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Pecuária brasileira remove mais carbono do que emite

Os pesquisadores identificaram duas toneladas de carbono removidas para cada tonelada emitida, já transformadas em equivalentes gás carbônico (CO2), mesmo quando conduzida em pastagens extensivas.

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Foto: Everton Queiroz

Pesquisas conduzidas na Embrapa Pecuária Sudeste vêm quantificando o total de carbono removido pelos diferentes sistemas de produção. Quando as remoções são consideradas, o balanço entre o que a pecuária retira da atmosfera e o que emite passa a ser positivo. Os pesquisadores identificaram duas toneladas de carbono removidas para cada tonelada emitida, já transformadas em equivalentes gás carbônico (CO2), mesmo quando conduzida em pastagens extensivas. O desempenho continua sendo positivo em sistemas mais intensivos e isso confirma o que profissionais das ciências agrárias já projetavam a partir do conhecimento sobre fertilidade do solo, correções e adubações, morfologia das plantas forrageiras e dinâmicas dos bovinos em pastejo. Sistemas integrados com lavouras e/ou florestas são ainda mais eficientes na remoção de carbono.

Maurício Palma Nogueira – Foto: Arquivo Pessoal

Embora pareça óbvio aos profissionais das ciências agrárias, a sociedade foi muito mal informada durante os últimos 15 anos, no mínimo. O assunto foi sempre tratado de forma parcial, sensacionalista, sem dar a devida atenção a conhecimentos já existentes.

Os debates sobre balanço de carbono não envolveram pesquisadores relacionados à estrutura e fertilidade do solo, formação de húmus, manejo de pastagens, eficiência de colheita do capim, entre outras particularidades do sistema solo-planta-animal-atmosfera.

Por essa razão o assunto ficou focado apenas em questões relacionadas com as emissões de metano pelos animais, praticamente deixando de fora toda a importância da remoção. As emissões foram muito divulgadas pela máquina de comunicação das ONGs, especializadas no tema.

Para dimensionar o acúmulo de carbono no solo, no entanto, demanda-se um esforço muito maior, que envolve a compreensão de detalhes técnicos complexos, difíceis de explicar para quem não é familiarizado. E, ainda assim, há uma diversidade de fatores que não permitem chegar a um número final, definitivo, sobre quanto de carbono é acumulado ou removido da atmosfera. Esse número dependerá do clima, bioma, tipo e composição de solo, sistema de produção, entre outros fatores.

Mesmo diante dessa complexidade e da ciência de que o assunto estava em estudo, por muito tempo as remoções não foram sequer mencionadas, o que tornou as emissões praticamente sinônimos de balanço.

O passivo (emissões) foi integralmente aceito, enquanto o ativo (remoções ou sequestro) precisava ser provado. Sob a luz da ciência, o resultado não poderia ser chamado de balanço sem que as variáveis fossem integralmente consideradas.

É fundamental entender que o objetivo dessa discussão deve ser o de apresentar soluções que estimulem práticas mais eficientes. O tema não pode ficar restrito a um eterno cabo de guerra entre corporativismo em defesa da pecuária ou sensacionalismo em busca de holofotes e doações de recursos para supostamente salvar o planeta.

Entre os anos de 1990 e 2022, o rendimento médio de cada hectare em produção no Brasil melhorou 265%, saltando de 1,37 tonelada por hectare para 5,02 toneladas por hectare de produtos gerados pela produção agropecuária. O cálculo envolve todos os produtos de origem vegetal e animal obtidos a partir das atividades agropecuárias. Em três décadas, a produção brasileira aumentou 250% em uma área 4% menor. Os dados são consolidados pela Athenagro a partir de informações da Conab, IBGE, Inpe e Embrapa (Companhia Nacional de Abastecimento, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, respectivamente). Tal desempenho é fruto direto das soluções tecnológicas geradas pela ciência e implementadas no campo.

