Suínos / Peixes
Maior produtor de suínos do Nordeste projeta verticalização completa da atividade
Granja Xerez planeja expandir suas operações a partir de 2024, com a construção de uma nova unidade produtora, uma nova fábrica de ração e um abatedouro próprio.

Com um plantel de três mil matrizes, a Granja Xerez, localizada na Região Metropolitana de Fortaleza, CE, é considerada a maior produtora de suínos das regiões Norte e Nordeste do Brasil, com uma produção anual de cerca de 10 mil toneladas de carne suína. Fundada em 1991 por Allan Mororó Xerez Silva, o complexo possui um sítio de produção com três mil matrizes nas cidades de Maranguape e Caridade, distribuída em três Unidades Produtoras de Leitões (UPLs) e 12 granjas para crescimento e terminação. E também atua na avicultura de corte, com abate de 105 mil frangos por semana, duas fábricas para produção própria de ração e uma extrusora de soja. “As atividades da Granja Xerez começaram há 32 anos com frango de corte e há cerca de 22 anos adentramos na suinocultura. Apesar de vários núcleos de produção, atuamos em um sistema integrado de forma independente, sendo todas as granjas de um mesmo produtor”, menciona o médico-veterinário da Granja Xerez, Tiago Silva Andrade, que também é professor na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Ceará e doutor em Zootecnia.
A Granja Xerez utiliza as mais modernas tecnologias de produção, incluindo sistemas de alimentação automatizada, tecnologia de nutrição, construção de galpões com sistemas de pressão negativa, revestimento de telhas de cerâmica, pé direito elevado, arborização, controle de temperatura e umidade, monitoramento sanitário, tratamento da água e densidade de alojamento nas baias. “Conseguimos atenuar o calor gerado pelo sol com investimentos em ambiência, por outro lado, aqui não tem uma variação muito grande de temperatura, o que para a saúde dos animais é bastante importante”, pontua Andrade, acrescentando: “Posso afirmar que as nossas granjas tecnificadas não deixam nada a desejar para as granjas do Sul do país, porque as tecnologias chegam aqui também”.

Médico-veterinário da Granja Xerez, Tiago Silva Andrade
De acordo o médico-veterinário, o Ceará oferece condições climáticas ideais para a criação de suínos, uma vez que apresenta uma temperatura estável ao longo de todo o ano, sem muitas variações térmicas. Das três UPLs, uma é totalmente climatizada com pressão negativa. Essa granja está localizada em um dos lugares mais quentes do Ceará, com temperatura média de 32ºC. “Com a pressão negativa conseguimos oferecer uma sensação térmica de 25º C para as 700 matrizes que estão alojadas, inclusive esta unidade foi reconhecida entre as 10 melhores do Brasil na categoria 501 a 1000 matrizes no Prêmio Melhores da Suinocultura Agriness, com índice de desmame fêmeas/ano superior a 35 e uma produção de mais de 235 quilos de leitões desmamados por fêmea/ano”, conta Andrade, orgulhoso.
Visando a sustentabilidade do negócio, os resíduos orgânicos são reaproveitados para produção de biofertilizantes e a geração de energia. “Atualmente usamos o biofertilizante nas propriedades da Granja Xerez, mas temos um projeto para comercializar esse produto futuramente”, adianta Andrade. “Hoje para você criar suínos tem que ser sustentável, porque é uma atividade que tem um potencial poluidor muito grande”, argumenta o profissional.
Escoamento da produção
Com uma produção média de 15.2 leitões nascidos vivos por fêmea, a granja comercializa aproximadamente 1,5 mil animais terminados por semana. Cerca de 90% desse total permanece na Região Metropolitana de Fortaleza, enquanto o restante é destinado a cidades do interior. O preço do quilo do suíno vivo, em setembro, variava entre R$ 8,50 e R$ 8,80. “Na Região Metropolitana de Fortaleza três abatedouros recebem nossos produtos. Por enquanto a Granja Xerez ainda não tem uma estrutura própria para abate”, expõe Andrade.
Atento às demandas do mercado, o médico-veterinário conta que a preferência dos consumidores cearenses é por animais com peso que varia entre 95kg e 105kg, mas a Granja Xerez identificou um nicho de mercado para trabalhar com animais mais pesados. “Em alguns mercados oferecemos animais com até 120kg, peso acima da média do Nordeste, estratégia que nos permitiu ampliar nossas vendas”, ressalta.
