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Planejamento é essencial para boa produção de leite

Bom planejamento da lavoura de leite permite que o produtor tenha mais rentabilidade e menos custos na produção

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Como atuar na lavoura de forma que o animal tenha bem-estar e assim gere melhores resultados na produção foi assunto da palestra do zootecnista Davi Teixeira, durante o 13° Simpósio do Leite, que aconteceu nos dias 08 e 09 de junho em Erechim (RS). Com o tema “Lavoura de leite: um novo conceito de produção”, o profissional explanou aos presentes como um bom manejo da lavoura resulta positivamente na produção leiteira da propriedade. Teixeira mostrou como a boa pastagem dos animais influencia para que no final o produtor saia ganhando com a produção de leite, além de melhorar a qualidade de vida do rebanho.

O principal ponto focado pelo profissional foi a importância da boa alimentação e manejo do animal, além da necessidade do planejamento na lavoura, para que isso resulte positivamente nos resultados do produtor. Teixeira explicou que os mesmos cuidados que existem com as lavouras de soja, milho ou arroz devem também ser feitos com a produção de vacas leiteiras. Segundo ele, o manejo é essencial para os resultados. “Como qualquer lavoura, é preciso que o produtor faça o planejamento do que será feito e utilizado”, afirma.

O zootecnista afirma que toda a atividade deve estar bem organizada. “Porém, o limitante de tudo é tempo, tempo para que o animal consiga, ao longo de 24 horas, dar a resposta potencial dele em produção. Mas isso não é uma tarefa fácil”, afirma. Teixeira diz que ao longo do dia o animal gasta tempo com uma série de outras atividades, como beber água e ruminar, e isso limita o tempo que este animal de fato consegue otimizar a ingestão do pasto. “Por isso, é preciso ter outras estratégias de forrageamentos dos animais, ter suplementos, como silagem e grãos úmidos”, explica.

Teixeira complementa que é bastante comum enxergar sistemas, partindo de componentes de silagem dos animais, quando eles têm acesso a algo verde ou um piquete de forragem. “Isso significa que esses sistemas já estão fadados a um custo de produção mais alto e consequentemente a uma margem mais estreita por litro de leite. O animal terá que compensar em volume”, comenta. Teixeira acrescenta que, quando se pensa nesses sistemas a partir dos pastos, tanto de inverno quanto de verão, complementando a alimentação com outros componentes, como a silagem, feno ou ração, a tendência é que esse sistema tenha uma saúde financeira mais equilibrada. “Isso porque a relação entre a concentração de nutrientes e minerais investidos é mais favorável, permitindo que haja a oportunidade de prover esse competente, pelo menos em parte, com padrão de ingestão durante todos os dias do ano”, afirma.

“Quem faz a ordenha, a parte técnica, sabe que se o animal pastejou mais e em bons e verdes pastos, a resposta disso virá na produção do leite, isso é sabido”, diz o profissional. Ele explana que 60% do custo da produção está relacionada à alimentação, por isso é preciso organizar o processo para que o negócio leite seja bem desempenhado e gere resultados.

Solução

Para que o produtor tenha mais qualidade e produtividade na lavoura de leite, o zootecnista destacou alguns passos. O primeiro, segundo Teixeira, é planejar. “É preciso planificar o que vai ser plantado em cada época e quem manda nisso é o rebanho, que está em áreas de produção. Dessa forma, obrigatoriamente, se quer respostas do rebanho, é preciso entender que precisamos de alimento”, afirma.

O segundo passo é oferecer alimento de alto padrão o ano todo para o animal. “É preciso este alimento de alta qualidade para todas as vacas 24 horas por dia. Se não puder as 24 horas, que então sejam duas ou quatro horas, mas que o alimento seja sempre de alto padrão de oferta e com regulagem dos animais”, afirma. Teixeira comenta que entende que existem momentos difíceis, como os vazios forrageiros, por exemplo, mas é necessário que o produtor tape isso, “e isso só será feito com planejamento”, diz.

