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Suínos / Peixes

Apesar das vantagens, implementação das tilápias supermachos enfrenta resistência no Brasil

Com taxas de crescimento mais rápidas e uma alta taxa de produção de lotes monosexo masculino, que pode chegar a 100%, as tilápias supermachos oferecem um controle populacional eficaz. Além disso, a produção com essa técnica é livre de hormônios, contribuindo para a sustentabilidade da aquicultura.

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Quando a intensificação da produção de tilápias começou no Brasil, na década de 1980, foi observado um crescimento desigual entre machos e fêmeas, com uma clara vantagem para os machos. Isso se deve, em parte, ao fato de que quando os dois sexos estão juntos, durante a reprodução precoce, os animais direcionam uma parte significativa de sua energia metabólica para o desenvolvimento de espermatozoides e óvulos, em vez de direcioná-la para o crescimento muscular. Além disso, o gasto energético associado ao comportamento de corte (cortejo do macho) era considerável, o que comprometia ainda mais o crescimento muscular. Como consequência, os produtores frequentemente tinham lotes mistos, caracterizados por uma heterogeneidade significativa e baixa produtividade. Diante desse cenário, tornou-se evidente a necessidade de produzir lotes monossexuais.

Mestre em Biologia Ambiental, doutor em Genética e Biologia Molecular e pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura, Eduardo Varela: “Os marcadores moleculares ligados ao sexo têm aumentado as chances de superar os desafios de produção do supermacho” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural

Como resultado, explica o mestre em Biologia Ambiental, doutor em Genética e Biologia Molecular e pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura, Eduardo Varela, os produtores produziam lotes pouco produtivos. “Diante desse cenário se tornou evidente a necessidade de produzir lotes monossexuados para otimizar a produção e garantir uma criação mais eficiente e lucrativa”, evidenciou em sua palestra sobre ‘Tecnologia de produção de supermachos para tilapicultura’, realizada em meados de abril durante o Inovameat, um dos principais eventos de proteína animal do Paraná, promovido em Toledo, no Oeste do Paraná.

Varela menciona que entre as vantagens da tecnologia do monosexo estão a taxa de crescimento média mais elevada, devido à ausência de energia desviada para a produção de gônadas e comportamento de corte. Além disso, há a redução de interações agressivas, resultando em um ambiente de cultivo mais harmonioso, e uma maior uniformidade do tamanho no momento da despesca, o que reduz a necessidade de classificação dos peixes e minimiza o estresse durante o cultivo. “Somado a isso, a tecnologia do monosexo também previne impactos indesejáveis da maturação sexual na qualidade da carne e na aparência dos peixes”, ressalta o especialista.

Tecnologias de produção do monosexo

Entre as tecnologias de produção do monosexo, existem seis métodos distintos. O primeiro é a reversão sexual hormonal, comercialmente aplicável e de fácil execução. No entanto, suas desvantagens são significativas, como a intensiva mão de obra necessária, o custo relativamente alto, o potencial de deterioração da qualidade da água e do bem-estar animal devido aos hormônios, a necessidade de um alto nível de controle e os possíveis impactos ambientais decorrentes da fuga de organismos.

Outra técnica é a hibridização interespecífica, também comercialmente aplicável, que compartilha a vantagem de ser de fácil processamento. No entanto, suas desvantagens incluem preocupações ecológicas devido às fugas e a dificuldade de aplicação em muitas condições de produção.

O método de androgênese, embora não seja comercialmente aplicável, é adequado para espécies com machos homogaméticos. No entanto, sua aplicação não é fácil e nem sempre consistente, exigindo vigilância na seleção e manutenção de estoques.

Já a técnica de supermacho YY/GMT é comercialmente aplicável e adequada para espécies heterogaméticas, sendo rápida, consistente e amigável ao ambiente. No entanto, sua aplicação em larga escala comercial pode ser difícil e a produção de peixes pode não se adequar às expectativas dos consumidores.

