Conectado com

Bovinos / Grãos / Máquinas

Pastagens bem manejadas amplificam ganho de peso diário e produção de leite

A eficiência alimentar é um indicador usado para a rentabilidade e a sustentabilidade das operações pecuárias, ligada à capacidade dos animais de converter o alimento consumido em peso corporal ou produção de leite. Ou seja, investir em forrageiras que maximizem esse processo tornou-se uma estratégia essencial para os produtores que almejam melhorar seus resultados.

Publicado em

em

Foto: Divulgação/Arquivo OP Rural

No cenário cada vez mais competitivo da produção agropecuária, a busca por métodos e tecnologias que otimizem a eficiência alimentar do gado se torna uma prioridade para os produtores de carne e leite. Nesse contexto, as forrageiras têm desempenhado um papel fundamental, oferecendo soluções inovadoras que promovem uma alimentação mais balanceada e nutritiva para o rebanho, resultando em maior produtividade e lucratividade ao produtor.

A eficiência alimentar é um indicador usado para a rentabilidade e a sustentabilidade das operações pecuárias, ligada à capacidade dos animais de converter o alimento consumido em peso corporal ou produção de leite. Ou seja, investir em forrageiras que maximizem esse processo tornou-se uma estratégia essencial para os produtores que almejam melhorar seus resultados.

Engenheira agrônoma, doutora em Produção Animal e pesquisadora da área de Nutrição Animal no IDR-Paraná, Simony Lugão: “Os pastos representam a fonte mais acessível e econômica de alimento para o gado” – Fotos: Jaqueline Galvão/OP Rural

Em entrevista exclusiva ao Jornal O Presente Rural, a engenheira agrônoma, doutora em Produção Animal e pesquisadora da área de Nutrição Animal no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Simony Lugão, fala das principais forrageiras usadas, dos desafios de manejo e dos benefícios que oferecem para a eficiência alimentar do gado de corte e de leite.

Desde variedades mais nutritivas até aquelas adaptadas a diferentes condições climáticas e tipos de solo, as opções disponíveis têm proporcionado aos pecuaristas uma gama de escolhas para atender às necessidades específicas de seus rebanhos e ambientes de produção. “Os pastos representam a fonte mais acessível e econômica de alimento para o gado. No entanto, a maioria das áreas destinadas à pastagem no país se encontra em estado de degradação, apresentando um desafio significativo para a sustentabilidade da pecuária. Problema esse que afeta diretamente a qualidade da alimentação do gado e, consequentemente, sua produtividade, assim como a rentabilidade das operações pecuárias. Mas quando bem manejadas, tanto no manejo do pastejo quanto da fertilidade do solo, as pastagens podem impulsionar o desempenho dos animais”, ponta a profissional, enfatizando: “Investir em práticas de manejo sustentáveis e na revitalização dos pastos degradados é fundamental para garantir a eficiência e a viabilidade a longo prazo da pecuária no país”.

Custo de produção

Simony explica que na pecuária leiteira, quando o produtor possui animais que produzem entre 10 e 12 litros por dia, a alimentação é baseada em pasto. “Se possuímos um pasto de boa qualidade e vacas com uma média de produção de 15 litros/dia, precisamos além do pasto fornecer apenas milho, sem a necessidade de suplementação proteica, pois neste caso o teor de proteína já é adequado. Porém, quando a produção diária ultrapassa os 15 litros, se torna necessário complementar a alimentação com ração, tanto proteica quanto energética”, menciona.

Foto: Juliana Sussai

No que diz respeito à pecuária de corte, pastagens bem manejadas e adubadas podem resultar em um ganho de peso de até 700 gramas por dia, o que é considerado excelente. Entretanto, Simony diz que é importante que o produtor evite fornecer ração aos animais quando já dispõe de pasto, pois isso eleva os custos de produção. “O concentrado, por exemplo, é em média 80% mais caro do que manter um pasto bem adubado”, ressalta.

Pastagens no Paraná

No Paraná, a pesquisadora relata que cerca de 40% das pastagens estão degradadas, evidenciado que a nível do Brasil esse cenário não é muito diferente. “É fundamental que o produtor se conscientize sobre a necessidade de iniciar um processo de reforma dessas pastagens. Isso não apenas se relaciona com a sustentabilidade das áreas, mas também com a rentabilidade do produtor. A escassez de pasto leva ao uso excessivo de ração, aumentando os custos da atividade. Isso pode ser especialmente problemático para os pequenos produtores, tornando a continuidade na atividade muitas vezes inviável”, pondera a pesquisadora.

