Suínos Saúde Animal
Vírus que afetam tilápia e outros peixes podem nortear escolha de espécies e biosseguridade
A propagação natural de doenças virais exige desenvolvimento de meios viáveis para controlar e implementar barreiras sanitárias eficazes

Artigo escrito por Atilio Sersun Calefi, médico veterinário, MSc, DSc e professor da Universidade Cruzeiro do Sul e Universidade Santo Amaro-SP; e Marco Aurélio Pereira de Almeida, estudante de Medicina Veterinária Ceunsp – Salto-SP
Desde 1950 a aquicultura tem crescido como proteína animal. Os principais produtores estão na Ásia e dentre os peixes, as tilápias tem o maior crescimento. A criação da tilápia do Nilo expandiu-se a partir de 1965 do Japão para Tailândia e depois Filipinas, Brasil, Estados Unidos e China.
A análise de econômica e segurança alimentar de doenças de peixes estão mais presentes na literatura, mas infecções por vírus carecem de mais trabalhos. Segue uma revisão dos principais que impactam a tilápia e que podem impactar outros peixes.
Família Birnaviridae: os gêneros Avibirnavírus e o Aquabirnavírus têm sido os mais estudados pelo impacto em peixes de alto valor agregado: O Aquabirnavírus é responsável por uma doença contagiosa em Salmonídeos e em outros peixes.
Aquabirnavirus: primeiro relato em 1983 na tilápia de Moçambique, associados à Necrose Pancreática Infecciosa (IPN) na Europa; a presença em peixes relaciona-se à IPN, porém, em tilápias de Moçambique não foram observados sinais clínicos da doença. IPN e Birnavírus geram redução na conversão alimentar, estresse e maior suscetibilidade a patógenos oportunistas. Estudos com tilápia sabaki confirmaram infecção e resposta imunológica a IPN após infecção experimental por inoculação intramuscular e intracelômica de IPN vírus pré-adaptado. Dentro de sete semanas observou-se hemorragia, principalmente na superfície da barriga e em alguns casos perda de muco da pele; órgãos mais afetados foram o pâncreas, fígado (hepatomegalia e necrose), estômago, intestinos (gastroenterite) e o cérebro (hemorragia). A taxa de mortalidade de 25% nos infectados.
Família Iridoviridae: três principais gêneros em peixes:
Bohle Iridovirus: do gênero Ranavirus o BIVm suas infecções relacionadas como a causa de doenças epidérmicas (Linfocitovírus) e hemólise (vírus da necrose eritrocítica) em peixes. Ariel e Owens, na Austrália, descreveram surto epizoótico fatal em tilápias Moçambique: eventualmente a investigação indicou potencial transmissão do vírus de fêmeas para alevinos via canibalismo e os principais sinais sendo Síndrome do Redemoinho (SS); os órgãos afetados foram musculatura e o rim com miólise focal, diminuição dos túbulos renais, hemorragia e infiltrado de heterofilos. Experimentos com Barramundi confirmaram a suscetibilidade a BIV: mesmas anormalidades com necrose dos rins e do baço.
Megalocitivirus é gênero mais recente, sendo os principais o vírus da Necrose Infecciosa do Baço e do Rim (ISKNV), Iridovírus de Brema do Mar Vermelho (RSIV) e Turbot reddish body iridovirus (TRBIV);.O primeiro relato de ocorreu na dourada (Pagrus major) no Japão em 1990 com sinais de letargia, natação impotente, anemia, petéquias nas guelras, esplenomegalia e taxas de mortalidade entre 20-60 %. Desde 1991 gerou mortalidade em mais de 30 espécies de peixes marinhos cultivados no oeste do Japão. O primeiro caso em tilápia do Nilo nos EUA em 2012, com mortalidade entre 50 e 75% de alevinos, histopatologia revelou megalocitose no intestino, rim, baço, coroide, brânquias e ocasionalmente no tecido cardíaco. Partículas virais poligonais foram observadas por microscopia de transmissão na submucosa intestinal e a sequência genética era idêntica ao do Vírus da Necrose Infecciosa do Baço e Rim (ISKNV). A implementação de medidas de biossegurança estrita é necessária para evitar propagação.
