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É hora das empresas do agro apostarem no ESG no campo
Há inúmeras oportunidades na mesa à espera de empresas capazes de se adaptarem aos novos tempos.

Embora muitos produtores estejam sendo forçados a se adaptar a práticas ESG para não serem submetidos a bloqueios na exportação de seus produtos, o fato é que há muitas oportunidades a serem exploradas nesse sentido. Em primeiro lugar, quando uma empresa do agronegócio aplica práticas ESG, ela passa a poder acessar fundos de investimento que, do contrário, não poderia. De forma geral, o custo desse dinheiro é bem mais baixo, ainda que condicionado a metas ambientais e sociais que podem ser agressivas.
Além disso, há um mercado consumidor disposto a pagar um prêmio por produtos sustentáveis e que valorizam marcas que efetivamente contribuem para a preservação do meio ambiente e para a redução das desigualdades sociais. Nessa vertente, é importante verificar que isso não significa que uma empresa irá mudar completamente seu mercado consumidor ao adotar estratégias ESG, mas que ela poderá acrescentar uma camada de compradores com renda elevada e dispostos a pagar mais do que o seu público habitual.
No que toca a questões de Governança, o problema das empresas do agronegócio é o mesmo que a maioria das empresas brasileiras enfrenta. Sem a institucionalização de políticas internas de administração, gestão de riscos, compliance e mitigação do risco de conflito entre sócios e gestores, elas perdem chances de aumentar seu valor de mercado e reduzir custos de captação.
Deste modo, há inúmeras oportunidades na mesa à espera de empresas capazes de se adaptarem aos novos tempos. Uma dessas possibilidades, por exemplo, está na proibição de importação de comida plantada em áreas que invadam florestas, a entrar em vigor brevemente na Europa.
Os produtores que se anteciparem, certificando-se, terão condições de acrescer um prêmio em suas exportações, beneficiando-se do momento. Uma vez que as consequências da Guerra da Ucrânia no aumento de preços de alimentos já foram absorvidas, a União Europeia volta a dar mais importância aos requisitos de ESG para os seus fornecedores. Ainda que a medida possa beneficiar, em um primeiro momento, seus produtores locais, a altíssima adaptabilidade dos produtores brasileiros logo irá anular essa vantagem inicial e se voltar a favor deles.

Colunistas Opinião
Microcrédito pode ser a chave para Brasil se manter na dianteira da agricultura mundial
A tecnologia agrícola no Brasil avançou rapidamente, superando os desafios climáticos associados à tropicalidade do país e à predominância da caatinga em grande parte de nosso território.

O Brasil é reconhecido e admirado mundialmente por seu potencial na área da agricultura, principalmente por países como Angola, que possui uma caatinga similar a nossa. Por possuir terras férteis, clima favorável e uma biodiversidade ampla, o nosso país é um dos maiores produtores e exportadores de commodities agrícolas do mundo. Além disso, a crescente adoção de tecnologias modernas, como a agricultura de precisão e a biotecnologia, por exemplo, têm impulsionado a produtividade e a eficiência no setor. Mesmo com estes avanços, o país ainda não atingiu nem metade de sua capacidade de produção agrícola.
A tecnologia agrícola no Brasil avançou rapidamente, superando os desafios climáticos associados à tropicalidade do país e à predominância da caatinga em grande parte de nosso território. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) realizou estudos para enfrentar esses imprevistos, resultando em descobertas significativas sobre o cultivo em diferentes tipos de solo. Graças a esses avanços, atualmente é possível realizar cultivos de soja mesmo em áreas arenosas.
Esses avanços permitiram que nosso país saísse de apenas um importador para exportador de alimento e conquistasse um polo de tecnologia e inovação agrícola. Hoje, o Brasil continua a desempenhar papel fundamental no fornecimento de alimentos, biocombustíveis e matérias-primas agrícolas para o mercado global, tornando-se um player relevante na economia global. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – (FAO), o Brasil poderá ser responsável por 40% da produção agrícola mundial em 30 anos.
Mas, para ocupar o lugar previsto pela FAO, apenas o avanço de tecnologias que contribuam para produtividade agrícola não é suficiente. Aliado a isso, é necessário ampliar a disponibilidade de microcrédito e o estabelecimento de cooperativas. Gosto de comparar o microcrédito ao sangue e as cooperativas ao coração, pois uma depende da outra. A chave para o sucesso e expansão reside na sinergia entre esses dois componentes, que avançam lado a lado.
No Brasil existe uma enorme quantidade de microprodutores, que produzem apenas o necessário para sobreviver, justamente pela dificuldade em conseguir crédito no mercado que possibilitem a compra de mais sementes e maquinários adequados para a expansão de suas plantações. Outro ponto importante são as cooperativas. Elas são responsáveis pelo acesso aos maquinários e, além disso, têm muito a ensinar, já que são, essencialmente, várias pessoas se unindo com um único objetivo.
No cenário atual, também é possível observarmos uma crescente pressão sobre o setor do agronegócio, impulsionada pela expectativa de produção em consonância com princípios ambientais e sociais. Neste contexto, se destacam empresas e comerciantes que sabem como lidar com as questões relacionadas à inflação e aumento de preços. À medida que a consciência ambiental aumenta globalmente, a demanda por práticas agrícolas sustentáveis se intensifica, colocando o agronegócio em posição crucial na busca por soluções que equilibrem eficiência produtiva com responsabilidade ambiental.
Nos dias de hoje, é de extrema importância a necessidade de aumento de investimentos em inovação agrícola, sustentabilidade e tecnologias eficientes para aumentar a produtividade com redução de danos ao meio ambiente. Atuo em diversos projetos voltados para investimento no segmento e o ESG é um dos pilares que precisa sempre andar em conjunto. Acredito que fomentar, produzir e distribuir são três palavras-chaves que devem estar no radar ao investir nesses projetos. Não é apenas colocar o dinheiro, mas é necessário pensar na cadeia produtiva como um todo. No contexto mais amplo das preocupações globais com a sustentabilidade, a integração dos princípios ESG (Ambiental, Social e de Governança) torna-se cada vez mais crucial.
As empresas do setor agrícola devem adotar medidas que não apenas visam a produtividade e rentabilidade, mas também consideram os impactos ambientais, a promoção de condições de trabalho justas e a transparência nos processos de governança. Dessa forma, não apenas atendem às expectativas da sociedade e dos investidores em relação à responsabilidade corporativa, mas também fortalecem a posição do Brasil no cenário internacional como um líder comprometido com práticas sustentáveis e responsáveis.
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Conhecimento e sucessão no campo
Os jovens estão voltando porque o campo vive um novo tempo.