Diversidade de sistemas de produção

Atualmente, no país, existem diversos sistemas de produção de pasto em uso. Para os produtores que não desejam adotar sistemas intensificados, é possível trabalhar com espécies de pastagem mais rústicas, como as braquiárias. No entanto, a engenheira agrônoma explica que até mesmo uma braquiária bem adubada pode oferecer uma resposta satisfatória. “No caso da pecuária leiteira, é possível obter bons resultados com o uso de capins mais refinados, como o Tifton 85 e os pânicos – que são espécies que tem um pouco mais de qualidade e uma produção maior – desde que o manejo adequado seja implementado, tanto em termos de adubação quanto de pastejo”, salienta.

É fundamental reconhecer que a escolha das espécies de capim deve estar alinhada com o perfil e as capacidades do produtor. “Se o

Foto: Arnaldo Alves

manejo necessário não puder ser realizado, é mais sensato optar por espécies que cubram bem o solo, mesmo que sua produção seja mais limitada. Essas espécies ainda podem oferecer um desempenho satisfatório para o gado, embora não tão elevado quanto outras opções de capins mais exigentes em termos de manejo”, pontua.

Planejamento forrageiro

De acordo com a pesquisadora, o primeiro passo a ser dado em uma propriedade sem pastagem é realizar um planejamento forrageiro. Ela diz que o maior desafio da cadeia de produção está na gestão do pasto de verão, que tem seu pico de produção entre outubro e meados de abril. “Como essas plantas são do tipo C4 e preferem climas quentes, sua produção no inverno reduz drasticamente para cerca de 20% em comparação ao verão. Sem a devida complementação, com silagem e feno, o produtor acaba exaurindo os recursos do pasto durante o inverno, iniciando assim um processo de degradação”, expõe.

A doutora em Produção Animal menciona que o plano forrageiro deve levar em consideração o número de animais e o consumo esperado, tanto no verão quanto no inverno. “Isso é essencial para evitar a degradação do pasto, pois é comum vermos pastagens de excelente qualidade no verão se deteriorarem rapidamente no início da primavera. Esse atraso na recuperação pode aumentar o tempo necessário para o pasto voltar a produzir, indo de 20 a 25 dias para 40 a 50 dias”, afirma.

Em um projeto conduzido em parceria com a Itaipu Binacional, a pesquisadora conta que são acompanhadas pelos extensionistas do IDR-Paraná 50 propriedades leiteiras nas regiões Oeste e Noroeste, desenvolvendo um planejamento de pastagem. “Identificamos as áreas mais degradadas e traçamos um plano para iniciar nelas um processo de reforma, produzindo pasto no verão e cultivando capiaçu para silagem e milho no inverno. Com o passar do tempo, expandimos a área de produção à medida que o número de animais na propriedade aumenta. Na pecuária leiteira, esse processo pode levar de quatro a seis anos para estabilizar a propriedade. O mesmo princípio se aplica às propriedades de corte”, revela, ampliando: “Por isso que precisamos evitar a degradação das pastagens. A criação de gado leiteiro é uma atividade complexa, que envolve diversos fatores, como sanidade do rebanho, gestão de pastagens, reprodução, criação de novilhas, entre outros. Para isso é essencial contar com uma equipe técnica interdisciplinar, composta por agrônomos, zootecnistas e veterinários, para fornecer suporte adequado às propriedades”.

A engenheira agrônoma destaca o trabalho feito pela assistência técnica, que acompanha de perto os indicadores técnicos e econômicos das propriedades. “Para avaliar a produção de pasto com o produtor é essencial entender se está de acordo com as expectativas estabelecidas. Cada espécie forrageira tem uma altura ideal para pastejo, na qual há o máximo de produção de folhas e o mínimo de colmos e folhas senescentes. Isso é fundamental, pois é a folha que proporciona o melhor desempenho ao animal”, evidencia Simony.