E as técnicas de transgenia e edição gênica, embora promissoras, ainda não são comercialmente aplicáveis. Enquanto oferecem a possibilidade de alcançar alta consistência de homogeneidade, enfrentam desafios significativos em termos de aplicação comercial, como a dificuldade de adequação às expectativas dos consumidores e a percepção negativa em relação aos transgênicos. A edição gênica está ainda em fase de avaliação industrial.

Pesquisa de campo

Varela enfatiza que por muito tempo houve uma lacuna no avanço do conhecimento nesta área. No Brasil, essa lacuna persistiu devido à falta de aceitação da técnica pelos brasileiros na década de 90. “Embora haja poucos relatos e experiências no desenvolvimento de tilápias supermachos no país, algumas iniciativas foram realizadas no Paraná, São Paulo e no Rio Grande do Sul”, relembra.

O pesquisador afirma que a masculinização por reversão sexual hormonal é considerada uma técnica primordial para a tilapicultura. Segundo Varela, essa tecnologia extensivamente é estudada e avaliada na década de 90, com foco especial na biotransformação do hormônio no ambiente natural e nos possíveis efeitos do escape na água. “Mais de 30 esteroides foram testados nesse período, mas há uma carência de estudos claros sobre o assunto, considerando que muitos hormônios surgiram desde então. Atualmente, o hormônio amplamente usado para reversão sexual é o 17-a-metiltestosterona e seus derivados, com uma taxa de conversão de masculinização de 98%”, aponta.

Sobre as desvantagens da masculinização por reversão sexual hormonal, o doutor em Genética e Biologia Molecular cita a degradação hormonal, visto que o hormônio pode se

deteriorar durante o armazenamento ou trânsito pelo trato digestivo, reduzindo sua eficácia. “Além disso, a inconsistência na ração, com variações na concentração do hormônio, pode resultar em doses discrepantes, comprometendo a uniformidade dos resultados. Há também o risco de doses excessivas, que podem causar efeitos adversos como esterilidade ou terminação paradoxal dos peixes, devido à conversão de andrógenos em estrógenos por meio da aromatização”, informa.

Produção de tilápias supermachos

Diante desses desafios, Varela afirma que surge a necessidade de desenvolver novas tecnologias, como as tilápias supermachos (GMT), também conhecidas como tilápias geneticamente masculinas ou naturalmente masculinas.

O especialista explicou que as tilápias supermachos (GMT) são obtidas através do cruzamento entre machos XY e fêmeas XY, resultando em parte dos filhotes machos YY. “São chamados de supermachos ou geneticamente masculinos por apresentarem duas cópias do cromossomo Y”, esclarece.

Com taxas de crescimento mais rápidas e uma alta taxa de produção de lotes monosexo masculino, que pode chegar a 100%, as tilápias supermachos oferecem um controle populacional eficaz. Além disso, a produção com essa técnica é livre de hormônios, contribuindo para a sustentabilidade da aquicultura. “Esses avanços representam um passo significativo para a indústria, oferecendo soluções inovadoras e promissoras para o futuro da produção de tilápias”, exalta o pesquisador.

No entanto, Varela ressalta que o caminho até alcançar o produto final desejado é repleto de testes e desafios. Ele enfatiza que, embora pareça simples na teoria, a aplicação em escala industrial é uma tarefa complexa, especialmente em países com um modelo de produção intensiva, em que os produtores buscam resultados imediatistas. “Essa é uma das razões pelas quais o Brasil não adotou amplamente a técnica, mesmo com a eficácia já comprovada de 98% de inversão hormonal. Investir em uma técnica ainda em fase de entendimento dos processos de inversão e testes de progênie é visto como arriscado para muitos produtores brasileiros”, salienta, acrescentando que outros países têm avançado as pesquisas nesse campo. “Na Indonésia, o segundo maior produtor de tilápias do mundo, foi desenvolvida uma tilápia geneticamente melhorada supermacho. Essa iniciativa foi difundida através de programas públicos e incentivos do governo e difundida mais tarde para outros países”, expõe.

Tilápias supermachos que foram para o mercado

Entre as tilápias supermachos que chegaram ao mercado estão a linhagem Gesit, originalmente desenvolvida na Indonésia, resultado da engenharia genética da terceira geração da GIFT. Esta linhagem de tilápia foi projetada para ter uma taxa de crescimento mais rápida e maior resistência a doenças, tornando-se muito popular entre os criadores indonésios.

