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Bovinos / Grãos / Máquinas

Impacto de quatro doenças reprodutivas da pecuária leiteira

Reprodução é sem dúvida um dos pontos mais importantes que devem ser levados em consideração

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Artigo escrito por Giovani Pastre, médico veterinário, especialista em Produção de Leite e Reprodução Bovina, metre em Ciência Animal e gerente Técnico Biológicos – FPA  – Virbac Brasil

A pecuária leiteira é sem dúvida um negócio muito rentável. Apesar de ocorrerem continuamente variações de preço pago ao produtor e variações no preço das commodities usados como alimentos para as vacas, a atividade mostra-se ainda assim bem atrativa. Porém seu máximo retorno econômico depende da adequação de inúmeros pontos da “porteira para dentro”.

A reprodução é sem dúvida um dos pontos mais importantes que devem ser levados em consideração. Saber como está o nível de eficiência reprodutiva é fundamental para saber o quanto pode ser melhorado. O intervalo entre partos (IEP) de uma fazenda é um indicativo básico e de fundamental conhecimento para determinar o status de eficiência reprodutiva que fazenda se encontra. Dados da Embrapa nos mostram um aumento de cerca de 8% na produção a cada 30 dias que conseguimos reduzir o IEP.

O aumento de 8% na produção a cada 30 dias de redução no IEP pode nos dar uma ideia de como a produção pode aumentar, em um rebanho com longos intervalos entre partos, com 18 meses de IEP, por exemplo, para um rebanho com 12 (ideal) ou até 13 meses de IEP. O aumento da produção pode ser de até 48% quando saímos de 18 meses para 12 meses de IEP.  48% de aumento é muita coisa para um setor em que o lucro vem em centavos com os ajustes dos mínimos detalhes dentro da fazenda.

Principais causas de falhas reprodutivas e perdas gestacionais

Qual é a saída para chegarmos nos almejados 12 meses de IEP?  Ter uma reprodução eficiente é a base para alcançar este patamar. E quando falamos de reprodução em bovinos de leite, inúmeros fatores estão envolvidos nas perdas gestacionais. No campo, em contato com fazendeiros e veterinários, estima-se perdas na ordem de 25% no início da gestação, com repetições de cio e morte embrionária até os 42 dias de gestação. Dos 42 dias até o parto, perdas na ordem de 10% são visualizadas rotineiramente.

Quais os fatores estão envolvidos com estas perdas?

 Diversas são as causas envolvidas, sendo as principais descritas a seguir:

  • Falha nutricional: A energia é o principal nutriente requerido por vacas em reprodução. A mineralização de vacas no período de transição é muito importante para o desempenho reprodutivo pós-parto.
  • Problemas de micotoxinas na dieta: sabe-se alimento má conservados podem trazer micotoxinas em sua composição, o que resulta em falhas reprodutivas.
  • Excesso de proteína na dieta: o uso de dieta não balanceada pode resultar em excesso de proteína na dieta, o que leva ao aumento do nitrogênio circulante, sendo este tóxico para o embrião.
  • Problemas de estresse térmico, principalmente em regiões e épocas onde as temperaturas são mais altas.
  • Falhas de detecção de cio: a falha de detecção de cio é um dos principias problemas para quem usa a inseminação artificial ou monta controlada. Problemas relacionados com manejo de sêmen, como conservação, momento da inseminação, habilidade do inseminador podem resultar em taxas de concepção baixas.
  • Metrite e endometrite puerperais são também consideradas causas de falha na concepção.
  • Plantas tóxicas: A ingestão de determinadas plantas toxicas pode levar a perdas gestacionais em bovinos.

Doenças Reprodutivas

Dados da Embrapa mostram que o impacto das doenças reprodutivas na pecuária de leite é muito grande. Estima-se que cerca de 40 a 50% de todos os problemas encontrados tem relação com doenças reprodutivas.

Dados de laboratórios especializados em diagnósticos mostram que mais de 90% dos rebanhos tem presença de IBR e BVD, mais de 82% tem presença de leptospiras e entre 23 a 72% dos rebanhos têm presença de campylobacter.

