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Conheça o método ACV que promete revolucionar a pecuária brasileira reduzindo de emissões de GEE

Por meio desta técnica os fluxos de matéria e energia envolvidos no ciclo de vida do animal ou de um produto são medidos e relacionados a diversas categorias de impactos ambientais.

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Você já ouviu falar sobre Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)? Esse é um método desenvolvido para mensurar impactos ambientais causados como resultado da fabricação e utilização de determinado produto ou atividade. Conhecida como “do berço ao túmulo”, a abordagem sistêmica da ACV realiza o levantamento de dados em todas as fases do ciclo de vida do animal. Esse ciclo de vida se refere a todas as etapas de produção e uso do produto, relativas à extração das matérias-primas, passando pela produção, distribuição até o consumo e disposição final, contemplando ainda a reciclagem e o reuso quando for o caso.

Por meio desta técnica os fluxos de matéria e energia envolvidos no ciclo de vida do animal ou de um produto são medidos e relacionados a diversas categorias de impactos ambientais, para que se possa compreender os reais danos ou vantagens da fabricação e uso de um produto específico ou de uma cadeia animal, como no caso dos ruminantes, identificando os pontos críticos no ciclo de vida para que assim sejam promovidas melhorias nos processos produtivos.

Com um o primeiro trabalho publicado sobre o método de otimização de dietas com ACV para ruminantes, o professor honorário da Universidade de Edimburgo e pesquisador do Laboratório de Modelagem Agroambiental da Embrapa Agricultura Digital, Luís Gustavo Barioni, concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural. “Quando formulamos uma dieta temos ingredientes que têm maior ou menor impacto ambiental na produção destes insumos e isso é contabilizado em conjunto com os impactos ambientais da produção animal. Existe uma demanda cada vez maior de mercados internacionais por essa contabilidade, então a Avaliação de Ciclo de Vida é um método bastante consagrado para você trabalhar com questões de impacto ambiental”, expõe.

Barioni tratou sobre a formulação de dietas usando o conceito ACV na 34ª Reunião Anual do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, realizada em meados de março, no Hotel Premium, em Campinas, SP. Confira abaixo uma matéria exclusiva do O Presente Rural, na qual ele detalha as particularidades deste método. Confira!

Luís Gustavo Barioni – Foto: Graziella Galinari/Embrapa

O Presente Rural – Explique o que é o conceito de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)?

Luís Gustavo Barioni – O conceito de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é uma técnica que é utilizada para medir impactos ambientais, desde o berço até o túmulo. Quando formulamos uma dieta temos ingredientes que têm maior ou menor impacto ambiental na produção destes insumos e isso é contabilizado em conjunto com os impactos ambientais da produção animal.
Existe uma demanda cada vez maior de mercados internacionais por essa contabilidade, então a Avaliação de Ciclo de Vida é um método bastante consagrado para você trabalhar com questões de impacto ambiental, uma vez que através desta técnica é possível formular uma dieta para que os animais emitam menos gases do efeito estufa, porém na produção dos ingredientes acaba tendo uma emissão maior, então é preciso fazer uma contabilidade global por meio do ACV para formular uma dieta que também tenha um impacto ambiental menor antes da porteira, quando estamos trabalhando na cadeia de produção dos ingredientes para a ração.

O Presente Rural – Existe algum ingrediente que é mais utilizado ou específico para a formulação de dietas com ACV?

Luís Gustavo Barioni – Na verdade não, a gente tem que contabilizar esses ingredientes numa forma regional, por isso normalmente os produtos agroindustriais acabam levando vantagem porque na alocação dos impactos eles acabam tendo uma proporção menor. Por exemplo polpa cítrica, resíduos do grão destilado, caroço de algodão, entre outros, muitas vezes não é o produto principal de determinada região produtora, então por exemplo o processo de produção do algodão tem emissões de gases do efeito estufa, devido também aos insumos e maquinários usados para sua produção. Mas quando chega no produto final, a gente tem que fazer uma alocação da entrada da fibra de algodão e do caroço. O sistema de alocação está relacionado ao valor daquele produto, então se o valor da fibra de algodão é maior a grande parte da alocação e dos impactos acaba indo para a fibra do algodão.
A gente também trabalha em um esquema de otimização econômica. Se eu restringir as emissões então minha dieta vai mudando, porque o sistema de formulação de dieta procura soluções que tenham um balanço melhor entre emissões e qualquer outro impacto ambiental ou a lucratividade da atividade, então esse método sempre vai buscar a solução mais lucrativa para aquele nível de emissões.
Além disso conseguimos ter uma outra métrica que chamamos de custo de abatimento marginal, que é quanto que alguém teria de pagar pelo carbono que o produtor está reduzindo para que ele consiga compensar a redução de atratividade econômica afim de que eu reduza efetivamente as emissões. Esse também é um parâmetro que a gente consegue obter das análises.

O Presente Rural – A formulação de dietas a partir do conceito ACV está intrinsecamente ligada à redução de emissão de gases de efeito estufa no meio ambiente?

