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Por que monitorar os preços do leite e dos lácteos?

O crescimento econômico deriva, sim, de investimentos estruturais, como assistência técnica, melhoria em nutrição, saúde e reprodução animal, treinamento de mão de obra, adoção de ferramentas gerenciais nas fazendas e laticínios. Depende também de infraestrutura e logística. Mas tudo isso exige um ambiente institucional que favoreça a diminuição das assimetrias de informação e dos custos de transação.

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Foto: Rubens Neiva

A importância do sistema agroindustrial (SAG) do leite no Brasil é inegável. Nosso País é o quinto maior produtor de leite do mundo e nossa produção corresponde a quase 5% do total mundial, segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). As estatísticas nacionais mostram que são mais de 1,17 milhão de produtores no campo e cerca de 130 mil pessoas empregadas na indústria de laticínios (IBGE, 2017; RAIS, 2022). Os últimos dados disponíveis do Cepea indicam que o setor lácteo gerou R$ 77,1 bilhões em 2020, valor que representou 4% do PIB do agronegócio naquele ano.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Apesar da grande importância que o setor tem no agronegócio brasileiro, ainda há gargalos expressivos para seu desenvolvimento, com relação a produtividade no campo, qualidade do leite cru, eficiência dos laticínios e, finalmente, competitividade brasileira. Isso fica claro ao se observar que o Brasil, embora tenha grande potencial na produção de proteína animal, não é autossuficiente na produção de lácteos, o que torna o País dependente de importações. Em 2023, os volumes adquiridos no mercado externo triplicaram e pressionaram as cotações internas. Se entre 2003 e 2022 as importações representavam, em média, 4% da captação industrial nacional, em 2023, elas passaram a corresponder por 9%.

A menor competitividade dos lácteos brasileiros frente aos estrangeiros não é a causa da fragilidade do setor, mas, sim, o sintoma mais agudo de uma estrutura produtiva que ainda carece de investimentos específicos e que engendra e é engendrada por estratégias de negócios apoiadas em estruturas de governança pouco coordenadas e focadas sobretudo nos retornos de curto prazo.

Pesquisas do Cepea indicam que as estruturas de governança que regem a aquisição do leite cru são fortemente influenciadas por incertezas, sendo as principais a dificuldade dos agentes em avaliar seu desempenho e a imprevisibilidade das flutuações de oferta e demanda, o que, por sua vez, se reflete em elevada volatilidade dos preços do leite cru.

Em termos práticos, essa incerteza torna a avaliação do contexto de mercado, a tomada de decisão e as ações dos agentes mais propensas à divergência. Isso significa dizer que a leitura do mercado pode destoar entre os agentes da cadeia produtiva, como se produtores tivessem acesso a uma foto do mercado e os laticínios, a outra. Essa divergência pode ocorrer até mesmo entre os agentes de um mesmo segmento, o que explicaria condutas diferentes para a organização dos negócios e para os investimentos, por exemplo.

De qualquer maneira, esse contexto de incerteza eleva as dificuldades de alinhamento dos segmentos da cadeia produtiva, levando a uma baixa intensidade de coordenação entre eles. As relações pouco coordenadas, por sua vez, dificultam a geração e a distribuição do valor dentro da cadeia produtiva, elevando os custos de transação. Com isso, fica cada vez mais difícil de se atingir objetivos estratégicos e comuns ao desenvolvimento do SAG.

Foto: Shutterstock

A redução da incerteza ocorre a partir da diminuição das assimetrias de informação. Quando fatores ligados à incerteza passam a ser monitorados e mensurados, criam-se informações. A distribuição e o acesso homogêneos a essas informações entre os agentes do SAG têm o potencial de transformar a incerteza em risco. E o risco, ao contrário da incerteza, pode ser gerenciado.

É aqui, então, que a pergunta feita no título desse texto é respondida: monitorar e mensurar aspectos de um mercado são importantes para diminuir a incerteza, gerar informação e reduzir os custos de transação. É nesse sentido que se estrutura a missão do Cepea de fornecer dados que possam orientar as estratégias dos agentes de mercado e contribuir para uma leitura mais precisa do curto e longo prazo.

