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Conheça os sete hábitos das fazendas leiteiras altamente eficazes

Zootecnista Renato Palma Nogueira fez palestra sobre o tema durante 14º Simpósio do Leite, em Erechim, RS

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A cada 11 minutos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um produtor de leite desiste da atividade no Brasil. Apesar de a produtividade da proteína só crescer no Brasil, o número de pecuaristas tem diminuído nos últimos anos. As informações foram repassadas pelo zootecnista Renato Palma Nogueira, durante uma palestra em que ele abordou os sete hábitos das propriedades leiteiras altamente eficazes no Brasil. Nogueira foi um dos protagonistas do Simpósio do Leite, evento que reuniu pesquisadores, profissionais de campo e estudantes do agronegócio, no início de junho, em Erechim, RS. O Presente Rural participou do evento, promovido pela Amevau (Associação dos Médicos Veterinários do Alto Uruguai).

“Nos últimos 20 anos a pecuária leiteira vem crescendo 3% ao ano. No Sul, está crescendo o dobro disso. Mas muitos produtores estão encerrando a atividade leiteira porque não são eficientes em todas as disciplinas. De acordo com o IBGE, o Brasil perde uma propriedade leiteira a cada 11 minutos. Os Estados Unidos perderam 33% das fazendas leiteiras em dois anos. Mesmo assim, a produção também aumentou”, pontua.

Para se manter no mercado altamente competitivo e entregar um produto com as características que a indústria deseja, o produtor precisa estar atento, segundo Nogueira, a sete hábitos principais, comuns nas mais eficientes fazendas do país: “período de transição, sanidade, gado jovem, manejo, reprodução, alimentação e gestão”.

O período de transição em vacas leiteiras é definido como o intervalo compreendido entre as três semanas que antecedem o parto e as três semanas após. Nesse período o animal fica mais suscetível a doenças, por exemplo, como a mastite. De acordo com o zootecnista, essa etapa “representa a única disciplina que afeta todo o desempenho da vaca, como reprodução, longevidade, produtividade e lucratividade”. “Precisamos um plano de contingência para a transição. Cerca de 75% dos problemas que acometem vacas especializadas acontecem no primeiro mês pós-parto”, assegurou o profissional. De acordo com o profissional, entre 30 e 50% das vacas têm problemas, como doenças metabólicas ou infecciosas, no pós-parto imediato.

Para evitar esse tipo de problema, sugeriu o zootecnista, o produtor deve oferecer 15% de sobra de alimento após o parto imediato. “Nesse momento os animais precisam comer bem”, comentou. “É preciso oferecer saúde para essa vaca, no ambiente que vive e com a nutrição ideal”. Ainda segundo Nogueira, “uma em cada quatro vacas deixa o rebanho por causa da transição”.

Um período de transição adequado, segundo Nogueira, reflete em “parto saudável, mínimo de doenças metabólicas, produção de colostro de altíssima qualidade, reprodução adequada em 60 dias, mínimo de perda de peso, consumo adequado no pré-parto, manutenção do status de cálcio, alta produção de leite, fígado saudável, máximo conforto e aumento rápido de ingestão pós-parto”.

Saúde Animal

Manter o animal saudável é fundamental para ter eficiência. Nogueira relaciona o sucesso especialmente ao controle de células somáticas (CCS), de doenças reprodutivas e metabólicas e infecciosas. Ele destaca “os quatro P’s da saúde do bovino de leite: peito, pata, pé e prenhes”

De acordo com ele, o nível de CCS pode não só reduzir a qualidade, mas também a quantidade do leite produzido. “A cada cem mil partículas a mais de CCS, o produtor perde 2,5 quilos de leite”, comenta.

Para ele, o mais importante em uma propriedade leiteira é a prevenção. “A gente não pode tratar a vaca. Tem que prevenir. A prevenção é um dos pontos mais importantes da Medicina Veterinária”, destacou. Nogueira chamou a atenção para vários problemas que podem acontecer e que o produtor precisa estar vigilante, como claudicação (vaca mancando) e estresse térmico.

De acordo com ele, vacas doentes precisam ser descartadas para evitar problemas maiores em todo o rebanho. “Temos que descartar as vacas problemáticas. Não abra mão do plantel por causa de duas, três vacas. Nesses casos é preciso dar um passo para trás pra dar três pra frente”, sugeriu.

