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Cooperativismo: a força de Santa Catarina
A partir da experiência de Santa Catarina é possível afirmar que o cooperativismo pode mudar o mundo. A coerência de seus princípios e a eficácia de sua prática testemunham essa assertiva.
O Dia Internacional do Cooperativismo, comemorado mundialmente no primeiro sábado do mês de julho, oferece a oportunidade para algumas reflexões a partir da experiência barriga-verde. O cooperativismo em Santa Catarina é uma força econômica e social que há mais de 100 anos contribui para a formação da cidadania, o fortalecimento das cadeias produtivas, a dinamização das economias locais e o desenvolvimento dos Municípios. As pesquisas já comprovaram que o índice de desenvolvimento humano (IDH) das localidades onde existem cooperativas atuantes é maior que em outras, aonde a doutrina da cooperação ainda não chegou.
O cooperativismo é um dos aspectos que notabilizaram Santa Catarina no Brasil e no mundo. Como um estado com apenas 1,1% do território nacional e um relevo irregular e acidentado na maior parte da sua superfície territorial conseguiu estabelecer uma estrutura extraordinária de produção e tornar-se grande produtor de alimentos, com reconhecida projeção internacional?
As etnias que colonizaram esse pedaço do Brasil eram vocacionadas para o trabalho e, além disso, vieram com as primeiras influências benfazejas da doutrina cooperativista que surgia no velho continente. O amálgama desses fatores se traduziu em trabalho, persistência e superação, proporcionando ferramentas e ideário aos pioneiros para a superação de obstáculos que a natureza ou o mercado impuseram.
As primeiras cooperativas foram as de crédito, reunindo pequenos capitais de poupadores para o financiamento de empreendimentos locais, irrigando com recursos os pequenos negócios em um tempo em que a presença do Estado era rarefeita e a assistência creditícia só existia nas capitais. As cooperativas financeiras atuaram em total intercooperação com as cooperativas do ramo agropecuário, financiando a construção de agroindústrias, a compra de equipamentos, veículos e insumos, enfim, inaugurando os primórdios do processamento industrial das matérias-primas advindas do campo – grãos, frutas, leite, aves, suínos, bovinos e ovinos.
Até hoje esses dois ramos – crédito e agropecuário – continuam os mais expressivos do cooperativismo catarinense em número de associados (as 65 cooperativas de crédito reúnem mais de 3 milhões de cooperados) e em receita operacional bruta (as 49 cooperativas rurais faturaram R$ 56,5 bilhões em 2022).
As cooperativas acompanharam o aumento da complexidade da sociedade catarinense e brasileira, surgindo novas cooperativas em importantes setores da vida barriga-verde, como nos transportes, na medicina, na infraestrutura, no consumo etc. As cooperativas oportunizaram alcançar múltiplos objetivos.
A partir da experiência de Santa Catarina é possível afirmar que o cooperativismo pode mudar o mundo. A coerência de seus princípios e a eficácia de sua prática testemunham essa assertiva. As cooperativas são organizações humanas inspiradas em princípios da conjugação de esforços com objetivos econômicos. Os sete princípios cooperativos, linhas orientadoras através das quais as cooperativas levam os seus valores à prática, expressam com altissonância sua natureza: adesão voluntária e livre, gestão democrática, participação econômica dos membros, autonomia e independência, educação/formação/informação, intercooperação e interesse pela comunidade.
Centenas de afamadas e reconhecidas marcas que estão no mercado nacional e internacional, aprovadas e valorizadas por milhões de consumidores, pertencem a empresas de natureza cooperativistas que operam em algum de seus ramos.
Como se constata soberbamente em Santa Catarina, o cooperativismo deixou de ser apenas uma doutrina bonita, apurada e reconhecida mundialmente para transformar-se em um grande e eficaz instrumento de transformação da sociedade através da cooperação e da cidadania.
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Segurança alimentar na América Latina e Caribe: progresso, desafios e o compromisso de avançar
Somente com um compromisso firme poderemos acabar com a fome e a má nutrição. Sem deixar ninguém para trás.
A última publicação do relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2024 (SOFI, na sigla em inglês), lançada em julho passado durante a reunião do G20 no Rio de Janeiro, oferece uma visão detalhada dos avanços e retrocessos na luta contra a fome. Em nível global, embora tenhamos alcançado alguns progressos, persistem desigualdades significativas: enquanto a África continua sendo a região mais afetada, a América Latina apresenta sinais positivos de recuperação, refletindo o impacto dos esforços conjuntos para melhorar a segurança alimentar na região.
O caminho não tem sido fácil. Após a pandemia de COVID-19, nossa região foi uma das mais afetadas pela fome, atingindo em 2021 seu ponto mais alto, com 6,9% da população afetada, enquanto 40,6% enfrentaram insegurança alimentar moderada ou grave. Durante vários anos, observamos como os avanços obtidos no início dos anos 2000 foram rapidamente revertidos.