Em entrevista realizada com 33 indústrias de laticínios, que captam quase 24% de todo leite brasileiro, quase 88% dos entrevistados concordam que as informações do Cepea são importantes para avaliar desempenho, e 72,8% concordaram que são informações relevantes para serem usadas como referência de precificação.

Ainda dentro da porteira, o Cepea monitora os custos de produção, identificando os coeficientes técnicos das fazendas modais brasileiras e analisando as variações dos preços dos insumos da atividade. No segmento produtivo, é divulgado mensalmente o indicador do preço do leite ao produtor. Para se ter ideia da extensão da rede de colaboradores que compõem esse projeto, a Média Brasil é calculada com base em mais de 48 mil dados mensais. Quinzenalmente, os colaboradores recebem os preços da pesquisa do leite spot, para, assim, acompanhar as movimentações do preço do leite cru no campo. No segmento industrial, a pesquisa do Cepea monitora quinzenalmente preços dos lácteos negociados com canais de distribuição. Para o estado de São Paulo, os indicadores são semanais, no caso do leite em pó fracionado (400g), e diários, nos casos do leite UHT e queijo muçarela.

Aqui, vale destacar o motivo da escolha destes três lácteos como indicadores para a pesquisa do Cepea. Estima-se que aproximadamente 30% de todo leite cru seja utilizado na produção de UHT; outros 30%, na fabricação de leite em pó; e mais 30%, na produção de queijos, com a muçarela sendo a mais comum. Esses lácteos são considerados commodities, mas possuem estratégias de fabricação e comercialização distintos. Tanto o UHT quanto o leite em pó são produtos que não necessitam de refrigeração e têm prazo de validade mais longo, permitindo aos laticínios estocagem e expansão do mercado de atuação. Por outro lado, a produção desses itens demanda um leite de qualidade superior, com alta estabilidade térmica. Já no caso da muçarela e dos queijos, em geral, há uma maior flexibilidade quanto à qualidade da matéria-prima. A variabilidade da qualidade faz com que haja maior impacto da marca na negociação. Como a muçarela é um produto que tem data de validade mais limitada, sendo dependente de refrigeração para a logística e venda, é necessário que a produção ocorra por encomenda.

A cadeia do leite é, assim, monitorada pela equipe do Cepea para que se possa compreender a geração de valor entre os segmentos. A síntese mensal desses resultados é publicada no Boletim do Leite, mas os participantes da rede de colaboradores do Cepea recebem outros informativos também.

O preço não é só uma cifra: ele é também uma informação, que auxilia os agentes de um SAG a mensurar seu desempenho, a oferta, a demanda e os impactos de diferentes estratégias que eles podem adotar para gerir seus negócios. Ao se munirem de informação, os agentes da cadeia do leite podem não apenas compreender melhor o cenário atual, mas se prepararem para cenários futuros. É essa constante adaptação, no curto e longo prazos, que possibilita a resiliência dos negócios, mesmo diante das adversidades do mercado.

Esse texto busca relembrar o papel da informação no desenvolvimento do agronegócio. O crescimento econômico deriva, sim, de investimentos estruturais, como assistência técnica, melhoria em nutrição, saúde e reprodução animal, treinamento de mão de obra, adoção de ferramentas gerenciais nas fazendas e laticínios. Depende também de infraestrutura e logística. Mas tudo isso exige um ambiente institucional que favoreça a diminuição das assimetrias de informação e dos custos de transação. Por isso, é preciso que a sociedade apoie, colabore, financie e valorize as iniciativas que geram informações sobre as cadeias produtivas.

Fonte: Por Natália Grigol, pesquisadora da equipe leite do Cepea

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Cooperado da Coopavel é reconhecido entre os melhores do mundo na pecuária de leite

Geraldo não apenas eleva o padrão da pecuária de leite, mas também inspira outros produtores rurais a buscar inovação e eficiência em suas atividades.

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Cooperado da Coopavel, Geraldo Tomazzi - Fotos: Divulgação/Coopavel

Geraldo Tomazzi, cooperado da Coopavel e morador Três Barras do Paraná, recebeu recentemente notícia de um reconhecimento internacional à sua dedicação e inovação na pecuária de leite. Thiago Ernesto, representante da DeLaval, entrou em contato para informar que a propriedade de Geraldo havia conquistou uma das dez melhores posições do mundo em um ranking da multinacional que avalia propriedades rurais dedicadas à produção de leite com robôs de ordenhas.

