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Conheça o método ACV que promete revolucionar a pecuária brasileira reduzindo de emissões de GEE

Por meio desta técnica os fluxos de matéria e energia envolvidos no ciclo de vida do animal ou de um produto são medidos e relacionados a diversas categorias de impactos ambientais.

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Foto: Shutterstock

Você já ouviu falar sobre Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)? Esse é um método desenvolvido para mensurar impactos ambientais causados como resultado da fabricação e utilização de determinado produto ou atividade. Conhecida como “do berço ao túmulo”, a abordagem sistêmica da ACV realiza o levantamento de dados em todas as fases do ciclo de vida do animal. Esse ciclo de vida se refere a todas as etapas de produção e uso do produto, relativas à extração das matérias-primas, passando pela produção, distribuição até o consumo e disposição final, contemplando ainda a reciclagem e o reuso quando for o caso.

Por meio desta técnica os fluxos de matéria e energia envolvidos no ciclo de vida do animal ou de um produto são medidos e relacionados a diversas categorias de impactos ambientais, para que se possa compreender os reais danos ou vantagens da fabricação e uso de um produto específico ou de uma cadeia animal, como no caso dos ruminantes, identificando os pontos críticos no ciclo de vida para que assim sejam promovidas melhorias nos processos produtivos.

Com um o primeiro trabalho publicado sobre o método de otimização de dietas com ACV para ruminantes, o professor honorário da Universidade de Edimburgo e pesquisador do Laboratório de Modelagem Agroambiental da Embrapa Agricultura Digital, Luís Gustavo Barioni, concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural. “Quando formulamos uma dieta temos ingredientes que têm maior ou menor impacto ambiental na produção destes insumos e isso é contabilizado em conjunto com os impactos ambientais da produção animal. Existe uma demanda cada vez maior de mercados internacionais por essa contabilidade, então a Avaliação de Ciclo de Vida é um método bastante consagrado para você trabalhar com questões de impacto ambiental”, expõe.

Barioni tratou sobre a formulação de dietas usando o conceito ACV na 34ª Reunião Anual do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, realizada em meados de março, no Hotel Premium, em Campinas, SP. Confira abaixo uma matéria exclusiva do O Presente Rural, na qual ele detalha as particularidades deste método. Confira!

Luís Gustavo Barioni – Foto: Graziella Galinari/Embrapa

O Presente Rural – Explique o que é o conceito de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)?

Luís Gustavo Barioni – O conceito de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é uma técnica que é utilizada para medir impactos ambientais, desde o berço até o túmulo. Quando formulamos uma dieta temos ingredientes que têm maior ou menor impacto ambiental na produção destes insumos e isso é contabilizado em conjunto com os impactos ambientais da produção animal.
Existe uma demanda cada vez maior de mercados internacionais por essa contabilidade, então a Avaliação de Ciclo de Vida é um método bastante consagrado para você trabalhar com questões de impacto ambiental, uma vez que através desta técnica é possível formular uma dieta para que os animais emitam menos gases do efeito estufa, porém na produção dos ingredientes acaba tendo uma emissão maior, então é preciso fazer uma contabilidade global por meio do ACV para formular uma dieta que também tenha um impacto ambiental menor antes da porteira, quando estamos trabalhando na cadeia de produção dos ingredientes para a ração.

O Presente Rural – Existe algum ingrediente que é mais utilizado ou específico para a formulação de dietas com ACV?

