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Suínos / Peixes

Oito passos para não errar o diagnóstico da sua granja

Profissional diz que no dia a dia da granja os profissionais se deparam com resultados laboratoriais e muitas vezes possuem dúvidas de como utilizar essa importante e útil ferramenta.

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Fotos: Shutterstock

Ter uma gestão sanitária eficiente na granja é primordial para a excelência na produtividade. Quem defende essa ideia é a médica-veterinária e PhD em Ciência Animal, Amanda Gabrielle de Souza, coordenadora técnica Suínos da MSD Saúde Animal. Nesta matéria, ela aborda de forma prática a importância dos laudos e apresentou oito passos para coletar os materiais e interpretar os dados de forma eficiente. Conforme Amanda, no dia a dia da granja os profissionais se deparam com resultados laboratoriais e muitas vezes possuem dúvidas de como utilizar essa importante e útil ferramenta.

Ela enalteceu sobre a disparidade existente no Brasil em relação à disponibilidade de laboratórios que emitem laudos médicos para animais, observando que essa situação tem mostrado progressos ao longo dos anos. “Enquanto alguns estados desfrutam de uma assessoria robusta nessa área, outros carecem desse suporte”, reflete, acrescentando que na atualidade existem diversas técnicas à disposição e que elas são muito importantes para que um produtor ou veterinário consiga finalizar um laudo médico. “Tem muita tecnologia disponível, mas é preciso saber analisar”, reforça.

Médica-veterinária e PHD em Ciência Animal, Amanda Gabrielle de Souza – Foto: Divulgação/PorkMeet Rio Verde

De acordo com ela, a suinocultura moderna tem caminhado para um grande progresso de intensificação da produção, o que acarreta em alta densidade de animais na granja e a rápida transmissão de patógenos. “Atualmente os suínos são criados em um ambiente com certo estresse, por isso precisamos trabalhar de alguma forma para minimizar as problemáticas que surgem, como a alta taxa de transmissão de doenças”, sustenta.

Eficácia do bom diagnóstico

É neste contexto que a especialista enaltece a importância de fazer um diagnóstico preciso, que pode servir como uma ferramenta excelente para auxiliar na gestão sanitária da granja. Ela acrescenta a necessidade de uma conversa constante entre aqueles que atuam nos laboratórios e aqueles que trabalham diretamente no campo. “O campo e o laboratório precisam estar bem alinhados para que a resposta do exame tenha validade e seja útil”, sugere.

Amanda enfatiza que o diagnóstico representa uma ferramenta valiosa para a gestão eficiente da saúde na granja, permitindo o controle estratégico de várias doenças, já que por meio da realização de um antibiograma é possível selecionar cuidadosamente os tratamentos que contribuirão para o controle das enfermidades, empregando de maneira adequada as ferramentas disponíveis para combater as doenças. “Isso também permite o uso prudente de antimicrobianos, conforme estipulado pelas normativas vigentes, o que demanda uma reflexão mais aprofundada sobre essa questão. Nosso trabalho é melhorar os índices zootécnicos e a saúde dos animais”.

Por onde começar?

A profissional destaca que o primeiro passo para um bom diagnóstico é ter bem definido o objetivo. “Eu preciso saber o que quero buscar”, pontua. Ela acrescenta que o segundo passo é ter conhecimento a respeito das doenças que podem afetar os animais. “Quer sejam respiratórias, entéricas, sistêmicas. É importante saber que as doenças mais comuns na suinocultura também atingem os animais por fase. É fundamental conhecer isso, porque facilita e auxilia muito no entendimento de qual ferramenta buscar”, orienta.

Em terceiro lugar, a profissional pontua que é extremamente necessário ter conhecimento sobre quais são as ferramentas que estão disponíveis para a obtenção do diagnóstico e em quarto lugar, e muito importante, está a necessidade de saber interpretar os resultados. “A interpretação é uma atividade muito complexa e que precisa ser bem trabalhada”, expõe.
A profissional salientou que muitos produtores e técnicos não utilizam os laudos para a tomada de decisão. “Isso me deixa muito frustrada, pois eles não estão valendo-se de ferramentas que podem ser essenciais na superação de enfermidades”, lamenta.