“Essa conquista é um exemplo do comprometimento e da es realizado pelo Geraldo. Ele se tornou um modelo para a Coopavel e para toda a região Oeste, hoje um dos maiores centros produtores de leite do Paraná”, destaca o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, ressaltando a importância dessa vitória do pecuarista de Três Barras para o setor.

Rankings anteriores

Geraldo já havia se destacado em rankings anteriores da DeLaval, ocupando a quinta posição no Brasil em 2022 e a sétima em 2023. Mas em julho de 2024, a propriedade dele figurou entre as dez melhores do mundo (terceiro melhor desempenho em ranking global da multinacional), um feito incrível considerando que, no Brasil, mais de 400 propriedades utilizam robôs na produção de leite, enquanto que no mundo são mais de 50 mil.

170 animais

Há três anos, Geraldo adotou a ordenha robotizada em sua propriedade. Com dois robôs, cada um destinado a uma vaca por vez, a ordenha de cada animal leva em média seis minutos. A implementação dessa tecnologia trouxe diversas vantagens, diz o pecuarista, como a automação de tarefas que antes exigiam mão de obra intensiva. Atualmente, apenas seis membros da família se dedicam à atividade. Se ainda utilizasse métodos convencionais para a ordenha de todo o plantel então seriam necessários quatro colaboradores a mais.

Indicadores

A adoção dos robôs permite também o registro detalhado de informações de cada animal. Os dados são armazenados em um banco de específico que o pecuarista emprega para aprimorar continuamente os resultados. Hoje, a produção diária de leite na propriedade de Geraldo alcança 6,6 mil litros, evidenciando o sucesso da modernização adotada.

Com essa conquista, Geraldo não apenas eleva o padrão da pecuária de leite, mas também inspira outros produtores rurais a buscar inovação e eficiência em suas atividades, destaca Dilvo Grolli. “Nada mal para quem começou, em 2005, com apenas 12 novilhas”, recorda o cooperado que virou referência em produtividade e qualidade em pecuária de leite. “Sou muito grato por essa conquista, contudo quero fazer um reconhecimento à minha família que sempre esteve ao meu lado em todas as etapas de implantação e de aprimoramento da atividade”.

Fonte: Assessoria Coopavel
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Alta nos preços indicam virada de ciclo; Indicador do boi volta a bater R$ 300

Cenário indica que essa marca reflete principalmente a baixa oferta de animais para abate. Do lado da demanda, as exportações seguem aquecidas em um contexto mundial de oferta limitada.

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Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O Indicador do boi gordo Cepea/B3 fechou a R$ 300,30 nessa quarta-feira, 16, conforme levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Há exatos 20 meses (desde o dia 16 de fevereiro de 2023) que o Indicador não batia na casa dos R$ 300 – série nominal, sem considerar a inflação do período.

Pesquisadores do Cepea indicam que essa marca reflete principalmente a baixa oferta de animais para abate. Do lado da demanda, as exportações seguem aquecidas – num contexto mundial de oferta limitada. Já as vendas no mercado doméstico dão sinais de enfraquecimento, sobretudo diante das recentes valorizações da carne, mas, como a oferta é relativamente pequena, os preços no atacado seguem firmes.

Segundo pesquisadores do Cepea, as últimas semanas têm marcado uma virada do ciclo pecuário brasileiro. A intensidade e a duração das altas dos preços da carne, do boi e demais categorias animais vêm surpreendendo, pode-se dizer, todos os analistas. E essa mudança significativa das cotações do boi tem impactado a indústria. Mesmo com a carne em elevação, cálculos do Cepea mostram que a margem dos frigoríficos diminuiu.

Os valores negociados na B3 até agosto deste ano dão uma ideia da distância entre o que operadores estavam estimando para esta entressafra e os patamares que têm se confirmado. Em meados de agosto, o contrato Outubro/24, por exemplo, era negociado por volta de R$ 241. E, nesta semana, o ajuste chegou à casa dos R$ 310, fechando a R$ 308,65 nessa quarta, diferença de 28% em dois meses.

