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Cientistas apresentam práticas para reduzir a contaminação do trigo por micotoxinas

Orientações reunidas pela pesquisa buscam o controle da contaminação do trigo por micotoxinas do campo à indústria.

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Joseani Antunes/Divulgação Embrapa Trigo

Pesquisadores reuniram orientações para conter a disseminação de micotoxinas no trigo, compostos tóxicos responsáveis por cerca de 25% da contaminação mundial de alimentos em todo o mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Resultados das últimas décadas de pesquisa foram organizado por especialistas da Embrapa Trigo (RS) na publicação “Micotoxinas no trigo: estratégias de manejo para minimizar a contaminação”. São apresentadas boas práticas e estratégias de manejo para serem usadas desde o campo até a indústria.

As micotoxinas são compostos tóxicos produzidos por fungos, que podem afetar a saúde de seres humanos e animais. A intoxicação acontece de forma direta, quando o produto é utilizado na alimentação, ou indireta, quando subprodutos e derivados contaminados são utilizados na alimentação de animais que transferem as toxinas para o leite, carne e ovos. A forma direta é a mais frequente via de intoxicação e ocorre pelo consumo de cereais, sementes oleaginosas e produtos derivados que foram contaminados nas fases de produção e de armazenamento. Resistentes à industrialização, as micotoxinas continuam presentes nos alimentos mesmo após cozimento ou processamento, sem alterar a aparência ou o sabor.

No trigo, três micotoxinas são as mais importantes: deoxinivalenol (DON) e zearalenona (ZEA) – relacionadas à incidência de fungos do complexo Fusarium graminearum – e ocratoxina A (OTA) – produzida pelos fungos Penicillium verrucosum e Aspergillus ochraceus durante a armazenagem.

Boas práticas para reduzir a contaminação no campo
A contaminação mais frequente no trigo é por DON devido às epidemias constantes de giberela nas lavouras de cereais de inverno no Sul do Brasil. Causada pelo fungo Gibberella zeae, essa é a pior doença do trigo na região, que concentra 90% da produção nacional. Além de infectar a planta, o fungo também pode produzir micotoxinas. Quando a epidemia é severa, leva à má-formação e alterações na coloração dos grãos, que ficam esbranquiçados a rosados.

As boas práticas agrícolas visam ao controle de doenças na lavoura, especialmente a giberela. A pesquisa indica diversas estratégias, como controle genético, manejo cultural e químico.

“A primeira orientação é escolher uma cultivar que apresente algum nível de resistência. Mesmo que não seja totalmente imune ao fungo, a melhor tolerância vai ajudar no controle”, destaca o pesquisador da Embrapa José Maurício Fernandes. A segunda orientação do cientista é fazer o escalonamento da semeadura, com cultivares de ciclos diferentes, evitando que toda a lavoura de trigo tenha espigamento na mesma época, o que aumenta o risco de infecção por giberela em todas as espigas. A terceira estratégia é o controle químico: “Os fungicidas podem controlar entre 50 e 80% da doença, mas precisam ser aplicados de forma preventiva. Para isso é importante observar as previsões climáticas ou fazer uso de modelos que simulam o risco de epidemias”, explica Fernandes.

Para definir as melhores alternativas de controle químico, um grupo de pesquisa, composto por diversas empresas e instituições, publicou o resultado de experimentos com uso de fungicidas para giberela no site.

Estratégias na pós-colheita
Grãos giberelados podem apresentar menor tamanho e deformações. Ajustes na colhedora, como peneiras e regulagem na plataforma, podem separar grãos com sintomas de giberela. O transporte em caminhões limpos e em trajetos curtos também ajuda no controle de fungos e pragas.

Na pós-colheita de trigo, métodos físicos são usados para limpar, separar e classificar os grãos com base em uniformidade, peso, tamanho e forma. Na chegada ao beneficiamento, são utilizados equipamentos de pré-limpeza, como ar, peneiras e mesa de gravidade para descarte de impurezas e grãos deformados. Novas tecnologias, como o selecionador óptico, também podem ajudar na identificação e retirada de grãos infectados por fungos. “Na limpeza e seleção o nível de DON pode ser reduzido entre 7% e 90%, dependendo do percentual de descarte de grãos leves e chochos, com sintomas de giberela”, comenta a também pesquisadora da Embrapa Trigo Casiane Tibola.

Quando a contaminação por micotoxinas está presente em grãos assintomáticos, pode ser utilizado o polimento superficial, capaz de reduzir os níveis de DON em 30%, sem afetar a qualidade da farinha integral. A estratégia é utilizada principalmente na indústria para a produção de alimentos integrais.

O trigo apresenta cerca de 75% de carboidratos em sua composição, sendo um substrato preferencial de fungos, o que o torna altamente suscetível ao acúmulo de micotoxinas durante a armazenagem. Cuidados na secagem dos grãos e limpeza das instalações podem evitar a proliferação de insetos que, além de causar danos aos grãos, podem ser vetores de fungos produtores de micotoxinas. Grãos giberelados também precisam ser separados para um tratamento diferenciado. As espécies dos gêneros Aspergillus e Penicillium são os fungos de maior relevância durante a etapa de armazenamento por produzirem metabólitos secundários, as micotoxinas aflatoxina (AFLA) e ocratoxina A (OTA).

