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Perdas entre a colheita e a venda de grãos representam um desafio constante ao setor agrícola brasileiro
Somente no transporte são deixados pelo caminho até quatro sacos por carga.

As perdas de alimentos que se verificam entre a colheita e a venda no varejo representam um desafio constante ao setor agrícola brasileiro, que prejudica tanto a segurança alimentar quanto a geração de renda no campo. Com mais de três décadas de atuação na área do pós-colheita e com profundo conhecimento da forma segura e eficaz de armazenamento da produção de grãos, o técnico agropecuário, administrador com pós-graduação em Gestão Agroindustrial e consultor, Claudio Alfonso dos Santos, ressalta em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural que a cadeia produtiva não dá a devida atenção e importância a forma de armazenagem dos grãos. “Esse é um tema ainda pouco debatido, mas que tem uma significância muito grande na perda de receita para o produtor”, afirma Santos.

Técnico agropecuário, administrador com pós-graduação em Gestão Agroindustrial e consultor, Claudio Alfonso dos Santos: “O que o produtor precisa entender é que ele não perde grão, ele perde é dinheiro, porque quando a cultura está dentro do silo ela se transforma em dinheiro” – Foto: Jaqueline Galvão/OP Rural
A falta de conhecimento técnico, monitoramento e de treinamento dos profissionais que atuam neste setor estão entre os principais motivos para que o armazenamento de grãos no Brasil seja pouco debatido em congressos e seminário do agronegócio. “Até porque quem trabalha com armazenamento da produção agrícola desconhece o que é necessário monitorar para manter os grãos em excelentes condições. Não temos uma programação de como receber bem uma safra, o que nos falta é fazer a gestão do pós-colheita. No momento em que o produtor começar a fazer essa gestão vai passar a ter uma dimensão das perdas que estão ocorrendo em cada etapa da colheita. O que o produtor precisa entender é que ele não perde grão, ele perde é dinheiro, porque quando a cultura está dentro do silo ela se transforma em dinheiro”, enfatiza.
Monitoramento
O profissional orienta que o monitoramento da safra deve começar desde o ponto de maturação fisiológica do grão, independente da cultura. “Esse é o momento que o produtor vai ter o maior potencial de ganho. Esse trabalho segue durante o transporte e no descarregamento na moega, momento em que é feita nova medição para mensurar a umidade dos grãos, para então saber a perda real da carga”, expõe Santos.
Conforme o especialista, o grau ideal de maturação do milho é 25%, da soja é 18% e do trigo é 20%. “Quando essas culturas atingirem esses níveis de umidade podem ser colhidas. Hoje dispomos de tecnologias para secar o grão e durante o processo de secagem, se feito de forma correta, o produtor não terá perda”, menciona o técnico agropecuário.
Experimentos dimensionam perdas
Em um experimento realizado em uma lavoura de arroz, Santos diz que houve perdas de 5% da colheita em função do armazenamento inadequado dos grãos. “O produtor colheu 260 mil sacos de arroz, com preço médio da saca a R$ 100. Se ele teve uma perda de 20 mil sacos de arroz, gerou um prejuízo financeiro de R$ 2 milhões. Contudo, o produtor permaneceu alheio a essa questão, uma vez que deixou de realizar o monitoramento de entrada do produto no armazém, resultando na ausência de controle sobre as perdas”, avaliou Santos, acrescentando: “Temos muitos casos semelhantes, nos quais os produtores perdem peso dos grãos devido à falta de manejo adequado da aeração, contribuindo para o aumento da temperatura dentro dos silos. Essa falta de atenção aos detalhes impacta consideravelmente os resultados financeiros desses agricultores”.
Em um segundo teste, Santos envolveu uma quantidade menor de grãos, cerca de 30 mil sacos de arroz. A massa do grão foi guardada a uma temperatura de 25ºC, o que levou à perda de 402 sacos de arroz. “Se realizarmos os cálculos, considerando o valor de R$ 100 por saco, a perda monetária totalizou R$ 42 mil”, revela Santos, ampliando: “Uma investigação revelou que o problema estava relacionado ao dimensionamento inadequado dos aeradores do armazém, um erro de projeto que poderia ter sido evitado com uma gestão mais eficaz e cuidadosa”, reforça.
Esses experimentos ressaltas a importância da gestão e monitoramento constante das atividades agrícolas. “Uma negligência aparentemente pequena pode resultar em perdas substanciais ao longo do tempo”, pontua o profissional, contando que em suas consultorias incentiva os produtores a adotarem abordagens mais estruturadas para o armazenamento e monitoramento de suas colheitas, a fim de minimizar perdas e maximizar seus ganhos no competitivo mercado agrícola.
Grãos que ficam no caminho