Principais doenças reprodutivas dos bovinos

Leptospirose

É uma importante zoonose com presença forte em fazendas de leite e corte. A doença está presente no rebanho, oriunda de contato dos bovinos com roedores e animais silvestres. A contaminação pode ser direta ou indireta, onde temos diferentes maneiras de contaminação:

  • Contato de roedores com ração que será destinada ao consumo dos bovinos
  • Roedores com acesso livre em saleiros
  • Roedores com acesso a aguadas usadas pelos bovinos
  • Presença de capivaras em aguadas
  • Presença de roedores nos cochos de fornecimento de silagens e rações

A partir da contaminação de uma única vaca, vemos o problema relacionado com reprodução, repetição de cio, morte embrionária ou aborto nesta vaca, porém ela passa para o estado de “portador renal”, em que toda vez que urinar estará jogando no ambiente urina com presença de leptospira, o que pode agravar ainda mais os problemas reprodutivos da fazenda, pois esta vaca tem alto risco de contaminar outras vacas presentes no rebanho.

Para o controle de leptospirose ser eficiente, diversas ações são necessárias dentro da fazenda.

1. Controle de roedores para evitar que tenham contato com alimentos e contaminem mais vacas
2. Bloqueio de acesso a áreas alagadas: áreas alagadas acabam sendo uma das formas mais comuns de contaminação de vaca para vaca.
3. Tratamento de animais positivos: é uma medida importante a ser tomada, pois nenhuma vacina tem poder de curar uma vaca portadora renal, então, uma estratégia boa de controle é:

3.1 O tratamento de casos pontuais (vacas que apresentam problemas de repetição de cio, morte embrionária ou abortos) imediatamente após a ocorrência.
3.2 Tratar todas as vacas na secagem, até passar pelo tratamento em todas as vacas

4. Vacinação de todos os animais em reprodução: de nada adianta fazermos as medidas relacionadas com meio ambiente e tratamento dos animais se não pensarmos em uma proteção efetiva. Existem várias vacinas disponíveis no mercado, com número variável cepas presentes. O objetivo da vacinação é obter proteção para um maior número de leptopiras.  

O Programa de vacinação para leptospirose deve ser intensificado de acordo com o desafio de cada fazenda. Sempre converse com seu veterinário para ajustar o melhor programa.

BVD – Diarreia viral bovina

A BVD é uma doença que causa importante impacto econômico na atividade leiteira. Nos animais gestantes, podem ocorrer os sintomas reprodutivos, como abortos, natimortos, má formação fetal e absorção embrionária.

Além desses sintomas reprodutivos, a doença pode levar os animais a um quadro de imunossupressão, deixando-os vulneráveis a outras enfermidades e, ainda, reduzir a produção de leite. Os animais persistentemente infectados (PI) são procedentes de mães que tiveram contato com o vírus, entre 40 e 120 dias de gestação. Estes animais são a fonte de transmissão viral, pois são responsáveis pela manutenção do vírus no rebanho. “Apesar de muitos animais PI nascidos terem algum problema visual relacionado com deficiência ou desenvolvimento reduzido, muitos deles nascem com aspecto normal e acabam fazendo parte do rebanho, o que aumenta o impacto negativo da doença no plantel.

As principais vias de eliminação do vírus são: secreções nasais, saliva, sangue, fezes e urina. Em rebanhos onde os animais não tiveram nenhum contato prévio com o vírus e não possuem qualquer tipo de imunização, podem ocorrer surtos esporádicos com altas taxas de aborto após a infecção inicial.

Para controle de BVD, o ideal é a identificação e eliminação de animais PI, uma técnica ainda pouco disponível no campo, com o uso paralelo de vacinação sistemática de todo rebanho. Os intervalos de aplicação devem ser ajustados de acordo com o médico veterinário, podendo ser intensificadas em casos de presença forte de BVD, identificada através de exames sorológicos.