Além de inseticidas para fazer o expurgo de insetos nos grãos, também pode ser utilizado o gás ozônio, que não deixa resíduos e atua na degradação de várias micotoxinas, com potencial de reduzir os níveis de contaminação entre 30 e 80%.

Controle de micotoxinas no processamento
Análises com alimentos contaminados mostraram que DON resiste aos processos industriais utilizados na fabricação de biscoitos, barra de cereais e pães. Em laboratório, a micotoxina só foi eliminada em temperaturas superiores a 210º C, o que prejudica grande parte dos atributos de qualidade dos alimentos.

Contudo, a transformação do trigo em alimentos pode apresentar variações no nível de contaminação conforme a micotoxina e a forma de processamento.

A moagem pode reduzir os níveis de DON entre 30% e 50% na farinha branca quando os grãos resultam de infecções leves. Entretanto, nos casos de contaminação superior a 3000 ppb (parte por bilhão), a redução de DON atinge somente 11%. Um exemplo prático para entender o universo dessa medida é considerar que um bilhão de grãos de trigo corresponde a aproximadamente 35 toneladas. Logo, 1 ppb é o equivalente a um grão contaminado distribuído em uma carga de 35 toneladas de trigo.

Na panificação, houve 50% de redução de DON na elaboração de pães de trigo branco e integral, em comparação às análises realizadas na farinha de partida. Porém, houve um aumento, não significativo estatisticamente, nos níveis de ZEA.

Trabalhos que analisaram o efeito do cozimento em espaguetes e noodles (macarrão estilo japonês) frescos reportaram que 42% a 70% de DON foi liberado na água.

Na alimentação animal, a redução na contaminação pode contar com o uso de absorventes e produtos que neutralizam as micotoxinas na ração. Estratégias de segmentação dos grãos, conforme a tolerância dos animais em cada fase de crescimento, também pode ser implementadas.

Cenários e limites de contaminação
O manejo desses contaminantes é uma preocupação crescente, com limites máximos de tolerância cada vez mais restritivos estabelecidos por legislação, com base em dados de monitoramento e efeitos adversos à saúde.

A Biomin, empresa que atua no ramo de saúde e nutrição animal, divulgou números atualizados na Pesquisa Mundial de Micotoxinas: Impacto 2021. Foram realizadas 21.709 amostras de ração animal e matérias-primas em 79 países. “A contaminação dos alimentos por micotoxinas é um problema em todo o mundo, independentemente do grão, cereal de verão ou de inverno, do hemisfério ou do sistema de cultivo” avalia o gerente de produtos para micotoxinas na América Latina da Biomin, Tiago Birro, destacando o objetivo da pesquisa: “Buscamos saber quais são as micotoxinas mais prevalentes e de quanto é a contaminação”.

Conforme a pesquisa, 68% das 5 mil amostras da América Latina estavam contaminadas, principalmente no milho que registrou 85% de presença de fumonisinas (FUM), causando grandes impactos na indústria de proteína animal que usa o cereal para compor, em média, 60% das rações. Nos demais cereais, como trigo, aveia, arroz, centeio e cevada, altas concentrações (acima de 2000 ppb) de deoxinivalenol (DON) foram detectadas em 94% das amostras.

No Brasil, foram analisadas 4 mil amostras em milho, soja e trigo (grãos e farelo), na recepção dos grãos e no misturador da ração, principalmente nas regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste. O nível de DON no farelo de trigo chegou a 96% e na soja o índice atingiu 48%. No milho, a positividade para FUM foi de 83%. “Identificamos 15 micotoxinas nos grãos cultivados na América Latina, com alguns casos de substâncias emergentes, que ainda estão sendo estudadas”, conta Tiago. Atualmente, existem aproximadamente 500 micotoxinas conhecidas no mundo e estima-se que outras 1.000 ainda não foram descobertas.

Altas doses de DON em seres humanos podem causar dores abdominais, tontura, dores de cabeça, náusea, vômitos e outros efeitos. Casos de intoxicação aguda são raros, mas surtos já foram reportados na Índia, Japão e China. Nos animais, DON é conhecida como “vomitoxina”, devido à frequência de vômitos em suínos após a ingestão de ração contaminada.

A pesquisadora Patrícia Andrade, do Instituto Federal de Brasília (IFB), avaliou a incidência de micotoxinas em cereais e produtos à base de arroz, milho, sorgo e trigo. No trigo, foi verificada a prevalência de DON, sendo possível categorizar os alimentos.

Andrade, 2020.

Atualmente, na maior parte dos países, o valor para consumo de farinha branca contendo DON é de 1.000 ppb como é o caso dos Estados Unidos, Canadá e a maioria dos países da União Europeia, bem como os países que adotam o CODEX Alimentarius – Programa Conjunto de Padrões Alimentares da FAO do qual fazem parte 188 países, inclusive o Brasil.