O profissional diz que um dos grandes diferenciais para os produtores cearenses está no valor de venda dos animais, que em média são comercializados entre R$ 1,50 a R$ 2 mais alto do que a média da Bolsa de Suínos do Estado de Minas Gerais (BSEMG). “Esse valor superior de venda nos permite enfrentar uma crise com maior resiliência em comparação aos produtores das regiões Sul e Sudeste do país, que enfrentaram dificuldades significativas nos últimos anos. Isso ocorre porque nossos preços de venda são mais altos, mesmo que nossos custos de produção sejam comparáveis aos de outras regiões do Brasil”, salienta.
Desafios
Entre os gargalos enfrentados pelos suinocultores cearenses, Andrade pontua que o principal deles é o custo com frete, o qual vem sendo superado com a safra expressiva de grãos na região do Matopiba – formada por regiões dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – que no ciclo 2022/23 produziu 35 milhões de toneladas, crescimento de 92% em comparação à temporada 2013/14, quando chegou a 18 milhões de toneladas.
De acordo com o estudo Projeções do Agronegócio, Brasil 2022/23 a 2032/33, divulgado recentemente pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Matopiba deve produzir 48 milhões de toneladas, em uma área plantada de 11 milhões de hectares, nos próximos 10 anos. “Como os grãos vêm de fora do Estado, o custo com frete para os produtores do Nordeste é bem maior se comparado com o custo de produção da região Sul e Sudeste do país. Contudo, a produção em escala do Matopiba está aproximando os grãos do Ceará, fazendo com que os produtores reduzam seus custos com logística, o que está balizando um pouco nosso custo de produção”, afirma Andrade.
Por sua vez, a sanidade segue sendo um dos maiores desafios da suinocultura cearense que, com exceção da Bahia e de Sergipe, os demais estados nordestinos seguem com a Peste Suína Clássica (PSC) presente em suas criações. “Participei em 2019 do grupo de trabalho que desenvolveu o Plano Nacional de Erradicação da Peste Suína Clássica no Nordeste, cujo projeto piloto está em execução em Alagoas. Espero que essa campanha de vacinação seja viabilizada economicamente para que possa ser estendida para o restante dos estados nordestinos, de modo que daqui a oito ou dez anos possamos alcançar um status sanitário mais favorável, o que vai nos permitir competir em pé de igualdade com outras regiões do país e buscar a certificação de zona livre da PSC”, anseia.
Oportunidades
A maioria dos grãos utilizados para produção de ração são da região do Matopiba, especificamente do Maranhão e do Piauí. “O crescimento da produção de grãos nessa região, aliado à proximidade geográfica com o Ceará, nos permitiu reduzir significativamente nossos custos em comparação com o que era praticado há 15 ou 20 anos atrás”, menciona.
Andrade destaca que, em operação, a Ferrovia TransNordestina, cuja primeira fase está programada para ser concluída até 2027, ligará a nova fronteira agrícola brasileira – composta pelo Sul dos estados do Piauí e Maranhão, além do Norte do Tocantins e Oeste da Bahia –, aos portos do Pecém (Ceará) e Suape (Pernambuco), diminuindo os custos com fretes rodoviários para transportar os grãos. “Com sua operação em pleno funcionamento vamos poder transportar milho, farelo de soja e outros grãos por via férrea, o que vai resultar em uma redução adicional nos custos de frete”, afirma.
Andrade também vislumbra o mercado das exportações de carne suína nordestina em um futuro próximo, dado a proximidade do Porto do Pecém com a Europa e a África. “Mas, para isso, é necessário trabalharmos bem a sanidade nas granjas nordestinas”, salienta.
Com 54,6 milhões de habitantes, a população da região Nordeste é conhecida por sua preferência pelo consumo de produtos in natura, contudo a média de carne suína consumida pelos nordestinos varia entre oito e nove quilos, muito abaixo da média nacional, de 20,5 quilos per capita, de acordo com dados da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS). “Temos um grande mercado para ser explorado. Se conseguirmos melhorar o consumo interno no Nordeste vamos impulsionar um maior crescimento do nosso setor”, frisa Andrade.
