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Carlos Augusto Mallmann revela o que você precisa saber sobre micotoxinas

Ele coordena o principal laboratório de análises micotoxocológicas do Brasil e presta consultoria a empresas e organismos nacionais e internacionais, como a FAO

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Carlos Augusto Mallmann, um dos mais respeitados pesquisadores do mundo sobre micotoxinas, concede entrevista exclusiva para o Presente Rural e fala tudo sobre o tema. Responsável pelo laboratório que realiza o controle de qualidade de 30 a 35% dos produtos da cadeia do agronegócio brasileiro, ele cita o país como dos mais preparados para o setor, aposta no controle e em – alguns – absorventes quando o problema se instala.

Professor titular de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Maria, (UFSM), doutor em Micotoxicologia pela Universidade Livre de Berlin e Escola Superior de Medicina Veterinária de Hannover – Alemanha, coordena o Laboratório de Análises Micotoxocológicas (Lamic/UFSM), credenciado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) e creditado pelo Inmetro com a ISO 17025.

Considerado um guru sobre o tema, Mallmann presta consultoria na área gerencial e de controle de qualidade para as mais importantes empresas de produção de alimentos e nutrição brasileiras e internacionais, bem como, para organismos oficias, como a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

O Presente Rural (OP Rural) – O que são micotoxinas, como surgem e onde estão?

Carlos Augusto Mallmann (CAM) – A micotoxina é um subproduto do metabolismo fúngico. O fungo, quando cresce, produz os metabótitos primários, aquilo que enxergamos como o mofo, mas em algumas situações ele produz outros metabólicos que são secundários. Micotoxina são esses metabólicos fúngicos secundários. O fungo nem sempre produz isso, nem sempre precisa produzir. São algumas situações que vão favorecer essa produção.

As micotoxinas estão e estiveram sempre presentes na natureza. Existem duas teorias para isso; umas delas diz que é uma proteção do fungo contra outros fungos; a outra é que, quando o fungo é ingerido por um animal, ele é destruído, então, ele produziria uma toxina para que o animal não o consumisse. Isso seria algo como “não vou comer isso porque vai me fazer mal”.

Quando nós submetemos o animal a uma dieta única (como os animais de produção), ele não tem opção de escolher o que vai comer, acabando estes entrando em contanto com mais intensidade com as micotoxinas, o que pode acarretar prejuízos. De uma forma geral, a micotoxina é um produto natural, que na maioria das vezes não apresenta risco nenhum aos animais e para as pessoas, desde que não seja consumida em grandes quantidades e por longos períodos.

Elas surgem a partir de condições que são baseadas numa tríade: temperatura, humidade e presença de oxigênio. Os fungos são aeróbicos, quer dizer que precisam de oxigênio. No momento em que eu tiro o oxigênio, o fungo não vai crescer e não vai produzir a toxina. Na silagem, por exemplo, não se produz micotoxinas porque o fungo não consegue crescer. Essa é uma estratégia que podemos adotar. Acomodar o milho à vácuo, sob uma atmosfera controlada, é uma estratégia para não produzir as micotoxinas. O fungo não consegue se reproduzir porque não tem ar.

Difícil de controlar, quando falamos em cereais, mas temos outras duas alternativas para que o fungo não tenha condições de crescer: uma é a temperatura – os fungos normalmente precisam de calor para crescer. Para a maioria deles obter bom crescimento, a temperatura ideal gira entre 20 e 35° C. Por outro lado, para que alguns fungos possam se desenvolver é preciso “um gatilho”, como a alternância entre calor e frio, que faz com que o fungo se estresse e, a partir disso, produza a micotoxina. Têm fungos que produzem em baixa temperatura e outros em alta, mas é muito difícil algum fungo produzir a toxina acima de 35° ou abaixo de 10°, isso por que eles não crescem bem em temperaturas extremas. Terceiro fator é que fungo precisa de água. Ele precisa ter uma humidade adequada para o crescimento. Isso é avaliado medindo a atividade de água, que é a água que está disponível para vida, para o crescimento. A atividade de água é uma medida que vai de 0 a 1 (água pura). Quando atinge valores superiores de 0,69, o ambiente já oferece condições para que alguns fungos consigam se desenvolver e então produzir as micotoxinas. Isso não pode ser confundido com humidade, porque atividade de água é uma medida um pouco diferente da humidade.

Transformando para o milho, uma humidade acima de 14% já oferece condições favoráveis para o crescimento de fungos e produção de micotoxinas.

Além desses três fatores determinantes, os substratos onde esse fungo vai crescer também representam relevância.

O fungo precisa “comer” alguma coisa e o milho é um excelente nutriente para alguns tipos de fungos. Outros gostam mais do trigo e assim por diante. Uma espécie de fungo não produz todas as micotoxinas. Alguns produzem somente uma toxina, outros produzem mais que uma, dependendo da matéria prima. Isso também precisa ser levado em consideração.

Algumas matrizes são bastante seguras; dificilmente encontramos micotoxinas em altas concentrações como na soja. Este, por enquanto, ainda é tido como um material que não representa grande risco para micotoxinas. Mas muitas vezes isso muda, dependendo de condições como a genética, por exemplo. Temos híbridos em que micotoxinas são formadas com mais facilidade, pois o fungo consegue produzir mais toxina neste material.  No Paraná, há três anos estão sendo monitorados híbridos para observar quais se comportam melhor sob o aspecto das micotoxinas. Também está sendo levando em consideração produtividade e qualidade nutricional para compor o rendimento desses materiais, baseado em produtividade, qualidade nutricional e custo do tratamento contra as micotoxinas. É um trabalho inovador, que leva os reflexos diretamente à cadeia produtiva de uma forma muito holística.

OP Rural – Quais são as condições ambientais ideais para seu aparecimento?

CAM – Com o aquecimento global, este problema que vem sendo enfrentado por todos os países, está ocorrendo uma mudança do perfil micotoxicológico. Países que normalmente não se encontrava determinado tipo de toxina hoje já passam por uma epidemia. Isso é importante que se saiba, por serem mudanças climáticas muito rápidas.

Tivemos varias modificações nos últimos 20 anos.

Regiões que eram mais frias e não tinham determinadas micotoxinas, mas hoje começam a apresentar as toxinas que nós tivemos ou que estão “controladas” no Brasil. Quando surge esse tipo de problema, geralmente a cadeia produtiva é pega de surpresa, como foi o caso do Brasil, quando “surgiram” as micotoxinas, pois nós não estávamos preparados e não havia conhecimento técnico sobre o tema.

