Bovinos / Grãos / Máquinas
Mulheres dirigem 1,7 milhão de propriedades rurais no Brasil e continuam quase invisíveis
Mesmo diante da multiplicidade de papéis assumidos nos estabelecimentos agropecuários, a participação feminina passa quase despercebida.
A pecuarista Dora Bileco assumiu a gestão da fazenda da família em Mato Grosso do Sul após ficar viúva. Com filhos pequenos, Dora teve que estudar, capacitar-se e abandonar a arquitetura para dar continuidade aos negócios, antes comandados pelo marido. Encontrou muita resistência entre os empregados, muitos pediram demissão por não aceitarem o comando feminino. Ela conta que para evitar ser colocada à prova, costumava ler os manuais de máquinas e equipamentos quando precisava contratar serviços de manutenção ou comprar peças para seus tratores.
Assim como Dora, no Brasil, 1,7 milhão de mulheres estão na gestão ou codireção de propriedades rurais, segundo o Censo Agropecuário de 2017. Para apresentar um pouco sobre essas produtoras, a Embrapa lançou a Coleção Mulheres Rurais no Brasil, levando em consideração diferentes realidades.
Mesmo diante da multiplicidade de papéis assumidos nos estabelecimentos, a participação feminina passa quase despercebida. Em Mulheres na Pecuária, um dos livros da coleção, são apresentados dados, informações, perfis e desafios no gerenciamento de suas atividades no campo.
A publicação, coordenada pela pesquisadora Claudia de Mori, da Embrapa Pecuária Sudeste, foi escrita por vários pesquisadores e pesquisadoras de centros com atuação em pecuária no país.
Para Claudia, embora alguns fatos mostrem a importância da participação feminina na produção pecuária, há poucos registros, pesquisas e divulgação sobre o assunto. “Os novos tempos e a mudança nos comportamentos trouxeram esse tema para o debate e uma coleção de publicações que contextualizem esta participação e os principais problemas, tira o assunto da invisibilidade e contribui nessa discussão”, destaca a pesquisadora.
As mulheres desempenham múltiplos papeis e responsabilidades na criação de animais, na propriedade e na família. Segundo Claudia, elas estão na lida diária do manejo, na gestão da propriedade, na agroindustrialização e nas organizações sociais. “Infelizmente, aspectos culturais e normas sociais fizeram com que a contribuição econômica das mulheres na produção agroalimentar fosse ignorada e tratada como ‘complementar’. Os dados e histórias trazidas nessa publicação mostram um pouco desta multiplicidade de atuação e a importância das mulheres na produção pecuária. As histórias têm em comum uma mesma questão: a mulher produtora ou técnica ainda é vista com estranheza e desconfiança e isso exige dela um esforço muito maior para provar seu conhecimento e valor. Embora haja muitos problemas, elas têm seguido, transformando suas realidades e seu entorno. Elas mostram que o mundo da pecuária também é feminino”, observa.
O documento também apresenta recomendações de ações e políticas públicas direcionadas para as mulheres no campo, no que diz respeito ao enfrentamento a desigualdades de gênero no meio rural. Claudia ressalta que uma mudança mais efetiva e ampla requer políticas públicas de acesso a recursos, serviços e treinamentos, contemplando a diversidade das situações nas diferentes regiões do território brasileiro.
O Censo (2017) mostra que apenas 18,2% (450 mil) dos estabelecimentos de pecuária tinham, no período, gestão feminina. A região Nordeste apareceu com mais da metade dos estabelecimentos pecuários geridos por mulheres (53,8%). Na sequência, seguem Sudeste (16,5%), Sul (10,4%), Centro-Oeste (10,2%) e Norte (9,2%). O tamanho médio da propriedade com mulheres na gestão foi de 48,8 ha, já as dirigidas por homens correspondem a uma média de 94,9 ha.
O perfil dessas gestoras é mais jovem comparando-se aos homens. Cerca de 30% delas têm menos de 35 anos. Nessa faixa etária, o grupo masculino é de 24,3%.
