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Suínos / Peixes

Bem-estar é mais que gestação coletiva, sustenta consultor do Mapa

Bem-estar animal ainda gera dúvidas em agroindústrias; tema vai muito além de nutrição de matrizes suínas gestantes

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Garantir melhor conforto e qualidade de vida aos animais na produção é um tema que há tempos vem sendo bastante discutido por todos os envolvidos na cadeia produtiva. Garantir o bem-estar animal é uma forma do produtor ter melhores resultados zootécnicos, de produção e financeiros. Para explicar mais sobre o assunto, o que vem sendo exigido e o que o produtor pode fazer, o médico veterinário doutor e consultor do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Cleandro Pazinato Dias, falou sobre o “bem-estar animal nas agroindústrias: os desafios vão muito mais além que uma máquina de alimentação na gestação” durante o Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS) que aconteceu em Chapecó, SC.

De acordo com o profissional, é preciso trabalhar e se dedicar na questão do bem-estar animal devido à importância mundial que este fator tem na produção mundial. “Existe muita crítica porque quando começamos a falar de bem-estar animal, o pensamento logo remete à gestação coletiva e já imaginam a máquina de alimentação. Porém, o bem-estar vai muito além disso”, comenta. Segundo Dias, é importante que as agroindústrias estejam atentas e trabalhem este aspecto, envolvendo desde a produção, transporte até o abate. “É uma necessidade, já que as agroindústrias brasileiras estão inseridas no mercado mundial, e o Brasil exporta carne para mais de 70 países. Então, é preciso trabalhar este ponto”, diz.

Um item importante quando se pensa em bem-estar animal é quanto à gestação coletiva, informa Dias, principalmente porque envolve um grande custo, pela necessidade de que é preciso transformar a granja ou mudar o projeto. “Por isso, quando falamos em bem-estar animal a gestação é sempre lembrada, porque tem um alto custo envolvido”, conta. Ele comenta que se fosse algo que pudesse ser resolvido com um curso ou capacitação seria mais fácil. “Mas é como reformar uma casa. O produtor está na dúvida de como se adequar ao que está sendo pedido”, afirma.

Além do aspecto econômico, a gestação envolve ainda o lado tecnológico, que tem chamado a atenção de muitos agentes envolvidos na cadeia produtiva, explica o médico veterinário. “O principal que tem chamado atenção é a suplementação eletrônica, que é uma máquina que muitas pessoas acham cara ou que está fora do contexto. Mas não é apenas isso, envolve muito mais coisas”, diz. O profissional destaca que há ainda outras tantas coisas dentro de uma granja que podem ser feitas para melhorar o bem-estar, como a capacitação de pessoas. “Isso, principalmente, para quem trabalha com os animais entenderem que ele tem sentimento, dor, sofre de angustia, medo, por isso deve ser tratado bem, porque também é um ser vivo”, explica.

Castração, dentes, cauda e orelhas

O produtor deve se atentar a todos os setores quando o assunto é bem-estar. “Na maternidade, por exemplo, existe a questão de procedimentos dolorosos que ainda são feitos, mas podem ser evitados, como a castração sem anestesia, cortar a calda, gastar o dente. São coisas que muitas vezes não há necessidade, mas algumas granjas continuam fazendo”, comenta. O médico veterinário diz que estas são práticas de manejo regulares, mas elas estão sendo questionadas. “Você usa os três S da ciência. Aquilo que você pode deixar de fazer, aquilo que você pode fazer em parte dos animais, mas não em todos, e algumas coisas que você pode fazer para causar menos dor e sofrimento no animal”, conta.

Segundo ele, algumas práticas que podem ser evitadas são a castração cirúrgica, o desgaste dos dentes, o corte das orelhas e da cauda, este último, em algumas circunstâncias. “O corte da cauda é o mais complexo de se abandonar, porque também não podemos tapar o sol com a peneira, falar para as pessoas pararem de fazer e depois acabar criando outros problemas. O princípio é você mudar um pouco o que é feito para que o animal não sinta dor”, explica.

Mistura de lotes

O médico veterinário alerta que é preciso que o suinocultor se atente quanto às misturas de lotes. “Elas devem se restringir ao mínimo necessário. Não tem como você produzir sem misturar, mas é preciso fazer isso de uma maneira mais programada”, afirma. Ele diz que em muitas granjas, uma prática comum é o pessoal fazer misturas com animais na creche, com pouco mais de 20 dias de idade, e no meio da creche misturar novamente, para deixar aqueles com o tamanho e peso mais próximos juntos. “No início alguns animais vão comer mais e outros menos, alguns vão crescer mais e outros menos. Isso acontece em decorrência da adaptação deles com o ambiente, alimentação, etc. Assim, acontece deles ficarem desuniformes, e em baias de 30 animais, as vezes tem um ou outro que fica menor”, afirma.

