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Suínos / Peixes

Níveis nutricionais para fêmeas hiperprolíficas estão defasados, alerta pesquisador

Dieta para esse animal ainda é, na maioria dos casos, baseada em estudos das décadas de 70, 80 e 90, segundo estudioso da Universidade Federal de Minas Gerais

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As fêmeas suínas mudaram ao longo dos anos e hoje são capazes de gerar grandes leitegadas. No entanto, a nutrição dada a esse animal, segundo o professor doutor Bruno Silva, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), está defasada. De acordo com ele, na maioria dos casos observados no Brasil os níveis nutricionais oferecidos à fêmea não são suficientes, muito por conta da falta de novos estudos sobre o assunto.

Bruno Silva fez palestra durante o Simpósio Brasil Sul de Suinocultura, que aconteceu em agosto, em Chapecó, SC, destacando a necessidade de rever os conceitos de dieta para essas fêmeas. O Presente Rural conversou com Silva em entrevista exclusiva para ele falar um pouco mais sobre o assunto. Boa leitura.

O Presente Rural – (OP Rural) – Explique como as fêmeas se tornaram hiperprolíficas ao longo dos anos.

Bruno Silva (BS) – A produtividade da fêmea suína aumentou de forma substancial nos últimos anos devido ao manejo e avanços genéticos, seleção baseada em parâmetros tais como tamanho de leitegada, intervalo desmama-estro e eficiência na lactação. Estes avanços demonstram a eficiência da seleção genética balanceada, que traz associada uma maior capacidade reprodutiva das fêmeas e maior vigor e sobrevivência dos leitões, permitindo a produção de leitegadas maiores sem aumentar a mortalidade dos leitões.

OP Rural – Essa capacidade de gerar uma leitegada maior gerou que benefícios?

BS – Obviamente a maior prolificidade permitiu maior rentabilidade para o produtor utilizando a mesma capacidade de instalação, e também forçou o produtor a investir em melhorias nutricionais, ambientais, sanitárias e tecnológicas para poder atender as demandas destas fêmeas de alta produtividade.

OP Rural – Como se mede o bom desempenho da dieta nas fêmeas?

BS – Através do índice de conversão global da granja e pelo custo por quilo de leitão desmamado. Programas nutricionais bem ajustados permitem explorar o máximo da capacidade genética da fêmea sem comprometer longevidade da mesma.

OP Rural – Essa fêmea tem uma alimentação diferenciada dos outros suínos. O que muda na dieta e por que?

BS – Embora os avanços genéticos tornassem as fêmeas mais produtivas, as mesmas são mais exigentes nutricionalmente e menos resistentes aos desafios nutricionais. As necessidades nutricionais das fêmeas modernas, e a disponibilidade de nutrientes da dieta para as mesmas, são pouco conhecidas em comparação ao conhecimento que se tem dos suínos em fase de crescimento e terminação. O número de pesquisas publicadas durante os últimos 40 anos com fêmeas suínas, de acordo com o Commonwealth Agricultural Bureau, database equivale a menos de 1% de todas as publicações referentes a suínos. A produtividade dos genótipos modernos aumentou de forma extremamente rápida nos últimos 30 anos, entretanto, os níveis nutricionais adotados para estes animais ainda são baseados em resultados de pesquisas que vão desde a década de 70 até o começo da década de 90.

Além disso, grande parte das recomendações nutricionais atuais adotadas para as fêmeas em reprodução são extrapolações não verificadas de pesquisas realizadas com suínos em terminação ou sem fundamentação cientifica. Pesquisas mais recentes utilizando os genótipos modernos têm mostrado que as necessidades tanto de energia quanto de aminoácidos são muito mais elevadas por uma margem significativa do que os níveis propostos pela maioria dos programas atuais.