Família Herpesviridae: há uma grande variedade com enfoque no Vírus da encefalite da larva de tilápia (TLEV), descrito em larvas de tilápia azul (O. aureus) e híbridos de tilápias vermelhas (Oreochromis spp.): ocorrência associada à Síndrome do Redemoinho (SS) e palidez ou escurecimento da pele entre 4 a 6 dias pós-infecção, seguido por mortalidade. O primeiro pico de mortalidade entre animais compartilhando o mesmo habitat foi entre 24 a 26 dias após a fertilização (transmissão vertical) e um segundo pico de mortalidade de 32 a 34 dias (transferência horizontal); sobrevivência escassa de 2 a 8%. Suscetibilidade foi de 72% no O. aureus e 33,3% no O. niloticus, respectivamente. Tanto na transmissão vertical quanto na horizontal, houve supressão da produção de radicais superóxido (ROS) pelos leucócitos fagocíticos, favorecendo necrose neuronal aguda. Observações adicionais de que a transmissão horizontal está ligada a cofatores ambientais de estresse e de que em infecção vertical é possível restaurar a funcionalidade de ROS por células fagocíticas, ao contrário da transmissão horizontal, onde é irreversível e correlacionada a altas taxas de mortalidade.
Família Nodaviridae: classe composta por Ribovírus inseto-patogênicos isométricos, com ênfase no Betanodavírus causando encefalomielite, encefalopatia, retinopatia vacuolar, bem como necrose neuronal viral (VNN); afeta estágios larvais ou juvenis de peixes; sinais clínicos de perda de controle da bexiga natatória, perda de visão e coloração anormal da pele em várias espécies de peixes marinhos com mortalidade variável. Disseminando-se mundialmente o VNN transmite-se para peixes de água doce pela pelo portador Barramundi, cujas larvas são criadas em água salobra e com fase juvenil aclimatada em água doce: surto de 2007 em O. niloticus em fazenda europeia sugeriu, Betanodavírus pelos sinais de natação errática e achados histopatológicos. Também foi observado que O. niloticus pode desenvolver resistência durante o envelhecimento. O vírus poderia ser transmitido horizontalmente, por meio de água contaminada, indivíduos infectados e pela ingestão do vírus, bem como verticalmente.
Outros vírus que afetam as tilápias: Alguns surtos virais permanecem em pesquisa, à exemplo de Tilapia Lake Virus (TiLV) em tilápias híbridas (O. niloticus com O. Aureus) em Israel, pois sua origem ainda não foi adequadamente estabelecida, mas indicam alta mortalidade associada ao patógeno.
Partículas semelhantes ao vírus foram isolados e com propagação em cultivo celular. Os sinais foram erosões cutâneas, buftalmia, hemorragia das leptomeninges, baço e congestão renal em tilápias infectadas. A reprodução da doença TiLV em tilápias nativas (O. niloticus) foi realizada por meio da injeção intracoelômica viral, tendo 74 a 85% de peixes com letargia, descoloração, ulceração ocular, manchas na pele e ulceração, com morte 10 dias após a infecção. Os testes de coabitação confirmaram a transmissão horizontal. As tentativas de identificação e classificação por meio de análise homóloga do material genético de TiLV coletado no surto em Israel falharam, porém, foi observado que devido às características morfológicas (vírus de RNA com dez segmentos únicos e sentido negativo) o TiLV poderia ser qualificado como um novo gênero da família Orthomyxoviridae. Outro surto com alta mortalidade e alto grau de especificidade atingindo O. nilocitus ocorreu em Granada com alteração nos hepatócitos e definiu o surto como hepatite sincicial da tilápia (SHT) com distensão abdominal, protrusão das escamas, escurecimento da pele e exoftalmia, com uma taxa de mortalidade de aproximadamente 80%. A infecção em Tilápias Geneticamente Masculinas (TGM) não produziu a doença; as sobreviventes aos picos de mortalidade permaneceram saudáveis, apresentando redução da conversão alimentar. Outros estudos observaram que os vírions SHT compartilham características ultraestruturais que combinam com os Ortomixovírus, e também que o SHT apresenta homologia genética parcial ao TiLV, mas ainda necessário mais estudos a fim de conseguir o isolamento, transmissão e patogênese viral. Além das doenças virais descritas, a FAO China em junho de 2018 indicou que o TiLV tem sido associado a casos com alta mortalidade e perdas de produção na Ásia, África e América do Sul e este cenário o qualifica para maior conscientização, vigilância e melhoria das capacidades diagnósticas.
