Suínos / Peixes Necessita atenção
Claudicação em fêmeas suínas gestantes têm efeito na prole
Resultados preliminares da pesquisa mostram que leitões que nascem de fêmeas que claudicaram durante sua gestação apresentam diversos problemas ao longo da vida

Artigo escrito por Marisol Parada Sarmiento, doutoranda em Medicina Veterinária, Saúde Pública e Bem-estar Animal, Universidade de Teramo, Itália e estudante de intercâmbio na Universidade de São Paulo – FMVZ, campus Pirassununga
O suíno é um animal de enorme complexidade em termos comportamentais. Na natureza, as matrizes e sua prole convivem em grupos e só se juntam com os machos em temporada de acasalamento. Alguns comportamentos naturais da espécie incluem fuçar, forragear, chafurdar (banho de lama para o controle de temperatura) e gerar vínculos amistosos com seus semelhantes. Próximas ao parto, as matrizes constroem ninhos que podem alcançar dezenas de quilos de material (feno, galhos, serragem, etc.), sendo que tais comportamentos são comprometidos pelos sistemas de produção adotados na atualidade.
O sistema de produção suína apresenta enormes desafios para todos os envolvidos, principalmente para os animais. Um dos desafios que tem chamado a atenção da comunidade que trabalha com esta espécie é a claudicação. A claudicação é um evento doloroso que indica dificuldade no andar do animal (coloquialmente chamada de manqueira) atingindo diretamente o bem-estar animal e, por consequência, o bolso do produtor. A claudicação é um motivo de descarte frequente em matrizes suínas, e estudos sugerem que aproximadamente 60% das matrizes se encontram claudicando no Brasil. Ou seja, pelo menos quase três milhões de matrizes se encontram em situação de dor (IBGE, 2017). No mundo, as prevalências reportadas estão próximas dos 30% e o custo da claudicação gira em torno dos R$ 200 por matriz.
Origem
Sua origem, como em outras espécies, é multifatorial e, dentre os fatores, temos:
- Condições de alojamento inadequadas: muitos animais em áreas pequenas e ausência de enriquecimento ambiental são determinantes devido às lesões geradas durante e após a mistura de animais;
- Piso: abrasividade excessiva no chão altera negativamente a condição do casco nos suínos;
- Fatores sanitários e nutricionais: algumas toxinas, deficiências em vitaminas e minerais podem afetar os ossos, cartilagem articular e qualidade do casco;
- Outros fatores, como ausência de casqueamento, atrofia muscular por inatividade excessiva ou seleção genética, sem levar em conta os aprumos dos reprodutores, aumentam a probabilidade de desenvolver claudicação.
As consequências da claudicação para o animal compreendem mudanças comportamentais, problemas de saúde e estados emocionais alterados, tudo isso diretamente relacionado com à dor que a claudicação implica e o bem-estar animal. Traumas, fraturas, lesões do pé, lesões de ossos e cartilagens de nascença são condições que alteram a saúde das matrizes. Consequências comportamentais importantes incluem a redução da interação social e exploratória normal, mudanças no comportamento alimentar e alteração na sequência e tempo para se deitar. Por fim, as implicações fisiológicas encadeiam respostas cardiovasculares e liberação de hormônios do estresse, como adrenalina, noradrenalina e cortisol.
A dor tem um papel importantíssimo nessas mudanças secundárias geradas pela claudicação. Ela é uma condição desagradável e estressante que tem como ser detectada. Inicialmente, é importante conhecer o comportamento natural da espécie a ser avaliada, pois as primeiras mudanças no animal são de tipo comportamental: diminuição da atividade, maior reatividade ante estímulos estressantes, diminuição no consumo, afastamento do grupo e relutância ao apoio do membro afetado. Existem metodologias validadas para determinar o grau de claudicação do animal, onde o observador precisa de treinamento prévio para determinar quantitativamente a severidade desta dificuldade motora. Procedimentos mais complexos usados pela ciência, como medição de hormônios de estresse, podem ser aliados para melhor compreensão do estado em que o animal se encontra sendo com dor/estresse ou não.