De acordo com Dias, o que também se observa é que na creche, que dura entre 6 e 7 semanas, os funcionários da granja mexem novamente em todos os animais. “Não tem necessidade disso. Se é possível deixar os animais e mexer somente quando forem para a engorda ou terminação, melhor. Dessa forma, você mexe uma única vez”, afirma. Ele comenta que aqueles animais que são menores não vão deixar de viver na granja. “Eles serão menores, mas não vão sofrer. Desde que tenha espaço em comedouro e bebedouro, metragem adequada da baia, que não haja escassez de recursos, eles não vão ter dificuldades em permanecer, porque não são animais doentes ou que são difíceis de acompanhar. São somente menores”, comenta. O mesmo pensamento é feito com os maiores.

O médico veterinário afirma que as misturas devem ser feitas no início de uma fase ou final, mas o ideal é não fazer. “Ou, o que o suinocultor pode fazer é deixar algumas baias vazias e depois só tirar aqueles animais que são menores”, diz. Dessa forma, há outras práticas de manejo que podem ser feitas para reduzir essa mistura e remistura. “Porque sempre que você misturar animais, eles vão acabar brigando e vai gerar estresse. Então, quanto menos mexer, melhor”, reafirma.

Dias cita que o processo de trabalho deve ser definido desde o início. “Ali você pode reduzir, quem sabe, na vida de um leitão uma ou duas reagrupadas, o que pode significar na vida desse animal três, quatro ou cinco dias a menos de briga na vida dele. Isso impacta também na parte produtiva e econômica na propriedade”, afirma.

Matrizes gestantes

Algo comum em todas as granjas, segundo Dias, é que as matrizes gestantes passam fome. “Mas é uma fome crônica. Não do tipo que o animal ficará em desespero, um dia sem comer. Ela vai comer todos os dias, no mínimo uma vez. Mas a quantidade que ela recebe é inferior àquela que comeria se estivesse à vontade”, explica. Ele conta que é preciso que o animal tenha um escore corporal adequado para continuar produzindo bem. “Se ele engordar, vai perder produtividade. Além de perder a produtividade, se a matriz estiver obesa também é um problema de bem-estar. Se estiver gorda demais, não vai estar bem”, afirma. O mesmo acontece com restrição demais, explica Dias. “Se elas ficarem magras demais, também é um problema”, afirma.

De acordo com o médico veterinário, o que pode ser feito é trabalhar com dietas ricas em fibras. “Você aumenta a quantidade de fibra, que vai ser menos digestível ao animal, e assim vai ocupar o estômago e intestino e ele vai ter a sensação de saciedade e preenchimento, e não ter aquela fome exacerbada, porém continuará comendo a mesma quantidade de nutrientes”, informa. Porém, com isso é necessário mudar a forma da ração e ter que trabalhar com um conteúdo mais alto em fibras, o que, de acordo com Dias, é uma dificuldade. “Isso porque no Brasil não há muitas opções de matérias-primas, o que faz com que encareça as dietas. E não é somente aqui, é no mundo inteiro”, conta.

Dias explica que este é um tema relacionado ao bem-estar que é bastante polêmico, isso porque impacta diretamente na questão econômica. “É um assunto bastante complexo. A solução para esse problema da fome crônica é bem complexa, não é simples ou algo fácil. Utilizar as fibras para evitar que a matriz passe fome é o ideal, mas sabemos que é um grande desafio para quem está trabalhando”, explica.

Bem-estar animal nas agroindústrias

Para o médico veterinário, o Brasil está caminhando no sentido de atender aos quesitos de bem-estar animal. São basicamente quatro grupos que existem nesse sentido: os que já estão trabalhando; aqueles que estão fazendo as mudanças, mesmo sem entender o motivo; os que ainda estão tentando entender como trabalhar; e o quarto grupo daqueles que são céticos e não estão seguindo o caminho do bem-estar animal.

