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Detoxificação de micotoxinas: ciência x marketing

Alguns fatores fizeram com que aumentasse a consciência do risco das micotoxinas para a saúde e desempenho dos animais

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Artigo escrito por Elise Nacer Khodja, engenheira agrônoma e gerente do Serviço Técnico da Olmix – América do Sul

Tem se tornado frequente o uso da palavra micotoxina em artigos relacionados à produção animal. Neste contexto, as micotoxinas são metabólitos secundários produzidos por variedades especificas de fungos, que são potencialmente tóxicas e podem ser nocivas para a saúde quando ingeridas. Os efeitos nos animais podem variar em função das diferentes estruturas químicas, concentrações, tempo de exposição, espécie, condições zoosanitárias e possíveis interações com outras micotoxinas.

Alguns fatores, como a variação climática, o aprimoramento de técnicas e metodologias para identificação do perfil das micotoxinas, bem como as mudanças relacionadas à segurança alimentar, fizeram com que aumentasse a consciência do risco das micotoxinas para a saúde e desempenho dos animais. Em um relatório publicado, foram estudados os perfis e a prevalência das contaminações por micotoxinas em matérias primas, rações e outros ingredientes utilizados na nutrição animal, sendo que a maior parte das 4.327 amostras estavam contaminadas. Aproximadamente 40% das amostras continham zearalenona (ZEA), 50% apresentaram deoxinivalenol (DON), e 51% tinha presença de fumonisinas (FUM).

Segundo outro autor, a probabilidade de ocorrer policontaminação em amostras de matéria prima é elevada. De fato, muitas vezes as condições de crescimento de um fungo permitem o crescimento de outros fungos, que produzem diferentes tipos de micotoxinas. Vários estudos demonstram que as policontaminações causam efeitos nocivos mesmo em concentrações menores que as mencionadas na literatura científica, pois trata-se de um efeito sinérgico entre as diferentes micotoxinas.

Outro estudo científico demonstrou o efeito sinérgico do DON com a FUM em nível intestinal. De acordo com o este trabalho, as fumonisinas impedem a renovação das células epiteliais que podem já ter sido danificadas pelo DON, ou seja, potencializando os problemas no campo.

Em estudos realizados com bovinos leiteiros, Johanna Fink-Gremmels, da Universidade de Utrecht, demonstrou que a habilidade do rúmen para detoxificar as micotoxinas é menor do que se acredita. Além disso, as micotoxinas podem ter efeitos nocivos sobre a microbiota ruminal, ocasionando doenças crônicas, problemas digestivos e até mesmo quadros de acidoses. Tais informações foram confirmadas por outro estudo que, ao adicionar concentrações de DON em 5,3 mg/kg de matéria seca, apresentou alterações nas fermentações ruminais, alteração no equilíbrio dos ácidos graxos voláteis, seguido de redução do pH, que é um aspecto importante para ocasionar acidoses ruminais.

Eficácia

As demonstrações de eficácia dos diferentes agentes de detoxificação de micotoxinas são conduzidas prioritariamente em condições in vitro. No entanto, esta metodologia pode ser simples e distante das condições naturais in vivo. Isto se dá, pois, nesses testes não são considerados fatores muito importantes, como por exemplo a digestão e transformação do alimento durante sua passagem no trato digestivo, o pH do conteúdo gástrico, a atividade das enzimas, assim como a microflora no trato intestinal. Estes processos são muito dinâmicos e não podem ser imitados em um modelo in vitro estático. Para demonstrar o efeito de materiais quelantes ou adsorventes, a maneira mais confiável e replicável é o modelo gastrointestinal in vitro dinâmico TNO TIM-1 (www.tno.nl).

O inovador modelo do TNO reproduz de maneira consecutiva os processos dinâmicos do estômago e do intestino delgado (TIM-1) e do intestino grosso (TIM-2) de um suíno. Esses modelos são as únicas ferramentas disponíveis para estudar a utilização dos compostos dos alimentos durante sua passagem pelo trato gastrointestinal. O maior local de absorção das micotoxinas é a parte proximal do intestino delgado, deste modo, o modelo TIM-1 (o sistema multi-compartimental do estômago e do intestino delgado) é o modelo mais eficaz para mensurar este fator.

