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Suínos / Peixes

Mapeamento inédito revela informalidade e expansão da piscicultura paranaense

Devido ao êxito alcançado na criação de tilápia, o Paraná foi selecionado como local para a execução do Ordenamento Territorial da Aquicultura. A iniciativa inédita visa realizar um diagnóstico abrangente, tanto ambiental quanto socioeconômico, da piscicultura paranaense.

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Foto: Jonathan Campos

O Paraná se destaca como o principal produtor e exportador de peixes de cultivo no Brasil, especialmente de tilápia. No ano passado, sua produção atingiu 213.300 toneladas, um aumento de 9,9% em comparação com 2022, segundo dados da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR). Esse volume representa cerca de 24% da produção total do país, reforçando sua posição de destaque entre os estados produtores.

Geógrafa e analista de Geoprocessamento da Embrapa Pesca e Aquicultura, Marta Eichemberger Ummus: “O Paraná é um exemplo paradigmático da piscicultura brasileira, destacando-se por sua cadeia produtiva altamente organizada” – Fotos: Jaqueline Galvão/OP Rural

A liderança indiscutível dos paranaenses coloca o estado em uma posição de referência. Organizado em sistemas produtivos verticalizados e de integração pelas cooperativas agropecuárias, o modelo da atividade pode ser replicado em outras regiões do país, com adaptações necessárias, para impulsionar o crescimento da piscicultura nacional. “O Paraná é um exemplo paradigmático da piscicultura brasileira, destacando-se por sua cadeia produtiva altamente organizada, uma característica singular que não é encontrada em nenhum outro lugar do país, o que elevou a tilápia ao status de commodity”, exaltou a geógrafa e analista de Geoprocessamento da Embrapa Pesca e Aquicultura, Marta Eichemberger Ummus, durante o Inovameat, um dos principais eventos de proteína animal do Paraná, realizado em meados de abril em Toledo.

Benefícios do ordenamento territorial

Segundo a especialista, os benefícios do ordenamento territorial abrangem diferentes aspectos, entre eles redução de conflitos por diferentes usos do solo, identificação de possíveis sinergias com outras cadeias produtivas, mitigação dos riscos ambientais, sanitários e climáticos, além da análise da viabilidade econômica e ambiental das atividades, considerando custos e benefícios. “O ordenamento territorial também possibilita a identificação de áreas ou regiões propícias para a expansão da aquicultura, o estabelecimento de cenários para o seu desenvolvimento e o fornecimento de subsídios para o planejamento estratégico da atividade no Paraná, bem como contribui para a priorização de regiões produtoras e melhora a precisão nos processos decisórios relacionados à aquicultura”, elenca Marta.

Porque no Paraná?

Devido ao êxito alcançado na criação de tilápia, o Paraná foi selecionado como local para a execução do Ordenamento Territorial da Aquicultura. A iniciativa inédita visa realizar um diagnóstico abrangente, tanto ambiental quanto socioeconômico, da piscicultura paranaense. “O planejamento espacial de áreas aquícolas oferece uma série de vantagens à atividade, incluindo o aumento da produtividade e do retorno financeiro para os produtores, além de uma gestão mais eficaz dos riscos ambientais, econômicos e sociais. Para otimizar as políticas públicas, é fundamental compreender a complexidade dos elementos envolvidos na aquicultura, promovendo um processo participativo que englobe todos os stakeholders da cadeia de valor no estado do Paraná”, enfatizou a geógrafa.

Depois de mapear, com imagens de satélite, mais de 78 mil hectares de viveiros escavados para produção aquícola no Brasil, reunindo todos os dados em um sistema espacial de inteligência territorial estratégica para aquicultura, disponível no site da Embrapa Pesca e Aquicultura, a autarquia formalizou uma parceria com a Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (Umipi) do Oeste Paranaense e o Biopark Educação para execução do projeto em solo paranaense. “No banco de dados espacial podem ser encontrados informações sobre a localização das estruturas da cadeia produtiva, comunidades de beneficiamento de pescados, instituições de ensino em aquicultura, fábrica de ração para peixe, laboratórios, mapeamento de viveiros escavados no Brasil e dados coletados em campo por órgãos de defesa agropecuária, ambiental e de assistência técnica rural”, destacou Marta, orgulhosa do trabalho realizado.