IBR – Rinotraqueíte Infecciosa Bovina

A IBR é uma doença causada pelos herpes vírus bovino tipos 1 e 5. A vaca se contamina com o vírus quando exposta a animais portadores. Uma vez contaminados, os animais permanecem positivos por toda sua vida, ficando o vírus em estado de latência. Quando ocorre queda de imunidade dos animais, o vírus reativa e causa problemas relacionados com a reprodução e problemas respiratórios nos animais afetados.

Os sintomas reprodutivos visualizados são repetições de cio, morte embrionária e abortos.  A manifestação clínica do vírus no sistema reprodutivo compreende lesões herpéticas em todo sistema reprodutivo, levando a infertilidade temporária nos animais acometidos. Os sintomas respiratórios visualizados são ocorrência de corrimento nasal, tosse e secreção ocular nos animais acometidos.

O objetivo da vacinação do rebanho para IBR é manter as vacas positivas com alto status imunitário frente aos vírus, impedindo que ocorra a manifestação clínica nestes animais, e também proteger as vacas negativas, impedindo a contaminação de um eventual contato com animais portadores. A vacinação usada de forma continua no rebanho proporciona a quebra da cadeia epidemiológica da doença, em que vacas positivas acabam sendo eliminadas do rebanho por diferentes critérios e substituídas por novilhas negativas que já entraram no esquema de vacinação desde bezerra.

Campilobacteriose

Campylobacter é uma bactéria que tem presença nas criptas prepuciais de touros. Os touros, no momento da monta, transmitem a bactéria para as vacas, ocasionando problemas desde repetições de cio ou até mesmo abortos entre 5 e 6 meses de gestação.

O controle ideal é a avaliação dos touros frequentemente, fazendo testes de raspado prepucial e cultura de campylobacter.  Este controle acaba sendo pouco usado no campo, diante disso a melhor forma de prevenção é a vacinação das vacas, protegendo contra a bactéria, e a vacinação também dos touros.

O que é importante fazer para obter o máximo controle das doenças reprodutivas

A utilização de um programa de vacinação do rebanho é fundamental para obtenção de proteção dos principais agentes envolvidos. A vacina mais completa e mais moderna disponível no mercado tem efetiva proteção para 15 agentes que causam perdas reprodutivas, sendo 2 cepas de IBR, 2 cepas de BVD, 3 cepas de Campylobacter e 8 cepas de Leptospira. 

Mais informações você encontra na edição de Bovinos, Grãos e Máquinas de agosto/setembro de 2018 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Verão quente e úmido impacta produção leiteira no Rio Grande do Sul 

Os percentuais médios de perda individual diária ficaram entre 22% a 34%.

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Foto: Fernando Dias

A elevação das temperaturas máximas e da umidade relativa do ar durante este verão colocou os animais em situação de desconforto térmico ao longo do trimestre, afetando significativamente a atividade leiteira, com sérios prejuízos econômicos ao produtor rural.

Estes são os resultados das análises de dados publicadas no Comunicado Agrometeorológico 67 – Especial Biometeorológico Verão 2023/2024, editado pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDPA/Seapi) do do Rio Grande do Sul .

O Comunicado analisa as condições meteorológicas ocorridas no período, como precipitação pluvial, temperatura e umidade do ar. Utilizando o Índice de Temperatura e Umidade (ITU), a publicação documenta e identifica as faixas de conforto/desconforto térmico às quais os animais foram submetidos, estimando os efeitos na produção de leite. “A associação de temperaturas mínimas e máximas e umidades relativas do ar elevadas desencadearam situações de estresse térmico calórico ao longo do trimestre, principalmente no mês de fevereiro, em que os animais estiveram em conforto térmico apenas 30,5% do período avaliado. Inclusive, houve situações perigosas à saúde dos animais durante 13,9% desse mês”, detalha a pesquisadora Ivonete Tazzo, uma das autoras do Comunicado.

Quatro regiões se destacaram no trimestre: Serras do Sudeste e do Nordeste, com os maiores percentuais do período em conforto térmico, e Vale do Uruguai e Baixo Vale do Uruguai com os menores valores. Os municípios de Passo Fundo e Bento Gonçalves foram os únicos em que não foram registradas situações emergenciais ao longo da estação.