Conforme o doutor em Zootecnia, o pontapé inicial para o desenvolvimento da suinocultura no Ceará foi dado com a produção em escala na região de Matopiba, aproximando a produção de grãos dos produtores cearenses. “Agora, estamos focados em otimizar a utilização da Transnordestina para reduzir ainda mais os custos de transporte para nos tornarmos mais competitivos. Além disso, se o Plano Nacional de Erradicação da PSC for bem-sucedido no Nordeste, estou certo de que essa região se tornará a nova fronteira pecuária e agrícola do Brasil”, exalta, enfatizando: “Temos todos os ingredientes para desenvolver melhor a suinocultura no Ceará e no Nordeste: tecnologia, disponibilidade de grãos, clima favorável e, em breve, teremos a infraestrutura logística necessária para tornar o transporte de grãos mais acessível e os portos para exportação mais eficientes. Vejo com grande otimismo o futuro da suinocultura nordestina nos próximos 10 anos”.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará possui 1,2 milhão de suínos e 199,2 mil matrizes suínas. “Dentro do Ceará existem em torno de 70 a 80 granjas automatizadas, o restante é de subsistência, em sua grande maioria de pequenos produtores que abastecem o comércio local onde estão inseridos”, expõe.
Expansão
Vislumbrando esse potencial de mercado que a Granja Xerez planeja expandir suas operações. No início do próximo ano deve iniciar a construção de uma nova granja no município de Caridade, com capacidade para mil matrizes, ampliando seu plantel para quatro mil leitoas. “Essa nova unidade de produção será construída de acordo com as mais recentes regulamentações de bem-estar animal do Ministério da Agricultura, permitindo a implementação de gestação coletiva na granja. Temos ainda um tempo para nos adaptarmos em relação às outras granjas que ainda são em gaiola, mas já estamos estudando como vamos fazer essa transição para as baias de gestação coletiva”, frisa Andrade. “Com essa expansão acredito que vamos aumentar a nossa presença no interior do estado”, completa.
O médico-veterinário também adianta que está em fase de negociação com uma empresa de genética para que a nova unidade possa ser destinada para multiplicadores de rebanho. “Quem sabe em um futuro próximo, possivelmente de curto a médio prazo, vamos poder transformar a Granja Xerez em uma unidade de multiplicação genética. Isso vai depender do resultado das negociações, uma vez que o mercado de genética opera de forma distinta, com base na Bolsa de Minas, onde os preços diferem dos praticados no Ceará. No entanto, a perspectiva é que haja vantagens logísticas, já que a produção local será mais econômica, sendo beneficiada pelo fato de os animais já nascerem em um ambiente aclimatado. Caso a negociação para estabelecer a unidade de multiplicação no Ceará não se concretize, vamos expandir nosso plantel para quatro mil matrizes, mantendo a mesma genética que temos trabalhado por mais de duas décadas”, evidencia.
Andrade antecipa que também há planos para construir um abatedouro próprio e buscar a verticalização completa da atividade, atuando em todos os estágios da suinocultura, desde a produção na central de sêmen até a mesa do consumidor.
Fábrica própria de ração
A Granja Xerez possui duas fábricas de ração próprias, situadas a uma distância entre 30 e 40 km de suas granjas, além de contar com uma extrusora de soja. Em vista do projeto de expansão, uma nova unidade fabril de rações foi construída e a infraestrutura já está pronta, restando apenas a instalação dos maquinários para entrar em operação. “Optamos pela produção própria da ração por conta do custo, que é alto se formos comprar já pronta, sem dizer que com a nossa fábrica temos todo o processo de qualidade na nossa mão. Comprando os grãos e fazendo a nossa própria ração conseguimos fazer o controle de fabricação”, sustenta Andrade, destacando que a Xerez emprega em torno de 500 pessoas nas áreas administrativa, avicultura de corte, suinocultura, fábrica de ração, manutenção e construção civil.
Sem antibióticos
Andrade afirma que nas fases de crescimento e terminação dos animais não é usado nenhum tipo de antibiótico. “São três meses sem antibióticos na ração, só é usado em caso de necessidade via água, mas pela ração já estamos há algum tempo sem antibióticos na fase de crescimento e terminação. Para isso usamos produtos que beneficiem a saúde intestinal dos animais. Também trabalhamos muito forte a questão do vazio sanitário, em que é respeitado rigorosamente sete dias sem nenhum animal nas granjas de terminação. Conseguimos não usar antibiótico porque temos esse cuidado que vem desde a preparação das matrizes até o final do ciclo”, exalta.
