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Bovinos / Grãos / Máquinas CCN e CBC

Protocolos de produção de carne reduzem em até 15% a emissão de gás de efeito estufa

Manejos permitiram ganhos superiores de peso dos animais, entre 2% a 5% em relação ao manejo tradicional.

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A aplicação dos protocolos Carne Carbono Neutro (CCN) e Carne Baixo Carbono (CBC) em uma área comercial demonstrou que os sistemas reduzem em 12% e 15%, respectivamente, a emissão de metano entérico pelos animais durante a fase de recria a pasto. O metano entérico é um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa, que provoca o aquecimento global. Além desse benefício, os protocolos permitiram ganhos superiores de peso dos animais, entre 2% a 5% em relação ao manejo tradicional. Essa é a primeira vez que esses protocolos são aplicados em um rebanho de alto padrão genético. O estudo foi realizado na Fazenda Experimental Orestes Prata Tibery Jr., em Uberaba (MG), em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).

“Comprovamos que a atividade pecuária, com recria a pasto e terminação em confinamento, seguindo as práticas corretas, proporciona a redução das emissões e tem viabilidade. O sistema, no caso da Carne Carbono Neutro, não é capaz de neutralizar todas as emissões, mas a redução é significativa. E o que é muito importante para o pecuarista, o desempenho animal é muito bom”, afirma a pesquisadora da Embrapa Cerrados (DF) Giovana Maciel, responsável pela condução do experimento.

Considerando as fases de recria e terminação, o uso dos protocolos CCN e CBC promoveu a redução na emissão de metano entérico, de 2% a 5%, e o aumento na produtividade, de 4% a 8%, respectivamente, em relação ao manejo tradicional.

Com esses resultados, o pesquisador Roberto Giolo, da Embrapa Gado de Corte (MS), ressalta a importância do manejo de pastagem, com a aplicação dos protocolos CCN e CBC, e que mesmo em rebanhos de alto padrão genético se mostrou eficiente, com melhoria na produtividade e redução das emissões de metano entérico no pasto.

Marcas com sustentabilidade

As marcas Carne Carbono Neutro (CCN) e Carne Baixo Carbono (CBC) atestam que a produção de bovinos de corte em sistemas pecuários neutraliza ou reduz, respectivamente, a emissão do metano entérico.

A primeira, com introdução obrigatória de árvores no sistema de produção (ILPF ou silvipastoril), considera o carbono sequestrado e armazenado nos troncos e sua utilização como produtos de madeira com valor agregado.

A segunda produz animais cujas emissões de metano foram mitigadas pelo próprio processo produtivo, por meio da redução na idade do abate, da melhoria da dieta e do aumento do estoque de carbono no solo, resultante da adoção de boas práticas agropecuárias envolvendo recuperação e manejo sustentável das pastagens e sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP).

O Protocolo CBC deverá ser disponibilizado ao público na plataforma Agri Trace Rastreabilidade Animal, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em 2024. Para aderir à certificação, a propriedade deverá, já na auditoria inicial, estar em conformidade com os 20 requisitos mínimos obrigatórios para sua implantação, de um total de 67, que serão requeridos progressivamente ao longo de auditorias bienais. O CCN está disponível nessa mesma plataforma desde 2020, à disposição dos pecuaristas interessados.

Ao final de 385 dias de prova, o ganho de peso final do rebanho foi elevado: 346 quilos para os animais na área de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), dentro do protocolo Carne Carbono Neutro; 359 quilos para os animais na área de ILP, no protocolo Carne Baixo Carbono, aos 21,5 meses de idade – um aumento de 4,2% e 8,1%, respectivamente, em relação ao rebanho em manejo padrão da ABCZ. “O maior benefício dos dois protocolos é, sem dúvida, a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e, ainda, com um aumento no desempenho individual. Apesar de não ter árvores no sistema ILP, o ganho de peso foi ligeiramente superior ao alcançado no sistema ILPF e os dois foram superiores ao rebanho-testemunha que mantivemos nas outras áreas de pastagens da fazenda”, afirma a pesquisadora.

Lauro Almeida, gerente de melhoramento da ABCZ, conta que, no período em que ocorreram os testes, a média de idade de abate no Brasil ainda era de quatro anos. “Nesse programa, obtivemos o peso ideal antes de 22 meses, o que mostra que é possível reduzir esse prazo para menos da metade em relação ao que se emprega no País”, complementa.

Da entrada no pasto às avaliações de carcaça

As avaliações dos rebanhos fizeram parte do Programa Zebu Carne de Qualidade (PZCQ), desenvolvido pela ABCZ desde 2020. Na terceira edição da prova, realizada entre 2022 e 2023, foi acrescentada a mensuração da emissão do metano entérico. Os cálculos foram feitos seguindo a equação desenvolvida pela Rede Pecus, da Embrapa, utilizada para os protocolos CCN e CBC. Para estimar a emissão de metano entérico, são considerados a qualidade da dieta (pasto + ração), a ingestão de alimento e o ganho médio diário dos animais.