Esse sim é um desafio superado com sucesso, movimentando a economia e gerando alimentos para a sociedade. Resolver o problema ambiental restringindo o acesso da população aos alimentos não faz sentido algum.

A relação entre produtividade e a quantidade de carbono retida no solo é diretamente proporcional, conhecimento básico nas disciplinas de ciências agrárias.

O assunto tratado com sensacionalismo também gera receio entre os profissionais do campo. A desinformação diante do tema acaba ofuscando uma das maiores verdades em relação ao assunto.

Seja pela economia de área que poderia ter sido desmatada, seja pela melhoria no balanço de carbono, os produtores rurais brasileiros são os maiores responsáveis por implementar práticas amigáveis às demandas ambientais.

E os pecuaristas não ficam para trás. A produtividade da pecuária aumentou 190% a partir de 1990. Caso a produtividade não houvesse aumentado, os brasileiros precisariam de uma área de 447 milhões de hectares para produzir a mesma quantidade de carne bovina produzida em 2022, conforme projeção da Athenagro.

O receio gerado com a desinformação difundida pelo extremismo ambiental dá margens para que outro grupo atue, dificultando ainda mais que soluções práticas sejam implementadas.

Críticos ferrenhos do ambientalismo radical também pecam por desconhecer questões básicas de ordem agronômica e zootécnica. Dessa forma acabam também adotando uma postura radical contrária às sugestões técnicas que vêm sendo apresentadas para melhorar o balanço de carbono.
Desde que conduzido tecnicamente, com base no conhecimento científico consolidado, a redução nas emissões de carbono implicarão também em aumento nos resultados financeiros. Esse acréscimo explica-se pelo combate ao desperdício e aumento da produtividade.

Estratégias de redução de emissões pela pecuária envolvem, necessariamente, aumento no desempenho dos animais em produção. Redução da idade ao primeiro parto, redução do período de terminação, aumento do ganho de peso médio, redução da mortalidade, aumento da taxa de natalidade, etc. farão parte das ações que contribuirão com as reduções de emissões por unidade produzida na pecuária.

O mesmo raciocínio ocorre com as estratégias de aumento das remoções de carbono (sequestro de carbono). As remoções ocorrerão à medida que o solo acumular maiores quantidades de carbono em seu perfil. Para que isso ocorra, o sistema de produção precisará ser conduzido de tal forma que as sobras de plantas não exportadas (retiradas da área) sejam incorporadas de forma eficiente ao solo. As sobras incluem tanto a parte aérea da planta como as suas raízes. Incluem as plantas de soja, milho, algodão e outros produtos não retirados da área no momento da colheita, assim como o restante não aproveitado das plantas colhidas por inteiro, como é o caso das pastagens e da cana-de-açúcar, por exemplo.

Administrar esse processo em ambiente tropical é um desafio que vem sendo superado com muito êxito pelo agronegócio. São conquistas possibilitadas pelo conhecimento de manejo de solo.

Há décadas, muito antes do assunto carbono (que inclui metano) ganhar importância no debate global, alunos de ciências agronômicas estão aprendendo que não se deve queimar o resto das plantas para limpeza das áreas de produção. Exceção aos casos que envolvem prevenção a doenças, específicos em algumas culturas.

Aprendem também que manejar a relação entre carbono e nitrogênio possibilitará ganhos em produtividade ao longo dos anos. Lentamente, as práticas tradicionais de aração e gradagem da área foram substituídas pelo plantio direto e pelo cultivo mínimo. O plantio direto, raro no início dos anos 1990, já ocupa cerca de 40 milhões de hectares em todo o território nacional.