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR
Toda carreta parte de algum armazém, sendo obrigatório que os funcionários encarregados do carregamento realizem uma inspeção minuciosa na carroceria. Essa prática visa evitar a perda de grãos durante o transporte. A orientação é clara: ao identificar qualquer dano é essencial que o funcionário informe imediatamente o motorista para que as medidas de correção sejam tomadas. No entanto, o cenário atual revela uma lacuna preocupante, já que os funcionários encarregados do carregamento carecem de formação adequada nesse processo. “Na maioria das vezes essa inspeção não é nem realizada, o que faz com que parte da carga fique pelo caminho. É fundamental implementar um treinamento eficaz e uma comunicação clara para orientar os funcionários sobre os procedimentos a serem seguidos, a fim de evitar desperdícios”, afirma Santos.
O peso total de produto a ser transportado por uma carreta varia conforme o tamanho do veículo, alternando entre 30 e 50 toneladas, embora, em geral, a carga completa raramente chega ao porto de destino. Por exemplo, um caminhoneiro que carregou cerca de 30 toneladas de soja frequentemente vai enfrentar uma perda de aproximadamente 3 a 4 sacos durante o trajeto. Com a cotação atual a R$ 144,26 no Ibovespa, esse volume se traduz em uma perda de receita de até R$ 577,04.
No entanto, vale destacar que a maior fonte de perda reside na falta de compreensão dos processos pós-colheita. “Investir em conhecimento e treinamento contínuo é fundamental para melhorar os resultados e reduzir as perdas ao longo da cadeia de transporte e armazenamento de grãos”, pontua Santos.
Etapas de monitoramento
Após determinar o ponto ideal de umidade dos grãos, a colheita pode ser iniciada. Em seguida, os grãos são enviados para a unidade armazenadora, passa pela moega a fim de realizar uma pré-limpeza e remover as impurezas em excesso, resultando em grãos mais puros. No entanto, Santos diz que é nesse estágio que o produtor começa a enfrentar perdas financeiras, uma vez que muitos armazéns negligenciam a presença de grãos aproveitáveis entre as impurezas. Este cenário aponta para um desafio de manejo, ao serem usadas telas inadequadas para a seleção do produto, levando à perda de grãos devido à triagem incorreta, que acaba direcionando esses grãos como subprodutos. “Essa perda não é apenas
Para evitar esses problemas, é crucial contar com profissionais especializados e implementar monitoramento rigoroso tanto do produto direcionado como impureza, quanto das próprias impurezas que podem entrar no armazém. No entanto, esse monitoramento não é sem custos, uma vez que consome energia elétrica e mão de obra. “Às vezes por medo ou inexperiência, os funcionários colocam no equipamento uma carga menor que sua capacidade, resultando em ineficiência operacional e, por consequência, em prejuízos para o produtor”, menciona o consultor.
O desperdício no pós-colheita transcende a perda de grãos, impactando na eficiência operacional do processo. “Se a máquina é de 50 toneladas/hora é necessário que sejam despejadas 50 toneladas de grãos a fim de seguir a capacidade das máquinas para garantir o rendimento esperado”, assinala, enfatizando: “É urgente que haja uma mudança de cultura organizacional nos armazéns e esse é um processo de longo prazo, sem soluções imediatas. Essa mudança para ocorrer em todas as etapas – desde o plantio até o armazenamento dos grãos – pode levar até três anos”.
Santos ressalta que todos os participantes do processo, desde os profissionais até os produtores, devem compreender que é fundamental entregar um produto saudável no armazém. Às vezes, os grãos já entram na moega com problemas, e nesse caso é essencial saber como lidar com eles para mitigar as perdas. Contudo, o consultor diz que não se pode generalizar as perdas com base no tipo de cultura, já que os prejuízos incorrem em diferentes intensidades em todas as variedades. “Cada cultura se comporta de maneira única e as práticas de manejo não podem ser uniformes devido às variações microclimáticas e de solo de cada região”, considera.
Embora o clima externo seja uma variável que o produtor não pode controlar, dentro do armazém a situação é diferente. “Não é aceitável que fiquemos perdendo grãos no campo”, argumenta Santos. “O monitoramento é uma tarefa diária e constante, exigindo uma mudança cultural tanto por parte dos profissionais quanto dos produtores para gerenciar seus empreendimentos de forma eficiente e sustentável”, complementa.
Condições ideias de armazenamento
A temperatura de armazenamento de um produto desempenha um papel fundamental na preservação de sua qualidade. Por exemplo, os grãos a uma temperatura de 25ºC dentro do armazém vai resultar em uma perda de cerca de 0,12% ao mês. Contudo, quando se trata de culturas como arroz, milho e trigo, a temperatura de 30ºC acarreta uma perda de 0,56% ao mês, enquanto a 27ºC a perda se mantém em cerca de 0,44%.
Quando os grãos são de qualidade inferior, Santos alerta que o processamento desses grãos para a produção de ração resultará em uma conversão alimentar baixa, devido à perda de nutrientes. “O aquecimento dos grãos, por exemplo, gera calor que pode danificar a massa seca dos grãos, comprometendo suas proteínas. Quando esses produtos são utilizados na fabricação de ração para os animais, sua capacidade de conversão é reduzida, uma vez que esses nutrientes fundamentais foram perdidos”, explica.
Refrigeração dos armazéns
A redução das perdas exige a transformação dos depósitos de grãos em ambientes refrigerados. Santos expõe que manter os grãos a uma temperatura de 12ºC, por exemplo, elimina

Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná
riscos de insetos e diminui a propagação de fungos. A uma temperatura ainda mais baixa, como 10ºC, a perda mensal é de apenas 0,02%. “Tecnologias disponíveis viabilizam esse controle térmico e estão disponíveis para produtores pequenos, médios e grandes”, salienta Santos, expondo que em toda lavoura os produtores têm assistência técnica de um agrônomo, mas que o mesmo nível de cuidado não é direcionado ao armazenamento dos grãos. “O depósito de uma safra possui um valor até três vezes maior do que a própria estrutura de armazenamento, então porque o produtor não demonstra a mesma preocupação que tem no campo com o armazenamento dos grãos?”, questiona.
Prejuízo com más condições de armazenamento
Para dimensionar o tamanho do prejuízo financeiro que podem ser gerados pelas más condições de armazenamento, Santos faz uma conta rápida: um produtor que tem 100 mil sacos de grãos e vende a R$ 140 cada, fatura R$ 14 milhões. Se por conta do armazenamento inadequado perde 5% dessa safra, teria um prejuízo de R$ 700 mil. “Com gestão e monitoramento adequado é possível identificar as causas dos problemas e buscar soluções eficazes”, pontua.
Escassez de profissionais especializados
A escassez de profissionais especializados nesse segmento da produção agrícola dificulta o atendimento às demandas do mercado, ao passo que os lucros dos produtores continuam a diminuir. “Os engenheiros agrônomos, desde o início de sua trajetória na universidade, são preparados para atuar como representantes comerciais de insumos agrícolas ou para trabalhar diretamente no campo. Raramente, há uma preparação específica para atuação em armazéns, embora estes sejam destinos inevitáveis para a colheita. É interessante notar que, apesar da sua relevância, a importância dada aos armazéns é muitas vezes subestimada e relegada a um papel secundário”, considera o técnico agropecuário.

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Baixa adoção de sementes certificadas liga sinal vermelho no trigo do Rio Grande do Sul
Avanço genético das cultivares não chega ao campo e compromete o desempenho de mais da metade das áreas plantadas.