Micotoxinas ainda desafiam a ciência
De acordo com o professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Carlos Augusto Mallmann, a correta avaliação dos níveis de contaminação dos grãos por micotoxinas ainda é um desafio. “A distribuição das micotoxinas em um lote de alimento é heterogênea e, por isso, a amostragem para análise em cereais é mais complexa que uma amostragem para análise de proteína, por exemplo. Essa característica dificulta a obtenção de uma amostra representativa, determinando equívocos na interpretação dos resultados e no diagnóstico”, explica o professor, lembrando que o problema é agravado pelo fato de as micotoxinas se concentrarem em níveis baixos (parte por bilhão – ppb).

De modo geral, segundo Mallmann, não há uma correlação consistente entre os níveis de grãos danificados por giberela e a concentração de micotoxinas. Assim, torna-se difícil realizar a segregação prévia de lotes de grãos, gerando grande demanda de análises pelos métodos de detecção direta.

Os métodos disponíveis para análises de micotoxinas variam de qualitativos, que consistem em determinar a presença/ausência de determinada micotoxina, aos métodos analíticos altamente precisos, capazes de quantificar níveis extremamente baixos de diferentes micotoxinas. Os métodos mais empregados para quantificação de micotoxinas são: cromatográficos, Elisa (Enzyme linked immunosorbent assay) e NIR (Near Infrared spectroscopy).

Para avaliar o nível de contaminação dos alimentos, pesquisadores da Embrapa Trigo avaliaram 1.000 amostras comerciais de trigo brasileiro produzido no período de 2009 a 2017. Os resultados mostraram que 36% das amostras apresentaram níveis de DON acima do atual limite permitido, que é 1000 ppb em trigo moído.

O método utilizado nessa avaliação foi a espectroscopia no infravermelho próximo – NIR – um equipamento de alta precisão que analisa alimentos por meio de radiação eletromagnética. “Os métodos baseados em espectroscopia têm recebido atenção, especialmente devido a preparação mínima da amostra, rapidez, otimização de mão de obra e baixo custo. O tempo de análise demanda dois minutos e o custo limita-se à manutenção periódica do equipamento”, complementa a pesquisadora da Embrapa Trigo Casiane Tibola.

Mudanças Climáticas e os impactos nas micotoxinas
Um estudo americano sobre o aumento da temperatura global e a interferência no acúmulo de micotoxinas no trigo mostrou que a elevação da temperatura é um fator potencial para a pressão de giberela, bem como para o acúmulo de micotoxinas em grãos de trigo. No tratamento onde a temperatura do solo elevou em 3 a 5 °C, houve aumento de 131% nos grãos giberelados e 84% na ocorrência de micotoxinas.

Outro risco alertado pelo estudo é o possível efeito das mudanças climáticas sobre a variabilidade genética de espécies de Fusarium. “Entre as micotoxinas produzidas pelas espécies membros do complexo Fusarium graminearum, DON é a micotoxina mais frequente e em maior concentração no trigo em todo o mundo. No entanto, outras micotoxinas têm sido encontradas em trigo comercial, como nivalenol e zearelenona”, explica o pesquisador da Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG, Emerson Del Ponte.

Segundo Del Ponte, o mundo enfrenta o risco de contaminação do trigo por multimicotoxinas. “A expansão da triticultura, as mudanças climáticas e a dinâmica da cadeia produtiva demandam um conhecimento aprofundado dos mecanismos envolvidos na produção de micotoxinas em trigo no Brasil”, conclui o pesquisador.

No futuro próximo, com a ausência de genótipos de trigo resistentes, projeta-se que o problema das micotoxinas tenha ainda mais importância devido a fatores como mudanças climáticas, disseminação e alterações na população de fungos toxigênicos e resistência dos fungos aos fungicidas.

Fonte: Assessoria Embrapa Trigo

Bovinos / Grãos / Máquinas

Cotações da carne bovina enfraquecem no atacado e seguem firmes para arroba

De acordo com pesquisadores do Cepea, os valores costumam perder sustentação na segunda quinzena.

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Foto: Shutterstock

Os preços da carne bovina no atacado da Grande São Paulo registraram pequenas quedas nos últimos dias.

De acordo com pesquisadores do Cepea, os valores costumam perder sustentação na segunda quinzena, e, pelo menos por enquanto, não se nota impacto significativo da confirmação de foco da doença de Newcastle numa granja de frangos no Vale do Alto Taquari (RS) no mercado bovino.

Ao longo de julho, o que tem havido é uma recuperação, ainda que lenta, das sucessivas baixas ocorridas no correr do primeiro semestre.

Segundo pesquisadores do Cepea, frigoríficos seguem preenchendo boa parte das escalas com animais já contratados.

Em suas negociações spot, deparam-se com pecuaristas firmes nos pedidos de preços maiores e, principalmente, fora do estado de São Paulo têm sido visto reajustes.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Bovinos / Grãos / Máquinas Alta produtividade

Revolvendo a cama, revolucionando a pecuária leiteira: o sucesso do compost barn

O êxito desse sistema depende de um manejo adequado da cama, essencial para manter a saúde e o conforto dos animais.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

A implementação do compost barn em fazendas leiteiras tem se mostrado uma estratégia eficaz para promover o bem-estar animal e garantir a alta produtividade. No entanto, o sucesso desse sistema depende de um manejo adequado da cama, essencial para manter a saúde e o conforto dos animais.