“Tem o movimento de algumas empresas que estão bem à frente, que estão buscando informação e já têm um programa de bem-estar animal, que já estão fazendo seus próprios experimentos internos e avaliações, criando soluções de como fazer”, conta Dias. Há ainda um outro grupo de empresas interessadas no tema, que praticam um item ou outro das recomendações de bem-estar, que até mudam sem saber porque, mas estão mudando para melhorar. “Não significa que é uma mudança diretamente pensada no bem-estar, mas tem as mudanças que são da própria evolução da suinocultura que vão acontecendo e as empresas vão evoluindo”, explica.

Há ainda o terceiro grupo, informa Dias, formado por empresas que estão tentando entender o que é o bem-estar animal, o que está acontecendo. E o quarto grupo, que são aqueles que são céticos e resistentes sobre o assunto. “Estas são uma minoria”, afirma o médico veterinário.

Para ele, o Brasil está em um bom caminho, porque o país está fazendo mudanças no sentindo de bem-estar olhando para a produção, no sentido de não perder produtividade e desempenho. “Estamos indo por aqueles itens que são mais tranquilos de fazer, pouco a pouco, sem uma obrigatoriedade legal de fazer”, comenta. Embora já exista uma proposta de legislação. “Isso vai mexer bastante com as pessoas que estão no terceiro e quarto grupo. Não vai afetar tanto o primeiro e o segundo, mas os dois últimos, que são mais retardatários, serão mais afetados”, conta.

O profissional informa que as pessoas ainda estão com bastantes dúvida do que fazer para atender aos quesitos de bem-estar. “Na medida que temos um documento que informa como deve ser feito, vai ficar muito mais fácil, inclusive para as próprias empresas e agroindústrias. Então, vai ser muito mais fácil para o técnico de fomento, o diretor, entre outros que estão coordenando, passar as diretrizes da empresa nesse sentido. Será um guia do que fazer”, sustenta.

Mais informações você encontra na edição de Suínos e Peixes de julho/agosto de 2018 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Suínos / Peixes

ACCS 65 anos: força e inovação na suinocultura catarinense

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Presidente Losivanio Luiz de Lorenzi: "Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses" - Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Fundada em 24 de julho de 1959, a ACCS surgiu em um momento determinante para a suinocultura em Santa Catarina. Na década de 1940, o Oeste Catarinense destacou-se na produção de suínos, impulsionado pela chegada de colonos do Rio Grande do Sul. Entre os pioneiros, Attílio Fontana, fundador da Sadia, viu o potencial da região e investiu na criação de suínos, transformando a produção local em um pilar econômico.

Inovação e melhoramento genético

Na virada da década de 1940 para 1950, a ACCS foi pioneira na introdução de práticas de melhoramento genético. Victor Fontana, sobrinho de Attílio, aplicou métodos racionais e técnicos de criação, resultando em ninhadas de leitões saudáveis e precoces. A Sadia distribuiu um fomento experimental, fornecendo matrizes e ração aos produtores que seguiram suas exigências de higiene e instalações, marcando o início de uma revolução na suinocultura.

Expansão e modernização

Nos anos 1960 e 1970, a ACCS ampliou suas atividades, implementando o registro genealógico dos suínos e promovendo a exposição de suínos que incentivavam a melhoria genética. Em 1976, sob a presidência de Paulo Tramontini, a ACCS liderou a criação da primeira central de inseminação artificial de suínos do Brasil, consolidando Santa Catarina como líder na produção de material genético de qualidade.

Evolução estrutural

A Central de Coleta e Difusão Genética da ACCS (CDG-ACCS), localizada na comunidade de Fragosos em Concórdia, representa um marco de inovação e excelência na suinocultura brasileira. Reinaugurada em 2016, a CDG-ACCS foi a primeira do Brasil a operar dentro dos padrões rigorosos de Bem-Estar Animal, incorporando as melhores genéticas do mercado e estabelecendo um alto padrão de sanidade e produtividade.

Com uma produção mensal de aproximadamente 19 mil doses de sêmen, a central não apenas impulsiona a qualidade genética dos rebanhos, mas também garante a sustentabilidade e a competitividade dos suinocultores catarinenses. O reconhecimento da CDG-ACCS como referência em produtividade e sanidade, destacado em reportagens especiais como a do Globo Rural, reforça seu papel na modernização e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina e no Brasil.

Parcerias e crescimento sustentável

Ao longo das décadas, a ACCS tem sido uma força importante na promoção e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina. Parcerias estratégicas com indústrias, cooperativas e entidades governamentais foram fundamentais para o crescimento do setor. A criação da Cooperativa Agroindustrial dos Suinocultores Catarinenses (Coasc) em 2014 exemplifica esse espírito cooperativo, ajudando produtores independentes a obter melhores condições na compra de insumos.

