Suínos
Bem-estar animal e legislação: reflexões da agroindústria no manejo pré-abate
A crescente pressão dos consumidores por alimentos seguros, éticos e de alta qualidade impõe novos desafios e responsabilidades a todos os envolvidos na produção e no transporte de suínos.
Especialistas e profissionais do setor suinícola se reuniram para compartilhar conhecimentos e discutir os desafios e oportunidades envolvendo o delicado processo de carregamento e transporte de suínos para abate em meados de março, no Encontro Regional da Associação Brasileira de Veterinários Especialistas em Suínos (Abraves), realizado em Toledo, região Oeste do Paraná. Entre os holofotes desse evento crucial, despontou a palestra de Luana Torres da Rocha, médica-veterinária e gerente de Suprimentos Suínos na Frimesa, uma das maiores agroindústrias do país. Em sua abordagem, Luana delineou não apenas os intricados aspectos práticos do manejo pré-abate, mas também ecoou a preocupação uníssona da indústria com o bem-estar animal e a conformidade legal.
Luana aborda de maneira abrangente as complexidades envolvidas em cada etapa do processo e destaca a importância crucial do bem-estar animal e da conformidade com a legislação vigente. “Somos parte integrante de uma extensa cadeia de valor, na qual cada elo desempenha um papel fundamental. Quando um desses elos se enfraquece ou se rompe, todos os demais são afetados”, considera.
Ela frisa a crescente pressão dos consumidores por alimentos seguros, éticos e de alta qualidade, o que impõe novos desafios e responsabilidades a todos os envolvidos na produção e no transporte de suínos. “Estão cobrando cada vez mais os estabelecimentos de abate, as agroindústrias e cooperativas. E com aumento na produção e comercialização da proteína animal, principalmente exportação, estamos sendo cada vez mais cobrados. Com isso, além da busca por alimentos seguros, com qualidade sensorial, também há a busca por qualidade ética. Que são produtos derivados de animais que foram nascidos, criados e abatidos em sistemas que promoveram o bem-estar animal adequado”, relata.
Manejo pré-abate
No cerne das preocupações está o manejo pré-abate, considerado o momento mais estressante na vida dos animais. “Nele temos a etapa de jejum alimentar, manejo de embarque, transporte, manejo de desembarque no frigorífico, o período de descanso onde a insensibilização é propriamente dita, é o momento onde o suíno será insensibilizado então, posteriormente, sangrado. Sendo a sangria a última etapa do bem-estar animal”, explica a palestrante.
“É fundamental assegurar o bem-estar dos suínos em todas as etapas, desde o embarque até o momento do abate, conforme preconizado pela legislação, na qual somos legalmente responsáveis por sua proteção”, ressalta a médica veterinária. Ela também fez referência à legislação vigente, em particular ao Artigo 88 do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), que atribui aos estabelecimentos a responsabilidade de adotar medidas para garantir o bem-estar dos animais durante o transporte. “É importante ressaltar que estamos sujeitos a autuações caso ocorram intercorrências durante o embarque e transporte dos suínos”, alerta Luana.
Durante sua explanação, a profissional identificou diversos fatores estressantes para os animais, como a separação dos companheiros de baia, o tamanho dos grupos de condução, as condições de manejo, a locomoção em longas distâncias e a angulação do embarcadouro. “Além disso, há situações desafiadoras envolvendo os suínos ambulatoriais, sejam eles lesionados ou não. Com o aumento do peso médio dos animais abatidos e o embarque realizado em diferentes horários do dia, é comum encontrar suínos cansados e ofegantes durante o processo de transporte”, explica.
No que diz respeito ao transporte, Luana destaca o risco de mortalidade e lesões se não forem seguidas as práticas adequadas. “Muitas vezes o transporte já recebeu um suíno que
estava inapto, conduzirá o animal que vai acabar morrendo durante o transporte”, diz. Fatores como a densidade do transporte também são levantados por Luana. “É um espaço confinado e atualmente tem sido utilizado 235 kg/m², o que é considerado, hoje, bom para o Brasil, mas acredito que com o tempo isso mudará, pois, até mesmo a legislação europeia está aumentando esse espaçamento”.