O revolvimento diário da cama é fundamental para manter um ambiente saudável no compost barn. Este processo pode ser realizado usando dois implementos principais: o escarificador e a enxada rotativa. O escarificador é ideal para um revolvimento mais profundo devido às suas hastes compridas, atingindo maiores profundidades e facilitando a aeração adequada do material. Já a enxada rotativa, indicada para uma mistura mais superficial, em torno de 20 centímetros, é eficaz para quebrar torrões e partículas agregadas, deixando a superfície da cama mais uniforme. “Para obter melhores resultados, o revolvimento deve ser realizado pelo menos duas vezes ao dia, preferencialmente quando as vacas estão na ordenha, deixando a área de cama livre e adequada para o descanso dos animais” menciona a doutoranda em Zootecnia, Karise Fernanda Nogara, que vai tratar sobre os cuidados essenciais com o manejo e alternativas para a cama compost barn durante o Interleite Sul 2024, que acontece em 18 e 19 de setembro, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (Santa Catarina).

Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, a especialista explica que durante o revolvimento é essencial que os ventiladores estejam em funcionamento. “A ventilação adequada auxilia na secagem da cama ao remover a umidade e dissipar o calor das camadas mais profundas. Manter a superfície da cama em condições térmicas ideais é fundamental para o conforto das vacas, contribuindo para um ambiente propício ao descanso e à saúde dos animais” expõe Karise.

Conforme a zootecnista, a reposição regular de material na cama é outra prática importante para controlar a umidade e promover a atividade microbiológica necessária para o processo de compostagem. “É recomendado realizar reposições em pequenas quantidades, mas com frequência, para manter a cama funcional. A frequência das reposições pode variar conforme as condições microclimáticas da região. Por exemplo, em áreas com invernos chuvosos e alta umidade, como na região Sul do Brasil, pode ser necessário realizar reposições mais frequentes para manter a cama em boas condições” ressalta.

Para avaliar se a cama está em condições adequadas, é recomendável que o produtor utilize um termômetro para medir a temperatura. “Essa medição deve ser realizada de 20 a 30 cm de profundidade, pois essa é a área onde o revolvimento ocorre com mais frequência. É essencial que essa verificação seja feita em vários pontos da cama, pelo menos em nove pontos diferentes. É importante evitar áreas próximas aos pontos de entrada e saída dos animais, próximas aos bebedouros e às muretas, onde o revolvimento pode ser dificultado” detalha Karise.

Temperatura umidade e C:N

A temperatura ideal para as camas de compost barn varia entre 43 e 60°C. Temperaturas em torno de 30°C indicam uma atividade microbiológica mínima, o que pode afetar negativamente a eficácia do processo de compostagem e a qualidade da cama. “Monitorar a temperatura regularmente e agir de acordo com os resultados é fundamental para garantir um ambiente saudável e confortável para os animais” destaca Karise.

Doutoranda em Zootecnia, Karise Fernanda Nogara: “O Compost Barn além de resolver o problema dos dejetos dos animais de forma eficiente, transforma esses resíduos em um recurso com valor agregado, tanto para a fazenda quanto para o meio ambiente”. Foto: Arquivo pessoal

Para a verificação da umidade da cama de maneira prática dentro da propriedade, a zootecnista conta que o produtor pode utilizar uma avaliação subjetiva através do teste de compressão na mão. “Nesse teste, o produtor pega uma quantidade da cama na mão e a aperta, comprimindo o material. Se o material não ficar agregado, isso indica falta de umidade na cama. Se o material ficar agregado, mas se desfizer facilmente, significa que há umidade suficiente e adequada. Caso o material agregado não se desfaça, mesmo com compressão, e houver saída de água entre os dedos, isso indica que a cama está saturada, ou seja, com alta umidade. Para verificações mais precisas, pode-se fazer a secagem do material em micro-ondas ou airfryer, método também utilizado com silagens” expõe.

Outra variável importante a ser controlada é a relação de carbono e nitrogênio (C:N) presente na cama. A determinação de C:N é possível apenas via análise laboratorial, similar à análise de solo. A especialista informa que para uma cama com boa atividade microbiana, é necessário que essa relação seja de pelo menos 30:1. “Quando a relação estiver abaixo de 25:1, já é necessário realizar reposições de materiais na cama. Se essa relação estiver em torno de 15:1, indica baixa atividade microbiana e alta umidade, situação em que o produtor deve decidir entre fazer reposições parciais ou substituir completamente a cama” salienta.

Karise reforça a importância de monitorar e manter esses parâmetros dentro dos limites ideais para garantir que a cama do compost barn continue a proporcionar um ambiente saudável e produtivo para os animais. “A combinação de uma temperatura adequada, umidade controlada e uma relação de C:N balanceada favorece a atividade microbiana e a eficiência do processo de compostagem, resultando em um espaço confortável para as vacas e na produção de um adubo orgânico de qualidade” afirma.

