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Bovinos / Grãos / Máquinas Estudo da Embrapa

Bem-estar pode render 24% mais leite e 14% mais ganho de peso diário

Para garantir bons resultados na pecuária, seja ela de corte ou leite, entre tantos, um ponto que não pode ser negligenciado pelo pecuarista é o bem-estar dos animais. Algo que não pode ser esquecido, especialmente agora que as estações mais quentes do ano se aproximam, é a importância da sombra e do conforto térmico aos animais.

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Divulgação/Arquivo OP Rural

Para garantir bons resultados na pecuária, seja ela de corte ou leite, entre tantos, um ponto que não pode ser negligenciado pelo pecuarista é o bem-estar dos animais. Algo que não pode ser esquecido, especialmente agora que as estações mais quentes do ano se aproximam, é a importância da sombra e do conforto térmico aos animais.

Para discorrer melhor sobre este assunto, a reportagem de O Presente Rural conversou com a médica veterinária e pesquisadora da Embrapa Cerrados na área de manejo animal, Isabel Cristina Ferreira. De acordo com ela, o produtor que investe nestes quesitos tem mais benefícios do que custos por área ou por unidade animal quando se investe em conforto térmico. Um estudo da Embrapa Cerrado revelou que o bem-estar animal pode render até 24% mais leite e 14% mais ganho de peso diário. “A depender da espécie aumenta-se a vida útil produtiva do animal no sistema”, afirma.

O Presente Rural – Qual a importância do conforto térmico no bem-estar dos animais?

Isabel Cristina Ferreira – O conforto térmico é importante para não prejudicar a produtividade de carne, leite, ovos e outros produtos.  Os animais estarem em conforto térmico significa não sentirem frio nem calor no ambiente em que estão. A condição de bem-estar para os animais vai além do conforto térmico, para garantir essa condição eles devem estar livres de fome e sede, de dor e doenças, livres para expressar o comportamento natural e livres de medo e angústia. Então, essas condições de bem-estar favorecem à produção animal por meio da expressão genética de todo potencial produtivo.

O Presente Rural – Animais têm diferentes faixas de temperaturas consideradas de conforto térmico. Quais são? Há diferença entre espécies?

Isabel Cristina Ferreira – Sim. Os animais domésticos tem diferentes faixas de temperaturas consideradas de conforto térmico. Elas mudam com a espécie, com a raça, com a idade dos animais, com nível de produção, estádio fisiológico e plano nutricional.

De forma geral podemos definir as seguintes temperaturas para zona de conforto térmico conforme o quadro abaixo:

O Presente Rural – Para deixar o animal na zona de conforto térmico é preciso realizar modificações ambientais. Que modificações são essas e como fazer?

Isabel Cristina Ferreira – Em propriedades rurais com construções mais antigas é necessário fazer mudanças nas estruturas. Já em projetos mais modernos, a maioria já tem o conceito do conforto térmico incorporado nas construções, galpões, pastagens e demais ambientes dos animais.

As modificações ambientais podem ser divididas em primárias e secundárias. As primárias são o sombreamento para animais que são criados sob radiação solar direta. Este pode ser natural (árvores) ou cobertura artificial (galpões). Nesse último deve ser observado a orientação leste-oeste, a altura do pé direito, presença de lanternin. Outra modificação primária é o uso de quebra ventos. As modificações secundárias incluem a iluminação para espécies influenciadas pelo fotoperíodo (aves e ovinos, por exemplo) por meio de programas de luz conforme espécie, fase da produção e interesse na criação. Existem ainda o resfriamento e o aquecimento como modificações secundárias. No caso do resfriamento pode ser por detalhe construtivo na edificação, nebulização, ventilação ou a combinação de todas. No caso do aquecimento pode ser global ou localizado. É utilizado lâmpadas, ductos de ar quente ou líquido quente, resistência elétrica no piso ou aquecedores radiantes.

No caso de sombras naturais por árvores pode ser utilizado em renques únicos nas pastagens numa distância acima de 25 metros entre renques e 3 metros entre árvores. Ou pode ser no contorno dos piquetes com efeito de sombra e quebra vento. Outra alternativa é ter sombra de árvores dispersas nas pastagens desde que tenha área de projeção em quantidade suficiente para todos os animais.

O Presente Rural – É sabido que a sombra natural (de árvore) é a que mais beneficia o animal. Quais são os melhores tipos de árvores para proporcionar o melhor bem-estar aos animais da propriedade?

Isabel Cristina Ferreira – Os melhores tipos de árvores são as que crescem rápido, tem muitos galhos e folhas de modo que projetam uma boa área de sombra, não caem as folhas no período de maior calor. Não tenham frutos tóxicos aos animais. E que tenham madeira ou frutos que possam ser explorados comercialmente na região ou utilizadas na propriedade.