Para a prova, foram recebidos 147 animais, todos resultados de cruzamentos entre Nelore e outras raças: 32 Brahmanel (Brahman/Nelore); 32 Guzonel (Guzerá/Nelore); 25 Sindinel (Sindi/Nelore); 26 Tabanel (Tabapuã/Nelore), adquiridos por sua excelência genética. “Seguimos as diretrizes dos dois protocolos: CCN e CBC. Apenas as etapas que não interferem no sistema de produção, como a rastreabilidade do produto, não foram realizadas”, explica Maciel.

Desses animais, foram selecionados 32, oito de cada cruzamento, e divididos em dois grupos – um para a área de ILPF e outro para a de ILP. A fazenda, com 20,3 hectares de pasto de braquiária brizantha BRS Paiaguás, foi dividida em oito piquetes. A área de lavoura e pecuária foi implantada com milho para silagem consorciado com capim. Já a área de integração lavoura-pecuária-floresta foi composta por quatro espécies arbóreas: teca, eucalipto, mogno e nim. Os demais animais continuaram nas áreas comuns, seguindo o manejo rotineiro da ABCZ e os dados gerados a partir de seu desempenho foram utilizados para comparação dos resultados.

Os animais entraram no sistema com idade entre seis e oito meses, logo após a desmama. No início da estação seca, em maio de 2022, foram iniciadas as avaliações no pasto, onde ficaram por 280 dias, sendo metade desse tempo no período da seca e, a outra metade, no período das águas.

Após esse período no pasto em recria, os animais seguiram para a etapa de confinamento, com duração de 105 dias. Os bovinos foram alojados em currais de confinamento compostos por cochos eletrônicos e balanças de pesagem. Todo o período do teste durou 385 dias.

Para Almeida, os resultados foram muito positivos: “Os trabalhos científicos da ABCZ mostram ao mundo a eficiência e a sustentabilidade da genética zebuína para a pecuária tropical. Conseguimos bons resultados em uma fazenda eficiente. Esse modelo se mostra viável economicamente e pode ser replicado em todo o Brasil.”

O técnico da ABCZ enfatiza que o principal ponto para melhorar a eficiência produtiva da atividade pecuária é um bom planejamento que garanta a suplementação da dieta do rebanho no período da seca. “O pecuarista tem que trabalhar com a previsão de volumoso para seca, que pode ser silagem de milho, sorgo, cana-de-açúcar ou capim, além de animais com boa genética. Durante os três anos do programa, conseguimos resultados muito positivos. Os criadores podem adotar um manejo na fase de pasto e outro em confinamento para obter 1 kg de ganho de peso por dia, o que já é um excelente resultado”, explica.

Avaliação completa dos sistemas

O Programa Zebu Carne de Qualidade (PZCQ) também contou com a implantação de um sistema de gestão de custos da produção. “Durante os três anos do programa, foi feito o controle dos custos e das receitas, com o intuito de, além do resultado global, obter o resultado econômico, para saber quanto foi o custo por arroba produzida, a receita obtida e, consequentemente, o lucro”, conta Ricardo Brumatti, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), responsável pela atividade.

Na análise, foram computados os seguintes desembolsos: nutrição animal, entre silagem e suplementos minerais e proteicos; adubação dos pastos; sanidade dos animais; energia e combustível; folha de pagamento; e consultoria técnica.

Os resultados mostram que os sistemas CBC e CCN apresentam menores custos por arroba para o pecuarista, de R$ 252,44 e R$ 255,48, respectivamente, quando comparados ao rebanho-testemunha, com manejo adotado pela ABCZ, com custo de R$ 261,08. “Essa diferença se deve, basicamente, ao melhor desempenho produtivo do rebanho no CBC, uma vez que os animais foram mais eficientes no uso dos insumos, que foram os mesmos para todos os rebanhos”, informa o professor. Os animais no regime CCN sentiram mais desconforto térmico na fase de confinamento (com sombreamento artificial) em relação à fase de pasto, pois durante a recria estavam em condição mais favorável em sistema ILPF (com sombreamento das árvores), conforme esclarece Giolo, o que se refletiu no custo de produção e no peso vivo final.

Brumatti destaca a abrangência do programa, visto que engloba a avaliação de diversos aspectos, como da genética, essencialmente zebuína, do sistema produtivo mais intensivo em pequena área, da questão econômica e, agora, da emissão de carbono: “Nós temos um pacote tecnológico com aspectos técnicos e a confrontação econômica muito próxima da realidade do produtor rural”, defende.

Após o abate, os animais foram avaliados em relação aos indicadores de qualidade da carcaça e da carne. Amostras de contrafilé foram analisadas pelo professor Sergio Pflanzer, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (FEA/Unicamp). Os resultados comprovaram o bom rendimento da carcaça, 56,1% (55% é considerado um bom índice); cobertura de gordura desejada pela indústria; bom desenvolvimento muscular; bom índice para carne aproveitável total, além da idade de abate – todos animais jovens.

A avaliação considerou a quantidade e a qualidade dos produtos. Como indicadores de quantidade, foram utilizados peso vivo do animal sem jejum; peso da carcaça quente; espessura de gordura subcutânea; área do olho do lombo; e carne aproveitável total. Já em relação à qualidade, os parâmetros se referem à idade de abate do animal, ao acabamento de cobertura, à gordura intramuscular e à maciez.