Desafios e superações

A ACCS não se limita a celebrar conquistas, mas também se destaca pelo seu papel de apoio em tempos de crise. A associação esteve presente em momentos de adversidade, mobilizando a classe e chamando a atenção para as necessidades e demandas dos suinocultores. Este espírito de luta e resiliência garante que os suinocultores continuem a desempenhar um papel vital na economia do país.

Uma voz ativa e presente

A ACCS se tornou uma referência, tanto para a imprensa quanto para os suinocultores. Com um site atualizado diariamente e participações ativas em comissões e eventos, a associação promove o diálogo entre produtores e especialistas, sempre inovações buscando e políticas públicas desenvolvidas ao setor.

Celebração e futuro promissor

Ao comemorar 65 anos, a ACCS reafirma seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade do setor. O presidente Losivanio Luiz de Lorenzi destaca a importância de continuar unidos, superando desafios e construir um futuro ainda mais promissor para a suinocultura catarinense. “Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses,” ressalta.

A trajetória da ACCS é um exemplo de dedicação e sucesso, refletindo a força e a inovação que definem a suinocultura em Santa Catarina. Comemoramos não apenas o passado, mas também as possibilidades ilimitadas do futuro. Parabéns a todos que fazem parte dessa história!

Fonte: Assessoria ACCS
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Suínos / Peixes

Preços do suíno vivo têm movimentos distintos no Brasil

Aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate. As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Os preços do suíno vivo e da carne vêm apresentando movimentos distintos dentre as regiões acompanhadas pelo Cepea.

Segundo pesquisadores deste Centro, os aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate.

Esse foi o caso dos mercados independentes do suíno vivo nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês, devido ao menor poder de compra da população, ainda conforme explicam pesquisadores do Cepea.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos / Peixes Nutrição

Especialista aponta desafios e alternativas para melhorar desempenho zootécnico dos suínos

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção.

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Foto: Shutterstock

A qualidade nutricional dos alimentos não só influencia o desempenho dos animais, mas também afeta diretamente sua capacidade de digestão e absorção de nutrientes, bem como a quantidade de resíduos gerados. Durante o 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado nesta semana no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, essa temática foi abordada pelo mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz.

O especialista vai participar do Painel Novos Desafios na produção de suínos – o que vem por aí?, em que vai tratar sobre “Onde estamos e para onde deveremos ir na área de Nutrição”. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o doutor em Nutrição enfatizou que quanto melhor compreendermos a qualidade dos ingredientes utilizados na formulação dos alimentos para suínos, mais eficiente será a produção dos animais e menores serão os impactos ambientais.

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção. Aborda temas como nutrição de precisão, ingredientes alternativos, redução do uso de antibióticos, nutrigenômica, considerações nutricionais por fase de crescimento, desafios ambientais, estratégias nutricionais para minimizar o estresse térmico e oportunidades para colaboração entre a indústria, academia e o poder público. Confira!

O Presente Rural – Quais são os avanços recentes na nutrição voltada à suinocultura e como essas inovações estão impactando a eficiência alimentar, o crescimento e a saúde dos suínos?

Mário Penz – Quanto mais conhecemos a qualidade dos ingredientes que são empregados na elaboração dos alimentos para os suínos, mais eficiente se torna a produção dos animais e menores são os efeitos poluidores, que podem ser causados pela indevida digestão dos nutrientes e pelo aumento dos dejetos produzidos. Por exemplo, vários nutricionistas calculam as necessidades energéticas dos animais com base nas energias líquidas dos ingredientes, enquanto outros ainda usam energia metabolizável ou, menos comum, energia digestível, ambas menos precisas que a expressão da energia, com base no conhecimento dos valores de energia líquida dos ingredientes.

O Presente Rural – Quais são os principais desafios que os nutricionistas enfrentam atualmente na formulação de dietas para suínos e como estão sendo abordados?

Mário Penz – Continua sendo o conhecimento da real composição dos ingredientes usados nas formulações das dietas para as diferentes fases de produção.

O Presente Rural – Como a nutrição de precisão está sendo aplicada na suinocultura e quais são os benefícios em termos de otimização dos recursos alimentares e redução dos custos de produção?

Mário Penz – Nutrição de precisão tem por objetivo, sempre um pouco paradoxal, oferecer aos animais nutrientes e energia líquida, de acordo com suas necessidades, nas diferentes fases de produção. Quando se lida com nutrição de populações, em diferentes fases de produção, o que se quer chegar é o mais perto do que os animais necessitam, desconsiderando várias diferenças que podem ocorrer por idade, sexo, linhagem, ambiente, propósito de produção, etc. Essa nutrição não obrigatoriamente é “de custo mínimo”.