8 PASSOS

De forma prática, a PhD em Ciência Animal explicou que existem 8 passos para fazer um diagnóstico correto a campo. O primeiro é a avaliação clínica do rebanho, seguido pela avaliação dos fatores de risco para ocorrência. “Para isso, ter conhecimento sobre o histórico da granja é fundamental”, informa. Em terceiro vem a seleção correta dos animais para necropsia. “Não adianta selecionar animais de forma aleatória, pois aí eu não vou conseguir chegar no resultado que eu desejo.

Também precisa ter cuidado para não pegar o laudo de um animal e achar que é preciso mudar o manejo de toda a granja. Para que seja efetivo, é necessário ter uma visão de rebanho”, explica. O quarto passo é a prática de necropsia com coleta de amostras. “Nesta etapa, é preciso respeitar todos os protocolos para que a coleta seja feita com excelência. Saber coletar o material de forma asséptica é fundamental”, recomenda.

O quinto passo é o envio das amostras ao laboratório. “A atenção ao resfriamento e ao envio para o laboratório no tempo correto, bem como um bom armazenamento, é extremamente importante”, enfatiza. Solicitar os exames corretos é o próximo passo. “Eu preciso ter um objetivo e preciso saber o que devo procurar para então solicitar os exames que me ajudarão a pontuar e resolver meu problema”, reforça.

Em sétimo está a interpretação dos resultados. “Este é um momento crucial. Quando eu vou interpretar os resultados é necessário que eu esteja munido com todas as informações necessárias, como o laudo, histórico clínico, produção e fatores de risco. Desta forma, eu consigo ter uma visão de qual é o meu problema e o que eu posso fazer para superá-lo”, afirma. O oitavo passo é o plano de ação. “Por último, o diagnóstico precisa me ajudar a elaborar, executar, monitorar, discutir os resultados e adequações necessárias para que eu consiga uma transformação positiva na granja”, defende.

“Precisamos interagir as informações que temos, o que nos diz a clínica, a lesão e o tipo de patógeno, pois essas combinação é a chave que a gente precisa buscar para fechar um diagnóstico”, acrescenta.

Surtos, monitorias e necropsias

De acordo com Amanda, quando o assunto é fechar um diagnóstico para um caso de surto é necessário que sejam feitos testes diretos, já que é primordial encontrar o causador dos problemas. Já nos casos de monitoria, ela defende que o melhor é utilizar testes indiretos, como a sorologia. “Preciso ter cuidado e coletar de várias faixas etárias para eu ter um perfil do quadro de infecção daquele agente”, recomenda.

Com relação à necropsia, a médica-veterinária defende que não existe uma técnica perfeita para fazer este procedimento. Ela alega que existem inúmeras possibilidades. “A necropsia deve ser feita de forma sistemática, completa e ordenada, sendo que a coleta precisa ser de forma asséptica. Esse é o ponto e é isso que vai fazer a diferença, independentemente da forma que vou analisar”, reforça.

Termômetro é item essencial na granja

Com respeito à avaliação clínica, Amanda diz que é necessário buscar sempre os animais que apresentam sintomas de doenças na fase aguda, pois é nesta etapa que é possível isolar o animal, já que na fase crônica há mais chances de haver doenças secundárias e que podem atrapalhar o diagnóstico correto. “Para encontrar o suíno neste estágio é essencial que o termômetro seja item constante na granja”, defende.

Mais recomendações importantes

A especialista também alertou a respeito da importância de buscar uma forma de eutanásia que seja segura para quem está fazendo, que respeite o bem-estar animal e que seja seguida de uma sangria. “A sangria bem feita é extremamente útil para eu conseguir acompanhar melhor a lesões”, sugere. Outra recomendação oportuna é a de que cada exame laboratorial possui um protocolo e que o mesmo deve ser seguido para que seja eficiente a análise dos materiais. “Temos a microbiologia, biologia molecular, sorologia, patologia e muitos outros. É preciso ter visão crítica para cada um deles, pois existem técnicas que são muito acessíveis economicamente e eficazes”, orienta.

O que fazer quando receber o laudo?

Esta é a fase na qual é preciso ter competência para conseguir interpretar os resultados. “É essencial ter o histórico, entender os resultados dos exames e buscar uma gestão integrada, ou seja, que leve em conta os dados do rebanho e os exames laboratoriais, pois desta forma o resultado do diagnóstico será muito melhor do que segmentando os resultados”.