Emissão de GEE durante a pesquisa

As fases avaliadas com a aplicação dos protocolos foram a recria e a terminação. Entretanto, quando computadas as estimativas de emissões na fase de cria, durante os 595 dias do ciclo de produção, os animais do programa da ABCZ apresentaram uma intensidade de emissão (IE) de 142,36 gramas de metano por quilo de ganho de peso, enquanto no protocolo CCN e no CBC a IE foi de 99% e 97% desse valor, respectivamente. Ou seja, emitiram 1% e 3% menos nesses sistemas.

De modo geral, a média anual de emissão de metano entérico (CH4) dos animais dos três sistemas foi de 46,5 kg ou cerca de 17% abaixo do parâmetro utilizado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), que é de 56 kg de CH4/ano, indicando que todos os sistemas foram eficientes na redução da emissão de metano entérico.

“As emissões foram menores na fase de recria, o que evidencia o uso dos protocolos no manejo do pasto. Depois, na terminação/confinamento, a diferença diminui um pouco. De qualquer forma, nosso foco maior é no pasto (fase de recria), onde ficou bem clara a diferença em favor do uso dos protocolos”, comenta Giolo.

O pesquisador afirma que há potencial de melhoria no desempenho animal e, consequente redução das emissões de metano entérico em pasto. “Todavia, é necessário aprimorar o ajuste do pastejo nos últimos ciclos, principalmente para CCN”, informa. Os próximos passos são os cálculos referentes a carbono no solo e nas árvores, assim como os dados sobre consumo de água.

Acompanhamento econômico dos sistemas de produção

Considerando os custos de produção para os sistemas adotados para produção de carne, sob os protocolos Carne Carbono Neutro e Carne Baixo Carbono, a maior despesa foi com a nutrição do rebanho. “No entanto, os estudos registraram as oscilações que ocorreram no próprio mercado, tanto dos custos quanto das receitas”, ressalta Brumatti.

Entre a safra de 2020/2021, quando foi iniciado o programa, e a de 2022/2023, houve uma queda no lucro da fazenda. “O melhor resultado foi o da primeira safra, quando estávamos no início da pandemia e os preços ainda estavam estáveis. Na segunda, houve uma pequena queda na receita, mas um incremento muito grande nos custos produtivos; foi o pior momento da pandemia, com os fertilizantes e insumos nutricionais ficando muito caros – um aumento de 26% em relação à safra anterior”, lembra o professor. Já na terceira safra, os custos se mantiveram quase os mesmos, mas houve uma grande queda no preço da arroba, mais de 21%.

Brumatti destaca que esse resultado foi reflexo do que aconteceu no mercado nesse período: “O preço do boi gordo é dado pelo mercado. Na etapa do abate, o pecuarista está à mercê do mercado e o projeto sentiu a queda do preço da arroba no último ano. O projeto refletiu o que aconteceu com o produtor rural.” No entanto, ele enfatiza que, por ser muito realista, o programa possibilita testar ferramentas que podem auxiliar os produtores: “É muito importante que os produtores possam analisar o fluxo de caixa, controlar os custos para ajudar nos momentos drásticos e fazer projeções do valor da arroba para calcular a diária do confinamento e saber qual é a receita mínima que ele precisa para cobrir os valores gastos naquela safra. Conseguimos fazer tudo isso durante as etapas da prova da ABCZ”, acrescenta.

Qualidade da carne é garantida com CCN e CBC

Após o abate, os rebanhos da fazenda Orestes Prata Tibery Jr. foram testados para verificar seu desempenho em relação à qualidade da carcaça e da carne produzidas. O professor da Unicamp conta que o objetivo foi averiguar a qualidade da carcaça que o pecuarista está oferecendo para o frigorífico e da carne que o frigorífico está oferecendo ao consumidor: “O produtor rural recebe pelo peso da carcaça, então é importante ele saber de quanto será o rendimento do animal após o abate. Já o frigorífico busca carne com maciez, sabor e suculência, que é basicamente o que o mercado valoriza”, observa.

Pflanzer explica que os indicadores utilizados trazem respostas para essas questões. A idade de abate tem relação direta com a maciez da carne. A gordura intramuscular, também conhecida como mármore ou marmoreio, reflete-se também nesse quesito.

Os resultados mostram que os rebanhos tiveram bom rendimento de carcaça, 56,1%, que, segundo o professor da Unicamp, é um ótimo índice; presença de gordura desejada pela indústria; bom desenvolvimento muscular, expresso pela área de olho de lombo; e boa relação entre carne, osso e gordura na carcaça, ou seja, bom índice de carne aproveitável total. Já em relação à gordura intramuscular e à maciez da carne, os resultados têm relação com a própria genética das raças zebuínas.

“Com os protocolos, conseguimos atestar as aptidões do Nelore para produção de carne e carcaça de maneira eficiente, econômica e sustentável, capaz de atender à demanda nacional e mundial dos frigoríficos por proteína animal. O Brasil é um grande produtor de carne e mostramos que esses animais têm aptidão para fornecer carne a partir de um rebanho com qualidade genética”, conclui.

Fonte: Embrapa

Bovinos / Grãos / Máquinas

Cotações da carne bovina enfraquecem no atacado e seguem firmes para arroba

De acordo com pesquisadores do Cepea, os valores costumam perder sustentação na segunda quinzena.

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Os preços da carne bovina no atacado da Grande São Paulo registraram pequenas quedas nos últimos dias.