Estimativas potenciais de queda de produção diária de leite devido às condições meteorológicas do verão 2023/2024 foram mais acentuadas em vacas de maior produtividade. “Os percentuais médios de perda individual diária ficaram entre 22% a 34%. Para mitigar essa queda os produtores rurais tomaram medidas de manejo a fim de diminuir os efeitos climáticos”, expõe Ivonete.

Em 13 municípios, a queda estimada de produção diária de leite foi superior a quatro quilos, destacando-se as possíveis maiores perdas registradas para Maçambará (5,1 kg), Itaqui (4,8 kg) e Uruguaiana (4,7 kg) em fevereiro.

A publicação é uma iniciativa do Grupo de Estudos em Biometeorologia, constituído por pesquisadores e bolsistas das áreas da Agrometeorologia e Produção Animal.

Fonte: Assessoria Seapi
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Tripanossomose x Tristeza Parasitária bovina

Diagnóstico diferencial entre as doenças é indispensável para implementação do tratamento adequado no rebanho

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Foto e texto: Assessoria

As hemoparasitoses representam um desafio significativo para a pecuária bovina em todo o mundo, afetando a saúde do rebanho e causando prejuízos econômicos consideráveis.

Entre as enfermidades causadas por hemoparasitas, a tripanossomose e a tristeza parasitária bovina se destacam. Os agentes causadores dessas enfermidades são distintos. A tristeza parasitária bovina, é classicamente causada por protozoários intracelulares do gênero Babesia (B. bigemina e Babesia bovis) e por bactérias do gênero Anaplasma (A. marginale, é a mais importante em nosso meio, também intracelular). Já a tripanossomose bovina tem como agente, o protozoário extracelular Trypanosoma vivax.

“A tripanossomose tem se mostrado um obstáculo crescente no rebanho bovino brasileiro, com casos relatados tanto no gado leiteiro, como no de corte. Com os sintomas pouco específicos, a doença pode passar despercebida pelos pecuaristas e ser responsável por inúmeros prejuízos. Além da forma aguda (clínica), em que os sinais de doença são evidentes, a tripanossomose também pode se apresentar de forma subclínica e até mesmo crônica”, explica Rafael Queiroz, médico veterinário gerente de produtos da Linha Leite da Ceva Saúde Animal.

Os sintomas da manifestação clínica são mais intensos e podem evoluir para o óbito do animal, sendo um alerta importante a redução do apetite sem motivo aparente e rápida perda de peso, febre intermitente, depressão, anemia intensa, salivação excessiva, diminuição na produção leiteira, aumento dos linfonodos (“ínguas”), incoordenação motora, diarreia, aumento das frequências cardíaca e respiratória, cegueira e dificuldade respiratória.

Quando a tripanossomose se apresenta na forma subclínica, os sintomas são pouco específicos, porém geram um grande impacto na produtividade da fazenda, como o atraso no desenvolvimento corporal, redução nos índices reprodutivos (anestro, reabsorção embrionária precoce, queda na produção leiteira, aumento da ocorrência de outras enfermidades (comorbidades) até então controladas.

Na Tristeza parasitária, os sinais clínicos são muito semelhantes aos da tripanosomose bovina, sendo o diagnóstico diferencial fundamental para a introdução do tratamento e de programas de controle.

Assim, a nível de campo, o diagnóstico diferencial entre as doenças é um desafio, pois ambas compartilham características que as tornam difíceis de distinguir apenas com base nos sinais clínicos. Ainda é importante no estabelecimento do diagnóstico uma avaliação epidemiológica realizada pelo médico veterinário, onde o mesmo fará um estudo das condições que irão favorecer a cada uma das doenças como: presença de vetores (transmissores) específicos, emprego de material compartilhado em aplicações injetáveis, histórico de entrada recente de animais no rebanho ou proximidade de outras propriedades com grande rotatividade de animais, presença de reservatórios silvestres ou domésticos que possam albergar os parasitas, dentre outros fatores. Também é importante mencionar que os animais podem estar expostos a mais de um desses hemoparasitos, agravando ainda mais a situação.  “Em muitas regiões, as áreas de endemia para essas doenças se sobrepõem, o que significa que os produtores podem lidar com ambas as enfermidades ao mesmo tempo. Isso contribui para a demora no reconhecimento do desafio presente no rebanho e aumenta substancialmente os impactos produtivos”, detalha Rafael