Luís Gustavo Barioni – Exatamente, além do metano entérico produzido através da fermentação dos animais, com o método ACV conseguimos contabilizar também todos os outros gases dentro da porteira, como o óxido nitroso na urina dos animais, emissões dos equipamentos, da energia etc. E depois da porteira com toda a cadeia de suprimentos dos ingredientes para formulação das dietas, a partir do uso do trator para fazer o preparo do solo e o plantio direto, da colheitadeira, dos insumos e fertilizantes usados na lavoura, tudo isso é um encadeamento de insumos que em sua produção gera emissão ou remoção no caso de aumentar o carbono no solo, mas em geral gera emissões de gases do efeito estufa. Contabilizamos tudo que está envolvido no sistema, porque se eu contabilizar só uma parte eu posso achar que estou reduzindo emissões, mas se for analisar depois da porteira, na produção dos insumos para o rebanho pode ser que, na verdade, aumentou as emissões.

O Presente Rural – O método ACV já está disponível para uso dos pecuaristas?

Luís Gustavo Barioni – Estamos desenvolvendo em conjunto com colegas da Embrapa Meio Ambiente uma biblioteca de Avaliação de Ciclo de Vida, ou seja, quando fornecemos milho aos animais alguém já tem que ter feito toda a contabilidade típica de uma produção de milho para saber qual é a pegada de carbono de uma tonelada de milho, de uma tonelada de farelo de soja ou de uma tonelada de polpa cítrica ou de qualquer outro produto, então o primeiro passo é desenvolvimento dessa biblioteca.
O segundo passo é ter um software que faça essa otimização de dados, que é um pouco diferente daquela que é mais tradicional, de custo mínimo ou de lucro máximo, que só considera aspectos econômicos e não ambientais.

O método que desenvolvemos foi em conjunto com pesquisadores britânicos da Universidade de Edimburgo, pesquisadores americanos da Universidade do Texas e de pesquisadores brasileiros da Unicamp. O código está disponível online, mas ainda não se transformou num software para uso pelos produtores porque ainda não se tem esse pagamento por serviços ambientais, ele realmente só vai ser útil para os produtores no momento que realmente tiver um valor diferenciado para um produto produzido com menor emissão. A gente percebe que esse momento já está se aproximando, inclusive já conseguimos dizer para o mercado quanto que precisaria pagar para alguém alterar a dieta dos animais de forma que reduza a emissão de gases do efeito estufa, independente do número de cabeças que o rebanho tiver.

Essa ferramenta ainda não está sendo comercializada, é um estudo recente, e por enquanto não temos um mercado de crédito de carbono funcionando para que se possa pagar o produtor.

O Presente Rural – Desde quando o conceito é ACV é utilizado para formulação de dietas e quais são os resultados alcançados?

Luís Gustavo Barioni – Que temos conhecimento a nossa pesquisa sobre o método ACV para ruminantes foi a primeira a ser realizada no mundo, publicamos o estudo no ano passado, porém um grupo francês fez um trabalho usando o método ACV em 2018, mas voltado para nutrição de aves e suínos. Alguns dos principais resultados aponta que é possível reduzir as emissões em 50% e ao mesmo tempo aumentar o desempenho dos animais. Nós realizamos a aplicação nutricional com o conceito ACV em um ambiente típico de produção da França, com base nos dados do estudo com monográstricos.

No caso francês chegamos ao custo de R$ 121,72 por quilograma de CO2 eq. por quilo de carcaça, ou seja, se alguém quiser reduzir carbono vai precisar pagar pelo menos esse valor. Hoje o preço de mercado na bolsa europeia deve estar em torno de R$ 441,82 de custo efetivo. Agora vamos repetir um estudo para integração de produção de etanol e pecuária de corte, no qual queremos analisar qual é a relação de redução de emissões de gases do efeito estufa com a lucratividade com o uso de co-produtos como o destilado de milho ou o bagaço hidrolisado de cana-de-açúcar. A previsão para darmos início a este trabalho é no início de março. Na verdade o trabalho já começou com a criação das nossas próprias bibliotecas de ACV dos alimentos. Esse foi o nosso principal problema no trabalho com os ruminantes e motivo pelo qual precisamos fazer uma parceria com os franceses, porque eles já tinham essas bibliotecas de ACV dos alimentos, agora que nós construímos a nossa própria biblioteca e desenvolvemos o método de otimização de dieta com ACV vamos fazer um estudo com as condições de campo do Brasil.
Mais uma vez estamos na vanguarda de uma pesquisa, o que muito nos orgulha porque foi o primeiro trabalho a nível internacional que tratou do ACV com ruminantes.

O Presente Rural – E como será feita a gestão do carbono neutro, quem será o comprador? Como que esse método de otimização de dieta com ACV para ruminantes será difundido na pecuária?

Luís Gustavo Barioni – Estamos conversando muito com empresas, principalmente frigoríficos, que estão olhando para esse mercado de carbono, com o Ministério da Agricultura e Pecuária, que estão atentos para esta nova modalidade de gestão do carbono, embora o mercado de crédito de carbono ainda não exista, mas já tem uma sinalização para sua regulamentação. O Brasil não entrou nas cláusulas de barreira da União Europeia por enquanto, mas há uma perspectiva de que isso aconteça. E para isso os setores de carne e produtos lácteos, por exemplo, estão fazendo projetos que visam redução de gases do efeito estufa para poderem estar aptas ao exigente mercado europeu, até porque muitas das empresas frigoríficas e de laticínios assinaram um termo de compromisso de redução de emissões de gases do efeito estufa, então teoricamente precisam fazer projetos junto aos fornecedores para reduzir as emissões.