“Temos todos os ingredientes para desenvolver melhor a suinocultura no Ceará e no Nordeste: tecnologia, disponibilidade de grãos, clima favorável e, em breve, teremos a infraestrutura logística necessária para tornar o transporte de grãos mais acessível e os portos para exportação mais eficientes”
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Suínos / Peixes
Modelagem, inteligência artificial e big data são o futuro da suinocultura, defende médico-veterinário
Profissional enfatiza durante o Pork Meet Rio Verde que estes temas ainda são novos para uma grande parcela dos produtores, mas que vão auxiliar muito os sistemas de produção.

Com uma abordagem focada em tecnologia, o Pork Meet Rio Verde, promovido no dia 28 de setembro, em Rio Verde, GO, pela Agigo, contou com a palestra “Aos suinocultores, o futuro! Uma abordagem sobre modelagem, inteligência artificial e big data”, com o médico-veterinário e mestre em Ciência Animal, Marcino Pereira Junior. O profissional apresentou um panorama sobre como as novas tecnologias podem agregar valor ao setor, trouxe apontamentos sobre o futuro e enalteceu a importância da modernização das ferramentas na era da indústria 4.0.
De forma simples ele explicou que estes três termos estão interligados, pois a modelagem matemática permite a simulação e previsão de resultados com base em dados passados e condições variáveis, enquanto a IA aprimora a capacidade de análise e tomada de decisões, identificando padrões e otimizando processos. Esses dois elementos se beneficiam do big data, que serve como base para a coleta e armazenamento de uma grande quantidade de informações valiosas que, por sua vez, alimentam a modelagem e o aprendizado da IA, promovendo a evolução e a inovação contínuas.
“Mas a pergunta que eu quero responder é o que isso tem a ver com a suinocultura? Minha resposta é simples, num futuro próximo vamos utilizar estas ferramentas para conseguir modelar o acúmulo de informação de uma forma consistente e tratar esta informação para tomada de decisão do dia-a-dia da granja”, observa Marcino.
Modelagem matemática

Médico-veterinário e mestre em Ciência Animal, Marcino Pereira Junior – Foto: Sarah Nunes
Pereira explicou que a modelagem matemática envolve simulações de casos reais a fim de prever o resultado de algo no futuro. “De forma prática, podemos usar a modelagem para prever um resultado próximo, como peso e a conversão alimentar de um suíno. A modelagem pode trazer mais assertividade para o trabalho dos técnicos, extensionistas e produtores. Desta maneira, a modelagem possibilita a produção de um leitão mais tech”, pontua.
O profissional rememorou que a história da modelagem matemática mostra que ela já é estudada há mais de 30 anos na produção de proteína animal, mas que ela não era utilizada porque ela não era eficaz, já que não existiam sistemas que possuíam a capacidade de alcançar o objetivo que havia sido modelado. “A prática do campo não trazia a modelagem que você havia previsto, porque possuem muitas variáveis. Hoje a história é diferente, pois os sistemas evoluíram e o acompanhamento é preciso. Por conta disso, cada vez mais podemos confiar nas modelagens que são feitas no campo, porque com o auxílio de softwares de gestão, elas auxiliam na administração correta da granja”, reforça.
Modelagem creche
O médico-veterinário disse que o setor da creche é um dos mais difíceis de se fazer a modelagem matemática porque a creche herda muitos efeitos de erros da maternidade, o que dificulta a modelagem do animal. “Durante o período de adaptação na creche, cerca de 15 a 20 dias, podemos ter muitos efeitos rebotes de como foi a vivência do suíno na maternidade. Desta forma, esses efeitos podem contribuir para que os animais não consumam os ingredientes necessários, ou não se adaptem de forma correta. Isso pode ocasionar um erro maior do que eu consigo predizer, o que não favorece a modelagem”, explica.
Modelagem na terminação
De acordo com ele, é na terminação que a modelagem matemática pode ser melhor aproveitada e isso ocorre por dois motivos. O primeiro é que o animal tem efeitos externos muito menores e o segundo é que ele precisa de água e ração. “Neste ciclo ele não tem outras variáveis, desta forma, a modelagem consegue identificar se ele teve algum problema no caminho e dizer o que foi que aconteceu, para que o produtor consiga corrigir este problema, para que no final ele possa entregar um leitão sadio para o abate”, afirma.