A publicação contribui para o alcance da meta 5, proposta pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), relacionada à igualdade de gênero.
São autores do volume Claudia De Mori (Embrapa Pecuária Sudeste), Danielle Ribeiro Azevêdo (Embrapa Meio-Norte), Jorge Sant’Anna dos Santos (Embrapa Pecuária Sul), Juliana Alves Dias (Embrapa Rondônia), Manuela Sampaio Lana (Embrapa Gado de Leite), Mariana de Aragão Pereira (Embrapa Gado de Corte), Patrícia Goulart Bustamante (Embrapa Alimentos e Territórios), Thais Basso Amaral (Embrapa Agricultura Digital), Helenira Marinho Vasconcelos (Embrapa Agroindústria Tropical) e Aline Costa Silva (Embrapa Caprinos e Ovinos).
Mulheres na direção
Em mil hectares, no município de Bagé (RS), Lieli Borges Pereira trabalha com gado de corte e plantio de soja. Com a morte prematura do pai, Lieli assumiu a gestão da propriedade, saindo da cidade para a fazenda. Situações como essa não são incomuns. A sucessão antecipada por evento que envolve invalidez ou morte do pai-gestor.
Lucy Araújo de Armas, pequena produtora rural no município de Jaguarão (RS), trabalha em uma propriedade com 140 hectares, sendo 10 arrendados. No estabelecimento, cria gado de corte e ovinos. Lucy atua na criação e comercialização de cordeiros.
Antonielly Rottoli iniciou na pecuária em Mato Grosso do Sul, apoiando o marido nas atividades, principalmente na contabilidade. A mudança para Alto Paraíso (RO), em 2013, foi um momento de transformação. Com o desenvolvimento e ampliação do negócio, ela aprimorou-se tecnicamente e como líder. Além de pecuarista, Antonielly é bacharel em Direito, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais e líder do Movimento Agromulheres Rondônia.
A médica-veterinária Aline Kehrle, junto com seu marido e em sociedade com seu pai, comanda uma propriedade rural de cinco mil hectares no Tocantins. Ela se formou, fez mestrado e morou fora do Brasil por dois anos, quando decidiu voltar, implantou um sistema inovador na fazenda que tinha sido de seu avô: o sistema ultra denso de pastejo rotacionado, preconizado pelo biólogo Allan Savory. “Fazer algo diferente de todo mundo já gera desconfiança. Feito por uma mulher, então, mais ainda”, observa Aline. Mas a veterinária mantém a determinação de fazer a diferença: “Eu acredito muito no que a gente faz [na fazenda]. É muito difícil mudar o mundo inteiro. A gente só consegue mudar ao nosso redor”.Por experiência própria, ela aconselha às mulheres que se dedicam à pecuária a cercarem-se de pessoas que acreditem nelas e busquem espaços onde sejam bem recebidas.
Filha de produtores rurais de Betânia, no Piauí, Francisca Neri é produtora de ovinos. Iniciou no associativismo aos 16 anos como secretária da Ascobetânia. A oportunidade surgiu por uma demanda do Projeto Viva o Semiárido, para que mulheres e jovens participassem da diretoria da associação. Francisca foi preparada pelos dirigentes da Ascobetânia e, ao completar 18 anos, assumiu a presidência. Atualmente, é secretária de agricultura de Betânia, vice-presidente da Ascobetânia e atua como conselheira da Cooperativa dos Produtores Rurais da Chapada Vale do Itaim (Coovita). Para Francisca, sua vida gira em torno da agricultura familiar, sendo a organização coletiva a sua ferramenta de transformação dos produtores e da realidade local. Segundo ela, a mulher nas organizações é um novo necessário, por sua sensibilidade para conduzir as situações, maior capacidade de organização, pensar mais longe e ocupar espaços necessários, além de agregar a família ao negócio. Em 2022, ela foi reconhecida pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) como uma das Líderes da Ruralidade.