Implementação

Karise destaca que a adoção do compost barn deve ser avaliada cuidadosamente de acordo com as condições específicas de cada propriedade, incluindo clima, disponibilidade de recursos e preferências do produtor. “A análise técnica e econômica detalhada é essencial para determinar a viabilidade desse sistema em cada caso específico” pontua, enfatizando: “A combinação de revolvimento diário, ventilação adequada e reposição regular de material cria um ambiente ideal para as vacas leiteiras. No entanto, cada fazenda deve avaliar cuidadosamente suas condições específicas antes de implementar esse sistema, garantindo que ele se alinhe às necessidades e capacidades da propriedade”.

Substituição da cama

A frequência com que a cama do compost barn precisa ser substituída pode variar significativamente de acordo com as práticas de manejo adotadas e as condições específicas de cada propriedade. Karise aponta que alguns sistemas de compostagem permitem que a cama seja renovada parcialmente por vários anos, adicionando material novo conforme necessário para corrigir a umidade e manter a eficiência do processo. “Em alguns casos, as camas podem durar mais de quatro anos antes de exigir uma substituição completa. A decisão de substituir totalmente a cama deve ser avaliada individualmente por cada produtor, levando em consideração diversos fatores” salienta a zootecnista.

Um dos sinais de que a cama precisa ser substituída ou renovada é a altura da mureta. Conforme explica Karise, se não houver mais espaço para adicionar material novo e a cama estiver extrapolando a altura da mureta, isso indica que é necessário realizar uma renovação. Outro sinal é a qualidade do processo de compostagem. “Se a cama não estiver atingindo temperaturas adequadas ou se permanecer constantemente úmida, mesmo com reposições de materiais, isso pode indicar que a compostagem não está ocorrendo conforme o esperado e que a substituição da cama é necessária” explica.

Além disso, a necessidade pelo adubo orgânico produzido a partir da cama pode influenciar a decisão de substituição. “Se o produtor precisar utilizar a cama como adubo orgânico nas lavouras, a sua retirada parcial ou total pode ser uma opção viável” afirma Karise.

Segundo a profissional, um acompanhamento regular do estado da cama e do processo de compostagem é essencial para determinar o momento adequado para realizar a substituição ou renovação. “Cada fazenda deve avaliar cuidadosamente suas condições específicas antes de tomar uma decisão, garantindo que a cama do compost barn continue a proporcionar um ambiente saudável e produtivo para os animais” pontua.

Benefícios ambientais

O sistema compost barn oferece vários benefícios ambientais em comparação com outras práticas de manejo de cama, transformando um problema comum de outros sistemas de produção em uma vantagem significativa.

Em outros sistemas, aponta Karise, os dejetos dos animais exigem mão de obra, equipamentos específicos de limpeza e espaços dedicados para estocagem, enquanto que no compost barn a maior parte desses resíduos, como urina e fezes, é depositada diretamente na cama e utilizada como fonte de nitrogênio para as bactérias aeróbias presentes. “Por meio da decomposição bacteriana, tanto do carbono presente nos materiais de cama quanto do nitrogênio dos dejetos, essas bactérias conseguem metabolizar esses nutrientes, gerando calor no processo. Esse calor, por sua vez, contribui para a secagem da cama, resultando em um ambiente mais saudável e confortável para os animais, minimizando a formação de resíduos e odores desagradáveis” menciona a especialista.

Foto: Shutterstock

Uma vantagem adicional desse sistema é que a cama compostada pode ser reaproveitada como adubo orgânico nas lavouras, reduzindo significativamente os custos associados à aquisição de adubos comerciais. “Isso não apenas beneficia financeiramente a fazenda, mas também promove a sustentabilidade ao evitar o desperdício de recursos utilizando um fertilizante natural” assegura Karise, acrescentando: “O compost barn, além de resolver o problema dos dejetos dos animais de forma eficiente, transforma esses resíduos em um recurso com valor agregado, tanto para a fazenda quanto para o meio ambiente”.

Riscos associados ao manejo

Os principais riscos associados ao manejo da cama do compost barn estão relacionados à saúde do rebanho, especialmente em relação à mastite e infecções podais. Karise detalha que a cama formada por materiais orgânicos e dejetos animais requer a presença de bactérias aeróbicas para degradar esses compostos. “Essas bactérias são fundamentais na produção de calor e na secagem da cama, contribuindo para atingir altas temperaturas, que podem chegar até 60°C. Nessas condições, as principais bactérias causadoras de mastite são inativadas, tornando a cama um ambiente mais propício para o descanso das vacas” relata.

No entanto, quando a cama não atinge as temperaturas adequadas e apresenta alta umidade, há um aumento do risco de proliferação de bactérias patogênicas. Isso pode expor o úbere e os tetos dos animais, tornando-os mais suscetíveis às infecções de origem ambiental. “Além disso, infecções podais também podem ser desencadeadas quando a cama não está funcionando adequadamente, pois isso favorece o crescimento de bactérias oportunistas, causando problemas nos cascos dos animais. Por isso é essencial que o produtor monitore e controle a umidade da cama, realizando o revolvimento pelo menos duas vezes ao dia na área de cama e providenciando a reposição do material quando a umidade começar a se elevar” evidencia Karise.
Ao manter a cama em condições ideais, é possível reduzir significativamente os riscos de mastite, infecções podais e outros problemas de saúde no rebanho.