Para estabelecer um adequado programa de nutrição para matrizes modernas, deve-se considerar o material genético da granja, suas necessidades nutricionais, os fatores que afetam essas necessidades, e deve-se possuir entendimento dos diversos aspectos metabólicos da interação entre o genótipo, a nutrição e a reprodução da fêmea suína. Este entendimento é fundamental para que se possa alcançar, ao mesmo tempo, produtividade e longevidade do plantel.

OP Rural – Quais são as suas necessidades nutricionais diárias em suas fases produtivas?

BS – O estado energético da fêmea gestante pode influenciar, diretamente, seu desempenho na lactação. O excesso de energia pode causar obesidade ao parto, o que resulta em um consumo voluntário reduzido, resultando em perdas corporais elevadas durante a lactação. A redução no consumo voluntário passa ser um problema ainda maior quando se trata de fêmeas de primeiro e segundo parto em relação às porcas pluríparas. Matrizes de primeiro parto apresentam menor capacidade de consumo alimentar, da ordem de 20% quando comparadas a porcas pluríparas. Isso pode ser devido à menor capacidade gastrointestinal das fêmeas jovens. Como as primíparas ainda estão em fase de crescimento, esse insuficiente consumo pode acarretar efeitos mais prejudiciais em sua vida produtiva e reprodutiva futura quando comparadas às fêmeas pluríparas.

Uma deficiência severa de energia poderá resultar em porcas magras ao parto, podendo levar a problemas durante o parto e lactação com redução na capacidade de produção de leite e redução no peso da leitegada ao desmame.

Para controlar de forma mais eficiente o consumo de energia pela fêmea gestante, o uso da alimentação restrita e/ou controlada é realizada. Mais de 60% das exigências de energia das fêmeas gestantes são representadas pela mantença, estando em torno de 0.44 MJ (ou 105 kcal) de EM/kg de peso metabólico (PC0.75)/dia, em condições de termoneutralidade. Este valor não é significativamente influenciado pela ordem de parte e fase da gestação.

Além de diferirem entre porcas nulíparas e pluríparas, as exigências energéticas se alteram durante a gestação. As exigências para ganho materno são maiores no primeiro terço de gestação e, significativamente, superiores em porcas primíparas. Por outro lado, a demanda energética para reprodução é maior no terço final de gestação. A demanda energética total de uma fêmea gestante depende, também, da condição corporal da matriz no momento da cobertura. Para que o crescimento fetal e o desenvolvimento do tecido mamário ocorram de forma rápida durante a fase final da gestação, as necessidades de aminoácidos tendem a ser maiores nesta fase, particularmente em primíparas.

Portanto, o crescimento muscular deverá também ser considerado nas fêmeas mais jovens como parte de suas necessidades reprodutivas. Analisando estudos recentes com fêmeas de genótipos modernos, têm sido dada uma atenção em particular ao crescimento fetal, desenvolvimento das glândulas mamárias e ao crescimento materno. Os resultados obtidos indicam um crescimento expressivo, tanto do tecido mamário, quanto dos fetos, principalmente, a partir dos 70 dias de gestação. Resultados estes, superiores aos observados em estudos similares nas décadas de 80 e 90.

Lactação

Fêmeas em lactação exigem energia para sua mantença e para produção de leite. Tais exigências dependem de seu peso, da produção e composição de seu leite e das condições ambientais sob as quais está alojada. Embora a mensuração dessas exigências seja difícil, cerca de 80% das exigências energéticas das fêmeas lactantes são destinadas à produção de leite e os 20% restantes à mantença. Para o cálculo da demanda energética para a produção de leite é utilizado o ganho de peso da leitegada no período de lactação. Porém, novos conceitos têm sido adotados para uma melhor estimação da produção de leite e eficiência de utilização da energia para tal produção.

Para que a fêmea suporte um número crescente de leitões durante a lactação, torna-se extremamente importante mantê-las em uma condição corporal adequada. Geralmente, o consumo de ração durante a lactação não é suficiente para sustentar uma produção de leite adequada e manter leitegadas grandes. Se uma maior demanda por energia não pode ser atendida via um consumo extra, as matrizes são obrigadas a mobilizar suas reservas corporais.