O Presente Rural – Há regiões no Brasil em que os desafios quanto ao calor são maiores?

Isabel Cristina Ferreira – Sim, há regiões e épocas no Brasil com maiores desafios para a produção animal quanto ao calor.  Na região subtropical do Brasil o verão é o período de maior desafio quanto ao calor. Na região tropical com duas estações seca e chuvosa, o desafio é quase constante, o período chuvoso é quente e úmido, e o período seco também tem dias quentes, com temperaturas acima das consideradas de conforto térmico e as noites com temperaturas mais amenas favorecem o descanso dos animais.

O Presente Rural – Cada região deve adotar uma estratégia diferente?

Isabel Cristina Ferreira – Sim. É importante adotar estratégias adaptadas as condições climáticas locais, de mercado, disponibilidade de matéria prima (estruturas para construção, materiais para instalar aquecimento, resfriamento, aquisição e plantio de mudas, etc.) e logística regional (distância de fornecedor e cliente), tipo de transporte, e outros fatores importantes regionalmente.

O Presente Rural – Quais são os maiores desafios do pecuarista quando o assunto é conforto térmico?

Isabel Cristina Ferreira – O maior desafio do pecuarista que trabalha com bovinos de leite confinados é o resfriamento das vacas em lactação, manter galpões na temperatura ideal, geralmente com ventiladores e atuar na sala de espera da ordenha, com ventiladores e aspersores. Porque requer alto investimento. Para as outras categorias leiteiras, a criação das bezerras é desafiante para manter a temperatura na zona de conforto térmico, é necessário ambiente seco e limpo, o que aumenta as dificuldades em regiões de verão chuvoso e quente.

O pecuarista de leite a pasto ou semi-confinado, tem que fornecer sombra nos piquetes e/ou área de lazer e cochos de alimentação. Pode ser de forma artificial com uso de sombrites para retenção da radiação solar ou natural por meio de árvores. Além de proporcionar um ambiente com conforto térmico na sala de espera da ordenha. Todos os métodos exigem investimentos, mas não são tão expressivos como no sistema estabulado. O principal gargalo ocorre no período chuvoso a pasto, devido a formação de lama nos corredores ou debaixo das árvores, quando são dispostas em bosques. Então é importante um planejamento da localização, e escoamento de água da chuva nesses ambientes.

O pecuarista de gado de corte em sistemas extensivos a pasto, a maioria com animais zebuínos, não se preocupa muito com conforto térmico. Entretanto é importante também. Principalmente em locais de verão quente e úmido que coincidem com período de estação de monta. Mesmo vacas de bom escore corporal podem não responder tão bem quanto aos índices de prenhez em função do calor. Ocorre comprometimento das funções reprodutivas, principalmente na qualidade dos embriões.

O Presente Rural – Quais são os prejuízos para o pecuarista que negligencia a importância do conforto térmico aos animais?

Isabel Cristina Ferreira – Na produção de leite a pasto, temos um estudo no Bioma Cerrado, com vacas Gir e Girolando com e sem sombra e verificamos que a sombra aumentou a produção de leite de 17 a 24% a depender da fase da lactação, raça e época do ano. Então, o produtor deixa de ganhar em produção de leite quando não usa a sombra. Outro fator que impacta é na reprodução, nesse mesmo estudo, vacas Gir sob sombra produziram quatro vezes mais embriões do que as que estavam sob sol pleno.

Em confinamentos de bovinos de corte que oferecem sombra o ganho de peso diário pode ser de até 14% a mais. Em vacas de corte a presença de sombra aumentou de 36 para 43% a taxa de produção de embriões.

Portanto, os prejuízos são financeiros, quando o produtor deixa de ganhar em leite, carne e bezerros, e sob o aspecto do bem-estar animal.

O Presente Rural – Qual o custo benefício do pecuarista que investe em melhorias na propriedade e garante o bem-estar e conforto térmico aos animais?

Isabel Cristina Ferreira – O pecuarista que investe em conforto térmico tem o benefício de maiores produções de carne, leite, ovos, lã. A quantidade que aumenta na produção ou produtividade vai depender muito da região, clima, época do ano, fase de produção dos animais. O que o pecuarista tem que avaliar no investimento é que se trata de respostas de curto, médio e longo prazos, mas são permanentes.  É difícil quantificar em valores monetários porque cada região tem suas peculiaridades, como diferentes tipos de matéria prima, sistemas de produção. Entretanto, tem mais benefícios do que custos por área ou por unidade animal quando se investe em conforto térmico.  A depender da espécie aumenta-se a vida útil produtiva do animal no sistema.