Alternativas ao compost barn

Karise afirma que há várias opções de sistemas de produção que os produtores podem adotar, e a escolha do sistema deve se basear na realidade e nos objetivos de cada produtor. “Não existe um sistema melhor que o outro, mas sim aquele que se ajusta melhor à realidade e o objetivo de cada produtor” ressalta.

Conforme a especialista, sistemas a pasto, sejam totalmente extensivos ou semiconfinados, têm mostrado bons resultados. “Adotando estratégias de pastejo rotacionado, esses sistemas utilizam a forragem de maneira mais eficiente, tanto em quantidade quanto em qualidade. Eles são uma boa alternativa para produtores que dispõem de área de terra suficiente para culturas de inverno e verão, além de serem mais econômicos em comparação com sistemas confinados” avalia.

Para produtores com pouca área de terra, os sistemas confinados podem ser a melhor opção, uma vez que permitem alojar mais animais em uma área menor, embora o custo inicial de operação seja mais alto.

Entre as opções de confinamento, destacam-se o compost barn, que exige reposições de material de cama, e o freestall, que utiliza camas inertes, como areia ou colchões. “Ambos os sistemas podem ser implementados de forma convencional ou em layout de túnel de vento, no qual o galpão é totalmente fechado e climatizado com exaustores e placas evaporativas, proporcionando maior conforto térmico aos animais durante todo o ano” salienta Karise.

Materiais para a cama

Cada material utilizado na cama do compost barn possui uma população microbiana característica, diferente da areia, que é um material inerte. Isso significa que esses materiais proporcionam condições ideais para o crescimento bacteriano, contribuindo para a decomposição dos resíduos. Materiais comuns, como serragem e maravalha, possuem tamanho de partícula adequado para o conforto dos animais, promovendo um ambiente propício para o descanso. “No entanto, é importante ter cautela ao utilizar materiais como palhadas e cascas, pois eles também oferecem boas condições para o crescimento bacteriano, mas a umidade deve ser controlada. Um alto teor de umidade pode levar à contaminação fúngica na cama, prejudicando a saúde dos animais” alerta Karise.

Além disso, materiais como casca de arroz e casca de aveia podem apresentar problemas específicos, uma vez que têm estrutura abrasiva e não favorecem uma compostagem eficiente, podendo irritar a pele do úbere e dos tetos dos animais. “Isso pode levar a alterações comportamentais, como a relutância dos animais em se deitar na cama para descansar, resultando em estresse e diminuição na produção de leite” indica a zootecnista, enfatizando que ao selecionar e utilizar materiais para a cama é essencial considerar não apenas o conforto dos animais, mas também a capacidade do material de promover uma decomposição eficiente e manter um ambiente saudável e livre de irritações para o rebanho.

Ao escolher os materiais para a cama do compost barn, Karise diz que é preciso considerar o equilíbrio entre custo e benefício, levando em conta a disponibilidade regional desses materiais. “O benefício e a qualidade dos materiais estão intimamente ligados à presença e à disponibilidade de carbono, que é essencial para o metabolismo energético das bactérias presentes na cama. Materiais como serragem, maravalha e aparas de madeira são altamente valorizados devido ao seu alto teor de carbono, promovendo maior atividade microbiana e permitindo que altas temperaturas sejam alcançadas, o que beneficia o processo de compostagem” analisa a zootecnista.

No entanto, atualmente, esses materiais enfrentam forte concorrência da indústria energética, que utiliza resíduos de madeira como combustível para caldeiras. Como resultado, muitas madeireiras optam por vender seus resíduos para essas indústrias, deixando os produtores rurais com acesso limitado e preços elevados para esses materiais. “Isso pode levar os produtores a adiarem reposições na cama, afetando negativamente o processo de compostagem, pelo aumento da umidade da cama, o que onera os custos de produção” frisa Karise.

Para mitigar esses custos, os produtores podem considerar o uso de materiais alternativos na cama, como casca de amendoim, casca de café, palhada de trigo, sabugo de milho triturado, bagaço de cana, casca de arroz e casca de aveia. “Embora esses materiais possuam teor de carbono mais baixo em comparação com os resíduos de madeira, eles podem ser utilizados para controlar a umidade e auxiliar no processo de compostagem” avalia, destacando que para melhores resultados é recomendável utilizar esses materiais em conjunto com serragem e maravalha.

No entanto, é importante observar que o custo desses materiais alternativos pode variar de acordo com a localização e a disponibilidade regional. “Os produtores devem avaliar cuidadosamente suas opções e considerar não apenas o preço, mas também a eficácia e a disponibilidade dos materiais ao tomar decisões sobre o manejo da cama” evidencia Karise.