A profissional reforçou que a colaboração entre o sanitarista e o laboratório é fundamental para resolver problemas. “Apoio laboratorial é indispensável, não tenha vergonha. Se precisar, ligue e tire dúvidas com o laboratório. Melhor do que gastar R$ 2 mil em um laudo e deixar ele na gaveta. Essa interação entre o sanitarista e o laboratório é muito importante, já que essa união de forças pode ser muito útil para resolver problemas da granja”, sugere.

Por fim, a especialista enalteceu que a escolha adequada de exames e a coleta de amostras são elementos cruciais na área da patologia. “Amostras mal colhidas ou mal acondicionadas nunca levam ao diagnóstico correto. Além disso, a gestão de dados hoje é muito importante e eficaz, pois é preciso englobar os dados para trabalhar de forma mais consciente. Isso é o futuro da gestão sanitária na suinocultura”.

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Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

ACCS 65 anos: força e inovação na suinocultura catarinense

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Presidente Losivanio Luiz de Lorenzi: "Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses" - Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Fundada em 24 de julho de 1959, a ACCS surgiu em um momento determinante para a suinocultura em Santa Catarina. Na década de 1940, o Oeste Catarinense destacou-se na produção de suínos, impulsionado pela chegada de colonos do Rio Grande do Sul. Entre os pioneiros, Attílio Fontana, fundador da Sadia, viu o potencial da região e investiu na criação de suínos, transformando a produção local em um pilar econômico.

Inovação e melhoramento genético

Na virada da década de 1940 para 1950, a ACCS foi pioneira na introdução de práticas de melhoramento genético. Victor Fontana, sobrinho de Attílio, aplicou métodos racionais e técnicos de criação, resultando em ninhadas de leitões saudáveis e precoces. A Sadia distribuiu um fomento experimental, fornecendo matrizes e ração aos produtores que seguiram suas exigências de higiene e instalações, marcando o início de uma revolução na suinocultura.

Expansão e modernização

Nos anos 1960 e 1970, a ACCS ampliou suas atividades, implementando o registro genealógico dos suínos e promovendo a exposição de suínos que incentivavam a melhoria genética. Em 1976, sob a presidência de Paulo Tramontini, a ACCS liderou a criação da primeira central de inseminação artificial de suínos do Brasil, consolidando Santa Catarina como líder na produção de material genético de qualidade.

Evolução estrutural

A Central de Coleta e Difusão Genética da ACCS (CDG-ACCS), localizada na comunidade de Fragosos em Concórdia, representa um marco de inovação e excelência na suinocultura brasileira. Reinaugurada em 2016, a CDG-ACCS foi a primeira do Brasil a operar dentro dos padrões rigorosos de Bem-Estar Animal, incorporando as melhores genéticas do mercado e estabelecendo um alto padrão de sanidade e produtividade.

Com uma produção mensal de aproximadamente 19 mil doses de sêmen, a central não apenas impulsiona a qualidade genética dos rebanhos, mas também garante a sustentabilidade e a competitividade dos suinocultores catarinenses. O reconhecimento da CDG-ACCS como referência em produtividade e sanidade, destacado em reportagens especiais como a do Globo Rural, reforça seu papel na modernização e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina e no Brasil.

Parcerias e crescimento sustentável

Ao longo das décadas, a ACCS tem sido uma força importante na promoção e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina. Parcerias estratégicas com indústrias, cooperativas e entidades governamentais foram fundamentais para o crescimento do setor. A criação da Cooperativa Agroindustrial dos Suinocultores Catarinenses (Coasc) em 2014 exemplifica esse espírito cooperativo, ajudando produtores independentes a obter melhores condições na compra de insumos.

Desafios e superações

A ACCS não se limita a celebrar conquistas, mas também se destaca pelo seu papel de apoio em tempos de crise. A associação esteve presente em momentos de adversidade, mobilizando a classe e chamando a atenção para as necessidades e demandas dos suinocultores. Este espírito de luta e resiliência garante que os suinocultores continuem a desempenhar um papel vital na economia do país.

Uma voz ativa e presente

A ACCS se tornou uma referência, tanto para a imprensa quanto para os suinocultores. Com um site atualizado diariamente e participações ativas em comissões e eventos, a associação promove o diálogo entre produtores e especialistas, sempre inovações buscando e políticas públicas desenvolvidas ao setor.