Em 2004, uma pesquisa demonstrou que a ZEA não é a micotoxina de Fusarium com a maior complexidade para adsorção. Assim, o desafio para um adsorvente de micotoxinas não é somente captar ZEA, mas, sobretudo, de ser eficaz contra outras micotoxinas de Fusarium, como os tricotecenos ou as fumonisinas. A Instituição de Ciências para Produção de Alimentos (ISPA) na Itália, conduziu vários testes utilizando o modelo TNO TIM-1 para avaliar a eficácia de produtos comerciais e potenciais agentes quelantes para adsorver micotoxinas. Em um destes testes realizado em 2004, foram avaliados 14 produtos comerciais primeiramente em condições in vitro convencionais. Estes agentes foram testados em condições de pH de 3 até 8 para testar a adsorção de deoxinivalenol (DON) e nivalenol (NIV). Dentre todos os agentes, apenas o carvão ativado demonstrou uma capacidade de adsorção de 35,1 µmol até 8,8 µmol respectivamente para cada grama de adsorvente, de acordo com as condições de adsorção.

Na segunda parte do estudo, a pesquisa utilizou o modelo dinâmico do TNO (TIM 1) para avaliar a absorção do DON e do NIV no intestino delgado. Nesta condição dinâmica, a eficácia do carvão ativado para reduzir essa absorção foi de 51% para DON e 21% para o NIV. A maior parte da absorção aconteceu no compartimento jejunal para ambas micotoxinas. A inclusão do carvão ativado resultou numa redução significativa da absorção intestinal de micotoxinas. Com uma inclusão de 0,5% e 2% de carvão ativado, a redução foi de 29% até 45% para o DON com relação ao controle e de 23% até 41% para o NIV.

Estes resultados, combinados com estudos anteriores, podem servir para concluir que o carvão ativado parece ser uma das soluções mais eficazes para adsorver as micotoxinas, pois todos os outros produtos comerciais demonstraram uma baixa capacidade para adsorver micotoxinas de tipo Fusarium. No entanto, o uso de carvão ativado para alimentação animal tem suas limitações. As concentrações elevadas (> 0.5%) de carvão ativado tem que ser evitadas para minimizar o risco de adsorção de nutrientes, levando a um prejuízo dos valores calóricos e nutricionais do alimento.

Novas Tecnologias, Materiais Modificados

Novas tecnologias atualmente disponíveis permitem a modificação de materiais que podem ser utilizados na nutrição animal para a adsorção de micotoxinas. Algumas tecnologias específicas conseguem modificar a estrutura das argilas em escala nanométrica, aumentando o espaço interlaminar e, assim, modificando sua capacidade de adsorção. Estes tipos de modificações permitem o acesso a 100% da superfície da argila, aumentando sua capacidade de adsorção ao mesmo tempo que reduz o tempo necessário para adsorver as micotoxinas. Este processo é patenteado e 100% ecológico. Para testar a eficácia deste novo material, foi utilizado novamente o modelo do TNO, cujos resultados obtidos foram ainda melhores que os observados na passagem do carvão ativado. Este novo produto demonstrou uma capacidade de reduzir a absorção intestinal do DON em 40% quando comparado com o grupo controle, porém utilizando apenas 0,1% de produto. Se for comparado com o carvão ativado, este necessitou 2% de inclusão para reduzir a absorção em 45%. O teste com o TIM-1 demonstrou também a eficácia deste novo material contra a fumonisina, reduzindo sua absorção em 60%. Além disso, o uso desse produto não interferiu na biodigestibilidade das proteínas e dos carboidratos, assim como das vitaminas B1 e B2.

Escolha Importante

O preço elevado das matérias primas e demais custos de produção implicam na obtenção de níveis ótimos de produtividade nas granjas para manter as margens de ganho. O equilíbrio e a eficiência da dieta são fatores essenciais para o sucesso da produção. No entanto, o aproveitamento ótimo da nutrição pode ser afetado pela presença de micotoxinas, sendo essencial adotar mecanismos adequados para a proteção dos animais e garantir a valorização nutricional das dietas. Os métodos existentes para reduzir as contaminações por micotoxinas podem ser através do manejo e tratamento das matérias primas, bem como utilizando um adsorvente de micotoxinas na ração. Os resultados obtidos no teste detalhado neste artigo demonstram que a escolha de um adsorvente de micotoxinas é uma etapa muito importante, que deve ser feita com base em critérios científicos para a otimização dos resultados, da performance zootécnica e econômica da produção animal.