No mercado físico, a alta foi praticamente igual. Nesses mesmos dois meses (desde 15 de agosto), o Indicador do Boi Cepea/B3 avançou 29%, refletindo negócios no mercado paulista que saíram da casa dos R$ 233, em média, para os R$ 300 atuais. No mesmo período, a carne com osso no atacado da Grande São Paulo se valorizou 28,1%, passando da média de R$ 16,40/kg para R$ 21,01/kg nessa quarta – preço à vista da carcaça casada bovina.

Dados do Cepea mostram que as valorizações da arroba e da carne nos últimos dois meses são semelhantes, mas, quando analisadas as médias mensais, constata-se que, até o dia 16, o boi gordo no estado de São Paulo (Indicador Cepea/B3) esteve em R$ 292,19, aumento de 14,4% em relação à média de setembro. Para a carcaça casada bovina negociada na Grande São Paulo, o acréscimo foi de 11,7%, com o quilo na média deste mês em R$ 20,05 à vista.

Com isso, a diferença entre o “boi casado” (15 quilos de carcaça casada) no atacado da Grande São Paulo e a arroba do boi paga ao pecuarista paulista (Indicador Cepea/B3) diminuiu, impactando a margem dos frigoríficos de setembro para outubro.

Na primeira quinzena deste mês, a diferença entre os valores médios da arroba de boi (R$ 291,45) e 15 quilos da carne (R$ 299,55) esteve em R$ 8,10. Na primeira quinzena de setembro, a arroba de carne superou a de boi em R$ 15,19. De janeiro a setembro deste ano, considerando-se os efeitos da inflação pelo IGP-DI de setembro/24, a diferença média entre os preços do boi e da carne em SP foi de 12,76 Reais, com pico (carne valendo mais que arroba) de R$ 15,23 em junho e mínima de R$ 7,93 em janeiro – semelhante à atual.

Segundo pesquisadores do Cepea, frigoríficos tentam resistir o quanto podem na abertura de cotações maiores aos pecuaristas, sobretudo aquelas unidades de abate que priorizam o mercado interno. As compras em regiões mais afastadas da planta de abate, a possibilidade de abater fêmeas no lugar de bois para atender ao mercado chinês e também a entrada de novos lotes de confinamentos, a maior parte negociada antecipadamente, são estratégias usadas para aliviar a pressão por compras de boi no spot em determinadas praças. Mesmo assim, a oferta limitada de animais prontos para abate é generalizada e tem tido peso maior, resultando em novos aumentos de preços na maioria das regiões acompanhadas pelo Cepea.

Nessa quarta, as negociações em São Paulo oscilaram entre R$ 294 e R$ 312 (valores à vista; já descontado o Funrural), e o avanço do Indicador na parcial de outubro chega a 9,5%. Negócios acima de R$ 290 têm sido captados também nos estados do Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Goiás, sendo que nestes dois últimos estados há registros inclusive na casa dos R$ 300. No mercado de carne, a carcaça casada bovina com osso no atacado da Grande São Paulo acumula acréscimo de 12,4% na parcial deste mês, com média à vista de R$ 21,01kg no dia 16.

Fonte: Assessoria Cepea
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Prepare-se: saiba como o confinamento de gado vai se comportar nos próximos meses

Tendência é que, após um período de chuvas atrasadas, o confinamento comece a estabilizar com a seca, o que possibilita recuperar parte do desempenho perdido e ajustar a lotação dos animais.

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Fotos: Divulgação/Marfrig

Nos últimos anos, a intensidade das variações climáticas tem se mostrado uma constante preocupação para o confinamento de gado de corte. Ondas de frio e calor mais intensas, junto com padrões de chuva alterados, têm imposto desafios significativos à gestão das propriedades rurais, exigindo ajustes estratégicos nas práticas de manejo.

O impacto dessas variações climáticas é direto e severo sobre os animais confinados. As mudanças bruscas no clima não apenas afetam o bem-estar dos bovinos, mas também influenciam o desempenho e os custos operacionais das propriedades. Este ano, por exemplo, observou-se um atraso na chegada das chuvas, o que afetou o início do giro de confinamento.