Luís Gustavo Barioni – Na verdade não, a gente tem que contabilizar esses ingredientes numa forma regional, por isso normalmente os produtos agroindustriais acabam levando vantagem porque na alocação dos impactos eles acabam tendo uma proporção menor. Por exemplo polpa cítrica, resíduos do grão destilado, caroço de algodão, entre outros, muitas vezes não é o produto principal de determinada região produtora, então por exemplo o processo de produção do algodão tem emissões de gases do efeito estufa, devido também aos insumos e maquinários usados para sua produção. Mas quando chega no produto final, a gente tem que fazer uma alocação da entrada da fibra de algodão e do caroço. O sistema de alocação está relacionado ao valor daquele produto, então se o valor da fibra de algodão é maior a grande parte da alocação e dos impactos acaba indo para a fibra do algodão.
A gente também trabalha em um esquema de otimização econômica. Se eu restringir as emissões então minha dieta vai mudando, porque o sistema de formulação de dieta procura soluções que tenham um balanço melhor entre emissões e qualquer outro impacto ambiental ou a lucratividade da atividade, então esse método sempre vai buscar a solução mais lucrativa para aquele nível de emissões.
Além disso conseguimos ter uma outra métrica que chamamos de custo de abatimento marginal, que é quanto que alguém teria de pagar pelo carbono que o produtor está reduzindo para que ele consiga compensar a redução de atratividade econômica afim de que eu reduza efetivamente as emissões. Esse também é um parâmetro que a gente consegue obter das análises.

O Presente Rural – A formulação de dietas a partir do conceito ACV está intrinsecamente ligada à redução de emissão de gases de efeito estufa no meio ambiente?

Luís Gustavo Barioni – Exatamente, além do metano entérico produzido através da fermentação dos animais, com o método ACV conseguimos contabilizar também todos os outros gases dentro da porteira, como o óxido nitroso na urina dos animais, emissões dos equipamentos, da energia etc. E depois da porteira com toda a cadeia de suprimentos dos ingredientes para formulação das dietas, a partir do uso do trator para fazer o preparo do solo e o plantio direto, da colheitadeira, dos insumos e fertilizantes usados na lavoura, tudo isso é um encadeamento de insumos que em sua produção gera emissão ou remoção no caso de aumentar o carbono no solo, mas em geral gera emissões de gases do efeito estufa. Contabilizamos tudo que está envolvido no sistema, porque se eu contabilizar só uma parte eu posso achar que estou reduzindo emissões, mas se for analisar depois da porteira, na produção dos insumos para o rebanho pode ser que, na verdade, aumentou as emissões.

O Presente Rural – O método ACV já está disponível para uso dos pecuaristas?

Luís Gustavo Barioni – Estamos desenvolvendo em conjunto com colegas da Embrapa Meio Ambiente uma biblioteca de Avaliação de Ciclo de Vida, ou seja, quando fornecemos milho aos animais alguém já tem que ter feito toda a contabilidade típica de uma produção de milho para saber qual é a pegada de carbono de uma tonelada de milho, de uma tonelada de farelo de soja ou de uma tonelada de polpa cítrica ou de qualquer outro produto, então o primeiro passo é desenvolvimento dessa biblioteca.
O segundo passo é ter um software que faça essa otimização de dados, que é um pouco diferente daquela que é mais tradicional, de custo mínimo ou de lucro máximo, que só considera aspectos econômicos e não ambientais.

O método que desenvolvemos foi em conjunto com pesquisadores britânicos da Universidade de Edimburgo, pesquisadores americanos da Universidade do Texas e de pesquisadores brasileiros da Unicamp. O código está disponível online, mas ainda não se transformou num software para uso pelos produtores porque ainda não se tem esse pagamento por serviços ambientais, ele realmente só vai ser útil para os produtores no momento que realmente tiver um valor diferenciado para um produto produzido com menor emissão. A gente percebe que esse momento já está se aproximando, inclusive já conseguimos dizer para o mercado quanto que precisaria pagar para alguém alterar a dieta dos animais de forma que reduza a emissão de gases do efeito estufa, independente do número de cabeças que o rebanho tiver.

Essa ferramenta ainda não está sendo comercializada, é um estudo recente, e por enquanto não temos um mercado de crédito de carbono funcionando para que se possa pagar o produtor.

O Presente Rural – Desde quando o conceito é ACV é utilizado para formulação de dietas e quais são os resultados alcançados?