Além da produção de pasto, também são analisados o custo envolvido na produção de silagem, no manejo do pasto e na criação de bezerras. “Essa análise detalhada nos permite identificar onde estão os principais gargalos e dificuldades enfrentadas pelo produtor. Com esses dados em mãos, podemos oferecer orientações precisas e direcionar nossas ações dentro da propriedade, buscando otimizar os processos e melhorar a rentabilidade da atividade pecuária”, enaltece.

Simony frisa a importância do manejo eficiente e da adubação para garantir a qualidade das forrageiras, especialmente do grupo pânico. “Com o manejo adequado, garantindo que as vacas consumam principalmente as folhas, e com uma adubação bem realizada, é possível aumentar de forma significa a proteína na forragem. Em propriedades pequenas, a eficiência é ainda mais importante devido à limitação de espaço. Com uma média de um animal por hectare, nosso projeto trabalha com uma lotação de seis a sete animais por hectare, o que pode aumentar a produção do produtor em até sete vezes, refletindo diretamente em sua rentabilidade”, esboça.

Sistemas de pastejo

Existem dois sistemas de pastejo predominantes: o contínuo, no qual os animais permanecem na área como um todo, e o rotacionado, onde a área é dividida e os animais mudam de área regularmente. De acordo com a pesquisadora, o pastejo rotacionado, especialmente em áreas adubadas, apresenta uma taxa de crescimento mais alta, facilitando o manejo e proporcionando um melhor controle da altura ideal para maximizar a produção de folhas. “Na pecuária leiteira do Paraná, a maioria dos produtores utiliza o sistema de pastejo rotacionado, que se mostrou mais eficiente em termos de manejo e produção de forragem”, expõe.

Simony enfatiza que a rotação de forrageiras desempenha um papel importante na eficiência alimentar e na sustentabilidade do manejo do pasto. “Por exemplo, se um pasto possui 6% de proteína e uma vaca precisa de 15% de proteína para produzir 15 litros de leite por dia, o produtor precisa complementar a dieta com concentrado. No entanto, em áreas bem manejadas, onde o pasto pode ter até 18% de proteína, a necessidade de concentrado é reduzida, proporcionando economia para o produtor”, assegura.

Foto: Arnaldo Alves

A pesquisadora frisa que a análise bromatológica do capim é essencial para determinar a quantidade de proteína suplementar necessária na dieta. “Isso é realizado através de uma planilha de nutrição animal, que permite ajustar a dieta de cada vaca de acordo com a qualidade do pasto, resultando em uma redução significativa nos custos da dieta, de 20 a 30%. Como a maioria das propriedades são de pequenos produtores, os rebanhos são muito heterogêneos, com vacas de diferentes produções e características, o que inviabiliza uma padronização em lotes, por isso que a nutrição de precisão se torna ainda mais importante. Desta forma cada vaca recebe uma dieta personalizada de acordo com suas necessidades”, aponta.

Maximizando a eficiência alimentar com utilização de forrageiras

A pesquisadora ressalta a importância de maximizar a eficiência alimentar através do manejo adequado das forrageiras, seguindo as recomendações de entrada e saída do pasto. Por exemplo, no caso da Brachiaria brizantha, uma das pastagens mais utilizadas no país, a altura de entrada ideal é de 25 a 30 centímetros, pois se ultrapassar essa altura, o pasto tende a ficar com mais talos, o que reduz o desempenho animal.

Já para o capim zuri, outra forrageira de qualidade, a altura de entrada recomendada é de 70 centímetros, com um resíduo de 35 centímetros após o pastejo. Ultrapassar essas medidas pode resultar em uma queda no desempenho dos animais. “Um dos maiores erros cometidos pelos produtores está relacionado ao manejo incorreto do pasto. É fundamental monitorar diariamente o crescimento do pasto, pois ele varia de acordo com a temperatura e a quantidade de chuva, bem como acertar o manejo antes de associá-lo à adubação, caso contrário o custo da pastagem pode se tornar mais elevado sem os resultados esperados”, reforça.

