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Bovinos / Grãos / Máquinas

El Niño perde força, mas deixa estragos na produtividade e qualidade da soja

Somadas a safra de grãos de verão, segunda safra e safra de inverno, o Paraná tem potencial ainda para colher 38 milhões de toneladas

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As chuvas ocorridas na região Sul do Brasil, em especial no Paraná, entre setembro de 2015 e o início de fevereiro de 2016, devido ao fenômeno El Niño, tiveram impacto na cultura da soja, com reflexo direto na produtividade e na qualidade da produção. Neste momento, o Paraná caminha para o final da colheita da soja, restando apenas áreas localizadas ao Sul do Estado.

Nas lavouras de grãos de verão, como soja, milho e feijão da primeira safra (2015/16), as perdas foram mais acentuadas nas regiões do Norte Pioneiro e Central. “Ainda assim, a safra total de grãos deve ser boa”, diz o secretário da Agricultura e do Abastecimento Norberto Ortigara.

Segundo o relatório de março do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, somadas a safra de grãos de verão, segunda safra e safra de inverno, o Paraná tem potencial ainda para colher 38 milhões de toneladas, repetindo o volume colhido no ano passado.

Verão 

A safra paranaense de grãos de verão 2015/16, que está sendo finalizada, deverá apresentar uma quebra de produção em torno de 6%, em relação ao mesmo período do ano passado. Mesmo com excesso de chuvas, será colhido um volume de 20,7 milhões de toneladas, contra 22 milhões de toneladas de grãos colhidas no ano passado.

O relatório do Deral indica ainda que a segunda safra de grãos, tendo como carro chefe o milho safrinha, deverá render um volume total de 13,4 milhões de toneladas, 9% acima do volume produzido na mesma época do ano passado (12,2 milhões de toneladas.

Inverno 

Já a safra de inverno, liderada pelo plantio de trigo, começa a ser plantada no início de abril e poderá render um volume de 4,1 milhões de toneladas – 11% acima do volume colhido no mesmo mês do ano passado – de 3,7 milhões de toneladas. Assim, se não houver problemas de clima daqui para frente, o Paraná poderá recuperar e ultrapassar o volume de grãos produzidos em toda a safra anterior (2014/15).

Tecnologia e Custos 

Para o diretor do Deral, Francisco Carlos Simioni, o produtor paranaense tem tecnologia e mecanismos para reduzir os riscos e as dificuldades de clima, como plantio escalonado, seguir corretamente o zoneamento agrícola, fazer o seguro das lavouras para atenuar perdas. Mas está esbarrando no aumento dos custos de adubos e defensivos que influenciam diretamente na elevação dos custos de produção.

Segundo Simioni, para os produtores que tiveram problemas com produtividade e qualidade, certamente os custos de produção serão mais sentidos do que para aqueles que conseguiram colher em condições normais de clima. Além disso, o produtor também está em dúvida sobre o momento mais adequado para vender sua safra, reflexo do momento político e econômico que está vivendo o País. “Assim como em outros setores da Economia, na Agropecuária não é diferente”, disse Simioni.

Soja 

A soja é um dos produtos afetados pelo excesso de chuvas, com perdas verificadas nas regiões Norte, principalmente Ivaiporã e Apucarana, e Centro-Oeste. Segundo o economista do Deral, Marcelo Garrido, em função do tamanho da área plantada, de 5,2 milhões de hectares, e da tecnologia de produção disponível no Estado, havia uma estimativa inicial de colher uma safra recorde de soja de 18,3 milhões de toneladas.

Após a ocorrência das chuvas, a safra foi reavaliada e deverá atingir um volume de 16,8 milhões de toneladas, uma quebra de 8% na produção total. “Mesmo assim, a atual safra terá 100 mil toneladas a menos que a anterior, que foi recorde”, explicou Garrido.

Cerca de 87% da safra de soja já está colhida e o que está ocorrendo é a queda na produtividade e perda de qualidade dos grãos, por causa das chuvas. Em função da umidade, o produtor está tendo muitos descontos na hora de entregar sua produção na cooperativa, apesar dos bons preços da commoditie.

Custos e Preços 

Atualmente o produtor está recebendo, em média, R$ 62,00 pela saca de soja – 6% acima do que recebeu em março do ano passado, quando o preço variava entre R$ 58,00 a R$ 59,00 a saca. A valorização está respaldada na elevação do dólar frente ao real, um dos motivos pelos quais o produtor antecipou as vendas de soja. Nesta safra 15/16 o produtor já tinha vendido 30% da produção no início do plantio.