Mais informações você encontra na edição de Nutrição e Saúde Animal de novembro/dezembro de 2016 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Aliança Láctea Sul Brasileira avança nas ações de promoção do desenvolvimento da cadeia produtiva do leite

Evento reuniu um grupo de especialistas do setor lácteo, representantes das Secretarias de Agricultura dos três estados do Sul, dos Sindicatos das Indústrias de Laticínios e das Federações de Agricultura dos três estados do Sul.

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Objetivo foi atualizar sobre o cenário atual da Aliança Láctea Sul-Brasileira e relatar as ações de cada estado do Sul

Atualizar sobre o cenário atual da Aliança Láctea Sul-Brasileira (ALSB), relatar as ações de cada estado, principalmente sobre a entrada de leite em pó importado do Mercosul e conhecer o diagnóstico do leite no Paraná, feito pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) foram as pautas da reunião ordinária da ALSB promovida nesta quinta-feira (2), na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).

Encontro teve como anfitrião o presidente do Sistema Faesc/Senar e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Zeferino Pedrozo – Fotos: Silvania Cuochinski/MB Comunicação

O encontro teve como anfitrião o presidente do Sistema Faesc/Senar e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Zeferino Pedrozo, e reuniu um grupo de especialistas do setor lácteo, representantes das Secretarias de Agricultura dos três estados do Sul, dos Sindicatos das Indústrias de Laticínios e das Federações de Agricultura dos três estados.

A programação foi conduzida pelo coordenador geral da Aliança Láctea, Rodrigo Ramos Rizo, e contou com a participação do presidente do secretário de Agricultura e Pecuária de Santa Catarina, Valdir Colatto, do secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio Grande do Sul, Giovani Feltes, do secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Anacleto Ortigara, do presidente Sistema Farsul, Gedeão Silveira Pereira, do representante do Sistema Faep e presidente da Comissão Nacional de Pecuária do Leite da CNA, Ronei Volpi, do presidente do Sindileite Paraná, Éder Quinto Salvadori Deconsi, do presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins, entre outras lideranças.

Após um momento de solidariedade com a grave situação do Rio Grande do Sul, o presidente Pedrozo agradeceu aos representantes da Aliança Láctea pela participação no evento, comentou sobre a importância do Programa Leite Bom, recém-criado pelo Governo do Estado de Santa Catarina, falou sobre a longa trajetória para conquistar o valioso status sanitário catarinense e realçou o êxito do trabalho da ALSB para cumprir o propósito de atuar de forma conjunta para solucionar os problemas comuns enfrentados pelo setor. Também frisou o quanto o Plano de Desenvolvimento da Competitividade Global do Leite Sul-Brasileiro (PDCGL) é essencial para propor ações que contribuem para um ambiente favorável aos investimentos na ampliação da produção. “Com cooperação será possível aumentar nossa competitividade no mercado global e criar oportunidades para potencializar o setor”.

Rodrigo Ramos Rizo agradeceu a receptividade da Faesc e salientou que a reunião foi fundamental para vencer mais alguns pontos importantes do setor. “O encontro teve um início muito emocional em função do quadro que o Rio Grande do Sul está vivendo neste momento pelas chuvas e enchentes, mas avançamos nas questões que a Aliança Láctea tem se proposto, ou seja, nos dez itens que representam a nossa bíblia no sentido de fortalecermos as exportações e trabalharmos cada vez mais as nossas indústrias para que estejam adequadas ao mercado internacional. Sabemos que os produtores não exportam, ou seja, quem exporta é a indústria, mas somos todos elos de uma cadeia só. Acredito que é possível avançarmos. Também estão de parabéns os representantes do Paraná que elaboraram todo esse trabalho de levantamento de diagnóstico muito bem feito. Além disso, a presença dos secretários de agricultura conosco abrilhantou a reunião trazendo toda a sua bagagem, conhecimento e as ações que cada estado tem feito no sentido de barrar a entrada de leite em pó do Mercosul”.