Também estamos em conversa com estes setores, nos colocamos à disposição para ajudar, pois temos o método comprovado de forma científica que é eficiente, o fato é que a gente pode ajudar os produtores e toda a cadeia a encontrar a melhor forma de se adequar e ao mesmo tempo obter maior lucratividade com o seu rebanho. O que a gente sabe é que existe a necessidade da indústria preceder esses benefícios em termos de mercado, porque são empresas comerciais, que buscam cada vez mais vender os seus produtos de forma diferenciada e repassar parte desta lucratividade ao produtor, porque senão o produtor não vai fazer, porque ele também precisa ser remunerado para que possa mudar a formulação de dieta ou qualquer outro investimento tecnológico, para que seja lucrativo. Afinal de contas é o seu negócio.

Neste momento estamos conversando sobre o funcionamento dos mercados de carbono, já têm algumas iniciativas, mas ainda incipientes, mas a gente percebe que as indústrias frigoríficas, de laticínios, de insumos, energia, as traders e de diversos outros setores estão olhando com mais afinco para as questões ambientais e de sustentabilidade, o que deve impactar de forma expressiva a curto prazo as transações em qualquer mercado.

O Presente Rural – Atualmente o método ACV está no campo da pesquisa apenas. Há perspectivas de quando o método ACV será utilizado?

Luís Gustavo Barioni – Estamos no campo da pesquisa e nas discussões política e comercial de como vai operar esse mercado, mas ainda não tem nada definido para que a gente possa dizer para o produtor formular dietas com redução de emissões, a não ser que seja uma coisa do ponto de vista altruísta, pois do ponto de vista econômico ainda não se tem nenhum incentivo. O que a gente percebe é que daqui a dois ou três anos deve se tornar uma realidade nas operações comerciais aqui no Brasil.
O fato é que comprovamos a eficácia do método, mas ele ainda não tem um apelo para aplicação na cadeia produtiva porque não temos um mercado de crédito de carbono, mas a hora que existir está pronto para ser replicado da melhor forma possível. Estamos preparados para o futuro que está cada dia mais próximo da gente.

O Presente Rural – O método ACV desenvolvido para formulação de dietas para ruminantes pode ser replicado em outras cadeias de proteína animal?

Luís Gustavo Barioni – É aplicável para qualquer cadeia animal, mas o nosso trabalho em específico foi voltado para gado de corte. O método ACV por ser replicado sempre que o produtor precisar formular uma dieta, por exemplo, se os animais estão exclusivamente à pasto não precisa aplicar essa dieta no rebanho. Mas a partir do momento que o produtor usa os suplementos para formular a nutrição dos animais, como no sistema de confinamento, é indicado que essa dieta seja replicada. De outra forma, a exceção é quando o produtor cria os animais só com foragem, só em pastejo por exemplo.

O Presente Rural – O produtor já pode implantar essa dieta com o método ACV em seu rebanho ou deve aguardar a regulamentação do mercado de crédito de carbono?

Luís Gustavo Barioni – O método está pronto e já pode ser replicado, mas uma coisa que é preciso entender é que existe um balanço claro entre a parte econômica e ambiental. É preciso definir o quanto será preciso pagar para o produtor implementar esse método e do ponto de vista do produtor quanto que vai custar para fazer esse trabalho, então se o preço do carbono que estão oferecendo ao produtor é maior do que o custo que ele tem para reduzir as emissões então o produtor conseguirá calcular o lucro esperado com essa dieta replicada no rebanho.
É uma forma de informar tanto o produtor quanto a cadeia como se forma o custo efetivo para fazer a redução de emissões.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor pecuário acesse gratuitamente a edição digital de Bovinos, Grãos e Máquinas. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Bovinos / Grãos / Máquinas

Cotações da carne bovina enfraquecem no atacado e seguem firmes para arroba

De acordo com pesquisadores do Cepea, os valores costumam perder sustentação na segunda quinzena.

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Os preços da carne bovina no atacado da Grande São Paulo registraram pequenas quedas nos últimos dias.

De acordo com pesquisadores do Cepea, os valores costumam perder sustentação na segunda quinzena, e, pelo menos por enquanto, não se nota impacto significativo da confirmação de foco da doença de Newcastle numa granja de frangos no Vale do Alto Taquari (RS) no mercado bovino.

Ao longo de julho, o que tem havido é uma recuperação, ainda que lenta, das sucessivas baixas ocorridas no correr do primeiro semestre.

Segundo pesquisadores do Cepea, frigoríficos seguem preenchendo boa parte das escalas com animais já contratados.