Além disso, Nogueira citou como determinante para o controle da sanidade na propriedade leiteira a correta vacinação, práticas de biosseguridade, controle agressivo do estresse térmico, casqueamento preventivo, conforto, plano dos sete pontos de ordenha, além de um profissional veterinário criterioso, realização de exames de rotina e quarentena na compra de animais.

Gado Jovem

Durante o Simpósio do Leite em Erechim, Nogueira enfatizou a necessidade de manter o plantel com boa porcentagem de gado jovem. “Os melhores animais da propriedade estão nessa fase. O animal que está nascendo é cada vez mais refinado, mais sensível, menos caipira. Nós precisamos controlar melhor esse animal, fruto do melhoramento genético”, comentou. De acordo com ele, falhas na recria afetam o potencial produtivo dos animais.

Alimentação

De acordo com Nogueira, a quantidade de colostro ingerida logo nas primeiras horas de vida vai determinar o potencial produtivo daquele animal no futuro. Em uma pesquisa apresentada por ele, vacas que ingeriram menos colostro ao nascimento tiveram seus índices de desempenho menores em várias frentes. “Fizemos um estudo com vacas que tomaram dois e quatro litros de colostro nas primeiras 4 horas de vida. Quem consumiu mais, emprenhou mais cedo, teve menos taxa de descarte, o ganho de peso foi maior na fase de recria, assim como a sobrevivência foi maior na vida adulta, e a produção de leite foi maior”, cometa. De acordo com ele, vacas que consumiram mais colostro deram “1,5 litro a mais de leite por dia em duas lactações”. “É uma única decisão (ofertar o colostro) que muda tudo”, assinala.

De acordo com o profissional, via de regra a dieta de matéria seca deve ser composta por 55% de forragem, 30% de concentrado e 15% de outras matérias-primas. “Cerca de 90% da variação na produção de leite é explicada pelo que a vaca comeu”.

Reprodução

Na recria, Nogueira aponta dois pontos fundamentais para ter sucesso: peso certo na hora do parto e redução da mortalidade. “Importante não é o foco no peso na inseminação e sim o peso no parto. A novilha tem que ter 85% do peso adulto ao parto”, orientou. Além disso, “uma das metas da recria é minimizar a mortalidade”. De acordo com o profissional, cerca de 75% das mortes acontecem nas três primeiras semanas após o parto. Dessas, 65% estão ligadas à diarreia e outros 20% à pneumonia.

Conforme Nogueira, o ideal é que o animal dobre de peso em 60 dias e tenha 50% do peso adulto em 13 meses.

“A reprodução é o limiar entre viver e morrer na pecuária leiteira”, define Nogueira. Para ele, esse processo pode envolve mais de 300 variáveis, e precisa ser feito com rapidez para obter eficiência.  “A reprodução É multifatorial. São mais de 300 variáveis identificadas com problemas para a taxa de concepção ao primeiro serviço. As três primeiras são casqueamento (quando vai secar), cama para vacas secas e PVE (período voluntário de espera)”, comentou.

Ainda conforme o palestrante, outras 300 situações podem afetar a prenhes. “Mais de 300 variáveis foram identificadas com prenhes com 150 dias”. As principais, segundo Nogueira, são espaço de cocho e temperatura de cocho.

Para ele, o produtor precisa “estabelecer metas e ser rápido na reprodução”. Ente as metas, cita, está 100% das vacas inseminadas em 90 dias, taxa de prenhes acima de 20%, menos de 20% de vacas vazias com 150 dias, pouca perda de peso e menos de 6% de aborto.

Manejo

O manejo evolui constantemente e o produtor precisa estar atento às novas práticas. É no que acredita Nogueira, que observa esse ponto da produção como o mais importante. “O manejo é o seu trabalho. Manejo é toda decisão que o homem tem ao lidar com as vacas. Omundo evoluiu, as coisas mudaram, as vacas evoluíram, portanto nós temos que mudar. Se for para melhorar, tem que mudar. Discutir ponto de vista não é guerra. É preciso resolver para chagar aos índices desejáveis. Vamos evoluir para mandar leite para fora e não comprar leite (importar)”, comenta. “Se você (produtor) está fazendo uma coisa da mesma maneira há dez anos, provavelmente está fazendo errado”, cita. De acordo com ele, “80% do resultado da fazenda é manejo e 20% é o balanceamento da nutrição”.

De acordo com ele, o maior problema da pecuária é o estresse térmico. Para tanto, assegura que o produtor precisa fazer “um manejo consistente, com rotina, todo dia, no mesmo horário, a mesma coisa. Consistência é a coisa mais importante do manejo”, encara. Ele citou ainda a importância de uma equipe, dedicada, experiente, que saiba definir e cumprir protocolos”, salientou.