Os custos de produção se elevaram, porque o produtor teve que fazer mais intervenções na lavoura com defensivos para conter a ferrugem, que avança sobre as plantas quando há excesso de umidade como ocorreu nesta safra.

Milho 

A primeira safra de milho está apresentando uma redução de 5,4% em relação à estimativa inicial, também por causa das chuvas, que prejudicou a produção mais nas regiões Sul e Sudoeste. Cerca de 81% da produção está colhida, e a estimativa atual é de um volume de 3,45 milhões de toneladas – cerca de 200 mil toneladas a menos que a estimativa inicial.

Em relação ao volume colhido na primeira safra do ano passado, a queda de produção é de 26%. No ano passado, foram colhidos 4,6 milhões de toneladas. Ocorre que houve uma redução de 22% na área plantada de milho na primeira safra, 542.380 hectares para 423.890 hectares plantados, e isso fez cair a produção, explicou o técnico do Deral Edmar Gervásio.

Cerca de 47% da produção foi vendida, ritmo mais acelerado que na safra anterior. No ano passado, nessa mesma época a comercialização de milho era de 25% da produção.

Escassez 

Como a redução na produção de milho foi generalizada nos demais estados produtores, disse Gervásio, o quadro é de escassez do produto, o que impulsionou a elevação dos preços. A comercialização do atacado está em torno de R$ 35,00 a saca. O produtor está recebendo, em média, R$ 32,00 a saca, um aumento de 32% sobre igual período do ano passado, quando ele recebeu R$ 21,00 a saca.

Além disso, este ano as exportações também são maiores do que no ano passado, o que está favorecendo um ganho cambial para o produtor. Entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano foram exportadas 1,1 milhão de toneladas, contra 470 mil toneladas exportadas na mesma época do ano passado.

Segundo Gervásio, os produtores estão aproveitando a elevação do preço do milho para exportação que está em R$ 630,00 por tonelada, um aumento de 26% em relação ao ano passado – de R$ 500,00.

Segunda Safra de Milho 

Por conta desse quadro favorável na comercialização do milho, o Deral prevê o plantio de uma área recorde de milho da segunda safra, com área de 2,15 milhões de hectares – aumento de 12% sobre a área da safra anterior, que ocupou 1,9 milhão de hectares.

A produção esperada, de 12,6 milhões de toneladas também é recorde, devendo ficar um milhão de toneladas acima da segunda safra no ano passado, cujo volume colhido foi 11,6 milhões de toneladas.

Cerca de 99% da área já foi plantada e as chuvas recentes foram benéficas ao plantio. Como nas culturas de segunda safra e de inverno, o desenvolvimento das lavouras fica sujeito ao comportamento do clima daqui para frente, disse Gervásio.

Feijão 

A primeira safra de feijão já foi plantada e colhida. A safra ficou 15% abaixo do ano passado, também por causa das chuvas. A produção da primeira safra de feijão 2015/16 foi de 286 mil toneladas, contra 335 mil toneladas colhidas em igual perído do ano passado. Além da perda física da produção, as chuvas prejudicaram a qualidade do feijão colhido, explicou o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Salvador.

Com um quadro de escassez no Paraná, que é o maior produtor de feijão do País, os preços do mercado estão em alta. O feijão de cor está sendo comercializado entre R$ 170,00 a R$ 180,00 a saca e o feijão preto por R$ 143,14 a saca.

A segunda safra de feijão está totalmente plantada e em início de colheita. O Deral espera uma safra boa, de 410.103 toneladas, volume 6% maior que em igual período do ano passado, de 385.367 toneladas. Mesmo com o aumento na produção, o técnico acredita que os preços do feijão ao consumidor vão se manter em alta nos próximos meses.

Trigo 

O plantio de trigo inicia no Paraná neste final de março e a previsão é plantar 1,2 milhão de hectares – 11% a menos que no ano passado. A produção esperada é de 3,6 milhões de toneladas – 10% acima do volume colhido no ano passado, de 3,2 milhões de toneladas.

O quadro da produção de trigo no País é de mais escassez este ano, o que junto com o câmbio está elevando os preços do produto. Em fevereiro deste ano, a cotação do trigo estava em R$ 38,96 a saca, 27% acima da cotação no mesmo período – de R$ 30,66 a saca.