Celebração e futuro promissor

Ao comemorar 65 anos, a ACCS reafirma seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade do setor. O presidente Losivanio Luiz de Lorenzi destaca a importância de continuar unidos, superando desafios e construir um futuro ainda mais promissor para a suinocultura catarinense. “Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses,” ressalta.

A trajetória da ACCS é um exemplo de dedicação e sucesso, refletindo a força e a inovação que definem a suinocultura em Santa Catarina. Comemoramos não apenas o passado, mas também as possibilidades ilimitadas do futuro. Parabéns a todos que fazem parte dessa história!

Fonte: Assessoria ACCS
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Suínos / Peixes

Preços do suíno vivo têm movimentos distintos no Brasil

Aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate. As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Os preços do suíno vivo e da carne vêm apresentando movimentos distintos dentre as regiões acompanhadas pelo Cepea.

Segundo pesquisadores deste Centro, os aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate.

Esse foi o caso dos mercados independentes do suíno vivo nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês, devido ao menor poder de compra da população, ainda conforme explicam pesquisadores do Cepea.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos / Peixes Nutrição

Especialista aponta desafios e alternativas para melhorar desempenho zootécnico dos suínos

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção.

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Foto: Shutterstock

A qualidade nutricional dos alimentos não só influencia o desempenho dos animais, mas também afeta diretamente sua capacidade de digestão e absorção de nutrientes, bem como a quantidade de resíduos gerados. Durante o 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado nesta semana no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, essa temática foi abordada pelo mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz.

O especialista vai participar do Painel Novos Desafios na produção de suínos – o que vem por aí?, em que vai tratar sobre “Onde estamos e para onde deveremos ir na área de Nutrição”. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o doutor em Nutrição enfatizou que quanto melhor compreendermos a qualidade dos ingredientes utilizados na formulação dos alimentos para suínos, mais eficiente será a produção dos animais e menores serão os impactos ambientais.

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção. Aborda temas como nutrição de precisão, ingredientes alternativos, redução do uso de antibióticos, nutrigenômica, considerações nutricionais por fase de crescimento, desafios ambientais, estratégias nutricionais para minimizar o estresse térmico e oportunidades para colaboração entre a indústria, academia e o poder público. Confira!

O Presente Rural – Quais são os avanços recentes na nutrição voltada à suinocultura e como essas inovações estão impactando a eficiência alimentar, o crescimento e a saúde dos suínos?

Mário Penz – Quanto mais conhecemos a qualidade dos ingredientes que são empregados na elaboração dos alimentos para os suínos, mais eficiente se torna a produção dos animais e menores são os efeitos poluidores, que podem ser causados pela indevida digestão dos nutrientes e pelo aumento dos dejetos produzidos. Por exemplo, vários nutricionistas calculam as necessidades energéticas dos animais com base nas energias líquidas dos ingredientes, enquanto outros ainda usam energia metabolizável ou, menos comum, energia digestível, ambas menos precisas que a expressão da energia, com base no conhecimento dos valores de energia líquida dos ingredientes.

O Presente Rural – Quais são os principais desafios que os nutricionistas enfrentam atualmente na formulação de dietas para suínos e como estão sendo abordados?

Mário Penz – Continua sendo o conhecimento da real composição dos ingredientes usados nas formulações das dietas para as diferentes fases de produção.

O Presente Rural – Como a nutrição de precisão está sendo aplicada na suinocultura e quais são os benefícios em termos de otimização dos recursos alimentares e redução dos custos de produção?

Mário Penz – Nutrição de precisão tem por objetivo, sempre um pouco paradoxal, oferecer aos animais nutrientes e energia líquida, de acordo com suas necessidades, nas diferentes fases de produção. Quando se lida com nutrição de populações, em diferentes fases de produção, o que se quer chegar é o mais perto do que os animais necessitam, desconsiderando várias diferenças que podem ocorrer por idade, sexo, linhagem, ambiente, propósito de produção, etc. Essa nutrição não obrigatoriamente é “de custo mínimo”.

O Presente Rural – Quais são as tendências emergentes na formulação de dietas para suínos, como a utilização de ingredientes alternativos e a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento?

Mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz: “Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença”. Foto: Divulgação

Mário Penz – Ingrediente alternativo é todo aquele que pode substituir os ingredientes convencionais das dietas, que no Brasil são milho e farelo de soja. Ingredientes como sorgo, milheto, farinhas de origem animal, entre outros, poderão ser empregados, desde que estejam disponíveis em quantidades relevantes, nem que seja por um período específico do ano. Além disso, é importante que se conheça a composição nutricional e energética desses ingredientes, para evitar que tenham seus valores sub ou superestimados. Levando isso em consideração, qualquer oportunidade tem que ser avaliada quanto ao seu custo e ao seu benefício, relacionados com aqueles que o milho e o farelo de soja podem trazer aos animais.

Quanto a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento, esse é um caminho sem volta. Para que não haja perda de desempenho dos animais, os profissionais deverão dar mais atenção aos princípios básicos de saúde animal (saúde intestinal) e menos na mitigação das ações microbianas deletérias. Nesse conjunto de ações, cuidado com a biosseguridade, do ambiente, das dietas empregadas, farão parte dessa nova necessidade de produção.

Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença. Saúde é um processo contínuo, que se mitiga todo o tempo. Doença, mesmo que seja só mitigada pelos promotores de crescimento, sugerem respostas mais rápidas, mas não obrigatoriamente com consistência. Mudar de doença para saúde é algo complexo e que requer mais conhecimento dos profissionais envolvidos na produção de suínos.

O Presente Rural – Como a nutrigenômica e outras tecnologias de ponta estão sendo exploradas para entender melhor as necessidades nutricionais específicas dos suínos e melhorar a saúde intestinal?

Mário Penz – Nutrigenômica é o conhecimento que permite a seleção específica de nutrientes que favorecem a melhor expressão gênica dos animais, permitindo, como consequência, melhor saúde e desempenho dos animais. Esse é outro caminho sem volta, especialmente quando se trata de produzir animais saudáveis e sem o uso de antibióticos. Mas, ainda todo esse conhecimento está pouco apreciado no dia a dia das produções. Entretanto, importantes informações acadêmicas estão disponíveis, que mostram que teremos que olhar o suíno não por fase, mas olhar os resultados finais, desde o início da produção dos reprodutores, que lhes dão origem.

O Presente Rural – Quais são as considerações nutricionais específicas para diferentes fases de crescimento dos suínos, desde a creche até a terminação, e como essas necessidades estão sendo atendidas?

Mário Penz – Lamentavelmente, essa pergunta é extremamente complexa, para que tenha uma resposta simples. Entretanto, tomando o risco da simplificação, os nutricionistas devem estar muito próximos dos técnicos das genéticas, para entender quais são as recomendações por eles oferecidas. Com o tempo, cada profissional vai adaptando seus referenciais, com base na sua experiência e nos resultados práticos de campo. Aqui não tem uma resposta única e a complexidade começa com a identificação que o nutricionista tem com relação ao produto final da produção. Ele está preocupado com o ganho de peso, com a conversão alimentar, com a qualidade da carcaça ou com o menor custo no frigorífico?

O Presente Rural – Quais são os aditivos alimentares desenvolvimentos mais recentemente, como probióticos, prebióticos e enzimas, para promover a saúde intestinal e melhorar o desempenho dos suínos?