Em suas negociações spot, deparam-se com pecuaristas firmes nos pedidos de preços maiores e, principalmente, fora do estado de São Paulo têm sido visto reajustes.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Bovinos / Grãos / Máquinas Alta produtividade

Revolvendo a cama, revolucionando a pecuária leiteira: o sucesso do compost barn

O êxito desse sistema depende de um manejo adequado da cama, essencial para manter a saúde e o conforto dos animais.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

A implementação do compost barn em fazendas leiteiras tem se mostrado uma estratégia eficaz para promover o bem-estar animal e garantir a alta produtividade. No entanto, o sucesso desse sistema depende de um manejo adequado da cama, essencial para manter a saúde e o conforto dos animais.

O revolvimento diário da cama é fundamental para manter um ambiente saudável no compost barn. Este processo pode ser realizado usando dois implementos principais: o escarificador e a enxada rotativa. O escarificador é ideal para um revolvimento mais profundo devido às suas hastes compridas, atingindo maiores profundidades e facilitando a aeração adequada do material. Já a enxada rotativa, indicada para uma mistura mais superficial, em torno de 20 centímetros, é eficaz para quebrar torrões e partículas agregadas, deixando a superfície da cama mais uniforme. “Para obter melhores resultados, o revolvimento deve ser realizado pelo menos duas vezes ao dia, preferencialmente quando as vacas estão na ordenha, deixando a área de cama livre e adequada para o descanso dos animais” menciona a doutoranda em Zootecnia, Karise Fernanda Nogara, que vai tratar sobre os cuidados essenciais com o manejo e alternativas para a cama compost barn durante o Interleite Sul 2024, que acontece em 18 e 19 de setembro, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (Santa Catarina).

Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, a especialista explica que durante o revolvimento é essencial que os ventiladores estejam em funcionamento. “A ventilação adequada auxilia na secagem da cama ao remover a umidade e dissipar o calor das camadas mais profundas. Manter a superfície da cama em condições térmicas ideais é fundamental para o conforto das vacas, contribuindo para um ambiente propício ao descanso e à saúde dos animais” expõe Karise.

Conforme a zootecnista, a reposição regular de material na cama é outra prática importante para controlar a umidade e promover a atividade microbiológica necessária para o processo de compostagem. “É recomendado realizar reposições em pequenas quantidades, mas com frequência, para manter a cama funcional. A frequência das reposições pode variar conforme as condições microclimáticas da região. Por exemplo, em áreas com invernos chuvosos e alta umidade, como na região Sul do Brasil, pode ser necessário realizar reposições mais frequentes para manter a cama em boas condições” ressalta.

Para avaliar se a cama está em condições adequadas, é recomendável que o produtor utilize um termômetro para medir a temperatura. “Essa medição deve ser realizada de 20 a 30 cm de profundidade, pois essa é a área onde o revolvimento ocorre com mais frequência. É essencial que essa verificação seja feita em vários pontos da cama, pelo menos em nove pontos diferentes. É importante evitar áreas próximas aos pontos de entrada e saída dos animais, próximas aos bebedouros e às muretas, onde o revolvimento pode ser dificultado” detalha Karise.

Temperatura umidade e C:N

A temperatura ideal para as camas de compost barn varia entre 43 e 60°C. Temperaturas em torno de 30°C indicam uma atividade microbiológica mínima, o que pode afetar negativamente a eficácia do processo de compostagem e a qualidade da cama. “Monitorar a temperatura regularmente e agir de acordo com os resultados é fundamental para garantir um ambiente saudável e confortável para os animais” destaca Karise.

Doutoranda em Zootecnia, Karise Fernanda Nogara: “O Compost Barn além de resolver o problema dos dejetos dos animais de forma eficiente, transforma esses resíduos em um recurso com valor agregado, tanto para a fazenda quanto para o meio ambiente”. Foto: Arquivo pessoal

Para a verificação da umidade da cama de maneira prática dentro da propriedade, a zootecnista conta que o produtor pode utilizar uma avaliação subjetiva através do teste de compressão na mão. “Nesse teste, o produtor pega uma quantidade da cama na mão e a aperta, comprimindo o material. Se o material não ficar agregado, isso indica falta de umidade na cama. Se o material ficar agregado, mas se desfizer facilmente, significa que há umidade suficiente e adequada. Caso o material agregado não se desfaça, mesmo com compressão, e houver saída de água entre os dedos, isso indica que a cama está saturada, ou seja, com alta umidade. Para verificações mais precisas, pode-se fazer a secagem do material em micro-ondas ou airfryer, método também utilizado com silagens” expõe.

Outra variável importante a ser controlada é a relação de carbono e nitrogênio (C:N) presente na cama. A determinação de C:N é possível apenas via análise laboratorial, similar à análise de solo. A especialista informa que para uma cama com boa atividade microbiana, é necessário que essa relação seja de pelo menos 30:1. “Quando a relação estiver abaixo de 25:1, já é necessário realizar reposições de materiais na cama. Se essa relação estiver em torno de 15:1, indica baixa atividade microbiana e alta umidade, situação em que o produtor deve decidir entre fazer reposições parciais ou substituir completamente a cama” salienta.