Considerações Finais
A propagação natural de doenças virais exige desenvolvimento de meios viáveis para controlar e implementar barreiras sanitárias eficazes. Melhorias como recirculação de água e inspeções transfronteiriças e do fluxo de produção entre criadouros-criadores-unidades de processamento de carne e populações e avaliação dos níveis de densidade se fazem essenciais. A exigência comercial de machos e respectivas técnicas de reversão sexual indicam uma oportunidade para a avaliação de oportunizar ou não maior disseminação de vírus. A intensificação do levantamento epidemiológico e caracterização de novos vírus é necessária para compreender as doenças virais e determinar manejos de contenção na produção de peixes.
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Suínos
Poder de compra do suinocultor cai e relação de troca com farelo atinge pior nível do semestre
Após pico histórico em setembro, alta nos preços do farelo de soja reduz competitividade e encarece a alimentação dos plantéis em novembro.

A relação de troca de suíno vivo por farelo de soja atingiu em setembro o momento mais favorável ao suinocultor paulista em 20 anos.
No entanto, desde outubro, o derivado de soja passou a registrar pequenos aumentos nos preços, contexto que tem desfavorecido o poder de compra do suinocultor.
Assim, neste mês de novembro, a relação de troca de animal vivo por farelo já é a pior deste segundo semestre.
Cálculos do Cepea mostram que, com a venda de um quilo de suíno vivo na região de Campinas, o produtor pode adquirir, nesta parcial de novembro (até o dia 18), R$ 5,13 quilos de farelo, contra R$ 5,37 quilos em outubro e R$ 5,57 quilos em setembro.
Trata-se do menor poder de compra desde junho deste ano, quando era possível adquirir R$ 5,02 quilos.
Suínos
Aurora Coop lança primeiro Relatório de Sustentabilidade e consolida compromisso com o futuro
Documento reúne práticas ambientais, sociais e de governança, reforçando o compromisso da Aurora Coop com transparência, inovação e desenvolvimento sustentável.

A Aurora Coop acaba de publicar o seu primeiro Relatório de Sustentabilidade, referente ao exercício de 2024, documento que inaugura uma nova etapa na trajetória da cooperativa. O lançamento reafirma o compromisso da instituição em integrar a sustentabilidade à estratégia corporativa e aos processos de gestão de um dos maiores conglomerados agroindustriais do país.
Segundo o presidente Neivor Canton, o relatório é fruto de um trabalho que alia governança, responsabilidade social e visão de futuro. “A sustentabilidade, para nós, não é apenas um conceito, mas uma prática incorporada em todas as nossas cadeias produtivas. Este relatório demonstra a maturidade da Aurora Coop e nossa disposição em ampliar a transparência com a sociedade”, destacou.
Em 2024, a Aurora Coop registrou receita operacional bruta de R$ 24,9 bilhões, crescimento de 14,2% em relação ao ano anterior. Presente em mais de 80 países distribuídos em 13 regiões comerciais, incluindo África, América do Norte, Ásia e Europa, a cooperativa consolidou a posição de destaque internacional ao responder por 21,6% das exportações brasileiras de carne suína e 8,4% das exportações de carne de frango.

Vice-presidente da Aurora Coop Marcos Antonio Zordan e o presidente Neivor Canton
De acordo com o vice-presidente de agronegócios, Marcos Antonio Zordan, os números atestam a força do cooperativismo e a capacidade de geração de riqueza regional. “O modelo cooperativista mostra sua eficiência ao unir produção, competitividade e compromisso social. Esses resultados são compartilhados entre os cooperados e as comunidades, e reforçam a relevância do setor no desenvolvimento do país”, afirmou.