O Presente Rural – Quais são as tendências emergentes na formulação de dietas para suínos, como a utilização de ingredientes alternativos e a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento?

Mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz: “Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença”. Foto: Divulgação

Mário Penz – Ingrediente alternativo é todo aquele que pode substituir os ingredientes convencionais das dietas, que no Brasil são milho e farelo de soja. Ingredientes como sorgo, milheto, farinhas de origem animal, entre outros, poderão ser empregados, desde que estejam disponíveis em quantidades relevantes, nem que seja por um período específico do ano. Além disso, é importante que se conheça a composição nutricional e energética desses ingredientes, para evitar que tenham seus valores sub ou superestimados. Levando isso em consideração, qualquer oportunidade tem que ser avaliada quanto ao seu custo e ao seu benefício, relacionados com aqueles que o milho e o farelo de soja podem trazer aos animais.

Quanto a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento, esse é um caminho sem volta. Para que não haja perda de desempenho dos animais, os profissionais deverão dar mais atenção aos princípios básicos de saúde animal (saúde intestinal) e menos na mitigação das ações microbianas deletérias. Nesse conjunto de ações, cuidado com a biosseguridade, do ambiente, das dietas empregadas, farão parte dessa nova necessidade de produção.

Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença. Saúde é um processo contínuo, que se mitiga todo o tempo. Doença, mesmo que seja só mitigada pelos promotores de crescimento, sugerem respostas mais rápidas, mas não obrigatoriamente com consistência. Mudar de doença para saúde é algo complexo e que requer mais conhecimento dos profissionais envolvidos na produção de suínos.

O Presente Rural – Como a nutrigenômica e outras tecnologias de ponta estão sendo exploradas para entender melhor as necessidades nutricionais específicas dos suínos e melhorar a saúde intestinal?

Mário Penz – Nutrigenômica é o conhecimento que permite a seleção específica de nutrientes que favorecem a melhor expressão gênica dos animais, permitindo, como consequência, melhor saúde e desempenho dos animais. Esse é outro caminho sem volta, especialmente quando se trata de produzir animais saudáveis e sem o uso de antibióticos. Mas, ainda todo esse conhecimento está pouco apreciado no dia a dia das produções. Entretanto, importantes informações acadêmicas estão disponíveis, que mostram que teremos que olhar o suíno não por fase, mas olhar os resultados finais, desde o início da produção dos reprodutores, que lhes dão origem.

O Presente Rural – Quais são as considerações nutricionais específicas para diferentes fases de crescimento dos suínos, desde a creche até a terminação, e como essas necessidades estão sendo atendidas?

Mário Penz – Lamentavelmente, essa pergunta é extremamente complexa, para que tenha uma resposta simples. Entretanto, tomando o risco da simplificação, os nutricionistas devem estar muito próximos dos técnicos das genéticas, para entender quais são as recomendações por eles oferecidas. Com o tempo, cada profissional vai adaptando seus referenciais, com base na sua experiência e nos resultados práticos de campo. Aqui não tem uma resposta única e a complexidade começa com a identificação que o nutricionista tem com relação ao produto final da produção. Ele está preocupado com o ganho de peso, com a conversão alimentar, com a qualidade da carcaça ou com o menor custo no frigorífico?

O Presente Rural – Quais são os aditivos alimentares desenvolvimentos mais recentemente, como probióticos, prebióticos e enzimas, para promover a saúde intestinal e melhorar o desempenho dos suínos?