Rentabilidade em diferentes tipos de solo

Foto: Everton Queiroz

Em relação aos tipos de solo, como arenoso e argiloso, a quantidade de adubo utilizada varia significativamente. Por exemplo, em solos arenosos, como os encontrados na região Noroeste do Paraná, são necessários cerca de 300 quilos de nitrogênio para trabalhar com sete a oito vacas. Já em solos argilosos, como os da região Oeste do Paraná, essa quantidade pode ser reduzida para 200 quilos de nitrogênio para a mesma quantidade de vacas. “Isso ocorre porque os solos argilosos possuem maior teor de matéria orgânica e são naturalmente mais ricos em nutrientes. Quando todas as orientações são seguidas corretamente, o potencial de produção, mesmo em solos arenosos, é considerável”, aponta.

Gestão das propriedades

Para fazer a gestão das propriedades no Paraná é utilizado o Sistema de Gerenciamento e Administração de Projetos Agropecuários (Sigeap), um software que coloca todos os dados de gestão para fazer essas análises. E outro software que está sendo desenvolvendo é a planilha de nutrição de precisão. “Embora a formulação de dietas específicas para cada animal possa ser trabalhoso inicialmente, os benefícios a curto prazo são significativos, resultando em maior rentabilidade para o negócio”, assegura a pesquisadora, completando: “É importante começar com pequenos ajustes, como implementar a dieta de precisão em algumas vacas do rebanho, para que o produtor possa verificar os resultados e entender como isso impacta a rentabilidade do seu negócio. Além disso, é essencial monitorar de perto o ciclo de reprodução das vacas, garantindo que elas não permaneçam secas por períodos prolongados, o que resultaria em prejuízos para o produtor. Um acompanhamento adequado visa alcançar um equilíbrio ideal entre vacas lactantes e secas, contribuindo para a rentabilidade do sistema”.

Simony frisa a importância de o produtor compreender e fazer a gestão da propriedade, e muitas vezes isso se dá através da utilização de ferramentas básicas, como o medidor de leite. “Esse instrumento revela informações de suma importância sobre a produção individual de cada vaca, permitindo um planejamento nutricional mais eficiente”, argumenta.

Desafio emergente

A pesquisadora é enfática ao afirmar que o desafio atual reside em ensinar o produtor a fazer o manejo correto, orientar o uso do adubo de forma adequada, fazendo a implantação certa do pasto com uso de calcário e fósforo. “O fósforo tem mobilidade, por isso é importante começar por ele para depois trabalhar com nitrogênio e potássio em dose menor. É preciso entender que o pasto é uma cultura perene, quando o produtor faz uma boa implementação e um bom manejo terá pasto de 30 a 40 anos na sua propriedade”, afirma.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural

Bovinos / Grãos / Máquinas

Especialista explica como a nutrição fetal molda bezerros mais saudáveis e produtivos

Desempenha um papel determinando na produção de bezerros de alta qualidade, impactando diretamente o desenvolvimento dos animais desde o início da gestação até o momento do parto.

Publicado em

em

Fotos: Shutterstock

A nutrição fetal desempenha um papel determinando na produção de bezerros de alta qualidade, impactando diretamente o desenvolvimento dos animais desde o início da gestação até o momento do parto. Estudos recentes demonstram que uma nutrição adequada durante as fases críticas de desenvolvimento fetal – do segundo ao sétimo mês – não só garante melhores índices de crescimento e saúde dos bezerros, como também influencia o desempenho produtivo ao longo da vida dos animais.

Com a adoção de estratégias nutricionais específicas para vacas prenhes, os pecuaristas podem otimizar os recursos disponíveis, assegurando uma progênie mais saudável, resistente e, sobretudo, produtiva. “Bezerros nascidos de vacas melhor nutridas durante a gestação apresentam maior peso tanto na desmama quanto no abate, além de produzirem carne de qualidade superior e carcaças mais pesadas. Isso acontece porque as vacas que emprenham no início da estação de monta passam grande parte da gestação em melhores condições nutricionais em relação às vacas que emprenham o final do período”, enfatizou o zootecnista, mestre e doutor em Nutrição e Produção de Ruminantes, e gerente Global de Tecnologia Bovinos de Corte na Cargill Animal Nutrition, Pedro Veiga, durante o 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, evento que integrou a programação da ExpoGenética 2024, dia 16 de agosto, no Parque Fernando Costa, em Uberaba (MG).

A nutrição materna impacta diretamente o desenvolvimento intrauterino do bezerro, influenciando a formação de órgãos, músculos, tecido adiposo e o sistema imunológico. “De acordo com o ambiente intrauterino que o bezerro encontrar será possível garantir o bom desenvolvimento ao longo da sua vida ou comprometer seu desenvolvimento se a nutrição materna não for bem realizada”, mencionou Veiga.