O profissional comenta que tendo folhas verdes todos os dias do ano, pelo menos duas horas por dia, haverá o complemento da dieta, essencial para a melhora na produção animal. “O rebanho tendo ponta de folha verde o ano todo, nós vamos ajustar o complemento da dieta com silagem ou ração, e dependendo de quantas horas por dia foi o pastejo de folha verde, nós vamos nos basear naquilo com que conseguimos oferecer de pasto e aquilo que significa o fechamento financeiro da atividade”, conta. “É preciso que tenhamos um olho no que tem de pasto e um olho nos demais ingredientes, que então fecho os resultados financeiros da atividade”.

Estes são os primeiros exercícios de diferentes combinações de pastagem. “É preciso sempre ter algo verde, na fase inicial do ciclo, a oferecer durante algum período da refeição. E precisamos nos lembrar que uma boa refeição de um animal varia entre 40 minutos e 1h30”, afirma. Teixeira complementa que duas boas refeições de pasto, todos os outros componentes incrementados na dieta são considerados complemento, já que nestas duas ou quatro horas de bom pastejo o animal consegue chegar a 60% do total do potencial.

Depois disso, o profissional afirma que é preciso distribuir as áreas de propriedade em cada estação do ano, para que não falte o alimento para os animais. Isso tem que ser uma constante de planejamento.

Planejamento

E falando em planejamento, o profissional alerta que para que o rebanho alcance os resultados esperados é preciso que o produtor tenha um constante análise da pastagem, já que quantificar ajuda a minimizar erros de manejo. “O planejamento ajuda o manejo a dar certo, porque você quantificou. O máximo que pode dar errado é vir uma estiagem maior que a prevista e ter que usar mais silagem ração, ou chover demais e o produtor vai poupar alguns piquetes e fazer feno, ou sobrar pasto, mas você não vai errar por falta de comida”, afirma.

Teixeira acrescenta que a quantificação é somente uma parte do exigido, já que a lavoura de leite, diferente de outras, é colhida todos os dias. “Outro componente tão importante quanto o planejamento é o manejo dessa lavoura. E manejar uma lavoura não é só adubar, mas sobretudo saber colher, regular as colheitadeiras”, afirma.

Uma solução apresentada pelo zootecnista foi o conceito de manejo de pastagem chamado rotatíneo, que é uma mistura do pastoreio rotacionado e contínuo. “É rotacionado por uma característica do sistema leiteiro de piquete, que facilita para o manejador controlar, e tem rotação nas áreas. Mas é contínuo porque para o animal que está pastejando a sensação deve ser de estar sempre no melhor pasto”, conta. E esta é uma situação diferente do que geralmente é vista. “Vemos que geralmente o animal entra no pasto com uma condição boa e depois termina com essa condição boa e segue naquele piquete com muito mais tempo com um desempenho prejudicado”, explica. O profissional ainda complementa que o conceito basicamente significa usar menos tempo em cada área de pastagem e rodar mais rápido.

Nos estudos em que este conceito é debatido, foi constatado um padrão de comportamento dos animais. Segundo o zootecnista, o animal ingere de acordo com o desempenho, sendo que eles não devem pastejar além de 50% das alturas ótimas ideais de cada espécie de pasto, seja sorgo, braquiária, sudão ou alguma outra. “Sempre que o animal passa dos 50% da altura ideal na entrada do pastejo o desempenho dele cai drasticamente”, afirma. O zootecnista ainda aconselha que os produtores jamais deixem com que os pastos sejam totalmente raspados. “É melhor que o tempo de pastejo diminua do que raspar totalmente o pasto. Isso reduz o custo do produtor em silagem e ração”, conta. Segundo ele, se não houver essa prática na lavoura, um pasto que poderia durar até 100 dias dura somente 30. “Se você gasta até R$ 800 para fazer uma pastagem com boa semente, bem adubada, com nitrogênio, e ela durar somente 60 dias, já não se paga. Agora, se você deixar com que os animais não raspem totalmente o pasto, deixando a folha verde, dessa forma, ela dura até 180 dias. E com isso, uma colheita de leite se paga com folga”, diz.