Apesar das similaridades existentes é importante esclarecer que as formas de contaminação mais comuns e o tratamento destes patógenos podem ser diferentes.

No caso da tripanossomose, as principais fontes de transmissão incluem, principalmente, e a reutilização de materiais que possam entrar em contato com o sangue de animais portadores e posteriormente utilizados em outros animais, como agulhas para aplicação de medicamentos ou vacinas, bisturis, canivetes, luvas de palpação retal e, picada de moscas hematófagas (mutucas, moscas dos estábulos e moscas dos chifres). Também pode haver a transmissão transplacentária, culminando com perdas de gestação ou nascimento de crias fracas que morrem logo a seguir.

Já no caso de contaminação por Babesia spp. e Anaplasma marginale, o carrapato é o principal agente transmissor. Entretanto o uso de materiais compartilhados sem os devidos cuidados além da presença de moscas hematófagas também pode ser importante. Ambas também podem ser transmitidas de forma transplacentária, e esse fator deve ser levado em conta durante a implementação de programas de controle dessas enfermidades.

“Embora ambas afetem os glóbulos vermelhos dos bovinos e compartilhem sintomas semelhantes, o tratamento e manejo dessas doenças são distintos. Portanto, a identificação correta do agente etiológico é fundamental para um diagnóstico preciso e para garantir um tratamento eficaz e reduzir os impactos negativos na saúde e na produção dos bovinos”, esclarece Rafael.

A utilização de exames laboratoriais é imprescindível para confirmar o tipo de microrganismo responsável pela sintomatologia apresentada pelo rebanho. Para o diagnóstico da tripanossomose podem ser empregados métodos sorológicos (RIFI ou Reação de Imunofluorescência Incompleta; ELISA; Imunocromatografia também denominado Teste Rápido). Há também métodos moleculares (PCR). O diagnóstico direto através da detecção e identificação dos parasitos em amostras sanguíneas são os de “padrão ouro”. Entretanto nos casos da tripanosomose (esfregaços sanguíneos corados, Teste do Microhematócrito o de Woo, análise de gota espessa, por exemplo) podem levar a erros quando os parasitos não são visualizados uma vez que estes testes diretos possuem baixa sensibilidade (capacidade de detectar animais parasitados), pois  necessitam de um número enorme de parasitos circulantes no momento da coleta das amostras. Este momento tem uma janela curta após a infecção.

O diagnóstico diferencial preciso entre a tristeza parasitária e a tripanossomose é indispensável por várias razões. Cada doença requer um tratamento específico, e o tratamento incorreto pode não ser eficaz, e as medidas de controle não serem aplicadas convenientemente. A demora na identificação e, consequentemente na adoção do tratamento adequado pode resultar em perdas econômicas significativas para produtores, incluindo a perda de animais, diminuição da produtividade e custos adicionais com tratamentos desnecessários.

Fonte: Assessoria Ceva
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Cultivar de trigo tropical da Embrapa tem rendimento 12% superior em anos secos

Para avaliar a tolerância do trigo à restrição hídrica, pesquisadores da Embrapa Trigo (RS) reuniram dados de desempenho das cultivares de trigo de sequeiro no Brasil Central nos últimos cinco anos

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Lavoura de trigo BRS 404 em Planaltina (DF) - Foto: Jorge Chagas

Um estudo para avaliar a tolerância do trigo ao déficit hídrico mostrou que cultivar BRS 404 pode representar até sete sacos a mais nos anos de pouca chuva no Brasil Central. A pesquisa avaliou o rendimento de trigo tropical das principais cultivares de sequeiro disponíveis no mercado no período 2019-2023.