Karise reforça a importância de monitorar e manter esses parâmetros dentro dos limites ideais para garantir que a cama do compost barn continue a proporcionar um ambiente saudável e produtivo para os animais. “A combinação de uma temperatura adequada, umidade controlada e uma relação de C:N balanceada favorece a atividade microbiana e a eficiência do processo de compostagem, resultando em um espaço confortável para as vacas e na produção de um adubo orgânico de qualidade” afirma.

Implementação

Karise destaca que a adoção do compost barn deve ser avaliada cuidadosamente de acordo com as condições específicas de cada propriedade, incluindo clima, disponibilidade de recursos e preferências do produtor. “A análise técnica e econômica detalhada é essencial para determinar a viabilidade desse sistema em cada caso específico” pontua, enfatizando: “A combinação de revolvimento diário, ventilação adequada e reposição regular de material cria um ambiente ideal para as vacas leiteiras. No entanto, cada fazenda deve avaliar cuidadosamente suas condições específicas antes de implementar esse sistema, garantindo que ele se alinhe às necessidades e capacidades da propriedade”.

Substituição da cama

A frequência com que a cama do compost barn precisa ser substituída pode variar significativamente de acordo com as práticas de manejo adotadas e as condições específicas de cada propriedade. Karise aponta que alguns sistemas de compostagem permitem que a cama seja renovada parcialmente por vários anos, adicionando material novo conforme necessário para corrigir a umidade e manter a eficiência do processo. “Em alguns casos, as camas podem durar mais de quatro anos antes de exigir uma substituição completa. A decisão de substituir totalmente a cama deve ser avaliada individualmente por cada produtor, levando em consideração diversos fatores” salienta a zootecnista.

Um dos sinais de que a cama precisa ser substituída ou renovada é a altura da mureta. Conforme explica Karise, se não houver mais espaço para adicionar material novo e a cama estiver extrapolando a altura da mureta, isso indica que é necessário realizar uma renovação. Outro sinal é a qualidade do processo de compostagem. “Se a cama não estiver atingindo temperaturas adequadas ou se permanecer constantemente úmida, mesmo com reposições de materiais, isso pode indicar que a compostagem não está ocorrendo conforme o esperado e que a substituição da cama é necessária” explica.

Além disso, a necessidade pelo adubo orgânico produzido a partir da cama pode influenciar a decisão de substituição. “Se o produtor precisar utilizar a cama como adubo orgânico nas lavouras, a sua retirada parcial ou total pode ser uma opção viável” afirma Karise.

Segundo a profissional, um acompanhamento regular do estado da cama e do processo de compostagem é essencial para determinar o momento adequado para realizar a substituição ou renovação. “Cada fazenda deve avaliar cuidadosamente suas condições específicas antes de tomar uma decisão, garantindo que a cama do compost barn continue a proporcionar um ambiente saudável e produtivo para os animais” pontua.

Benefícios ambientais

O sistema compost barn oferece vários benefícios ambientais em comparação com outras práticas de manejo de cama, transformando um problema comum de outros sistemas de produção em uma vantagem significativa.

Em outros sistemas, aponta Karise, os dejetos dos animais exigem mão de obra, equipamentos específicos de limpeza e espaços dedicados para estocagem, enquanto que no compost barn a maior parte desses resíduos, como urina e fezes, é depositada diretamente na cama e utilizada como fonte de nitrogênio para as bactérias aeróbias presentes. “Por meio da decomposição bacteriana, tanto do carbono presente nos materiais de cama quanto do nitrogênio dos dejetos, essas bactérias conseguem metabolizar esses nutrientes, gerando calor no processo. Esse calor, por sua vez, contribui para a secagem da cama, resultando em um ambiente mais saudável e confortável para os animais, minimizando a formação de resíduos e odores desagradáveis” menciona a especialista.

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Uma vantagem adicional desse sistema é que a cama compostada pode ser reaproveitada como adubo orgânico nas lavouras, reduzindo significativamente os custos associados à aquisição de adubos comerciais. “Isso não apenas beneficia financeiramente a fazenda, mas também promove a sustentabilidade ao evitar o desperdício de recursos utilizando um fertilizante natural” assegura Karise, acrescentando: “O compost barn, além de resolver o problema dos dejetos dos animais de forma eficiente, transforma esses resíduos em um recurso com valor agregado, tanto para a fazenda quanto para o meio ambiente”.

Riscos associados ao manejo

Os principais riscos associados ao manejo da cama do compost barn estão relacionados à saúde do rebanho, especialmente em relação à mastite e infecções podais. Karise detalha que a cama formada por materiais orgânicos e dejetos animais requer a presença de bactérias aeróbicas para degradar esses compostos. “Essas bactérias são fundamentais na produção de calor e na secagem da cama, contribuindo para atingir altas temperaturas, que podem chegar até 60°C. Nessas condições, as principais bactérias causadoras de mastite são inativadas, tornando a cama um ambiente mais propício para o descanso das vacas” relata.