Rosevania Viera da Silva Leite é uma mulher do Agreste Alagoano. Há 30 anos comprou a sua primeira cabra para garantir a alimentação da filha recém-nascida. Rosevania vive em Limoeiro de Anadia, onde produz e comercializa leite e derivados de cabra, agregando valor e gerando renda para sustentar a família. Desde 2010, envolve-se em exposições de caprinos na região Nordeste, buscando meios para melhorar a qualidade de vida das famílias da região do agreste e do sertão. Atualmente, é presidente da Associação de Agricultores Alternativos, uma organização formada por agricultores familiares que realiza capacitações visando à elaboração de produtos à base de leite de cabra.
Há, no país, muitos grupos de mulheres engajadas na agropecuária. Esses movimentos promovem encontros técnicos, treinamentos e até congressos voltados exclusivamente para o público feminino. Segundo a pesquisadora Claudia de Mori, as mulheres vêm conquistando seu espaço e contribuindo com novas perspectivas para uma pecuária mais plural e diversa.
Bovinos / Grãos / Máquinas
Negócios da pecuária de corte alcançam R$ 330/aroba em São Paulo; carcaça casada sobe 17% em outubro
Com a volta do período das chuvas, a oferta para abate deve se recuperar à medida que as pastagens também se recuperam e os animais ganham peso.
Levantamentos do Cepea já apontam negócios na marca de R$ 330,00/arroba no estado de São Paulo, com o Indicador do Boi Gordo Cepea/B3, que representa negócios no mercado spot paulista com bois a partir de 16 arrobas, fechando a R$ 320,90 na última terça-feira (05) – valor à vista e livre de Funrural.
Ao longo de outubro, o Indicador Cepea/B3 acumulou ganho de 16%, à média de R$ 301,13, valor elevado na série deflacionada, mas ainda abaixo das cotações prevalecentes entre meados de 2020 e de 2022.
Em novembro/20, foi alcançada a máxima da série deflacionada do Indicador Cepea/B3, de R$ 354,54.
Segundo pesquisadores do Cepea, com a volta do período das chuvas, a oferta para abate deve se recuperar à medida que as pastagens também se recuperam e os animais ganham peso.
No atacado da Grande SP, a carne com osso continua em alta, ainda conforme pesquisas do Cepea.
No acumulado de outubro, o aumento da carcaça casada de boi foi de 17%. Neste começo de novembro, a média do “boi casado” opera na casa dos R$ 22,00/quilo.
Bovinos / Grãos / Máquinas
É preciso aproximar campo e cidade, afirma Camila Telles
Comunicadora do agronegócio palestrou na abertura do Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite, em Chapecó. Solenidade reuniu autoridades e lideranças do setor
Considerado um dos maiores eventos técnicos-científicos do setor no país, o Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite iniciou na última terça-feira (5), em Chapecó (SC). A palestra de abertura, no fim do primeiro dia, foi apresentada pela comunicadora e produtora rural, Camila Telles, com o tema “Empreendedor – a criatividade que o agro precisa”. O evento, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), segue até quinta-feira (7), no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes.
Conhecida nas redes sociais como “agroinfluencer”, Camila Telles compartilhou sua trajetória, contou como saiu da propriedade dos pais para se formar em Relações Públicas e destacou a importância do apoio familiar para que o jovem desenvolva amor pelo agro. “Não voltei para a fazenda porque minha família exigiu, mas porque amo aquele lugar”.
Segundo ela, é impossível falar de empreendedorismo sem entender a comunicação e como as pessoas funcionam hoje. Enquanto a comunicação do agro para o agro é eficiente, com feiras e eventos de grande qualidade, Camila questionou se o mesmo acontece para o público em geral. “Esquecemos de colocar uma placa no supermercado para que as pessoas entendam que os produtos vêm do agro, que nós não paramos, por exemplo”.
A ideia é aproximar a cidade do campo. Ao pensar em empreender, a recomendação é comunicar o agro em todas as iniciativas e buscar conexão. Como exemplo, citou a Nucleostore — loja de produtos personalizados do Nucleovet — que representa um empreendimento beneficente dentro de um evento da cadeia produtiva.