Além disso, ela menciona a duração da viagem, que pode afetar diretamente o estado dos animais durante o transporte. “Podemos identificar a duração de uma viagem mais longa e uma mais curta, ambas com pontos positivos e negativos. Comumente as pessoas pensam que uma viagem curta é muito benéfica, mas observamos uma alta ocorrência de animais cansados e fadigados, pois acabaram de passar por um manejo de embarque, não tiveram tempo de descansar e já têm que ser desembarcados”, relata.
“Temos também as condições climáticas, já que no verão é observado um índice maior de mortalidade durante o transporte. A condução inadequada dos veículos também pode causar mortalidade, fraturas e contusões. E a parada do veículo em rodovias também pode ser maléfica aos animais. Além disso observamos a
mortalidade em transporte. Embarque realizado em períodos quentes do dia gera atraso no processo de embarque e mortalidade”, aponta Torres.
Problemas na carne
A questão da carne PSE (pálida, flácida e exsudativa) também foi abordada pela palestrante, que ressalta a importância de minimizar o estresse nos animais nas horas que antecedem o abate, a fim de evitar prejuízos financeiros e perda de confiança dos clientes. “Há toda uma mudança do metabolismo e da transformação do músculo, geralmente ocasiona esse tipo de carne quando o animal passa por estresse nas últimas horas que antecedem o abate. A carne baixa o pH ainda com a carcaça quente, o que acaba desnaturando as proteínas. Isso gera, obviamente insatisfação e reclamação por parte dos clientes, além das perdas financeiras graves, acarreta na perda de credibilidade com esses clientes”.
Luana reforça a importância da orientação contínua e do compromisso com a melhoria constante em todas as etapas do processo. “Quando a ‘batata quente’ chega no frigorífico não temos mais muito o que fazer, pois não podemos voltar atrás e fazer diferente. Mas temos o dever de repassar e orientar para que das próximas vezes mude”, ressalta. “Vale lembrar que o período de descanso no frigorífico tem que ser utilizado como aliado na recuperação adequada do suíno, utilizando também eletrólitos na recuperação do balanço hidroeletrolítico, que apresenta grande diferença. E também utilizar o enriquecimento ambiental visando a redução de brigas. Porém há uma incógnita por que esse fator pode aumentar a atividade dos animais durante o período de descanso e isso pode afetar a recuperação da musculatura”, menciona Luana ao proporcionar observações importantes para os profissionais do setor.
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Suínos
Preços do suíno atingem máximas nominais
Impulso vem sobretudo da maior demanda doméstica típica desse período do mês (pagamento dos salários).
Os preços do suíno vivo e da carne vêm subindo com mais força neste começo de novembro, atingindo as máximas nominais das séries históricas do Cepea, iniciadas em 2022 para o animal e em 2009 para a carcaça.
Segundo pesquisadores do Cepea, o impulso vem sobretudo da maior demanda doméstica típica desse período do mês (pagamento dos salários).
Além disso, a procura externa pela carne suína também segue aquecida, levando agentes da indústria a intensificar a busca por novos lotes de animais em peso ideal para abate.
Suínos
Suinocultura em expansão: 2024 registra recordes de exportação e aumento de preços
Até o final de setembro, os preços do suíno vivo avançaram 5,6% em relação ao mês anterior e 34,9% em relação ao mesmo período do ano passado, encerrando o mês em R$ 8,58.
Produção
Os primeiros resultados referentes ao 2º trimestre de 2024, divulgados pelo IBGE em agosto, mostram que o abate de suínos totalizou 14,6 milhões de cabeças, indicando um aumento de 3,9% em comparação com o trimestre anterior e um incremento de 2,5% em relação ao mesmo trimestre de 2023.
O peso das carcaças atingiu 1,34 milhão de toneladas, representando uma elevação de 4,4% em relação ao trimestre anterior e um crescimento de 1,0% na comparação interanual. Prospectivamente, a Conab projeta para 2025 um crescimento de 1,2% no rebanho e de 1,6% na produção de carne em comparação com 2024.