Segundo o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Godinho, o Brasil é comprador de trigo e, por causa disso, o câmbio valorizado influencia na cotação interna do produto.

Mas como a valorização do milho foi mais acentuada que o trigo, o produtor preferiu plantar a segunda safra de milho e menos trigo. Segundo Godinho, pelo desânimo do produtor de trigo, a redução na produção poderia ser maior.

Mandioca e Fumo 

Esses dois produtos também estão proporcionando boa remuneração aos produtores, disse o técnico Methódio Groxco.

A mandioca, saiu de um quadro de preços baixos pagos aos produtores no ano passado, para uma situação melhor este ano, graças à intervenção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que comprou 21 mil toneladas de fécula e farinha.

Mas o que mais alavancou os preços, disse Groxco, foi a redução no plantio este ano. Muitos produtores ficaram desanimados com a queda acentuada no preço da mandioca no ano passado, o que motivou o surgimento de várias manifestações de produtores, inclusive fechando rodovias.

Este ano, a área de plantio caiu 8% e a produção também cai 9%. Os preços da mandioca reagiram e este ano o produto é comercializado por R$ 346,00 a tonelada, um aumento de 145% sobre a cotação de setembro de 2015 quando o produto foivendido por R$ 141,00 a tonelada, colocada na indústria.

O fumo também sofreu com as chuvas e apresenta uma quebra de produção de 14% no Paraná. A estimativa oficial era colher 173 mil toneladas e serão colhidas 145 mil toneladas. Além disso, haviam estoques avaliados em 70 mil toneladas, que foram todos vendidos.

Como consequência os preços do fumo reagiram no mercado cerca de 50%. O produtor que recebia em média R$ 95,00 a arroba em setembro de 2015, agora em março, está recebendo R$ 143,00 a arroba.

Fonte: Assessoria

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Colibacilose em bezerros: importante tipo de diarreia

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível.

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Foto: Divulgação/JÁ Saúde Animal

A saúde intestinal dos bezerros é um aspecto importante na pecuária, afinal impacta diretamente o desenvolvimento e a produtividade desses animais. Dessa forma, a manutenção de um trato gastrointestinal saudável e funcional permite a digestão e a absorção adequadas dos nutrientes. Nesse contexto, entre os principais desafios da criação de bezerros, relacionado à saúde intestinal, está a diarreia, sendo responsável por uma série de prejuízos. O problema é caracterizado por uma grande perda de líquidos e eletrólitos corporais que vão ocasionar desidratação, perda de peso, com possibilidade de evoluir para choque hipovolêmico e morte do animal.

Vários fatores podem ter relação com a ocorrência da diarreia e os agentes etiológicos causadores podem ser diversos, incluindo as bactérias (Escherichia coli, Salmonella sp., Clostridium perfringens), os vírus (rotavírus e coronavírus), protozoários (Eimeria sp. e Cryptosporidium sp.) e as verminoses. Dentre esses, um dos principais no quesito mortalidade é a Escherichia coli, bactéria gram-negativa, que de forma geral é inofensiva. Contudo, quando tipos patogênicos infectam uma população susceptível ou quando há uma somatória de fatores (ambiente, manejo, imunidade) que estimula a proliferação bacteriana ocorre a chamada Colibacilose, termo atribuído a afecções provocadas por E. coli, que consequentemente podem ocasionar quadros de diarreia.

A Colibacilose pode acontecer de três maneiras: septicêmica, enterotoxêmica e entérica. A forma septicêmica se desenvolve quando a bactéria se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, afetando geralmente bezerros que não tiveram uma boa colostragem. Nesse caso, a apresentação da afecção é aguda, variando de 24 a 96 horas, com sinais clínicos como depressão, febre alta, anorexia e taquicardia. Outra forma é a enterotoxêmica, quando a bactéria se prolifera na parte média e posterior do intestino, havendo a liberação de toxina. Nesse caso, os animais apresentam prostração intensa e morrem de endotoxemia. Por fim, existe a forma entérica, conhecida como “curso branco”, caracterizada por sinais como diarreia pastosa abundante, de coloração esbranquiçada ou amarelada, podendo progredir para diarreia aquosa severa, desidratação, acidose metabólica e morte.