“Eu trabalho em seis estados com leite e sabe porque o Sul cresce mais. Porque lá os produtores dão vitamina i (de “i” morar com as cavas”, brincou Nogueira.

Gestão

A gestão é talvez a ferramenta que mais tenha profissionalizado o pecuarista de leite nos últimos anos. Segundo Nogueira, ter uma gestão eficiente é saber quais os processos que estão dando certo e quais podem ser melhorados, por meio de dados que a própria fazenda oferece. “O que não se mede, não se administra. Temos que gerenciar para ganhar dinheiro. Produzir leite é uma profissão nobre. Precisamos ganhar dinheiro tirando leite”, pontuou.

Mais informações você encontra na edição de Bovinos, Grãos e Máquinas de agosto/setembro de 2017 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Aliança Láctea Sul Brasileira avança nas ações de promoção do desenvolvimento da cadeia produtiva do leite

Evento reuniu um grupo de especialistas do setor lácteo, representantes das Secretarias de Agricultura dos três estados do Sul, dos Sindicatos das Indústrias de Laticínios e das Federações de Agricultura dos três estados do Sul.

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Objetivo foi atualizar sobre o cenário atual da Aliança Láctea Sul-Brasileira e relatar as ações de cada estado do Sul

Atualizar sobre o cenário atual da Aliança Láctea Sul-Brasileira (ALSB), relatar as ações de cada estado, principalmente sobre a entrada de leite em pó importado do Mercosul e conhecer o diagnóstico do leite no Paraná, feito pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) foram as pautas da reunião ordinária da ALSB promovida nesta quinta-feira (2), na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).

Encontro teve como anfitrião o presidente do Sistema Faesc/Senar e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Zeferino Pedrozo – Fotos: Silvania Cuochinski/MB Comunicação

O encontro teve como anfitrião o presidente do Sistema Faesc/Senar e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Zeferino Pedrozo, e reuniu um grupo de especialistas do setor lácteo, representantes das Secretarias de Agricultura dos três estados do Sul, dos Sindicatos das Indústrias de Laticínios e das Federações de Agricultura dos três estados.

A programação foi conduzida pelo coordenador geral da Aliança Láctea, Rodrigo Ramos Rizo, e contou com a participação do presidente do secretário de Agricultura e Pecuária de Santa Catarina, Valdir Colatto, do secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio Grande do Sul, Giovani Feltes, do secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Anacleto Ortigara, do presidente Sistema Farsul, Gedeão Silveira Pereira, do representante do Sistema Faep e presidente da Comissão Nacional de Pecuária do Leite da CNA, Ronei Volpi, do presidente do Sindileite Paraná, Éder Quinto Salvadori Deconsi, do presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins, entre outras lideranças.

Após um momento de solidariedade com a grave situação do Rio Grande do Sul, o presidente Pedrozo agradeceu aos representantes da Aliança Láctea pela participação no evento, comentou sobre a importância do Programa Leite Bom, recém-criado pelo Governo do Estado de Santa Catarina, falou sobre a longa trajetória para conquistar o valioso status sanitário catarinense e realçou o êxito do trabalho da ALSB para cumprir o propósito de atuar de forma conjunta para solucionar os problemas comuns enfrentados pelo setor. Também frisou o quanto o Plano de Desenvolvimento da Competitividade Global do Leite Sul-Brasileiro (PDCGL) é essencial para propor ações que contribuem para um ambiente favorável aos investimentos na ampliação da produção. “Com cooperação será possível aumentar nossa competitividade no mercado global e criar oportunidades para potencializar o setor”.

Rodrigo Ramos Rizo agradeceu a receptividade da Faesc e salientou que a reunião foi fundamental para vencer mais alguns pontos importantes do setor. “O encontro teve um início muito emocional em função do quadro que o Rio Grande do Sul está vivendo neste momento pelas chuvas e enchentes, mas avançamos nas questões que a Aliança Láctea tem se proposto, ou seja, nos dez itens que representam a nossa bíblia no sentido de fortalecermos as exportações e trabalharmos cada vez mais as nossas indústrias para que estejam adequadas ao mercado internacional. Sabemos que os produtores não exportam, ou seja, quem exporta é a indústria, mas somos todos elos de uma cadeia só. Acredito que é possível avançarmos. Também estão de parabéns os representantes do Paraná que elaboraram todo esse trabalho de levantamento de diagnóstico muito bem feito. Além disso, a presença dos secretários de agricultura conosco abrilhantou a reunião trazendo toda a sua bagagem, conhecimento e as ações que cada estado tem feito no sentido de barrar a entrada de leite em pó do Mercosul”.