Modelagem da reprodução
O ciclo da reprodução também é bastante complexo, porque é preciso contar com o desenvolvimento da fêmea, o crescimento do feto, com o líquido amniótico, a recuperação da fêmea da última lactação, bem como é necessário contabilizar a produção de leite que ela vai ter, juntamente com a formação de glândula mamária. “Por conta de todos estes processos, a modelagem pode ser feita, mas ela vai ficando cada vez mais complexa nesta etapa”, pontua.
Big Data

Foto: Shutterstock
Marcino descreveu o big data como um grande banco de dados, que armazena muitas informações importantes e que são pertinentes para a resolução de desafios que estão presentes no dia-a-dia da granja, sendo que ele possibilita também velocidade, volume e variedade de informações. “O big data oferece a capacidade de compilar e armazenar informações significativas, o que vai possibilitar mais eficiência na tomada de decisões na granja”, destaca.
Ele disse os centros acadêmicos estão utilizando o big data e resgatando um grande acúmulo de informação que foram geradas para replicar e melhorar os problemas das granjas. “Hoje observamos que as teorias estão sendo aplicadas e sendo eficientes nas práticas do dia-a-dia da granja”, observou o profissional acrescentando que o big data precisa ser constituído de dados que possam ser traduzidos em conhecimento e que devem estar arquivados de forma organizada e serem acessados com facilidade.
Inteligência Artificial
Com relação a IA, Marcino pontuou que ela é a responsável por auxiliar o entendimento dos dados que são coletados pelos sistemas, pois ela concentra as informações e possibilita um entendimento daqueles dados. “Na prática, a IA permite também a automação da tomada de decisão com base em dados coletados. Se treinarmos ela de forma eficiente, ela pode ajudar a identificar problemas e fornecer sugestões para melhorias. Ela consegue apontar quais são os nutrientes que podem ajudar a ter melhores resultados, tornando o processo mais eficiente”, exemplifica.
O profissional também discorreu sobre a evolução dessas ferramentas na suinocultura e como elas podem ser aplicadas em diferentes estágios da produção, da reprodução à terminação. “À medida que a genética dos suínos evolui, é essencial manter-se atualizado e aproveitar as novas ferramentas para melhorar a produção. Temos granjas muito grandes, onde é inviável manipular os dados de forma manual, nestes casos a IA pode ser uma grande aliada”, sugere.
Redução da mortalidade
A utilização de IA, modelagem matemática e big data também foi associada à redução da mortalidade na produção de suínos e à otimização da tomada de decisões. Pereira enfatizou que, em um futuro próximo, essas tecnologias devem ser fundamentais na maneira como as granjas são construídas e gerenciadas, permitindo a coleta e a análise mais eficaz de dados para melhorar os resultados da suinocultura.
De acordo com ele, a suinocultura está se adaptando às novas tecnologias, e a integração da IA, big data e modelagem matemática promete aumentar a eficiência, reduzir custos e melhorar a produtividade, criando um futuro mais promissor para o setor. “Um exemplo prático disso é que hoje é possível saber, num tempo de 10 segundos, se eu já tiver a projeção da modelagem matemática de produção, eu posso definir para o produtor qual é o melhor ponto entre a comercialização frente à realidade do preço da ração naquele momento e o custo do cevado de venda daquela semana. Desta forma, eu preciso acompanhar os números e modelar minha granja para que eu consiga ter uma resultado cada vez melhor”, menciona.
Possibilidades
O profissional apresentou algumas ferramentas e aplicativos que podem ser utilizados na produção de suínos, como as câmeras inteligentes – smartcam, que têm a função de passar por cima das baias, calculando o peso dos cevados diariamente e armazenado os dados em softwares, e o sound talks, que é um aplicativo que identifica o aspecto sanitário da granja, indicando o nível de pressão de infecção na parte respiratória dos animais, entre outros.
Maior desafio
Marcino também enalteceu que o objetivo de todo produtor é manter o nível mais alto de produtividade na granja, salientando que existem ações que podem auxiliar na melhoria da conversão alimentar, bem como na redução da mortalidade. “A IA pode ser uma grande aliada, mas ela não vai trabalhar sozinha. Precisamos de pessoas para gerenciá-la”, aponta.