Níveis excessivos de mobilização podem tornar-se um problema para a longevidade da fêmea. Como resultado da seleção para suínos mais magros e com maior eficiência alimentar, o consumo de ração tende a diminuir, pois a alta deposição muscular e a eficiência alimentar são negativamente correlacionadas com o apetite. Assim sendo, torna-se necessário focar na eficiência lactacional, ou seja, aumentar a eficiência energética durante a lactação poderá ser uma solução, levando a uma maior produção de leite com um dado consumo e mobilização de reservas.

Em sistemas de manejo convencionais, leitões recém-nascidos são capazes de atingir somente uma fração do seu real potencial de crescimento durante a fase de amamentação. Nos últimos anos, este fato tem levado pesquisadores a focar na importância dos nutrientes, em particular os aminoácidos, para otimizar o potencial das glândulas mamárias durante a lactação. O crescimento da glândula mamária durante a lactação afeta a quantidade de leite produzido pelas fêmeas, e por consequência o crescimento dos leitões. Desta forma, o manejo nutricional adotado durante a lactação deverá priorizar o máximo crescimento mamário.

A produção de leite é, relativamente, pouco afetada por uma deficiência modesta de proteína na dieta, isto porque as fêmeas são capazes de mobilizar proteína corporal para suportar as demandas por aminoácidos para a síntese de leite. Entretanto, uma deficiência severa de proteína na dieta durante a lactação reduz a produção de leite. Quando fêmeas não recebem quantidades adequadas de aminoácidos na dieta, proteínas do tecido materno, particularmente, das proteínas musculares esqueléticas, são mobilizadas para atender à produção de leite. A mobilização excessiva de proteína materna, geralmente, resulta em falhas na atividade reprodutiva subsequente.

OP Rural – Quais são os desafios dos suinocultores em relação à dieta das fêmeas?

BS – A nutrição de fêmeas modernas não é uma tarefa simples. Vários fatores podem interferir na capacidade produtiva e reprodutiva desses animais. A nutrição proteica da fêmea gestante deve ser diferenciada segundo a ordem de parto. Na lactação a preocupação não deve ser somente a produção de leite e o crescimento da leitegada, mas também a perda de peso da fêmea. O estabelecimento de um programa nutricional deve levar em consideração o potencial genético do animal, o número de fetos, o desenvolvimento do aparelho mamário, a capacidade de consumo de alimento, a produção de leite e a mobilização de tecidos corporais. Práticas devem ser adotadas na granja, visando maximizar o potencial genético destes animais. As alternativas podem envolver modificações químicas ou físicas da ração ou modificações de manejo (horário e quantidade das refeições). Em períodos de calor, pode não ser possível, por meio da nutrição e do manejo amenizar o problema da redução do consumo de ração, necessitando que sejam adotadas medidas de controle ambiental das instalações.

OP Rural – Quais são as tendências de dieta para essas fêmeas nos próximos anos?

BS – A tendência para a suinocultura é o investimento em nutrição de precisão, buscando atender a exigência diária da fêmea com mais eficiência e menor custo de produção. O uso de tecnologias como sistemas de alimentação automatizados é o primeiro passo, bem como o uso de nutrientes e aditivos funcionais, melhorando a saúde intestinal e maximizando a eficiência nutricional.

Mais informações você encontra na edição de Suínos e Peixes de julho/agosto de 2018 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Suínos / Peixes

ACCS 65 anos: força e inovação na suinocultura catarinense

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Presidente Losivanio Luiz de Lorenzi: "Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses" - Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Fundada em 24 de julho de 1959, a ACCS surgiu em um momento determinante para a suinocultura em Santa Catarina. Na década de 1940, o Oeste Catarinense destacou-se na produção de suínos, impulsionado pela chegada de colonos do Rio Grande do Sul. Entre os pioneiros, Attílio Fontana, fundador da Sadia, viu o potencial da região e investiu na criação de suínos, transformando a produção local em um pilar econômico.