Hoje o Brasil é um país que faz pouca propaganda, mas estamos com a ciência muito mais avançada que a de outros países, principalmente na parte gerencial das micotoxinas. Nós monitoramos muito bem isso e sabemos como está essa situação.

Sintetizando sobre as condições ambientais, de forma geral ou especifica, temos anos em que determinada toxina se apresenta com maior intensidade. Em 2015 nós tivemos um problema com uma toxina que já não aparecia há bastante tempo em termos significativos. E em 2016 nós tivemos uma região do Brasil que foi assolada por um surto de aflatoxinas, que é a micotoxina mais perigosa do ponto de vista econômico. Era uma toxina que estava bem controlada, não havia presença significativa dela, e de um ano para outro apareceu em níveis altíssimos, preocupantes e com efeitos diretos na produtividade.

OP Rural – Quais as principais micotoxinas encontradas na matéria prima de rações no Brasil? Quais as matérias primas mais suscetíveis?

CAM – A primeira é uma pergunta bem fácil de responder em função do banco de dados que temos cadastrados aqui no Lamic. Hoje temos, no Brasil, mais de 1,3 milhão de análises dentro do banco de dados, então a informação é muito segura. Podemos afirmar com segurança sobre o que existe. Primeiro os métodos, a tecnologia que é empregada para fazer esse tipo de análise, é de ponta, baseada em normas internacionais irrefutáveis, ancoradas na ISO 17.025, de laboratórios de acreditação internacional. Os métodos que usamos no Brasil são os melhores que existem. Analisando esse banco de dados, com certeza a toxina mais presente no Brasil são a do grupo das fumonisinas. De cada três análises que se faz, duas têm a presença desta.

Depois temos as aflatoxinas e a zearalenona, presentes em cerca de 35% dos produtos. Também, a vomitoxina (DON), que é encontrada em 45% de todas as amostras analisadas.

Os dados são baseados em mais de 60 mil amostras analisadas. Com relação a outras toxinas, a presença delas não é, apesar do montante de análises que se faz, superior a 10%.

Entre as matérias primas mais contaminadas está o milho por causa da presença das fumonisinas. O milho é o material que tem mais risco de contaminação e, por ser a base das rações animais, é o produto de maior importância para o produtor rural. Depois, os mais suscetíveis são os derivados do trigo. No farelo de trigo são frequentemente encontrados resíduos de micotoxinas, principalmente porque estas se concentram mais na casca.

OP Rural – Qual a sua prevalência?

CAM – A respeito da prevalência, a gente tem que levar em consideração que temos uma contaminação cruzada de micotoxinas. É comum que tenhamos na mesma amostra quatro ou cinco micotoxinas diferentes. Em um levantamento que fizemos nas amostras, hoje temos 78 toxinas diferentes isoladas do milho brasileiro. Analisamos 15 micotoxinas diferentes na rotina. Quando fazemos uma análise de varredura (148 micotoxinas ou metabólicos), já encontramos 78 diferentes metabólicos de fungo. Não se avalia isso de rotina, pois é um processo bem demorado e com custos mais elevados.

Para a maioria das toxinas, nós não sabemos ainda exatamente o que são capazes de fazer e qual a importância econômica que elas têm dentro da produção animal. Ainda existem muitas questões sem explicação, com muito campo para ser estudado. No futuro, talvez tenhamos algumas explicações mais adequadas.

O assunto micotoxinas é bastante antigo, mas sempre tem novidades. Hoje, com novas tecnologias, temos plenas condições de determinar todas as toxinas. Falar sobre prevalência hoje é a luz dos conhecimentos atuais, e nós temos esta informação. Mas podemos ter subdosagens ou subidentificações, pois os processos não analisam todas as toxinas. A maioria das empresas se concentra nas análises dessas toxinas mais importantes.

OP Rural – Há níveis toleráveis para a nutrição animal?

CAM – Uma grande confusão que se tem com isso é que existe uma legislação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que trata de níveis preestabelecidos toleráveis para humanos. É um alimento destinado para o consumo humano e não para o consumo animal. A RDC 7/2011 traz alguns adendos, algumas determinações de prazos, mas determina os valores permitidos para alimentação humana. A partir daquele limite, você tem um produto contaminado impróprio para o consumo.

Para os animais isso é diferente. No humano, temos o consumo esporádico de micotoxinas. Não comemos a toxina todos os dias, a não ser que você coma sempre a mesma coisa, como é o caso dos animais de produção. Estes vão receber a dieta por longos períodos. Se ela estiver contaminada, o animal não tem outra opção e vai acabar se intoxicando.

O nível tolerável depende muito do grau da contaminação, da concentração da toxina e do tempo em que o animal é exposto. Se o animal comer um dia a toxina, a não ser que sejam em concentrações extremamente altas, não vai ter dano perceptível. Porém, se comer uma dose moderada ou baixa, mas por longos períodos, certamente haverá prejuízo. Por isso é bastante difícil determinar o limite tolerável.

Além disso, há outros fatores. No caso de um leitão ou pintinho, eles têm limites de resistência baixos. Já uma gestante, com os fetos, é extremamente suscetível a micotoxinas. Então, não é uma coisa simples de você dizer que é tolerável. Vai depender ainda de outras situações, como se o animal é um macho ou uma fêmea. As fêmeas são muito mais suscetíveis do que machos. Machos são mais tolerantes a zearalenona, porém mais suscetíveis a aflatoxina, por crescerem mais rápido e pode então apresentar dano de produção e econômico com mais significância. Além disso, há a combinação de toxinas. Se você encontra duas ou três toxinas juntas, elas podem ser sinérgicas ou antagônicas. É bem dinâmico.

Ou ainda o produtor tem presença de outras enfermidades dentro da granja, o que enfraquece o animal. Logo, um nível mais baixo de toxina vai interferir na produção.

Existe uma fórmula, um logarítmo que se desenvolveu para calcular qual o risco que as micotoxinas representam. Não é algo simples, pois envolve toda essa experiência que tem que ter com esses e outros fatores.

Resumindo. Existe uma legislação para alimentos destinados ao consumo humano, mas para animais o limite tolerável não é uma constante em função desses fatores citados.

OP Rural – O que causam na matéria prima da nutrição animal?