E qual seria o grande próximo passo da suinocultura? Segundo ele, é a possibilidade de valer-se das informações e tecnologias disponíveis e tomar a melhor decisão de forma rápida e eficiente. “Acredito que, num futuro muito próximo, isso vai moldar como a gente constrói as nossas granjas, porque quanto mais informações relevantes eu tiver da minha propriedade melhor serão as minhas condições de tomada de decisões. Com certeza teremos melhores resultados”, aponta.
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Suinocultura segue com margens positivas, mas custos começam a incomodar
O custo de produção da suinocultura avançou 2,1% em outubro (R$ 5,86/kg vivo) ao passo em que o animal desvalorizou 0,4% na média ponderada da Região Sul e Minas Gerais.

Os preços do suíno e da carne seguiram relativamente equilibrados nos últimos trinta dias, sustentando as margens no campo positivo, apesar de o resultado por cabeça terminada estar gradualmente diminuindo diante dos custos voltando a se elevar. Do lado da demanda externa, os embarques de outubro vieram um pouco mais baixos, mas longe de anularem o bom resultado do ano, que pode inclusive bater um novo recorde.
O custo de produção da suinocultura avançou 2,1% em outubro (R$ 5,86/kg vivo) ao passo em que o animal desvalorizou 0,4% na média ponderada da Região Sul e Minas Gerais. Com isso, o spread da atividade veio de 11% em set/23 para 8% no último mês, ou R$ 55/cabeça. Já na parcial de novembro, o indicador aponta para 6%, pressionado pelos custos, voltando a subir.

Fonte: Cepea
Do lado da oferta, segundo os números preliminares do IBGE, os abates de suínos no 3T23 (14,6 milhões de cabeças) foram 0,5% maiores sobre o igual trimestre do ano anterior, porém a produção de carne subiu 2,4% dado o maior peso médio das carcaças. Vale lembrar que após terem começado o ano crescendo 3,3% (1º tri), o segundo trimestre mostrou redução de 1%, voltando agora a se expandir.
Com relação às exportações, foram 82,6 mil t in natura embarcadas em outubro, 8,4% abaixo de out/22. Ainda assim, o crescimento acumulado no ano foi de 7,8% sobre 2022. Por outro lado, o preço médio de embarque continuou em queda, pelo quinto mês consecutivo, desvalorizando 1,4% em out/23 sobre set/23, o que é 7,5% inferior a set/22. Cabe dizer que, tanto nos EUA quanto na China os preços também continuaram caindo em outubro e primeira quinzena de novembro.
Curto prazo deve seguir favorável mas cenário de custos preocupa
O cenário para a suinocultura segue favorável para o final do ano, com o período favorecendo o bom fluxo de vendas internas, mas com os preços podendo enfraquecer sazonalmente a partir da virada de ano. Entretanto, do lado dos custos, o cenário vem ficando mais preocupante. De acordo com o USDA, os dois principais produtores globais de carne suína, China e União Europeia, terão redução da produção em 2024, de 1% e 1,6%, respectivamente, que somados significam 900 mil toneladas a menos, ambos com indicação de fraca demanda esperada e redução do rebanho. Porém, Brasil, EUA e Vietnã deverão expandir, de modo que a produção global deve permanecer estável no próximo ano.
As exportações para 2024 também tendem a seguir favoráveis, com o Brasil bem posicionado para capturar oportunidades diante das menores produções da China e da EU. Entre os exportadores, os destaques são os EUA e o Brasil, com crescimentos de 85 e 80 mil t sobre 2023, respectivamente. O órgão americano destacou que o Brasil seguirá ampliando seu market share sobre a Europa e os EUA, sobretudo no Japão e no México. Há apenas 3 anos, a Europa significava 41% do trade global, percentual que deverá cair para 31% em 2024. Já os EUA respondiam por 26% em 2020 e devem caminhar para 30% em 2024 enquanto o Brasil veio de 9% em 2020 para 15% previstos para 2024.
Seguimos otimistas quanto à demanda para o próximo ano, tanto interna quanto externa. O cuidado a ser tomado é a gestão dos riscos de preço dos grãos, sobretudo porque, possivelmente, a produção de carne suína tende a seguir crescente.

Spread da exportação de carne de frango
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Perdas gestacionais em matrizes suínas
A compreensão da etiologia, sintomas, lesões fetais, aliados aos métodos de diagnóstico, são cruciais para o controle e prevenção destas afecções.