Dor afeta leitões em formação
Mas e a dor? Ela tem efeito nos leitões que estão se formando dentro da matriz? A resposta é sim. Como em todo mamífero, situações de estresse durante a prenhez sem possibilidade de adaptação, geram efeitos negativos no desenvolvimento do feto. Por exemplo, se uma mulher passar por estresse excessivo durante a gestação e, mais especificamente, durante o momento em que o sistema nervoso central do feto está se desenvolvendo, consequências graves são geradas. Crianças com dificuldades emocionais, agressividade excessiva, problemas de atenção e memória, são algumas sequelas que o estresse desmedido pode gerar nesse novo ser.
Uma equipe de pesquisa da Universidade de São Paulo, em conjunto com a Universidade de Teramo (Itália), está trabalhando na identificação dessas consequências em leitões vindos de matrizes que claudicaram durante sua gestação.
Em situações normais, os hormônios de estresse, como o cortisol, são inativados na placenta para evitar os possíveis danos ao feto, mas se esses níveis superam a capacidade que a placenta tem para inativar, os hormônios começam a passar de forma livre, alterando estruturas cerebrais em formação, as quais se relacionam com o mencionado anteriormente, memória, cognição, agressão e, inclusive, medo.
Resultados preliminares da minha pesquisa de doutorado mostram que leitões que nascem de fêmeas que claudicaram durante sua gestação, são mais agressivos, têm frequências de vocalização diferentes, possivelmente sua sensibilidade à dor se encontra diminuída e apresentam menor peso ao desmame.
No futuro, o estudo poderá mostrar mais resultados em relação à conversão alimentar, ganho de peso, desempenho cognitivo, comportamento social e medidas de medo; para mostrar outras alterações que a claudicação em matrizes gestantes causa nos fatores produtivos e de bem-estar da sua prole.
O mundo da produção suína está cheio de desafios para os animais, desde seu nascimento até sua morte; desmame, mudanças do local de alojamento, mistura com animais desconhecidos, transporte, entre outros. Se tivermos a capacidade de criar animais mais adaptados à tais desafios, as consequências serão benéficas para o produtor e não somente para o animal. Ter animais mais calmos, por exemplo, suscita facilidades de manejo para cada um desses desafios, de forma que tanto o animal como o produtor e seus trabalhadores, se verão beneficiados.
Outras notícias você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2019 ou online.

Suínos
Especialista alerta para pontos críticos e de maior atenção na limpeza e desinfecção
Profissional enaltece a importância destas etapas e reforça que elas podem ser grandes aliadas na prevenção e tratamento de doenças e no controle de pontos críticos da granja.

A suinocultura é uma atividade complexa, e a biosseguridade desempenha um papel crucial para manter a saúde dos animais e garantir o sucesso da produção. A médica-veterinária, mestra em Patologia Animal, Thaiane Kasmanas, enaltece nesta matéria a importância da temática “Limpeza, desinfecção e a pirâmide do bom senso”, apresentando contribuições significativas para esta etapa da produção, o que pode contribuir para a evolução e o aprimoramento contínuo da atividade.
De acordo com Thaiane, a limpeza e a desinfecção acabam sendo, no dia-a-dia da granja, atividades bastante operacionais. Ela enalteceu que muitas propriedades já possuem equipes que são responsáveis por fazer este serviço. “Meu objetivo hoje é mostrar a grande importância destas práticas que podem interferir em todo o processo produtivo da suinocultura. É preciso capacitar os profissionais”, recomenda.

Médica-veterinária, mestra em Patologia Animal, Thaiane Kasmanas – Foto: Divulgação/Pork Meet Rio Verde
A médica-veterinária distinguiu dois conceitos que muitas vezes acabam sendo confundidos como se fossem o mesmo: a biosseguridade e a biossegurança. Conforme ela, a biosseguridade são as práticas e medidas que visam minimizar os riscos sanitários em populações animais, já a biossegurança está relacionada com as normas e procedimentos que são realizados com os seres humanos. “Desta forma podemos dizer que a biosseguridade diz respeito aos animais e que ela está sendo melhorada a todo momento. Já a biossegurança, por se tratar de aspectos relacionados à saúde humana, é mais inflexível e muito mais rígida, sendo que muitas vezes uma medida de biossegurança pode ser tornar uma lei”, disse.
A profissional pontuou que embora as duas palavras sejam parecidas, elas possuem conceitos diferentes, enaltecendo que esta abordagem sobre limpeza e desinfecção vai focar o complexo programa de biosseguridade. “É claro que o programa de biosseguridade vai além da limpeza e desinfecção, ele engloba os controles de entrada e saída na granja, bem como auxilia a dificultar a entrada de patógenos, controla o nível de contaminação interna, busca evitar a disseminação de doenças, bem como reduz gastos com tratamento medicamentoso e aumenta a produtividade e qualidade do produto final”, observou.