CAM – As micotoxinas são produzidas por fungos. Estes, sim, causam alterações que a gente pode ver no grão. Mas, como já visto antes, nem sempre esta alteração vem acompanhada da presença de uma micotoxina. Em boa parte das situações, nós temos um material que não apresenta nenhuma característica que se desconfiaria que pudesse estar contaminada. Muitas vezes o fungo produz a toxina à margem daquilo que a gente pode ver. Situações estressantes podem levar a uma produção maior de micotoxinas.

Isso não interfere significativamente no valor nutricional da matéria prima, mas haverá o prejuízo nesse material por conta da contaminação pela toxina.

OP Rural – Quais seus efeitos no desempenho zootécnico de aves, suínos e bovinos?

CAM – As diferentes espécies, começando pelos suínos, apresentam características que nós podemos medir quando o rebanho está submetido a essas toxinas. Os suínos são, dentro daquelas espécies de maior produção, os mais suscetíveis a todas as micotoxinas, e vão apresentar, consequentemente, maiores prejuízos zootécnicos. Todas as micotoxinas afetam ou o aparelho reprodutor, ou o aparelho gastrointestinal, a proteção hepática, o aparelho respiratório e o sistema imunológico dos suínos. Quando temos um material contaminado, a última espécie a qual nós devemos destinar esse material são os suínos, especialmente as fêmeas e os leitões, estes por estarem em fase ou estado fisiológico mais delicado ou por terem uma capacidade de detoxicação menor que o animal adulto. São os que apresentam maiores problemas zootécnicos.

Os peixes também são afetados, mas o controle é baixo e por isso esse tema ainda é bem pouco explorado. Os peixes são uma das principais vítimas das rações contaminadas, especialmente por aflatoxinas. Sobre as demais micotoxinas, ainda não têm estudos aprofundados no Brasil, apesar de também afetar a piscicultura. Portanto, os peixes estão junto com os suínos entre as espécies mais suscetíveis.

Dentre as aves, o pato e o marreco estão como os mais suscetíveis de toda a cadeia, sendo até mais sensíveis que o próprio suíno. Como são animais que, do ponto de vista brasileiro, não têm uma expressão de produção, define-se que os suínos como os mais prejudicados. Mas essas espécies, seguidas do peru, além das aves aquáticas, praticamente não têm resistência nenhuma às micotoxinas, muito em função do seu hábito alimentar natural.

O frango de corte é afetado especialmente quando jovem. O pintinho já é, por si só, mais suscetível a várias influências, e apresenta características de, assim como outras espécies, não recuperar mais o peso perdido durante os estágios iniciais do seu crescimento.

Nos bovinos, os primeiros estudos profundos começam a sair agora no Brasil. A zearalenona é uma toxina que mostra características no aspecto reprodutivo, então interfere na parte de fertilidade. A aflatoxina, em função da transmissão via excreção dela pelo leite, representa uma barreira sanitária bastante importante. Além disso, tem ainda o aspecto social, já que leite é consumido principalmente por crianças, associado à característica da toxina.

OP Rural – Até que ponto as micotoxinas podem interferir no desempenho econômico da propriedade rural?

CAM – O diagnostico de micotoxinas, em nível de propriedade, é de uma forma geral feito quando há um prejuízo muito avançado. Nos dias atuais é muito difícil, exceto em pets ou alguma situação específica. A maioria das empresas monitora isso e usam produtos para mitigas os efeitos Por isso, hoje não se encontram mais aqueles casos clássicos de micotoxicoses a campo.

Hoje o produtor acaba perdendo em desempenho. O desempenho zootécnico é a única forma que se tem para medir o impacto da micotoxina. Ou seja, o diagnóstico só pode ser feito no momento em que eu tenho a presença do agente associado (micotoxina) a sinais clínicos compatíveis (lesões ou prejuízo). E isso que interfere bastante, é muito difícil ver esses sinais clínicos. Mas, do ponto de vista econômico, as micotoxinas impactam diretamente a produtividade e isso afeta o desempenho econômico da propriedade significativamente.

OP Rural – Quais são as etapas do processo de produção e armazenagem de rações mais suscetíveis à contaminação por micotoxinas?

CAM – Normalmente o material já vem contaminado da lavoura. Na parte de secagem e armazenagem nós temos o segundo ponto mais importante na produção das micotoxinas. Seguramente que silos mal gerenciados, sem aeração adequada, sem a termometria para controle e uma série de outras práticas que adotamos na armazenagem, respondem por 95% dos problemas de contaminação de rações em nível de armazenagem. Durante o processo em si, salvo algumas situações de resíduos que permaneçam dentro da linha de produção mal descontaminados, são os momentos em que se detecta a produção de micotoxinas.

A campo, em nível de armazenagem do produtor, se a condução deste armazém não for seguida de um protocolo de limpezas periódicas, mesmo que sejam mecânicas, seguramente nós temos um ponto que há possibilidade de produção. O material fica pouco tempo armazenado, mas entre 12 e 24 horas após o armazenamento os fungos já conseguem produzir as micotoxinas. Normalmente da fábrica sai um material com uma atividade de água (Aw) adequada. Porém, o que percebemos dentro dos caminhões, do transporte, e dentro do silo do produtor, são pontos de condensação da umidade, onde são oferecidas condições favoráveis ao crescimento de fungos e, em algumas situações, a produção de micotoxinas.

Hoje já existem equipamentos no mercado que são utilizados para lavagem automática dessas unidades armazenadoras de ração em nível de propriedade. São injetores, que fazem uma lavagem úmida dentro do silo, removendo restos e praticamente esterilizando o interior. O mais importante e simples é fazer uma remoção mecânica dos detritos que ficam dentro daqueles pontos de condensação, que formam bolas ou cascas dentro do silo. Isso é bastante simples e altamente recomendado no processo da fábrica até a boca do animal.

OP Rural – O que indústria e produtores precisam fazer para evitar a contaminação por micotoxinas na nutrição animal?

CAM – Fazer todos os processos de prevenção que nós já comentamos acima. Mas, para situações quando já ocorreu a contaminação na matéria prima, a alternativa mais eficiente é a utilização dos aditivos antimicotoxinas, os adsorventes.