Tradicionalmente, o período de chuvas mais concentradas vai de novembro a março, e qualquer alteração nesse padrão pode levar a uma queda no desempenho dos animais, uma vez que eles gastam mais energia para lidar com as condições adversas. “A chuva tardia e fora do período esperado resulta em desgaste adicional de energia pelos bovinos, que têm que se adaptar às condições climáticas desfavoráveis. Esse fenômeno leva a um aumento da ingestão de ração e, consequentemente, nos custos com nutrição. O manejo precisa ser ajustado, com melhorias na formulação da dieta para atender às novas necessidades energéticas dos animais e compensar o impacto das variações climáticas”, detalha o administrador com MBA em Agronegócio e gerente geral de Confinamento da MFG Agropecuária, Vagner Lopes, em entrevista exclusiva para o Jornal O Presente Rural.

Com a expectativa de uma seca mais prolongada no final do ano, o confinamento poderá apresentar um ciclo mais prolongado. “A tendência é que, após um período de chuvas atrasadas, o confinamento comece a estabilizar com a seca, o que possibilita recuperar parte do desempenho perdido e ajustar a lotação dos animais”, expõe.

A realidade dos últimos anos tem mostrado que, dependendo da região, a exemplo do Mato Grosso, o ciclo das chuvas e a entrada tardia dos animais no confinamento têm efeitos diretos sobre o manejo. Segundo Lopes, a expectativa é que, com a retomada das chuvas em novembro, a lotação dos confinamentos possa ser mantida e o giro estendido, aliviando o impacto das variações climáticas no sistema.

Dificuldades nutricionais e sanitárias 

Quando o clima é mais úmido ou seco, é preciso ajustar a formulação da dieta para garantir que os animais recebam a nutrição adequada. A matéria seca da dieta pode oscilar, o que adiciona um desafio extra ao manejo nutricional. No entanto, segundo Lopes, o desafio sanitário pode ser ainda mais crítico. “As amplitudes térmicas e inversões de temperatura aumentam o risco de pneumonia bovina. A combinação de calor intenso durante o dia e frio durante a noite contribui para essas condições adversas”, aponta o administrador, mencionando que para enfrentar esses problemas, os pecuaristas têm intensificado o uso de vacinas respiratórias e adotado técnicas de manejo sanitário mais rigorosas.

Além das dificuldades nutricionais e sanitárias, Lopes diz que os produtores enfrentam também problemas com a escassez de água. Segundo ele, secas severas têm reduzido a capacidade das represas e nascentes, obrigando muitos pecuaristas a investir em poços e outras soluções.

Encurtamento dos ciclos na pecuária

A pecuária tem avançado no encurtamento dos ciclos de produção, impulsionada por inovações em melhoramento genético e práticas de manejo. Hoje, as empresas de melhoramento genético estão desenvolvendo animais geneticamente modificados para reduzir o tempo necessário para o abate. Lopes destaca que a demanda crescente da China por animais mais jovens, de até quatro dentes, tem acelerado essa tendência.

“No passado, o ciclo de produção de um bovino podia durar quatro a cinco anos antes do abate. Atualmente, esse ciclo foi reduzido para cerca de dois a dois anos e meio”, ressalta o profissional, enfatizando que esse avanço é resultado de técnicas aprimoradas de manejo, melhoramento genético e avanços na nutrição e sanidade dos animais.

Contudo, apesar da redução do ciclo, que resulta em animais abatidos com dois anos e meio a três anos, Lopes diz que o peso de abate é mantido próximo ao peso de animais mais velhos. “Isso é possível devido às melhorias na genética e no manejo, que garantem que o peso final do animal seja alcançado mais rapidamente, sem comprometer a qualidade”, salienta.

Custos de produção em queda

O setor pecuário envolveu um período de custos elevados entre 2022 e 2023, uma consequência direta dos impactos da pandemia e de outros fatores econômicos globais. No entanto, em 2023, o cenário começou a mudar, com uma redução nos custos de produção, trazendo um alívio aos produtores.

Um exemplo claro dessa queda está no preço do milho, que em 2022 chegou a ser cotado a R$ 100 a saca nas principais praças do Mato Grosso. Em 2023, o preço caiu e se estabilizou entre R$ 50 e R$ 55, refletindo também no mercado de São Paulo. A soja seguiu uma trajetória semelhante: após atingir recordes de preço, com a saca cotada a R$ 200, em 2023 os valores caíram para uma média entre R$ 125 e R$ 128. “Essa estabilização nos preços dos principais insumos trouxe uma manutenção nos custos de produção, especialmente na alimentação e sanidade animal”, expõe Lopes, enfatizando que a oscilação tem sido mínima, com variações de apenas 1% a 2% para cima ou para baixo, dependendo da formulação das dietas e do uso de produtos alternativos, como subprodutos de usinas de etanol, por exemplo.