De acordo com pesquisadores do Cepea, os valores costumam perder sustentação na segunda quinzena, e, pelo menos por enquanto, não se nota impacto significativo da confirmação de foco da doença de Newcastle numa granja de frangos no Vale do Alto Taquari (RS) no mercado bovino.

Ao longo de julho, o que tem havido é uma recuperação, ainda que lenta, das sucessivas baixas ocorridas no correr do primeiro semestre.

Segundo pesquisadores do Cepea, frigoríficos seguem preenchendo boa parte das escalas com animais já contratados.

Em suas negociações spot, deparam-se com pecuaristas firmes nos pedidos de preços maiores e, principalmente, fora do estado de São Paulo têm sido visto reajustes.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Bovinos / Grãos / Máquinas Alta produtividade

Revolvendo a cama, revolucionando a pecuária leiteira: o sucesso do compost barn

O êxito desse sistema depende de um manejo adequado da cama, essencial para manter a saúde e o conforto dos animais.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

A implementação do compost barn em fazendas leiteiras tem se mostrado uma estratégia eficaz para promover o bem-estar animal e garantir a alta produtividade. No entanto, o sucesso desse sistema depende de um manejo adequado da cama, essencial para manter a saúde e o conforto dos animais.

O revolvimento diário da cama é fundamental para manter um ambiente saudável no compost barn. Este processo pode ser realizado usando dois implementos principais: o escarificador e a enxada rotativa. O escarificador é ideal para um revolvimento mais profundo devido às suas hastes compridas, atingindo maiores profundidades e facilitando a aeração adequada do material. Já a enxada rotativa, indicada para uma mistura mais superficial, em torno de 20 centímetros, é eficaz para quebrar torrões e partículas agregadas, deixando a superfície da cama mais uniforme. “Para obter melhores resultados, o revolvimento deve ser realizado pelo menos duas vezes ao dia, preferencialmente quando as vacas estão na ordenha, deixando a área de cama livre e adequada para o descanso dos animais” menciona a doutoranda em Zootecnia, Karise Fernanda Nogara, que vai tratar sobre os cuidados essenciais com o manejo e alternativas para a cama compost barn durante o Interleite Sul 2024, que acontece em 18 e 19 de setembro, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (Santa Catarina).

Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, a especialista explica que durante o revolvimento é essencial que os ventiladores estejam em funcionamento. “A ventilação adequada auxilia na secagem da cama ao remover a umidade e dissipar o calor das camadas mais profundas. Manter a superfície da cama em condições térmicas ideais é fundamental para o conforto das vacas, contribuindo para um ambiente propício ao descanso e à saúde dos animais” expõe Karise.

Conforme a zootecnista, a reposição regular de material na cama é outra prática importante para controlar a umidade e promover a atividade microbiológica necessária para o processo de compostagem. “É recomendado realizar reposições em pequenas quantidades, mas com frequência, para manter a cama funcional. A frequência das reposições pode variar conforme as condições microclimáticas da região. Por exemplo, em áreas com invernos chuvosos e alta umidade, como na região Sul do Brasil, pode ser necessário realizar reposições mais frequentes para manter a cama em boas condições” ressalta.

Para avaliar se a cama está em condições adequadas, é recomendável que o produtor utilize um termômetro para medir a temperatura. “Essa medição deve ser realizada de 20 a 30 cm de profundidade, pois essa é a área onde o revolvimento ocorre com mais frequência. É essencial que essa verificação seja feita em vários pontos da cama, pelo menos em nove pontos diferentes. É importante evitar áreas próximas aos pontos de entrada e saída dos animais, próximas aos bebedouros e às muretas, onde o revolvimento pode ser dificultado” detalha Karise.

Temperatura umidade e C:N

A temperatura ideal para as camas de compost barn varia entre 43 e 60°C. Temperaturas em torno de 30°C indicam uma atividade microbiológica mínima, o que pode afetar negativamente a eficácia do processo de compostagem e a qualidade da cama. “Monitorar a temperatura regularmente e agir de acordo com os resultados é fundamental para garantir um ambiente saudável e confortável para os animais” destaca Karise.

Doutoranda em Zootecnia, Karise Fernanda Nogara: “O Compost Barn além de resolver o problema dos dejetos dos animais de forma eficiente, transforma esses resíduos em um recurso com valor agregado, tanto para a fazenda quanto para o meio ambiente”. Foto: Arquivo pessoal

Para a verificação da umidade da cama de maneira prática dentro da propriedade, a zootecnista conta que o produtor pode utilizar uma avaliação subjetiva através do teste de compressão na mão. “Nesse teste, o produtor pega uma quantidade da cama na mão e a aperta, comprimindo o material. Se o material não ficar agregado, isso indica falta de umidade na cama. Se o material ficar agregado, mas se desfizer facilmente, significa que há umidade suficiente e adequada. Caso o material agregado não se desfaça, mesmo com compressão, e houver saída de água entre os dedos, isso indica que a cama está saturada, ou seja, com alta umidade. Para verificações mais precisas, pode-se fazer a secagem do material em micro-ondas ou airfryer, método também utilizado com silagens” expõe.