Esses são produtos adicionados em determinadas concentrações na dieta e que têm a capacidade de prevenir a doença ou a intoxicação do animal. O problema desta estratégia é que boa parte dos produtos não tem eficiência comprovada. Isso quer dizer que as empresas e produtores, quando utilizam esses produtos, devem avaliá-los no sentido de solicitar a comprovação técnico-científica da sua eficiência. Isso é uma sugestão de legislação, que foi apresentada pela primeira vez no Brasil, para que o produtor tenha certo grau de segurança quando utiliza essa classe de produto. E isso é obtido através de teste in vitro e avaliações in vivo que visam a certificação de qualidade do produto. Os in vitro não servem para dizer se o produto funciona contra determinada micotoxina, mas sim um controle de qualidade para dizer que aquele produto está sendo produzido é o mesmo que passou por uma avaliação in vivo. A avaliação in vivo é a única que vai comprovar que o produto funciona no modelo animal. E essas avaliações são específicas para espécie animal. Alguns funcionam em suínos, mas não funcionam em aves, e vice versa, e também são específicos para a toxina. Não existe nenhum produto no mercado que é capaz de proteger contra todas as micotoxinas, assim como não existe nenhum antibiótico que é capaz de proteger contra todos os microrganismos – mesma verdade cabe às classes distintas de produtos. O produtor, ao adquirir um produto destes, deve solicitar ao fornecedor um atestado de eficiência. Não é o registro do produto, pois produtos são registrados muitas vezes sem terem essas exigências. O produtor deve solicitar que o produto seja avaliado in vivo e não somente pelo registro no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O controle de eficiência deve ser periódico. Os registros são exigidos, mas depois que o produto está registrado nunca mais é reavaliado. Então, o produtor deve exigir do fornecedor essa comprovação periódica.

OP Rural – Quais as políticas públicas e privadas usadas hoje no Brasil para o controle de micotoxinas?

CAM – O Brasil foi um dos pioneiros em reconhecer o problema e buscar soluções para as micotoxinas. Mas isso partiu da iniciativa privada, que amargava os prejuízos das micotoxinas presentes nos cereais e consequentemente nas dietas. O esforço foi basicamente dos atingidos pelo problema. Não pode se dizer exatamente políticas públicas, mas as universidades e centros de pesquisa brasileiros empreenderam consequentemente um esforço muito grande no sentido de ajudar o mercado agropecuário. Inicialmente se iniciou com estruturas capazes de fazer o diagnóstico das micotoxinas e ter o dimensionamento do problema. No ano de 1995 surgiram os primeiros estudos com os absorventes e aditivos antimicotoxinas no Brasil. Foi em 1996 que foi publicado o primeiro artigo científico de um produto capaz de minimizar os efeitos da aflatoxinas. Após isso, houve um ciclo muito longo de pesquisas, melhorando o diagnóstico com o emprego de tecnologias mais modernas e investindo no controle, além de desenvolvimento de produtos capazes de minimizar os efeitos tóxicos das micotoxinas.

Em 2011, a Anvisa lançou uma normativa determinando os limites máximos toleráveis para praticamente todas as micotoxinas em todas as matérias primas destinadas ao consumo humano. A legislação do Brasil é em relação ao consumo da área humana e não animal. Mesmo porque o aspecto de concentrações do animal é uma noção diferente. O animal é submetido a uma dieta monofatorial a longos períodos e consequentemente os níveis são diferentes para as espécies.

Essa legislação, como efeito colateral, representou uma pressão sobre a agricultura, sobre a produção de grãos, que fomentou e implementou com mais intensidade as boas práticas agrícolas e genéticas para a produção de cereais e alimentos com baixa contaminação de micotoxinas. Isto alavancou o mercado, e o Brasil hoje investe privadamente bastante nisso e também publicamente, com a Embrapa e universidades, que estão incluídas nesse espírito de trabalhar mais na prevenção e evitar que o problema seja gerado lá no final da cadeia. Isso passa pela seleção genética de híbridos e variedade de trigo e cereais, assim como boas práticas agrícolas, uso de defensivo e outros fatores importantes no processo de formação das micotoxinas.

Do ponto de vista internacional, barreiras sanitárias geradas pelas micotoxinas pressionam o mercado para que as boas práticas agrícolas sejam implemantadas, bem como haja um diagnóstico de precisão para que o produto nacional possa ser exportado sem risco de gerar problemas econômicos e de imagem do país no exterior. Então, uma coisa puxou a outra nesse sentido.

Da parte da indústria, há um investimento em análises. A própria indústria passou a monitorar o sistema internamente e com isso houve uma pressão de seleção de matéria prima de melhor qualidade.

OP Rural – Como é feito o diagnóstico?

CAM – Uma forma de nós termos o problema controlado é nós sabermos da existência do mesmo e a magnitude com que se apresenta. A indústria, de uma forma geral, passou a monitorar o problema em função dos prejuízos causados. É mais fácil e importante saber antecipadamente a contaminação a qual o seu rebanho está submetido. No início da década de 1990, laboratórios começaram a trabalhar com tecnologia de cromatografia de camada delgada, que é uma tecnologia muito difícil de ser empregada na indústria.  Depois surgiram métodos, que são referência até hoje, empregando HPLC. Modernamente, se faz o diagnóstico praticamente de todas as micotoxinas com a utilização do HPLC acoplado à espectrometria de massa. Essa tecnologia permite qualificar e quantificar a toxina numa mesma máquina. Permite também determinar uma gama enorme de micotoxinas, então o espectro de aplicação desta tecnologia tende a aumentar a sua importância.

Esses são os métodos de referência passíveis de serem acreditados, ou seja, permitem resolver as questões mais difíceis no aspecto de litígios e é única forma em ter informação aceita em todos os países. Então, somente laboratórios acreditados pelo In Metro certificam o resultado de uma análise.

Surge após o emprego de métodos imunológicos, mais rápido e possível de empregar nas empresas, facilitando a resposta da análise. Esse método passou a ser utilizado com frequência dentro da indústria.

Agora, aparelhos que geram a informação instantânea quanto às micotoxinas. Você colhe uma amostra, mói, insere no equipamento e gera o espectro. Antes mesmo de descarregar caminhão você já tem a informação sobre grau de contaminação da matéria prima, o que facilita o gerenciamento dos silos.