Geralmente a ocorrência da Colibacilose é mais frequente em animais mantidos em confinamentos ou muito próximos uns dos outros, além de bezerros com poucos dias de vida. Outros fatores epidemiológicos que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro diarreico são: períodos chuvosos, sistemas de produção inadequados (manejo sanitário, instalações e nutrição ineficazes) e outras enfermidades como as endoparasitoses. A taxa de mortalidade pode variar de 10 a 50% para bovinos de leite criados em sistemas intensivos e de 5 a 15% para bovinos de corte. É importante salientar que ela pode chegar a 60% em propriedades com problemas de manejo.

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível. Além disso, é importante realizar a vacinação de fêmeas no pré-parto especialmente por conta da passagem de anticorpos da mãe imunizada para o bezerro, conferindo proteção durante os três primeiros meses de vida.

Para o tratamento recomenda-se a administração de antimicrobianos, sendo a Enrofloxacina um dos mais indicados, além do uso de anti-inflamatórios não esteroidais para o controle da febre, alívio da cólica e para proporcionar conforto ao animal. É importante que seja feita a reposição dos fluidos e eletrólitos pela via oral (em casos iniciais) ou pela via parenteral, pois a desidratação pode levar os bezerros à morte de forma muito rápida.

As referências bibliográficas desse texto podem ser solicitadas à autora pelo e-mail: juliana.melo@jasaudeanimal.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Juliana Melo, médica-veterinária e jornalista na JA Saúde Animal
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Indicador do Boi Gordo Cepea/B3: 30 anos de compromisso com a pecuária brasileira

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Foto: Ana Maio

Há 30 anos, o grupo de pesquisadores que formavam o Cepea já se destacava e foi o escolhido pela então BM&F para o desafio de criar um indicador de preços que substituísse a entrega física usada para a liquidação de contratos futuros de boi gordo.

Era preciso contar com uma instituição que fosse idônea, imparcial no trato das operações de compra e venda, que tivesse conhecimento científico para definir uma metodologia com reconhecimento internacional, familiaridade não só com a pecuária, mas com todo o setor em que este mercado se desenvolve, e ainda agilidade para a entrega diária de um indicador, garantindo sigilo de informação.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O Cepea atende desde então todos esses requisitos. Por 30 anos, independentemente de ocorrências como greve de trabalhadores da USP que impedisse acesso ao campus de Piracicaba, quedas de energia ou da rede telefônica, problemas de saúde dos membros da equipe ou incidentes de qualquer natureza, aconteça o que quer que seja, o Indicador do Boi do Cepea foi e continua sendo elaborado diariamente, com entrega rigorosa às 18h04 à Bolsa.

O Indicador do Boi inicialmente chamado Esalq/BM&F, hoje o Cepea/B3, é o valor oficial do boi no mercado futuro brasileiro e o referencial escolhido por inúmeros agentes, não só da pecuária, como parâmetro confiável de preço para a negociação de contratos particulares. Pela imparcialidade do Cepea e rigor na aplicação da metodologia conhecida pelo mercado, o Indicador do Boi Cepea cumpre o papel de reduzir incertezas e oportunismos no setor.

A liquidação de contratos, que nos anos 1980 e início dos anos 1990 era realizada unicamente por meio da entrega física de animais, estava suscetível a uma série de entraves.  Grande parte dos pecuaristas tinha dificuldades em formar lotes que atendessem a todos os padrões especificados e exigidos pelo contrato. Compradores, por sua vez, alegavam que muitas vezes os lotes não tinham a qualidade esperada.

Essa perda na qualidade constantemente era associada ao transporte do animal até uma das praças para entrega: Araçatuba, Barretos, Presidente Prudente e São Paulo. Determinadas fazendas ficavam bem distantes e os animais perdiam peso. Além disso, as despesas com o transporte dos lotes de boi gordo eram pauta de discussão entre o vendedor e o comprador.

A assimetria de informação entre vendedores e compradores era tamanha que, ocasionalmente, os agentes que negociavam os contratos futuros iam fisicamente às regiões de entrega dos animais – quando não possível, contratavam pessoas para fazer essa verificação –, no intuito de monitorar o processo de chegada e conferência dos lotes. O objetivo era evitar ações oportunistas.