Outra variável importante a ser controlada é a relação de carbono e nitrogênio (C:N) presente na cama. A determinação de C:N é possível apenas via análise laboratorial, similar à análise de solo. A especialista informa que para uma cama com boa atividade microbiana, é necessário que essa relação seja de pelo menos 30:1. “Quando a relação estiver abaixo de 25:1, já é necessário realizar reposições de materiais na cama. Se essa relação estiver em torno de 15:1, indica baixa atividade microbiana e alta umidade, situação em que o produtor deve decidir entre fazer reposições parciais ou substituir completamente a cama” salienta.

Karise reforça a importância de monitorar e manter esses parâmetros dentro dos limites ideais para garantir que a cama do compost barn continue a proporcionar um ambiente saudável e produtivo para os animais. “A combinação de uma temperatura adequada, umidade controlada e uma relação de C:N balanceada favorece a atividade microbiana e a eficiência do processo de compostagem, resultando em um espaço confortável para as vacas e na produção de um adubo orgânico de qualidade” afirma.

Implementação

Karise destaca que a adoção do compost barn deve ser avaliada cuidadosamente de acordo com as condições específicas de cada propriedade, incluindo clima, disponibilidade de recursos e preferências do produtor. “A análise técnica e econômica detalhada é essencial para determinar a viabilidade desse sistema em cada caso específico” pontua, enfatizando: “A combinação de revolvimento diário, ventilação adequada e reposição regular de material cria um ambiente ideal para as vacas leiteiras. No entanto, cada fazenda deve avaliar cuidadosamente suas condições específicas antes de implementar esse sistema, garantindo que ele se alinhe às necessidades e capacidades da propriedade”.

Substituição da cama

A frequência com que a cama do compost barn precisa ser substituída pode variar significativamente de acordo com as práticas de manejo adotadas e as condições específicas de cada propriedade. Karise aponta que alguns sistemas de compostagem permitem que a cama seja renovada parcialmente por vários anos, adicionando material novo conforme necessário para corrigir a umidade e manter a eficiência do processo. “Em alguns casos, as camas podem durar mais de quatro anos antes de exigir uma substituição completa. A decisão de substituir totalmente a cama deve ser avaliada individualmente por cada produtor, levando em consideração diversos fatores” salienta a zootecnista.

Um dos sinais de que a cama precisa ser substituída ou renovada é a altura da mureta. Conforme explica Karise, se não houver mais espaço para adicionar material novo e a cama estiver extrapolando a altura da mureta, isso indica que é necessário realizar uma renovação. Outro sinal é a qualidade do processo de compostagem. “Se a cama não estiver atingindo temperaturas adequadas ou se permanecer constantemente úmida, mesmo com reposições de materiais, isso pode indicar que a compostagem não está ocorrendo conforme o esperado e que a substituição da cama é necessária” explica.

Além disso, a necessidade pelo adubo orgânico produzido a partir da cama pode influenciar a decisão de substituição. “Se o produtor precisar utilizar a cama como adubo orgânico nas lavouras, a sua retirada parcial ou total pode ser uma opção viável” afirma Karise.

Segundo a profissional, um acompanhamento regular do estado da cama e do processo de compostagem é essencial para determinar o momento adequado para realizar a substituição ou renovação. “Cada fazenda deve avaliar cuidadosamente suas condições específicas antes de tomar uma decisão, garantindo que a cama do compost barn continue a proporcionar um ambiente saudável e produtivo para os animais” pontua.

Benefícios ambientais

O sistema compost barn oferece vários benefícios ambientais em comparação com outras práticas de manejo de cama, transformando um problema comum de outros sistemas de produção em uma vantagem significativa.

Em outros sistemas, aponta Karise, os dejetos dos animais exigem mão de obra, equipamentos específicos de limpeza e espaços dedicados para estocagem, enquanto que no compost barn a maior parte desses resíduos, como urina e fezes, é depositada diretamente na cama e utilizada como fonte de nitrogênio para as bactérias aeróbias presentes. “Por meio da decomposição bacteriana, tanto do carbono presente nos materiais de cama quanto do nitrogênio dos dejetos, essas bactérias conseguem metabolizar esses nutrientes, gerando calor no processo. Esse calor, por sua vez, contribui para a secagem da cama, resultando em um ambiente mais saudável e confortável para os animais, minimizando a formação de resíduos e odores desagradáveis” menciona a especialista.

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Uma vantagem adicional desse sistema é que a cama compostada pode ser reaproveitada como adubo orgânico nas lavouras, reduzindo significativamente os custos associados à aquisição de adubos comerciais. “Isso não apenas beneficia financeiramente a fazenda, mas também promove a sustentabilidade ao evitar o desperdício de recursos utilizando um fertilizante natural” assegura Karise, acrescentando: “O compost barn, além de resolver o problema dos dejetos dos animais de forma eficiente, transforma esses resíduos em um recurso com valor agregado, tanto para a fazenda quanto para o meio ambiente”.

Riscos associados ao manejo

Os principais riscos associados ao manejo da cama do compost barn estão relacionados à saúde do rebanho, especialmente em relação à mastite e infecções podais. Karise detalha que a cama formada por materiais orgânicos e dejetos animais requer a presença de bactérias aeróbicas para degradar esses compostos. “Essas bactérias são fundamentais na produção de calor e na secagem da cama, contribuindo para atingir altas temperaturas, que podem chegar até 60°C. Nessas condições, as principais bactérias causadoras de mastite são inativadas, tornando a cama um ambiente mais propício para o descanso das vacas” relata.