No entanto, quando a cama não atinge as temperaturas adequadas e apresenta alta umidade, há um aumento do risco de proliferação de bactérias patogênicas. Isso pode expor o úbere e os tetos dos animais, tornando-os mais suscetíveis às infecções de origem ambiental. “Além disso, infecções podais também podem ser desencadeadas quando a cama não está funcionando adequadamente, pois isso favorece o crescimento de bactérias oportunistas, causando problemas nos cascos dos animais. Por isso é essencial que o produtor monitore e controle a umidade da cama, realizando o revolvimento pelo menos duas vezes ao dia na área de cama e providenciando a reposição do material quando a umidade começar a se elevar” evidencia Karise.
Ao manter a cama em condições ideais, é possível reduzir significativamente os riscos de mastite, infecções podais e outros problemas de saúde no rebanho.

Alternativas ao compost barn

Karise afirma que há várias opções de sistemas de produção que os produtores podem adotar, e a escolha do sistema deve se basear na realidade e nos objetivos de cada produtor. “Não existe um sistema melhor que o outro, mas sim aquele que se ajusta melhor à realidade e o objetivo de cada produtor” ressalta.

Conforme a especialista, sistemas a pasto, sejam totalmente extensivos ou semiconfinados, têm mostrado bons resultados. “Adotando estratégias de pastejo rotacionado, esses sistemas utilizam a forragem de maneira mais eficiente, tanto em quantidade quanto em qualidade. Eles são uma boa alternativa para produtores que dispõem de área de terra suficiente para culturas de inverno e verão, além de serem mais econômicos em comparação com sistemas confinados” avalia.

Para produtores com pouca área de terra, os sistemas confinados podem ser a melhor opção, uma vez que permitem alojar mais animais em uma área menor, embora o custo inicial de operação seja mais alto.

Entre as opções de confinamento, destacam-se o compost barn, que exige reposições de material de cama, e o freestall, que utiliza camas inertes, como areia ou colchões. “Ambos os sistemas podem ser implementados de forma convencional ou em layout de túnel de vento, no qual o galpão é totalmente fechado e climatizado com exaustores e placas evaporativas, proporcionando maior conforto térmico aos animais durante todo o ano” salienta Karise.

Materiais para a cama

Cada material utilizado na cama do compost barn possui uma população microbiana característica, diferente da areia, que é um material inerte. Isso significa que esses materiais proporcionam condições ideais para o crescimento bacteriano, contribuindo para a decomposição dos resíduos. Materiais comuns, como serragem e maravalha, possuem tamanho de partícula adequado para o conforto dos animais, promovendo um ambiente propício para o descanso. “No entanto, é importante ter cautela ao utilizar materiais como palhadas e cascas, pois eles também oferecem boas condições para o crescimento bacteriano, mas a umidade deve ser controlada. Um alto teor de umidade pode levar à contaminação fúngica na cama, prejudicando a saúde dos animais” alerta Karise.

Além disso, materiais como casca de arroz e casca de aveia podem apresentar problemas específicos, uma vez que têm estrutura abrasiva e não favorecem uma compostagem eficiente, podendo irritar a pele do úbere e dos tetos dos animais. “Isso pode levar a alterações comportamentais, como a relutância dos animais em se deitar na cama para descansar, resultando em estresse e diminuição na produção de leite” indica a zootecnista, enfatizando que ao selecionar e utilizar materiais para a cama é essencial considerar não apenas o conforto dos animais, mas também a capacidade do material de promover uma decomposição eficiente e manter um ambiente saudável e livre de irritações para o rebanho.

Ao escolher os materiais para a cama do compost barn, Karise diz que é preciso considerar o equilíbrio entre custo e benefício, levando em conta a disponibilidade regional desses materiais. “O benefício e a qualidade dos materiais estão intimamente ligados à presença e à disponibilidade de carbono, que é essencial para o metabolismo energético das bactérias presentes na cama. Materiais como serragem, maravalha e aparas de madeira são altamente valorizados devido ao seu alto teor de carbono, promovendo maior atividade microbiana e permitindo que altas temperaturas sejam alcançadas, o que beneficia o processo de compostagem” analisa a zootecnista.

No entanto, atualmente, esses materiais enfrentam forte concorrência da indústria energética, que utiliza resíduos de madeira como combustível para caldeiras. Como resultado, muitas madeireiras optam por vender seus resíduos para essas indústrias, deixando os produtores rurais com acesso limitado e preços elevados para esses materiais. “Isso pode levar os produtores a adiarem reposições na cama, afetando negativamente o processo de compostagem, pelo aumento da umidade da cama, o que onera os custos de produção” frisa Karise.

Para mitigar esses custos, os produtores podem considerar o uso de materiais alternativos na cama, como casca de amendoim, casca de café, palhada de trigo, sabugo de milho triturado, bagaço de cana, casca de arroz e casca de aveia. “Embora esses materiais possuam teor de carbono mais baixo em comparação com os resíduos de madeira, eles podem ser utilizados para controlar a umidade e auxiliar no processo de compostagem” avalia, destacando que para melhores resultados é recomendável utilizar esses materiais em conjunto com serragem e maravalha.

No entanto, é importante observar que o custo desses materiais alternativos pode variar de acordo com a localização e a disponibilidade regional. “Os produtores devem avaliar cuidadosamente suas opções e considerar não apenas o preço, mas também a eficácia e a disponibilidade dos materiais ao tomar decisões sobre o manejo da cama” evidencia Karise.