Mário Penz – Essa é uma nova era na produção de suínos. Reforço que estamos saindo de uma longa fase, onde os profissionais se preocupavam e se preocupam com eventos sanitários, os mitigando com o uso de antibióticos promotores de crescimento e/ou antibióticos usados de forma preventiva ou terapêutica. Agora estamos entrando na fase da saúde animal, mais complexa, porém inevitável. Muitas são as opções para melhorar a saúde dos animais. Não há um único produto que tenha a chancela de resolver tudo! O técnico deverá ter claro o que está buscando e, com isso olhar as oportunidades disponíveis. De uma maneira geral, tenho me posicionado que nessa nova fase, tudo começa pelo uso de enzimas exógenas, como suplementos indispensáveis. Dietas bem digeridas diminuem a disponibilidade de nutrientes aos microrganismos. Depois, todas as dietas devem ser suplementadas com um antioxidante que tenha ação efetiva, para mitigar processos de oxirredução contínuos dos enterócitos. Enzimas e antioxidantes fazem uma eficiente “dobradinha”. Depois vem os demais aditivos não antibióticos. Aqui o técnico tem que saber o que quer: fortalecer o sistema imune dos animais? A integridade intestinal? A digestibilidade dos nutrientes? Colaborar na regulação da microbiota? São perguntas indispensáveis, pois nessa nova fase não há “receita pronta”. As alternativas serão customizadas, de acordo com as expectativas técnicas esperadas. Para completar, aditivos não antibióticos não estão chegando para melhorar os resultados de granjas que não deem atenção a biosseguridade, ao ambiente, ao bem-estar animal, como sempre pensamos que os antibióticos ajudam ou ajudavam. Essa nova produção animal vem para se empregada em granjas que atendem os princípios básicos de boas práticas de produção e manejo. Ou seja, a mudança de paradigma é grande. Por isso que sempre sugiro que, independente da necessidade de se acomodar a essa nova realidade, o técnico deve começar, com cautela, a entender como produzir nesse novo ambiente tendo parte de seu plantel submetido a essas novas alternativas.

O Presente Rural – Como os desafios ambientais – a redução das emissões de gases de efeito estufa e a sustentabilidade da produção de alimentos – estão moldando a pesquisa em nutrição suína?

Mário Penz – Sustentabilidade é a palavra de ordem. O grande desafio é que a sustentabilidade está baseada em três pilares – econômico/ambiental/social. Com isso, em cada ação temos que olhar como ela afeta um ou mais dos três pilares. O que é certo é que sempre será impossível ter os três pilares sendo atendidos na íntegra. A produção animal sempre buscou a sustentabilidade, mesmo antes do termo ter se consagrado pela Comissão de Bruntland em 1987, que definiu o que seria o Desenvolvimento Sustentável. Por que digo isso? Porque os produtores seguem em suas propriedades em muitos casos por três ou mais gerações. Se não fossem sustentáveis já teriam migrado, como muitos fizeram. Os produtores sempre estão perseguindo, pelos conhecimentos técnicos adquiridos, melhores resultados zootécnicos, representados por melhores conversões alimentares de seus animais. Melhor conversão animal, menos consumo de alimento e água, menor excreção de dejetos, menor poluição do ambiente, especialmente pelo nitrogênio e fósforo excretados. Tudo isso podendo também ser representado pela menor produção de CO₂. Assim, a ciência subsidia os produtores com seus conhecimentos e eles aplicam, para que sigam sendo viáveis economicamente.

O Presente Rural – Quais são as estratégias nutricionais mais eficazes para minimizar o estresse térmico em suínos durante períodos de temperatura extrema?

Foto: Shutterstock

Mário Penz – Não criá-los em temperaturas quentes! A nutrição pode mitigar eventos térmicos de calor, mas são pouco eficientes (reduzir proteína, aumentar a energia por intermédio da inclusão de gordura nas dietas, etc.). O uso de ambiente controlado é uma necessidade indispensável nos novos projetos suinícolas. Além disso, a curto prazo, os animais, nessas condições devem receber água fria, junto com o alimento que consomem. Imaginem uma reprodutora em lactação, que tem que comer algo em torno de 6 a 7 kg de alimento/dia e necessita tomar água com uma temperatura próxima de 15ºC e a ela é oferecida uma água com 30ºC. O que ela vai fazer? Irá comer menos! E, as consequências já sabemos. Assim, resumindo, estresse por elevada temperatura ambiente, primeiro se mitiga com água fria e depois, nos novos projetos, com a construção de galpões climatizados.

O Presente Rural – Quais são as oportunidades futuras para a colaboração entre a indústria de nutrição animal, academia e poder público para impulsionar ainda mais a inovação e o progresso na área de nutrição voltada à suinocultura?

Mário Penz – A tríade indústria, academia e poder público é indispensável se quisermos avançar mais rápido. Cada um dos três segmentos tem a sua responsabilidade. Entretanto, primeiramente cabe a indústria ser clara no que necessita para que a academia se prepare para responder os desafios. Cabe a academia entender que a indústria tem pressa em várias de suas necessidades e se colocar como disponível frente a esses desafios. Ao poder público, favorecer qualquer inciativa pertinente, colaborando com financiamentos e com normas e regulamentos que favoreçam novas descobertas.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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AJINOMOTO SUÍNOS – 2024

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