Segundo Thaiane, a biosseguridade pode ser dividida em três grandes áreas: a bioexclusão, bio-manejo e bio-contenção. “Na bioexclusão temos as ações que a gente usa para prevenir a entrada de um patógeno na granja. No bio-manejo temos os aspectos operacionais padrões, além da implementação de processos para evitar a proliferação de doenças, como a vacinação, a limpeza e desinfecção. Já a bio-contenção é a parte mais complexa, ela precisa estar sempre no radar, já que ela trata do manejo de resíduos, de animais mortos, da composteira, do biodigestor e a própria água de lagoa”, observou.
Ela pontuou que é possível redividir a biosseguridade em três grandes componentes. Físico, químico e lógico. “As barreiras físicas são usadas para sinalizar o que é área limpa, o que é área suja, elas tratam das partes da estrutura. Já o componente químico é a utilização dos detergentes e desinfetantes. E a parte lógica é bastante curioso, porque ela abrange com que o conceito de biosseguridade seja assimilado por todos aqueles que fazem parte da propriedade. Assim, quando acontecer algum evento, todos saberão o que fazer para resolver aquele problema”, recomendou.
De acordo com ela, ter fluxo e estrutura facilita esta gestão, pois promove de forma eficiente e com clareza os procedimentos que devem ser feitos. “Saber o conceito, ter as condições de estrutura necessárias e realizar os procedimentos adequados é o que faz a diferença na biosseguridade”, pontua. Por outro lado, a médica-veterinária também reforçou que a biosseguridade não é só a limpeza e desinfecção e que a nutrição e a sanidade também fazem parte desta importante engrenagem.
Custos menores
A especialista também ressaltou uma notável mudança de perspectiva que tem se desenvolvido ao longo do tempo. Essa mudança está relacionada com a redução da dependência de antibióticos, seja no tratamento ou em doses reduzidas. Em vez disso, a ênfase está sendo colocada na prevenção, com destaque para práticas como vacinação, limpeza e desinfecção. “Essas abordagens emergentes desempenham um papel crucial na redução da necessidade de recorrer a antibióticos, reservando seu uso para situações pontuais. Além disso, essa mudança de abordagem demonstra benefícios econômicos e produtivos substanciais, uma vez que o investimento em limpeza e prevenção é notavelmente menor em comparação com os custos associados ao tratamento com antibióticos”, pontuou.
Outros pontos
“Todos estes pontos são críticos e merecem atenção. Mas ainda precisamos reforçar que existem pontos críticos que precisam de controle redobrado, como o isolamento, controle de vetores, limpeza e desinfecção, a monitoria da saúde dos animais, a verificação e a validação do sistema com auditoria”, frisou.
Foco na limpeza
A médica-veterinária enalteceu que apesar da etapa da limpeza ser uma ferramenta e um processo operacional, ela impacta diretamente na saúde dos animais. “Esta etapa representa 90% do sucesso, porque nenhum desinfetante consegue atuar em cima de matéria orgânica. Portanto, a ideia é que a gente sempre foque nossos esforços na limpeza e finalize com a cereja do bolo, que é a etapa da desinfecção”, recomendou.
De acordo com ela, o principal objetivo da limpeza é reduzir a pressão de infecção nas granjas, pois ela visa eliminar vírus, bactérias e fungos. “É importante reconhecer que não existe um produto mágico que serve para tudo, mas que é necessário utilizar o conjunto de ferramentas, pois é este conjunto que vai beneficiar a produção”, mencionou.
Reprodução, maternidade e creche
A médica-veterinária alertou sobre a importância do rigor sanitário ser ainda maior com os animais que participam da reprodução, tanto fêmeas como machos, já que eles são animais de alto valor agregado. No contexto da maternidade, ela apontou um desafio crítico relacionado à temperatura. Enquanto os animais mais velhos requerem ambientes com temperaturas mais baixas, os leitões necessitam de temperaturas mais elevadas. Essa disparidade térmica torna crucial o controle rigoroso da temperatura e a manutenção adequada da higiene do escamoteador. “A superfície do escamoteador, frequentemente feita de materiais porosos, como madeira, papelão ou plástico, apresenta desafios adicionais à limpeza e é suscetível à formação de biofilmes devido à variação de temperatura”, alertou.