Inovação e melhoramento genético

Na virada da década de 1940 para 1950, a ACCS foi pioneira na introdução de práticas de melhoramento genético. Victor Fontana, sobrinho de Attílio, aplicou métodos racionais e técnicos de criação, resultando em ninhadas de leitões saudáveis e precoces. A Sadia distribuiu um fomento experimental, fornecendo matrizes e ração aos produtores que seguiram suas exigências de higiene e instalações, marcando o início de uma revolução na suinocultura.

Expansão e modernização

Nos anos 1960 e 1970, a ACCS ampliou suas atividades, implementando o registro genealógico dos suínos e promovendo a exposição de suínos que incentivavam a melhoria genética. Em 1976, sob a presidência de Paulo Tramontini, a ACCS liderou a criação da primeira central de inseminação artificial de suínos do Brasil, consolidando Santa Catarina como líder na produção de material genético de qualidade.

Evolução estrutural

A Central de Coleta e Difusão Genética da ACCS (CDG-ACCS), localizada na comunidade de Fragosos em Concórdia, representa um marco de inovação e excelência na suinocultura brasileira. Reinaugurada em 2016, a CDG-ACCS foi a primeira do Brasil a operar dentro dos padrões rigorosos de Bem-Estar Animal, incorporando as melhores genéticas do mercado e estabelecendo um alto padrão de sanidade e produtividade.

Com uma produção mensal de aproximadamente 19 mil doses de sêmen, a central não apenas impulsiona a qualidade genética dos rebanhos, mas também garante a sustentabilidade e a competitividade dos suinocultores catarinenses. O reconhecimento da CDG-ACCS como referência em produtividade e sanidade, destacado em reportagens especiais como a do Globo Rural, reforça seu papel na modernização e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina e no Brasil.

Parcerias e crescimento sustentável

Ao longo das décadas, a ACCS tem sido uma força importante na promoção e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina. Parcerias estratégicas com indústrias, cooperativas e entidades governamentais foram fundamentais para o crescimento do setor. A criação da Cooperativa Agroindustrial dos Suinocultores Catarinenses (Coasc) em 2014 exemplifica esse espírito cooperativo, ajudando produtores independentes a obter melhores condições na compra de insumos.

Desafios e superações

A ACCS não se limita a celebrar conquistas, mas também se destaca pelo seu papel de apoio em tempos de crise. A associação esteve presente em momentos de adversidade, mobilizando a classe e chamando a atenção para as necessidades e demandas dos suinocultores. Este espírito de luta e resiliência garante que os suinocultores continuem a desempenhar um papel vital na economia do país.

Uma voz ativa e presente

A ACCS se tornou uma referência, tanto para a imprensa quanto para os suinocultores. Com um site atualizado diariamente e participações ativas em comissões e eventos, a associação promove o diálogo entre produtores e especialistas, sempre inovações buscando e políticas públicas desenvolvidas ao setor.

Celebração e futuro promissor

Ao comemorar 65 anos, a ACCS reafirma seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade do setor. O presidente Losivanio Luiz de Lorenzi destaca a importância de continuar unidos, superando desafios e construir um futuro ainda mais promissor para a suinocultura catarinense. “Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses,” ressalta.

A trajetória da ACCS é um exemplo de dedicação e sucesso, refletindo a força e a inovação que definem a suinocultura em Santa Catarina. Comemoramos não apenas o passado, mas também as possibilidades ilimitadas do futuro. Parabéns a todos que fazem parte dessa história!

Fonte: Assessoria ACCS
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Suínos / Peixes

Preços do suíno vivo têm movimentos distintos no Brasil

Aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate. As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Os preços do suíno vivo e da carne vêm apresentando movimentos distintos dentre as regiões acompanhadas pelo Cepea.

Segundo pesquisadores deste Centro, os aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate.