Impactos da baixa qualidade da cama

A presença de umidade elevada na cama pode agravar inflamações, especialmente infecções de origem ambiental, como a mastite, devido aos animais estarem mais sujos. Isso pode resultar em um aumento na contagem de células somáticas, prejudicando tanto a produção quanto a qualidade do leite. “Em casos graves de mastite, as células secretoras de leite podem ser danificadas, resultando em uma redução na produção de leite” enfatiza Karise.

Foto: Juliana Sussai

Além disso, a especialista cita que a composição do leite pode ser alterada de várias maneiras. “A síntese de componentes importantes, como caseína e gordura, pode ser reduzida, enquanto a presença de toxinas bacterianas ou mediadores inflamatórios pode levar à morte ou necrose das células epiteliais. Isso pode resultar em mudanças no sabor, na coagulação, na umidade do queijo, no rendimento e até mesmo no tempo de prateleira dos produtos lácteos” argumenta.

Contudo, Karise ressalta que esse problema não é exclusivo do sistema compost barn, podendo ocorrer em qualquer sistema que contribua para o aumento da inflamação na glândula mamária devido a práticas inadequadas de manejo.

Evolução em curso

Nos últimos anos, pesquisas sobre a arquitetura e caracterização do sistema do compost barn, com ênfase na ventilação, têm sido promissoras. Esses estudos visam aprofundar a compreensão das interações entre o microclima, as características da cama e a saúde do úbere das vacas.

Também tem havido um aumento significativo em pesquisas sobre o comportamento dos animais, bem-estar, produção e qualidade do leite, devido à relação das características da cama com a ocorrência de mastite no rebanho. “Investir em educação continuada e treinamento para a equipe de colaboradores é essencial para garantir que todos estejam familiarizados com as melhores práticas de manejo da cama. Participar de palestras e cursos, muitos dos quais disponíveis online, é altamente recomendado para adquirir conhecimentos atualizados e aprofundar a compreensão sobre o manejo da cama no compost barn” frisa a zootecnista.

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Fonte: O Presente Rural
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Bovinos / Grãos / Máquinas Embrapa Agrossilvipastoril

Após 12 anos, pesquisa traz embasamento para plantio de árvores em sistemas ILPF

As pesquisas trouxeram resultados que ajudam a fazer recomendações sobre uso do componente arbóreo nesses sistemas produtivos.

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Resultados do estudo contribuem para recomendações sobre uso do componente arbóreo nos sistemas integrados. Foto: Gabriel Faria

A Embrapa Agrossilvipastoril está fechando o primeiro ciclo de 12 anos do maior experimento do mundo com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), em Sinop (Mato Grosso). As pesquisas trouxeram resultados que ajudam a fazer recomendações sobre uso do componente arbóreo nesses sistemas produtivos.

A definição da estratégia de uso das árvores em sistemas de integração varia entre as propriedades, conforme o interesse do produtor. Fatores como destinação da madeira, mercado consumidor, forma de colheita, uso das árvores como adição ou substituição de renda, características da propriedade, entre outros, devem ser avaliados. Isso torna cada projeto único. Porém, a tomada de decisão deve ser baseada em fundamentos técnicos como os obtidos na pesquisa.

A pesquisa

O trabalho utilizou o eucalipto (clone H13), uma vez que é uma espécie com crescimento rápido, com técnicas silviculturais desenvolvidas e com múltiplos usos. As árvores foram testadas em sistema de integração lavoura-floresta (ILF), integração pecuária-floresta (IPF) e ILPF, além da monocultura utilizada como testemunha. O plantio ocorreu inicialmente em renques de três linhas distantes 30 metros entre si e, após intervenções, alguns dos tratamentos tiveram as linhas externas suprimidas e ficaram como linhas simples espaçadas em 37 metros.

A pesquisa acompanhou todo o desenvolvimento das árvores, as operações de manejo como poda de galhos e desbastes (corte seletivo de árvores), dados de crescimento, acúmulo de biomassa e carbono, efeito bordadura dos renques, estoque de madeira, entre outros.

Ao longo dos 12 anos os sistemas integrados produziram entre 87 m³ e 114 m³ de madeira por hectare (ha). Os volumes variaram conforme o número de árvores conduzidas até o fim do experimento. Entretanto, quanto mais árvores, maior o impacto sobre a produção de grãos e forragem dentro do sistema produtivo.

“Quando falamos em sistemas de integração, temos que pensar na produtividade de todo o sistema. Se eu aumento o número de árvores, terei redução na produção da lavoura e da pecuária. Sendo assim, o maior número de árvores tem que fazer sentido na avaliação global” explica o pesquisador Maurel Behling.

A área testemunha, com monocultura de eucalipto, produziu 350 m³/ha ao longo dos 12 anos, ficando dentro da média de incremento anual do H13 em áreas de silvicultura em Mato Grosso, que é de 32 m³/ha.

Comportamento de crescimento e carbono

Os dados de crescimento em altura, diâmetro à altura do peito (DAP) e volume de madeira medidos ao longo dos anos indicaram que os sistemas integrados proporcionam o chamado efeito bordadura. É o efeito causado nas árvores externas da monocultura por receberem mais luz, água e nutrientes que aquelas do interior e por terem menor competição com árvores vizinhas. Na ILPF esse efeito foi observado nos renques de linhas triplas, com a árvore do meio tendo menor DAP, assim como as árvores do tratamento só com eucalipto.