No entanto, nos últimos dois anos, houve uma diminuição nos níveis de fome, com uma taxa de 6,2% da população, o que representa uma redução de 4,3 milhões de pessoas, impulsionada principalmente pela América do Sul.
Investimentos em programas de proteção social em vários países da região têm sido fundamentais para impulsionar essa recuperação. Através dos sistemas sociais, foi possível responder rapidamente e direcionar os recursos financeiros disponíveis de maneira mais eficaz para as populações mais vulneráveis.
Apesar dos progressos na região, as sub-regiões do Caribe e da América Central continuam a enfrentar desafios no aumento da fome. Não podemos nos permitir retroceder. É fundamental que aprofundemos a análise das visões e estratégias que mostraram resultados positivos para continuar avançando nesse caminho.
A seis meses da Conferência Regional da FAO em Georgetown, Guiana, nos comprometemos a dar respostas tangíveis às prioridades estabelecidas pelos países para transformar os sistemas agroalimentares e alcançar uma Melhor Produção, uma Melhor Nutrição, um Melhor Meio Ambiente e uma Vida Melhor.
Na FAO, iniciamos um processo de reflexão de alto nível junto aos governos para compartilhar experiências de políticas públicas orientadas a garantir a segurança alimentar e nutricional.
Nossa região, assim como o resto do mundo, deve estar preparada para enfrentar riscos crescentes como a mudança climática, conflitos, crises econômicas, entre outros desafios.
A América Latina e o Caribe demonstraram que, com políticas adequadas, podemos avançar e oferecer respostas concretas e sustentáveis. Somente com um compromisso firme poderemos acabar com a fome e a má nutrição. Sem deixar ninguém para trás.
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Recursos hídricos, queimadas e cinzas: a urgência do necessário equilíbrio na busca pela sustentabilidade ambiental
Com a chegada das chuvas, ou mesmo transportada pelo ar, parte desse material atinge carreando uma os recursos hídricos, série de elementos químicos capazes de alterar a qualidade da água, prejudicando seu grau de potabilidade.
A água e o fogo são elementos que não se misturam, mas que se influenciam e podem comprometer significativamente a saúde das pessoas e toda a vida na Terra. A água é um elemento essencial à vida, mas em excesso pode trazer várias consequências negativas, como os episódios de enchentes e alagamentos vistos recentemente no Brasil. O fogo já era manipulado pelos povos primitivos há milhares de anos, e hoje é uma ferramenta fundamental para diversas atividades humanas. Contudo, se utilizado sem o controle necessário ou de formas criminosas, pode também ser extremamente nocivo e perigoso.
Resultados de estudos recentes mostram as interações entre esses dois elementos e, principalmente, as influências negativas do fogo sobre a água no nosso planeta. Vários artigos científicos têm relatado os efeitos das queimadas na redução da quantidade de água disponível, afetando, entre outros aspectos, a umidade do ar. Essas consequências estão amplamente relacionadas às mudanças climáticas e ao aquecimento global propriamente dito.
E sobre a qualidade da água, o que se fala? Pouco. Como o fogo e a água não se misturam, são os resíduos deixados pelo fogo que interagem na água, causando interferências diretas e redução na sua qualidade.
Os impactos das cinzas de incêndios florestais sobre os recursos hídricos têm sido amplamente estudados em regiões temperadas, na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, o tema ganhou relevância no âmbito do projeto de pesquisa “Queimadas e recursos hídricos no Cerrado: efeitos das cinzas sobre aspectos limnológicos e ecotoxicológicos” (2010-2012) e, posteriormente, no “Projeto Cinzas: aspectos motivacionais de uso do fogo e efeitos sobre a água e o solo como subsídios para mitigação dessa prática na agricultura” (2013-2016), ambos liderados pela Embrapa Cerrados (DF) e financiados pelo Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (CNPq).
No entanto, ainda há muitas lacunas a serem preenchidas e várias questões a serem investigadas. O que se sabe é que as queimadas são eventos frequentes e naturais no Cerrado brasileiro, por exemplo, mas a ação humana tem ampliado a sua frequência e gerado diversos problemas ambientais. Além das perdas verificadas após o término do fogo, efeitos não facilmente visíveis também são detectados. As cinzas e a fuligem geradas pelo fogo são compostas por elementos químicos constituintes dos seres vivos queimados (vegetais ou animais) ou mesmo de materiais minerais, que podem ser degradados dependendo da intensidade do fogo.
Com a chegada das chuvas, ou mesmo transportada pelo ar, parte desse material atinge carreando uma os recursos hídricos, série de elementos químicos capazes de alterar a qualidade da água, prejudicando seu grau de potabilidade e, principalmente, a sobrevivência das espécies que habitam os ecossistemas aquáticos. A presença de macronutrientes como potássio, fósforo e nitrogênio, além de micronutrientes como vários metais, é marcante nas cinzas, e as quantidades disponíveis de cada um desses elementos são o aspecto de maior relevância para a determinação das consequências.