Quanto à fase de creche, a especialista destacou que é um período particularmente crítico, exigindo um rigor sanitário extremo devido à introdução de animais jovens em um novo ambiente com diferentes condições. “Essa transição pode desencadear problemas significativos, incluindo episódios frequentes de diarreia, tornando a higiene e o manejo cuidadoso de extrema importância”, recomendou.
Com relação às etapas de crescimento e terminação ela afirmou que o ideal é que elas sejam as fases menos preocupantes. “É claro que isso só vai acontecer se eu tiver tido um manejo eficiente nas fases anteriores, pois assim eu terei menor preocupação nestas fases, já que a tendência é que os animais tenham menor intercorrências”, observou.
Biofilme
A especialista disse que o biolfilme é a primeira barreira física das bactérias contra a ação química e explicou que ele forma-se gradualmente devido a fatores como temperatura e qualidade da água, tornando-se uma película protetora para as bactérias. “Para quebrar esse ciclo, a limpeza adequada é essencial, pois as bactérias também podem criar biofilmes nas tubulações de água, muitas vezes invisíveis. A estratégia para eliminar esses biofilmes envolve uma variação de pH, começando com uma limpeza alcalina para remover gordura e alternando com detergentes ácidos, expondo as bactérias para a ação subsequente do desinfetante”, recomendou.
Além disso, a profissional afirmou que a limpeza com detergentes alcalinos é crucial para a remoção de resíduos de proteínas, gorduras e carboidratos de superfícies, sendo que esses detergentes estão disponíveis em versões com ou sem cloro. Ela também recomendou que o processo de limpeza siga o fluxo de cima para baixo e de cima para frente para evitar a contaminação cruzada de áreas já limpas.
A cereja do bolo: etapa da desinfeção
Após a limpeza tem-se o processo de desinfecção. A médica-veterinária enaltece que a escolha de um desinfetante químico eficaz é crucial. “É muito importante que os produtores evitem adquirir produtos não registrados, pois muitas vezes eles não cumprem o papel de desinfecção de forma adequada. A composição do desinfetante também deve ser criteriosamente avaliada, garantindo a presença dos elementos necessários para sua eficácia. Por outro lado, as formas de aplicação são bastante variadas e o produtor deve escolher aquela que melhor atende as demandas da sua granja”, assegurou.
Outra recomendação importante nesta etapa é o cuidado correto com a secagem adequada das áreas que foram desinfetadas. “Antes de reintroduzir os animais é necessário que tudo esteja bem seco, para garantir que a desinfecção desempenhe um papel fundamental na manutenção da biosseguridade nas instalações, protegendo a saúde dos animais em ambientes de produção”, ponderou.
Salas de reprodução e gestação
A profissional ainda fez um alerta a respeito das salas da reprodução e gestação que geralmente estão sempre ocupadas. “Essas são áreas que nunca estão vazias, por isso a limpeza deve sermpre ser feita no momento em que um animal sai”, pontuou, acrescentando que outro pontpo crucial é a utilização dos EPI´s que são necessários em cada uma destas etapas.
Tecnologia para facilitar e verificar
A profissional finalizou fazendo a recomendação para que os produtores utilizem as tecnologias que estão disponíveis no mercado e que auxiliam na verificação da limpeza realizada. “A leitura de ATP pode auxiliar muito, pois ela faz a detecção de matéria orgânica, isso contribui bastante, porque contribui para melhorar a eficiência, já que é possível fazer isto antes da etapa da desinfecção. Desta maneira, você pode utilizar inúmeras ferramentas que fazem uma varredura da limpeza, e quando o resultado mostra que está tudo certo, aí é só fazer a etapa da desinfecção”, sugeriu.
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Suínos / Peixes
Ganho compensatório é viável na suinocultura?
O ganho compensatório na produção de proteína animal é um fenômeno que ocorre quando animais, como gado, suínos ou aves, experimentam um período de restrição alimentar seguido por uma fase de alimentação quando têm acesso à quantidade de alimento que necessitam.

O ganho compensatório é um conceito complexo que envolve o crescimento acelerado de animais após um período de restrição nutricional, visando recuperar o peso perdido e restabelecer o equilíbrio corporal. Existem estudos que demonstram a existência do ganho compensatório em algumas espécies, como aves e peixes, mas ainda há dilemas e dificuldades em mensurar e estimar o ganho compensatório em suínos.