O mesmo ocorre com os sistemas de integração entre pastagens e lavouras (ou florestas). A área conduzida em sistemas integrados, no Brasil, se aproxima de 15 milhões de hectares. Sistemas mais intensivos de produção de pastagens também possibilitam aumento da quantidade de plantas remanescentes (parte aérea e raízes) na área. Por mais eficiente que sejam ao pastejar, os bovinos tendem a retirar apenas cerca de 40% a 50% da matéria seca produzida nas pastagens. Considerando a composição entre raízes e parte aérea nas forrageiras tropicais (pastagens usadas no Brasil), é possível concluir que os bovinos consumirão apenas entre 20% e 30% do total da produção vegetal necessária para mantê-los.

Ao contrário do que geralmente é pregado por especialistas em carbono, porém leigos em conceitos de fertilidade do solo, a capacidade de estocagem no solo pode aumentar ao longo do tempo. Essa, inclusive, é uma das grandes metas agronômicas conduzidas nas fazendas brasileiras: aumentar a capacidade produtiva do solo, o que pode ser comprovado pela elevação da produtividade do país.

Especificamente no caso de pastagens, sistemas mais intensivos de produção ainda possibilitarão outros ganhos em melhoria de balanço de carbono. Operações mecanizadas de correção, adubação e aplicação de defensivos nos pastos demandarão menos combustíveis por hectare do que operações de aração, gradagem e roçada das áreas. A quantidade de diesel, pela mesma quantidade produzida, será inferior.

Enfim, o fomento de estratégias que reduzam as emissões não é novidade na produção brasileira. Pesquisas e profissionais do campo estão nessa luta há décadas. A única novidade é a abordagem diferente, buscando compreender o ciclo de carbono. Mas as ações são as mesmas.

O mesmo vale para o investimento em moléculas que reduzam as emissões de metano pelo bovino. Enganam-se aqueles que acreditam que tais produtos servirão apenas para reduzir as emissões totais dos bovinos. Sem possibilitar aumento da eficiência produtiva e ganho financeiro no processo, essas moléculas não serão incorporadas pelas empresas de nutrição e, muitos menos, pelos produtores.

Por essa razão julgamos de suma importância que o tema seja tratado de forma mais transparente, com linguagem adaptada e, principalmente, com o envolvimento de pesquisadores e profissionais que conhecem o tema relacionado ao solo e construção da fertilidade do sistema.

Uma abordagem mais prática permitirá uma aceleração no ritmo de ações que implicam em mitigação da quantidade de carbono na atmosfera.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor pecuário acesse gratuitamente a edição digital de Bovinos, Grãos e Máquinas. Boa leitura!

Fonte: Por Maurício Palma Nogueira, engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária

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Aliança Láctea Sul Brasileira avança nas ações de promoção do desenvolvimento da cadeia produtiva do leite

Evento reuniu um grupo de especialistas do setor lácteo, representantes das Secretarias de Agricultura dos três estados do Sul, dos Sindicatos das Indústrias de Laticínios e das Federações de Agricultura dos três estados do Sul.

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Objetivo foi atualizar sobre o cenário atual da Aliança Láctea Sul-Brasileira e relatar as ações de cada estado do Sul

Atualizar sobre o cenário atual da Aliança Láctea Sul-Brasileira (ALSB), relatar as ações de cada estado, principalmente sobre a entrada de leite em pó importado do Mercosul e conhecer o diagnóstico do leite no Paraná, feito pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) foram as pautas da reunião ordinária da ALSB promovida nesta quinta-feira (2), na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).

Encontro teve como anfitrião o presidente do Sistema Faesc/Senar e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Zeferino Pedrozo – Fotos: Silvania Cuochinski/MB Comunicação

O encontro teve como anfitrião o presidente do Sistema Faesc/Senar e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Zeferino Pedrozo, e reuniu um grupo de especialistas do setor lácteo, representantes das Secretarias de Agricultura dos três estados do Sul, dos Sindicatos das Indústrias de Laticínios e das Federações de Agricultura dos três estados.