O Rio Grande do Sul é o maior produtor de trigo do Brasil, responde por quase metade da produção nacional. São milhares de famílias envolvidas em um ciclo que inicia no plantio e termina na mesa das famílias brasileiras, passando pelo melhoramento genético, produtores de sementes, agricultores, moinhos, indústrias alimentícias e o comércio. Segundo estimativas de mercado da StoneX, a safra brasileira 2025/26 deve alcançar 7,5 milhões de toneladas, impulsionada principalmente pelo desempenho do Rio Grande do Sul.
Só no Rio Grande do Sul, a produção deve superar 3,7 milhões de toneladas, com produtividade média próxima de 3.261 kg/ha e área estimada de 1,14 milhão de hectares, segundo levantamento da Emater/RS-Ascar. “O agricultor diante das adversidades climáticas da safra de verão, precisou definir com cautela em quais culturas investir no inverno”, salienta Arthur Machado, Desenvolvedor de Mercado da Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul). Para ele, o trigo deveria ser uma aposta atrativa, impulsionada pelas cultivares mais produtivas, de alta qualidade industrial e com maior tolerância a doenças, fruto de anos de aprimoramento genético feito no RS.
No entanto, o que deveria ser um motivo de orgulho vem acompanhado de preocupação. Segundo estimativas da APASSUL, a taxa de uso de sementes certificadas caiu para o menor patamar dos últimos anos, chegando em 48%, considerando a safra gaúcha atual. Isso significa que mais da metade das áreas de trigo no Estado ainda são semeadas com sementes salvas ou de origem desconhecida, um cenário que compromete a qualidade, a rastreabilidade, a segurança alimentar e a padronização exigida pela indústria. Em outras palavras, de cada 10 hectares cultivados, apenas 4,8 utilizam sementes certificadas, o que impacta diretamente o desempenho das lavouras e a reputação do trigo gaúcho.
Evolução Genética: um salto que não pode ser desperdiçado
Nos últimos anos, o avanço genético das cultivares de trigo foi impressionante. As novas variedades apresentam maior resistência a doenças, estabilidade produtiva e melhor perfil industrial, adequando-se a todas às exigências previstas pelos rigorosos controles industriais. “A semente é o início de tudo. Sem ela, não há genética, produtividade, qualidade industrial ou segurança alimentar. O que está em jogo é o futuro do trigo gaúcho e a credibilidade de toda a cadeia produtiva”, pondera Arthur Machado.
Desde a safra de 2013, o uso de sementes certificadas manteve-se acima de 60%, reflexo dos avanços do melhoramento genético que proporcionaram o desenvolvimento de cultivares com maior potencial produtivo e melhor qualidade industrial. Esse salto tecnológico proporcionou retorno econômico mais consistente e ganhos de sustentabilidade para muitos triticultores do Estado, ampliando a competitividade do trigo gaúcho no mercado nacional. “Mas diante do cenário produtivo geral é preciso que um número maior de produtores invista em sementes de alta qualidade, para que a produção de trigo do RS seja – realmente – maior e melhor”, salienta o Pedro Basso, CEO da SCV e Conselheiro para Trigo e Soja da Apassul.
Segundo dados da Embrapa Trigo, por exemplo, há programas contínuos de pesquisa e desenvolvimento em novas cultivares e manejos. Contudo, todo esse potencial depende de uma base sólida. “O uso insuficiente de sementes certificadas impede que esse salto tecnológico chegue ao campo de forma consistente”, afirma Giovani Faé, agrônomo e pesquisador da Embrapa Trigo de Passo Fundo/RS. Na prática, segundo ele, sementes salvas ou de origem incerta rompem a rastreabilidade do sistema “Por isso, não faz sentido o que alguns produtores fazem, agindo apenas por um ganho momentâneo, quando escolhem sementes sem origem certificada e de baixa qualidade, sem pensar em toda a cadeia produtiva que é prejudicada”, pondera Faé.
A cadeia do trigo é uma das mais integradas e estratégicas do agronegócio brasileiro. Ela tem papel fundamental na segurança alimentar do país – pois impacta diretamente grande parte da indústria de alimentos. A Cadeia do Trigo gera valor em cada elo. “Os obtentores e multiplicadores de sementes asseguram a pureza genética e a rastreabilidade; o agricultor planta o futuro, investindo em tecnologia e na sustentabilidade do sistema de plantio direto; os moinhos transformam o grão em farinha padronizada e de alta qualidade; e a indústria alimentícia converte esse insumo em emprego, renda e alimento”, explica Arthur Machado. A demanda do mercado interno fez com que a indústria moageira intensificasse as importações, isto porque o Brasil não produz, ainda, o trigo suficiente para suprir a demanda interna. Segundo a Secex/Cepea, até maio de 2025 o Brasil já havia importado 3,092 milhões de toneladas de trigo, o maior volume em 24 anos. Além disso, dados oficiais trazidos pelo analista de mercado da Embrapa Trigo, Alvaro Dossa, mostram que o Brasil gastou mais de US$ 11,3 bilhões na compra (líquida) de trigo nos últimos 10 anos.
Um alerta e uma oportunidade
O trigo gaúcho vive um momento decisivo. Este é um alerta que a Apassul vem fazendo. A redução no uso de sementes certificadas, somada à entrada de produtos substitutivos em uma mesma área de cultivo, aliado às pressões de custo, falta de crédito e às instabilidades climáticas, acendem um alerta sobre o futuro da cultura no país. “Se o produtor não investe em sementes de qualidade certificada, não há como garantir a produtividade”, afirma Márcio Só e Silva, CEO da Semevinea Genética Avançada. Mas, em cada desafio, segundo a Apassul, há também uma oportunidade. O agricultor que escolhe a semente certificada não está apenas produzindo mais, está garantindo rastreabilidade, inovação e segurança para sua lavoura e para toda a sociedade. “O trigo produzido a partir de sementes certificadas e manejado de forma adequada contribui para o sequestro de carbono. Ou seja, é um produto que impacta positivamente toda a cadeia de forma sustentável. Este é um grande ativo, que parece não estar sendo percebido como merece pelo mercado e por uma parcela dos produtores infelizmente”, pondera Giovani Faé, da Embrapa Trigo. Para ele, apesar dos grandes desafios que o produto brasileiro sofre quando sai da porteira para fora, como o pesado valor logístico, por exemplo, ainda assim, o produtor que investe em sementes com genética superior associado a um manejo que cuida do solo, ele consegue obter ganhos que valem a pena. “O Rio Grande do Sul tem potencial de aumentar em mais de 40% hoje sua produção de trigo de alta qualidade e gerando retorno ao produtor. Mas não há mágica, o produtor tem que fazer a sua parte usando sementes com procedência e genética garantida”, afirma Faé.
E como funciona o financiamento para que a pesquisa continue? É preciso que o produtor entenda a lógica para manter o ciclo do aprimoramento genético em constante evolução na cadeia do trigo, pois o investimento em desenvolvimento genético é vital. Dessa forma, o valor do royalty de germoplasma faz parte dessa equação gira em torno de R$ 11 a R$ 12 por saca de 40 kg, o que equivale, em média, a cerca de R$ 0,30 por kg. “É difícil determinar com precisão quanto desse montante é reinvestido, especificamente, em pesquisa e desenvolvimento para o trigo, mas estima-se que empresas do setor destinem, em média, cerca de 20% do faturamento em P&D, parcela que sustenta programas de melhoramento genético e inovação”, podera o desenvolvedor de mercado da Apassul, Arthur Machado.
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Lista preliminar de espécies exóticas gera preocupação no campo
Produtores apontam riscos para cadeias como tilápia, pirarucu, frutas e florestas plantadas se cultivos tradicionais forem classificados como invasores.