Impactos da baixa qualidade da cama

A presença de umidade elevada na cama pode agravar inflamações, especialmente infecções de origem ambiental, como a mastite, devido aos animais estarem mais sujos. Isso pode resultar em um aumento na contagem de células somáticas, prejudicando tanto a produção quanto a qualidade do leite. “Em casos graves de mastite, as células secretoras de leite podem ser danificadas, resultando em uma redução na produção de leite” enfatiza Karise.

Foto: Juliana Sussai

Além disso, a especialista cita que a composição do leite pode ser alterada de várias maneiras. “A síntese de componentes importantes, como caseína e gordura, pode ser reduzida, enquanto a presença de toxinas bacterianas ou mediadores inflamatórios pode levar à morte ou necrose das células epiteliais. Isso pode resultar em mudanças no sabor, na coagulação, na umidade do queijo, no rendimento e até mesmo no tempo de prateleira dos produtos lácteos” argumenta.

Contudo, Karise ressalta que esse problema não é exclusivo do sistema compost barn, podendo ocorrer em qualquer sistema que contribua para o aumento da inflamação na glândula mamária devido a práticas inadequadas de manejo.

Evolução em curso

Nos últimos anos, pesquisas sobre a arquitetura e caracterização do sistema do compost barn, com ênfase na ventilação, têm sido promissoras. Esses estudos visam aprofundar a compreensão das interações entre o microclima, as características da cama e a saúde do úbere das vacas.

Também tem havido um aumento significativo em pesquisas sobre o comportamento dos animais, bem-estar, produção e qualidade do leite, devido à relação das características da cama com a ocorrência de mastite no rebanho. “Investir em educação continuada e treinamento para a equipe de colaboradores é essencial para garantir que todos estejam familiarizados com as melhores práticas de manejo da cama. Participar de palestras e cursos, muitos dos quais disponíveis online, é altamente recomendado para adquirir conhecimentos atualizados e aprofundar a compreensão sobre o manejo da cama no compost barn” frisa a zootecnista.

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Fonte: O Presente Rural
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Bovinos / Grãos / Máquinas Embrapa Agrossilvipastoril

Após 12 anos, pesquisa traz embasamento para plantio de árvores em sistemas ILPF

As pesquisas trouxeram resultados que ajudam a fazer recomendações sobre uso do componente arbóreo nesses sistemas produtivos.

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Resultados do estudo contribuem para recomendações sobre uso do componente arbóreo nos sistemas integrados. Foto: Gabriel Faria

A Embrapa Agrossilvipastoril está fechando o primeiro ciclo de 12 anos do maior experimento do mundo com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), em Sinop (Mato Grosso). As pesquisas trouxeram resultados que ajudam a fazer recomendações sobre uso do componente arbóreo nesses sistemas produtivos.

A definição da estratégia de uso das árvores em sistemas de integração varia entre as propriedades, conforme o interesse do produtor. Fatores como destinação da madeira, mercado consumidor, forma de colheita, uso das árvores como adição ou substituição de renda, características da propriedade, entre outros, devem ser avaliados. Isso torna cada projeto único. Porém, a tomada de decisão deve ser baseada em fundamentos técnicos como os obtidos na pesquisa.

A pesquisa

O trabalho utilizou o eucalipto (clone H13), uma vez que é uma espécie com crescimento rápido, com técnicas silviculturais desenvolvidas e com múltiplos usos. As árvores foram testadas em sistema de integração lavoura-floresta (ILF), integração pecuária-floresta (IPF) e ILPF, além da monocultura utilizada como testemunha. O plantio ocorreu inicialmente em renques de três linhas distantes 30 metros entre si e, após intervenções, alguns dos tratamentos tiveram as linhas externas suprimidas e ficaram como linhas simples espaçadas em 37 metros.

A pesquisa acompanhou todo o desenvolvimento das árvores, as operações de manejo como poda de galhos e desbastes (corte seletivo de árvores), dados de crescimento, acúmulo de biomassa e carbono, efeito bordadura dos renques, estoque de madeira, entre outros.

Ao longo dos 12 anos os sistemas integrados produziram entre 87 m³ e 114 m³ de madeira por hectare (ha). Os volumes variaram conforme o número de árvores conduzidas até o fim do experimento. Entretanto, quanto mais árvores, maior o impacto sobre a produção de grãos e forragem dentro do sistema produtivo.

“Quando falamos em sistemas de integração, temos que pensar na produtividade de todo o sistema. Se eu aumento o número de árvores, terei redução na produção da lavoura e da pecuária. Sendo assim, o maior número de árvores tem que fazer sentido na avaliação global” explica o pesquisador Maurel Behling.

A área testemunha, com monocultura de eucalipto, produziu 350 m³/ha ao longo dos 12 anos, ficando dentro da média de incremento anual do H13 em áreas de silvicultura em Mato Grosso, que é de 32 m³/ha.