Outra iniciativa vem da Europa, onde uma empresa holandesa desenvolveu a tecnologia de tilápias naturalmente masculinas (NMT). Esse processo de produção é livre de hormônios, com disseminação e produção de matrizes YY. “Duas linhagens foram produzidas: a tilápia prateada, com peso médio de 800 gramas, ideal para filetagem e com características de resistência; e a tilápia red, menor e voltada para o mercado de consumo do peixe inteiro”, menciona Varela.

Essa tecnologia também foi adotada em outros países. No Egito, a tilápia NMT alcançou uma eficácia de 97%, apresentando crescimento uniforme. Nas Filipinas, a mesma tecnologia atingiu conversão de 96%, apresentando um crescimento excelente. No Quênia, a espécie alcançou uma eficácia de 96% e foi adaptada ao clima frio local. Além disso, utilizando a base genética da GIFT, foi desenvolvida uma tilápia NMT com uma eficácia de 98%, também apresentando um crescimento excelente. “Esses avanços refletem o potencial significativo dessa tecnologia para aprimorar a aquicultura em diferentes regiões do mundo”, reforça Varela.

Porque as tilápias supermachos não se disseminaram no mundo?

Varela afirma que apesar de suas vantagens competitivas, com altas taxas de crescimento e conversão alimentar, as tilápias supermachos enfrentaram desafios significativos de implementação na indústria e não se disseminaram de forma ampla no mundo. “A produção de pesquisa e desenvolvimento para tilápias supermachos remonta à década de 1990, com muitos acordos de cooperação entre países. Houve 121 relatos científicos em 25 anos, com uma taxa de cooparticipação internacional de 19%. Reino Unido, China e México lideraram o desenvolvimento, com uma média de 1,55 de publicações científicas ao ano”, menciona o pesquisador.

O ciclo de vida da tecnologia de tilápias supermachos passou por diferentes fases. Varela explica que, no primeiro período de pesquisa, a linhagem se consolidou como viável para a tilapicultura, mas no segundo período houve um vazio de avanços tecnológicos devido aos desafios de implementação na indústria, enquanto que no terceiro período surgiram novas tecnologias de apoio, como recursos genômicos e edição gênica, embarcando na tecnologia YY. “Atualmente, há uma tendência de que essa técnica seja acessória a novas frentes tecnológicas, como a edição genômica”, expõe o mestre em Biologia Ambiental.

Variação populacional

Varela diz que a existência de variação populacional no sistema de determinação sexual é um desafio adicional desta técnica, citando como exemplo a tilápia do Nilo, em que os resultados do emprego desta tecnologia mostraram uma variação genética na população, afetando a proporção de sexos. “A história da domesticação da tilápia do Nilo revela eventos de introgressão interespecífica, afetando a proporção de sexos nesta população. Contudo, os marcadores moleculares ligados ao sexo têm aumentado as chances de superar os desafios de produção do supermacho”, pontua.

O pesquisador afirma que a evolução dos genes sexuais em tilápias é fascinante e ao mesmo tempo desafiadora para ser incorporada em uma tecnologia inovadora. “A alta precisão, previsibilidade e regularidade são essenciais para mostrar à indústria sua viabilidade. A Embrapa está sendo desafiada a desenvolver este produto e verificar sua viabilidade na indústria brasileira, representando uma nova oportunidade para a aquicultura no país”, aponta Varela.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor da piscicultura brasileira acesse a versão digital de Aquicultura, que pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Suínos / Peixes

ACCS 65 anos: força e inovação na suinocultura catarinense

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Presidente Losivanio Luiz de Lorenzi: "Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses" - Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Fundada em 24 de julho de 1959, a ACCS surgiu em um momento determinante para a suinocultura em Santa Catarina. Na década de 1940, o Oeste Catarinense destacou-se na produção de suínos, impulsionado pela chegada de colonos do Rio Grande do Sul. Entre os pioneiros, Attílio Fontana, fundador da Sadia, viu o potencial da região e investiu na criação de suínos, transformando a produção local em um pilar econômico.