Mário Penz – Essa é uma nova era na produção de suínos. Reforço que estamos saindo de uma longa fase, onde os profissionais se preocupavam e se preocupam com eventos sanitários, os mitigando com o uso de antibióticos promotores de crescimento e/ou antibióticos usados de forma preventiva ou terapêutica. Agora estamos entrando na fase da saúde animal, mais complexa, porém inevitável. Muitas são as opções para melhorar a saúde dos animais. Não há um único produto que tenha a chancela de resolver tudo! O técnico deverá ter claro o que está buscando e, com isso olhar as oportunidades disponíveis. De uma maneira geral, tenho me posicionado que nessa nova fase, tudo começa pelo uso de enzimas exógenas, como suplementos indispensáveis. Dietas bem digeridas diminuem a disponibilidade de nutrientes aos microrganismos. Depois, todas as dietas devem ser suplementadas com um antioxidante que tenha ação efetiva, para mitigar processos de oxirredução contínuos dos enterócitos. Enzimas e antioxidantes fazem uma eficiente “dobradinha”. Depois vem os demais aditivos não antibióticos. Aqui o técnico tem que saber o que quer: fortalecer o sistema imune dos animais? A integridade intestinal? A digestibilidade dos nutrientes? Colaborar na regulação da microbiota? São perguntas indispensáveis, pois nessa nova fase não há “receita pronta”. As alternativas serão customizadas, de acordo com as expectativas técnicas esperadas. Para completar, aditivos não antibióticos não estão chegando para melhorar os resultados de granjas que não deem atenção a biosseguridade, ao ambiente, ao bem-estar animal, como sempre pensamos que os antibióticos ajudam ou ajudavam. Essa nova produção animal vem para se empregada em granjas que atendem os princípios básicos de boas práticas de produção e manejo. Ou seja, a mudança de paradigma é grande. Por isso que sempre sugiro que, independente da necessidade de se acomodar a essa nova realidade, o técnico deve começar, com cautela, a entender como produzir nesse novo ambiente tendo parte de seu plantel submetido a essas novas alternativas.

O Presente Rural – Como os desafios ambientais – a redução das emissões de gases de efeito estufa e a sustentabilidade da produção de alimentos – estão moldando a pesquisa em nutrição suína?

Mário Penz – Sustentabilidade é a palavra de ordem. O grande desafio é que a sustentabilidade está baseada em três pilares – econômico/ambiental/social. Com isso, em cada ação temos que olhar como ela afeta um ou mais dos três pilares. O que é certo é que sempre será impossível ter os três pilares sendo atendidos na íntegra. A produção animal sempre buscou a sustentabilidade, mesmo antes do termo ter se consagrado pela Comissão de Bruntland em 1987, que definiu o que seria o Desenvolvimento Sustentável. Por que digo isso? Porque os produtores seguem em suas propriedades em muitos casos por três ou mais gerações. Se não fossem sustentáveis já teriam migrado, como muitos fizeram. Os produtores sempre estão perseguindo, pelos conhecimentos técnicos adquiridos, melhores resultados zootécnicos, representados por melhores conversões alimentares de seus animais. Melhor conversão animal, menos consumo de alimento e água, menor excreção de dejetos, menor poluição do ambiente, especialmente pelo nitrogênio e fósforo excretados. Tudo isso podendo também ser representado pela menor produção de CO₂. Assim, a ciência subsidia os produtores com seus conhecimentos e eles aplicam, para que sigam sendo viáveis economicamente.

O Presente Rural – Quais são as estratégias nutricionais mais eficazes para minimizar o estresse térmico em suínos durante períodos de temperatura extrema?

Foto: Shutterstock

Mário Penz – Não criá-los em temperaturas quentes! A nutrição pode mitigar eventos térmicos de calor, mas são pouco eficientes (reduzir proteína, aumentar a energia por intermédio da inclusão de gordura nas dietas, etc.). O uso de ambiente controlado é uma necessidade indispensável nos novos projetos suinícolas. Além disso, a curto prazo, os animais, nessas condições devem receber água fria, junto com o alimento que consomem. Imaginem uma reprodutora em lactação, que tem que comer algo em torno de 6 a 7 kg de alimento/dia e necessita tomar água com uma temperatura próxima de 15ºC e a ela é oferecida uma água com 30ºC. O que ela vai fazer? Irá comer menos! E, as consequências já sabemos. Assim, resumindo, estresse por elevada temperatura ambiente, primeiro se mitiga com água fria e depois, nos novos projetos, com a construção de galpões climatizados.

O Presente Rural – Quais são as oportunidades futuras para a colaboração entre a indústria de nutrição animal, academia e poder público para impulsionar ainda mais a inovação e o progresso na área de nutrição voltada à suinocultura?

Mário Penz – A tríade indústria, academia e poder público é indispensável se quisermos avançar mais rápido. Cada um dos três segmentos tem a sua responsabilidade. Entretanto, primeiramente cabe a indústria ser clara no que necessita para que a academia se prepare para responder os desafios. Cabe a academia entender que a indústria tem pressa em várias de suas necessidades e se colocar como disponível frente a esses desafios. Ao poder público, favorecer qualquer inciativa pertinente, colaborando com financiamentos e com normas e regulamentos que favoreçam novas descobertas.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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