Luís Gustavo Barioni – Que temos conhecimento a nossa pesquisa sobre o método ACV para ruminantes foi a primeira a ser realizada no mundo, publicamos o estudo no ano passado, porém um grupo francês fez um trabalho usando o método ACV em 2018, mas voltado para nutrição de aves e suínos. Alguns dos principais resultados aponta que é possível reduzir as emissões em 50% e ao mesmo tempo aumentar o desempenho dos animais. Nós realizamos a aplicação nutricional com o conceito ACV em um ambiente típico de produção da França, com base nos dados do estudo com monográstricos.

No caso francês chegamos ao custo de R$ 121,72 por quilograma de CO2 eq. por quilo de carcaça, ou seja, se alguém quiser reduzir carbono vai precisar pagar pelo menos esse valor. Hoje o preço de mercado na bolsa europeia deve estar em torno de R$ 441,82 de custo efetivo. Agora vamos repetir um estudo para integração de produção de etanol e pecuária de corte, no qual queremos analisar qual é a relação de redução de emissões de gases do efeito estufa com a lucratividade com o uso de co-produtos como o destilado de milho ou o bagaço hidrolisado de cana-de-açúcar. A previsão para darmos início a este trabalho é no início de março. Na verdade o trabalho já começou com a criação das nossas próprias bibliotecas de ACV dos alimentos. Esse foi o nosso principal problema no trabalho com os ruminantes e motivo pelo qual precisamos fazer uma parceria com os franceses, porque eles já tinham essas bibliotecas de ACV dos alimentos, agora que nós construímos a nossa própria biblioteca e desenvolvemos o método de otimização de dieta com ACV vamos fazer um estudo com as condições de campo do Brasil.
Mais uma vez estamos na vanguarda de uma pesquisa, o que muito nos orgulha porque foi o primeiro trabalho a nível internacional que tratou do ACV com ruminantes.

O Presente Rural – E como será feita a gestão do carbono neutro, quem será o comprador? Como que esse método de otimização de dieta com ACV para ruminantes será difundido na pecuária?

Luís Gustavo Barioni – Estamos conversando muito com empresas, principalmente frigoríficos, que estão olhando para esse mercado de carbono, com o Ministério da Agricultura e Pecuária, que estão atentos para esta nova modalidade de gestão do carbono, embora o mercado de crédito de carbono ainda não exista, mas já tem uma sinalização para sua regulamentação. O Brasil não entrou nas cláusulas de barreira da União Europeia por enquanto, mas há uma perspectiva de que isso aconteça. E para isso os setores de carne e produtos lácteos, por exemplo, estão fazendo projetos que visam redução de gases do efeito estufa para poderem estar aptas ao exigente mercado europeu, até porque muitas das empresas frigoríficas e de laticínios assinaram um termo de compromisso de redução de emissões de gases do efeito estufa, então teoricamente precisam fazer projetos junto aos fornecedores para reduzir as emissões.

Também estamos em conversa com estes setores, nos colocamos à disposição para ajudar, pois temos o método comprovado de forma científica que é eficiente, o fato é que a gente pode ajudar os produtores e toda a cadeia a encontrar a melhor forma de se adequar e ao mesmo tempo obter maior lucratividade com o seu rebanho. O que a gente sabe é que existe a necessidade da indústria preceder esses benefícios em termos de mercado, porque são empresas comerciais, que buscam cada vez mais vender os seus produtos de forma diferenciada e repassar parte desta lucratividade ao produtor, porque senão o produtor não vai fazer, porque ele também precisa ser remunerado para que possa mudar a formulação de dieta ou qualquer outro investimento tecnológico, para que seja lucrativo. Afinal de contas é o seu negócio.

Neste momento estamos conversando sobre o funcionamento dos mercados de carbono, já têm algumas iniciativas, mas ainda incipientes, mas a gente percebe que as indústrias frigoríficas, de laticínios, de insumos, energia, as traders e de diversos outros setores estão olhando com mais afinco para as questões ambientais e de sustentabilidade, o que deve impactar de forma expressiva a curto prazo as transações em qualquer mercado.

O Presente Rural – Atualmente o método ACV está no campo da pesquisa apenas. Há perspectivas de quando o método ACV será utilizado?