A resistência imunológica dos bezerros ao nascimento está diretamente relacionada à qualidade e quantidade de colostro ingerido nas primeiras horas de vida. Vacas com nutrição deficiente produzem colostro menos rico em imunoglobulinas, retardando a maturação do sistema imunológico intrauterino e comprometendo a saúde dos animais.

Para garantir a qualidade dos bezerros, o profissional frisou a importância de priorizar nutrientes como energia, proteína, minerais e vitaminas durante a gestação. Em ambientes tropicais, como o Brasil, a deficiência proteica durante a época seca pode ser um desafio, exigindo correções na dieta das vacas. “Se a mãe não produz colostro em quantidade e qualidade adequadas, o bezerro não receberá toda a imunidade passiva necessária, aumentando o risco de doenças, especialmente neonatais”, alertou.

Estratégias para nutrição fetal em sistemas extensivos

Em sistemas de produção extensivos, Veiga recomenda a adoção de práticas como o planejamento forrageiro e a suplementação estratégica. “É essencial garantir um balanço positivo de forragem ao longo do ano e desenvolver estratégias para minimizar o vazio forrageiro, como o uso de silagem ou feno. Além disso, um plano suplementar adequado ao estágio de produção da vaca é fundamental para manter a nutrição equilibrada: mineral e vitamínico durante a época das águas; e proteico na época da seca”, frisou, acrescentando: “Garantir a execução deste plano nutricional depende de pessoas treinadas, capacitadas, motivadas na propriedade, além de estrutura de cocho e das estradas para que esse suplemento chegue a boca da vaca”.

Impactos na qualidade do bezerro

O período mais crítico da gestação, em termos de impacto na qualidade do bezerro, é o terço médio, entre o terceiro e o sétimo mês. “É nesse momento que ocorrem as miogêneses secundárias, responsáveis pela formação da maioria das fibras musculares esqueléticas. Se a vaca enfrentar estresse nutricional, ambiental ou sanitário nesse período, o potencial de crescimento do bezerro pode ser comprometido”, detalhou Veiga.

Em relação à qualidade da carne, especialmente no que diz respeito ao marmoreio, o terço final da gestação é de extrema importância, pois é nessa fase que ocorre a adipogênese. “Se a nutrição da vaca não for equilibrada nesse período, a qualidade do bezerro será comprometida, impactando diretamente a capacidade de produzir uma carne de qualidade superior”, afirmou.

O zootecnista reforça ainda que, para melhorar os índices produtivos e o bem-estar na pecuária de corte, é essencial estabelecer um plano nutricional para as fêmeas ao longo do ano, adaptado a cada estágio produtivo. Esse planejamento deve contemplar desde a estação de monta até a gestação e o período pós-desmame, quando o pecuarista deve focar em recuperar a condição corporal da vaca, aproveitando a menor demanda energética após a retirada do bezerro. “O maior desafio atualmente é a execução desse plano, devido à escassez de mão de obra qualificada, o que muitas vezes impede que as estratégias planejadas sejam efetivamente implementadas. Garantir que o plano nutricional seja seguido à risca é um dos principais obstáculos enfrentados pelas fazendas, não apenas na pecuária de cria, mas em todo o setor de modo geral”, salientou.

Veiga explica que as principais diferenças na nutrição fetal entre bezerros destinados à produção de carne de alta qualidade e aqueles voltados para produção em larga escala dependem amplamente do perfil de carne que o pecuarista deseja alcançar. “Para produzir carne com alto marmoreio, é fundamental garantir uma nutrição robusta da vaca no terço final da gestação, fase em que se formam os adipócitos intramusculares, responsáveis pela diferenciação da carne de alta qualidade. Por outro lado, para a produção de carne commodity, essa fase não é tão crítica”, expõe, enfatizando que, independente do objetivo final a nutrição durante a gestação é essencial para maximizar o potencial produtivo do bezerro.