O ganho compensatório na produção de proteína animal é um fenômeno que ocorre quando animais, como gado, suínos ou aves, experimentam um período de restrição alimentar seguido por uma fase de alimentação quando têm acesso à quantidade de alimento que necessitam. Durante o período de restrição alimentar, os animais recebem uma quantidade insuficiente de alimento ou determinados nutrientes para atender às suas necessidades de crescimento e produção. No entanto, quando a restrição alimentar é encerrada e os animais são alimentados à vontade, eles tendem a crescer e ganhar peso mais rapidamente do que aqueles que sempre foram alimentados adequadamente.
Esse ganho compensatório ocorre devido a várias adaptações fisiológicas que os animais desenvolvem durante o período de restrição alimentar. Durante a restrição, eles podem reduzir o gasto de energia, diminuir o crescimento e utilizar de forma mais eficiente os nutrientes disponíveis. Quando a alimentação é restaurada, essas adaptações permitem que eles absorvam e utilizem os nutrientes de maneira mais eficaz, resultando em um aumento rápido no crescimento e no ganho de peso.

Mariana Boscato Menegat, médica-veterinária – Foto: Giuliano De Luca/OP Rural
O ganho compensatório é um conceito importante na produção animal, pois permite aos produtores otimizar o uso de recursos, como alimentos, reduzindo os custos de produção. No entanto, é essencial controlar o período de restrição alimentar para evitar efeitos negativos sobre a saúde e o bem-estar dos animais. Além disso, a genética, a idade dos animais e outros fatores podem influenciar a magnitude do ganho compensatório observado em diferentes espécies e sistemas de produção.
Conforme a médica-veterinária, Mariana Boscato Menegat, mestra em Reprodução de Suínos e PhD em Nutrição de Suínos, a restrição alimentar controlada é geralmente implementada por um curto período de tempo, geralmente de semanas, dependendo do objetivo do produtor. Durante esse período, os suínos recebem uma quantidade de alimento que é insuficiente para atender plenamente suas necessidades de crescimento ou recebem dietas mais pobres em algum nutriente, como lisina, proteína bruta ou lipídios, por exemplo. Como resultado, eles podem experimentar uma desaceleração no crescimento e no ganho de peso.
Quando a restrição alimentar é encerrada e os suínos são alimentados à vontade, várias coisas acontecem. A eficiência de conversão alimentar melhora, pois os suínos que passaram pelo período de restrição alimentar tendem a utilizar os nutrientes de forma mais eficiente, transformando a comida consumida em ganho de peso com maior eficácia. Além disso, pode haver maior consumo de alimento, o que contribui para o ganho de peso acelerado.
Com o aumento da ingestão de alimentos e a melhora na eficiência de conversão, os suínos experimentam um rápido crescimento e ganho de peso durante o retorno à fase de alimentação com os nutrientes que necessitam. Isso resulta em um ganho compensatório, permitindo que eles alcancem o peso desejado em menos tempo.
De acordo com ela, o ganho compensatório é vantajoso para os produtores de suínos, pois pode reduzir os custos de produção, incluindo alimentação, e otimizar a produtividade nas fábricas de rações. No entanto, a gestão adequada é fundamental para garantir que os suínos não sofram estresse ou impactos negativos em sua saúde durante o período de restrição alimentar.
Mariana ressalta que é importante observar que a magnitude do ganho compensatório pode variar com base em fatores como a genética dos suínos, a duração da restrição alimentar e a qualidade da alimentação. “Os fatores determinantes para o ganho compensatório são genótipo, estratégia de crescimento durante a restrição, método de limitação nutricional e padrões de restrição e recuperação”, frisou. Portanto, explicou, os produtores devem ajustar estrategicamente seus planos de alimentação para otimizar o ganho compensatório sem comprometer a saúde dos animais.
Na prática
“Se a gente só olhar para o conceito, parece que todas nossas preces foram atendidas. Será que a gente consegue fazer uma redução de desenvolvimento dos animais e minimizar os custos de produção, mas mesmo assim ganhar em alto desempenho e maximizar a produtividade? Isso seria ideal, mas o ganho compensatório é mais complexo do que isso. No entanto a gente pode utilizar ele, ter benefícios na prática utilizando o conceito de ganho compensatório”, destacou. “Em algumas espécies de aves e peixes o ganho compensatório está não somente bem descrito, mas utilizado na prática. Mas nos suínos ainda existem bastantes dilemas, é difícil de estimar e mensurar o ganho compensatório”, ampliou a palestrante.