Comportamento de crescimento e carbono

Os dados de crescimento em altura, diâmetro à altura do peito (DAP) e volume de madeira medidos ao longo dos anos indicaram que os sistemas integrados proporcionam o chamado efeito bordadura. É o efeito causado nas árvores externas da monocultura por receberem mais luz, água e nutrientes que aquelas do interior e por terem menor competição com árvores vizinhas. Na ILPF esse efeito foi observado nos renques de linhas triplas, com a árvore do meio tendo menor DAP, assim como as árvores do tratamento só com eucalipto.

O efeito bordadura foi ainda mais acentuado na avaliação de biomassa e de acúmulo de carbono nas árvores. O sistema ILPF, que inicialmente teve renques triplos e passou a ter renque simples após corte das linhas laterais, foi o que mais acumulou carbono, passando dos 30 kg/ano por indivíduo. O valor se diferenciou estatisticamente dos demais e ficou bem acima dos cerca de 20 quilos/ano por árvore na monocultura.

“Além de favorecer o ganho em volume das árvores, com maior potencial para aproveitamento na serraria, há uma maior taxa de acúmulo de carbono nas árvores na ILPF. É um carbono que teoricamente terá um ciclo de vida maior do que aquele usado como biomassa” destaca Behling.

O pesquisador lembra ainda que o carbono não fica somente estocado na madeira. As árvores no sistema produtivo ainda deixam grande volume de carbono na área em forma de folhas, galhos, serrapilheira e matéria orgânica.

“Cerca de 10 toneladas de resíduos por hectare que permanecem são originárias da área útil com árvores. Isso sem considerar tocos e raízes que em média representam 20% da biomassa total da árvore” informa o pesquisador.

Recomendações

Behling enfatiza que os resultados obtidos neste experimento, somadas às experiências de produtores em Unidades de Referência Tecnológica em Mato Grosso, dão subsídios para a tomada de decisão no planejamento de sistemas ILPF.

De acordo com ele, se o objetivo é adicionar renda ou melhorar o conforto térmico para o gado, os sistemas com linha simples são mais indicados. Já se o produtor quer um modelo com maior número de árvores e que sua venda compense as perdas de produção na lavoura e pecuária, é possível fazer renques de múltiplas linhas.

“Se o objetivo é produzir biomassa, por exemplo, é importante adequar o número de linhas ao parque de máquinas que fará a colheita, de forma a viabilizar o custo” orienta o pesquisador.

A análise do mercado que consumirá a madeira é outro fator primordial no planejamento do sistema. A madeira conduzida para serraria tem maior valor agregado, mas depende de haver estrutura de processamento. Na região médio-norte de Mato Grosso, por exemplo, o surgimento recente de usinas de etanol de milho mudou o cenário em relação a 2011, quando o experimento foi iniciado. Atualmente a demanda por biomassa para as caldeiras é grande e tende a ser ainda maior nos próximos anos com a inauguração de novas plantas.

“No caso da madeira serrada de eucalipto, ainda não é uma realidade na região, mas já existe demanda para a madeira tratada para mourões de cerca, postes e construção civil” relata Behling.

Fim do ciclo e início de outro

O primeiro ciclo do experimento de ILPF com foco na pecuária de corte e produção de grãos está sendo finalizado com o corte raso dos eucaliptos após 12 anos. Em todo o experimento ainda restam 3.666 árvores ocupando uma área de 43 hectares, sendo 3 ha com monocultura e 40 ha com IPF, ILF ou ILPF. Dados preliminares indicam um volume total a ser colhido de 3.568,33 m³ de madeira. Considerando o valor de 100 reais por metro estéreo, são quase 514 mil reais. Se a venda fosse para serraria, o valor seria ainda maior. Deve-se lembrar que, além da madeira, a área também produziu carne e grãos.

Com o fim deste ciclo, um novo trabalho já deverá começar no próximo período chuvoso. Desta vez, além do eucalipto, será usada a teca como componente arbóreo do sistema. Também será testado o consórcio com as duas espécies, uma vez que a teca perde suas folhas no período seco, reduzindo a sombra para os animais. A ideia é que o eucalipto contribua para manutenção do conforto térmico e com o escalonamento de receitas obtidas com as árvores.

Maior experimento do mundo em ILPF

O experimento de ILPF com foco na pecuária de corte e agricultura de grãos da Embrapa Agrossilvipastoril é um dos maiores, se não o maior do mundo com sistemas integrados organizados em blocos casualizados e com quatro repetições. São um total de 72 hectares, com dez tratamentos distintos. Além da lavoura, da pecuária e da floresta sozinhos, são avaliadas diferentes estratégias e arranjos de ILP, IPF, ILF e ILPF.

O planejamento do experimento foi feito logo após a criação da Embrapa Agrossilvipastoril, por meio de uma reunião com a participação de especialistas de diversas Unidades da Embrapa. Desde a instalação, na safra 2011/2012, pesquisadores de diferentes especialidades fizeram estudos nesta área, analisando aspectos de solo, dinâmica de água, microclima, forragicultura, sanidade animal e vegetal, microbiologia, e emissão de gases de efeito estufa, entre outros.

Entre os resultados de destaque está o Sistema PPS (Precocidade, Produtividade e Sustentabilidade), uma estratégia de manejo da pecuária de cria utilizando ILP e IPF.

Fonte: Assessoria Embrapa
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