Luís Gustavo Barioni – Estamos no campo da pesquisa e nas discussões política e comercial de como vai operar esse mercado, mas ainda não tem nada definido para que a gente possa dizer para o produtor formular dietas com redução de emissões, a não ser que seja uma coisa do ponto de vista altruísta, pois do ponto de vista econômico ainda não se tem nenhum incentivo. O que a gente percebe é que daqui a dois ou três anos deve se tornar uma realidade nas operações comerciais aqui no Brasil.
O fato é que comprovamos a eficácia do método, mas ele ainda não tem um apelo para aplicação na cadeia produtiva porque não temos um mercado de crédito de carbono, mas a hora que existir está pronto para ser replicado da melhor forma possível. Estamos preparados para o futuro que está cada dia mais próximo da gente.

O Presente Rural – O método ACV desenvolvido para formulação de dietas para ruminantes pode ser replicado em outras cadeias de proteína animal?

Luís Gustavo Barioni – É aplicável para qualquer cadeia animal, mas o nosso trabalho em específico foi voltado para gado de corte. O método ACV por ser replicado sempre que o produtor precisar formular uma dieta, por exemplo, se os animais estão exclusivamente à pasto não precisa aplicar essa dieta no rebanho. Mas a partir do momento que o produtor usa os suplementos para formular a nutrição dos animais, como no sistema de confinamento, é indicado que essa dieta seja replicada. De outra forma, a exceção é quando o produtor cria os animais só com foragem, só em pastejo por exemplo.

O Presente Rural – O produtor já pode implantar essa dieta com o método ACV em seu rebanho ou deve aguardar a regulamentação do mercado de crédito de carbono?

Luís Gustavo Barioni – O método está pronto e já pode ser replicado, mas uma coisa que é preciso entender é que existe um balanço claro entre a parte econômica e ambiental. É preciso definir o quanto será preciso pagar para o produtor implementar esse método e do ponto de vista do produtor quanto que vai custar para fazer esse trabalho, então se o preço do carbono que estão oferecendo ao produtor é maior do que o custo que ele tem para reduzir as emissões então o produtor conseguirá calcular o lucro esperado com essa dieta replicada no rebanho.
É uma forma de informar tanto o produtor quanto a cadeia como se forma o custo efetivo para fazer a redução de emissões.

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Fonte: O Presente Rural

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Aliança Láctea Sul Brasileira avança nas ações de promoção do desenvolvimento da cadeia produtiva do leite

Evento reuniu um grupo de especialistas do setor lácteo, representantes das Secretarias de Agricultura dos três estados do Sul, dos Sindicatos das Indústrias de Laticínios e das Federações de Agricultura dos três estados do Sul.

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Objetivo foi atualizar sobre o cenário atual da Aliança Láctea Sul-Brasileira e relatar as ações de cada estado do Sul

Atualizar sobre o cenário atual da Aliança Láctea Sul-Brasileira (ALSB), relatar as ações de cada estado, principalmente sobre a entrada de leite em pó importado do Mercosul e conhecer o diagnóstico do leite no Paraná, feito pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) foram as pautas da reunião ordinária da ALSB promovida nesta quinta-feira (2), na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).

Encontro teve como anfitrião o presidente do Sistema Faesc/Senar e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Zeferino Pedrozo – Fotos: Silvania Cuochinski/MB Comunicação

O encontro teve como anfitrião o presidente do Sistema Faesc/Senar e vice-presidente de finanças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Zeferino Pedrozo, e reuniu um grupo de especialistas do setor lácteo, representantes das Secretarias de Agricultura dos três estados do Sul, dos Sindicatos das Indústrias de Laticínios e das Federações de Agricultura dos três estados.

A programação foi conduzida pelo coordenador geral da Aliança Láctea, Rodrigo Ramos Rizo, e contou com a participação do presidente do secretário de Agricultura e Pecuária de Santa Catarina, Valdir Colatto, do secretário da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio Grande do Sul, Giovani Feltes, do secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Anacleto Ortigara, do presidente Sistema Farsul, Gedeão Silveira Pereira, do representante do Sistema Faep e presidente da Comissão Nacional de Pecuária do Leite da CNA, Ronei Volpi, do presidente do Sindileite Paraná, Éder Quinto Salvadori Deconsi, do presidente da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins, entre outras lideranças.