Teixeira argumenta que se a pessoa erra no manejo da lavoura, se deixa que o piquete vá até o chão, o desempenho cai consideravelmente. “As raízes do piquete tendem a acompanhar as raízes de massa verde. Se deixarmos isso acontecer as plantas terão menos tamanho e força para buscar nutrientes no solo”, afirma. Além disso, o profissional ainda acrescenta que quando o produtor consegue controlar a altura do pasto significa mais qualidade nutricional, alta velocidade de ingestão dos animais, maior seletividade da dieta, maior taxa de rebrota, maior produção de forragem, economia de ração, entre tantas outras. “E é o tempo de acesso que vai definir isso. Se não tem como você deixar o rebanho o dia inteiro pastejando, deixe somente metade do dia, ou mesmo somente uma hora. Mas é muito importante respeitar as alturas ótimas no manejo do pasto”, reitera. “Se o rebanho entrou no pasto de aveia preta com 30 cm e saiu com 18 cm, está excelente; se entrou no azevem com 20 cm e saiu com 10 cm, ótimo também”, exemplifica.

Adotando pequenas técnicas no dia a dia, os custos da produção diminuem e os resultados são notáveis, afirma Teixeira. “Deixar com que os pastos fiquem nas alturas ideais e ter um planejamento anual na alimentação do rebanho faz com que o produtor fique menos dependente das crises financeiras do mercado. Além disso, aquele animal que está há muito tempo coletando somente a parte superior do pasto e deixando a fila pós pastejo está contribuindo para a longevidade do pasto, além de aumentando os lucros da produção”, diz. “Faz uma baita diferença no leite e nos resultados econômicos porque o produtor planejou, e assim conseguiu diminuir seus gastos e aumentar a produção”, finaliza.

Mais informações você encontra na edição de Bovinos, Grãos e Máquinas de agosto/setembro de 2016 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Colibacilose em bezerros: importante tipo de diarreia

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível.

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Foto: Divulgação/JÁ Saúde Animal

A saúde intestinal dos bezerros é um aspecto importante na pecuária, afinal impacta diretamente o desenvolvimento e a produtividade desses animais. Dessa forma, a manutenção de um trato gastrointestinal saudável e funcional permite a digestão e a absorção adequadas dos nutrientes. Nesse contexto, entre os principais desafios da criação de bezerros, relacionado à saúde intestinal, está a diarreia, sendo responsável por uma série de prejuízos. O problema é caracterizado por uma grande perda de líquidos e eletrólitos corporais que vão ocasionar desidratação, perda de peso, com possibilidade de evoluir para choque hipovolêmico e morte do animal.

Vários fatores podem ter relação com a ocorrência da diarreia e os agentes etiológicos causadores podem ser diversos, incluindo as bactérias (Escherichia coli, Salmonella sp., Clostridium perfringens), os vírus (rotavírus e coronavírus), protozoários (Eimeria sp. e Cryptosporidium sp.) e as verminoses. Dentre esses, um dos principais no quesito mortalidade é a Escherichia coli, bactéria gram-negativa, que de forma geral é inofensiva. Contudo, quando tipos patogênicos infectam uma população susceptível ou quando há uma somatória de fatores (ambiente, manejo, imunidade) que estimula a proliferação bacteriana ocorre a chamada Colibacilose, termo atribuído a afecções provocadas por E. coli, que consequentemente podem ocasionar quadros de diarreia.

A Colibacilose pode acontecer de três maneiras: septicêmica, enterotoxêmica e entérica. A forma septicêmica se desenvolve quando a bactéria se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, afetando geralmente bezerros que não tiveram uma boa colostragem. Nesse caso, a apresentação da afecção é aguda, variando de 24 a 96 horas, com sinais clínicos como depressão, febre alta, anorexia e taquicardia. Outra forma é a enterotoxêmica, quando a bactéria se prolifera na parte média e posterior do intestino, havendo a liberação de toxina. Nesse caso, os animais apresentam prostração intensa e morrem de endotoxemia. Por fim, existe a forma entérica, conhecida como “curso branco”, caracterizada por sinais como diarreia pastosa abundante, de coloração esbranquiçada ou amarelada, podendo progredir para diarreia aquosa severa, desidratação, acidose metabólica e morte.

Geralmente a ocorrência da Colibacilose é mais frequente em animais mantidos em confinamentos ou muito próximos uns dos outros, além de bezerros com poucos dias de vida. Outros fatores epidemiológicos que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro diarreico são: períodos chuvosos, sistemas de produção inadequados (manejo sanitário, instalações e nutrição ineficazes) e outras enfermidades como as endoparasitoses. A taxa de mortalidade pode variar de 10 a 50% para bovinos de leite criados em sistemas intensivos e de 5 a 15% para bovinos de corte. É importante salientar que ela pode chegar a 60% em propriedades com problemas de manejo.