A programação foi conduzida pelo coordenador geral da Aliança Láctea, Rodrigo Ramos Rizo, e contou com a participação do presidente do secretário de Agricultura e Pecuária de Santa Catarina, Valdir Colatto, do secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio Grande do Sul, Giovani Feltes, do secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Anacleto Ortigara, do presidente Sistema Farsul, Gedeão Silveira Pereira, do representante do Sistema Faep e presidente da Comissão Nacional de Pecuária do Leite da CNA, Ronei Volpi, do presidente do Sindileite Paraná, Éder Quinto Salvadori Deconsi, do presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins, entre outras lideranças.

Após um momento de solidariedade com a grave situação do Rio Grande do Sul, o presidente Pedrozo agradeceu aos representantes da Aliança Láctea pela participação no evento, comentou sobre a importância do Programa Leite Bom, recém-criado pelo Governo do Estado de Santa Catarina, falou sobre a longa trajetória para conquistar o valioso status sanitário catarinense e realçou o êxito do trabalho da ALSB para cumprir o propósito de atuar de forma conjunta para solucionar os problemas comuns enfrentados pelo setor. Também frisou o quanto o Plano de Desenvolvimento da Competitividade Global do Leite Sul-Brasileiro (PDCGL) é essencial para propor ações que contribuem para um ambiente favorável aos investimentos na ampliação da produção. “Com cooperação será possível aumentar nossa competitividade no mercado global e criar oportunidades para potencializar o setor”.

Rodrigo Ramos Rizo agradeceu a receptividade da Faesc e salientou que a reunião foi fundamental para vencer mais alguns pontos importantes do setor. “O encontro teve um início muito emocional em função do quadro que o Rio Grande do Sul está vivendo neste momento pelas chuvas e enchentes, mas avançamos nas questões que a Aliança Láctea tem se proposto, ou seja, nos dez itens que representam a nossa bíblia no sentido de fortalecermos as exportações e trabalharmos cada vez mais as nossas indústrias para que estejam adequadas ao mercado internacional. Sabemos que os produtores não exportam, ou seja, quem exporta é a indústria, mas somos todos elos de uma cadeia só. Acredito que é possível avançarmos. Também estão de parabéns os representantes do Paraná que elaboraram todo esse trabalho de levantamento de diagnóstico muito bem feito. Além disso, a presença dos secretários de agricultura conosco abrilhantou a reunião trazendo toda a sua bagagem, conhecimento e as ações que cada estado tem feito no sentido de barrar a entrada de leite em pó do Mercosul”.

Leite Bom SC

Valdir Colatto enfatizou as iniciativas desenvolvidas pelo Governo do Estado para fortalecer a cadeia produtiva do leite e, entre as medidas, citou o Leite Bom SC – programa que beneficia direta ou indiretamente os 22,2 mil produtores catarinenses. O pacote garante R$ 300 milhões em apoio ao setor nos próximos três anos. Paralelamente aos investimentos, decreto do governador Jorginho Mello suspende a concessão de qualquer incentivo fiscal para a importação de leite e derivados por Santa Catarina, acabando com a concorrência desleal que vinha prejudicando a produção leiteira catarinense. O pacote se divide em três ações: o decreto, os financiamentos aos produtores e os incentivos fiscais para a indústria leiteira. “Santa Catarina hoje está produzindo hoje cerca de 3,2 bilhões de litros de leite, o que corresponde a 9,3% da produção do Brasil. É um setor importante que precisamos valorizar e proteger para que nossos agricultores possam superar esses momentos difíceis de custo de produção e outros prejuízos”, assinalou Colatto.

Norberto Anacleto Ortigara frisou a importância do encontro para evoluir nas questões que envolvem a cadeia produtiva do leite e ressaltou que Paraná também tem dado passos importantes no sentido de continuar construindo uma política adequada aos interesses brasileiros, especialmente, do Sul do Brasil. Giovani Feltes destacou ações que o Rio Grande do Sul já vem colocando em prática para minimizar os efeitos da importação de leite, principalmente do Mercosul. “Nosso estado já vem há algum tempo tentando proteger, de acordo com suas possibilidades, a cadeia produtiva leiteira”, afirmou.