Reiterou a questão se “o agro está comunicando bem para quem não é do setor?”. E complementou com a informação de que muitos jovens estão no TikTok consumindo conteúdo de outros setores e se perguntando por que o agro não está presente. “Não estou dizendo para vocês fazerem dancinha, mas para mostrar o dia a dia, de onde vem o alimento”, sugeriu, ao enfatizar que é essencial mostrar o verdadeiro Brasil — um país que, nos últimos 40 anos, saiu da condição de importador de alimentos para se tornar um grande provedor para o mundo. “A importância desse protagonismo econômico e social merece ser valorizada”, sublinhou a comunicadora.
“Trabalhei e morei em vários lugares, fiz palestras pelo país, mas hoje meu trabalho e lucro estão na fazenda, e temos orgulho disso.” Ela frisou que o agro é uma cadeia produtiva completa e essencial, ajudando com novas tecnologias e inspirando futuras gerações. “Trabalhar no agro é positivo; é um setor para empreender e ousar. Há tantas ideias boas guardadas. Sugiro que arrisquem-se”.
Ela acredita que o próximo empreendimento pode estar nas ideias que cada um tem. “Quando temos propósito, nos unimos. E não há objetivo mais incrível do que produzir alimento para as pessoas”, finalizou.
Solenidade de abertura
Antecedente à palestra de Camila Telles, a cerimônia de abertura da 13ª edição do Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite reuniu autoridades e lideranças do setor.
Em seu pronunciamento, o presidente do Nucleovet, Tiago José Mores, sublinhou que a programação do evento foi cuidadosamente planejada por uma equipe de profissionais que avaliaram os temas mais relevantes da atualidade para o setor. “Com isso, criamos uma agenda de painéis que abordam desde a qualidade da forragem, um elemento essencial para a nutrição e bem-estar dos animais, até a indústria, o manejo e o ambiente, fatores que influenciam diretamente a produtividade e a sustentabilidade das operações”. A inclusão desses temas reflete uma visão completa da cadeia produtiva e da importância de promover uma pecuária de leite eficiente, moderna e sustentável.
Mores enfatizou os desafios que vêm afetando a cadeia produtiva no país. “Enfrentamos crises significativas decorrentes de eventos climáticos. Além disso, o setor sofre com o impacto das importações excessivas de leite, o que prejudica a remuneração do produtor nacional, em especial o pequeno e o médio produtor. Esse cenário exige uma nova política pública que atenda às necessidades, assegurando a sustentabilidade e competitividade do setor”, apontou. Entre as ações sugeridas, o presidente citou a redução de tributação, o combate às fraudes no setor, a criação de um mercado futuro para commodities lácteas e a consolidação de tarifas que protejam o mercado interno, além de garantir que os produtos lácteos de origem nacional tenham preferência em programas sociais.
Para além das dificuldades, Mores destacou a importância de lembrar que a bovinocultura de leite representa um setor de grande pujança e resiliência. “Com eventos como este Simpósio, fortalecemos nossa capacidade de adaptação e inovação. Vamos juntos construir o futuro da nossa pecuária leiteira”, exclamou.
Em seu discurso, o secretário de Estado da Agricultura de Santa Catarina, Valdir Colatto, reconheceu a importância do evento e a dedicação do Nucleovet para a entrega de mais uma edição. Ainda, valorizou a participação de técnicos e profissionais de diversas áreas, que vieram de diferentes regiões do país para aprimorar conhecimentos, e reforçou que o estado está comprometido com o desenvolvimento da cadeia leiteira.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de Santa Catarina (SINDILEITE-SC), Selvino Giesel, parabenizou o Nucleovet pela organização e a todos os participantes que vieram em busca de conhecimento para levar aos produtores, promovendo maior profissionalização no campo. Também apontou a necessidade de deixar a política “de lado” e focar no aprendizado e na atualização, pois “o mundo não para”.
Ação social
Tradicionalmente, o Nucleovet promove ações sociais em seus eventos. Nesta edição do Simpósio, todo o lucro arrecadado com a NúcleoStore – loja de artigos personalizados -, será doado à APAE Chapecó. Durante o evento, os participantes que adquirirem camisetas, canecas, meias, bótons e mousepads com estampas lúdicas do setor contribuirão com a instituição.