É nesse contexto que, no começo de 1994, a Bolsa suspende momentaneamente as negociações dos contratos futuros do boi gordo e, em maio daquele ano, disponibiliza um novo formato contratual, no qual a entrega de animais deveria ser feita em um único local: Araçatuba. Alguns novos processos foram estabelecidos – como protocolos nas realizações de jejum e pesagem dos animais, entre outros – e árbitros chegaram a ser contratados pela Bolsa, no intuito de resolver as disputas de compradores e vendedores nos momentos de entrega dos lotes.

Já atenta aos custos e entraves vindos da liquidação física dos contratos de boi gordo, a Bolsa, ainda em 1993, faz uma experiência inédita para a época: busca uma terceira parte que forneça um indicador de preço do boi gordo do mercado físico do estado de São Paulo. O objetivo era utilizar tal valor como referência para uma iminente liquidação financeira dos contratos futuros do boi gordo negociados na Bolsa.

Feitas algumas apurações, fica estabelecido que o Centro de Pesquisas vinculado à Universidade de São Paulo, o Cepea, que, ressalta-se, já vinha monitorando o mercado pecuário desde 1987, seria o responsável por fornecer à Bolsa o desejado índice.

O compromisso assumido com a cadeia de bovinos de corte brasileira colocou o Cepea, a Esalq e a Universidade de São Paula na vanguarda das pesquisas e como referência de estudos para o setor.

Impulso certeiro ao mercado futuro do boi

De maio de 1994 até quase o encerramento daquele ano, os contratos negociados na Bolsa ainda eram liquidados de forma física, com entrega dos animais em curral único estabelecido em Araçatuba.

Foi em 30 de novembro de 1994, que a então BM&F lança a negociação de um novo contrato, tendo como norma sua liquidação financeira, ou seja, sem a entrega física dos animais. O contrato envolvia ainda 330 arrobas de carne e exigia animais de 450 a 550 quilos, em dólar. As posições em aberto seriam encerradas, então, pela média aritmética simples dos últimos cinco Indicadores do “Boi Gordo Esalq/BM&F” do respectivo mês.

As primeiras negociações futuras com a nova alteração no contrato começaram a ser realizadas em 16 de dezembro de 1994, envolvendo o vencimento Agosto/95. Um total de 207 contratos foram liquidados financeiramente no encerramento de agosto de 1995, ao preço médio de US$ 23,64/arroba, referência oferecida pelo Indicador do Boi Gordo Esalq/BM&F.

O novo modelo de contrato prevendo a liquidação financeira impulsionou os negócios futuros de boi gordo na Bolsa. Em 1994, haviam sido negociados pouco mais de 5,6 mil contratos de boi gordo na BM&F; no ano seguinte, foram quase 39 mil.

A partir de 1996, os contratos futuros passaram a ter vencimento em todos os meses do ano. A estabilização monetária nacional, obtida com o Plano Real, a abertura comercial e a redução da intervenção do governo na economia alavancaram as negociações de futuros de boi gordo. Assim, o número de contratos negociados já se situava acima de 100 mil em 1996, atingindo patamar superior a 150 mil contratos no ano 2000.

No dia 26 de setembro de 2000, a Bolsa realiza um novo – e muito importante – ajuste no contrato futuro de boi gordo: a cotação da arroba deixa de ser em dólar norte-americano e passa a ser em Reais por arroba. A estabilidade do Real foi o principal motivo para essa alteração.

A cotação do contrato futuro do boi gordo em dólar deixava os operadores do mercado futuro (pecuaristas, intermediários, frigoríficos e outros) suscetíveis à variação cambial. Além disso, a formação do preço do boi gordo tem como fundamentos fatores domésticos, sendo influenciada sobretudo pela oferta e pela demanda. Essa mudança, portanto, permitiu melhor visibilidade aos agentes ativos na Bolsa. O primeiro contrato a ser negociado em Reais foi o de vencimento em Março/2001.

Consolidação e maturidade

O mercado futuro de boi gordo com liquidação financeira se mostrou muito dinâmico entre 2004 e 2014, período de expressivo crescimento no número de contratos. Pode-se dizer que o mercado futuro de boi gordo se consolida nesta década.

Em 2004, foram negociados 225,2 mil contratos futuros de boi gordo, subindo para a casa dos 300 mil nos anos seguintes. Em 2007, já eram mais de 934 mil contratos, atingindo o recorde de 1,6 milhão em 2008.

Entre 2014 e 2018, observa-se certo declínio e, posteriormente, retomada e estabilização no número de contratos em aberto de boi gordo, com alta no último período, devido ao crescimento do mercado pecuário brasileiro. Por outro lado, em termos financeiros, houve expressiva evolução.