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível. Além disso, é importante realizar a vacinação de fêmeas no pré-parto especialmente por conta da passagem de anticorpos da mãe imunizada para o bezerro, conferindo proteção durante os três primeiros meses de vida.

Para o tratamento recomenda-se a administração de antimicrobianos, sendo a Enrofloxacina um dos mais indicados, além do uso de anti-inflamatórios não esteroidais para o controle da febre, alívio da cólica e para proporcionar conforto ao animal. É importante que seja feita a reposição dos fluidos e eletrólitos pela via oral (em casos iniciais) ou pela via parenteral, pois a desidratação pode levar os bezerros à morte de forma muito rápida.

As referências bibliográficas desse texto podem ser solicitadas à autora pelo e-mail: juliana.melo@jasaudeanimal.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Juliana Melo, médica-veterinária e jornalista na JA Saúde Animal
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Indicador do Boi Gordo Cepea/B3: 30 anos de compromisso com a pecuária brasileira

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Foto: Ana Maio

Há 30 anos, o grupo de pesquisadores que formavam o Cepea já se destacava e foi o escolhido pela então BM&F para o desafio de criar um indicador de preços que substituísse a entrega física usada para a liquidação de contratos futuros de boi gordo.

Era preciso contar com uma instituição que fosse idônea, imparcial no trato das operações de compra e venda, que tivesse conhecimento científico para definir uma metodologia com reconhecimento internacional, familiaridade não só com a pecuária, mas com todo o setor em que este mercado se desenvolve, e ainda agilidade para a entrega diária de um indicador, garantindo sigilo de informação.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O Cepea atende desde então todos esses requisitos. Por 30 anos, independentemente de ocorrências como greve de trabalhadores da USP que impedisse acesso ao campus de Piracicaba, quedas de energia ou da rede telefônica, problemas de saúde dos membros da equipe ou incidentes de qualquer natureza, aconteça o que quer que seja, o Indicador do Boi do Cepea foi e continua sendo elaborado diariamente, com entrega rigorosa às 18h04 à Bolsa.

O Indicador do Boi inicialmente chamado Esalq/BM&F, hoje o Cepea/B3, é o valor oficial do boi no mercado futuro brasileiro e o referencial escolhido por inúmeros agentes, não só da pecuária, como parâmetro confiável de preço para a negociação de contratos particulares. Pela imparcialidade do Cepea e rigor na aplicação da metodologia conhecida pelo mercado, o Indicador do Boi Cepea cumpre o papel de reduzir incertezas e oportunismos no setor.

A liquidação de contratos, que nos anos 1980 e início dos anos 1990 era realizada unicamente por meio da entrega física de animais, estava suscetível a uma série de entraves.  Grande parte dos pecuaristas tinha dificuldades em formar lotes que atendessem a todos os padrões especificados e exigidos pelo contrato. Compradores, por sua vez, alegavam que muitas vezes os lotes não tinham a qualidade esperada.

Essa perda na qualidade constantemente era associada ao transporte do animal até uma das praças para entrega: Araçatuba, Barretos, Presidente Prudente e São Paulo. Determinadas fazendas ficavam bem distantes e os animais perdiam peso. Além disso, as despesas com o transporte dos lotes de boi gordo eram pauta de discussão entre o vendedor e o comprador.

A assimetria de informação entre vendedores e compradores era tamanha que, ocasionalmente, os agentes que negociavam os contratos futuros iam fisicamente às regiões de entrega dos animais – quando não possível, contratavam pessoas para fazer essa verificação –, no intuito de monitorar o processo de chegada e conferência dos lotes. O objetivo era evitar ações oportunistas.

É nesse contexto que, no começo de 1994, a Bolsa suspende momentaneamente as negociações dos contratos futuros do boi gordo e, em maio daquele ano, disponibiliza um novo formato contratual, no qual a entrega de animais deveria ser feita em um único local: Araçatuba. Alguns novos processos foram estabelecidos – como protocolos nas realizações de jejum e pesagem dos animais, entre outros – e árbitros chegaram a ser contratados pela Bolsa, no intuito de resolver as disputas de compradores e vendedores nos momentos de entrega dos lotes.