Perdas gestacionais em suínos podem ser atribuídas a fatores infecciosos e não infecciosos. As taxas de abortamento no Brasil variam de 1% a 2,5%, e diversos patógenos, como Circovírus Suíno, Parvovírus, Leptospira sp., Brucella suis, entre outros, podem causar distúrbios reprodutivos, assim como fatores não infecciosos incluindo ingestão de micotoxinas, nutrição inadequada, genética, altas temperaturas e manejo inadequado.
A compreensão da etiologia, sintomas, lesões fetais, aliados aos métodos de diagnóstico, são cruciais para o controle e prevenção destas afecções.
Neste artigo serão abordadas algumas das causas de perdas gestacionais envolvendo etiologias não-infecciosas e infecciosas.
Causas não infecciosas
Micotoxinas:
As micotoxinas são metabólitos tóxicos produzidos por fungos em grãos e cereais usados na alimentação animal, sendo a zearalenona, alcaloides do ergot e tricotecenos mais rejudiciais para suínos. A zearalenona é originária de fungos Fusarium, e atua como o estrógeno, causando efeitos hiperestrogênicos que levam à morte embrionária, abortos, natimortos e malformações em leitões. Alcaloides do Ergot são produzidos por fungos do gênero Claviceps, e causam agalaxia em matrizes, impactando a lactação e levando a problemas de saúde neonatal. Tricotecenos são produzidos por vários fungos, incluindo Fusarium, Stachybotrys e outros, podem causar degeneração ovariana, atrofia uterina, abortos, redução de peso fetal e problemas de ossificação em leitões.
Estresse calórico e Sazonalidade:
As raças suínas utilizadas no Brasil são pouco adaptadas ao clima tropical, o que pode refletir na reprodução devido ao estresse calórico e fotoperíodos prolongados. A infertilidade de verão pode estar relacionada à interrupção precoce da gestação, possivelmente devido ao reconhecimento materno inadequado. Estudos mostraram que o calor afeta negativamente o papel do corpo lúteo na secreção de progesterona e no desenvolvimento embrionário, mas a relação exata permanece incerta.
Mudanças no fotoperíodo entre as estações têm impactos negativos, como aumento nos retornos irregulares ao estro, abortos e redução no tamanho das leitegadas. A redução do fotoperíodo afeta a síntese de melatonina, diminuindo a liberação de GnRH, LH e progesterona, prejudicando o desenvolvimento embrionário e a manutenção da gestação.
Efeito da nutrição e do escore corporal:
O desempenho reprodutivo das matrizes suínas está diretamente ligado à sua nutrição. A alimentação com aminoácidos, vitaminas, minerais e outros nutrientes é essencial para o ambiente intrauterino, e deficiências desses nutrientes podem levar ao crescimento retardado do feto.
A condição corporal das matrizes no momento da cobertura também é crítica para o desempenho reprodutivo. Porcas que passam por restrição alimentar na última semana de lactação têm uma taxa de sobrevivência embrionária reduzida. Estudos mostraram que uma menor espessura de toucinho nas fêmeas no final da gestação está relacionada a um maior número de natimortos. Portanto, é importante evitar a perda de gordura durante a lactação para obter bons resultados reprodutivos após o desmame.
Causas infecciosas
Parvovirose Suína:

Fetos mumificados de tamanhos variados, indicando morte fetal em momentos diferentes – Foto: Mariela Aparecia Claro Martines
A parvovirose suína afeta principalmente marrãs e resulta na mumificação de fetos. Ela é causada pelo parvovírus suíno (PPV), que é resistente ao ambiente e endêmico na maioria das granjas. A infecção do feto ocorre via fluídos corporais, replicação nos tecidos placentários ou células do sistema imune. Se a infecção ocorrer antes de 30 dias de gestação, pode causar morte embrionária e retorno irregular ao estro. Entre 30 e 70 dias de gestação, pode levar à morte fetal e mumificação, mas a transmissão se dá de forma lenta entre os fetos, fazendo com que seja possível o nascimento de leitões saudáveis juntamente com os mumificados. Após 70 dias, o sistema imunológico fetal é capaz de combater o vírus. A vacinação de matrizes é importante para prevenção da infecção.