A lista de espécies exóticas elaborada pela Comissão Nacional da Biodiversidade (Conabio), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), foi tema de intenso debate nesta quarta-feira (10) na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado. Após atuação da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e de entidades do setor produtivo, o governo anunciou a suspensão temporária do processo de elaboração do documento.

João Paulo Capobianco, ministro substituto do Meio Ambiente, representou a pasta na audiência em lugar da ministra Marina Silva, inicialmente convidada para esclarecer pontos críticos da resolução. Diante da ausência da ministra, os senadores aprovaram novo requerimento de convocação, apresentado pelo senador Jorge Seif (PL-SC), também responsável por propor a realização da audiência.
Seif reforçou as críticas à falta de diálogo e de transparência do Executivo. “O governo avançou com uma lista dessa magnitude sem transparência e sem diálogo mínimo com quem será diretamente afetado. O setor produtivo ficou sabendo depois, quando o impacto já estava colocado na mesa”, afirmou. O senador também alertou para riscos econômicos e jurídicos: “A inclusão de espécies como tilápia, pirarucu, mangueira, jaqueira, goiabeira e eucalipto criaria um ambiente de completa insegurança jurídica. Isso afetaria licenciamento ambiental, acesso a crédito e certificações sanitárias.”

Senador Zequinha Marinho: “Isso comprometeria a competitividade do Brasil no mercado internacional”
O presidente da CRA, senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), compartilhou a preocupação, ressaltando que classificar espécies de alto valor produtivo, como a tilápia, como invasoras criaria entraves para financiamento, licenciamento e exportações. “Isso comprometeria a competitividade do Brasil no mercado internacional”, afirmou.
O senador Jaime Bagattoli (PL-RO) lembrou que cultivos como pinus e eucalipto foram incentivados pelo antigo IBDF desde a década de 1960 justamente para impulsionar economias regionais. Ele destacou que “essas espécies não avançaram sobre áreas nativas e hoje sustentam cadeias industriais inteiras, com ciclos produtivos mais curtos que os europeus”. Para ele, considerar essas culturas prejudiciais traria impacto desproporcional sobre estados do Sul.