De acordo com a especialista, o estudo foi motivado pela importância socioeconômica da piscicultura para segurança alimentar, em que 83% da produção de peixes no Brasil é realizada em áreas terrestres e pelos poucos estudos sobre zoneamentos da aquicultura realizada em áreas terrestres. Já o Paraná foi objeto da pesquisa pela disponibilidade hídrica, alta informalidade na produção (ambiental e sanitária) e pela verticalização da cadeia produtiva.

Durante o estudo, Marta diz que foi observado uma grande informalidade na atividade aquícola paranaense, bem como a expansão da atividade para outras regiões do estado, além do Oeste, que detém a maior produção. “Nem sempre a alta taxa de crescimento está associada a alta produção, porque pode ser que o crescimento aconteceu em um lugar em que não se produzia tilápia antes, no entanto, é preciso enxergar esses polos para regionalizar estas informações a fim de termos a capacidade de prever uma maior assertividade na criação de instrumentos jurídicos de políticas públicas”, afirma Marta.

Pesquisa

Para dar início ao estudo, as instituições convidaram profissionais dos principais elos da cadeia produtiva: produtores, cooperativas, representantes comerciais, fornecedores de insumos, agências de defesa sanitária, ambientais e de assistência técnica rural, associações e pesquisadores da Embrapa, do Instituto Federal do Paraná (IFPR) e da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) para uma oficina participativa, realizada em meados de novembro de 2023, para realizar o planejamento das ações, diagnóstico, prognóstico, articulação interinstitucional e implementação do ordenamento.

O processo de desenvolvimento do ordenamento territorial compreendeu quatro etapas distintas. Na primeira, foi realizado um levantamento abrangente das variáveis de produção, incluindo aspectos como qualidade da água, disponibilidade hídrica, tipo de solo, espaço produtivo, declividade, temperatura, amplitude térmica e altitude, infraestrutura e logística abrangendo rede elétrica, unidades de beneficiamento, centros urbanos, fornecedores de ração, acessos e estradas, assistência técnica, internet e fornecedores. Além de fatores intangíveis, como mercado consumidor, políticas públicas, acesso ao crédito, disponibilidade de mão de obra, rede de cooperativas, associações, universidades e tradição, também foram examinados.

Na segunda etapa, essas variáveis foram discutidas e validadas, enquanto que a terceira etapa envolveu a hierarquização das variáveis em uma plenária. E na quarta etapa as variáveis foram parametrizadas de acordo com as condições ideais, toleráveis, críticas e inviáveis. “No grau de priorização em cada uma das variáveis analisadas a qualidade de água, rede elétrica e mercado consumidor foram considerados os fatores mais importantes”, pontuou Marta.

Objeto de estudo

No âmbito da pesquisa acadêmica, o mapeamento e diagnóstico da piscicultura do Paraná é objeto de estudo do pesquisador de pós-

Pesquisador de pós-doutorado da Unioeste, Bruno Aparecido da Silva: “O projeto é um trabalho pioneiro que tem a possibilidade de trazer resultados muito importantes para subsidiar políticas públicas voltadas à expansão da produção de tilápias no Paraná”

doutorado da Unioeste, selecionado por meio do edital da Fundação Araucária em parceria com Biopark Educação, Bruno Aparecido da Silva. “Esse é um trabalho pioneiro que tem a possibilidade de trazer resultados muito importantes para subsidiar políticas públicas voltadas à expansão da produção de tilápias no Paraná”, evidenciou.

Utilizando uma metodologia inovadora, foi desenvolvida uma técnica automatizada para extrair a localização precisa dos viveiros escavados, permitindo classificar as áreas de atividade aquícola e aquelas não destinadas a essa finalidade. “Este método pode ser replicado em todo o país, inclusive para outras áreas produtivas”, adiantou Silva.

Por meio da aplicação do Google Earth Engine, foi realizado o mapeamento dos viveiros escavados, revelando 42.369 unidades produtivas, com predominância de viveiros em área menor que cinco hectares e em formas mais circulares. Concentrados principalmente nas bacias hidrográficas dos rios Piquiri, Iguaçu e Paraná III, esses empreendimentos são majoritariamente compostos por 94% de pequenos produtores.