Para avaliar a tolerância do trigo à restrição hídrica, pesquisadores da Embrapa Trigo (RS) reuniram dados de desempenho das cultivares de trigo de sequeiro no Brasil Central nos últimos cinco anos. Em média, os rendimentos da cultivar BRS 404 foram 12,4% superiores quando comparados às demais cultivares em uso na região, o que pode representar até sete sacos a mais por hectare. A variação ficou entre 5% e 23% superior, considerando que a brusone foi limitação somente em 2019, enquanto nos demais anos o déficit hídrico foi o fator limitante. Nesses cinco anos, os ensaios variaram em função dos locais e com a inserção de novas cultivares que chegaram ao mercado durante o período. Veja na tabela abaixo:

Em 2022, em São Gonçalo do Sapucaí (MG), com apenas 97 mm de chuva da semeadura à colheita, o rendimento de grãos da BRS 404 foi 15,5% superior na comparação com outras sete cultivares. O pesquisador Vanoli Fronza explica que esse desempenho superior da cultivar ocorreu devido ao seu grande potencial de enchimento de grãos, mesmo em condições adversas, como seca e temperaturas mais elevadas. “Para explorar melhor os benefícios da BRS 404, a cultivar deve ser semeada no fechamento do plantio, quando reduz os riscos com brusone e pode se destacar em caso de limitação hídrica”, declara o cientista.

A região tropical conta com mais de 10 cultivares com sementes disponíveis no mercado para cultivo de trigo de sequeiro. No ensaio de cultivares da Coopa-DF de 2023, o destaque de produtividade foi para a cultivar BRS 404, que atingiu 71,9 sacos por hectare (sc/ha) com peso do hectolitro (PH) de 84, superando a segunda colocada que apresentou 68,5 sc/ha e PH 81. Entretanto, o diferencial das cultivares de trigo de sequeiro é ainda mais importante em anos de seca, quando a média de rendimentos não tem ultrapassado 40 sc/ha na região.

Avanço do trigo tropical

O Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) orienta para o cultivo do trigo em seis estados da região tropical: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia e São Paulo, mais o Distrito Federal. No período de 2018 a 2023, a área com trigo no Brasil Central cresceu 110,7%, enquanto a produção aumentou em 131,5%. Apesar do crescimento da cultura, as produtividades oscilaram bastante ao longo dos anos (veja o gráfico).

A explicação está na variabilidade das condições ambientais, especialmente relacionadas com a disponibilidade hídrica e excesso de calor. “A maioria das áreas indicadas para o cultivo do trigo no Cerrado estão em altitudes acima de 700 metros, onde as temperaturas costumam ser menores à noite. Já nas áreas de menor altitude, em geral, predominam solos mais arenosos, que possuem menor capacidade de armazenar água”, explica o agrometeorologista Gilberto Cunha. Segundo ele, o excesso de chuva explica a queda no rendimento em 2019, uma vez que o ambiente favoreceu epidemia de brusone, doença fúngica favorecida pela umidade e temperaturas elevadas. Por outro lado, a queda nos rendimentos, nas safras 2021 e 2022, foi causada pela redução nas chuvas e o aumento do calor, com temperaturas mínimas acima da média na região. “No Cerrado, não há relação direta entre calor e incidência de chuvas, já que existe um regime hídrico bem definido, como a época das águas – de outubro a março – e a seca no restante do ano. Contudo, o aumento das temperaturas mínimas favorece a maior evapotranspiração das plantas, que tendem a sofrer pelo déficit hídrico na falta de chuvas regulares”, detalha Cunha.

Resposta às mudanças climáticas

Estudos sobre mudanças climáticas indicam agravamento dos problemas relacionados com irregularidades na distribuição das chuvas e o aumento de estresse hídrico durante o ciclo das culturas, principalmente nas regiões do centro, norte e nordeste do País. Nesse cenário, um dos desafios para a expansão da triticultura tropical é o desenvolvimento de plantas com tolerância à restrição hídrica, que sejam capazes de fazer uso mais eficiente da água e que tenham melhor tolerância ao calor. Por ser um problema complexo, envolvendo interações solo-água-planta-ambiente, a seleção de plantas tolerantes à restrição hídrica é um constante desafio para os programas de melhoramento genético.