Leite Bom SC

Valdir Colatto enfatizou as iniciativas desenvolvidas pelo Governo do Estado para fortalecer a cadeia produtiva do leite e, entre as medidas, citou o Leite Bom SC – programa que beneficia direta ou indiretamente os 22,2 mil produtores catarinenses. O pacote garante R$ 300 milhões em apoio ao setor nos próximos três anos. Paralelamente aos investimentos, decreto do governador Jorginho Mello suspende a concessão de qualquer incentivo fiscal para a importação de leite e derivados por Santa Catarina, acabando com a concorrência desleal que vinha prejudicando a produção leiteira catarinense. O pacote se divide em três ações: o decreto, os financiamentos aos produtores e os incentivos fiscais para a indústria leiteira. “Santa Catarina hoje está produzindo hoje cerca de 3,2 bilhões de litros de leite, o que corresponde a 9,3% da produção do Brasil. É um setor importante que precisamos valorizar e proteger para que nossos agricultores possam superar esses momentos difíceis de custo de produção e outros prejuízos”, assinalou Colatto.

Norberto Anacleto Ortigara frisou a importância do encontro para evoluir nas questões que envolvem a cadeia produtiva do leite e ressaltou que Paraná também tem dado passos importantes no sentido de continuar construindo uma política adequada aos interesses brasileiros, especialmente, do Sul do Brasil. Giovani Feltes destacou ações que o Rio Grande do Sul já vem colocando em prática para minimizar os efeitos da importação de leite, principalmente do Mercosul. “Nosso estado já vem há algum tempo tentando proteger, de acordo com suas possibilidades, a cadeia produtiva leiteira”, afirmou.

A Aliança Láctea foi constituída como o fórum público-privado para desenvolver e fomentar a implementação de um plano para harmonizar o ambiente produtivo, industrial e comercial dos três estados. Confira os 10 objetivos do Plano de Desenvolvimento da Competitividade Global do Leite Sul-Brasileiro.

  • Produzir leite com alta qualidade, a custo baixo e com organização logística eficiente para ser competitivo no mercado global em relação aos principais exportadores mundiais.
  • Melhorar a eficiência e o desempenho agronômico e zootécnico da produção de leite na região Sul do Brasil, adequando a produção aos princípios da sustentabilidade, ESG e bem-estar animal.
  • Aumentar a escala de produção e reduzir os custos médios por litro de leite produzido e transportado.
  • Melhorar a qualidade e o rendimento industrial do leite, com aumento do percentual de gordura e proteína na sua composição e pagamento por sólidos totais.
  • Melhorar a logística e a infraestrutura nas regiões produtoras de leite com investimentos em estradas, energia trifásica e Internet.
  • Melhorar a organização e governança da cadeia produtiva do leite com estratégias setoriais pré-competitivas, eliminação de assimetrias tributárias, intercooperação visando eficiência na logística e investimentos em marketing e informação geral para aumento consciente do consumo de lácteos.
  • Promover a fidelização do relacionamento comercial entre produtores de leite e indústrias de laticínios por meio de parcerias duradouras.
  • Conquistar e manter a excelência sanitária e biossegurança dos rebanhos com robustos serviços públicos e privados de defesa agropecuária e sanidade.
  • Adequar e harmonizar o serviço de inspeção de produtos de origem animal.
  • Criar mecanismos para estimular indústrias a instalar ou adequar plantas voltadas à exportação de lácteos.

Fonte: Assessoria Aliança Láctea Sul Brasileira
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Veto à carne nas Olimpíadas: punição ou preservação?

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada

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Letícia Moreira - Nutricionista - Foto e texto: Assessoria

*Por Letícia Moreira

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 se aproximam e uma notícia recente tem gerado polêmica no mundo esportivo: a decisão do comitê organizador de reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Segundo o Comitê, o objetivo é limitar as emissões de CO2 decorrentes das refeições, diminuindo pela metade a pegada de carbono em comparação a edições anteriores.

No entanto, essa abordagem é uma medida nutricionalmente desequilibrada e prejudicial aos atletas, que precisam de um aporte nutricional adequado para o alto desempenho.

Diante desse cenário, é importante analisar a evolução histórica da alimentação de atletas e o papel da carne em suas dietas, bem como as perspectivas atuais sobre o tema.