Além disso, a pesquisa revelou que 62% dos empreendimentos estão em áreas com declividade ideal, enquanto 37% enfrentam áreas com declividade crítica, e apenas 1% está em áreas inviáveis para a instalação de viveiros escavados. Aspectos como altitude, fundo de vale, tipo de solo e qualidade da água foram avaliados, junto com a proximidade de infraestruturas importantes, como rodovias, rede elétrica, centros urbanos, fábricas de ração e unidades de beneficiamento. “Ainda está prevista a complementação do estudo com a análise da capacidade de vazão das bacias hidrográficas, o acesso à rede elétrica e a coleta de dados de temperatura. Além disso, será finalizada a modelagem da aptidão à piscicultura em todo o estado do Paraná, com a divulgação dos resultados ainda em 2024”, afirma Silva.

Próximos passos

Próximos passos incluem a validação das classes finais de adequabilidade, a formação de redes e grupos de trabalho locais, a identificação dos principais sistemas de produção e graus de intensificação, bem como dos principais gargalos tecnológicos. “Serão propostas intervenções tecnológicas e de assistência técnica, além do desenvolvimento de instrumentos jurídicos para políticas públicas. Essas iniciativas visam aprimorar a gestão da piscicultura no Paraná e impulsionar seu desenvolvimento sustentável”, enaltece Marta.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor da piscicultura brasileira acesse a versão digital de Aquicultura, que pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

ACCS 65 anos: força e inovação na suinocultura catarinense

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Presidente Losivanio Luiz de Lorenzi: "Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses" - Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Fundada em 24 de julho de 1959, a ACCS surgiu em um momento determinante para a suinocultura em Santa Catarina. Na década de 1940, o Oeste Catarinense destacou-se na produção de suínos, impulsionado pela chegada de colonos do Rio Grande do Sul. Entre os pioneiros, Attílio Fontana, fundador da Sadia, viu o potencial da região e investiu na criação de suínos, transformando a produção local em um pilar econômico.

Inovação e melhoramento genético

Na virada da década de 1940 para 1950, a ACCS foi pioneira na introdução de práticas de melhoramento genético. Victor Fontana, sobrinho de Attílio, aplicou métodos racionais e técnicos de criação, resultando em ninhadas de leitões saudáveis e precoces. A Sadia distribuiu um fomento experimental, fornecendo matrizes e ração aos produtores que seguiram suas exigências de higiene e instalações, marcando o início de uma revolução na suinocultura.

Expansão e modernização

Nos anos 1960 e 1970, a ACCS ampliou suas atividades, implementando o registro genealógico dos suínos e promovendo a exposição de suínos que incentivavam a melhoria genética. Em 1976, sob a presidência de Paulo Tramontini, a ACCS liderou a criação da primeira central de inseminação artificial de suínos do Brasil, consolidando Santa Catarina como líder na produção de material genético de qualidade.

Evolução estrutural

A Central de Coleta e Difusão Genética da ACCS (CDG-ACCS), localizada na comunidade de Fragosos em Concórdia, representa um marco de inovação e excelência na suinocultura brasileira. Reinaugurada em 2016, a CDG-ACCS foi a primeira do Brasil a operar dentro dos padrões rigorosos de Bem-Estar Animal, incorporando as melhores genéticas do mercado e estabelecendo um alto padrão de sanidade e produtividade.

Com uma produção mensal de aproximadamente 19 mil doses de sêmen, a central não apenas impulsiona a qualidade genética dos rebanhos, mas também garante a sustentabilidade e a competitividade dos suinocultores catarinenses. O reconhecimento da CDG-ACCS como referência em produtividade e sanidade, destacado em reportagens especiais como a do Globo Rural, reforça seu papel na modernização e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina e no Brasil.

Parcerias e crescimento sustentável

Ao longo das décadas, a ACCS tem sido uma força importante na promoção e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina. Parcerias estratégicas com indústrias, cooperativas e entidades governamentais foram fundamentais para o crescimento do setor. A criação da Cooperativa Agroindustrial dos Suinocultores Catarinenses (Coasc) em 2014 exemplifica esse espírito cooperativo, ajudando produtores independentes a obter melhores condições na compra de insumos.

Desafios e superações

A ACCS não se limita a celebrar conquistas, mas também se destaca pelo seu papel de apoio em tempos de crise. A associação esteve presente em momentos de adversidade, mobilizando a classe e chamando a atenção para as necessidades e demandas dos suinocultores. Este espírito de luta e resiliência garante que os suinocultores continuem a desempenhar um papel vital na economia do país.