Leite Bom SC

Valdir Colatto enfatizou as iniciativas desenvolvidas pelo Governo do Estado para fortalecer a cadeia produtiva do leite e, entre as medidas, citou o Leite Bom SC – programa que beneficia direta ou indiretamente os 22,2 mil produtores catarinenses. O pacote garante R$ 300 milhões em apoio ao setor nos próximos três anos. Paralelamente aos investimentos, decreto do governador Jorginho Mello suspende a concessão de qualquer incentivo fiscal para a importação de leite e derivados por Santa Catarina, acabando com a concorrência desleal que vinha prejudicando a produção leiteira catarinense. O pacote se divide em três ações: o decreto, os financiamentos aos produtores e os incentivos fiscais para a indústria leiteira. “Santa Catarina hoje está produzindo hoje cerca de 3,2 bilhões de litros de leite, o que corresponde a 9,3% da produção do Brasil. É um setor importante que precisamos valorizar e proteger para que nossos agricultores possam superar esses momentos difíceis de custo de produção e outros prejuízos”, assinalou Colatto.

Norberto Anacleto Ortigara frisou a importância do encontro para evoluir nas questões que envolvem a cadeia produtiva do leite e ressaltou que Paraná também tem dado passos importantes no sentido de continuar construindo uma política adequada aos interesses brasileiros, especialmente, do Sul do Brasil. Giovani Feltes destacou ações que o Rio Grande do Sul já vem colocando em prática para minimizar os efeitos da importação de leite, principalmente do Mercosul. “Nosso estado já vem há algum tempo tentando proteger, de acordo com suas possibilidades, a cadeia produtiva leiteira”, afirmou.

A Aliança Láctea foi constituída como o fórum público-privado para desenvolver e fomentar a implementação de um plano para harmonizar o ambiente produtivo, industrial e comercial dos três estados. Confira os 10 objetivos do Plano de Desenvolvimento da Competitividade Global do Leite Sul-Brasileiro.

  • Produzir leite com alta qualidade, a custo baixo e com organização logística eficiente para ser competitivo no mercado global em relação aos principais exportadores mundiais.
  • Melhorar a eficiência e o desempenho agronômico e zootécnico da produção de leite na região Sul do Brasil, adequando a produção aos princípios da sustentabilidade, ESG e bem-estar animal.
  • Aumentar a escala de produção e reduzir os custos médios por litro de leite produzido e transportado.
  • Melhorar a qualidade e o rendimento industrial do leite, com aumento do percentual de gordura e proteína na sua composição e pagamento por sólidos totais.
  • Melhorar a logística e a infraestrutura nas regiões produtoras de leite com investimentos em estradas, energia trifásica e Internet.
  • Melhorar a organização e governança da cadeia produtiva do leite com estratégias setoriais pré-competitivas, eliminação de assimetrias tributárias, intercooperação visando eficiência na logística e investimentos em marketing e informação geral para aumento consciente do consumo de lácteos.
  • Promover a fidelização do relacionamento comercial entre produtores de leite e indústrias de laticínios por meio de parcerias duradouras.
  • Conquistar e manter a excelência sanitária e biossegurança dos rebanhos com robustos serviços públicos e privados de defesa agropecuária e sanidade.
  • Adequar e harmonizar o serviço de inspeção de produtos de origem animal.
  • Criar mecanismos para estimular indústrias a instalar ou adequar plantas voltadas à exportação de lácteos.

Fonte: Assessoria Aliança Láctea Sul Brasileira
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Veto à carne nas Olimpíadas: punição ou preservação?

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada

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Letícia Moreira - Nutricionista - Foto e texto: Assessoria

*Por Letícia Moreira

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 se aproximam e uma notícia recente tem gerado polêmica no mundo esportivo: a decisão do comitê organizador de reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Segundo o Comitê, o objetivo é limitar as emissões de CO2 decorrentes das refeições, diminuindo pela metade a pegada de carbono em comparação a edições anteriores.

No entanto, essa abordagem é uma medida nutricionalmente desequilibrada e prejudicial aos atletas, que precisam de um aporte nutricional adequado para o alto desempenho.

Diante desse cenário, é importante analisar a evolução histórica da alimentação de atletas e o papel da carne em suas dietas, bem como as perspectivas atuais sobre o tema.

Desde a antiguidade, a alimentação dos atletas tem sido motivo de debate e controvérsia. De acordo com o relato do historiador Philostratos, no início, os atletas confiavam em seus treinadores para garantir que suas necessidades nutricionais fossem atendidas. No entanto, com o tempo, os médicos assumiram o controle e os primeiros especialistas em medicina esportiva começaram a surgir.