Isso permite qualificar o silo do ponto de vista do custo de produção das rações. Você sabendo que aquele silo tem carga alta para determinada micotoxina, vai gerenciar utilizando o produto adequado. A técnica mais moderna que se tem no sistema gerencial. Esse sistema tem a vantagem de ter custo muito mais baixo e não precisa de mão de obra altamente especializada, tampouco restrições de horário de utilização, isso porque não depende de laboratórios para fazer as análises. Este gerenciamento permite também calcular a quantidade de adsorventes necessária para fazer aquela ração destinada àquela espécie, sexo ou empresa, por exemplo.

Mais informações você encontra na edição de Suínos e Peixes de fevereiro/março de 2017 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Suínos

Elevação forte dos preços impulsiona resultados da suinocultura

Demanda de exportação segue vigorosa, com o setor caminhando para um novo recorde anual.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

O mês de agosto e a primeira quinzena de setembro foram de continuidade da escalada do preço do suíno, o que fortaleceu substancialmente o spread da atividade, para uma das maiores marcas históricas. A demanda de exportação segue vigorosa, com o setor caminhando para um novo recorde anual.

Os custos da suinocultura na média de agosto subiram 0,5%, para R$ 5,84/kg vivo, porém os preços foram muito além, 9,4% acima do mês anterior, o que fez com que o spread da suinocultura marcasse os 39%, patamar comparado ao bimestre ago-set/20, ocasião do pico relacionado à peste suína africana na China. E setembro aponta para um spread ainda mais elevado, o que ultrapassa um resultado de R$ 300/cabeça terminada, sendo que, há um ano, era de R$ 75/cab.

Custos, preços e spread da suinocultura (Região Sul e MG). Fonte: Embrapa, Cepea, Estimativas Itaú BBA
*valores no mercado spot

Além do ritmo de produção relativamente pequeno, as exportações têm surpreendido. Do lado da oferta, o aumento da produção de carne no primeiro semestre ficou em 0,3%, com o 1T 24 caindo 0,4% sobre o mesmo trimestre do ano anterior, mas voltando a crescer 1%no 2T 2024/23.

Já os envios ao exterior em agosto, continuaram acima de 100 mil toneladas in natura pelo segundo mês consecutivo, significando aumento de 6% sobre agosto de 2023, enquanto no acumulado dos oito meses a expansão foi de 4,8%. Além disso, os preços de exportação continuaram em elevação, acumulando alta de 7% nos últimos três meses. Com isso, o spread da exportação, também subiu um pouco mais.

O grande destaque entre os destinos externos segue sendo as Filipinas, com 78% de crescimento no acumulado anual, o equivalente a 51 mil toneladas a mais, pouco menos da metade da redução das compras chinesas. O país asiático enfrenta dificuldades com o controle da peste suína africana abrindo oportunidades aos exportadores brasileiros. Além disso, bons crescimentos também são observados para o Japão, Chile, Singapura e México.

Preços do suíno vivo no estado de São Paulo. Fonte: Cepea

Fonte: Consultoria Agro do Itaú BBA
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Suínos Campanha Bom de preço, bom de prato!

ABCS entrega mais praticidade, sabor e economia para o dia a dia dos brasileiros

Com cortes temperados e foco no Nordeste, a nova fase da campanha destaca os benefícios da carne suína, mantendo leveza, diversão e informações claras para o consumidor.

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Foto: Divulgação/Arquivo OPR

A campanha “Carne de Porco: Bom de preço, bom de prato”, lançada em 2021 pela ABCS através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (FNDS), foi um marco na promoção da carne suína. Com uma abordagem inovadora, ajudou pequenos e médios açougues e varejistas a vender a proteína de forma simples e eficaz, especialmente em um período desafiador para o mercado.

Agora em 2024, a carne suína tem ganhado cada vez mais espaço no paladar e no dia a dia dos brasileiros. Esse crescimento vai além do fator econômico, evidenciando sua versatilidade e seus benefícios nutricionais, que são cada vez mais reconhecidos e valorizados. Nesta nova edição, a campanha evolui com uma nova oferta: cortes de carne suína temperados, prontos para cozinhar, oferecendo ainda mais praticidade para o consumidor!

Essa novidade demonstra o compromisso da cadeia de suínos em colocar as necessidades do consumidor no centro, facilitando o dia a dia das pessoas, proporcionando refeições rápidas e saborosas. A campanha também foca, pela segunda vez, na região Nordeste, mais especificamente nos estados da Bahia e do Ceará, áreas com grande potencial de crescimento no consumo de carne suína.

A nova fase da campanha mantém os elementos que trouxeram sucesso anteriormente, como leveza, diversão e informações claras, mas agora com uma estratégia ampliada. Nosso foco permanece em criar uma conexão entre os consumidores e os benefícios da carne suína, oferecendo novas experiências e sabores.

A estratégia consiste em fomentar as vendas de cortes populares e mais acessíveis, utilizando uma linguagem visual leve e informativa, com  5 posts estáticos, 4 carrosséis, 9 stories e 4 reels. Além de  7 cartazes e 2 precificadores para PDV. O material foi entregue a todas as Associações e Frigoríficos Contribuintes do FNDS no mês de setembro, para que possam trabalhar a campanha em seus respectivos estados e negócios.

Acompanhe as redes sociais da ABCS e dos nossos parceiros para saber mais sobre a execução da campanha, esse é o próximo passo para fortalecer ainda mais a presença da carne suína na mesa dos brasileiros!

Fonte: Assessoria ABCS
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Podcast revela bastidores de discreta, mas poderosa central de genética no seio da suinocultura brasileira

Jornal O Presente Rural reuniu em um podcast um time de feras da suinocultura para falar sobre a WG Central de Genética Suína de Quatro Pontes, PR, um empreendimento da Associação de Suinocultores de Marechal Cândido Rondon que tem se tornado referência nos últimos anos pela sua modernidade e pela sua eficiência.

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O jornal O Presente Rural reuniu em um podcast um time de feras da suinocultura para falar sobre a WG Central de Genética Suína de Quatro Pontes, PR, um empreendimento da Associação de Suinocultores de Marechal Cândido Rondon que tem se tornado referência nos últimos anos pela sua modernidade e pela sua eficiência. Responsável por toda a genética de machos repassada aos suinocultores da cooperativa Copagril, a WG ainda leva o material para várias regiões do Brasil, como Santa Catarina, Mato Grosso e Minas Gerais. Conheça um pouco dessa história em versão impressa. Se preferir, acesse o podcast aqui.