O efeito bordadura foi ainda mais acentuado na avaliação de biomassa e de acúmulo de carbono nas árvores. O sistema ILPF, que inicialmente teve renques triplos e passou a ter renque simples após corte das linhas laterais, foi o que mais acumulou carbono, passando dos 30 kg/ano por indivíduo. O valor se diferenciou estatisticamente dos demais e ficou bem acima dos cerca de 20 quilos/ano por árvore na monocultura.

“Além de favorecer o ganho em volume das árvores, com maior potencial para aproveitamento na serraria, há uma maior taxa de acúmulo de carbono nas árvores na ILPF. É um carbono que teoricamente terá um ciclo de vida maior do que aquele usado como biomassa” destaca Behling.

O pesquisador lembra ainda que o carbono não fica somente estocado na madeira. As árvores no sistema produtivo ainda deixam grande volume de carbono na área em forma de folhas, galhos, serrapilheira e matéria orgânica.

“Cerca de 10 toneladas de resíduos por hectare que permanecem são originárias da área útil com árvores. Isso sem considerar tocos e raízes que em média representam 20% da biomassa total da árvore” informa o pesquisador.

Recomendações

Behling enfatiza que os resultados obtidos neste experimento, somadas às experiências de produtores em Unidades de Referência Tecnológica em Mato Grosso, dão subsídios para a tomada de decisão no planejamento de sistemas ILPF.

De acordo com ele, se o objetivo é adicionar renda ou melhorar o conforto térmico para o gado, os sistemas com linha simples são mais indicados. Já se o produtor quer um modelo com maior número de árvores e que sua venda compense as perdas de produção na lavoura e pecuária, é possível fazer renques de múltiplas linhas.

“Se o objetivo é produzir biomassa, por exemplo, é importante adequar o número de linhas ao parque de máquinas que fará a colheita, de forma a viabilizar o custo” orienta o pesquisador.

A análise do mercado que consumirá a madeira é outro fator primordial no planejamento do sistema. A madeira conduzida para serraria tem maior valor agregado, mas depende de haver estrutura de processamento. Na região médio-norte de Mato Grosso, por exemplo, o surgimento recente de usinas de etanol de milho mudou o cenário em relação a 2011, quando o experimento foi iniciado. Atualmente a demanda por biomassa para as caldeiras é grande e tende a ser ainda maior nos próximos anos com a inauguração de novas plantas.

“No caso da madeira serrada de eucalipto, ainda não é uma realidade na região, mas já existe demanda para a madeira tratada para mourões de cerca, postes e construção civil” relata Behling.

Fim do ciclo e início de outro

O primeiro ciclo do experimento de ILPF com foco na pecuária de corte e produção de grãos está sendo finalizado com o corte raso dos eucaliptos após 12 anos. Em todo o experimento ainda restam 3.666 árvores ocupando uma área de 43 hectares, sendo 3 ha com monocultura e 40 ha com IPF, ILF ou ILPF. Dados preliminares indicam um volume total a ser colhido de 3.568,33 m³ de madeira. Considerando o valor de 100 reais por metro estéreo, são quase 514 mil reais. Se a venda fosse para serraria, o valor seria ainda maior. Deve-se lembrar que, além da madeira, a área também produziu carne e grãos.

Com o fim deste ciclo, um novo trabalho já deverá começar no próximo período chuvoso. Desta vez, além do eucalipto, será usada a teca como componente arbóreo do sistema. Também será testado o consórcio com as duas espécies, uma vez que a teca perde suas folhas no período seco, reduzindo a sombra para os animais. A ideia é que o eucalipto contribua para manutenção do conforto térmico e com o escalonamento de receitas obtidas com as árvores.

Maior experimento do mundo em ILPF

O experimento de ILPF com foco na pecuária de corte e agricultura de grãos da Embrapa Agrossilvipastoril é um dos maiores, se não o maior do mundo com sistemas integrados organizados em blocos casualizados e com quatro repetições. São um total de 72 hectares, com dez tratamentos distintos. Além da lavoura, da pecuária e da floresta sozinhos, são avaliadas diferentes estratégias e arranjos de ILP, IPF, ILF e ILPF.

O planejamento do experimento foi feito logo após a criação da Embrapa Agrossilvipastoril, por meio de uma reunião com a participação de especialistas de diversas Unidades da Embrapa. Desde a instalação, na safra 2011/2012, pesquisadores de diferentes especialidades fizeram estudos nesta área, analisando aspectos de solo, dinâmica de água, microclima, forragicultura, sanidade animal e vegetal, microbiologia, e emissão de gases de efeito estufa, entre outros.

Entre os resultados de destaque está o Sistema PPS (Precocidade, Produtividade e Sustentabilidade), uma estratégia de manejo da pecuária de cria utilizando ILP e IPF.

Fonte: Assessoria Embrapa
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