Desde a antiguidade, a alimentação dos atletas tem sido motivo de debate e controvérsia. De acordo com o relato do historiador Philostratos, no início, os atletas confiavam em seus treinadores para garantir que suas necessidades nutricionais fossem atendidas. No entanto, com o tempo, os médicos assumiram o controle e os primeiros especialistas em medicina esportiva começaram a surgir.

Nesse contexto, dois importantes médicos da época, Celsus e Galeno, consideravam o consumo de proteína animal a forma mais nutritiva de nutrição para os atletas. Ambos concordavam que a carne era um alimento “forte” e nutritivo, essencial para os atletas. Galeno chegou a afirmar que a carne era o alimento mais nutritivo de todos, sendo visível nos próprios atletas o impacto positivo dessa proteína.

Outras fontes proteicas, como aves e peixes, também eram consideradas importantes.

Essa visão histórica sobre a relevância da carne na dieta de atletas encontra eco nos dias de hoje. Um exemplo notável é o caso do atleta brasileiro Alessandro Medeiros, que se tornou conhecido mundialmente por alcançar grandes feitos esportivos seguindo uma dieta exclusivamente carnívora, ou seja, à base de carne.

Medeiros, com mais de 30 anos de dedicação ao esporte, desenvolveu habilidades físicas e mentais excepcionais, conquistando colocações de destaque em ultramaratonas e eventos de resistência, como o Mundial de Ultraman na ilha de Kona no Hawaii. Sua história mostra o impacto positivo que uma alimentação adequada, focada em proteínas e gorduras animais, pode ter no desempenho atlético.

Além da questão nutricional, explicada acima, neste ano, por meio de uma parceria de trabalho estabelecida com a Connan, empresa de nutrição animal, tive a oportunidade de me aproximar e informar sobre o processo de produção da carne no Brasil, acompanhando mais de perto os movimentos da pecuária.

Esta proximidade me fez conhecer um lado da atividade que é pouco difundida entre a população em geral: os investimentos em tecnologia na produção de animais. Hoje, existem empresas e entidades focadas no desenvolvimento de soluções que garantam a qualidade do produto final, a carne, mas que também ofereçam aos bovinos melhor qualidade de vida e menor emissão de gases, com uma alimentação mais balanceada e proteica.

Além disso, técnicas de manejo que proporcionem a recuperação de pastagens degradadas, adubação qualificada, manejo do pastejo, estratégias de suplementação e dietas adequadas em confinamento são alguns métodos que têm mostrado efeito positivo na mitigação da emissão de gases de efeito estufa da pecuária.

Já há trabalhos que mostram situações em que o carbono sequestrado no solo sob pastagem contribui para um balanço positivo de carbono numa fazenda de produção pecuária, isto é, em que há mais carbono fixado do que emitido.

Não há como negar que a pecuária tem sim uma parcela importante no cenário da emissão de gases de efeito estufa, mas antes de condenar uma atividade de extrema importância para a segurança alimentar mundial, é fato que as autoridades francesas deveriam olhar para outros setores, como os de energia e de transportes, por exemplo, que também são grandes emissores e que crescem ano a ano.

Para um impacto de relevância no cenário da preservação do meio ambiente, entendo que as medidas deveriam levar em conta o todo. De acordo com relatório da organização não governamental Carbon Market Watch (CMW), a organização das Olimpíadas de Paris-2024 só apresentou estratégia robusta de cobertura para 31% de suas emissões de gases de efeito estufa. Os outros 69% não são detalhados suficientemente.

No campo dos transportes, item de maior peso nas estimativas de emissões, a CMW considera satisfatório o plano do comitê para o transporte em Paris, já que mais de 80% das instalações esportivas ficarão a um raio de 10km da Vila Olímpica. Porém, os organizadores não apresentaram algo completo, segundo a ONG, para o transporte de espectadores, atletas e jornalistas para a França.

Diante das evidências históricas e dos casos atuais, é questionável a decisão dos organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris em reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Essa abordagem, além de ser nutricionalmente desequilibrada, ignora o importante papel da pecuária no fornecimento de alimento para o mundo e pode comprometer o desempenho e a saúde dos atletas.

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada. Afinal, a dieta ideal para os atletas olímpicos deve priorizar um ótimo aporte nutricional e o atendimento de suas necessidades específicas, e não apenas uma preocupação ambiental que pode se sobrepor aos interesses da saúde e do desempenho desses esportistas de alto nível.