Participaram Ary Giesel, médico-veterinário responsável técnico da WG, empresa terceirizada da associação para administrar a central de inseminação. Também um velho conhecido do setor e premiado suinocultor Milton Becker, um dos fundadores da Associação de Suinocultores de Marechal Cândido Rondon. Quem também participou é outro grande produtor de leitões, Eládio Deves, que contou um pouco sobre a sua experiência com o material genético da central. Contribuíram também o superintendente de Pecuária da Copagril, André Dietrich, é o vice-presidente da cooperativa e suinocultor César Petri.

Suinocultor e um dos fundadores da Associação de Suinocultores de Marechal Cândido Rondon, Milton Becker – Fotos: Sandro Mesquita/OP Rural

O Presente Rural – Acho que seu Milton pode começar contando para nós um pouco quando foi criada e qual era o objetivo da associação na época?

Milton Becker – Estou na suinocultura desde 1977, faz 47 anos. Comecei junto com a minha esposa, uma granja de dez matrizes e um sócio. Eu trabalhava no comércio na época, gerente de uma empresa, mas tinha a intenção de investir no agronegócio. E eu entendi que a suinocultura seria o melhor ramo. A associação foi surgindo de forma natural pela necessidade. Eu fui também na época vice presidente da Associação Brasileira e também foi vice presidente da Associação Paranaense. Fomos fortalecendo então a Associação de Marechal Cândido Rondon. Já que nós vamos falar da Central, surgiu a ideia entre 1991 e 1992 de fazer uma central de inseminação que fosse para benefício de todos O Ary já era na época era o responsável técnico dessa central. Foi uma evolução, um investimento muito bom, o que deixa a gente satisfeito é a evolução. Naquela época eram oito, dez machos.

Tivemos uma evolução boa, eu e meus parceiros fazíamos a venda de leitões, depois nós fizemos um contrato com a Copagril. E nós entendemos também pela necessidade e pelo padrão de genética da cooperativa.

E hoje estamos muito felizes na nossa granja (de matrizes que recebe a genética da central), todo mundo sabe. Nós já fomos campeões nacionais por oito anos, seis anos em primeiro lugar e dois anos em segundo lugar. São vários fatores do segredo de sucesso: genética, assistência técnica e mão de obra. E a central e os reprodutores são muito importantes porque é ali que inicia tudo.

Você tem a matriz, mas você tem que inseminar essa matriz com qualidade e de um padrão, vamos dizer assim, altamente confiável. E esse é o que acaba acontecendo então na nossa granja.

Superintendente de Pecuária da Copagril, André Dietrich

O Presente Rural – Ari, de uns anos para cá houve esse reposicionamento da associação que adotou uma nova forma de gestão. Quais foram os motivos para essa nova forma de atuação, para essa terceirização de fato acontecer?

Ari Giesel – Em um certo momento não se sabia quem iria tocar a central, não tinha gente que dissesse eu posso tocar a central e avançar. Eu era responsável técnico na época, que é uma outra atribuição, eu ia lá uma vez por semana e a central estava na mão de pessoas que iam lá uma vez por mês e que não tinha conhecimento técnico.

E foi aí que a gente entrou em um proposta com a Copagril e ela entendeu que a gente poderia fazer um trabalho de se dedicar com sêmen. Aí a gente terceirizou realmente dentro desse pacote. Em cima disso então eu assumi para terceirizar a central e começar a buscar tecnologia, ver a evolução que que as outras centrais tinham. Fomos para a Espanha para ver como é que era o processo lá. A gente viu maquinários, viu novas ideias e veio com aquilo de que a gente também poderia fazer. Adquirimos a maioria das máquinas que têm hoje lá e graças a Deus a gente conseguiu com esforço, buscando informação junto com o produtor, junto com a cooperativa.

A gente começou então fazer que o sêmen fosse realmente um selo de qualidade, igual a qualquer central. Então, dentro desse propósito, a gente começou treinando todos os funcionários. E qual é o nosso objetivo? É ser igual ou até melhor que as outras centrais. Dentro do nosso volume, a gente tem uma segurança muito forte mesmo para dizer que realmente nosso produto sai com muita qualidade. Ou nós produzimos qualidade, que é a nossa meta, ou não produzimos.

O Presente Rural – Para onde vai esse sêmen? Só para a Copagril?

Ari Giesel – O volume maior realmente vai para a Copagril. Eu diria 70%, esses outros 30% vão para diversas regiões, vai para Minas Gerais, vai para Mato Grosso e para Santa Catarina. Mas o nosso foco mesmo é ter uma parceria e um crescimento com a Copagril. A gente já está almejando e tomara que consiga um aumento de 30% na nossa atividade na nossa produção. Hoje nós temos 150 machos. Desde 2017 já são dois milhões de doses.

Ary Giesel, médico-veterinário responsável técnico da WG, empresa terceirizada da associação para administrar a central de inseminação

O Presente Rural – Diz que a associação, apesar de ser pequena, escondidinha, está sendo reconhecida pelas empresas de genética, pelo mercado, como uma das mais modernas e eficientes do país. Pode contar um pouco para nós os detalhes técnicos?

Ari Giesel – Nós fazíamos no início tudo manual. A gente foi buscar máquinas que façam o trabalho, adquirimos um sistema que a gente não se envolve muito, a máquina te dá o resultado. A gente só gerencia esses resultados. Todo mundo sabe o objetivo que a gente tem. A gente premia também os funcionários de alguma forma para eles estarem realmente engajados e principalmente para nós termos qualidade e ter o resultado lá no campo.

Às vezes dá uma tremedeira porque a responsabilidade é grande, a gente sabe o envolvimento e a parceria que tem que ter com o produtor. Ele tem que fazer a parte dele. E essa parte foi muito bem feita pela cooperativa, pois todos eles têm conservadoras e cuidam do sêmen que nem fosse cuidar uma joia. E essa joia realmente se traduz em ganhos.

O Presente Rural – Andrey, como é que a evolução genética tem contribuído para uma suinocultura moderna?

Andrey Dietrich – A genética é um dos pilares da nossa produção. A gente sempre busca custo, é claro, sem sacrificar qualidade. Mas nós buscamos sim otimizar custo. E a gente vê que a melhoria do desempenho consegue reduzir custos. Eu extrair o máximo potencial é reduzir custo também. A gente tem esse entendimento. A nutrição é a maior parte do nosso custo de produção, a gente precisa que a ração seja bem aproveitada. Então a gente não pode se dar ao luxo de desperdiçar ração ou não extrair o máximo que aquela nutrição pode nos proporcionar.