Esse foi o caso dos mercados independentes do suíno vivo nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês, devido ao menor poder de compra da população, ainda conforme explicam pesquisadores do Cepea.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos / Peixes Nutrição

Especialista aponta desafios e alternativas para melhorar desempenho zootécnico dos suínos

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção.

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Foto: Shutterstock

A qualidade nutricional dos alimentos não só influencia o desempenho dos animais, mas também afeta diretamente sua capacidade de digestão e absorção de nutrientes, bem como a quantidade de resíduos gerados. Durante o 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado nesta semana no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, essa temática foi abordada pelo mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz.

O especialista vai participar do Painel Novos Desafios na produção de suínos – o que vem por aí?, em que vai tratar sobre “Onde estamos e para onde deveremos ir na área de Nutrição”. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o doutor em Nutrição enfatizou que quanto melhor compreendermos a qualidade dos ingredientes utilizados na formulação dos alimentos para suínos, mais eficiente será a produção dos animais e menores serão os impactos ambientais.

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção. Aborda temas como nutrição de precisão, ingredientes alternativos, redução do uso de antibióticos, nutrigenômica, considerações nutricionais por fase de crescimento, desafios ambientais, estratégias nutricionais para minimizar o estresse térmico e oportunidades para colaboração entre a indústria, academia e o poder público. Confira!

O Presente Rural – Quais são os avanços recentes na nutrição voltada à suinocultura e como essas inovações estão impactando a eficiência alimentar, o crescimento e a saúde dos suínos?

Mário Penz – Quanto mais conhecemos a qualidade dos ingredientes que são empregados na elaboração dos alimentos para os suínos, mais eficiente se torna a produção dos animais e menores são os efeitos poluidores, que podem ser causados pela indevida digestão dos nutrientes e pelo aumento dos dejetos produzidos. Por exemplo, vários nutricionistas calculam as necessidades energéticas dos animais com base nas energias líquidas dos ingredientes, enquanto outros ainda usam energia metabolizável ou, menos comum, energia digestível, ambas menos precisas que a expressão da energia, com base no conhecimento dos valores de energia líquida dos ingredientes.

O Presente Rural – Quais são os principais desafios que os nutricionistas enfrentam atualmente na formulação de dietas para suínos e como estão sendo abordados?

Mário Penz – Continua sendo o conhecimento da real composição dos ingredientes usados nas formulações das dietas para as diferentes fases de produção.

O Presente Rural – Como a nutrição de precisão está sendo aplicada na suinocultura e quais são os benefícios em termos de otimização dos recursos alimentares e redução dos custos de produção?

Mário Penz – Nutrição de precisão tem por objetivo, sempre um pouco paradoxal, oferecer aos animais nutrientes e energia líquida, de acordo com suas necessidades, nas diferentes fases de produção. Quando se lida com nutrição de populações, em diferentes fases de produção, o que se quer chegar é o mais perto do que os animais necessitam, desconsiderando várias diferenças que podem ocorrer por idade, sexo, linhagem, ambiente, propósito de produção, etc. Essa nutrição não obrigatoriamente é “de custo mínimo”.

O Presente Rural – Quais são as tendências emergentes na formulação de dietas para suínos, como a utilização de ingredientes alternativos e a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento?

Mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz: “Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença”. Foto: Divulgação

Mário Penz – Ingrediente alternativo é todo aquele que pode substituir os ingredientes convencionais das dietas, que no Brasil são milho e farelo de soja. Ingredientes como sorgo, milheto, farinhas de origem animal, entre outros, poderão ser empregados, desde que estejam disponíveis em quantidades relevantes, nem que seja por um período específico do ano. Além disso, é importante que se conheça a composição nutricional e energética desses ingredientes, para evitar que tenham seus valores sub ou superestimados. Levando isso em consideração, qualquer oportunidade tem que ser avaliada quanto ao seu custo e ao seu benefício, relacionados com aqueles que o milho e o farelo de soja podem trazer aos animais.