Lopes diz que o custo de produção de uma arroba de boi também diminuiu. No auge da crise, segundo ele, o custo chegou a R$ 240, mas em 2023 caiu para entre R$ 190 e R$ 200. Essa redução estabilizou o cenário para 2024, onde o custo tem se mantido entre R$ 195 e R$ 200 por arroba, criando um ambiente favorável para o uso de confinamento como ferramenta de terminação de animais. “Com a estabilidade nos custos de produção e um nível alto nos preços de venda, a rentabilidade do produtor aumentou. Hoje, um produtor que gasta cerca de R$ 200 para produzir uma arroba pode vender até R$ 250, dependendo da região, gerando uma margem de R$ 50 por arroba. Para um animal que produz oito arrobas, isso representa uma margem de R$ 400, um valor que traz segurança e opções para novos investimentos”, evidencia o profissional.

Além disso, Lopes afirma que os produtores têm adotado cada vez mais ferramentas de mercado para garantir essa rentabilidade, como o travamento de preços na bolsa, que ajuda a proteger o valor da produção contra oscilações indesejadas. “Comparado a 2022, um ano de grandes volatilidades e desafios, o setor pecuária de corte está voltando a uma normalidade, embora as margens não sejam tão expressivas quanto nos tempos em que o boi era vendido por R$ 1,5 mil para a China. No entanto, a margem atual de R$ 400 por boi ainda é satisfatória e representa um respiro para os pecuaristas”, reforça.

Aumento do abate de fêmeas e suas consequências para o mercado de bezerros

Administrador com MBA em Agronegócio e gerente geral de Confinamento da MFG Agropecuária, Vagner Lopes: “Apesar de uma possível elevação nos custos de produção no segundo semestre de 2024, os custos permanecem inferiores ao valor de venda, garantindo margens atrativas aos pecuaristas” – Foto: Arquivo Pessoal

Nos últimos anos, o setor pecuário tem registrado um aumento significativo no abate de fêmeas. Do ano passado para 2024, houve um crescimento de 28% no abate de matrizes, o que representa uma tendência de redução de vacas reprodutoras no campo. Em termos médios, esse crescimento reflete um aumento geral de 21% no abate de fêmeas.

Esse movimento, no entanto, traz consigo desafios importantes para a produção de bezerros. “A redução no número de matrizes disponíveis tem impacto direto na capacidade de produção de bezerros. Com menos matrizes, há uma dificuldade crescente em manter a oferta de bezerros no mercado, o que pode elevar o preço do animal nos próximos meses”, aponta.

De acordo com Lopes, muitos produtores optaram nos últimos anos por abater fêmeas devido à desvalorização dos bezerros. “Em alguns momentos, a relação de troca chegou ao ponto em que um boi gordo equivalia ao valor de dois bezerros. Com essa desvalorização, os criadores planejaram reduzir o número de vacas reprodutoras em seus rebanhos, levando ao descarte de matrizes”, afirma o administrador.

No entanto, com o aumento no abate de fêmeas, a oferta de bezerros caiu drasticamente, e a demanda por esses animais começou a subir novamente. “Esse aumento na demanda, aliado à oferta reduzida, resultou em uma valorização do preço dos bezerros. Consequentemente, muitos produtores voltaram a reter matrizes para aumentar a produção de bezerros”, menciona Lopes.

Esse processo de retenção, no entanto, leva tempo. Lopes explica que uma vaca prenha precisa de nove meses de gestação para dar à luz, e o bezerro leva entre seis a sete meses para desmamar e estar pronto para o mercado. “Os bezerros produzidos agora só estarão disponíveis para venda no final de 2025”, alerta.

Nesse cenário, o profissional diz que deve haver uma escassez de bezerros em 2025 no mercado, o que deve pressionar ainda mais os preços para cima. “A relação de troca, que havia chegado a 1,8 a 2, pode cair para 1,4 a 1,5, conforme o valor dos bezerros sobe. Atualmente, os bezerros estão sendo cotados entre R$ 900 e R$ 1,8 mil, mas é provável que esse valor ultrapasse os R$ 3 mil devido à alta demanda e à oferta limitada causada pelo abate de matrizes nos anos anteriores”, revela.