O Presente Rural – Qual é o sistema utilizado na Embrapa Cerrados?

Isabel Cristina Ferreira – A nossa experiência com conforto térmico é com gado de leite a pasto. O sistema utilizado é o silvipastoril. As árvores utilizadas são de eucalipto. A densidade é de 130 árvores por hectare. A disposição dos renques únicos é a cada 25 metros. E 3 metros entre plantas. O capim utilizado foi Mombaça, em sistema de pastejo rotacionado. Nesse sistema, a qualidade da pastagem melhorou, com 30% mais proteína bruta. A temperatura superficial dos animais diminuiu em até 1,1°C e o tempo de ruminação das vacas na sombra aumentou em 32%. São fatores que explicam a maior produção de leite das vacas nesse sistema.

Fonte: OP Rural

Bovinos / Grãos / Máquinas

Cotações da carne bovina enfraquecem no atacado e seguem firmes para arroba

De acordo com pesquisadores do Cepea, os valores costumam perder sustentação na segunda quinzena.

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Os preços da carne bovina no atacado da Grande São Paulo registraram pequenas quedas nos últimos dias.

De acordo com pesquisadores do Cepea, os valores costumam perder sustentação na segunda quinzena, e, pelo menos por enquanto, não se nota impacto significativo da confirmação de foco da doença de Newcastle numa granja de frangos no Vale do Alto Taquari (RS) no mercado bovino.

Ao longo de julho, o que tem havido é uma recuperação, ainda que lenta, das sucessivas baixas ocorridas no correr do primeiro semestre.

Segundo pesquisadores do Cepea, frigoríficos seguem preenchendo boa parte das escalas com animais já contratados.

Em suas negociações spot, deparam-se com pecuaristas firmes nos pedidos de preços maiores e, principalmente, fora do estado de São Paulo têm sido visto reajustes.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Bovinos / Grãos / Máquinas Alta produtividade

Revolvendo a cama, revolucionando a pecuária leiteira: o sucesso do compost barn

O êxito desse sistema depende de um manejo adequado da cama, essencial para manter a saúde e o conforto dos animais.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

A implementação do compost barn em fazendas leiteiras tem se mostrado uma estratégia eficaz para promover o bem-estar animal e garantir a alta produtividade. No entanto, o sucesso desse sistema depende de um manejo adequado da cama, essencial para manter a saúde e o conforto dos animais.

O revolvimento diário da cama é fundamental para manter um ambiente saudável no compost barn. Este processo pode ser realizado usando dois implementos principais: o escarificador e a enxada rotativa. O escarificador é ideal para um revolvimento mais profundo devido às suas hastes compridas, atingindo maiores profundidades e facilitando a aeração adequada do material. Já a enxada rotativa, indicada para uma mistura mais superficial, em torno de 20 centímetros, é eficaz para quebrar torrões e partículas agregadas, deixando a superfície da cama mais uniforme. “Para obter melhores resultados, o revolvimento deve ser realizado pelo menos duas vezes ao dia, preferencialmente quando as vacas estão na ordenha, deixando a área de cama livre e adequada para o descanso dos animais” menciona a doutoranda em Zootecnia, Karise Fernanda Nogara, que vai tratar sobre os cuidados essenciais com o manejo e alternativas para a cama compost barn durante o Interleite Sul 2024, que acontece em 18 e 19 de setembro, no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (Santa Catarina).

Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, a especialista explica que durante o revolvimento é essencial que os ventiladores estejam em funcionamento. “A ventilação adequada auxilia na secagem da cama ao remover a umidade e dissipar o calor das camadas mais profundas. Manter a superfície da cama em condições térmicas ideais é fundamental para o conforto das vacas, contribuindo para um ambiente propício ao descanso e à saúde dos animais” expõe Karise.

Conforme a zootecnista, a reposição regular de material na cama é outra prática importante para controlar a umidade e promover a atividade microbiológica necessária para o processo de compostagem. “É recomendado realizar reposições em pequenas quantidades, mas com frequência, para manter a cama funcional. A frequência das reposições pode variar conforme as condições microclimáticas da região. Por exemplo, em áreas com invernos chuvosos e alta umidade, como na região Sul do Brasil, pode ser necessário realizar reposições mais frequentes para manter a cama em boas condições” ressalta.