O campo vive uma nova realidade. A ciência e tecnologia estão presentes em todas as atividades agrícolas, pecuárias, extrativistas, da fruticultura, da olericultura etc. Todas as atividades do agro foram tecnificadas – e essa foi a condição que o mercado impôs para a busca da eficiência, fulcrada na elevação sustentável da produção e da produtividade.
Alcançar esse estágio foi uma conquista obtida a muitas mãos. Os centros de pesquisa da agricultura tropical brasileira – com acentuado mérito para Embrapa – estão entre os protagonistas desse círculo virtuoso. Mas é preciso acrescentar o papel das cooperativas e suas agroindústrias como difusoras e incorporadoras das novas tecnologias no campo com o inegável apoio do Sistema S, notadamente o Sescoop (aprendizagem do cooperativismo), do Senar (aprendizagem rural) e do Sebrae (micro e pequenas empresas).
Centenas de programas de alto nível foram desenvolvidos diretamente nos estabelecimentos rurais nos últimos 30 anos, com milhares de ações de qualificação e requalificação de produtores e trabalhadores rurais com o apoio e patrocínio das cooperativas, das agroindústrias e do Sistema S. Exemplos marcantes são os programas De Olho na Qualidade, Qualidade Total Rural, Times de Excelência, Suíno Ideal, Franco Ideal e Bem-estar Animal, entre outros que, ao longo do tempo, evoluíram para o Encadeamento Produtivo e estão todos abrigados no guarda-chuva do Programa Propriedade Rural Sustentável Aurora. Ou seja, muito antes de seu surgimento conceitual, a agenda ESG era prática cotidiana dos atores que fazem do agro brasileiro um notável setor de vanguarda. Nesse particular, inclusive, é importante observar que os princípios basilares do cooperativismo universal, desde seu surgimento, continha com outra roupagem o DNA da filosofia ESG
É notório que a crescente incorporação de ciência e tecnologia conferiu ganhos de escala às propriedades rurais que passaram a ser geridas como verdadeiras empresas, comprometidas com a busca de resultados, em um regime de sustentabilidade e de proteção aos recursos naturais – condição sine que nom para a perenidade do negócio.
A conquista desse status trouxe um benfazejo efeito paralelo o qual, em verdade, representa o principal ganho de todos esses esforços: trata-se da presença dos jovens no ambiente rural. Os jovens estão voltando porque o campo vive um novo tempo. Permanecem as ameaças típicas do meio – fenômenos climáticos, doenças, pragas, crises de mercado, escassez de crédito etc. – mas o setor primário da economia modernizou-se e criou novas perspectivas de futuro para as famílias rurais, com evidente elevação da qualidade de vida.
A presença do jovem assegura sucessão nas propriedades rurais, equacionando uma questão que preocupava os formuladores de políticas públicas para o agro. O envelhecimento da população rural e a fuga dos jovens era um processo socioeconômico e demográfico visto, até recentemente, como uma questão dramática para o futuro do agronegócio verde-amarelo. Essa constatação reforça a convicção de que o caminho é persistir nos programas que levam conhecimento produzem efeitos sociais, ambientais e econômicos para o rico e multifacetado universo rural.
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Carne vermelha e saúde