Senador Jaime Bagattoli: “Essas espécies não avançaram sobre áreas nativas e hoje sustentam cadeias industriais inteiras, com ciclos produtivos mais curtos que os europeus”
Bagattoli também chamou atenção para diferenças agroclimáticas que impedem generalizações. “Manga, castanheira e mogno não se desenvolvem no Sul, assim como espécies amazônicas como pirarucu e tambaqui não se adaptam ao frio. A simples classificação como ‘invasora’ não reflete a realidade produtiva do país”, afirmou.
O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) reforçou o impacto na piscicultura, lembrando que a tilápia diversificou economias regionais e impulsionou renda de pequenos produtores. “Somos o quarto maior produtor de tilápia do mundo e podemos chegar ao primeiro lugar. Uma restrição mal formulada prejudica um setor que emprega, gera renda e funciona muito bem”, disse. Heinze também alertou para riscos de repercussão internacional: “Essa lista pode nos colocar em uma lista negra ambiental. Nenhum país preserva como o Brasil, e precisamos que a política ambiental reconheça isso.”

Capobianco afirmou que a elaboração da lista atende a compromissos assumidos pelo Brasil na COP 15, dentro da meta 6 do Acordo Kunming-Montreal, voltada à redução da introdução de espécies exóticas invasoras até 2030. Ele disse que o intuito é identificar espécies mais agressivas e dialogar com os setores produtivos para mitigar impactos sem inviabilizar a produção. Bráulio Dias, diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do MMA, esclareceu que a meta se refere à introdução de novas espécies invasoras, não às já consolidadas no país.
Além de espécies da piscicultura como tilápia, tambaqui, pirarucu e camarão-branco, responsáveis por mais de 840 mil toneladas anuais e por mais de 1 milhão de empregos diretos e indiretos, a lista preliminar também inclui culturas tradicionais da fruticultura, como mangueira, goiabeira e jaqueira. No setor de silvicultura, aparecem eucalipto, pinus taeda e pinus caribaea, base da cadeia de papel e celulose e da produção de madeira de reflorestamento.
O debate deve prosseguir no Senado, com a expectativa de que o MMA apresente critérios mais claros, respaldo técnico sólido e diálogo real com o setor produtivo, garantindo proteção à biodiversidade sem comprometer atividades econômicas estratégicas para o país.
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Coopavel celebra 55 anos de protagonismo no desenvolvimento agroindustrial
Cooperativa marca mais de meio século de expansão produtiva, fortalecimento regional e contribuição decisiva ao crescimento do agro paranaense.

A Coopavel Cooperativa Agroindustrial comemora na próxima segunda-feira (15), os seus 55 anos de fundação. Uma das mais antigas do Paraná e atualmente uma das 20 maiores do Brasil, a Coopavel historicamente dá inúmeras contribuições ao processo de desenvolvimento agropecuário de Cascavel e dos municípios nos quais atua no Oeste e Sudoeste do Estado.
“Nossa cooperativa é moldada pelos princípios da cooperação, do planejamento, do trabalho e da visão de compartilhamento de oportunidades e prosperidade”, comenta o presidente do Conselho de Administração Dilvo Grolli. Uma missa, às 17h da segunda-feira, 15, no complexo industrial, vai reunir cooperados, diretores e funcionários para agradecer a trajetória de trabalho, realizações e sucesso da Coopavel.
Atualmente com 8,2 mil cooperados e oito mil funcionários, a Coopavel é uma força transformadora em atuação em 21 municípios do Oeste e Sudoeste do Paraná. “Ficamos felizes de contribuir para o fortalecimento do campo, à produção de alimentos e por levar desenvolvimento a tantas comunidades. A Coopavel é uma imensa família alicerçada no trabalho, respeito e valorização das capacidades humanas”, comenta Dilvo, estimando o faturamento da cooperativa em 2025 na casa dos R$ 6 bilhões.
História
A Coopavel foi oficialmente criada em 15 de dezembro de 1970 por um grupo de 42 produtores rurais. Eles buscavam o apoio do cooperativismo para deixar a desfavorável política de preços de grandes empresas nacionais e multinacionais e criar um modelo no qual todos decidem sobre seu futuro e o crescimento da atividade rural. A cooperativa expandiu suas fronteiras e atualmente atua em 18 áreas agroindustriais, o que faz dela uma das mais diversificadas em atuação no Paraná, considerado o estado no qual o cooperativismo está mais aprimorado e fortalecido no País.