Uma voz ativa e presente

A ACCS se tornou uma referência, tanto para a imprensa quanto para os suinocultores. Com um site atualizado diariamente e participações ativas em comissões e eventos, a associação promove o diálogo entre produtores e especialistas, sempre inovações buscando e políticas públicas desenvolvidas ao setor.

Celebração e futuro promissor

Ao comemorar 65 anos, a ACCS reafirma seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade do setor. O presidente Losivanio Luiz de Lorenzi destaca a importância de continuar unidos, superando desafios e construir um futuro ainda mais promissor para a suinocultura catarinense. “Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses,” ressalta.

A trajetória da ACCS é um exemplo de dedicação e sucesso, refletindo a força e a inovação que definem a suinocultura em Santa Catarina. Comemoramos não apenas o passado, mas também as possibilidades ilimitadas do futuro. Parabéns a todos que fazem parte dessa história!

Fonte: Assessoria ACCS
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Suínos / Peixes

Preços do suíno vivo têm movimentos distintos no Brasil

Aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate. As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Os preços do suíno vivo e da carne vêm apresentando movimentos distintos dentre as regiões acompanhadas pelo Cepea.

Segundo pesquisadores deste Centro, os aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate.

Esse foi o caso dos mercados independentes do suíno vivo nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês, devido ao menor poder de compra da população, ainda conforme explicam pesquisadores do Cepea.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos / Peixes Nutrição

Especialista aponta desafios e alternativas para melhorar desempenho zootécnico dos suínos

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção.

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Foto: Shutterstock

A qualidade nutricional dos alimentos não só influencia o desempenho dos animais, mas também afeta diretamente sua capacidade de digestão e absorção de nutrientes, bem como a quantidade de resíduos gerados. Durante o 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado nesta semana no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, essa temática foi abordada pelo mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz.

O especialista vai participar do Painel Novos Desafios na produção de suínos – o que vem por aí?, em que vai tratar sobre “Onde estamos e para onde deveremos ir na área de Nutrição”. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o doutor em Nutrição enfatizou que quanto melhor compreendermos a qualidade dos ingredientes utilizados na formulação dos alimentos para suínos, mais eficiente será a produção dos animais e menores serão os impactos ambientais.

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção. Aborda temas como nutrição de precisão, ingredientes alternativos, redução do uso de antibióticos, nutrigenômica, considerações nutricionais por fase de crescimento, desafios ambientais, estratégias nutricionais para minimizar o estresse térmico e oportunidades para colaboração entre a indústria, academia e o poder público. Confira!

O Presente Rural – Quais são os avanços recentes na nutrição voltada à suinocultura e como essas inovações estão impactando a eficiência alimentar, o crescimento e a saúde dos suínos?

Mário Penz – Quanto mais conhecemos a qualidade dos ingredientes que são empregados na elaboração dos alimentos para os suínos, mais eficiente se torna a produção dos animais e menores são os efeitos poluidores, que podem ser causados pela indevida digestão dos nutrientes e pelo aumento dos dejetos produzidos. Por exemplo, vários nutricionistas calculam as necessidades energéticas dos animais com base nas energias líquidas dos ingredientes, enquanto outros ainda usam energia metabolizável ou, menos comum, energia digestível, ambas menos precisas que a expressão da energia, com base no conhecimento dos valores de energia líquida dos ingredientes.

O Presente Rural – Quais são os principais desafios que os nutricionistas enfrentam atualmente na formulação de dietas para suínos e como estão sendo abordados?

Mário Penz – Continua sendo o conhecimento da real composição dos ingredientes usados nas formulações das dietas para as diferentes fases de produção.

O Presente Rural – Como a nutrição de precisão está sendo aplicada na suinocultura e quais são os benefícios em termos de otimização dos recursos alimentares e redução dos custos de produção?

Mário Penz – Nutrição de precisão tem por objetivo, sempre um pouco paradoxal, oferecer aos animais nutrientes e energia líquida, de acordo com suas necessidades, nas diferentes fases de produção. Quando se lida com nutrição de populações, em diferentes fases de produção, o que se quer chegar é o mais perto do que os animais necessitam, desconsiderando várias diferenças que podem ocorrer por idade, sexo, linhagem, ambiente, propósito de produção, etc. Essa nutrição não obrigatoriamente é “de custo mínimo”.