No entanto, quando a cama não atinge as temperaturas adequadas e apresenta alta umidade, há um aumento do risco de proliferação de bactérias patogênicas. Isso pode expor o úbere e os tetos dos animais, tornando-os mais suscetíveis às infecções de origem ambiental. “Além disso, infecções podais também podem ser desencadeadas quando a cama não está funcionando adequadamente, pois isso favorece o crescimento de bactérias oportunistas, causando problemas nos cascos dos animais. Por isso é essencial que o produtor monitore e controle a umidade da cama, realizando o revolvimento pelo menos duas vezes ao dia na área de cama e providenciando a reposição do material quando a umidade começar a se elevar” evidencia Karise.
Ao manter a cama em condições ideais, é possível reduzir significativamente os riscos de mastite, infecções podais e outros problemas de saúde no rebanho.

Alternativas ao compost barn

Karise afirma que há várias opções de sistemas de produção que os produtores podem adotar, e a escolha do sistema deve se basear na realidade e nos objetivos de cada produtor. “Não existe um sistema melhor que o outro, mas sim aquele que se ajusta melhor à realidade e o objetivo de cada produtor” ressalta.

Conforme a especialista, sistemas a pasto, sejam totalmente extensivos ou semiconfinados, têm mostrado bons resultados. “Adotando estratégias de pastejo rotacionado, esses sistemas utilizam a forragem de maneira mais eficiente, tanto em quantidade quanto em qualidade. Eles são uma boa alternativa para produtores que dispõem de área de terra suficiente para culturas de inverno e verão, além de serem mais econômicos em comparação com sistemas confinados” avalia.

Para produtores com pouca área de terra, os sistemas confinados podem ser a melhor opção, uma vez que permitem alojar mais animais em uma área menor, embora o custo inicial de operação seja mais alto.

Entre as opções de confinamento, destacam-se o compost barn, que exige reposições de material de cama, e o freestall, que utiliza camas inertes, como areia ou colchões. “Ambos os sistemas podem ser implementados de forma convencional ou em layout de túnel de vento, no qual o galpão é totalmente fechado e climatizado com exaustores e placas evaporativas, proporcionando maior conforto térmico aos animais durante todo o ano” salienta Karise.

Materiais para a cama

Cada material utilizado na cama do compost barn possui uma população microbiana característica, diferente da areia, que é um material inerte. Isso significa que esses materiais proporcionam condições ideais para o crescimento bacteriano, contribuindo para a decomposição dos resíduos. Materiais comuns, como serragem e maravalha, possuem tamanho de partícula adequado para o conforto dos animais, promovendo um ambiente propício para o descanso. “No entanto, é importante ter cautela ao utilizar materiais como palhadas e cascas, pois eles também oferecem boas condições para o crescimento bacteriano, mas a umidade deve ser controlada. Um alto teor de umidade pode levar à contaminação fúngica na cama, prejudicando a saúde dos animais” alerta Karise.

Além disso, materiais como casca de arroz e casca de aveia podem apresentar problemas específicos, uma vez que têm estrutura abrasiva e não favorecem uma compostagem eficiente, podendo irritar a pele do úbere e dos tetos dos animais. “Isso pode levar a alterações comportamentais, como a relutância dos animais em se deitar na cama para descansar, resultando em estresse e diminuição na produção de leite” indica a zootecnista, enfatizando que ao selecionar e utilizar materiais para a cama é essencial considerar não apenas o conforto dos animais, mas também a capacidade do material de promover uma decomposição eficiente e manter um ambiente saudável e livre de irritações para o rebanho.

Ao escolher os materiais para a cama do compost barn, Karise diz que é preciso considerar o equilíbrio entre custo e benefício, levando em conta a disponibilidade regional desses materiais. “O benefício e a qualidade dos materiais estão intimamente ligados à presença e à disponibilidade de carbono, que é essencial para o metabolismo energético das bactérias presentes na cama. Materiais como serragem, maravalha e aparas de madeira são altamente valorizados devido ao seu alto teor de carbono, promovendo maior atividade microbiana e permitindo que altas temperaturas sejam alcançadas, o que beneficia o processo de compostagem” analisa a zootecnista.

No entanto, atualmente, esses materiais enfrentam forte concorrência da indústria energética, que utiliza resíduos de madeira como combustível para caldeiras. Como resultado, muitas madeireiras optam por vender seus resíduos para essas indústrias, deixando os produtores rurais com acesso limitado e preços elevados para esses materiais. “Isso pode levar os produtores a adiarem reposições na cama, afetando negativamente o processo de compostagem, pelo aumento da umidade da cama, o que onera os custos de produção” frisa Karise.

Para mitigar esses custos, os produtores podem considerar o uso de materiais alternativos na cama, como casca de amendoim, casca de café, palhada de trigo, sabugo de milho triturado, bagaço de cana, casca de arroz e casca de aveia. “Embora esses materiais possuam teor de carbono mais baixo em comparação com os resíduos de madeira, eles podem ser utilizados para controlar a umidade e auxiliar no processo de compostagem” avalia, destacando que para melhores resultados é recomendável utilizar esses materiais em conjunto com serragem e maravalha.