Desafios na nutrição fetal

O mestre e doutor em Nutrição e Produção de Ruminantes aponta que um dos principais desafios na adoção de estratégias de nutrição fetal em diferentes regiões do país e em variados sistemas de produção é a conscientização do produtor sobre a importância desse investimento. Ele destaca a necessidade de uma visão de longo prazo, onde o produtor compreenda que a nutrição fetal não é apenas um custo, mas um investimento que resulta em bezerros mais pesados, com maior potencial de ganho e que agregam valor ao sistema produtivo. “Garantir mão de obra qualificada para a implementação dessas estratégias é outro obstáculo significativo a ser superado pela cadeia produtiva”, reforça.

Em relação ao impacto do manejo nutricional durante a gestação na redução de problemas de saúde neonatais em bezerros, o zootecnista ressalta que a atenção deve ser redobrada com novilhas e primíparas, categorias mais exigentes e sensíveis a variações na nutrição. “A falta de uma nutrição adequada para esses animais pode resultar na produção de colostro em menor quantidade e com menos anticorpos, o que compromete seriamente a saúde dos bezerros. Essa deficiência aumenta a vulnerabilidade dos neonatos, especialmente à diarreia, que é o principal problema sanitário enfrentado por bezerros”, evidencia.

Ele também destacou a importância de inovar nas práticas nutricionais, como o uso de proteinados para vacas, uma abordagem ainda pouco explorada no Brasil, mas com grande potencial para melhorar a qualidade dos bezerros produzidos. “Quando se trata de nutrição para vaca o conceito de sal proteinado ainda é pouco utilizado, normalmente se usa sal com ureia”, mencionou.

A nutrição adequada das vacas ao longo de todo o ano, principalmente na seca, e o uso de biotécnicas reprodutivas como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF) são tecnologias que propiciam concentrar prenhezes do cedo e obter bezerros que serão mais pesados à desmama e terão maior capacidade de crescimento ao longo da recria e engorda, tornando o sistema de produção mais eficiente e lucrativo.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo

Bovinos / Grãos / Máquinas

Professor Zequinha elenca fatores para desbloquear potencial genético dos bovinos

Explorou os desafios e as oportunidades da gestão genética no rebanho, destacou como as decisões e os manejos reprodutivos influenciam diretamente o futuro da produção animal.

Publicado em

em

Fotos: Shutterstock

A expressão da genética reprodutiva tem se tornado uma preocupação central para produtores que buscam maximizar a eficiência e a produtividade de seus rebanhos. Esse tema foi destaque no 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, realizado em agosto, durante o primeiro dia da ExpoGenética 2024, em Uberaba (MG). Um dos mais influentes profissionais da pecuária mundial, José Luiz Moraes Vasconcelos chamou a atenção dos participantes com a provocativa pergunta: Estou preocupado com a expressão da genética reprodutiva?

Durante sua palestra, o professor Zequinha, como é carinhosamente conhecido, explorou os desafios e as oportunidades da gestão genética no rebanho, destacou como as decisões e os manejos reprodutivos influenciam diretamente o futuro da produção animal. O debate levantou questões essenciais sobre a seleção genética, o papel das novas tecnologias e as estratégias necessárias para garantir que o potencial genético dos animais seja plenamente atingido.

Entre os principais fatores que podem interferir na expressão da genética reprodutiva em rebanhos comerciais está a nutrição. “A reprodução com desempenho baixo é altamente influenciada pelo ambiente, e entre os fatores ambientais o que mais interfere é o manejo nutricional, seguido pelo estresse térmico”, explicou o médico-veterinário, doutor em Zootecnia e professor adjunto do Departamento de Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Botucatu (SP).

Manejo nutricional

Zequinha enfatiza que o manejo nutricional é essencial para garantir que o potencial genético reprodutivo dos animais seja plenamente expressado. No caso das novilhas, a nutrição adequada afeta diretamente o peso e a indução da puberdade. “Animais que alcançam maior peso no momento da indução tendem a apresentar taxas de prenhez mais elevadas e menor perda gestacional”, afirma.

Além disso, o doutor em Zootecnia diz que novilhas que entram na puberdade com maior peso também tendem a parir com um peso superior, o que contribui para uma redução significativa nos problemas relacionados ao parto. “Consequentemente, esses animais mais robustos ao parto demonstram uma melhor eficiência produtiva subsequente, o que reforça a importância de um manejo nutricional bem estruturado para garantir o máximo aproveitamento do potencial genético reprodutivo”, expõe.