Circovirose Suína:
O circovírus suíno (PCV) é um vírus que pertence à família Circoviridae, sendo o PCV2 e PCV3 os mais ligados a perdas reprodutivas em suínos. Esses vírus estão associados a outras doenças reprodutivas, e podem infectar embriões suínos, levando a morte embrionária e retorno ao estro. Pelo menos três critérios devem ser considerados para o diagnóstico de PCV: 1) abortos tardios e natimortos, às vezes com hipertrofia evidente do coração fetal; 2) presença de lesões cardíacas caracterizadas por extensa miocardite fibrosante e/ou necrotizante; 3) presença de grandes quantidades de PCV2 em lesões miocárdicas e outros tecidos fetais. A vacinação de matrizes é recomendada para prevenir a infecção em leitões e evitar perdas reprodutivas.
Leptospirose:
A leptospirose em suínos gera impactos econômicos e sanitários significativos, por se tratar também de uma zoonose, é causada por diferentes sorovares de Leptospira, sendo os mais importantes para suínos o Pomona e o Bratislava. A transmissão ocorre principalmente pelo contato com a urina de animais infectados, especialmente de ratos. A infecção intrauterina pode ocorrer durante a fase de bacteremia após a infecção, resultando em abortos, natimortos e doenças neonatais, principalmente quando a infecção ocorre na última metade da gestação. O controle da doença envolve vacinação de animais reprodutores, controle de vetores e tratamento dos suínos afetados.
Brucelose:

Leitões natimortos, etiologia desconhecida – Foto: Mariela Aparecia Claro Martines
A brucelose em suínos, causada principalmente pela Brucella suis, é uma doença com potencial zoonótico. A transmissão ocorre pelo contato direto com suínos infectados, fetos contaminados, membranas fetais, corrimento ou via venérea. A capacidade de Brucella spp. de invadir, sobreviver e proliferar em macrófagos e trofoblastos placentários é essencial para a infecção.
A infecção no início da gestação leva à morte embrionária com retorno irregular ao estro, enquanto a infecção no final da gestação resulta em aborto, fetos de vários tamanhos, natimortos ou leitões nascidos vivos infectados e com baixa vitalidade. Não existe vacina disponível, portanto, a prevenção depende de medidas rigorosas de biossegurança.
Doença de Aujeszky:
Doença causada pelo Herpesvírus Suíno Tipo I, que tem o suíno como hospedeiro natural e reservatório. Pode causar doenças neurológicas, respiratórias, além de perdas reprodutivas. A infecção começa nas células epiteliais da mucosa nasal e orofaríngea, espalhando-se para os neurônios do sistema nervoso periférico. Também pode se disseminar para o útero, onde causa vasculite e trombose, levando a abortos. Os sinais clínicos em matrizes variam de acordo com a fase da gestação e incluem morte embrionária, reabsorção fetal, fetos mumificados, aborto, natimortos, sintomas respiratórios e febre. A vacinação é fundamental para o controle e prevenção da doença e de perdas econômicas.
Peste Suína Clássica (PSC):

Marina L. Mechler Dreibi – Foto: Divulgação/Ourofino
Causada por um Pestivírus que acomete suínos domésticos e suídeos selvagens, a doença é altamente contagiosa e de notificação obrigatória no Brasil e pela OIE devido à sua importância econômica. O Brasil tem uma zona livre de PSC que abrange grande parte da produção de suínos, mas há surtos limitados em estados das regiões Norte e Nordeste.

Feto mumificado, etiologia desconhecida – Foto: Arquivo pessoal do autor
A transmissão ocorre por via oral ou nasal, com replicação nas tonsilas, linfonodos regionais e em outros órgãos. O vírus pode atravessar a barreira placentária e afetar fetos em qualquer fase da gestação, ocasionando retorno ao estro, aborto, mumificação fetal, natimortos e malformações congênitas. A vacinação é permitida apenas em países ou áreas não livres de PSC e sua implementação depende da situação epidemiológica e econômica local.
Conclusão
A gestação em suínos pode ser acometida por doenças infecciosas e não infecciosas, que, em geral, levam ao retorno ao estro, abortos, natimortos, mumificados e leitões fracos. Além do impacto reprodutivo, é importante ter em mente que essas doenças também estão associadas a perdas econômicas devido aos dias extras não produtivos de porcas e marrãs no rebanho.
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