Após um momento de solidariedade com a grave situação do Rio Grande do Sul, o presidente Pedrozo agradeceu aos representantes da Aliança Láctea pela participação no evento, comentou sobre a importância do Programa Leite Bom, recém-criado pelo Governo do Estado de Santa Catarina, falou sobre a longa trajetória para conquistar o valioso status sanitário catarinense e realçou o êxito do trabalho da ALSB para cumprir o propósito de atuar de forma conjunta para solucionar os problemas comuns enfrentados pelo setor. Também frisou o quanto o Plano de Desenvolvimento da Competitividade Global do Leite Sul-Brasileiro (PDCGL) é essencial para propor ações que contribuem para um ambiente favorável aos investimentos na ampliação da produção. “Com cooperação será possível aumentar nossa competitividade no mercado global e criar oportunidades para potencializar o setor”.

Rodrigo Ramos Rizo agradeceu a receptividade da Faesc e salientou que a reunião foi fundamental para vencer mais alguns pontos importantes do setor. “O encontro teve um início muito emocional em função do quadro que o Rio Grande do Sul está vivendo neste momento pelas chuvas e enchentes, mas avançamos nas questões que a Aliança Láctea tem se proposto, ou seja, nos dez itens que representam a nossa bíblia no sentido de fortalecermos as exportações e trabalharmos cada vez mais as nossas indústrias para que estejam adequadas ao mercado internacional. Sabemos que os produtores não exportam, ou seja, quem exporta é a indústria, mas somos todos elos de uma cadeia só. Acredito que é possível avançarmos. Também estão de parabéns os representantes do Paraná que elaboraram todo esse trabalho de levantamento de diagnóstico muito bem feito. Além disso, a presença dos secretários de agricultura conosco abrilhantou a reunião trazendo toda a sua bagagem, conhecimento e as ações que cada estado tem feito no sentido de barrar a entrada de leite em pó do Mercosul”.

Leite Bom SC

Valdir Colatto enfatizou as iniciativas desenvolvidas pelo Governo do Estado para fortalecer a cadeia produtiva do leite e, entre as medidas, citou o Leite Bom SC – programa que beneficia direta ou indiretamente os 22,2 mil produtores catarinenses. O pacote garante R$ 300 milhões em apoio ao setor nos próximos três anos. Paralelamente aos investimentos, decreto do governador Jorginho Mello suspende a concessão de qualquer incentivo fiscal para a importação de leite e derivados por Santa Catarina, acabando com a concorrência desleal que vinha prejudicando a produção leiteira catarinense. O pacote se divide em três ações: o decreto, os financiamentos aos produtores e os incentivos fiscais para a indústria leiteira. “Santa Catarina hoje está produzindo hoje cerca de 3,2 bilhões de litros de leite, o que corresponde a 9,3% da produção do Brasil. É um setor importante que precisamos valorizar e proteger para que nossos agricultores possam superar esses momentos difíceis de custo de produção e outros prejuízos”, assinalou Colatto.

Norberto Anacleto Ortigara frisou a importância do encontro para evoluir nas questões que envolvem a cadeia produtiva do leite e ressaltou que Paraná também tem dado passos importantes no sentido de continuar construindo uma política adequada aos interesses brasileiros, especialmente, do Sul do Brasil. Giovani Feltes destacou ações que o Rio Grande do Sul já vem colocando em prática para minimizar os efeitos da importação de leite, principalmente do Mercosul. “Nosso estado já vem há algum tempo tentando proteger, de acordo com suas possibilidades, a cadeia produtiva leiteira”, afirmou.

A Aliança Láctea foi constituída como o fórum público-privado para desenvolver e fomentar a implementação de um plano para harmonizar o ambiente produtivo, industrial e comercial dos três estados. Confira os 10 objetivos do Plano de Desenvolvimento da Competitividade Global do Leite Sul-Brasileiro.