Para avaliar se a cama está em condições adequadas, é recomendável que o produtor utilize um termômetro para medir a temperatura. “Essa medição deve ser realizada de 20 a 30 cm de profundidade, pois essa é a área onde o revolvimento ocorre com mais frequência. É essencial que essa verificação seja feita em vários pontos da cama, pelo menos em nove pontos diferentes. É importante evitar áreas próximas aos pontos de entrada e saída dos animais, próximas aos bebedouros e às muretas, onde o revolvimento pode ser dificultado” detalha Karise.

Temperatura umidade e C:N

A temperatura ideal para as camas de compost barn varia entre 43 e 60°C. Temperaturas em torno de 30°C indicam uma atividade microbiológica mínima, o que pode afetar negativamente a eficácia do processo de compostagem e a qualidade da cama. “Monitorar a temperatura regularmente e agir de acordo com os resultados é fundamental para garantir um ambiente saudável e confortável para os animais” destaca Karise.

Doutoranda em Zootecnia, Karise Fernanda Nogara: “O Compost Barn além de resolver o problema dos dejetos dos animais de forma eficiente, transforma esses resíduos em um recurso com valor agregado, tanto para a fazenda quanto para o meio ambiente”. Foto: Arquivo pessoal

Para a verificação da umidade da cama de maneira prática dentro da propriedade, a zootecnista conta que o produtor pode utilizar uma avaliação subjetiva através do teste de compressão na mão. “Nesse teste, o produtor pega uma quantidade da cama na mão e a aperta, comprimindo o material. Se o material não ficar agregado, isso indica falta de umidade na cama. Se o material ficar agregado, mas se desfizer facilmente, significa que há umidade suficiente e adequada. Caso o material agregado não se desfaça, mesmo com compressão, e houver saída de água entre os dedos, isso indica que a cama está saturada, ou seja, com alta umidade. Para verificações mais precisas, pode-se fazer a secagem do material em micro-ondas ou airfryer, método também utilizado com silagens” expõe.

Outra variável importante a ser controlada é a relação de carbono e nitrogênio (C:N) presente na cama. A determinação de C:N é possível apenas via análise laboratorial, similar à análise de solo. A especialista informa que para uma cama com boa atividade microbiana, é necessário que essa relação seja de pelo menos 30:1. “Quando a relação estiver abaixo de 25:1, já é necessário realizar reposições de materiais na cama. Se essa relação estiver em torno de 15:1, indica baixa atividade microbiana e alta umidade, situação em que o produtor deve decidir entre fazer reposições parciais ou substituir completamente a cama” salienta.

Karise reforça a importância de monitorar e manter esses parâmetros dentro dos limites ideais para garantir que a cama do compost barn continue a proporcionar um ambiente saudável e produtivo para os animais. “A combinação de uma temperatura adequada, umidade controlada e uma relação de C:N balanceada favorece a atividade microbiana e a eficiência do processo de compostagem, resultando em um espaço confortável para as vacas e na produção de um adubo orgânico de qualidade” afirma.

Implementação

Karise destaca que a adoção do compost barn deve ser avaliada cuidadosamente de acordo com as condições específicas de cada propriedade, incluindo clima, disponibilidade de recursos e preferências do produtor. “A análise técnica e econômica detalhada é essencial para determinar a viabilidade desse sistema em cada caso específico” pontua, enfatizando: “A combinação de revolvimento diário, ventilação adequada e reposição regular de material cria um ambiente ideal para as vacas leiteiras. No entanto, cada fazenda deve avaliar cuidadosamente suas condições específicas antes de implementar esse sistema, garantindo que ele se alinhe às necessidades e capacidades da propriedade”.

Substituição da cama

A frequência com que a cama do compost barn precisa ser substituída pode variar significativamente de acordo com as práticas de manejo adotadas e as condições específicas de cada propriedade. Karise aponta que alguns sistemas de compostagem permitem que a cama seja renovada parcialmente por vários anos, adicionando material novo conforme necessário para corrigir a umidade e manter a eficiência do processo. “Em alguns casos, as camas podem durar mais de quatro anos antes de exigir uma substituição completa. A decisão de substituir totalmente a cama deve ser avaliada individualmente por cada produtor, levando em consideração diversos fatores” salienta a zootecnista.

Um dos sinais de que a cama precisa ser substituída ou renovada é a altura da mureta. Conforme explica Karise, se não houver mais espaço para adicionar material novo e a cama estiver extrapolando a altura da mureta, isso indica que é necessário realizar uma renovação. Outro sinal é a qualidade do processo de compostagem. “Se a cama não estiver atingindo temperaturas adequadas ou se permanecer constantemente úmida, mesmo com reposições de materiais, isso pode indicar que a compostagem não está ocorrendo conforme o esperado e que a substituição da cama é necessária” explica.