No entanto, é importante observar que o custo desses materiais alternativos pode variar de acordo com a localização e a disponibilidade regional. “Os produtores devem avaliar cuidadosamente suas opções e considerar não apenas o preço, mas também a eficácia e a disponibilidade dos materiais ao tomar decisões sobre o manejo da cama” evidencia Karise.

Impactos da baixa qualidade da cama

A presença de umidade elevada na cama pode agravar inflamações, especialmente infecções de origem ambiental, como a mastite, devido aos animais estarem mais sujos. Isso pode resultar em um aumento na contagem de células somáticas, prejudicando tanto a produção quanto a qualidade do leite. “Em casos graves de mastite, as células secretoras de leite podem ser danificadas, resultando em uma redução na produção de leite” enfatiza Karise.

Foto: Juliana Sussai

Além disso, a especialista cita que a composição do leite pode ser alterada de várias maneiras. “A síntese de componentes importantes, como caseína e gordura, pode ser reduzida, enquanto a presença de toxinas bacterianas ou mediadores inflamatórios pode levar à morte ou necrose das células epiteliais. Isso pode resultar em mudanças no sabor, na coagulação, na umidade do queijo, no rendimento e até mesmo no tempo de prateleira dos produtos lácteos” argumenta.

Contudo, Karise ressalta que esse problema não é exclusivo do sistema compost barn, podendo ocorrer em qualquer sistema que contribua para o aumento da inflamação na glândula mamária devido a práticas inadequadas de manejo.

Evolução em curso

Nos últimos anos, pesquisas sobre a arquitetura e caracterização do sistema do compost barn, com ênfase na ventilação, têm sido promissoras. Esses estudos visam aprofundar a compreensão das interações entre o microclima, as características da cama e a saúde do úbere das vacas.

Também tem havido um aumento significativo em pesquisas sobre o comportamento dos animais, bem-estar, produção e qualidade do leite, devido à relação das características da cama com a ocorrência de mastite no rebanho. “Investir em educação continuada e treinamento para a equipe de colaboradores é essencial para garantir que todos estejam familiarizados com as melhores práticas de manejo da cama. Participar de palestras e cursos, muitos dos quais disponíveis online, é altamente recomendado para adquirir conhecimentos atualizados e aprofundar a compreensão sobre o manejo da cama no compost barn” frisa a zootecnista.

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Fonte: O Presente Rural
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Bovinos / Grãos / Máquinas Embrapa Agrossilvipastoril

Após 12 anos, pesquisa traz embasamento para plantio de árvores em sistemas ILPF

As pesquisas trouxeram resultados que ajudam a fazer recomendações sobre uso do componente arbóreo nesses sistemas produtivos.

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Resultados do estudo contribuem para recomendações sobre uso do componente arbóreo nos sistemas integrados. Foto: Gabriel Faria

A Embrapa Agrossilvipastoril está fechando o primeiro ciclo de 12 anos do maior experimento do mundo com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), em Sinop (Mato Grosso). As pesquisas trouxeram resultados que ajudam a fazer recomendações sobre uso do componente arbóreo nesses sistemas produtivos.

A definição da estratégia de uso das árvores em sistemas de integração varia entre as propriedades, conforme o interesse do produtor. Fatores como destinação da madeira, mercado consumidor, forma de colheita, uso das árvores como adição ou substituição de renda, características da propriedade, entre outros, devem ser avaliados. Isso torna cada projeto único. Porém, a tomada de decisão deve ser baseada em fundamentos técnicos como os obtidos na pesquisa.

A pesquisa

O trabalho utilizou o eucalipto (clone H13), uma vez que é uma espécie com crescimento rápido, com técnicas silviculturais desenvolvidas e com múltiplos usos. As árvores foram testadas em sistema de integração lavoura-floresta (ILF), integração pecuária-floresta (IPF) e ILPF, além da monocultura utilizada como testemunha. O plantio ocorreu inicialmente em renques de três linhas distantes 30 metros entre si e, após intervenções, alguns dos tratamentos tiveram as linhas externas suprimidas e ficaram como linhas simples espaçadas em 37 metros.

A pesquisa acompanhou todo o desenvolvimento das árvores, as operações de manejo como poda de galhos e desbastes (corte seletivo de árvores), dados de crescimento, acúmulo de biomassa e carbono, efeito bordadura dos renques, estoque de madeira, entre outros.

Ao longo dos 12 anos os sistemas integrados produziram entre 87 m³ e 114 m³ de madeira por hectare (ha). Os volumes variaram conforme o número de árvores conduzidas até o fim do experimento. Entretanto, quanto mais árvores, maior o impacto sobre a produção de grãos e forragem dentro do sistema produtivo.

“Quando falamos em sistemas de integração, temos que pensar na produtividade de todo o sistema. Se eu aumento o número de árvores, terei redução na produção da lavoura e da pecuária. Sendo assim, o maior número de árvores tem que fazer sentido na avaliação global” explica o pesquisador Maurel Behling.

A área testemunha, com monocultura de eucalipto, produziu 350 m³/ha ao longo dos 12 anos, ficando dentro da média de incremento anual do H13 em áreas de silvicultura em Mato Grosso, que é de 32 m³/ha.