Com a missão de promover e articular ações de defesa de direitos e prevenção, orientações, prestação de serviços, apoio à família, direcionadas à melhoria da qualidade de vida da pessoa com deficiência e à construção de uma sociedade justa e solidária, a APAE Chapecó atende pessoas com atraso global do desenvolvimento, deficiência intelectual e/ou múltipla e transtorno do espectro autista.
Atualmente, conta com 372 matriculados nas áreas de educação, assistência social e saúde, em todos os ciclos de vida. O matriculado de menor idade tem seis meses e o mais velho 86 anos. Em seus 53 anos de existência, a instituição já atendeu 1.730 pessoas.
Os representas da APAE Chapecó, vice-presidente Odilon Villa Dias, diretor de patrimônio Leandro Ugolini e diretor-financeiro, Julio Treichel, participaram da solenidade e incentivaram os participantes a contribuir com essa causa.
Programação
13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite
8ª Brasil Sul Milk Fair
3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte
Quarta-feira (06)
14h: Traduzindo vacas
Palestrante: Marcelo Cecim
15h: Inter-relações entre a saúde e a performance produtiva de vacas leiteiras
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
16h: Milk Break
16h40: Perdas gestacionais – principais causas e como evitá-las
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
19h: Happy Hour na 8ª Brasil Sul Milk Fair
Quinta-feira (07)
Painel Qualidade da Forragem
08h: Uso da suplementação como estratégia para alta produção de leite em pastagens
Palestrante: Eduardo Bohrer Azevedo
09h: Como a qualidade da forragem altera o desempenho e o comportamento alimentar?
Palestrante: Luiz Ferraretto
10h: Milk Break
10h40: Práticas para maximizar a utilização do amido em silagem de milho e grão úmido.
Palestrante: Luiz Ferraretto
11h40: Mesa-redonda
12h20: Encerramento e sorteio de brindes
Bovinos / Grãos / Máquinas Na cidade de Chapecó
3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte debate gargalos e soluções do setor em Santa Catarina
Evento, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), antecedeu o 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL).
Explanações de profissionais e pesquisadores renomados, difusão de conhecimentos e estratégias aplicáveis frente aos desafios do setor marcaram a 3ª edição do Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte, realizado na manhã da última terça-feira (5), no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC). O evento, promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), antecedeu o 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL).
Novilho precoce
A primeira palestra do Fórum foi apresentada pela coordenadora estadual do Programa Novilho Precoce da CIDASC, Flávia Klein, e pelo professor associado na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Diego Cucco, que discutiram os parâmetros dos novilhos catarinenses.
Desde 1993, produtores rurais de novilhos e abatedouros frigoríficos do estado contam com o Programa Novilho Precoce, uma iniciativa pública de estímulo ao trabalho de melhoramento do rebanho bovino catarinense.
Entre os objetivos da iniciativa, Klein citou a intenção de viabilizar a pecuária por meio do aumento da produtividade, diminuir o déficit de carne bovina no estado, gerar renda ao produtor rural por meio do incentivo financeiro e melhorar a qualidade da carne através da redução da idade de abate, da tipificação das carcaças e do controle sanitário.
A coordenadora evidenciou que, em 2023, mais de 70 mil animais foram abatidos no programa, com a participação de 5.997 produtores cadastrados. No entanto, desses produtores, apenas 2.123 foram beneficiados por estarem efetivamente atendendo aos pré-requisitos do programa.
“No Oeste, cerca de 60 mil animais foram abatidos em 2023, resultando em quase 6 milhões de reais repassados aos produtores como incentivo. Essa região contribui com cerca de 30% do total do programa, um dado significativo, mas que ainda pode melhorar, considerando a sua capacidade produtiva”, avaliou, ao apresentar estatísticas regionais a fim de comparação.