Em 2021, os contratos futuros do boi gordo movimentaram mais de R$ 65,133 bilhões na Bolsa (com opções de compra e venda), sendo 57% acima do ano anterior e o maior da

década.

Importante destacar que, em outubro de 2021, o Indicador Cepea/B3 recebeu o relatório de asseguração de adesão aos princípios da Iosco (“International Organization of Securities Commissions”). O recebimento desse selo atesta que os mais elevados padrões de qualidade e critérios de governança sugeridos pela Organização Internacional são implementados e seguidos pelo Cepea e pela B3 na elaboração e no cálculo do Indicador do boi gordo.

Em 2022, mais um crescimento, e o mercado futuro chegou a movimentar R$ 65,515 bilhões. Em 2023, atingiram 781.145 mil contratos, o maior volume desde 2014, mostrando novamente o aumento do uso da ferramenta. Em valor, 2023 atingiu R$ 69,727 bilhões.

Ao completar três décadas, o Indicador se apresenta com novidades. Em breve, será anunciada uma alteração na forma de cálculo do Indicador e disponibilizado um novo aplicativo para informe de negociações. Com os parceiros certos, o Cepea honra sua raiz Esalq/Universidade de São Paulo e se mantém ano após ano com fonte confiável e imparcial, a serviço da sociedade.

Fonte: Por Alessandra da Paz, gestora da Equipe de Comunicação do Cepea
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Apesar de cinco meses de aumento, preço ao produtor de leite segue abaixo de 2023

Com alta acumulada de 12,9% no primeiro trimestre de 2024, valor ainda está 20,3% abaixo do verificado no mesmo período do ano passado, em termos reais.

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Foto: Ari Dias/AEN

O preço médio do leite captado em março foi de R$ 2,3290/litro na “Média Brasil” do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, 4,1% maior que o do mês anterior, mas 20,3% abaixo do verificado no mesmo período do ano passado, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IPCA de março). Com esse resultado, o preço ao produtor acumula alta real de 12,9% neste primeiro trimestre. Porém, a média dos três primeiros meses deste ano está 21,7% inferior à igual intervalo de 2023.

Esta é a quinta alta mensal consecutiva no preço do leite pago ao produtor, e esse movimento é explicado pela redução da oferta no campo. A limitação da produção, por sua vez, ocorre devido ao clima adverso (seca e calor) e à retração das margens dos pecuaristas no último trimestre do ano passado, que reduziram os investimentos dentro da porteira.

O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea seguiu em queda – o recuo foi de 2,5% de fevereiro para março. No acumulado do primeiro trimestre, a captação diminuiu 7,5%. Esse contexto reforça a disputa entre laticínios e cooperativas por fornecedores para garantir o abastecimento de matéria-prima.

A valorização do leite cru, contudo, não foi repassada na mesma intensidade para o preço dos derivados lácteos. Segundo pesquisas do Cepea, as cotações do leite UHT e do queijo muçarela no atacado do estado de São Paulo subiram 3,9% e 0,3% em março, respectivamente. Agentes de mercado relatam consumo ainda sensível na ponta final da cadeia, de modo que os canais de distribuição pressionam a indústria por valores mais baixos.

Ainda assim, a média dos lácteos no primeiro trimestre de 2024 frente ao mesmo período do ano passado registra queda menor que a verificada para o preço pago ao produtor. De janeiro a março, a baixa real nos valores do UHT e também da muçarela foi de 10,4%.

Ao mesmo tempo, as importações continuam sendo pauta importante para agentes do mercado. Embora as compras externas de lácteos estejam em queda, o volume internalizado neste ano ainda supera o do ano passado. Dados da Secex apontam que, em março, as importações caíram 3,3% frente a fevereiro. Porém, essa quantidade ainda é 14,4% maior que a do mesmo período do ano passado. Considerando-se o primeiro trimestre do ano, as aquisições somaram quase 577,5 milhões de litros em equivalente leite, 10,4% acima do registrado nos três primeiros meses de 2023.

Nesse contexto, a expectativa de agentes de mercado é que o ritmo de valorização do leite ao produtor perca força em abril.

Gráfico 1 – Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de março/2024). Fonte: Cepea-Esalq/USP.

 

 

Fonte: Assessoria Cepea
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