  • Produzir leite com alta qualidade, a custo baixo e com organização logística eficiente para ser competitivo no mercado global em relação aos principais exportadores mundiais.
  • Melhorar a eficiência e o desempenho agronômico e zootécnico da produção de leite na região Sul do Brasil, adequando a produção aos princípios da sustentabilidade, ESG e bem-estar animal.
  • Aumentar a escala de produção e reduzir os custos médios por litro de leite produzido e transportado.
  • Melhorar a qualidade e o rendimento industrial do leite, com aumento do percentual de gordura e proteína na sua composição e pagamento por sólidos totais.
  • Melhorar a logística e a infraestrutura nas regiões produtoras de leite com investimentos em estradas, energia trifásica e Internet.
  • Melhorar a organização e governança da cadeia produtiva do leite com estratégias setoriais pré-competitivas, eliminação de assimetrias tributárias, intercooperação visando eficiência na logística e investimentos em marketing e informação geral para aumento consciente do consumo de lácteos.
  • Promover a fidelização do relacionamento comercial entre produtores de leite e indústrias de laticínios por meio de parcerias duradouras.
  • Conquistar e manter a excelência sanitária e biossegurança dos rebanhos com robustos serviços públicos e privados de defesa agropecuária e sanidade.
  • Adequar e harmonizar o serviço de inspeção de produtos de origem animal.
  • Criar mecanismos para estimular indústrias a instalar ou adequar plantas voltadas à exportação de lácteos.

Fonte: Assessoria Aliança Láctea Sul Brasileira
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Veto à carne nas Olimpíadas: punição ou preservação?

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada

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Letícia Moreira - Nutricionista - Foto e texto: Assessoria

*Por Letícia Moreira

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 se aproximam e uma notícia recente tem gerado polêmica no mundo esportivo: a decisão do comitê organizador de reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Segundo o Comitê, o objetivo é limitar as emissões de CO2 decorrentes das refeições, diminuindo pela metade a pegada de carbono em comparação a edições anteriores.

No entanto, essa abordagem é uma medida nutricionalmente desequilibrada e prejudicial aos atletas, que precisam de um aporte nutricional adequado para o alto desempenho.

Diante desse cenário, é importante analisar a evolução histórica da alimentação de atletas e o papel da carne em suas dietas, bem como as perspectivas atuais sobre o tema.

Desde a antiguidade, a alimentação dos atletas tem sido motivo de debate e controvérsia. De acordo com o relato do historiador Philostratos, no início, os atletas confiavam em seus treinadores para garantir que suas necessidades nutricionais fossem atendidas. No entanto, com o tempo, os médicos assumiram o controle e os primeiros especialistas em medicina esportiva começaram a surgir.

Nesse contexto, dois importantes médicos da época, Celsus e Galeno, consideravam o consumo de proteína animal a forma mais nutritiva de nutrição para os atletas. Ambos concordavam que a carne era um alimento “forte” e nutritivo, essencial para os atletas. Galeno chegou a afirmar que a carne era o alimento mais nutritivo de todos, sendo visível nos próprios atletas o impacto positivo dessa proteína.

Outras fontes proteicas, como aves e peixes, também eram consideradas importantes.

Essa visão histórica sobre a relevância da carne na dieta de atletas encontra eco nos dias de hoje. Um exemplo notável é o caso do atleta brasileiro Alessandro Medeiros, que se tornou conhecido mundialmente por alcançar grandes feitos esportivos seguindo uma dieta exclusivamente carnívora, ou seja, à base de carne.

Medeiros, com mais de 30 anos de dedicação ao esporte, desenvolveu habilidades físicas e mentais excepcionais, conquistando colocações de destaque em ultramaratonas e eventos de resistência, como o Mundial de Ultraman na ilha de Kona no Hawaii. Sua história mostra o impacto positivo que uma alimentação adequada, focada em proteínas e gorduras animais, pode ter no desempenho atlético.