Para compreender o perfil dos bovinos abatidos no programa, Cucco apresentou uma análise feita entre janeiro de 2020 e dezembro de 2022 com 514.574 animais, 3.103 UEPs (Unidades de Explorações Pecuárias) e 21 abatedouros frigoríficos. O levantamento mostrou que 41% dos animais abatidos eram novilhos superprecoces, 26% novilhos precoces e 31% não classificados. Quanto à classe sexual dos animais, nas três categorias prevaleceram os machos não castrados. “A idade média dos animais é bastante satisfatória, com destaque para a precocidade dos bovinos criados em Santa Catarina. A média de peso de abate também é superior, com tendência de aumento contínuo ao longo dos anos. No entanto, o acabamento de carcaça ainda pode ser melhorado”, expôs Diego.
Quanto à desclassificação dos animais, classificada em 30%, o professor explicou que as causas são a ausência de gordura e peso inadequado. “Embora o peso esteja melhorando, ainda é um critério significativo de desclassificação. Um dado relevante é que, em 2020, o peso era o principal motivo de desclassificação, mas a partir de 2022, a falta de gordura passou a liderar a lista”, apontou.
Com isso, a estimativa de perda de incentivo financeiro mostrou que o produtor deixou de receber aproximadamente oito milhões de reais com essa desclassificação. “Não é uma perda, mas é um incentivo que o produtor deixou de receber. Esses dados têm como objetivo mostrar a evolução e os gargalos da política pública para que continue evoluindo a fim de beneficiar a cadeia produtiva”, concluiu Cucco ao indicar que há espaço para expandir a adesão e a eficiência do programa no estado.
Consorciação forrageira
A qualidade da forragem impacta diretamente o desempenho dos animais, refletindo no ganho de peso vivo diário. Nesse sentido, a consorciação, ou combinação, de gramíneas com leguminosas é uma prática estratégica em pastagens tropicais, para proporcionar uma oferta de forragem distribuída ao longo do ano. O uso de consorciações forrageiras para alimentação de bovinos de corte foi o tema da explanação do Ph.D. em Agronomia e pesquisador da Embrapa Trigo, Renato Serena Fontaneli, na segunda palestra do Fórum.
Inicialmente, Fontaneli revelou que essa diversidade permite que espécies com diferentes picos de crescimento maximizem a produção em estações específicas. Além disso, para ele, o cultivo simultâneo de duas ou mais espécies na mesma área, na mesma safra agrícola (ou ano), podem melhorar a proteção do solo, preservar flora, fauna e biota do solo, reduzir a presença de plantas invasoras e melhorar a distribuição estacional de forragem. Além disso, a prática pode apresentar potencial para melhorar o valor nutritivo para alimentação animal, o consumo e os ganhos de produto animal comercializável.
O pesquisador evidenciou que a temperatura, a disponibilidade de água, a fertilidade do solo e a quantidade de radiação solar são os fatores mais importantes para determinar a quantidade e o valor nutritivo da forragem produzida. “As espécies diferem quanto à reação à temperatura durante as estações do ano. Forrageiras de estação fria têm o pico de produção no inverno e na primavera, enquanto forrageiras de estação quente apresentam maior produtividade durante os meses mais quentes. Em resumo, combinando espécies podemos ter pasto o ano todo”.
Fontaneli reforçou que o uso extensivo de espécies de estação fria é uma estratégia para melhorar a lucratividade da agropecuária e garantir a sustentabilidade agroecológica. “Essas forrageiras, complementares às espécies de verão, produzem uma forragem de alta qualidade e se integram ao ecossistema natural do sul do Brasil, onde predominam campos nativos”, explicou.
Nesse sentido, citou que, nos últimos 30 anos, práticas como a inclusão do trigo para pastagem se consolidaram, diversificando os usos desse cereal. Também apontou o potencial produtivo de Capins, como o Capim elefante e o Capiaçu, para silagem.
Enfatizou, por fim, os princípios gerais na elaboração de misturas ou consorciações. “Primeiro, toda mistura deve conter pelo menos uma espécie de gramínea e uma de leguminosa, mas no máximo quatro espécies. Segundo, a mistura deve ser adaptada à utilização pretendida e ao ciclo”, finalizou o pesquisador.