O desafio da seca é maior no trigo cultivado em sistema de sequeiro, ou trigo safrinha, que representa cerca de 80% da área de cultivo com trigo tropical. De acordo com o pesquisador Joaquim Soares Sobrinho, a região do Cerrado sofre frequentemente com veranicos, trazendo ondas de calor e seca que afetam o trigo em épocas críticas do desenvolvimento da planta, como no perfilhamento e no enchimento de grãos: “O maior impacto é verificado quando falta água no enchimento de grãos, resultando na diminuição do seu peso”, conta Soares.

Além do rendimento, em anos de estresse hídrico a qualidade do trigo também é impactada. “Em anos secos, especialmente nos cutivos de sequeiro, os grãos de trigo ficam enrugados, contendo maior teor de proteína do que em condições hídricas normais. A alteração na composição de proteínas pode resultar em farinhas de maior qualidade e melhor desempenho para produção de pães. Por outro lado, seca e altas temperaturas no momento do enchimento de grãos diminuem o teor de amido nos grãos de trigo”, avalia a pesquisadora Martha Miranda.

O ano de 2023 foi considerado um dos melhores para o trigo tropical. No cultivo de sequeiro, os rendimentos foram cerca de 50% superiores à média do ano anterior. “Além da boa disponibilidade hídrica, a distribuição das chuvas e as temperaturas mínimas mais amenas resultaram no alongamento do ciclo das cultivares, permitindo que a planta aproveitasse melhor os recursos disponíveis no ambiente e convertesse em rendimento de grãos”, relata Soares.

Evolução do melhoramento genético

Os trabalhos com a tropicalização do trigo tiveram início ainda na década de 1920 e foram intensificados nos anos 1980, confirmando a viabilidade dos primeiros cultivos em Minas Gerais e em Goiás. No cultivo de trigo tropical foram definidos pela pesquisa dois sistemas de produção: irrigado e sequeiro. Um esforço conjunto entre produtores, instituições de pesquisa, assistência técnica e poder público resultou em estudos sobre rotação de culturas, épocas de plantio, população de plantas, adubação, manejo integrado de pragas e doenças, viabilidade socioeconômica, entre outros. A aproximação com a indústria permitiu também avançar na qualidade do trigo tropical, atendendo as diferentes demandas do mercado consumidor.

Um marco para a triticultura tropical foi a cultivar BR 18 Terena, lançada pela Embrapa em 1986, que até hoje é utilizada nos programas de melhoramento genético devido à grande capacidade de adaptação, especialmente no cultivo de trigo de sequeiro no Brasil Central. A Embrapa seguiu o caminho na oferta de cultivares de trigo para o ambiente tropical junto com outras instituições pioneiras como Epamig, IAC e Coodetec.

A restrição hídrica ainda é fator limitante para a expansão do trigo na região tropical, mas a pesquisa intensificou os estudos para vencer a seca e o calor, mostrando bons resultados no melhoramento genético. Muitas cultivares chegaram ao mercado nos últimos cinco anos, desenvolvidas principalmente por obtentores privados. “Hoje estão disponíveis ao produtor 33 cultivares de trigo tropical, tanto para o sistema irrigado como para sequeiro, com genética que garantiu aumento de área e produtividade em grãos com qualidade comparada aos melhores trigos do mundo”, conta o pesquisador Ricardo Lima de Castro. Veja abaixo como foi a evolução da oferta cultivares nas últimas quatro décadas:

Para o futuro, os pesquisadores informam que novas estratégias para a seleção de genes, tanto em cruzamento tradicional de plantas de trigo como com plantas transgênicas ou edição gênica, deverão trazer respostas ainda melhores na resiliência do trigo às mudanças climáticas.

Fonte: Assessoria Embrapa Trigo
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