A palestrante citou como exemplos pesquisa com dois grupos de suínos, um que teve restrição alimentar e outro que não passou por isso. “Nesse período de restrição é normalmente induzido por restrição nutricional. Durante esse período os animais vão ter crescimento desacelerado em relação aos animais que não tiveram restrição. Assim que a restrição nutricional é removida e os animais voltam a uma dieta nutricionalmente adequada, eles passam por um período de recuperação, quando o crescimento é acelerado em relação aos animais que não tiveram uma restrição prévia”, acentuou. “O mecanismo fisiológico que leva ao ganho compensatório é uma tentativa de tentar recuperar o peso perdido para atingir o peso esperado na idade fisiológica e tentar reestabelecer o reequilíbrio corporal de lipídios e proteína ao qual os animais estão geneticamente predispostos”, explicou a especialista.
Para Mariana, uma das principais atenções dos produtores deve estar no período em que é realizada a restrição. “O estágio de crescimento durante a restrição determina a capacidade do suíno em expressar o ganho compensatório. A restrição deve ser feita no estágio inicial de crescimento, antes do animal atingir a maturidade e antes de atingir seu máximo potencial de deposição proteica”, que ocorre quando o suíno tem entre 70 e 85 quilos, de acordo com a especialista.
“É importante ser uma restrição nutricional moderada, por um período curto, passando por um período mais longo de recuperação, com níveis de lisina atendendo as necessidades dos animais ou acima dessas exigências”, recomenda. “Em síntese, o ganho compensatório é uma limitação nutricional através da formulação da dieta. A restrição deve ser feita no estágio inicial de crescimento, antes da maturidade. A restrição deve ser curta, com níveis moderados de limitação de lisina, e recuperação longa e com níveis adequados de lisina”, reforçou.
A profissional citou ainda importantes aspectos a campo que podem influenciar positiva ou negativamente no ganho compensatório. Entre eles estão a sanidade da fazenda, o espaço de comedouro, a ambiência das instalações, a qualidade da água, a densidade de animais e a variabilidade de peso do plantel.
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Suínos / Peixes Artigo
Água: da essência à negligência
A água está presente a todo momento nas granjas, seja na água de bebida dos animais, para limpeza ou nos processos produtivos – na produção da ração, nos frigoríficos, etc.

É fato que a água é um dos nutrientes mais importantes, se não o mais importante para os suínos. Atualmente os índices de desperdício de água na produção de suínos no Brasil ainda estão bem aquém do que alguns países na Europa ou América do Norte já atingem. O manejo da água ainda é um tema por muitas vezes negligenciado no dia a dia da produção, seja pela abundância ou ainda pelo baixo custo no Brasil, geralmente não damos a devida atenção a este recurso que é finito e vai se tornar cada vez mais importante nas agendas de sustentabilidade em nossa indústria.
A água está presente a todo momento nas granjas, seja na água de bebida dos animais, para limpeza ou nos processos produtivos – na produção da ração, nos frigoríficos, etc. Estudos demonstram que o desperdício de água na criação de suínos varia, mas chega a números de até 27 a 52%. A maneira como a água é apresentada aos suínos, a vazão de água nos bebedouros e as diretrizes de manejo em geral têm impactos diretos nestes níveis de perdas. Além disso existe o impacto no custo de remoção/destinação de dejetos. Um estudo realizado pela Embrapa Suínos aponta que a cada mil litros de água adicionados aos dejetos, um custo de R$10,00 a 12,00 é agregado para destinação, um custo de produção, pouco explorado.
Quanta água um suíno precisa?
Ao nascer, a água representa até 80% do peso corporal de um leitão e diminui para aproximadamente 50% em um suíno que atinge o peso de abate de acordo com o estudo publicado em 2019.
Em fase de gestação as fêmeas precisam de 12 a 23 L/dia de água, enquanto que em lactação de 19-40 L/dia. Do nascimento ao desmame os suínos precisam entre 50-350 ml/dia de água. Já pós desmame esta relação muda, pois está diretamente ligada ao consumo e ração, sendo exigida uma relação de 2:1 a 3:1 entre consumo de ração e de água. Vários fatores afetam esta relação de consumo, mas via de regra suínos em crescimento requerem cerca de 2,6 litros de água por kg de ração ingerida.