Nesse contexto, dois importantes médicos da época, Celsus e Galeno, consideravam o consumo de proteína animal a forma mais nutritiva de nutrição para os atletas. Ambos concordavam que a carne era um alimento “forte” e nutritivo, essencial para os atletas. Galeno chegou a afirmar que a carne era o alimento mais nutritivo de todos, sendo visível nos próprios atletas o impacto positivo dessa proteína.

Outras fontes proteicas, como aves e peixes, também eram consideradas importantes.

Essa visão histórica sobre a relevância da carne na dieta de atletas encontra eco nos dias de hoje. Um exemplo notável é o caso do atleta brasileiro Alessandro Medeiros, que se tornou conhecido mundialmente por alcançar grandes feitos esportivos seguindo uma dieta exclusivamente carnívora, ou seja, à base de carne.

Medeiros, com mais de 30 anos de dedicação ao esporte, desenvolveu habilidades físicas e mentais excepcionais, conquistando colocações de destaque em ultramaratonas e eventos de resistência, como o Mundial de Ultraman na ilha de Kona no Hawaii. Sua história mostra o impacto positivo que uma alimentação adequada, focada em proteínas e gorduras animais, pode ter no desempenho atlético.

Além da questão nutricional, explicada acima, neste ano, por meio de uma parceria de trabalho estabelecida com a Connan, empresa de nutrição animal, tive a oportunidade de me aproximar e informar sobre o processo de produção da carne no Brasil, acompanhando mais de perto os movimentos da pecuária.

Esta proximidade me fez conhecer um lado da atividade que é pouco difundida entre a população em geral: os investimentos em tecnologia na produção de animais. Hoje, existem empresas e entidades focadas no desenvolvimento de soluções que garantam a qualidade do produto final, a carne, mas que também ofereçam aos bovinos melhor qualidade de vida e menor emissão de gases, com uma alimentação mais balanceada e proteica.

Além disso, técnicas de manejo que proporcionem a recuperação de pastagens degradadas, adubação qualificada, manejo do pastejo, estratégias de suplementação e dietas adequadas em confinamento são alguns métodos que têm mostrado efeito positivo na mitigação da emissão de gases de efeito estufa da pecuária.

Já há trabalhos que mostram situações em que o carbono sequestrado no solo sob pastagem contribui para um balanço positivo de carbono numa fazenda de produção pecuária, isto é, em que há mais carbono fixado do que emitido.

Não há como negar que a pecuária tem sim uma parcela importante no cenário da emissão de gases de efeito estufa, mas antes de condenar uma atividade de extrema importância para a segurança alimentar mundial, é fato que as autoridades francesas deveriam olhar para outros setores, como os de energia e de transportes, por exemplo, que também são grandes emissores e que crescem ano a ano.

Para um impacto de relevância no cenário da preservação do meio ambiente, entendo que as medidas deveriam levar em conta o todo. De acordo com relatório da organização não governamental Carbon Market Watch (CMW), a organização das Olimpíadas de Paris-2024 só apresentou estratégia robusta de cobertura para 31% de suas emissões de gases de efeito estufa. Os outros 69% não são detalhados suficientemente.

No campo dos transportes, item de maior peso nas estimativas de emissões, a CMW considera satisfatório o plano do comitê para o transporte em Paris, já que mais de 80% das instalações esportivas ficarão a um raio de 10km da Vila Olímpica. Porém, os organizadores não apresentaram algo completo, segundo a ONG, para o transporte de espectadores, atletas e jornalistas para a França.

Diante das evidências históricas e dos casos atuais, é questionável a decisão dos organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris em reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Essa abordagem, além de ser nutricionalmente desequilibrada, ignora o importante papel da pecuária no fornecimento de alimento para o mundo e pode comprometer o desempenho e a saúde dos atletas.

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada. Afinal, a dieta ideal para os atletas olímpicos deve priorizar um ótimo aporte nutricional e o atendimento de suas necessidades específicas, e não apenas uma preocupação ambiental que pode se sobrepor aos interesses da saúde e do desempenho desses esportistas de alto nível.