Inovação e melhoramento genético

Na virada da década de 1940 para 1950, a ACCS foi pioneira na introdução de práticas de melhoramento genético. Victor Fontana, sobrinho de Attílio, aplicou métodos racionais e técnicos de criação, resultando em ninhadas de leitões saudáveis e precoces. A Sadia distribuiu um fomento experimental, fornecendo matrizes e ração aos produtores que seguiram suas exigências de higiene e instalações, marcando o início de uma revolução na suinocultura.

Expansão e modernização

Nos anos 1960 e 1970, a ACCS ampliou suas atividades, implementando o registro genealógico dos suínos e promovendo a exposição de suínos que incentivavam a melhoria genética. Em 1976, sob a presidência de Paulo Tramontini, a ACCS liderou a criação da primeira central de inseminação artificial de suínos do Brasil, consolidando Santa Catarina como líder na produção de material genético de qualidade.

Evolução estrutural

A Central de Coleta e Difusão Genética da ACCS (CDG-ACCS), localizada na comunidade de Fragosos em Concórdia, representa um marco de inovação e excelência na suinocultura brasileira. Reinaugurada em 2016, a CDG-ACCS foi a primeira do Brasil a operar dentro dos padrões rigorosos de Bem-Estar Animal, incorporando as melhores genéticas do mercado e estabelecendo um alto padrão de sanidade e produtividade.

Com uma produção mensal de aproximadamente 19 mil doses de sêmen, a central não apenas impulsiona a qualidade genética dos rebanhos, mas também garante a sustentabilidade e a competitividade dos suinocultores catarinenses. O reconhecimento da CDG-ACCS como referência em produtividade e sanidade, destacado em reportagens especiais como a do Globo Rural, reforça seu papel na modernização e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina e no Brasil.

Parcerias e crescimento sustentável

Ao longo das décadas, a ACCS tem sido uma força importante na promoção e no desenvolvimento da suinocultura em Santa Catarina. Parcerias estratégicas com indústrias, cooperativas e entidades governamentais foram fundamentais para o crescimento do setor. A criação da Cooperativa Agroindustrial dos Suinocultores Catarinenses (Coasc) em 2014 exemplifica esse espírito cooperativo, ajudando produtores independentes a obter melhores condições na compra de insumos.

Desafios e superações

A ACCS não se limita a celebrar conquistas, mas também se destaca pelo seu papel de apoio em tempos de crise. A associação esteve presente em momentos de adversidade, mobilizando a classe e chamando a atenção para as necessidades e demandas dos suinocultores. Este espírito de luta e resiliência garante que os suinocultores continuem a desempenhar um papel vital na economia do país.

Uma voz ativa e presente

A ACCS se tornou uma referência, tanto para a imprensa quanto para os suinocultores. Com um site atualizado diariamente e participações ativas em comissões e eventos, a associação promove o diálogo entre produtores e especialistas, sempre inovações buscando e políticas públicas desenvolvidas ao setor.

Celebração e futuro promissor

Ao comemorar 65 anos, a ACCS reafirma seu compromisso com a inovação e a sustentabilidade do setor. O presidente Losivanio Luiz de Lorenzi destaca a importância de continuar unidos, superando desafios e construir um futuro ainda mais promissor para a suinocultura catarinense. “Que podemos continuar juntos, superando desafios e construindo um futuro ainda mais promissor para a suinocultura e aos suinocultores catarinenses,” ressalta.

A trajetória da ACCS é um exemplo de dedicação e sucesso, refletindo a força e a inovação que definem a suinocultura em Santa Catarina. Comemoramos não apenas o passado, mas também as possibilidades ilimitadas do futuro. Parabéns a todos que fazem parte dessa história!

Fonte: Assessoria ACCS
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Suínos / Peixes

Preços do suíno vivo têm movimentos distintos no Brasil

Aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate. As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Os preços do suíno vivo e da carne vêm apresentando movimentos distintos dentre as regiões acompanhadas pelo Cepea.