A Aliança Láctea foi constituída como o fórum público-privado para desenvolver e fomentar a implementação de um plano para harmonizar o ambiente produtivo, industrial e comercial dos três estados. Confira os 10 objetivos do Plano de Desenvolvimento da Competitividade Global do Leite Sul-Brasileiro.

  • Produzir leite com alta qualidade, a custo baixo e com organização logística eficiente para ser competitivo no mercado global em relação aos principais exportadores mundiais.
  • Melhorar a eficiência e o desempenho agronômico e zootécnico da produção de leite na região Sul do Brasil, adequando a produção aos princípios da sustentabilidade, ESG e bem-estar animal.
  • Aumentar a escala de produção e reduzir os custos médios por litro de leite produzido e transportado.
  • Melhorar a qualidade e o rendimento industrial do leite, com aumento do percentual de gordura e proteína na sua composição e pagamento por sólidos totais.
  • Melhorar a logística e a infraestrutura nas regiões produtoras de leite com investimentos em estradas, energia trifásica e Internet.
  • Melhorar a organização e governança da cadeia produtiva do leite com estratégias setoriais pré-competitivas, eliminação de assimetrias tributárias, intercooperação visando eficiência na logística e investimentos em marketing e informação geral para aumento consciente do consumo de lácteos.
  • Promover a fidelização do relacionamento comercial entre produtores de leite e indústrias de laticínios por meio de parcerias duradouras.
  • Conquistar e manter a excelência sanitária e biossegurança dos rebanhos com robustos serviços públicos e privados de defesa agropecuária e sanidade.
  • Adequar e harmonizar o serviço de inspeção de produtos de origem animal.
  • Criar mecanismos para estimular indústrias a instalar ou adequar plantas voltadas à exportação de lácteos.

Fonte: Assessoria Aliança Láctea Sul Brasileira
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Veto à carne nas Olimpíadas: punição ou preservação?

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada

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Letícia Moreira - Nutricionista - Foto e texto: Assessoria

*Por Letícia Moreira

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 se aproximam e uma notícia recente tem gerado polêmica no mundo esportivo: a decisão do comitê organizador de reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Segundo o Comitê, o objetivo é limitar as emissões de CO2 decorrentes das refeições, diminuindo pela metade a pegada de carbono em comparação a edições anteriores.

No entanto, essa abordagem é uma medida nutricionalmente desequilibrada e prejudicial aos atletas, que precisam de um aporte nutricional adequado para o alto desempenho.

Diante desse cenário, é importante analisar a evolução histórica da alimentação de atletas e o papel da carne em suas dietas, bem como as perspectivas atuais sobre o tema.

Desde a antiguidade, a alimentação dos atletas tem sido motivo de debate e controvérsia. De acordo com o relato do historiador Philostratos, no início, os atletas confiavam em seus treinadores para garantir que suas necessidades nutricionais fossem atendidas. No entanto, com o tempo, os médicos assumiram o controle e os primeiros especialistas em medicina esportiva começaram a surgir.

Nesse contexto, dois importantes médicos da época, Celsus e Galeno, consideravam o consumo de proteína animal a forma mais nutritiva de nutrição para os atletas. Ambos concordavam que a carne era um alimento “forte” e nutritivo, essencial para os atletas. Galeno chegou a afirmar que a carne era o alimento mais nutritivo de todos, sendo visível nos próprios atletas o impacto positivo dessa proteína.

Outras fontes proteicas, como aves e peixes, também eram consideradas importantes.

Essa visão histórica sobre a relevância da carne na dieta de atletas encontra eco nos dias de hoje. Um exemplo notável é o caso do atleta brasileiro Alessandro Medeiros, que se tornou conhecido mundialmente por alcançar grandes feitos esportivos seguindo uma dieta exclusivamente carnívora, ou seja, à base de carne.