Além da questão nutricional, explicada acima, neste ano, por meio de uma parceria de trabalho estabelecida com a Connan, empresa de nutrição animal, tive a oportunidade de me aproximar e informar sobre o processo de produção da carne no Brasil, acompanhando mais de perto os movimentos da pecuária.

Esta proximidade me fez conhecer um lado da atividade que é pouco difundida entre a população em geral: os investimentos em tecnologia na produção de animais. Hoje, existem empresas e entidades focadas no desenvolvimento de soluções que garantam a qualidade do produto final, a carne, mas que também ofereçam aos bovinos melhor qualidade de vida e menor emissão de gases, com uma alimentação mais balanceada e proteica.

Além disso, técnicas de manejo que proporcionem a recuperação de pastagens degradadas, adubação qualificada, manejo do pastejo, estratégias de suplementação e dietas adequadas em confinamento são alguns métodos que têm mostrado efeito positivo na mitigação da emissão de gases de efeito estufa da pecuária.

Já há trabalhos que mostram situações em que o carbono sequestrado no solo sob pastagem contribui para um balanço positivo de carbono numa fazenda de produção pecuária, isto é, em que há mais carbono fixado do que emitido.

Não há como negar que a pecuária tem sim uma parcela importante no cenário da emissão de gases de efeito estufa, mas antes de condenar uma atividade de extrema importância para a segurança alimentar mundial, é fato que as autoridades francesas deveriam olhar para outros setores, como os de energia e de transportes, por exemplo, que também são grandes emissores e que crescem ano a ano.

Para um impacto de relevância no cenário da preservação do meio ambiente, entendo que as medidas deveriam levar em conta o todo. De acordo com relatório da organização não governamental Carbon Market Watch (CMW), a organização das Olimpíadas de Paris-2024 só apresentou estratégia robusta de cobertura para 31% de suas emissões de gases de efeito estufa. Os outros 69% não são detalhados suficientemente.

No campo dos transportes, item de maior peso nas estimativas de emissões, a CMW considera satisfatório o plano do comitê para o transporte em Paris, já que mais de 80% das instalações esportivas ficarão a um raio de 10km da Vila Olímpica. Porém, os organizadores não apresentaram algo completo, segundo a ONG, para o transporte de espectadores, atletas e jornalistas para a França.

Diante das evidências históricas e dos casos atuais, é questionável a decisão dos organizadores dos Jogos Olímpicos de Paris em reduzir drasticamente a oferta de carne nas refeições servidas durante o evento. Essa abordagem, além de ser nutricionalmente desequilibrada, ignora o importante papel da pecuária no fornecimento de alimento para o mundo e pode comprometer o desempenho e a saúde dos atletas.

Ao invés de uma postura enviesada e divisionista, uma abordagem mais individualizada e baseada em evidências científicas seria mais adequada. Afinal, a dieta ideal para os atletas olímpicos deve priorizar um ótimo aporte nutricional e o atendimento de suas necessidades específicas, e não apenas uma preocupação ambiental que pode se sobrepor aos interesses da saúde e do desempenho desses esportistas de alto nível.

 

 

Referência: Uma comparação entre as dietas esportivas da Grécia Antiga e da Roma Antiga com as práticas modernas (https://www.omicsonline.org/open-access/a-comparison-of-ancient-greek-and-roman-sports-diets-with-modern-day-practices-2473-6449-1000104.php?aid=69865)

* Nutricionista formada há 18 anos pela Faculdade de Medicina de Itajubá (MG), Letícia Moreira, é especialista em dietas Low Carb, Cetogênica e Carnívora, com foco em emagrecimento e esporte de Endurance. É cofundadora da PRIMAL ENDURANCE e Nutricionista do primeiro Ultraman carnívoro do mundo, Alessandro Medeiros.

Fonte: Assessoria
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Colibacilose em bezerros: importante tipo de diarreia

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível.