Em contato com a água, parte desses compostos se dissolve, alterando diversos parâmetros físico-químicos do meio aquático, entre eles o pH e o oxigênio dissolvido, fatores limitantes para a sobrevivência de algumas espécies. Nesse caso, ambientes com baixa vazão ou fluxo de água, tais como lagos, lagoas e reservatórios, podem ser mais comprometidos.
A contaminação da água subterrânea pelas cinzas também foi estudada, e pode ser um ponto de atenção com relação a distúrbios digestivos em indivíduos que consomem água de poço, ou até mesmo um problema para irrigantes que utilizam essa água, visto que elementos como o cálcio e o magnésio podem prejudicar o funcionamento dos equipamentos de irrigação.
Dados relacionados ao comportamento humano mostram que o uso errôneo do fogo pode e deve ser minimizado, sobretudo com maior envolvimento de órgãos públicos, por meio da promoção de atividades instrucionais e de educação ambiental para as comunidades, além do combate a práticas que podem ser prejudiciais ao ambiente e à saúde humana.
O fato é que o equilíbrio na interação entre água, fogo e ações humanas precisa urgentemente ser reestabelecido, de modo a reduzir os danos observados, garantindo assim a sobrevivência humana e a sustentabilidade ambiental do planeta.
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Ensino do cooperativismo
Em locais onde o ensino cooperativista foi implementado, comunidades têm testemunhado um aumento na participação dos jovens em projetos sociais e uma maior disposição para a criação de soluções coletivas para problemas locais.
O ensino do cooperativismo nas escolas públicas – proposta defendida pela Organização das Cooperativas Brasileiras com o apoio desta Organização das Cooperativas de Santa Catarina – transcende a mera transmissão de conhecimento. É uma estratégia de formação cidadã, capaz de moldar indivíduos conscientes, comprometidos e preparados para enfrentar os desafios sociais e econômicos de suas comunidades. O cooperativismo, enquanto doutrina que valoriza a paz, a harmonia, a justiça social e o esforço individual, oferece uma base sólida para o desenvolvimento de uma sociedade mais equitativa e colaborativa.
A inclusão da educação cooperativa na Base Nacional Curricular Comum (BNCC) é uma medida que merece ser amplamente defendida. Ao integrar o cooperativismo de forma interdisciplinar no currículo escolar, abre-se espaço para que estudantes de todas as idades compreendam a importância da cooperação como ferramenta para o progresso coletivo. Desde cedo, crianças e adolescentes podem ser expostos aos valores cooperativistas, como a ajuda mútua, a responsabilidade compartilhada e a solidariedade, princípios que não apenas beneficiam o indivíduo, mas também fortalecem a coesão social.
Nos países onde o cooperativismo é ensinado nas escolas, observa-se um impacto positivo tanto no desenvolvimento pessoal quanto no crescimento econômico das regiões envolvidas. A introdução prática desses conceitos em sala de aula, por meio de atividades que simulam a criação e gestão de cooperativas escolares, permite que os alunos vivenciem a importância do trabalho em equipe e do empreendedorismo coletivo. Essas experiências ajudam a formar cidadãos mais conscientes de seu papel na sociedade e mais preparados para agir em prol do bem-comum.
Os estados já avançaram na inclusão do cooperativismo no currículo escolar, servindo como exemplo do potencial transformador dessa iniciativa. Em locais onde o ensino cooperativista foi implementado, comunidades têm testemunhado um aumento na participação dos jovens em projetos sociais e uma maior disposição para a criação de soluções coletivas para problemas locais. Isso demonstra que, ao entenderem a relevância do cooperativismo, os estudantes se tornam agentes de mudança, capazes de liderar iniciativas que promovam o desenvolvimento sustentável e a inclusão social.
Além dos benefícios sociais, essa prática educacional nas escolas públicas pode ter um impacto significativo na economia local. A formação de futuros empreendedores com uma mentalidade cooperativista pode resultar na criação de novas cooperativas, que por sua vez geram emprego e renda, promovendo o desenvolvimento econômico das microrregiões. Essas cooperativas, enraizadas nos princípios da meritocracia e da valorização do esforço individual, são capazes de competir no mercado com outras formas de organização empresarial, oferecendo produtos e serviços de qualidade com base em práticas justas e solidárias.
Outro ponto a ser destacado é o papel do cooperativismo em situações de catástrofes, onde a solidariedade e a parceria com o Poder Público se tornam fundamentais. Em momentos de emergência, cooperativas têm demonstrado ser um suporte vital para a recuperação de comunidades, oferecendo não apenas assistência imediata, mas também estratégias para a reconstrução econômica e social. Esse exemplo foi protagonizado pelas cooperativas catarinenses na pandemia da covid-19, nas enchentes e em outras situações de crise.
Incluir o cooperativismo no currículo das escolas pode proporcionar aos estudantes ferramentas necessárias para transformar suas realidades. O cooperativismo, com sua filosofia humanista e seu modelo de negócio solidário, apresenta-se como uma via promissora para o desenvolvimento sustentável e a formação da cidadania.