O Presente Rural – Quais são as tendências emergentes na formulação de dietas para suínos, como a utilização de ingredientes alternativos e a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento?

Mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz: “Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença”. Foto: Divulgação

Mário Penz – Ingrediente alternativo é todo aquele que pode substituir os ingredientes convencionais das dietas, que no Brasil são milho e farelo de soja. Ingredientes como sorgo, milheto, farinhas de origem animal, entre outros, poderão ser empregados, desde que estejam disponíveis em quantidades relevantes, nem que seja por um período específico do ano. Além disso, é importante que se conheça a composição nutricional e energética desses ingredientes, para evitar que tenham seus valores sub ou superestimados. Levando isso em consideração, qualquer oportunidade tem que ser avaliada quanto ao seu custo e ao seu benefício, relacionados com aqueles que o milho e o farelo de soja podem trazer aos animais.

Quanto a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento, esse é um caminho sem volta. Para que não haja perda de desempenho dos animais, os profissionais deverão dar mais atenção aos princípios básicos de saúde animal (saúde intestinal) e menos na mitigação das ações microbianas deletérias. Nesse conjunto de ações, cuidado com a biosseguridade, do ambiente, das dietas empregadas, farão parte dessa nova necessidade de produção.

Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença. Saúde é um processo contínuo, que se mitiga todo o tempo. Doença, mesmo que seja só mitigada pelos promotores de crescimento, sugerem respostas mais rápidas, mas não obrigatoriamente com consistência. Mudar de doença para saúde é algo complexo e que requer mais conhecimento dos profissionais envolvidos na produção de suínos.

O Presente Rural – Como a nutrigenômica e outras tecnologias de ponta estão sendo exploradas para entender melhor as necessidades nutricionais específicas dos suínos e melhorar a saúde intestinal?

Mário Penz – Nutrigenômica é o conhecimento que permite a seleção específica de nutrientes que favorecem a melhor expressão gênica dos animais, permitindo, como consequência, melhor saúde e desempenho dos animais. Esse é outro caminho sem volta, especialmente quando se trata de produzir animais saudáveis e sem o uso de antibióticos. Mas, ainda todo esse conhecimento está pouco apreciado no dia a dia das produções. Entretanto, importantes informações acadêmicas estão disponíveis, que mostram que teremos que olhar o suíno não por fase, mas olhar os resultados finais, desde o início da produção dos reprodutores, que lhes dão origem.

O Presente Rural – Quais são as considerações nutricionais específicas para diferentes fases de crescimento dos suínos, desde a creche até a terminação, e como essas necessidades estão sendo atendidas?

Mário Penz – Lamentavelmente, essa pergunta é extremamente complexa, para que tenha uma resposta simples. Entretanto, tomando o risco da simplificação, os nutricionistas devem estar muito próximos dos técnicos das genéticas, para entender quais são as recomendações por eles oferecidas. Com o tempo, cada profissional vai adaptando seus referenciais, com base na sua experiência e nos resultados práticos de campo. Aqui não tem uma resposta única e a complexidade começa com a identificação que o nutricionista tem com relação ao produto final da produção. Ele está preocupado com o ganho de peso, com a conversão alimentar, com a qualidade da carcaça ou com o menor custo no frigorífico?

O Presente Rural – Quais são os aditivos alimentares desenvolvimentos mais recentemente, como probióticos, prebióticos e enzimas, para promover a saúde intestinal e melhorar o desempenho dos suínos?