Segundo pesquisadores deste Centro, os aumentos foram influenciados pela firme demanda da indústria por novos lotes de animais para abate.

Esse foi o caso dos mercados independentes do suíno vivo nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

As quedas em algumas praças, por sua vez, decorreram do típico enfraquecimento da procura na segunda quinzena do mês, devido ao menor poder de compra da população, ainda conforme explicam pesquisadores do Cepea.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos / Peixes Nutrição

Especialista aponta desafios e alternativas para melhorar desempenho zootécnico dos suínos

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção.

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A qualidade nutricional dos alimentos não só influencia o desempenho dos animais, mas também afeta diretamente sua capacidade de digestão e absorção de nutrientes, bem como a quantidade de resíduos gerados. Durante o 16º Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado nesta semana no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, essa temática foi abordada pelo mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz.

O especialista vai participar do Painel Novos Desafios na produção de suínos – o que vem por aí?, em que vai tratar sobre “Onde estamos e para onde deveremos ir na área de Nutrição”. Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, o doutor em Nutrição enfatizou que quanto melhor compreendermos a qualidade dos ingredientes utilizados na formulação dos alimentos para suínos, mais eficiente será a produção dos animais e menores serão os impactos ambientais.

Penz ressalta ainda os avanços recentes na nutrição de suínos e como essas inovações impactam a eficiência alimentar, o crescimento, a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção. Aborda temas como nutrição de precisão, ingredientes alternativos, redução do uso de antibióticos, nutrigenômica, considerações nutricionais por fase de crescimento, desafios ambientais, estratégias nutricionais para minimizar o estresse térmico e oportunidades para colaboração entre a indústria, academia e o poder público. Confira!

O Presente Rural – Quais são os avanços recentes na nutrição voltada à suinocultura e como essas inovações estão impactando a eficiência alimentar, o crescimento e a saúde dos suínos?

Mário Penz – Quanto mais conhecemos a qualidade dos ingredientes que são empregados na elaboração dos alimentos para os suínos, mais eficiente se torna a produção dos animais e menores são os efeitos poluidores, que podem ser causados pela indevida digestão dos nutrientes e pelo aumento dos dejetos produzidos. Por exemplo, vários nutricionistas calculam as necessidades energéticas dos animais com base nas energias líquidas dos ingredientes, enquanto outros ainda usam energia metabolizável ou, menos comum, energia digestível, ambas menos precisas que a expressão da energia, com base no conhecimento dos valores de energia líquida dos ingredientes.

O Presente Rural – Quais são os principais desafios que os nutricionistas enfrentam atualmente na formulação de dietas para suínos e como estão sendo abordados?

Mário Penz – Continua sendo o conhecimento da real composição dos ingredientes usados nas formulações das dietas para as diferentes fases de produção.

O Presente Rural – Como a nutrição de precisão está sendo aplicada na suinocultura e quais são os benefícios em termos de otimização dos recursos alimentares e redução dos custos de produção?

Mário Penz – Nutrição de precisão tem por objetivo, sempre um pouco paradoxal, oferecer aos animais nutrientes e energia líquida, de acordo com suas necessidades, nas diferentes fases de produção. Quando se lida com nutrição de populações, em diferentes fases de produção, o que se quer chegar é o mais perto do que os animais necessitam, desconsiderando várias diferenças que podem ocorrer por idade, sexo, linhagem, ambiente, propósito de produção, etc. Essa nutrição não obrigatoriamente é “de custo mínimo”.

O Presente Rural – Quais são as tendências emergentes na formulação de dietas para suínos, como a utilização de ingredientes alternativos e a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento?

Mestre em Zootecnia, doutor em Nutrição e professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mário Penz: “Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença”. Foto: Divulgação

Mário Penz – Ingrediente alternativo é todo aquele que pode substituir os ingredientes convencionais das dietas, que no Brasil são milho e farelo de soja. Ingredientes como sorgo, milheto, farinhas de origem animal, entre outros, poderão ser empregados, desde que estejam disponíveis em quantidades relevantes, nem que seja por um período específico do ano. Além disso, é importante que se conheça a composição nutricional e energética desses ingredientes, para evitar que tenham seus valores sub ou superestimados. Levando isso em consideração, qualquer oportunidade tem que ser avaliada quanto ao seu custo e ao seu benefício, relacionados com aqueles que o milho e o farelo de soja podem trazer aos animais.