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Foto: Divulgação/JÁ Saúde Animal

A saúde intestinal dos bezerros é um aspecto importante na pecuária, afinal impacta diretamente o desenvolvimento e a produtividade desses animais. Dessa forma, a manutenção de um trato gastrointestinal saudável e funcional permite a digestão e a absorção adequadas dos nutrientes. Nesse contexto, entre os principais desafios da criação de bezerros, relacionado à saúde intestinal, está a diarreia, sendo responsável por uma série de prejuízos. O problema é caracterizado por uma grande perda de líquidos e eletrólitos corporais que vão ocasionar desidratação, perda de peso, com possibilidade de evoluir para choque hipovolêmico e morte do animal.

Vários fatores podem ter relação com a ocorrência da diarreia e os agentes etiológicos causadores podem ser diversos, incluindo as bactérias (Escherichia coli, Salmonella sp., Clostridium perfringens), os vírus (rotavírus e coronavírus), protozoários (Eimeria sp. e Cryptosporidium sp.) e as verminoses. Dentre esses, um dos principais no quesito mortalidade é a Escherichia coli, bactéria gram-negativa, que de forma geral é inofensiva. Contudo, quando tipos patogênicos infectam uma população susceptível ou quando há uma somatória de fatores (ambiente, manejo, imunidade) que estimula a proliferação bacteriana ocorre a chamada Colibacilose, termo atribuído a afecções provocadas por E. coli, que consequentemente podem ocasionar quadros de diarreia.

A Colibacilose pode acontecer de três maneiras: septicêmica, enterotoxêmica e entérica. A forma septicêmica se desenvolve quando a bactéria se multiplica rapidamente na corrente sanguínea, afetando geralmente bezerros que não tiveram uma boa colostragem. Nesse caso, a apresentação da afecção é aguda, variando de 24 a 96 horas, com sinais clínicos como depressão, febre alta, anorexia e taquicardia. Outra forma é a enterotoxêmica, quando a bactéria se prolifera na parte média e posterior do intestino, havendo a liberação de toxina. Nesse caso, os animais apresentam prostração intensa e morrem de endotoxemia. Por fim, existe a forma entérica, conhecida como “curso branco”, caracterizada por sinais como diarreia pastosa abundante, de coloração esbranquiçada ou amarelada, podendo progredir para diarreia aquosa severa, desidratação, acidose metabólica e morte.

Geralmente a ocorrência da Colibacilose é mais frequente em animais mantidos em confinamentos ou muito próximos uns dos outros, além de bezerros com poucos dias de vida. Outros fatores epidemiológicos que podem contribuir para o desenvolvimento de um quadro diarreico são: períodos chuvosos, sistemas de produção inadequados (manejo sanitário, instalações e nutrição ineficazes) e outras enfermidades como as endoparasitoses. A taxa de mortalidade pode variar de 10 a 50% para bovinos de leite criados em sistemas intensivos e de 5 a 15% para bovinos de corte. É importante salientar que ela pode chegar a 60% em propriedades com problemas de manejo.

Como a transmissão da Colibacilose é feco-oral, sua prevenção exige cuidados quanto ao manejo dos animais, condições higiênico-sanitárias e alimentação, com destaque para a oferta de colostro em quantidade e qualidade adequadas, o mais rápido possível. Além disso, é importante realizar a vacinação de fêmeas no pré-parto especialmente por conta da passagem de anticorpos da mãe imunizada para o bezerro, conferindo proteção durante os três primeiros meses de vida.

Para o tratamento recomenda-se a administração de antimicrobianos, sendo a Enrofloxacina um dos mais indicados, além do uso de anti-inflamatórios não esteroidais para o controle da febre, alívio da cólica e para proporcionar conforto ao animal. É importante que seja feita a reposição dos fluidos e eletrólitos pela via oral (em casos iniciais) ou pela via parenteral, pois a desidratação pode levar os bezerros à morte de forma muito rápida.

As referências bibliográficas desse texto podem ser solicitadas à autora pelo e-mail: juliana.melo@jasaudeanimal.com.br.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: Por Juliana Melo, médica-veterinária e jornalista na JA Saúde Animal
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