A jornada de sustentabilidade da Aurora Coop foi desenhada em consonância com padrões internacionais e com base na escuta ativa dos públicos estratégicos. Entre os temas prioritários figuram: uso racional da água, gestão de efluentes, transição energética, práticas empregatícias, saúde e bem-estar animal, segurança do consumidor e desenvolvimento local. “O documento reflete uma organização que reconhece a responsabilidade de atuar em cadeias longas e complexas, como a avicultura, a suinocultura e a produção de lácteos”, sublinha Canton.
Impacto social e ambiental
Em 2024, a cooperativa gerou 2.510 novos empregos, alcançando o marco de 46,8 mil colaboradores, dos quais 31% em cargos de liderança são ocupados por mulheres. Foram distribuídos R$ 3,3 bilhões em salários e benefícios, além de R$ 580 milhões em investimentos sociais e de infraestrutura, com destaque para a ampliação de unidades industriais e melhorias estruturais que fortaleceram as economias locais.
A Fundação Aury Luiz Bodanese (FALB), braço social da Aurora Coop, realizou mais de 930 ações em oito estados, beneficiando diretamente mais de 54 mil pessoas. Em resposta à emergência climática no Rio Grande do Sul, a instituição doou 100 toneladas de alimentos, antecipou o 13º salário dos colaboradores da região, disponibilizou logística para doações, distribuiu EPIs a voluntários e destinou recursos à aquisição de medicamentos.
O relatório evidencia práticas voltadas ao uso eficiente de recursos naturais e à gestão de resíduos com foco na circularidade. Em 2024, a cooperativa intensificou a autogeração de energia a partir de fontes renováveis e devolveu ao meio ambiente mais de 90% da água utilizada, devidamente tratada.
Outras iniciativas incluem reflorestamento próprio, rotas logísticas otimizadas e embalagens sustentáveis: 79% dos materiais vieram de fontes renováveis, 60% do papelão utilizado eram reciclados e 86% dos resíduos foram reaproveitados, especialmente por meio de compostagem, biodigestão e reciclagem. Em parceria com o Instituto Recicleiros, a Aurora Coop atuou na Logística Reversa de Embalagens em nível nacional. “O cuidado ambiental é parte de nossa responsabilidade como produtores de alimentos e como cidadãos cooperativistas”, enfatiza Zordan.
O bem-estar animal e a segurança do consumidor estão no cerne da atuação da cooperativa. Práticas rigorosas asseguram o respeito aos animais e a inocuidade dos alimentos, garantindo a confiança dos mercados internos e externos.
Futuro sustentável
Para Neivor Canton, a publicação do primeiro relatório é um marco institucional que projeta a Aurora Coop para novos patamares de governança. “Este documento não é um ponto de chegada, mas de partida. Ao comunicar com transparência nossas ações e resultados, reforçamos nossa identidade cooperativista e reiteramos o compromisso de gerar prosperidade compartilhada e preservar os recursos para as futuras gerações.”
Já Marcos Antonio Zordan ressalta que a iniciativa insere a Aurora Coop no rol das empresas globais que aliam competitividade e responsabilidade. “A sustentabilidade é o caminho para garantir longevidade empresarial, fortalecer o vínculo com a sociedade e assegurar alimentos produzidos de forma ética e responsável.”
O Relatório de Sustentabilidade 2024 da Aurora Coop confirma o papel de liderança da cooperativa como referência nacional e internacional na integração entre desempenho econômico, responsabilidade social e cuidado ambiental. Trata-se de uma publicação que fortalece a identidade cooperativista e projeta a instituição como protagonista na construção de um futuro sustentável.
Com distribuição nacional nas principais regiões produtoras do agro brasileiro, O Presente Rural – Suinocultura também está disponível em formato digital. O conteúdo completo pode ser acessado gratuitamente em PDF, na aba Edições Impressas do site.
Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.