Expectativas até o fim do ano

O segundo semestre de 2024 apresenta um cenário otimista para a pecuária, especialmente na atividade de confinamento. Com custos de produção relativamente baixos, tanto em termos operacionais quanto alimentares e sanitários, o setor prevê uma manutenção dos preços da arroba do boi gordo, atualmente em torno de R$ 250. “Apesar de uma possível elevação, os custos permanecem inferiores ao valor de venda, garantindo margens atrativas aos pecuaristas”, afirma Lopes.

No entanto, as condições climáticas preocupam. Com a previsão de um verão mais quente e um atraso nas chuvas, a qualidade das pastagens pode ser comprometida, forçando muitos pecuaristas a antecipar o confinamento dos animais. “Pastos secos e escassez de água são fatores que reduzem o peso dos animais, tornando o confinamento uma estratégia fundamental para evitar perdas”, menciona.

Mesmo com uma grande oferta de animais confinados, Lopes afirma que a tendência é que os preços não caiam, devido à redução no abate de fêmeas, o que ajuda a manter a estabilidade no mercado. “Além disso, o mercado futuro oferece oportunidades para trabalhar preços e garantir resultados, o que aumenta a confiança dos pecuaristas”, reforça.

Quanto à reposição de bezerros, o cenário é de alerta. Com a relação de troca caindo de 1,6 para 1,4, a recomendação de Lopes é que os pecuaristas façam um ajuste rápido, antes que os preços aumentem e a oferta diminua. “A expectativa para 2025 é de continuidade desse cenário, com custos estáveis e um nível alto nos preços do boi, o que deve manter as margens da pecuária equilibradas”, estima.

Boi Europa e Boi China: pecuarista ganha mais por seguir padrão

No mercado pecuário, a classificação de animais como Boi Europa e Boi China desempenha um papel importante para a exportação de carne bovina, com cada uma dessas categorias atendendo a requisitos específicos para diferentes mercados internacionais. Pecuaristas estão apostando também nesse nicho para faturar mais.

O Boi Europa é um animal rastreado desde a sua origem, o que significa que todo o histórico de vida do animal é documentado, desde o seu nascimento até a chegada ao confinamento e sua vida dentro da propriedade. “Essa rastreabilidade é fundamental para atender às exigências da União Europeia, que exige a comprovação detalhada da vida do boi, incluindo informações sobre onde ele nasceu, em quais fazendas passou, o que consumiu e quais tratamentos recebeu ao longo da vida. Essa rastreabilidade garante que o boi seja habilitado para exportação para o mercado europeu”, enfatiza Lopes.

Para os pecuaristas, essa habilitação traz um incentivo financeiro. Os frigoríficos, que são os principais compradores desses animais, pagam uma bonificação por boi habilitado para a Europa, geralmente em torno de R$ 3 a mais por arroba em comparação com o boi comum. “Essa bonificação é oferecida porque o mercado europeu valoriza a carne proveniente de animais com rastreabilidade, permitindo que o frigorífico venda a carne a preços mais elevados na Europa”, ressalta o profissional.

Por outro lado, o Boi China é um animal destinado ao mercado chinês, que possui critérios diferentes. A China exige que o boi seja abatido com até quatro dentes de idade, o que corresponda a uma faixa etária de aproximadamente dois anos e meio a três anos. Além disso, é necessário que o animal tenha toda a documentação comprobatória para atestar sua idade e garantir que ele atenda aos requisitos do mercado chinês.

Assim como ocorre com o Boi Europa, Lopes diz que o Boi China também recebe uma bonificação do frigorífico, que pode chegar a R$ 10 a mais por arroba em comparação com animais não habilitados para a China. “Essa bonificação é um incentivo para que os pecuaristas entreguem animais jovens, criados e recriados de forma eficiente, com melhoramento genético, para atender à demanda do mercado chinês. Para um animal de abate com 20 arrobas, essa bonificação pode resultar em um ganho adicional de R$ 200, o que representa uma receita expressiva para o pecuarista”, menciona.

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Fonte: O Presente Rural
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