A composição das dietas é um dos fatores que impactam significativamente as variações de consumo dos animais, dietas com altos níveis de proteínas e sal, por exemplo, causam maior ingestão de água pelos animais. Outro fator é o estresse térmico dos animais. Diversos estudos demonstram correlação direta entre temperaturas, altas ou baixas, e o consumo de água e ração. Um destes estudos realizou uma meta análise que mostra que em condições de 29 a 35°C, observa-se até 270g menos de consumo diário e 57,57g a menos de GPD em relação a suínos criados em ambientes mantidos a 18-25°C.
Quando este valor extrapolado para um período de engorda pode-se perder até 5kg no peso final de abate. Estudos demonstram também que a temperatura da água de bebida impacta diretamente a performance dos animais, sendo temperaturas de 18-20°C as mais adequadas para garantir um adequado consumo.
Manejo de Água na maternidade/lactação
Na lactação um trabalho monitorou a ingestão de água das fêmeas e controlou o desempenho de performance dos leitões. A maior ingestão de água nas primeiras horas pós-parto demonstrou um efeito direto na performance da leitegada, com impactos significativos tanto nos 3 primeiros dias quanto no período subsequente de 7-14 dias. A ingestão de água adequada pelas fêmeas impactou também em um melhor desempenho em consumo de ração. O mesmo trabalho também demonstrou que leitões com maior GPD tem como sua principal fonte de hidratação o leite enquanto que os leitões de menor GPD consomem mais água, devido a busca das fontes de água para evitar a desidratação.
Manejo de Água na fase de creche
O manejo da água é fundamental na creche, especialmente para os leitões recém-desmamados. Um estudo demonstrou que a ingestão de água pode ser até 3,5 vezes maior que o normal quando os suínos em fase de creche enfrentam estresse térmico.
Muitas vezes é difícil garantir que os leitões recém-desmamados procurem água e bebam nos primeiros dias de alojamento. Com o estresse da saída da maternidade, mudança de ambiente, introdução ao grupo na baia, a desidratação é um dos maiores desafios enfrentados por esses leitões.
É necessário que haja bebedouros suficientes com fluxo de água adequado para garantir o acesso dos leitões à água fresca e hidratação. Como recomendação geral, a proporção de bebedouro por leitão na creche é de um para cada 10 a 15 leitões com fluxo recomendado de 300mL a 550mL por minuto, na busca do equilíbrio correto entre ingestão de água e desperdício.
Os eletrólitos, assim como suplementos nutricionais, podem ser administrados para ajudar a manter os suínos hidratados nas primeiras semanas após o desmame. Produtos que fornecem cloreto, sódio, vitaminas, magnésio e acidificantes de pH ajudam a manter o intestino equilibrado, o que mantém os animais saudáveis para beber e comer.
Por fim, deve-se considerar o impacto do tipo de comedouro. A alimentação seco/úmida é uma ótima maneira de garantir que os leitões recém-desmamados comecem a comer assim que cheguem ao crechário. Disponibilizar um bebedouro no comedouro permite que os animais misturem seu próprio alimento, fazendo uma “papa”, o que comprovadamente aumenta a ingestão de água e ração, resulta em um intestino mais saudável e melhora o GPD. Comparado a comedouros secos tradicionais, a melhora da ingesta em um comedouro seco/úmido resulta em um ganho de peso adicional de 1,5 a 3 kg durante a fase de creche com 35% menos desperdício de água. Vale lembrar que o sucesso neste tipo de alimentação está diretamente ligado ao adequado fluxo de água nos bebedouros (vazão) dos comedouros.
Conclusão
A água é essencial em todos os aspectos do crescimento do suíno e desempenha um papel crítico na produção. Garantir o fornecimento adequado de água deve ser foco prioritário do manejo, porém a redução dos desperdícios também é fundamental e será cada vez mais importante no dia a dia das granjas. Existem maneiras excelentes de fornecer água potável aos suínos e equipamentos e protocolos de manejo que visam a redução das perdas. Avalie, pesquise e passe a olhar e avaliar o recurso água como um potencial para melhoria produtiva e de controle de custos em sua granja.
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