eficiente “dobradinha”. Depois vem os demais aditivos não antibióticos. Aqui o técnico tem que saber o que quer: fortalecer o sistema imune dos animais? A integridade intestinal? A digestibilidade dos nutrientes? Colaborar na regulação da microbiota? São perguntas indispensáveis, pois nessa nova fase não há “receita pronta”. As alternativas serão customizadas, de acordo com as expectativas técnicas esperadas. Para completar, aditivos não antibióticos não estão chegando para melhorar os resultados de granjas que não deem atenção a biosseguridade, ao ambiente, ao bem-estar animal, como sempre pensamos que os antibióticos ajudam ou ajudavam. Essa nova produção animal vem para se empregada em granjas que atendem os princípios básicos de boas práticas de produção e manejo. Ou seja, a mudança de paradigma é grande. Por isso que sempre sugiro que, independente da necessidade de se acomodar a essa nova realidade, o técnico deve começar, com cautela, a entender como produzir nesse novo ambiente tendo parte de seu plantel submetido a essas novas alternativas.

O Presente Rural – Como os desafios ambientais – a redução das emissões de gases de efeito estufa e a sustentabilidade da produção de alimentos – estão moldando a pesquisa em nutrição suína?

Mário Penz – Sustentabilidade é a palavra de ordem. O grande desafio é que a sustentabilidade está baseada em três pilares – econômico/ambiental/social. Com isso, em cada ação temos que olhar como ela afeta um ou mais dos três pilares. O que é certo é que sempre será impossível ter os três pilares sendo atendidos na íntegra. A produção animal sempre buscou a sustentabilidade, mesmo antes do termo ter se consagrado pela Comissão de Bruntland em 1987, que definiu o que seria o Desenvolvimento Sustentável. Por que digo isso? Porque os produtores seguem em suas propriedades em muitos casos por três ou mais gerações. Se não fossem sustentáveis já teriam migrado, como muitos fizeram. Os produtores sempre estão perseguindo, pelos conhecimentos técnicos adquiridos, melhores resultados zootécnicos, representados por melhores conversões alimentares de seus animais. Melhor conversão animal, menos consumo de alimento e água, menor excreção de dejetos, menor poluição do ambiente, especialmente pelo nitrogênio e fósforo excretados. Tudo isso podendo também ser representado pela menor produção de CO₂. Assim, a ciência subsidia os produtores com seus conhecimentos e eles aplicam, para que sigam sendo viáveis economicamente.

O Presente Rural – Quais são as estratégias nutricionais mais eficazes para minimizar o estresse térmico em suínos durante períodos de temperatura extrema?

Foto: Shutterstock

Mário Penz – Não criá-los em temperaturas quentes! A nutrição pode mitigar eventos térmicos de calor, mas são pouco eficientes (reduzir proteína, aumentar a energia por intermédio da inclusão de gordura nas dietas, etc.). O uso de ambiente controlado é uma necessidade indispensável nos novos projetos suinícolas. Além disso, a curto prazo, os animais, nessas condições devem receber água fria, junto com o alimento que consomem. Imaginem uma reprodutora em lactação, que tem que comer algo em torno de 6 a 7 kg de alimento/dia e necessita tomar água com uma temperatura próxima de 15ºC e a ela é oferecida uma água com 30ºC. O que ela vai fazer? Irá comer menos! E, as consequências já sabemos. Assim, resumindo, estresse por elevada temperatura ambiente, primeiro se mitiga com água fria e depois, nos novos projetos, com a construção de galpões climatizados.

O Presente Rural – Quais são as oportunidades futuras para a colaboração entre a indústria de nutrição animal, academia e poder público para impulsionar ainda mais a inovação e o progresso na área de nutrição voltada à suinocultura?

Mário Penz – A tríade indústria, academia e poder público é indispensável se quisermos avançar mais rápido. Cada um dos três segmentos tem a sua responsabilidade. Entretanto, primeiramente cabe a indústria ser clara no que necessita para que a academia se prepare para responder os desafios. Cabe a academia entender que a indústria tem pressa em várias de suas necessidades e se colocar como disponível frente a esses desafios. Ao poder público, favorecer qualquer inciativa pertinente, colaborando com financiamentos e com normas e regulamentos que favoreçam novas descobertas.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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