 

 

Referência: Uma comparação entre as dietas esportivas da Grécia Antiga e da Roma Antiga com as práticas modernas (https://www.omicsonline.org/open-access/a-comparison-of-ancient-greek-and-roman-sports-diets-with-modern-day-practices-2473-6449-1000104.php?aid=69865)

* Nutricionista formada há 18 anos pela Faculdade de Medicina de Itajubá (MG), Letícia Moreira, é especialista em dietas Low Carb, Cetogênica e Carnívora, com foco em emagrecimento e esporte de Endurance. É cofundadora da PRIMAL ENDURANCE e Nutricionista do primeiro Ultraman carnívoro do mundo, Alessandro Medeiros.

Fonte: Assessoria
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Colibacilose em bezerros: importante tipo de diarreia

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível.

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Foto: Divulgação/JÁ Saúde Animal

A saúde intestinal dos bezerros é um aspecto importante na pecuária, afinal impacta diretamente o desenvolvimento e a produtividade desses animais. Dessa forma, a manutenção de um trato gastrointestinal saudável e funcional permite a digestão e a absorção adequadas dos nutrientes. Nesse contexto, entre os principais desafios da criação de bezerros, relacionado à saúde intestinal, está a diarreia, sendo responsável por uma série de prejuízos. O problema é caracterizado por uma grande perda de líquidos e eletrólitos corporais que vão ocasionar desidratação, perda de peso, com possibilidade de evoluir para choque hipovolêmico e morte do animal.

Vários fatores podem ter relação com a ocorrência da diarreia e os agentes etiológicos causadores podem ser diversos, incluindo as bactérias (Escherichia coli, Salmonella sp., Clostridium perfringens), os vírus (rotavírus e coronavírus), protozoários (Eimeria sp. e Cryptosporidium sp.) e as verminoses. Dentre esses, um dos principais no quesito mortalidade é a Escherichia coli, bactéria gram-negativa, que de forma geral é inofensiva. Contudo, quando tipos patogênicos infectam uma população susceptível ou quando há uma somatória de fatores (ambiente, manejo, imunidade) que estimula a proliferação bacteriana ocorre a chamada Colibacilose, termo atribuído a afecções provocadas por E. coli, que consequentemente podem ocasionar quadros de diarreia.

A Colibacilose pode acontecer de três maneiras: septicêmica, enterotoxêmica e entérica. A forma septicêmica se desenvolve quando a bactéria se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, afetando geralmente bezerros que não tiveram uma boa colostragem. Nesse caso, a apresentação da afecção é aguda, variando de 24 a 96 horas, com sinais clínicos como depressão, febre alta, anorexia e taquicardia. Outra forma é a enterotoxêmica, quando a bactéria se prolifera na parte média e posterior do intestino, havendo a liberação de toxina. Nesse caso, os animais apresentam prostração intensa e morrem de endotoxemia. Por fim, existe a forma entérica, conhecida como “curso branco”, caracterizada por sinais como diarreia pastosa abundante, de coloração esbranquiçada ou amarelada, podendo progredir para diarreia aquosa severa, desidratação, acidose metabólica e morte.

Geralmente a ocorrência da Colibacilose é mais frequente em animais mantidos em confinamentos ou muito próximos uns dos outros, além de bezerros com poucos dias de vida. Outros fatores epidemiológicos que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro diarreico são: períodos chuvosos, sistemas de produção inadequados (manejo sanitário, instalações e nutrição ineficazes) e outras enfermidades como as endoparasitoses. A taxa de mortalidade pode variar de 10 a 50% para bovinos de leite criados em sistemas intensivos e de 5 a 15% para bovinos de corte. É importante salientar que ela pode chegar a 60% em propriedades com problemas de manejo.

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível. Além disso, é importante realizar a vacinação de fêmeas no pré-parto especialmente por conta da passagem de anticorpos da mãe imunizada para o bezerro, conferindo proteção durante os três primeiros meses de vida.

Para o tratamento recomenda-se a administração de antimicrobianos, sendo a Enrofloxacina um dos mais indicados, além do uso de anti-inflamatórios não esteroidais para o controle da febre, alívio da cólica e para proporcionar conforto ao animal. É importante que seja feita a reposição dos fluidos e eletrólitos pela via oral (em casos iniciais) ou pela via parenteral, pois a desidratação pode levar os bezerros à morte de forma muito rápida.

As referências bibliográficas desse texto podem ser solicitadas à autora pelo e-mail: juliana.melo@jasaudeanimal.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Juliana Melo, médica-veterinária e jornalista na JA Saúde Animal
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