A literatura médica registra estudos com dispersão de resultados, alguns contraditórios ou antagônicos, relativos ao consumo de carne vermelha e problemas de saúde como doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais e câncer.
Um desses estudos é uma revisão publicada em 2020, na revista JAMA (Journal of the American Medical Association), efetuada por pesquisadores das Universidades de Cornell e Northwestern, com cerca de 30.000 participantes. Em relação aos que não consumiam carne, os pesquisadores apontam que há um pequeno risco no consumo de duas porções semanais de carnes processadas, tendo sido 7% mais elevado para doenças cardiovasculares – ou uma diferença de risco absoluto de cerca de 2%. Duas porções de carne vermelha foram associadas a um risco 3% maior (cerca de 1% de risco absoluto). O consumo de carnes de aves foi associado a um risco similar, enquanto a de peixes não apresentou risco aumentado. Também encontraram um risco 3% maior de morte prematura, independente de causa, para porções de carne vermelha e processada, mas nenhuma diferença para aves ou peixes.
Mas há estudos que não encontraram associação entre o consumo de carne vermelha e problemas de saúde, como o assinado por 19 pesquisadores, publicado em 2019 na revista Annals of Internal Medicine. Trata-se de uma metanálise baseada em quatro revisões sistemáticas de ensaios e estudos científicos, que analisaram a ligação entre o consumo de carne vermelha ou processada e câncer, doenças cardiovasculares e a mortalidade por qualquer razão. Em uma das revisões, os cientistas analisaram 12 ensaios – totalizando 54.000 participantes – e não encontraram nenhuma associação significativa entre o consumo de carne e o risco de doenças cardíacas ou câncer.
Nas outras três revisões, analisaram estudos de mortalidade por todas as causas, totalizando quatro milhões de participantes. Eles encontraram uma redução muito pequena no risco, mas uma associação incerta. Os investigadores concluíram finalmente que as ligações eram pequenas, os riscos baixos e a qualidade das evidências era deficiente. Em decorrência, recomendaram que os adultos continuassem a comer carnes vermelhas e processadas nos níveis atuais e não viam razão para reduzir o consumo por questões de saúde.
A busca de uma nova abordagem
A profusão de estudos e a diversidade de resultados chamou a atenção dos pesquisadores da Universidade de Washington, que apontaram algumas variáveis não devidamente controladas, que poderiam interferir nos resultados, como: os que comem carne ingerem menos vegetais? Fumam mais ou menos? Exercitam-se ou são sedentários? Ao relatar seus hábitos alimentares, as pessoas estão sendo precisas?
Destarte, desenvolveram uma metodologia, denominada “ônus da prova de risco” (the burden of the proof of risk) que, segundo seus autores, representa um novo método estatístico para avaliar e resumir quantitativamente as evidências de risco em diferentes pares de risco-resultado. Usando a função proposta, qualquer pesquisador pode avaliar os dados publicados para um determinado risco à saúde e, em seguida, calcular um único número que se traduz em um sistema de classificação de uma a cinco estrelas.
De acordo com a metodologia, a classificação de uma estrela indica que pode não haver uma associação verdadeira entre o comportamento ou condição e o resultado de saúde. Duas estrelas indicam que o comportamento ou condição está associado a uma mudança de 0-15% na probabilidade de um resultado de saúde, enquanto três estrelas indicam uma mudança entre 15-50%, quatro estrelas de 50-85%, e cinco estrelas indicam mudanças superiores a 85%.
A nova abordagem e o risco de consumo de carne vermelha
Para equalizar as condições dos estudos e suas conclusões, os cientistas examinaram décadas de investigação sobre o consumo de carne vermelha e as suas ligações com a saúde, valendo-se do sistema de classificação descrito acima. Suas descobertas permitem uma visão mais objetiva sobre o consumo de carne vermelha e a saúde.
Quando os pesquisadores utilizaram esta função no consumo de carne vermelha e nas suas potenciais ligações a vários resultados adversos para a saúde, verificaram que nenhum estudo obteve uma classificação superior a duas estrelas. De outra parte, observaram evidências de risco à saúde por comer poucos vegetais. Eventualmente o risco de uma dieta rica em carne seria a substituição dos vegetais – o que exige estudos comprobatórios sobre esta hipótese.
A conclusão desse estudo é que existem fracas evidências de associação entre o consumo de carne vermelha não processada e câncer colorretal, câncer de mama, diabetes tipo 2 e doença cardíaca isquêmica. Além disso, não encontraram nenhuma evidência de associação entre carne vermelha não processada e acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico.
Pela profundidade e sólida fundamentação científica, a abordagem proposta possui o potencial de tornar mais assertiva a análise de associações de causa-consequência, nos processos de metanálise de estudos científicos.