 

 

Referência: Uma comparação entre as dietas esportivas da Grécia Antiga e da Roma Antiga com as práticas modernas (https://www.omicsonline.org/open-access/a-comparison-of-ancient-greek-and-roman-sports-diets-with-modern-day-practices-2473-6449-1000104.php?aid=69865)

* Nutricionista formada há 18 anos pela Faculdade de Medicina de Itajubá (MG), Letícia Moreira, é especialista em dietas Low Carb, Cetogênica e Carnívora, com foco em emagrecimento e esporte de Endurance. É cofundadora da PRIMAL ENDURANCE e Nutricionista do primeiro Ultraman carnívoro do mundo, Alessandro Medeiros.

Fonte: Assessoria
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Colibacilose em bezerros: importante tipo de diarreia

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível.

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Foto: Divulgação/JÁ Saúde Animal

A saúde intestinal dos bezerros é um aspecto importante na pecuária, afinal impacta diretamente o desenvolvimento e a produtividade desses animais. Dessa forma, a manutenção de um trato gastrointestinal saudável e funcional permite a digestão e a absorção adequadas dos nutrientes. Nesse contexto, entre os principais desafios da criação de bezerros, relacionado à saúde intestinal, está a diarreia, sendo responsável por uma série de prejuízos. O problema é caracterizado por uma grande perda de líquidos e eletrólitos corporais que vão ocasionar desidratação, perda de peso, com possibilidade de evoluir para choque hipovolêmico e morte do animal.

Vários fatores podem ter relação com a ocorrência da diarreia e os agentes etiológicos causadores podem ser diversos, incluindo as bactérias (Escherichia coli, Salmonella sp., Clostridium perfringens), os vírus (rotavírus e coronavírus), protozoários (Eimeria sp. e Cryptosporidium sp.) e as verminoses. Dentre esses, um dos principais no quesito mortalidade é a Escherichia coli, bactéria gram-negativa, que de forma geral é inofensiva. Contudo, quando tipos patogênicos infectam uma população susceptível ou quando há uma somatória de fatores (ambiente, manejo, imunidade) que estimula a proliferação bacteriana ocorre a chamada Colibacilose, termo atribuído a afecções provocadas por E. coli, que consequentemente podem ocasionar quadros de diarreia.

A Colibacilose pode acontecer de três maneiras: septicêmica, enterotoxêmica e entérica. A forma septicêmica se desenvolve quando a bactéria se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, afetando geralmente bezerros que não tiveram uma boa colostragem. Nesse caso, a apresentação da afecção é aguda, variando de 24 a 96 horas, com sinais clínicos como depressão, febre alta, anorexia e taquicardia. Outra forma é a enterotoxêmica, quando a bactéria se prolifera na parte média e posterior do intestino, havendo a liberação de toxina. Nesse caso, os animais apresentam prostração intensa e morrem de endotoxemia. Por fim, existe a forma entérica, conhecida como “curso branco”, caracterizada por sinais como diarreia pastosa abundante, de coloração esbranquiçada ou amarelada, podendo progredir para diarreia aquosa severa, desidratação, acidose metabólica e morte.

Geralmente a ocorrência da Colibacilose é mais frequente em animais mantidos em confinamentos ou muito próximos uns dos outros, além de bezerros com poucos dias de vida. Outros fatores epidemiológicos que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro diarreico são: períodos chuvosos, sistemas de produção inadequados (manejo sanitário, instalações e nutrição ineficazes) e outras enfermidades como as endoparasitoses. A taxa de mortalidade pode variar de 10 a 50% para bovinos de leite criados em sistemas intensivos e de 5 a 15% para bovinos de corte. É importante salientar que ela pode chegar a 60% em propriedades com problemas de manejo.

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível. Além disso, é importante realizar a vacinação de fêmeas no pré-parto especialmente por conta da passagem de anticorpos da mãe imunizada para o bezerro, conferindo proteção durante os três primeiros meses de vida.

Para o tratamento recomenda-se a administração de antimicrobianos, sendo a Enrofloxacina um dos mais indicados, além do uso de anti-inflamatórios não esteroidais para o controle da febre, alívio da cólica e para proporcionar conforto ao animal. É importante que seja feita a reposição dos fluidos e eletrólitos pela via oral (em casos iniciais) ou pela via parenteral, pois a desidratação pode levar os bezerros à morte de forma muito rápida.

As referências bibliográficas desse texto podem ser solicitadas à autora pelo e-mail: juliana.melo@jasaudeanimal.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Juliana Melo, médica-veterinária e jornalista na JA Saúde Animal
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