Além disso, a necessidade pelo adubo orgânico produzido a partir da cama pode influenciar a decisão de substituição. “Se o produtor precisar utilizar a cama como adubo orgânico nas lavouras, a sua retirada parcial ou total pode ser uma opção viável” afirma Karise.

Segundo a profissional, um acompanhamento regular do estado da cama e do processo de compostagem é essencial para determinar o momento adequado para realizar a substituição ou renovação. “Cada fazenda deve avaliar cuidadosamente suas condições específicas antes de tomar uma decisão, garantindo que a cama do compost barn continue a proporcionar um ambiente saudável e produtivo para os animais” pontua.

Benefícios ambientais

O sistema compost barn oferece vários benefícios ambientais em comparação com outras práticas de manejo de cama, transformando um problema comum de outros sistemas de produção em uma vantagem significativa.

Em outros sistemas, aponta Karise, os dejetos dos animais exigem mão de obra, equipamentos específicos de limpeza e espaços dedicados para estocagem, enquanto que no compost barn a maior parte desses resíduos, como urina e fezes, é depositada diretamente na cama e utilizada como fonte de nitrogênio para as bactérias aeróbias presentes. “Por meio da decomposição bacteriana, tanto do carbono presente nos materiais de cama quanto do nitrogênio dos dejetos, essas bactérias conseguem metabolizar esses nutrientes, gerando calor no processo. Esse calor, por sua vez, contribui para a secagem da cama, resultando em um ambiente mais saudável e confortável para os animais, minimizando a formação de resíduos e odores desagradáveis” menciona a especialista.

Foto: Shutterstock

Uma vantagem adicional desse sistema é que a cama compostada pode ser reaproveitada como adubo orgânico nas lavouras, reduzindo significativamente os custos associados à aquisição de adubos comerciais. “Isso não apenas beneficia financeiramente a fazenda, mas também promove a sustentabilidade ao evitar o desperdício de recursos utilizando um fertilizante natural” assegura Karise, acrescentando: “O compost barn, além de resolver o problema dos dejetos dos animais de forma eficiente, transforma esses resíduos em um recurso com valor agregado, tanto para a fazenda quanto para o meio ambiente”.

Riscos associados ao manejo

Os principais riscos associados ao manejo da cama do compost barn estão relacionados à saúde do rebanho, especialmente em relação à mastite e infecções podais. Karise detalha que a cama formada por materiais orgânicos e dejetos animais requer a presença de bactérias aeróbicas para degradar esses compostos. “Essas bactérias são fundamentais na produção de calor e na secagem da cama, contribuindo para atingir altas temperaturas, que podem chegar até 60°C. Nessas condições, as principais bactérias causadoras de mastite são inativadas, tornando a cama um ambiente mais propício para o descanso das vacas” relata.

No entanto, quando a cama não atinge as temperaturas adequadas e apresenta alta umidade, há um aumento do risco de proliferação de bactérias patogênicas. Isso pode expor o úbere e os tetos dos animais, tornando-os mais suscetíveis às infecções de origem ambiental. “Além disso, infecções podais também podem ser desencadeadas quando a cama não está funcionando adequadamente, pois isso favorece o crescimento de bactérias oportunistas, causando problemas nos cascos dos animais. Por isso é essencial que o produtor monitore e controle a umidade da cama, realizando o revolvimento pelo menos duas vezes ao dia na área de cama e providenciando a reposição do material quando a umidade começar a se elevar” evidencia Karise.
Ao manter a cama em condições ideais, é possível reduzir significativamente os riscos de mastite, infecções podais e outros problemas de saúde no rebanho.

Alternativas ao compost barn

Karise afirma que há várias opções de sistemas de produção que os produtores podem adotar, e a escolha do sistema deve se basear na realidade e nos objetivos de cada produtor. “Não existe um sistema melhor que o outro, mas sim aquele que se ajusta melhor à realidade e o objetivo de cada produtor” ressalta.

Conforme a especialista, sistemas a pasto, sejam totalmente extensivos ou semiconfinados, têm mostrado bons resultados. “Adotando estratégias de pastejo rotacionado, esses sistemas utilizam a forragem de maneira mais eficiente, tanto em quantidade quanto em qualidade. Eles são uma boa alternativa para produtores que dispõem de área de terra suficiente para culturas de inverno e verão, além de serem mais econômicos em comparação com sistemas confinados” avalia.

Para produtores com pouca área de terra, os sistemas confinados podem ser a melhor opção, uma vez que permitem alojar mais animais em uma área menor, embora o custo inicial de operação seja mais alto.