Medeiros, com mais de 30 anos de dedicação ao esporte, desenvolveu habilidades físicas e mentais excepcionais, conquistando colocações de destaque em ultramaratonas e eventos de resistência, como o Mundial de Ultraman na ilha de Kona no Hawaii. Sua história mostra o impacto positivo que uma alimentação adequada, focada em proteínas e gorduras animais, pode ter no desempenho atlético.

Além da questão nutricional, explicada acima, neste ano, por meio de uma parceria de trabalho estabelecida com a Connan, empresa de nutrição animal, tive a oportunidade de me aproximar e informar sobre o processo de produção da carne no Brasil, acompanhando mais de perto os movimentos da pecuária.

Esta proximidade me fez conhecer um lado da atividade que é pouco difundida entre a população em geral: os investimentos em tecnologia na produção de animais. Hoje, existem empresas e entidades focadas no desenvolvimento de soluções que garantam a qualidade do produto final, a carne, mas que também ofereçam aos bovinos melhor qualidade de vida e menor emissão de gases, com uma alimentação mais balanceada e proteica.

Além disso, técnicas de manejo que proporcionem a recuperação de pastagens degradadas, adubação qualificada, manejo do pastejo, estratégias de suplementação e dietas adequadas em confinamento são alguns métodos que têm mostrado efeito positivo na mitigação da emissão de gases de efeito estufa da pecuária.

Já há trabalhos que mostram situações em que o carbono sequestrado no solo sob pastagem contribui para um balanço positivo de carbono numa fazenda de produção pecuária, isto é, em que há mais carbono fixado do que emitido.

Não há como negar que a pecuária tem sim uma parcela importante no cenário da emissão de gases de efeito estufa, mas antes de condenar uma atividade de extrema importância para a segurança alimentar mundial, é fato que as autoridades francesas deveriam olhar para outros setores, como os de energia e de transportes, por exemplo, que também são grandes emissores e que crescem ano a ano.

Para um impacto de relevância no cenário da preservação do meio ambiente, entendo que as medidas deveriam levar em conta o todo. De acordo com relatório da organização não governamental Carbon Market Watch (CMW), a organização das Olimpíadas de Paris-2024 só apresentou estratégia robusta de cobertura para 31% de suas emissões de gases de efeito estufa. Os outros 69% não são detalhados suficientemente.

No campo dos transportes, item de maior peso nas estimativas de emissões, a CMW considera satisfatório o plano do comitê para o transporte em Paris, já que mais de 80% das instalações esportivas ficarão a um raio de 10km da Vila Olímpica. Porém, os organizadores não apresentaram algo completo, segundo a ONG, para o transporte de espectadores, atletas e jornalistas para a França.

Diante das evidências históricas e dos casos atuais, é questionável a decisão dos organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris em reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Essa abordagem, além de ser nutricionalmente desequilibrada, ignora o importante papel da pecuária no fornecimento de alimento para o mundo e pode comprometer o desempenho e a saúde dos atletas.

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada. Afinal, a dieta ideal para os atletas olímpicos deve priorizar um ótimo aporte nutricional e o atendimento de suas necessidades específicas, e não apenas uma preocupação ambiental que pode se sobrepor aos interesses da saúde e do desempenho desses esportistas de alto nível.

 

 

Referência: Uma comparação entre as dietas esportivas da Grécia Antiga e da Roma Antiga com as práticas modernas (https://www.omicsonline.org/open-access/a-comparison-of-ancient-greek-and-roman-sports-diets-with-modern-day-practices-2473-6449-1000104.php?aid=69865)

* Nutricionista formada há 18 anos pela Faculdade de Medicina de Itajubá (MG), Letícia Moreira, é especialista em dietas Low Carb, Cetogênica e Carnívora, com foco em emagrecimento e esporte de Endurance. É cofundadora da PRIMAL ENDURANCE e Nutricionista do primeiro Ultraman carnívoro do mundo, Alessandro Medeiros.