Mário Penz – Essa é uma nova era na produção de suínos. Reforço que estamos saindo de uma longa fase, onde os profissionais se preocupavam e se preocupam com eventos sanitários, os mitigando com o uso de antibióticos promotores de crescimento e/ou antibióticos usados de forma preventiva ou terapêutica. Agora estamos entrando na fase da saúde animal, mais complexa, porém inevitável. Muitas são as opções para melhorar a saúde dos animais. Não há um único produto que tenha a chancela de resolver tudo! O técnico deverá ter claro o que está buscando e, com isso olhar as oportunidades disponíveis. De uma maneira geral, tenho me posicionado que nessa nova fase, tudo começa pelo uso de enzimas exógenas, como suplementos indispensáveis. Dietas bem digeridas diminuem a disponibilidade de nutrientes aos microrganismos. Depois, todas as dietas devem ser suplementadas com um antioxidante que tenha ação efetiva, para mitigar processos de oxirredução contínuos dos enterócitos. Enzimas e antioxidantes fazem uma eficiente “dobradinha”. Depois vem os demais aditivos não antibióticos. Aqui o técnico tem que saber o que quer: fortalecer o sistema imune dos animais? A integridade intestinal? A digestibilidade dos nutrientes? Colaborar na regulação da microbiota? São perguntas indispensáveis, pois nessa nova fase não há “receita pronta”. As alternativas serão customizadas, de acordo com as expectativas técnicas esperadas. Para completar, aditivos não antibióticos não estão chegando para melhorar os resultados de granjas que não deem atenção a biosseguridade, ao ambiente, ao bem-estar animal, como sempre pensamos que os antibióticos ajudam ou ajudavam. Essa nova produção animal vem para se empregada em granjas que atendem os princípios básicos de boas práticas de produção e manejo. Ou seja, a mudança de paradigma é grande. Por isso que sempre sugiro que, independente da necessidade de se acomodar a essa nova realidade, o técnico deve começar, com cautela, a entender como produzir nesse novo ambiente tendo parte de seu plantel submetido a essas novas alternativas.

O Presente Rural – Como os desafios ambientais – a redução das emissões de gases de efeito estufa e a sustentabilidade da produção de alimentos – estão moldando a pesquisa em nutrição suína?

Mário Penz – Sustentabilidade é a palavra de ordem. O grande desafio é que a sustentabilidade está baseada em três pilares – econômico/ambiental/social. Com isso, em cada ação temos que olhar como ela afeta um ou mais dos três pilares. O que é certo é que sempre será impossível ter os três pilares sendo atendidos na íntegra. A produção animal sempre buscou a sustentabilidade, mesmo antes do termo ter se consagrado pela Comissão de Bruntland em 1987, que definiu o que seria o Desenvolvimento Sustentável. Por que digo isso? Porque os produtores seguem em suas propriedades em muitos casos por três ou mais gerações. Se não fossem sustentáveis já teriam migrado, como muitos fizeram. Os produtores sempre estão perseguindo, pelos conhecimentos técnicos adquiridos, melhores resultados zootécnicos, representados por melhores conversões alimentares de seus animais. Melhor conversão animal, menos consumo de alimento e água, menor excreção de dejetos, menor poluição do ambiente, especialmente pelo nitrogênio e fósforo excretados. Tudo isso podendo também ser representado pela menor produção de CO₂. Assim, a ciência subsidia os produtores com seus conhecimentos e eles aplicam, para que sigam sendo viáveis economicamente.

O Presente Rural – Quais são as estratégias nutricionais mais eficazes para minimizar o estresse térmico em suínos durante períodos de temperatura extrema?

Foto: Shutterstock

Mário Penz – Não criá-los em temperaturas quentes! A nutrição pode mitigar eventos térmicos de calor, mas são pouco eficientes (reduzir proteína, aumentar a energia por intermédio da inclusão de gordura nas dietas, etc.). O uso de ambiente controlado é uma necessidade indispensável nos novos projetos suinícolas. Além disso, a curto prazo, os animais, nessas condições devem receber água fria, junto com o alimento que consomem. Imaginem uma reprodutora em lactação, que tem que comer algo em torno de 6 a 7 kg de alimento/dia e necessita tomar água com uma temperatura próxima de 15ºC e a ela é oferecida uma água com 30ºC. O que ela vai fazer? Irá comer menos! E, as consequências já sabemos. Assim, resumindo, estresse por elevada temperatura ambiente, primeiro se mitiga com água fria e depois, nos novos projetos, com a construção de galpões climatizados.

O Presente Rural – Quais são as oportunidades futuras para a colaboração entre a indústria de nutrição animal, academia e poder público para impulsionar ainda mais a inovação e o progresso na área de nutrição voltada à suinocultura?

Mário Penz – A tríade indústria, academia e poder público é indispensável se quisermos avançar mais rápido. Cada um dos três segmentos tem a sua responsabilidade. Entretanto, primeiramente cabe a indústria ser clara no que necessita para que a academia se prepare para responder os desafios. Cabe a academia entender que a indústria tem pressa em várias de suas necessidades e se colocar como disponível frente a esses desafios. Ao poder público, favorecer qualquer inciativa pertinente, colaborando com financiamentos e com normas e regulamentos que favoreçam novas descobertas.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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