Entre as opções de confinamento, destacam-se o compost barn, que exige reposições de material de cama, e o freestall, que utiliza camas inertes, como areia ou colchões. “Ambos os sistemas podem ser implementados de forma convencional ou em layout de túnel de vento, no qual o galpão é totalmente fechado e climatizado com exaustores e placas evaporativas, proporcionando maior conforto térmico aos animais durante todo o ano” salienta Karise.

Materiais para a cama

Cada material utilizado na cama do compost barn possui uma população microbiana característica, diferente da areia, que é um material inerte. Isso significa que esses materiais proporcionam condições ideais para o crescimento bacteriano, contribuindo para a decomposição dos resíduos. Materiais comuns, como serragem e maravalha, possuem tamanho de partícula adequado para o conforto dos animais, promovendo um ambiente propício para o descanso. “No entanto, é importante ter cautela ao utilizar materiais como palhadas e cascas, pois eles também oferecem boas condições para o crescimento bacteriano, mas a umidade deve ser controlada. Um alto teor de umidade pode levar à contaminação fúngica na cama, prejudicando a saúde dos animais” alerta Karise.

Além disso, materiais como casca de arroz e casca de aveia podem apresentar problemas específicos, uma vez que têm estrutura abrasiva e não favorecem uma compostagem eficiente, podendo irritar a pele do úbere e dos tetos dos animais. “Isso pode levar a alterações comportamentais, como a relutância dos animais em se deitar na cama para descansar, resultando em estresse e diminuição na produção de leite” indica a zootecnista, enfatizando que ao selecionar e utilizar materiais para a cama é essencial considerar não apenas o conforto dos animais, mas também a capacidade do material de promover uma decomposição eficiente e manter um ambiente saudável e livre de irritações para o rebanho.

Ao escolher os materiais para a cama do compost barn, Karise diz que é preciso considerar o equilíbrio entre custo e benefício, levando em conta a disponibilidade regional desses materiais. “O benefício e a qualidade dos materiais estão intimamente ligados à presença e à disponibilidade de carbono, que é essencial para o metabolismo energético das bactérias presentes na cama. Materiais como serragem, maravalha e aparas de madeira são altamente valorizados devido ao seu alto teor de carbono, promovendo maior atividade microbiana e permitindo que altas temperaturas sejam alcançadas, o que beneficia o processo de compostagem” analisa a zootecnista.

No entanto, atualmente, esses materiais enfrentam forte concorrência da indústria energética, que utiliza resíduos de madeira como combustível para caldeiras. Como resultado, muitas madeireiras optam por vender seus resíduos para essas indústrias, deixando os produtores rurais com acesso limitado e preços elevados para esses materiais. “Isso pode levar os produtores a adiarem reposições na cama, afetando negativamente o processo de compostagem, pelo aumento da umidade da cama, o que onera os custos de produção” frisa Karise.

Para mitigar esses custos, os produtores podem considerar o uso de materiais alternativos na cama, como casca de amendoim, casca de café, palhada de trigo, sabugo de milho triturado, bagaço de cana, casca de arroz e casca de aveia. “Embora esses materiais possuam teor de carbono mais baixo em comparação com os resíduos de madeira, eles podem ser utilizados para controlar a umidade e auxiliar no processo de compostagem” avalia, destacando que para melhores resultados é recomendável utilizar esses materiais em conjunto com serragem e maravalha.

No entanto, é importante observar que o custo desses materiais alternativos pode variar de acordo com a localização e a disponibilidade regional. “Os produtores devem avaliar cuidadosamente suas opções e considerar não apenas o preço, mas também a eficácia e a disponibilidade dos materiais ao tomar decisões sobre o manejo da cama” evidencia Karise.

Impactos da baixa qualidade da cama

A presença de umidade elevada na cama pode agravar inflamações, especialmente infecções de origem ambiental, como a mastite, devido aos animais estarem mais sujos. Isso pode resultar em um aumento na contagem de células somáticas, prejudicando tanto a produção quanto a qualidade do leite. “Em casos graves de mastite, as células secretoras de leite podem ser danificadas, resultando em uma redução na produção de leite” enfatiza Karise.

Foto: Juliana Sussai

Além disso, a especialista cita que a composição do leite pode ser alterada de várias maneiras. “A síntese de componentes importantes, como caseína e gordura, pode ser reduzida, enquanto a presença de toxinas bacterianas ou mediadores inflamatórios pode levar à morte ou necrose das células epiteliais. Isso pode resultar em mudanças no sabor, na coagulação, na umidade do queijo, no rendimento e até mesmo no tempo de prateleira dos produtos lácteos” argumenta.