Fonte: Assessoria
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Colibacilose em bezerros: importante tipo de diarreia

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível.

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Foto: Divulgação/JÁ Saúde Animal

A saúde intestinal dos bezerros é um aspecto importante na pecuária, afinal impacta diretamente o desenvolvimento e a produtividade desses animais. Dessa forma, a manutenção de um trato gastrointestinal saudável e funcional permite a digestão e a absorção adequadas dos nutrientes. Nesse contexto, entre os principais desafios da criação de bezerros, relacionado à saúde intestinal, está a diarreia, sendo responsável por uma série de prejuízos. O problema é caracterizado por uma grande perda de líquidos e eletrólitos corporais que vão ocasionar desidratação, perda de peso, com possibilidade de evoluir para choque hipovolêmico e morte do animal.

Vários fatores podem ter relação com a ocorrência da diarreia e os agentes etiológicos causadores podem ser diversos, incluindo as bactérias (Escherichia coli, Salmonella sp., Clostridium perfringens), os vírus (rotavírus e coronavírus), protozoários (Eimeria sp. e Cryptosporidium sp.) e as verminoses. Dentre esses, um dos principais no quesito mortalidade é a Escherichia coli, bactéria gram-negativa, que de forma geral é inofensiva. Contudo, quando tipos patogênicos infectam uma população susceptível ou quando há uma somatória de fatores (ambiente, manejo, imunidade) que estimula a proliferação bacteriana ocorre a chamada Colibacilose, termo atribuído a afecções provocadas por E. coli, que consequentemente podem ocasionar quadros de diarreia.

A Colibacilose pode acontecer de três maneiras: septicêmica, enterotoxêmica e entérica. A forma septicêmica se desenvolve quando a bactéria se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, afetando geralmente bezerros que não tiveram uma boa colostragem. Nesse caso, a apresentação da afecção é aguda, variando de 24 a 96 horas, com sinais clínicos como depressão, febre alta, anorexia e taquicardia. Outra forma é a enterotoxêmica, quando a bactéria se prolifera na parte média e posterior do intestino, havendo a liberação de toxina. Nesse caso, os animais apresentam prostração intensa e morrem de endotoxemia. Por fim, existe a forma entérica, conhecida como “curso branco”, caracterizada por sinais como diarreia pastosa abundante, de coloração esbranquiçada ou amarelada, podendo progredir para diarreia aquosa severa, desidratação, acidose metabólica e morte.

Geralmente a ocorrência da Colibacilose é mais frequente em animais mantidos em confinamentos ou muito próximos uns dos outros, além de bezerros com poucos dias de vida. Outros fatores epidemiológicos que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro diarreico são: períodos chuvosos, sistemas de produção inadequados (manejo sanitário, instalações e nutrição ineficazes) e outras enfermidades como as endoparasitoses. A taxa de mortalidade pode variar de 10 a 50% para bovinos de leite criados em sistemas intensivos e de 5 a 15% para bovinos de corte. É importante salientar que ela pode chegar a 60% em propriedades com problemas de manejo.

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível. Além disso, é importante realizar a vacinação de fêmeas no pré-parto especialmente por conta da passagem de anticorpos da mãe imunizada para o bezerro, conferindo proteção durante os três primeiros meses de vida.

Para o tratamento recomenda-se a administração de antimicrobianos, sendo a Enrofloxacina um dos mais indicados, além do uso de anti-inflamatórios não esteroidais para o controle da febre, alívio da cólica e para proporcionar conforto ao animal. É importante que seja feita a reposição dos fluidos e eletrólitos pela via oral (em casos iniciais) ou pela via parenteral, pois a desidratação pode levar os bezerros à morte de forma muito rápida.

As referências bibliográficas desse texto podem ser solicitadas à autora pelo e-mail: juliana.melo@jasaudeanimal.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Juliana Melo, médica-veterinária e jornalista na JA Saúde Animal
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