Quanto a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento, esse é um caminho sem volta. Para que não haja perda de desempenho dos animais, os profissionais deverão dar mais atenção aos princípios básicos de saúde animal (saúde intestinal) e menos na mitigação das ações microbianas deletérias. Nesse conjunto de ações, cuidado com a biosseguridade, do ambiente, das dietas empregadas, farão parte dessa nova necessidade de produção.

Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença. Saúde é um processo contínuo, que se mitiga todo o tempo. Doença, mesmo que seja só mitigada pelos promotores de crescimento, sugerem respostas mais rápidas, mas não obrigatoriamente com consistência. Mudar de doença para saúde é algo complexo e que requer mais conhecimento dos profissionais envolvidos na produção de suínos.

O Presente Rural – Como a nutrigenômica e outras tecnologias de ponta estão sendo exploradas para entender melhor as necessidades nutricionais específicas dos suínos e melhorar a saúde intestinal?

Mário Penz – Nutrigenômica é o conhecimento que permite a seleção específica de nutrientes que favorecem a melhor expressão gênica dos animais, permitindo, como consequência, melhor saúde e desempenho dos animais. Esse é outro caminho sem volta, especialmente quando se trata de produzir animais saudáveis e sem o uso de antibióticos. Mas, ainda todo esse conhecimento está pouco apreciado no dia a dia das produções. Entretanto, importantes informações acadêmicas estão disponíveis, que mostram que teremos que olhar o suíno não por fase, mas olhar os resultados finais, desde o início da produção dos reprodutores, que lhes dão origem.

O Presente Rural – Quais são as considerações nutricionais específicas para diferentes fases de crescimento dos suínos, desde a creche até a terminação, e como essas necessidades estão sendo atendidas?

Mário Penz – Lamentavelmente, essa pergunta é extremamente complexa, para que tenha uma resposta simples. Entretanto, tomando o risco da simplificação, os nutricionistas devem estar muito próximos dos técnicos das genéticas, para entender quais são as recomendações por eles oferecidas. Com o tempo, cada profissional vai adaptando seus referenciais, com base na sua experiência e nos resultados práticos de campo. Aqui não tem uma resposta única e a complexidade começa com a identificação que o nutricionista tem com relação ao produto final da produção. Ele está preocupado com o ganho de peso, com a conversão alimentar, com a qualidade da carcaça ou com o menor custo no frigorífico?

O Presente Rural – Quais são os aditivos alimentares desenvolvimentos mais recentemente, como probióticos, prebióticos e enzimas, para promover a saúde intestinal e melhorar o desempenho dos suínos?

Mário Penz – Essa é uma nova era na produção de suínos. Reforço que estamos saindo de uma longa fase, onde os profissionais se preocupavam e se preocupam com eventos sanitários, os mitigando com o uso de antibióticos promotores de crescimento e/ou antibióticos usados de forma preventiva ou terapêutica. Agora estamos entrando na fase da saúde animal, mais complexa, porém inevitável. Muitas são as opções para melhorar a saúde dos animais. Não há um único produto que tenha a chancela de resolver tudo! O técnico deverá ter claro o que está buscando e, com isso olhar as oportunidades disponíveis. De uma maneira geral, tenho me posicionado que nessa nova fase, tudo começa pelo uso de enzimas exógenas, como suplementos indispensáveis. Dietas bem digeridas diminuem a disponibilidade de nutrientes aos microrganismos. Depois, todas as dietas devem ser suplementadas com um antioxidante que tenha ação efetiva, para mitigar processos de oxirredução contínuos dos enterócitos. Enzimas e antioxidantes fazem uma eficiente “dobradinha”. Depois vem os demais aditivos não antibióticos. Aqui o técnico tem que saber o que quer: fortalecer o sistema imune dos animais? A integridade intestinal? A digestibilidade dos nutrientes? Colaborar na regulação da microbiota? São perguntas indispensáveis, pois nessa nova fase não há “receita pronta”. As alternativas serão customizadas, de acordo com as expectativas técnicas esperadas. Para completar, aditivos não antibióticos não estão chegando para melhorar os resultados de granjas que não deem atenção a biosseguridade, ao ambiente, ao bem-estar animal, como sempre pensamos que os antibióticos ajudam ou ajudavam. Essa nova produção animal vem para se empregada em granjas que atendem os princípios básicos de boas práticas de produção e manejo. Ou seja, a mudança de paradigma é grande. Por isso que sempre sugiro que, independente da necessidade de se acomodar a essa nova realidade, o técnico deve começar, com cautela, a entender como produzir nesse novo ambiente tendo parte de seu plantel submetido a essas novas alternativas.