Contudo, Karise ressalta que esse problema não é exclusivo do sistema compost barn, podendo ocorrer em qualquer sistema que contribua para o aumento da inflamação na glândula mamária devido a práticas inadequadas de manejo.

Evolução em curso

Nos últimos anos, pesquisas sobre a arquitetura e caracterização do sistema do compost barn, com ênfase na ventilação, têm sido promissoras. Esses estudos visam aprofundar a compreensão das interações entre o microclima, as características da cama e a saúde do úbere das vacas.

Também tem havido um aumento significativo em pesquisas sobre o comportamento dos animais, bem-estar, produção e qualidade do leite, devido à relação das características da cama com a ocorrência de mastite no rebanho. “Investir em educação continuada e treinamento para a equipe de colaboradores é essencial para garantir que todos estejam familiarizados com as melhores práticas de manejo da cama. Participar de palestras e cursos, muitos dos quais disponíveis online, é altamente recomendado para adquirir conhecimentos atualizados e aprofundar a compreensão sobre o manejo da cama no compost barn” frisa a zootecnista.

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Fonte: O Presente Rural
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Bovinos / Grãos / Máquinas Embrapa Agrossilvipastoril

Após 12 anos, pesquisa traz embasamento para plantio de árvores em sistemas ILPF

As pesquisas trouxeram resultados que ajudam a fazer recomendações sobre uso do componente arbóreo nesses sistemas produtivos.

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Resultados do estudo contribuem para recomendações sobre uso do componente arbóreo nos sistemas integrados. Foto: Gabriel Faria

A Embrapa Agrossilvipastoril está fechando o primeiro ciclo de 12 anos do maior experimento do mundo com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), em Sinop (Mato Grosso). As pesquisas trouxeram resultados que ajudam a fazer recomendações sobre uso do componente arbóreo nesses sistemas produtivos.

A definição da estratégia de uso das árvores em sistemas de integração varia entre as propriedades, conforme o interesse do produtor. Fatores como destinação da madeira, mercado consumidor, forma de colheita, uso das árvores como adição ou substituição de renda, características da propriedade, entre outros, devem ser avaliados. Isso torna cada projeto único. Porém, a tomada de decisão deve ser baseada em fundamentos técnicos como os obtidos na pesquisa.

A pesquisa

O trabalho utilizou o eucalipto (clone H13), uma vez que é uma espécie com crescimento rápido, com técnicas silviculturais desenvolvidas e com múltiplos usos. As árvores foram testadas em sistema de integração lavoura-floresta (ILF), integração pecuária-floresta (IPF) e ILPF, além da monocultura utilizada como testemunha. O plantio ocorreu inicialmente em renques de três linhas distantes 30 metros entre si e, após intervenções, alguns dos tratamentos tiveram as linhas externas suprimidas e ficaram como linhas simples espaçadas em 37 metros.

A pesquisa acompanhou todo o desenvolvimento das árvores, as operações de manejo como poda de galhos e desbastes (corte seletivo de árvores), dados de crescimento, acúmulo de biomassa e carbono, efeito bordadura dos renques, estoque de madeira, entre outros.

Ao longo dos 12 anos os sistemas integrados produziram entre 87 m³ e 114 m³ de madeira por hectare (ha). Os volumes variaram conforme o número de árvores conduzidas até o fim do experimento. Entretanto, quanto mais árvores, maior o impacto sobre a produção de grãos e forragem dentro do sistema produtivo.

“Quando falamos em sistemas de integração, temos que pensar na produtividade de todo o sistema. Se eu aumento o número de árvores, terei redução na produção da lavoura e da pecuária. Sendo assim, o maior número de árvores tem que fazer sentido na avaliação global” explica o pesquisador Maurel Behling.

A área testemunha, com monocultura de eucalipto, produziu 350 m³/ha ao longo dos 12 anos, ficando dentro da média de incremento anual do H13 em áreas de silvicultura em Mato Grosso, que é de 32 m³/ha.

Comportamento de crescimento e carbono

Os dados de crescimento em altura, diâmetro à altura do peito (DAP) e volume de madeira medidos ao longo dos anos indicaram que os sistemas integrados proporcionam o chamado efeito bordadura. É o efeito causado nas árvores externas da monocultura por receberem mais luz, água e nutrientes que aquelas do interior e por terem menor competição com árvores vizinhas. Na ILPF esse efeito foi observado nos renques de linhas triplas, com a árvore do meio tendo menor DAP, assim como as árvores do tratamento só com eucalipto.