Já atenta aos custos e entraves vindos da liquidação física dos contratos de boi gordo, a Bolsa, ainda em 1993, faz uma experiência inédita para a época: busca uma terceira parte que forneça um indicador de preço do boi gordo do mercado físico do estado de São Paulo. O objetivo era utilizar tal valor como referência para uma iminente liquidação financeira dos contratos futuros do boi gordo negociados na Bolsa.

Feitas algumas apurações, fica estabelecido que o Centro de Pesquisas vinculado à Universidade de São Paulo, o Cepea, que, ressalta-se, já vinha monitorando o mercado pecuário desde 1987, seria o responsável por fornecer à Bolsa o desejado índice.

O compromisso assumido com a cadeia de bovinos de corte brasileira colocou o Cepea, a Esalq e a Universidade de São Paula na vanguarda das pesquisas e como referência de estudos para o setor.

Impulso certeiro ao mercado futuro do boi

De maio de 1994 até quase o encerramento daquele ano, os contratos negociados na Bolsa ainda eram liquidados de forma física, com entrega dos animais em curral único estabelecido em Araçatuba.

Foi em 30 de novembro de 1994, que a então BM&F lança a negociação de um novo contrato, tendo como norma sua liquidação financeira, ou seja, sem a entrega física dos animais. O contrato envolvia ainda 330 arrobas de carne e exigia animais de 450 a 550 quilos, em dólar. As posições em aberto seriam encerradas, então, pela média aritmética simples dos últimos cinco Indicadores do “Boi Gordo Esalq/BM&F” do respectivo mês.

As primeiras negociações futuras com a nova alteração no contrato começaram a ser realizadas em 16 de dezembro de 1994, envolvendo o vencimento Agosto/95. Um total de 207 contratos foram liquidados financeiramente no encerramento de agosto de 1995, ao preço médio de US$ 23,64/arroba, referência oferecida pelo Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&F.

O novo modelo de contrato prevendo a liquidação financeira impulsionou os negócios futuros de boi gordo na Bolsa. Em 1994, haviam sido negociados pouco mais de 5,6 mil contratos de boi gordo na BM&F; no ano seguinte, foram quase 39 mil.

A partir de 1996, os contratos futuros passaram a ter vencimento em todos os meses do ano. A estabilização monetária nacional, obtida com o Plano Real, a abertura comercial e a redução da intervenção do governo na economia alavancaram as negociações de futuros de boi gordo. Assim, o número de contratos negociados já se situava acima de 100 mil em 1996, atingindo patamar superior a 150 mil contratos no ano 2000.

No dia 26 de setembro de 2000, a Bolsa realiza um novo – e muito importante – ajuste no contrato futuro de boi gordo: a cotação da arroba deixa de ser em dólar norte-americano e passa a ser em Reais por arroba. A estabilidade do Real foi o principal motivo para essa alteração.

A cotação do contrato futuro do boi gordo em dólar deixava os operadores do mercado futuro (pecuaristas, intermediários, frigoríficos e outros) suscetíveis à variação cambial. Além disso, a formação do preço do boi gordo tem como fundamentos fatores domésticos, sendo influenciada sobretudo pela oferta e pela demanda. Essa mudança, portanto, permitiu melhor visibilidade aos agentes ativos na Bolsa. O primeiro contrato a ser negociado em Reais foi o de vencimento em Março/2001.

Consolidação e maturidade

O mercado futuro de boi gordo com liquidação financeira se mostrou muito dinâmico entre 2004 e 2014, período de expressivo crescimento no número de contratos. Pode-se dizer que o mercado futuro de boi gordo se consolida nesta década.

Em 2004, foram negociados 225,2 mil contratos futuros de boi gordo, subindo para a casa dos 300 mil nos anos seguintes. Em 2007, já eram mais de 934 mil contratos, atingindo o recorde de 1,6 milhão em 2008.

Entre 2014 e 2018, observa-se certo declínio e, posteriormente, retomada e estabilização no número de contratos em aberto de boi gordo, com alta no último período, devido ao crescimento do mercado pecuário brasileiro. Por outro lado, em termos financeiros, houve expressiva evolução.