Comportamento de crescimento e carbono

Os dados de crescimento em altura, diâmetro à altura do peito (DAP) e volume de madeira medidos ao longo dos anos indicaram que os sistemas integrados proporcionam o chamado efeito bordadura. É o efeito causado nas árvores externas da monocultura por receberem mais luz, água e nutrientes que aquelas do interior e por terem menor competição com árvores vizinhas. Na ILPF esse efeito foi observado nos renques de linhas triplas, com a árvore do meio tendo menor DAP, assim como as árvores do tratamento só com eucalipto.

O efeito bordadura foi ainda mais acentuado na avaliação de biomassa e de acúmulo de carbono nas árvores. O sistema ILPF, que inicialmente teve renques triplos e passou a ter renque simples após corte das linhas laterais, foi o que mais acumulou carbono, passando dos 30 kg/ano por indivíduo. O valor se diferenciou estatisticamente dos demais e ficou bem acima dos cerca de 20 quilos/ano por árvore na monocultura.

“Além de favorecer o ganho em volume das árvores, com maior potencial para aproveitamento na serraria, há uma maior taxa de acúmulo de carbono nas árvores na ILPF. É um carbono que teoricamente terá um ciclo de vida maior do que aquele usado como biomassa” destaca Behling.

O pesquisador lembra ainda que o carbono não fica somente estocado na madeira. As árvores no sistema produtivo ainda deixam grande volume de carbono na área em forma de folhas, galhos, serrapilheira e matéria orgânica.

“Cerca de 10 toneladas de resíduos por hectare que permanecem são originárias da área útil com árvores. Isso sem considerar tocos e raízes que em média representam 20% da biomassa total da árvore” informa o pesquisador.

Recomendações

Behling enfatiza que os resultados obtidos neste experimento, somadas às experiências de produtores em Unidades de Referência Tecnológica em Mato Grosso, dão subsídios para a tomada de decisão no planejamento de sistemas ILPF.

De acordo com ele, se o objetivo é adicionar renda ou melhorar o conforto térmico para o gado, os sistemas com linha simples são mais indicados. Já se o produtor quer um modelo com maior número de árvores e que sua venda compense as perdas de produção na lavoura e pecuária, é possível fazer renques de múltiplas linhas.

“Se o objetivo é produzir biomassa, por exemplo, é importante adequar o número de linhas ao parque de máquinas que fará a colheita, de forma a viabilizar o custo” orienta o pesquisador.

A análise do mercado que consumirá a madeira é outro fator primordial no planejamento do sistema. A madeira conduzida para serraria tem maior valor agregado, mas depende de haver estrutura de processamento. Na região médio-norte de Mato Grosso, por exemplo, o surgimento recente de usinas de etanol de milho mudou o cenário em relação a 2011, quando o experimento foi iniciado. Atualmente a demanda por biomassa para as caldeiras é grande e tende a ser ainda maior nos próximos anos com a inauguração de novas plantas.

“No caso da madeira serrada de eucalipto, ainda não é uma realidade na região, mas já existe demanda para a madeira tratada para mourões de cerca, postes e construção civil” relata Behling.

Fim do ciclo e início de outro

O primeiro ciclo do experimento de ILPF com foco na pecuária de corte e produção de grãos está sendo finalizado com o corte raso dos eucaliptos após 12 anos. Em todo o experimento ainda restam 3.666 árvores ocupando uma área de 43 hectares, sendo 3 ha com monocultura e 40 ha com IPF, ILF ou ILPF. Dados preliminares indicam um volume total a ser colhido de 3.568,33 m³ de madeira. Considerando o valor de 100 reais por metro estéreo, são quase 514 mil reais. Se a venda fosse para serraria, o valor seria ainda maior. Deve-se lembrar que, além da madeira, a área também produziu carne e grãos.

Com o fim deste ciclo, um novo trabalho já deverá começar no próximo período chuvoso. Desta vez, além do eucalipto, será usada a teca como componente arbóreo do sistema. Também será testado o consórcio com as duas espécies, uma vez que a teca perde suas folhas no período seco, reduzindo a sombra para os animais. A ideia é que o eucalipto contribua para manutenção do conforto térmico e com o escalonamento de receitas obtidas com as árvores.

Maior experimento do mundo em ILPF

O experimento de ILPF com foco na pecuária de corte e agricultura de grãos da Embrapa Agrossilvipastoril é um dos maiores, se não o maior do mundo com sistemas integrados organizados em blocos casualizados e com quatro repetições. São um total de 72 hectares, com dez tratamentos distintos. Além da lavoura, da pecuária e da floresta sozinhos, são avaliadas diferentes estratégias e arranjos de ILP, IPF, ILF e ILPF.

O planejamento do experimento foi feito logo após a criação da Embrapa Agrossilvipastoril, por meio de uma reunião com a participação de especialistas de diversas Unidades da Embrapa. Desde a instalação, na safra 2011/2012, pesquisadores de diferentes especialidades fizeram estudos nesta área, analisando aspectos de solo, dinâmica de água, microclima, forragicultura, sanidade animal e vegetal, microbiologia, e emissão de gases de efeito estufa, entre outros.

Entre os resultados de destaque está o Sistema PPS (Precocidade, Produtividade e Sustentabilidade), uma estratégia de manejo da pecuária de cria utilizando ILP e IPF.

Fonte: Assessoria Embrapa
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