Gestão nutricional e eficiência
O encerramento do 3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte ocorreu com a palestra “Gestão nutricional para maior eficiência produtiva de vacas de corte”, com o pós-doutor em Zootecnia e coordenador do Núcleo de Estudos em Pecuária de Corte da UFLA, Mateus Pies Gionbelli.
Ele enfatizou que a Universidade Federal de Lavras, em colaboração com outras instituições de pesquisa, empresas e fazendas do setor pecuário, tem estudado a fundo a fisiologia e o metabolismo de vacas de corte, com o objetivo de entender como elas reagem ao ambiente e como isso reflete no sistema de produção. “Nosso objetivo é compreender tanto o funcionamento da vaca quanto o desenvolvimento dos bezerros que ela produz, avaliando como esses bezerros expressarão seu potencial genético e o quão produtivos serão ao longo de suas vidas”, explicou.
A partir dessas pesquisas, Gionbelli explicou que compreenderam mais sobre a fisiologia e o metabolismo dos animais, que variam significativamente ao longo do ciclo produtivo, seja durante a gestação, a lactação ou em diferentes estágios de ambas. “Essas variações impactam a demanda por nutrientes e a capacidade de absorção, o que nos levou ao conceito de gestão nutricional, que integra o conhecimento fisiológico com dados de campo para que seja possível planejar e organizar melhor o sistema de produção, visando maior eficiência”, sublinhou o pesquisador.
Argumentou que cenários fisiológicos e metabólicos são diferentes entre as diversas fases do ciclo produtivo de uma vaca de corte. No terço médio da gestação, citou como características a alta capacidade de consumo, a baixa exigência nutricional e a alta sensibilidade à programação fetal. Já no terço final da gestação, o consumo é ~44% menor do que no terço médio, a exigência é alta e há mobilização do músculo da carcaça. Na lactação, Gionbelli relatou uma alta capacidade de consumo, uma alta exigência nutricional, e que 60% a 85% da energia usada pela glândula mamária vem de AGV e gordura (dieta ou mobilizada).
Abordou ainda o período após a desmama, fundamental do ciclo de produção para vacas que geram um bezerro por ano. “Nesta fase, que ocorre em grande parte dos sistemas de gado de corte, enfrentamos uma época de escassez e baixa qualidade de alimentos, ao mesmo tempo em que a vaca apresenta menor exigência nutricional. O pós-desmama oferece a melhor oportunidade para recuperar o escore corporal das vacas, pois elas apresentam maior potencial de captação de nutrientes, embora o pasto, geralmente, seja de baixa qualidade. Esse cenário reforça a necessidade de uma gestão nutricional planejada, garantindo que recursos alimentares estejam disponíveis para explorar o potencial fisiológico das vacas neste momento crucial do ciclo”, finalizou.
Programação
13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite
8ª Brasil Sul Milk Fair
3º Fórum Brasil Sul de Bovinocultura de Corte
Quarta-feira (06)
Painel Saúde, manejo e ambiente
10h40: Como otimizar o manejo de dejetos?
Palestrante: Alexandre Toloi
11h40: Mesa-redonda
12h20: Almoço
14h: Traduzindo vacas
Palestrante: Marcelo Cecim
15h: Inter-relações entre a saúde e a performance produtiva de vacas leiteiras
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
16h: Milk Break
16h40: Perdas gestacionais – principais causas e como evitá-las
Palestrante: Ronaldo Luis Aoki Cerri
19h: Happy Hour na 8ª Brasil Sul Milk Fair
Quinta-feira (07)
Painel Qualidade da Forragem
08h: Uso da suplementação como estratégia para alta produção de leite em pastagens
Palestrante: Eduardo Bohrer Azevedo
09h: Como a qualidade da forragem altera o desempenho e o comportamento alimentar?
Palestrante: Luiz Ferraretto
10h: Milk Break
10h40: Práticas para maximizar a utilização do amido em silagem de milho e grão úmido.
Palestrante: Luiz Ferraretto
11h40: Mesa-redonda
12h20: Encerramento e sorteio de brindes