O Presente Rural – Como os desafios ambientais – a redução das emissões de gases de efeito estufa e a sustentabilidade da produção de alimentos – estão moldando a pesquisa em nutrição suína?

Mário Penz – Sustentabilidade é a palavra de ordem. O grande desafio é que a sustentabilidade está baseada em três pilares – econômico/ambiental/social. Com isso, em cada ação temos que olhar como ela afeta um ou mais dos três pilares. O que é certo é que sempre será impossível ter os três pilares sendo atendidos na íntegra. A produção animal sempre buscou a sustentabilidade, mesmo antes do termo ter se consagrado pela Comissão de Bruntland em 1987, que definiu o que seria o Desenvolvimento Sustentável. Por que digo isso? Porque os produtores seguem em suas propriedades em muitos casos por três ou mais gerações. Se não fossem sustentáveis já teriam migrado, como muitos fizeram. Os produtores sempre estão perseguindo, pelos conhecimentos técnicos adquiridos, melhores resultados zootécnicos, representados por melhores conversões alimentares de seus animais. Melhor conversão animal, menos consumo de alimento e água, menor excreção de dejetos, menor poluição do ambiente, especialmente pelo nitrogênio e fósforo excretados. Tudo isso podendo também ser representado pela menor produção de CO₂. Assim, a ciência subsidia os produtores com seus conhecimentos e eles aplicam, para que sigam sendo viáveis economicamente.

O Presente Rural – Quais são as estratégias nutricionais mais eficazes para minimizar o estresse térmico em suínos durante períodos de temperatura extrema?

Foto: Shutterstock

Mário Penz – Não criá-los em temperaturas quentes! A nutrição pode mitigar eventos térmicos de calor, mas são pouco eficientes (reduzir proteína, aumentar a energia por intermédio da inclusão de gordura nas dietas, etc.). O uso de ambiente controlado é uma necessidade indispensável nos novos projetos suinícolas. Além disso, a curto prazo, os animais, nessas condições devem receber água fria, junto com o alimento que consomem. Imaginem uma reprodutora em lactação, que tem que comer algo em torno de 6 a 7 kg de alimento/dia e necessita tomar água com uma temperatura próxima de 15ºC e a ela é oferecida uma água com 30ºC. O que ela vai fazer? Irá comer menos! E, as consequências já sabemos. Assim, resumindo, estresse por elevada temperatura ambiente, primeiro se mitiga com água fria e depois, nos novos projetos, com a construção de galpões climatizados.

O Presente Rural – Quais são as oportunidades futuras para a colaboração entre a indústria de nutrição animal, academia e poder público para impulsionar ainda mais a inovação e o progresso na área de nutrição voltada à suinocultura?

Mário Penz – A tríade indústria, academia e poder público é indispensável se quisermos avançar mais rápido. Cada um dos três segmentos tem a sua responsabilidade. Entretanto, primeiramente cabe a indústria ser clara no que necessita para que a academia se prepare para responder os desafios. Cabe a academia entender que a indústria tem pressa em várias de suas necessidades e se colocar como disponível frente a esses desafios. Ao poder público, favorecer qualquer inciativa pertinente, colaborando com financiamentos e com normas e regulamentos que favoreçam novas descobertas.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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