Quanto a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento, esse é um caminho sem volta. Para que não haja perda de desempenho dos animais, os profissionais deverão dar mais atenção aos princípios básicos de saúde animal (saúde intestinal) e menos na mitigação das ações microbianas deletérias. Nesse conjunto de ações, cuidado com a biosseguridade, do ambiente, das dietas empregadas, farão parte dessa nova necessidade de produção.

Sempre é mais difícil pensar em saúde do que pensar em doença. Saúde é um processo contínuo, que se mitiga todo o tempo. Doença, mesmo que seja só mitigada pelos promotores de crescimento, sugerem respostas mais rápidas, mas não obrigatoriamente com consistência. Mudar de doença para saúde é algo complexo e que requer mais conhecimento dos profissionais envolvidos na produção de suínos.

O Presente Rural – Como a nutrigenômica e outras tecnologias de ponta estão sendo exploradas para entender melhor as necessidades nutricionais específicas dos suínos e melhorar a saúde intestinal?

Mário Penz – Nutrigenômica é o conhecimento que permite a seleção específica de nutrientes que favorecem a melhor expressão gênica dos animais, permitindo, como consequência, melhor saúde e desempenho dos animais. Esse é outro caminho sem volta, especialmente quando se trata de produzir animais saudáveis e sem o uso de antibióticos. Mas, ainda todo esse conhecimento está pouco apreciado no dia a dia das produções. Entretanto, importantes informações acadêmicas estão disponíveis, que mostram que teremos que olhar o suíno não por fase, mas olhar os resultados finais, desde o início da produção dos reprodutores, que lhes dão origem.

O Presente Rural – Quais são as considerações nutricionais específicas para diferentes fases de crescimento dos suínos, desde a creche até a terminação, e como essas necessidades estão sendo atendidas?

Mário Penz – Lamentavelmente, essa pergunta é extremamente complexa, para que tenha uma resposta simples. Entretanto, tomando o risco da simplificação, os nutricionistas devem estar muito próximos dos técnicos das genéticas, para entender quais são as recomendações por eles oferecidas. Com o tempo, cada profissional vai adaptando seus referenciais, com base na sua experiência e nos resultados práticos de campo. Aqui não tem uma resposta única e a complexidade começa com a identificação que o nutricionista tem com relação ao produto final da produção. Ele está preocupado com o ganho de peso, com a conversão alimentar, com a qualidade da carcaça ou com o menor custo no frigorífico?

O Presente Rural – Quais são os aditivos alimentares desenvolvimentos mais recentemente, como probióticos, prebióticos e enzimas, para promover a saúde intestinal e melhorar o desempenho dos suínos?

Mário Penz – Essa é uma nova era na produção de suínos. Reforço que estamos saindo de uma longa fase, onde os profissionais se preocupavam e se preocupam com eventos sanitários, os mitigando com o uso de antibióticos promotores de crescimento e/ou antibióticos usados de forma preventiva ou terapêutica. Agora estamos entrando na fase da saúde animal, mais complexa, porém inevitável. Muitas são as opções para melhorar a saúde dos animais. Não há um único produto que tenha a chancela de resolver tudo! O técnico deverá ter claro o que está buscando e, com isso olhar as oportunidades disponíveis. De uma maneira geral, tenho me posicionado que nessa nova fase, tudo começa pelo uso de enzimas exógenas, como suplementos indispensáveis. Dietas bem digeridas diminuem a disponibilidade de nutrientes aos microrganismos. Depois, todas as dietas devem ser suplementadas com um antioxidante que tenha ação efetiva, para mitigar processos de oxirredução contínuos dos enterócitos. Enzimas e antioxidantes fazem uma eficiente “dobradinha”. Depois vem os demais aditivos não antibióticos. Aqui o técnico tem que saber o que quer: fortalecer o sistema imune dos animais? A integridade intestinal? A digestibilidade dos nutrientes? Colaborar na regulação da microbiota? São perguntas indispensáveis, pois nessa nova fase não há “receita pronta”. As alternativas serão customizadas, de acordo com as expectativas técnicas esperadas. Para completar, aditivos não antibióticos não estão chegando para melhorar os resultados de granjas que não deem atenção a biosseguridade, ao ambiente, ao bem-estar animal, como sempre pensamos que os antibióticos ajudam ou ajudavam. Essa nova produção animal vem para se empregada em granjas que atendem os princípios básicos de boas práticas de produção e manejo. Ou seja, a mudança de paradigma é grande. Por isso que sempre sugiro que, independente da necessidade de se acomodar a essa nova realidade, o técnico deve começar, com cautela, a entender como produzir nesse novo ambiente tendo parte de seu plantel submetido a essas novas alternativas.