No nosso ponto de vista, a genética é o limite de até onde a gente consegue. Então, se eu estou com o meu manejo bem alinhado, se eu estou com a minha nutrição bem alinhada, qual é a nota dez do meu sonho? Qual é a nota dez do meu custo? Até onde eu consigo chegar? E a genética é a que delimita isso.

Então é importante essa conversa com a central e algumas solicitações de modernização de investimento que e a gente faz e somos prontamente atendidos. A gente faz isso pensando na evolução genética, para que a gente consiga ser referência em custo e em produtividade.

Vamos pensar só na linha paterna. O macho é extremamente importante para que a gente tenha a melhor conversão alimentar possível. Recentemente foi feita uma alteração na pontuação do macho, utilizando o que tem de melhor no mercado hoje, pelo menos pela troca de informação que a gente tem com as demais cooperativas, mais empresas da nossa região e do Brasil visando esse máximo potencial.

A gente entende que é o papel fundamental da genética determinar até onde consegue chegar, reduzir custo, produzir mais e ter sucesso na atividade.

O Presente Rural – Legal que vocês da cooperativa têm envolvimento com a WG para trocar informações para continuar a evolução da central.

Andrey Dietrich – Sim, apesar de a central não estar dentro na Coopagril, a gente tem essa parceria estabelecida. O Ary falou que 70% do sêmen que é produzido ali vem para a Copagril, mas a cooperativa utiliza 100% do sêmen na central. A central abastece toda a produção da cooperativa. E tem capacidade inclusive que conseguiria contemplar aumentos de produção que a gente por ventura possa ter e provavelmente teremos.

Olhe, o Ari falou que dá aquela tremedeira da responsabilidade e realmente a gente sabe da importância da central, então não tem como ser diferente. Como que a gente espera um resultado bom para o nosso produtor e para a nossa integração se a gente não está nessa conversa afinada com a central? Não tem outra forma. A gente vê essa parceria como bastante estratégica.

O Presente Rural – E esses machos? Como são escolhidos? Eles produzem durante por quanto tempo e como é a reposição?

Andrey Dietrich – O macho tem uma vida útil. Nós acompanhamos a evolução do mercado e das próprias genéticas. Nós temos comprovado que o material genético está entregando o melhor resultado, que é bom para todo mundo, é bom para o produtor, bom para a creche, bom para a terminação e é bom para o frigorífico. No frigorífico também dita muito da tendência que a gente precisa seguir. A gente vai seguir por aquela linha. A nossa definição da genética é com base nos critérios técnicos de produtividade e idade de macho.

Ari Geisel – Hoje os machos são descartados pela pontuação que eles têm de um índice genético. Nós temos o índice máximo que são de 130 pontos, quando chegou a 100 pontos vai para o descarte. Nós descartamos no ano passado 76% do plantel. Às vezes, como central, dá até dó ele está com a idade certa, mas geneticamente eles medem lá que esse macho então já é um candidato ao descarte. Onera bastante, mas mantém a qualidade.

Vice-presidente da cooperativa e suinocultor César Petri

O Presente Rural – O César Petri é vice-presidente da Copagril e também suinocultor. Qual a importância para a Copagril em ter uma parceria sólida para entrega de sêmen?

César Petri – Minha falecida mãe começou com quatro matrizes e era todo ciclo completo e a monta era natural. Na época era com o cachaço, com o macho lá na granja para fazer inseminação, sistema natural. Só que com o crescimento e com a tendência da evolução genética, não cabia mais ter o macho na granja lá porque ele ficava às vezes três, quatro, cinco ano na granja, mas enquanto isso a genética já estava muito mais avançada. Tinha perda de evolução genética muito grande e fora que com o crescimento das granjas hoje é inconcebível e não tem como operacionalizar monta natural. Hoje se faz lotes de 100 matrizes inseminadas numa semana. Então, sem condições de fazer uma inseminação natural. O sistema de ciclo completo foi se extinguindo, foi se verticalizando, o sistema e as grandes de iniciação foram cada vez ampliando mais. Hoje são granjas de 1000, duas mil, 3 mil, 5 mil matrizes. Então para isso teve que se evoluir para o sistema de inseminação artificial.

Se, por exemplo, ele enviar uma dose de sêmen que não teve esse controle perfeitinho, com problema no lote. Da inseminação de 100 matrizes, por exemplo, 40 possam ter problema. O sêmen é o mais barato de tudo, você perdeu um lote de cobertura que custava muito dinheiro. Queremos garantia de ter um parceiro sólido, não só na questão do sêmen, mas em todas as áreas de nutrição, de fornecedores, de compradores. A gente precisa ter parcerias sólidas, que dão garantia de qualidade. Isso a gente conquistou também com a central de inseminação.

O Presente Rural – O abatedouro da Frimesa está a plenos pulmões em Assis Chateaubriand, aumentando cada vez mais a produção, e a Copagril é uma das grandes fornecedoras de suínos para o abate. Quais são os planos para ampliar a produção no campo e como a central se encaixa nisso?

César Petri – A Frimesa fez todo esse investimento no frigorífico novo e demanda de um crescimento na produção de todas as cooperativas. A Copagril hoje está com um plantel de 30 mil matrizes no campo na mão de produtores associados. A Copagril não tem granja própria, mas tá na mão do cooperado. A gente viu que a gente deveria deixar o produtor cooperado produzir e é esse o modelo de produção que a companhia tem. A gente vai atender o crescimento da Frimesa, mas precisa que o associado queira construir essas granjas também, porque esse é o modelo que a gente tem.

Mês passado (março), inclusive, a gente bateu recorde de fornecimento de suínos. Foi mais de 100 mil suínos entregues num único mês. E a central vai continuar tendo papel primordial no crescimento. Se a gente crescer, a central vai precisar continuar crescendo.

O Presente Rural – Temos aqui o Eládio Deves, há muito tempo trabalhando com seu Milton, mas com granja própria. O senhor consegue notar os resultados da genética lá na granja?