O efeito bordadura foi ainda mais acentuado na avaliação de biomassa e de acúmulo de carbono nas árvores. O sistema ILPF, que inicialmente teve renques triplos e passou a ter renque simples após corte das linhas laterais, foi o que mais acumulou carbono, passando dos 30 kg/ano por indivíduo. O valor se diferenciou estatisticamente dos demais e ficou bem acima dos cerca de 20 quilos/ano por árvore na monocultura.

“Além de favorecer o ganho em volume das árvores, com maior potencial para aproveitamento na serraria, há uma maior taxa de acúmulo de carbono nas árvores na ILPF. É um carbono que teoricamente terá um ciclo de vida maior do que aquele usado como biomassa” destaca Behling.

O pesquisador lembra ainda que o carbono não fica somente estocado na madeira. As árvores no sistema produtivo ainda deixam grande volume de carbono na área em forma de folhas, galhos, serrapilheira e matéria orgânica.

“Cerca de 10 toneladas de resíduos por hectare que permanecem são originárias da área útil com árvores. Isso sem considerar tocos e raízes que em média representam 20% da biomassa total da árvore” informa o pesquisador.

Recomendações

Behling enfatiza que os resultados obtidos neste experimento, somadas às experiências de produtores em Unidades de Referência Tecnológica em Mato Grosso, dão subsídios para a tomada de decisão no planejamento de sistemas ILPF.

De acordo com ele, se o objetivo é adicionar renda ou melhorar o conforto térmico para o gado, os sistemas com linha simples são mais indicados. Já se o produtor quer um modelo com maior número de árvores e que sua venda compense as perdas de produção na lavoura e pecuária, é possível fazer renques de múltiplas linhas.

“Se o objetivo é produzir biomassa, por exemplo, é importante adequar o número de linhas ao parque de máquinas que fará a colheita, de forma a viabilizar o custo” orienta o pesquisador.

A análise do mercado que consumirá a madeira é outro fator primordial no planejamento do sistema. A madeira conduzida para serraria tem maior valor agregado, mas depende de haver estrutura de processamento. Na região médio-norte de Mato Grosso, por exemplo, o surgimento recente de usinas de etanol de milho mudou o cenário em relação a 2011, quando o experimento foi iniciado. Atualmente a demanda por biomassa para as caldeiras é grande e tende a ser ainda maior nos próximos anos com a inauguração de novas plantas.

“No caso da madeira serrada de eucalipto, ainda não é uma realidade na região, mas já existe demanda para a madeira tratada para mourões de cerca, postes e construção civil” relata Behling.

Fim do ciclo e início de outro

O primeiro ciclo do experimento de ILPF com foco na pecuária de corte e produção de grãos está sendo finalizado com o corte raso dos eucaliptos após 12 anos. Em todo o experimento ainda restam 3.666 árvores ocupando uma área de 43 hectares, sendo 3 ha com monocultura e 40 ha com IPF, ILF ou ILPF. Dados preliminares indicam um volume total a ser colhido de 3.568,33 m³ de madeira. Considerando o valor de 100 reais por metro estéreo, são quase 514 mil reais. Se a venda fosse para serraria, o valor seria ainda maior. Deve-se lembrar que, além da madeira, a área também produziu carne e grãos.

Com o fim deste ciclo, um novo trabalho já deverá começar no próximo período chuvoso. Desta vez, além do eucalipto, será usada a teca como componente arbóreo do sistema. Também será testado o consórcio com as duas espécies, uma vez que a teca perde suas folhas no período seco, reduzindo a sombra para os animais. A ideia é que o eucalipto contribua para manutenção do conforto térmico e com o escalonamento de receitas obtidas com as árvores.

Maior experimento do mundo em ILPF

O experimento de ILPF com foco na pecuária de corte e agricultura de grãos da Embrapa Agrossilvipastoril é um dos maiores, se não o maior do mundo com sistemas integrados organizados em blocos casualizados e com quatro repetições. São um total de 72 hectares, com dez tratamentos distintos. Além da lavoura, da pecuária e da floresta sozinhos, são avaliadas diferentes estratégias e arranjos de ILP, IPF, ILF e ILPF.

O planejamento do experimento foi feito logo após a criação da Embrapa Agrossilvipastoril, por meio de uma reunião com a participação de especialistas de diversas Unidades da Embrapa. Desde a instalação, na safra 2011/2012, pesquisadores de diferentes especialidades fizeram estudos nesta área, analisando aspectos de solo, dinâmica de água, microclima, forragicultura, sanidade animal e vegetal, microbiologia, e emissão de gases de efeito estufa, entre outros.

Entre os resultados de destaque está o Sistema PPS (Precocidade, Produtividade e Sustentabilidade), uma estratégia de manejo da pecuária de cria utilizando ILP e IPF.

Fonte: Assessoria Embrapa
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