Para o comércio exterior é esperado um avanço de 2,8% nas importações de carcaças e de 3,0% nas exportações no próximo ano.
No que concerne às exportações, segundo dados da Secex, de janeiro a setembro, os embarques de carne suína (industrializada e in natura) bateram recorde, registrando 862,1 mil toneladas. Isso representa um avanço de 5,3% na comparação com o mesmo período de 2023.
Preço
Segundo a Cepea/Esalq, até o final de setembro, os preços do suíno vivo avançaram 5,6% em relação ao mês anterior e 34,9% em relação ao mesmo período do ano passado, encerrando o mês em R$ 8,58.
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ABCS destaca impactos do Brasil livre de febre aftosa na suinocultura
Evento reuniu especialistas para painel que contou com a moderação da ABCS.
A Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) discutiu os impactos da conquista do status de Zona Livre de febre aftosa para a suinocultura durante a 5ª edição do Fórum Estadual da Suinocultura. O evento foi organizado pela Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais (ASEMG) junto com suas afiliadas regionais: Associação dos Suinocultores do Centro Oeste Mineiro (ASSUICOM), Associação dos Suinocultores do Vale do Piranga (ASSUVAP) e Associação dos Suinocultores do Triângulo e Alto Paranaíba (ASTAP), e aconteceu na última terça-feira (29).
A retirada da vacinação contra a febre aftosa, após 60 anos, representa um marco sanitário importante para o Brasil, que já não registra casos da doença em bovinos há quase duas décadas. Embora a vacinação seja focada nos bovinos, a doença também afeta os suínos, que se contaminados são reservatórios da doença, podendo apresentar lesões, perdas produtivas, febre e até morte súbita. Dessa forma, a suinocultura brasileira também é indiretamente beneficiada, com a proteção de mais de 44 milhões de animais, reconhecimento internacional junto a Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA), ampliação das exportações, novas oportunidades de mercado, inclusive no mercado de genética e melhoria no diagnóstico de doenças.
Para falar sobre o tema e debater os desafios de operação no setor de suínos frente ao processo de Zona Livre de Aftosa e a importância da retirada de aftosa para o mercado de suínos em Minas Gerais, o Fórum recebeu o Fiscal Agropecuário e Médico Veterinário do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Natanael Lamas Dias, Coordenador do programa de vigilância da Febre Aftosa, e a Médica Veterinária e Gerente de Serviços Veterinários na Topigs Norsvin, América Latina, Heloiza Irtes, em um painel moderado pelo analista técnico da ABCS e médico veterinário, Bruno de Morais.
Natanael explicou que estamos num momento histórico. “Talvez a mensagem mais importante disso tudo é trazer ao setor produtivo pro lado da fiscalização de forma a nos notificar caso haja uma suspeita de doença vesicular. A eficiência do do país em conseguir essa mudança de status nos abre portas comerciais para exportar para países que remuneram melhor a nossa proteína animal, como é o caso do Japão, Coreia do Sul e Canadá”. Já Heloiza utilizou essa conquista como um exemplo de como a iniciativa público-privada pode trabalhar juntos em prol dos produtores, e também trouxe a perspectiva dos consumidores, que ganham ainda mais confiança na qualidade do produto, podendo impactar no aumento de consumo.
Para Bruno, a suinocultura possui um papel crucial no cenário agropecuário, especialmente diante da retirada da vacinação contra a febre aftosa em bovinos. Ele destacou que, com a eliminação dessa vacina, os suínos se tornam ainda mais importantes como sentinelas da doença, pois não apenas são amplificadores do vírus, mas também podem apresentar sintomas que afetam a saúde e a produção. “Essa situação requer um cuidado redobrado dos produtores, que devem estar atentos às possíveis consequências dessa mudança e à importância de manter rigorosos padrões de biosseguridade para proteger tanto seus rebanhos quanto a cadeia produtiva como um todo”, concluiu.