Em 2021, os contratos futuros do boi gordo movimentaram mais de R$ 65,133 bilhões na Bolsa (com opções de compra e venda), sendo 57% acima do ano anterior e o maior da

década.

Importante destacar que, em outubro de 2021, o Indicador Cepea/B3 recebeu o relatório de asseguração de adesão aos princípios da Iosco (“International Organization of Securities Commissions”). O recebimento desse selo atesta que os mais elevados padrões de qualidade e critérios de governança sugeridos pela Organização Internacional são implementados e seguidos pelo Cepea e pela B3 na elaboração e no cálculo do Indicador do boi gordo.

Em 2022, mais um crescimento, e o mercado futuro chegou a movimentar R$ 65,515 bilhões. Em 2023, atingiram 781.145 mil contratos, o maior volume desde 2014, mostrando novamente o aumento do uso da ferramenta. Em valor, 2023 atingiu R$ 69,727 bilhões.

Ao completar três décadas, o Indicador se apresenta com novidades. Em breve, será anunciada uma alteração na forma de cálculo do Indicador e disponibilizado um novo aplicativo para informe de negociações. Com os parceiros certos, o Cepea honra sua raiz Esalq/Universidade de São Paulo e se mantém ano após ano com fonte confiável e imparcial, a serviço da sociedade.

Fonte: Por Alessandra da Paz, gestora da Equipe de Comunicação do Cepea
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Apesar de cinco meses de aumento, preço ao produtor de leite segue abaixo de 2023

Com alta acumulada de 12,9% no primeiro trimestre de 2024, valor ainda está 20,3% abaixo do verificado no mesmo período do ano passado, em termos reais.

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Foto: Ari Dias/AEN

O preço médio do leite captado em março foi de R$ 2,3290/litro na “Média Brasil” do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, 4,1% maior que o do mês anterior, mas 20,3% abaixo do verificado no mesmo período do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de março). Com esse resultado, o preço ao produtor acumula alta real de 12,9% neste primeiro trimestre. Porém, a média dos três primeiros meses deste ano está 21,7% inferior à igual intervalo de 2023.

Esta é a quinta alta mensal consecutiva no preço do leite pago ao produtor, e esse movimento é explicado pela redução da oferta no campo. A limitação da produção, por sua vez, ocorre devido ao clima adverso (seca e calor) e à retração das margens dos pecuaristas no último trimestre do ano passado, que reduziram os investimentos dentro da porteira.

O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea seguiu em queda – o recuo foi de 2,5% de fevereiro para março. No acumulado do primeiro trimestre, a captação diminuiu 7,5%. Esse contexto reforça a disputa entre laticínios e cooperativas por fornecedores para garantir o abastecimento de matéria-prima.

A valorização do leite cru, contudo, não foi repassada na mesma intensidade para o preço dos derivados lácteos. Segundo pesquisas do Cepea, as cotações do leite UHT e do queijo muçarela no atacado do estado de São Paulo subiram 3,9% e 0,3% em março, respectivamente. Agentes de mercado relatam consumo ainda sensível na ponta final da cadeia, de modo que os canais de distribuição pressionam a indústria por valores mais baixos.

Ainda assim, a média dos lácteos no primeiro trimestre de 2024 frente ao mesmo período do ano passado registra queda menor que a verificada para o preço pago ao produtor. De janeiro a março, a baixa real nos valores do UHT e também da muçarela foi de 10,4%.

Ao mesmo tempo, as importações continuam sendo pauta importante para agentes do mercado. Embora as compras externas de lácteos estejam em queda, o volume internalizado neste ano ainda supera o do ano passado. Dados da Secex apontam que, em março, as importações caíram 3,3% frente a fevereiro. Porém, essa quantidade ainda é 14,4% maior que a do mesmo período do ano passado. Considerando-se o primeiro trimestre do ano, as aquisições somaram quase 577,5 milhões de litros em equivalente leite, 10,4% acima do registrado nos três primeiros meses de 2023.

Nesse contexto, a expectativa de agentes de mercado é que o ritmo de valorização do leite ao produtor perca força em abril.

Gráfico 1 – Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2024). Fonte: Cepea-Esalq/USP.

 

 

Fonte: Assessoria Cepea
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CBNA – Cong. Tec.

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