Produtor de leitões, Eládio Deves

Eládio Deves – Com certeza. O produtor procura e busca o GPD (ganho de peso diário), número de nascidos vivos ou nascidos totais deles que a gente trabalha da diferença dos nascidos totais e vivos. Com certeza a genética melhorou muito e hoje nós temos um padrão de leitão na granja. Nós não temos um leitão nascendo muito pequeno, precisa de média. Eu quero bastante leitão, mas eu quero uma média boa, que são leitões viáveis, com mais peso. A genética evoluiu muito nesse sentido.

O Presente Rural – O Milton é um dos maiores ganhadores do prêmio Agriness, que destaca os maiores produtores de desmamados/fêmea/ano no Brasil. Fale um pouco dessas conquistas e como o sêmen suíno contribui para esse sucesso?

Milton Becker – Com certeza a genética tem muito a ver não só do macho, mas também da matriz. E a gente sempre busca mais, buscar melhor. Oito anos e desde o primeiro ano nós já passamos a ganhar. São vários fatores, a genética, tanto do macho como da fêmea, nutrição, manejo, mas a mão de obra é fundamental. E a premiação é uma consequência. O prêmio é uma satisfação e realmente eu tenho certeza. Conheço a opinião dos meus colaboradores e eles ficam felizes com essa questão da premiação.

O Presente Rural – Eládio está no páreo também?

Eládio Deves – Não. Comecei a usar o sistema da Agriness no ano passado, mas ficou fui o campeão na Copagril. Fiquei em primeiro lugar. Nos últimos oito anos, ficamos duas vezes em segundo e as outras em primeiro. É importante a referência, o objetivo é sempre ficar entrando entre os melhores, se eu tiver um desempenho baixo, eu não consigo ter rentabilidade e não tenho como crescer na atividade. Eu tenho que ficar no mínimo entre os 10% melhores do país, vamos dizer assim. Esse é o objetivo.

Milton Becker – Só para ter uma ideia, nós estamos fechamos o ano passado com 36,5 leitões em média. Todo mundo sabe que a média regional aqui é 28. Então nós temos oito leitões e meio por porca a mais do que a média regional. Fazendo uma conta bem simples, 5 mil matrizes vezes oito, são 40 mil leitões a mais por ano que a nossa granja produz. E isso é aquilo que demonstra a viabilidade do negócio. Eu falo isso para estimular os outros produtores e para cada buscar o seu melhor, porque é dessa forma que a gente consegue também se manter na atividade.

César Petri – A gente fala muitas vezes em ampliação, falando em ampliação para crescimento da Frimesa ou o produtor investir em ampliação. Quando a gente olha o número dessa forma, a gente percebe que a gente tem uma ampliação dentro do número. Então eu preciso aumentar o tamanho da minha granja. Talvez não. São 40 mil leitões mais em 5 mil matrizes no ano, isso é quase meio mês de abate. Olha o potencial que nós temos em produção, em produtividade e que é uma ampliação que já está dentro da granja. Imagina trazendo para o sistema da Copagril de 30 mil matrizes, se ganhar cinco leitões a mais. São 150 mil suínos a mais no ano. É um mês e um pouco de abate dentro do próprio número.

Eládio Deves – Mas queremos não apenas número, mas um leitão mais pesado, de sete quilos e meio que é um objetivo para ele ir melhor nas creches. Então, vamos dizer, nós não vamos fazer oito leitões a mais. As vezes tem porca com 42 leitões por ano, mas desmama com 16, 18 dias. Na minha opinião não é viável. Desmarcam com 16 dia, 18 dias, para mim sempre vale o custo e tem que sobrar alguma coisa no leitão, não adianta eu ter número.

Andrey Dietrich – Muito bem observado. Também não é nosso objetivo só botar número de leitão. É importante qualidade, isso é a premissa principal.

O Presente Rural – Vice-presidente da Copagril, com tudo isso que a gente falou, como se reflete lá no consumidor final?

César Petri – Qualidade da carne. Aí é um dos pontos também da evolução genética que a gente vem falando é a qualidade de carne, a qualidade nutricional que a gente quer no final, que a gente sempre tem que estar olhando. Temos que olhar para o cara que vai lá na gôndola do supermercado comprar essa suína, caso contrário não tem justificativa em estar produzindo o suíno.

A missão nossa é essa. Acompanhamos a evolução genética para chegar lá no frigorífico um suíno com a característica que o consumidor queira. Esse é o objetivo que a gente vai estar sempre perseguindo.

O Presente Rural – E para o futuro, quais são os planos para a central?

Ari Giesel – Depende muito da demanda. Nós acreditamos que nós vamos ter uma demanda de 30% e para isso a gente vai precisar também mexer na estrutura física geral. E a gente já está vendo a possibilidade. Basicamente já está definido que a gente vai aumentar no mês de maio e depois a central depende da parceria com a Copagril. Estamos querendo chegar em 200 machos. A gente acha que assim vai suprir a necessidade da região

O Presente Rural – Senhores, alguma consideração final?

Milton Becker – Há muitos anos eu descobri que é preciso ter parcerias. Eu acho que hoje o produtor deve produzir e a nossa cooperativa que faz o trabalho de engorda e às vezes e depois vai para a mesa. Eu não vejo outro caminho para a suinocultura sem essas parcerias. Isso é muito forte na região Oeste e no Paraná. A parceria fortalece a Copagril, a central de genética e a granja.

Eládio Deves – Para ser viável, é preciso ter as 52 semanas sem oscilações. A minha granja é pequena e representa tantos por cento, mas todos os produtores têm que ter a consciência disso. Nós precisamos 52 semanas por ano ter um parceiro bom.

Andrey Dietrich – Só enfatizar a importância da parceria com a WG, com os produtores de qualidade, como o Milton e o Eládio. Eu acho que essa sinergia entre central, produtores e cooperativa, todo mundo fazendo a sua parte aqui, vai sempre nos trazer um bom resultado. Só agradecer e enfatizar a importância das parcerias para a gente.

César Petri – Eu quero só reforçar a importância dessa cadeia para a cooperativa, foi a partir da suinocultura que a Copagril surgiu. É extremamente importante essa cadeia, a gente vê como sustentáculo de tantas famílias no campo e que o crescimento da suinocultura nos traz grandes desafios numa região desafiadora, que já tem uma concentração de suínos grande e que a gente precisa crescer da melhor forma possível e no melhor alinhamento possível. E isso central, no trabalho que ela faz, nos dá essa garantia também de crescer tranquilo, que a gente tem a fornecedora de genética que nos dá segurança.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de suinocultura acesse a versão digital de Suínos, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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