O Presente Rural – Como os desafios ambientais – a redução das emissões de gases de efeito estufa e a sustentabilidade da produção de alimentos – estão moldando a pesquisa em nutrição suína?

Mário Penz – Sustentabilidade é a palavra de ordem. O grande desafio é que a sustentabilidade está baseada em três pilares – econômico/ambiental/social. Com isso, em cada ação temos que olhar como ela afeta um ou mais dos três pilares. O que é certo é que sempre será impossível ter os três pilares sendo atendidos na íntegra. A produção animal sempre buscou a sustentabilidade, mesmo antes do termo ter se consagrado pela Comissão de Bruntland em 1987, que definiu o que seria o Desenvolvimento Sustentável. Por que digo isso? Porque os produtores seguem em suas propriedades em muitos casos por três ou mais gerações. Se não fossem sustentáveis já teriam migrado, como muitos fizeram. Os produtores sempre estão perseguindo, pelos conhecimentos técnicos adquiridos, melhores resultados zootécnicos, representados por melhores conversões alimentares de seus animais. Melhor conversão animal, menos consumo de alimento e água, menor excreção de dejetos, menor poluição do ambiente, especialmente pelo nitrogênio e fósforo excretados. Tudo isso podendo também ser representado pela menor produção de CO₂. Assim, a ciência subsidia os produtores com seus conhecimentos e eles aplicam, para que sigam sendo viáveis economicamente.

O Presente Rural – Quais são as estratégias nutricionais mais eficazes para minimizar o estresse térmico em suínos durante períodos de temperatura extrema?

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Mário Penz – Não criá-los em temperaturas quentes! A nutrição pode mitigar eventos térmicos de calor, mas são pouco eficientes (reduzir proteína, aumentar a energia por intermédio da inclusão de gordura nas dietas, etc.). O uso de ambiente controlado é uma necessidade indispensável nos novos projetos suinícolas. Além disso, a curto prazo, os animais, nessas condições devem receber água fria, junto com o alimento que consomem. Imaginem uma reprodutora em lactação, que tem que comer algo em torno de 6 a 7 kg de alimento/dia e necessita tomar água com uma temperatura próxima de 15ºC e a ela é oferecida uma água com 30ºC. O que ela vai fazer? Irá comer menos! E, as consequências já sabemos. Assim, resumindo, estresse por elevada temperatura ambiente, primeiro se mitiga com água fria e depois, nos novos projetos, com a construção de galpões climatizados.

O Presente Rural – Quais são as oportunidades futuras para a colaboração entre a indústria de nutrição animal, academia e poder público para impulsionar ainda mais a inovação e o progresso na área de nutrição voltada à suinocultura?

Mário Penz – A tríade indústria, academia e poder público é indispensável se quisermos avançar mais rápido. Cada um dos três segmentos tem a sua responsabilidade. Entretanto, primeiramente cabe a indústria ser clara no que necessita para que a academia se prepare para responder os desafios. Cabe a academia entender que a indústria tem pressa em várias de suas necessidades e se colocar como disponível frente a esses desafios. Ao poder público, favorecer qualquer inciativa pertinente, colaborando com financiamentos e com normas e regulamentos que favoreçam novas descobertas.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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