Maximização da expressão genética

Tecnologias de monitoramento e sensores, software de gestão reprodutiva, uso de suplementos nutricionais específicos, nutrigenômica, ultrassonografia reprodutiva, genômica, inseminação artificial e inseminação artificial em tempo fixo (IATF) estão desempenhando um papel fundamental na maximização da expressão genética, especialmente as voltadas para o aumento do ganho de peso e a melhoria do score de condição corporal dos animais. “Essas tecnologias são muito importante para garantir que o potencial reprodutivo das fêmeas, tanto jovens quanto adultas, seja plenamente alcançado”, frisa o médico-veterinário

No entanto, a correlação entre a seleção genética para características reprodutivas e a performance observada no campo depende diretamente da qualidade do manejo nutricional. “Mesmo com uma genética de alta qualidade, sem uma nutrição adequada, o potencial genético não será expressado em sua totalidade. Quanto melhor a genética dos animais, maior será a demanda por um manejo nutricional eficaz”, exalta o professor Zequinha.

Os produtores enfrentam o desafio contínuo de garantir uma nutrição adequada para seus rebanhos durante todo o ano. O fornecimento constante de volumoso, alimentação e suplementação de qualidade é fundamental para que os animais possam atingir um bom score de condição corporal e expressar plenamente seu potencial genético. “O conhecimento do potencial dos animais é fundamental para que o pecuarista possa ajustar o manejo e, assim, obter maior produtividade e eficiência reprodutiva”, enaltece o médico-veterinário.

O estresse ambiental é outro fator que afeta de forma significativa a expressão da genética reprodutiva. Todo estresse aumenta as exigências nutricionais dos animais, o que, por sua vez, impacta negativamente sua produtividade. “Para mitigar esses impactos, é essencial que os produtores adotem práticas de manejo que minimizem os fatores de estresse, garantindo que os animais possam se desenvolver em condições favoráveis”, salienta.

Sinais de alerta

Sinais de alerta, como resultados insatisfatórios de prenhez ou baixa eficiência em programas de IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo), podem indicar que a genética reprodutiva do rebanho não está sendo plenamente expressada. “Esses problemas podem estar ligados tanto à genética quanto ao manejo nutricional, sanitário e ambiental. A genética é uma ferramenta poderosa, mas sua eficácia depende de um manejo eficiente na fazenda, especialmente no que diz respeito à reprodução, que é altamente influenciada pelo ambiente. Assim, a reprodução se torna um termômetro da qualidade do manejo aplicado na propriedade, refletindo diretamente na eficiência e na rentabilidade da produção”, afirma.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
Continue Lendo

Bovinos / Grãos / Máquinas

Reajustes de setembro na pecuária de corte compensam perdas do ano

Levantamento do Cepea mostra que, no acumulado de setembro, o Indicador do boi gordo Cepea/B3 teve forte acréscimo de 14,4%, fechando em R$ 274,35 no dia 30. No comparativo com a média de agosto, a de setembro (R$ 255,45) foi 8,7% maior.

Publicado em

em

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

As cotações máximas do ano têm se renovado dia a dia tanto para o boi quanto para os animais de reposição e também para a carne no atacado.

Levantamento do Cepea mostra que, no acumulado de setembro, o Indicador do boi gordo Cepea/B3 teve forte acréscimo de 14,4%, fechando em R$ 274,35 no dia 30.

No comparativo com a média de agosto, a de setembro (R$ 255,45) foi 8,7% maior.

No mercado atacadista de carne com osso da Grande São Paulo, a carcaça casada de vaca/novilha se valorizou 15,2% no balanço do último mês, com o quilo chegando a R$ 17,73 no dia 30; a carcaça casada de boi avançou 12,2%, a R$ 18,70.

Pesquisadores do Cepea explicam que, em julho e agosto, as cotações pecuárias ensaiaram o início da recuperação das quedas que se sucederam ao longo de todo o primeiro semestre.

Mas foi em setembro que os reajustes compensaram as perdas do ano.

Segundo pesquisadores do Cepea, a forte estiagem agravada por queimadas reduziu significativamente as ofertas de animais a pasto em setembro, ao mesmo tempo em que a demanda esteve aquecida.

 

 

 

Fonte: Assessoria Cepea
Continue Lendo

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.